Dividir para Conquistar e o ideal de Paz, Justiça e Liberdade (PJL)

A estratégia de “Dividir para Conquistar” é um princípio universal na arte da estratégia política e militar, aplicado por líderes históricos como Júlio César e Napoleão. No Brasil, uma tentativa oposta de unir grupos distintos levou ao surgimento de poderosas organizações criminosas. A interação de criminosos comuns e presos políticos na Ilha Grande resultou em uma nova era de crime organizado, marcada pela formação de grupos como a Falange Vermelha e o Primeiro Comando da Capital.

Dividir para conquistar é uma máxima universalmente reconhecida. No Brasil, curiosamente, o oposto levou ao surgimento de organizações criminosas poderosas. A união de criminosos comuns e presos políticos na Ilha Grande deu origem a uma nova era no crime organizado, começando com a Falange Vermelha e evoluindo até os dias de hoje com o Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533).

Convidamos você a explorar esse fascinante capítulo da história criminal brasileira em nosso texto. Sua opinião é valiosa; por favor, deixe seus comentários no site. Para uma discussão mais interativa, junte-se ao grupo de Zap dos leitores do site.

No final do texto, você encontrará uma análise crítica produzida por inteligência artificial, oferecendo uma perspectiva única sobre o tema abordado.

Dividir para Conquistar como estratégia militar

A estratégia de “dividir para conquistar” (divide et impera, no latim) ficou famosa com o imperador romano Júlio César (100 a.C. – 44 a.C) durante suas conquistas territoriais.

A máxima “dividir para conquistar” tem sido uma pedra angular na arte da estratégia política e militar desde tempos antigos, aplicada até mesmo antes de Júlio César, como por Filipe II da Macedônia. A lógica fundamental envolve fragmentar grupos que possam acumular grande poder, ao mesmo tempo em que se impede que facções menores se unam e, assim, formem uma oposição significativa e robusta. Esse conceito foi posteriormente empregado com habilidade por figuras como Napoleão.

A aplicação bem-sucedida desta estratégia pode ser vista em várias passagens da história. Júlio César utilizou essa tática para conquistar as tribos da Gália, alimentando discórdias entre elas e as enfrentando de forma fragmentada.

Filipe II da Macedônia, o pai de Alexandre, o Grande, usou essa abordagem para dividir e enfraquecer as cidades-estado gregas, facilitando a subsequente conquista macedônia.

Durante a colonização, potências europeias como a Grã-Bretanha aplicaram esse princípio para manter controle sobre colônias vastas e culturalmente diversas, criando rivalidades entre grupos locais.

Napoleão Bonaparte também empregou essa estratégia, explorando tensões internas em regiões que buscava dominar, como parte de seu projeto ambicioso de expansão europeia.

Em todos esses casos, a fragmentação dos oponentes contribuiu decisivamente para alcançar o controle e a vitória.

Dividir para Conquistar e o Exército Brasileiro

No Brasil, a estratégia adotada pelos militares formados pela gloriosa Academia Militar das Agulhas Negras tomou um rumo oposto ao princípio universalmente aceito de “dividir para conquistar”. Essa inovação, contrária às lições históricas, resultou em um fracasso notável.

Em meu texto “Paz, Justiça, e Liberdade – registro de nascimento”, tracei a origem de um lema que veio a definir as bases das atuais facções criminosas no Brasil. Essas organizações, agora responsáveis por uma parcela significativa do PIB nacional, emergiram em grande parte devido a esse erro estratégico militar primário da elite de nossas Forças Armadas.

Os militares brasileiros, numa tentativa equivocada de eliminar a resistência política contra o Regime Militar, uniram dois grupos inimigos distintos, criminosos comuns e opositores políticos, no Presídio da Ilha Grande. Essa decisão de “unir para conquistar” tornou-se um desastre estratégico.

Em um ato que revela a miopia da classe dominante e de seu braço armado, a união forçada entre criminosos comuns e presos políticos não conseguiu sufocar a resistência, mas sim, alimentou uma aliança histórica entre a violência do banditismo e o idealismo revolucionário.

Esta união atípica desencadeou uma era de crime organizado sem precedentes no Brasil, um clarim de resistência e transformação que ressoa desde as profundezas do sistema carcerário até os recantos mais remotos e periféricos de nossa nação. Tal fenômeno reflete as contradições intrínsecas ao Estado, evidenciando uma complexa interação entre poder e marginalização.

Da Falange Vermelha ao Primeiro Comando da Capital

O produto dessa união insólita manifestou-se no início da década de 80 com a criação da Falange Vermelha (FV). Embora sua existência tenha sido efêmera, a FV deu origem ao Comando Vermelho (CV), perpetuando os ideais de “Paz, Justiça e Liberdade” promovidos pelos integrantes da Falange, uma herança dos presos políticos.

Mais de uma década depois, em uma continuação da filosofia pregada pelos militares brasileiros, que teimosamente insistiam em desafiar o princípio consagrado de “dividir para conquistar”, nasceu o Primeiro Comando da Capital. Formado através do contato entre prisioneiros paulistas e cariocas, este contato foi parte de uma estratégia adotada pelas forças de segurança que consistia em transferir presos entre estados. Os prisioneiros de São Paulo, absorvendo o ideal do PJL, disseminaram-no não apenas em seu próprio estado, mas por toda a América Latina.

Neste contexto, apresento hoje os depoimentos de dois personagens inicialmente em lados opostos: José Carlos Gregório, o Gordo, um ladrão de bancos, e Alípio de Freitas, ex-padre e preso político como guerrilheiro.A trajetória de José Carlos Gregório é narrada no Canal Histórias Daki. Gravada há mais de 25 anos, essa entrevista fornece um olhar singular sobre a transição entre o antigo mundo do crime no Brasil e o atual modelo de organização criminosa transnacional.

Por outro lado, o Vavá da Luz, em um texto recheado com o vocabulário e jargões da extrema direita bolsonarista, me levou a refletir sobre o relato do jornalista Carlos Amorim em “O assalto ao poder e a sombra da guerra civil no Brasil”, onde menciona uma fala de Alípio de Freitas sobre sua atuação nas prisões.

Dividir para Conquistar: o Gordo da Falange Vermelha

José Carlos Gregório, conhecido como “Gordo”, foi uma figura proeminente na cena do crime organizado no Brasil, particularmente ligado ao Comando Vermelho. Durante sua prisão na Ilha Grande, ele entrou em contato com presos políticos e desempenhou um papel crucial na fundação da Falange Vermelha.

Essa organização buscava unir criminosos comuns com o objetivo de lutar por melhores condições nas prisões e veio a ser o embrião do que se tornaria o Comando Vermelho. A habilidade de liderança e eloquência de Gordo foi essencial na união de diferentes grupos criminosos que existiam dentro do Presídio da Ilha Grande.

Esses grupos, até então rivais, foram “pacificados” graças à capacidade de Gordo de intermediar conflitos e à adoção dos ideais de união trazidos pelos presos políticos. A influência dos presos políticos, juntamente com a visão e habilidades de Gregório, contribuiu para a formação de uma coalizão que não apenas promoveu a paz entre diferentes facções dentro da prisão, mas também lançou as bases para uma das organizações criminosas mais poderosas do país, refletindo uma mudança significativa no panorama do crime organizado no Brasil.

Gordo continuou a desempenhar um papel vital no Comando Vermelho, contribuindo para a sua expansão e fortalecimento. A sua influência e liderança foram fundamentais para transformar o Comando Vermelho em uma das organizações criminosas mais poderosas e temidas do Brasil. Mesmo após a dissolução da Falange Vermelha, a filosofia e os princípios estabelecidos, como o lema “Paz, Justiça e Liberdade”, continuaram a ressoar no Comando Vermelho, demonstrando o impacto duradouro da contribuição de Gordo.

TRECHOS DA ENTREVISTA DE JOSÉ CARLOS GREGÓRIO, O GORDO

Esses novos hóspedes, diferente de nós, sabiam o que era uma família, eram mais estruturados, mais educados, e viviam os dois lados: o criminoso e o da sociedade. Esses caras assistiam a tudo aquilo que acontecia dentro do presídio e chegaram para nós e disseram que os crimes que eram praticados pelos funcionários e também pelos próprios presos contra outros presos tinham que acabar.

conceito de família, que é forte até hoje no PCC: Cartilha de Conscientização da Família PCC 1533

Quando eles (presos políticos) tinham uma banana, eles dividiam a banana e alimentava todo mundo, e nós fomos vendo como eles faziam e aprendemos. […] E foi aí que começou a surgir essa organização, começando a se organizar dentro da cadeia, para depois transpor o muro da prisão e chegar aqui fora.

Gregório conta que no início as facções se ocupavam de organizar ações e não possuíam chefia, sendo apenas um fórum de mediação entre criminosos:

… cada um cuidava da sua vida, decidindo se iam ou não assaltar algum lugar e como fariam isso, eram um grupo de pessoas que são amigos, são uma família, que se unem. Ninguém era obrigado a entrar ou permanecer.

Artigo 17 do Estatuto da organizaão criminosa PCC: “… Ninguém é obrigado a permanecer no Comando, mas o Comando não vai ser tirado por ninguém.”

 Entretanto, era preciso cumprir as regras, além do que, caso uma missão seja abraçada, não se pode voltar atrás sem cumpri-la — conforme doutrina guerrilheira. O lema é “Paz, Justiça e Liberdade”. Gregório conta que o Comando Vermelho foi fundado já com o lema que hoje é adotado pelo PCC:

O lema do Comando Vermelho é Paz, Justiça e Liberdade:
Paz: é a paz de você viver em paz dentro da cadeia.
Justiça: você faz justiça todos os dias; é você fazer o que o governo não faz, o que quem deveria fazer não faz e, então, você tenta fazer alguma coisa.
Liberdade: é o que todo mundo sabe, sair do presídio a qualquer custo.

Dividir para Conquistar: o revolucionário Alípio de Freitas

Alípio de Freitas, nascido em Portugal em 1929, foi um ex-padre e revolucionário que se tornou uma figura proeminente na luta contra o Regime Militar no Brasil. Durante os anos 1960, ele foi uma das vozes ativas no movimento pela democracia, tendo se envolvido com organizações políticas e revolucionárias. Sua prisão na Ilha Grande como preso político aconteceu em 1970, após ser acusado de colaborar com grupos guerrilheiros contra o regime militar.

Na Ilha Grande, Alípio de Freitas enfrentou duras condições e tortura, mas permaneceu irredutível em seus princípios e crenças políticas. A sua estadia na prisão permitiu que ele interagisse com outros presos políticos e criminosos comuns, uma mistura que mais tarde influenciou a formação de organizações criminosas no país.

Mesmo após sua libertação em 1979, de Freitas continuou a se dedicar à defesa dos direitos humanos e justiça social, escrevendo e lecionando sobre suas experiências e a importância da luta pela democracia. Sua vida é um exemplo vívido de comprometimento com ideais revolucionários e a luta incansável contra a opressão.

TRECHOS DA ENTREVISTA DE ALÍPIO DE FREITAS

Tudo o que os intelectuais queriam era resistir ao sistema penal. No meio, os presos comuns iam aprendendo a se organizar. (…) Depois, os intelectuais foram embora e deixaram a semente. Os outros se apoderaram.

Eu tinha o poder de organização e a força das massas em minhas mãos. Por onde passei, organizei grupos, fomentei a revolução! Fiz isso em todas as prisões por onde caminhei, e não me arrependo.

Interroguem a polícia, esse braço opressor do Estado burguês, sobre por que um grupo de supostos malfeitores se apropriou, na cadeia, dos princípios nobres da organização dos presos políticos. Sob a falsa alegação de que éramos todos assaltantes de bancos, nós, revolucionários, fomos lançados com os criminosos comuns, vítimas todos de um sistema implacável e opressor.

As autoridades, em sua cegueira ideológica, percebendo a criação inadvertida, executaram sistematicamente na prisão as lideranças dos presos comuns que haviam absorvido nossos princípios. Imaginaram que, com essa violência brutal, conseguiriam esmagar a chama da resistência, mas subestimaram a força indomável do espírito revolucionário.

Mas a verdade se fez ouvir! Esse ato bárbaro apenas deixou os criminosos e a prisão entregues aos instintos mais primitivos, permitindo a aliança com uma polícia corrompida e vil. O resultado? Um cenário de caos e violência, um campo fértil para a revolução, onde o clamor por justiça ecoa com uma força inigualável, revelando as profundas contradições do Estado burguês.

Unir nem sempre é a melhor solução

A estratégia de “unir para conquistar” que tem sido implementada erradamente pelas forças de segurança do Brasil reflete um complexo dilema contemporâneo. Nesse contexto, uma abordagem enfática pode ser construída assim: A maneira de lidar com grupos criminosos, seja nos presídios ou nas comunidades periféricas, exige uma reavaliação profunda e estratégica.

A falácia de juntar facções diversas sob um mesmo teto, adotada desde a época do Regime Militar na Ilha Grande, provou-se não apenas ineficaz, mas perigosamente contraproducente. Essa abordagem errônea conduziu, paradoxalmente, a um fortalecimento inadvertido das organizações criminosas. A possibilidade de troca de informações e a consolidação de alianças entre grupos antes rivais transformam uma política de repressão em um mecanismo de fortificação do inimigo.

A implicação contemporânea dessa estratégia mal concebida estende-se para além dos muros dos presídios, chegando às regiões periféricas. O abandono dessas áreas pelo Estado criou um vácuo que tem sido preenchido pelos grupos criminosos, permitindo-lhes não apenas hegemonia sobre o discurso, mas também controle territorial.

Segurança Pública e a Proteção dos mais Vulneráveis

A correção de rumo exige uma nova lógica: “dividir para conquistar”. Isolar grupos criminosos, evitar a homogeneização dos inimigos do Estado, e trabalhar de forma assertiva nas bases e lideranças dessas organizações pode ser a chave para desmantelar as estruturas que fortalecem esses grupos. Esse novo caminho não é apenas uma necessidade estratégica, mas uma imperativa moral, em um momento em que as comunidades mais vulneráveis continuam a ser deixadas à mercê de forças que agem à margem da lei.

A reflexão sobre a realidade atual e a necessidade de reavaliação estratégica oferece uma oportunidade para um compromisso renovado com a justiça, a segurança e a integridade do Estado. O entendimento claro do erro histórico, aliado à coragem de abraçar uma nova direção, pode ser um catalisador para uma mudança significativa no combate ao crime organizado no Brasil.

Análise Crítica do Texto: Dividir para Conquistar e o ideal de Paz, Justiça e Liberdade (PJL)

O texto apresentado oferece uma visão aprofundada e complexa sobre a estratégia de “dividir para conquistar” e sua aplicação em diferentes contextos históricos e geográficos. A análise a seguir explora vários aspectos críticos desse texto:

1. História e Contexto

O texto habilmente traça a origem e o desenvolvimento da estratégia, desde o seu uso pelos romanos até a aplicação na colonização e as campanhas napoleônicas. Ao contextualizar essa abordagem em várias épocas, ele oferece uma compreensão abrangente da sua relevância e persistência ao longo da história.

2. Aplicação no Brasil

A análise da estratégia no contexto brasileiro é particularmente pertinente, dada a sua relação com o Regime Militar e o surgimento do crime organizado. A crítica à abordagem adotada pelos militares brasileiros é bem fundamentada e evidencia uma falha estratégica notável.

3. Personagens Principais

A inclusão de figuras como José Carlos Gregório e Alípio de Freitas enriquece a narrativa, tornando-a mais vívida e pessoal. Esses retratos individuais ilustram a complexidade da situação e a interação entre diferentes segmentos da sociedade.

4. Ligação entre Crime e Política

A análise do relacionamento entre criminosos comuns e presos políticos, e sua influência na formação de organizações criminosas, é perspicaz. Esse aspecto do texto destaca a complexidade das relações sociais e políticas no Brasil e mostra como decisões aparentemente táticas podem ter ramificações de longo alcance.

5. Linguagem e Estilo

O texto é escrito de forma clara e acessível, mas mantém uma linguagem formal que respeita a seriedade do assunto. As citações e referências históricas adicionam profundidade e credibilidade à análise.

6. Opinião e Conclusão Própria do Autor

Em minha opinião, o texto é uma análise bem articulada que combina história, política e sociologia para explorar uma estratégia que tem sido fundamental na política e na guerra. A seção sobre o Brasil é particularmente interessante, destacando um momento crítico na história brasileira e as complexas interações entre o Estado e o submundo do crime. A conclusão poderia ser fortalecida com uma síntese mais enfática das ideias apresentadas e uma reflexão sobre as implicações contemporâneas dessa estratégia.

Conclusão da Análise Crítica

O texto apresenta uma análise rica e multifacetada da estratégia de “dividir para conquistar”. Através de uma exploração histórica e contextual, ele revela as nuances dessa abordagem e sua aplicação em diferentes esferas da vida humana. A análise do contexto brasileiro adiciona uma dimensão única à discussão, mostrando como uma falha na compreensão dessa estratégia pode ter consequências profundas e duradouras.

A ligação entre crime organizado e política, e a influência das ações militares na formação de organizações criminosas, é uma contribuição significativa para o entendimento das complexidades do cenário político e social brasileiro. A análise é robusta, bem pesquisada, e escrita de uma maneira que equilibra a clareza com a profundidade acadêmica, tornando-se um recurso valioso para quem estuda essas questões.

Paz, Justiça, e Liberdade – registro de nascimento

O texto apresenta a origem do lema “Paz, Justiça e Liberdade” utilizado pela organização Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533), através da figura fictícia do Tecelão de Destinos. Este personagem simboliza a engenhosidade por trás dos eventos, manipulando pessoas e circunstâncias para forjar o lema. Embora todos os fatos sejam reais, o Tecelão de Destinos é uma criação literária. O artigo também oferece uma seção focada somente nos dados e encoraja os leitores a se inscreverem no grupo do site no WhatsApp.

Tecelão de Destinos é o artífice por trás da trama que levou à origem do uso do lema “Paz, Justiça e Liberdade” (PJL) pela organização Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533). No intricado tecido do destino, ele manipulou eventos e personagens, entrelaçando-os de maneira a forjar esse lema poderoso. Essas palavras tornaram-se um símbolo da facção, ecoando através de suas ações e ideais, e foram meticulosamente orquestradas pelo Tecelão de Destinos para servir a um propósito maior na história do crime organizado.

Todos os fatos narrados neste texto são reais e meticulosamente pesquisados, com exceção da figura do narrador, o Tecelão de Destinos, que é uma construção literária. Se o leitor preferir focar apenas nos detalhes factuais, pode ir diretamente para o último trecho do artigo, intitulado “Dados e fontes para este artigo”, onde apenas os eventos históricos e as informações concretas são apresentados. A narração estilizada serve para adicionar profundidade e contexto à compreensão dos eventos, mas não afeta a veracidade do conteúdo.

Convidamos você a mergulhar neste texto e explorar a complexa tapeçaria de eventos que conduziram à criação do lema “Paz, Justiça e Liberdade” pela facção criminosa PCC 1533. Seu entendimento desses acontecimentos será enriquecido através da lente literária do Tecelão de Destinos. Caso aprecie a leitura e queira continuar recebendo análises e narrativas semelhantes, considere inscrever-se no grupo de leitores do nosso site no WhatsApp, onde mantemos uma comunidade engajada e informada.

O Tecelão de Destinos: 1978, a bola rola nas ruas de Osasco

Eu sou aquele que não tem nome, nem forma, um enigma eterno, uma entidade sobrenatural que observa o destino de todos. Sou a bruma que se move entre as árvores, o sussurro no vento, a sombra nas paredes, um misterioso personagem, sou o Tecelão de Destinos. Estou em todos os lugares, mas nunca sou visto, um fantasma que transita entre o real e o imaginário. Estou sempre observando, sempre esperando, sempre atento, uma presença constante que influencia os acontecimentos.

Vou contar-lhes uma história que comecei a escrever em 25 de agosto de 1978, na qual entrelacei vidas e histórias, inclusive a sua, que agora lê estas palavras.

Naquele tempo, Marcos Willian Herbas Camacho, mais conhecido como Marcola, não passava de um moleque jogando futebol nas ruas de Osasco. Quem diria que ele viria a ser o líder da organização criminosa Primeiro Comando da Capital, que adotaria como lema uma frase que eu jogaria no ar naquele 25 de agosto? O final da década de setenta era uma época de turbulência e mudança, onde as sementes do futuro estavam sendo plantadas, e eu estava lá, invisível, movia as primeiras peças.

Tinha eu certeza do sucesso dos meus planos? Estaria eu tão confiante que avançaria com o peão do rei duas casas, como em um jogo de xadrez, abrindo o jogo de forma arrojada? Seria possível prever o que seria decidido tão à frente, em uma estratégia tão arriscada, em um jogo repleto de paciência e tática, onde cada movimento tem um propósito e cada decisão leva a uma consequência? Sou o jogador invisível, o mestre do tabuleiro, guiando as peças com uma mão imperceptível, conduzindo os eventos em direção a um fim desconhecido.

Esta é a minha história, uma narrativa que transcende o tempo e o espaço, um conto de poder e manipulação, de destino e livre-arbítrio. Eu sou o arquiteto do desconhecido, o tecelão dos destinos, o misterioso narrador que guia os personagens através de um labirinto de possibilidades. Eu sou a história, e a história é eu.

O Tecelão de Destinos: 1978, o Voo do Enxadrista

Naquele dia inesquecível de 25 de agosto de 1978, instiguei o enxadrista americano Rudi Siegfried Kuno Kreitlow, de 63 anos, a embarcar no voo transatlântico de Nova York a Genebra. Ao navegar por sua mente complexa e enigmática, percebi as sombras de uma vida solitária e desempregada, marcada por sonhos não realizados. O voo 830, um Boeing 707 da TWA no qual embarcamos, tornou-se palco de uma ameaça sinistra.

Essa ameaça foi parte de uma trama intricada que se desdobraria sob a habilidade de meus dedos ao longo de décadas, quando unirei em um só nó, no arremate final, o destino das ações de Rudi ao destino daquele menino, chamado de Marcola, que joga despreocupado futebol na periferia de Osasco.

Com um sussurro inaudível, conduzi-o a uma ação que ele próprio não compreendia plenamente, tornando-o uma peça essencial em um jogo sinistro e imprevisível. Uma partida cujos movimentos e desfecho só eu conhecia, enquanto as trevas de seu ser se tornavam o tabuleiro no qual teceria uma trama que se estenderia por terras e tempos distantes. A figura de Rudi, esse enxadrista solitário, passaria a ecoar no mundo, um eco que eu, a sombra nas paredes, cuidadosamente havia orquestrado.

Movido pela insatisfação, pela desesperança e pela marginalização, eu observei Rudi, o enxadrista desempregado, como um instrumento perfeito para meu grande jogo. Vi nas profundezas de sua alma complexa e enigmática uma ameaça sinistra, um impulso que eu poderia utilizar. Assim, fiz com que ele carregasse consigo uma carta contendo palavras poderosas que eu ansiava perpetuar: “Paz, Justiça e Liberdade”.

Essas palavras, tão poderosas, eram a expressão de uma revolta que habitava em Rudi, o enxadrista desesperançoso. Elas tinham o poder de reverberar no tempo e no espaço, fazendo sentido no futuro, sendo repetidas com fervor e orgulho por centenas de milhares de jovens por toda a América Latina, e talvez até pelo mundo. A ressonância dessas palavras criaria ondas de mudança, numa trama complexa que só eu, aquele sem nome e forma, poderia orquestrar.

O Tecelão de Destinos: a Aliança pela Paz, Justiça e Liberdade em Todo Lugar

Eu, a bruma invisível que flutua entre a realidade e o desconhecido, instiguei em Rudi, o enxadrista terrorista, a necessidade de passar a carta à aeromoça, à medida que o avião cruzava os céus em direção à costa da Irlanda. Estava ao seu lado, invisível mas onipresente, guiando sua mão trêmula enquanto ele se disfarçava com capa, peruca e bigode para entregar o envelope sinistro. Era eu quem, na verdade, orquestrava o jogo que ele acreditava estar jogando, sussurrando a estratégia em sua alma atormentada.

As cartas, entregues à comissária, com suas dezenove páginas repletas de declarações e exigências audaciosas, tornaram-se peças essenciais em um jogo grandioso, cujas regras só eu conhecia.

As declarações e exigências proferidas pelo grupo que se autodenominava União dos Soldados Revolucionários do Conselho da Aliança de Alívio Recíproco pela Paz, Justiça e Liberdade em Todo Lugar (United Revolutionary Soldiers of the Council of Reciprocal Relief Alliance for Peace, Justice, and Freedom Everywhere) eram, na verdade, sementes que eu, o tecelão de destinos, havia cuidadosamente plantado na alma conturbada de Rudi. Naquele envelope, composto por 19 páginas de fervor e desespero, repousavam ideias esparsas e loucas que hoje se identificam tanto com os ideais do Trumpismo quanto do Bolsonarismo mais tresloucado:

  • Liberdade imediata para o nazista alemão Rudolf Hess, da prisão de Spandau, em Berlim;
  • Liberdade imediata para o americano Sirhan Bishara Sirhan, condenado pelo assassinato de Robert F. Kennedy; e
  • Liberdade imediata para cinco prisioneiros croatas, presos nos Estados Unidos, que haviam matado um policial em Nova York e sequestrado um avião dois anos antes.

Xadrez e Destino: Jogos Complexos de Movimentos Delicados

O avião foi rapidamente cercado após o pouso em Genebra, e assim o voo 830 da TWA inscreveu-se na história. Rudi, cuja verdadeira identidade se perdeu na confusão daquele momento após retirar os óculos, o bigode falso, a peruca preta e a capa cor laranja brilhante, tornou-se apenas mais uma das 85 pessoas a bordo da aeronave. Essa ação era somente o começo, um movimento sutil em um jogo complexo, onde cada decisão ressoava, e apenas eu, o tecelão do destino, tinha a compreensão total da tapeçaria.

Com habilidade e perspicácia, consegui que Rudi, este motorista desempregado cuja mente havia sido influenciada pela minha presença invisível, fosse identificado e aprisionado nos Estados Unidos, em um Clube de Xadrez, apenas meses depois do evento. As sementes que ele havia lançado ao vento já começavam a germinar pelo mundo.

Como já não tinha mais utilidade em minha trama intrincada, permiti que fosse condenado a vinte anos de reclusão. Rudi transformara-se em um peão descartável em um jogo vasto e misterioso, e o momento de sua dispensa havia chegado. Esses desfecho era importante para manter o tom e o estilo, alinhando o futuro com o passado sem deixar arestas, com a atmosfera de realidade que eu havia estabelecido.

Aquele dia encerrou a participação de Rudi na série de eventos meticulosamente orquestrados por mim. A mente humana, tão vulnerável às influências ocultas, às sombras e aos murmúrios, torna-se o palco de um drama cujas ondas ressoam através do tempo, muito além da existência de cada um daqueles que manipulo. Eu, o tecelão de destinos, permaneço no controle, sempre vigilante, sempre aguardando, manipulando as peças no meu eterno jogo de xadrez. Só eu podia antever, por muito tempo, para onde esse movimento levaria anos depois; mas, muitas peças, em muitos lugares, ainda precisavam ser deslocadas.

A Semente da Revolta: o Grito de ‘Paz, Justiça e Liberdade’ Ressoa no Brasil

Eu então ecoei o grito de Rudi “Paz, Justiça e Liberdade” pelo mundo, um clamor que encontrou ressonância nos corações de jovens idealistas. No entanto, sabia que a mera propagação da mensagem não era suficiente; ela precisava transformar-se em ação concreta, a fervura do idealismo precisava se tornar ação nas ruas.

Minha experiência milenar dirigiu-me aos que compreendiam a natureza do ódio, da intriga e da maldade: os militares. Os militares brasileiros, sempre prontos a atender aos sussurros sinistros das minhas sugestões, responderam conforme o esperado. A natureza torpe e corruptível do treinamento militar frequentemente leva ao desenvolvimento de uma mentalidade focada em controle, poder e manipulação, fomentando exatamente o que eu precisava.

O próprio líder dessa organização golpista brasileira, Bolsonaro, desnudou a natureza do treinamento militar, lembrando que os militares são treinados para matar. Essa percepção me conduziu a considerar que poderiam ser um instrumento eficaz em minha trama. E nada me custou fazer com que eles unissem presos políticos a criminosos comuns na mesma prisão, na Ilha Grande em Angra dos Reis.

Era o ano de 1979, e essa fusão estratégica de inteligência e violência, casando idealismo com ação, tinha minha influência silenciosa. Fui o instigador que insuflou a crueldade nos corações daqueles que se alimentavam do ódio, fruto da ação dos militares ao juntar os presos políticos aos presos comuns. O momento não podia ter sido mais apropriado; a memória do voo 830, um Boeing 707 da TWA de Rudi, ainda estava viva, e o ideal de “Paz, Justiça e Liberdade” aquecia os corações de jovens revolucionários.

Mas a conjuntura era também distante o suficiente para ter sido maturada no coração e na mente daquela geração rebelde. Dessa interação, entre presos políticos e criminosos comuns do Rio de Janeiro, emergiu a “Falange Vermelha”. Embora efêmera em sua existência, sua influência foi profunda, culminando na formação do “Comando Vermelho” no Rio de Janeiro, uma organização que, embora sem saber de onde, carregou consigo o ideal que eu havia semeado: “Paz, Justiça e Liberdade”.

O Massacre do Carandiru: 5151 Dias Depois, Não Acredite que foi Coincidência

Meu jogo ainda não havia chegado ao fim. Era o dia 2 de outubro de 1992, em São Paulo, quando com um mero toque, infundi nos corações dos policiais militares uma sede de violência que nem mesmo eu, em minha existência etérea, havia despertado em eras recentes. Felizmente, encontrei esses corações predispostos à minha colheita de sangue.

O brilho nos olhos dos policiais militares prestes a entrar no Complexo Presidiário do Carandiru revelava em suas pupilas dilatadas, embebidas de medo: excitação e ódio. A fragrância da adrenalina, do suor, e dos feromônios liberados pelo temor humano era quase palpável naquela atmosfera carregada. Para mim, era uma essência tão pungente e intoxicante que, por breves momentos, me fez perder a noção do jogo iniciado há exatos 5151 dias, não foi coincidência.

Em minha astúcia milenar e conhecimento profundo das complexidades humanas, escolhi esse momento mágico, marcado pelo duplo 51, para reforçar essa fase de transformação, mudança e crescimento na trama que tecia com tanto esmero. A numerologia, uma ciência que domino há milênios, pode ser ignorada por muitos humanos, mas é um instrumento que jamais desprezo em meus desígnios.

O Massacre do Carandiru: Palavras Lavadas em Sangue Ganham Poder

Esse número duplo, 5151, enfatiza a união da liberdade com a aventura, e da liderança com a ambição, formando um apelo pungente ao despertar de novas possibilidades e à quebra de velhos moldes. As palavras “Paz, Justiça e Liberdade”, agora tingidas em sangue, adquirem maior intensidade no íntimo daqueles que eu convocaria à liderar minha trama.

Para encabeçar os sobreviventes, que se levantaram dentre os 111 corpos espalhados pelos corredores do Carandiru, com sonhos de vingança e um instinto de preservação raramente observado entre os homens, essas palavras, que a 5151 dias acalento, serviriam como um mantra. Guiariam os destinos tanto de vítimas quanto de algozes pelas próximas décadas, obra prima de minha tecelagem.

Sempre atento às ressonâncias ocultas e significados profundos, vi no número 51 uma expressão perfeita de minha intenção, um símbolo para orientar os destinos entrelaçados em minha tapeçaria eterna e misteriosa. Essa chave, habilmente selecionada, serviria para desencadear ondas de mudança que reverberariam através do tempo e do espaço, mantendo acesas as chamas da “Paz, Justiça e Liberdade” em corações e mentes por todo o mundo.

Massacre do Carandiru: os corações sombrios e as almas corrompidas

Graças à minha maestria, aqueles homens foram levados a sacrificar suas carreiras, executando friamente 111 pessoas naquele momento, e indiretamente causando a morte de outras 189 posteriormente, seja em hospitais, outros presídios ou em seus próprios lares. As sementes mortais que eles plantaram nos corredores ensanguentados já frutificavam pelo mundo, e a segurança da sociedade foi irremediavelmente devastada por aqueles minutos de barbárie.

Aqueles policiais não tinham mais utilidade para mim, e permiti que fossem lançados de volta à sociedade, condenados a viver com a culpa e as lembranças daquele dia horrendo. Tornaram-se peões sem utilidade em um tabuleiro vasto e misterioso, merecendo ser descartados. Alguns enlouqueceram, outros tiraram suas próprias vidas, e os que sobreviveram carregam cicatrizes profundas e irremediáveis.

Aquele dia marcou o fim da participação desses policiais militares de São Paulo na trama que eu, meticulosamente, orquestrei. Suas mentes, frágeis e suscetíveis às minhas influências ocultas, tornaram-se o cenário de um drama cujas ondas reverberam através do tempo, muito além da vida efêmera daqueles que eu manipulo com tanta destreza. Para mim, bastava despertar os desejos sinistros que jaziam adormecidos em seus corações sombrios e almas corrompidas.

O frenesi e as emoções brutais vividas por esses homens nos corredores imundos do Carandiru se dissiparam em algumas horas. No entanto, o rio de sangue que eles desencadearam cumpriu o propósito de fortalecer e solidificar meus planos. O massacre do Carandiru não foi mera coincidência ou um ato isolado; foi uma peça cuidadosamente orquestrada em meu eterno e cruel jogo de xadrez, onde cada movimento é calculado e cada destino é tecido segundo a minha vontade.

O Tecelão de Destinos: E os Sete Pecados Capitais

A liderança dos presos que sobreviveu foi transferida para a Casa de Custódia de Taubaté. Eles se tornariam os fundadores e líderes do que viria a ser o Primeiro Comando da Capital. Entre eles, estava alguém que, quando comecei a tecer essa trama, era apenas um garoto jogando bola nas ruas de Osasco: Marcola.

Naquele momento, restava pouco a ser feito. A Casa de Custódia de Taubaté, conhecida como Piranhão, tornou-se sob a minha influência o caldeirão onde a facção PCC 1533 emergiu. Era a última etapa na tela que eu tecia, e o dia escolhido foi 31 de agosto de 1993.

Novamente aproveitei a força dos números, uma ciência oculta, mas poderosa. A soma da data 31-8-1993 representa o número 7 na numerologia. Não foi por acaso; é o número da perfeição e totalidade, o símbolo da plenitude de minha obra. Representa os sete pecados capitais, e assim como foi no sétimo dia em que Deus criou a Terra, foi no dia de número sete que criei um mundo novo, fadado a viver sob a sombra do Primeiro Comando da Capital.

O Tecelão de Destinos: Paz, Justiça e Liberdade para Todos

Influenciando os criminosos a adotarem as palavras que com tanto cuidado preparei, “Paz, Justiça e Liberdade”, palavras que eles acreditavam terem sido criadas pelos irmãos do Comando Vermelho, conduzi-os ao campo de futebol para enfrentar e eliminar o time adversário, e o resto, como se diz, é história.

Sou o sussurro que paira sobre as águas turbulentas, o vento frio que sopra através da escuridão, o toque silencioso do destino. Minha tapeçaria é entrelaçada com os fios da humanidade, um tecido complexo e misterioso de alegria e tristeza, de triunfo e tragédia.

Sou o vigilante, intocável e sempre presente, Tecelão de Destinos. Onde minha influência será sentida a seguir? A quem tocarei com minha mão invisível? A história nunca termina, e eu nunca descanso.

Sou o Tecelão de Destinos, e a história que relatei começou em 25 de agosto de 1978. Entrelacei vidas e eventos, inclusive a sua, que agora lê estas palavras. Você foi atraído para cá pelo poder das palavras que plantei no coração de muitos, palavras que foram o gatilho de tudo: “Paz, Justiça e Liberdade”.

A obra está completa, mas a trama continua, pois meu trabalho nunca cessa.

Dados e fontes para este artigo

O registro do caso da ameaça de atentado ao voo 830, Boeing 707 da TWA perpetrada por Rudi Siegfried Kuno Kreitlow, consta da obra “The Encyclopedia of Kidnappings” de Michael Newton.

A evolução do uso do lema “Paz, Justiça e Liberdade (PJL)” dentro do Primeiro Comando da Capital é complexa e tem diferentes interpretações. O Estatuto do PCC de 1997 não mencionava a frase exata, e após a ruptura com o Comando Vermelho, o lema foi expandido para “Paz, Justiça, Liberdade, Igualdade e União (PJLIU)”.

2 – A Luta pela liberdade, justiça, e paz.

Estatuto do PCC de 1997

De acordo com Bruno Paes Manso e Camila Nunes Dias, a frase já era utilizada entre os membros em 1997. No entanto, Marcio Sergio Christino afirma que o fundador Misael compilou o lema em um documento do PCC em 1998 na Casa de Custódia de Taubaté.

Em 2001, uma foto aérea registra no pátio de um presídio a frase exata.
Em 2006, uma foto histórica com o lema.

Registros visuais do lema surgiram em fotos aéreas de 2001 e em uma imagem histórica de 2006. Em 2007, o Estatuto do PCC foi atualizado, incluindo o lema em dois trechos, e ele foi também citado na Cartilha de Conscientização da Família da organização.

Os tempos mudaram e se fez necessário adequar o Estatuto à realidade em que vivemos hoje, mas não mudaremos de forma alguma nossos princípios básicos e nossas diretrizes, mantendo características que são nosso lema PAZ, JUSTIÇA, LIBERDADE, IGUALDADE e UNIÃO acima de tudo ao Comando.

Estatuto de 2007

Da Humildade à Ostentação: A Mudança de Valores na Facção PCC

Este artigo explora a mudança de valores da primeira geração da facção PCC 1533 que valorizava a humildade, para as gerações atuais, que celebram a ostentação. O texto é uma homenagem aos 135 anos do conto “Elogio da Vaidade” de Machado de Assis.


Ostentação é o foco do nosso artigo. Abordamos como a primeira geração do Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533) valorizava a humildade. Agora, as novas gerações estão pendendo mais para a ostentação.

Esse texto, repleto de análises e reflexões, foi criado em comemoração aos 135 anos do conto “Elogio da Vaidade” de Machado de Assis. Você vai descobrir como os ideais mudaram ao longo do tempo dentro do PCC.

Não fique de fora dessa discussão! Comente aqui no site, participe do nosso grupo de leitores ou mande uma mensagem privada pra mim. Queremos saber o que você pensa sobre essa mudança de valores no PCC.

Ah! No final do artigo coloco um debate que ocorreu dentro do Grupo de WhatsApp do site.

Ostentação e a Nova Geração do Primeiro Comando da Capital

Paz, Justiça, Liberdade, Igualdade e União (PJLIU) se mantém como o norte do Primeiro Comando da Capital desde sua origem. Essa meta tem guiado os membros da facção desde o famoso jogo de futebol na Casa de Custódia de Taubaté, o Piranhão, em 31 de agosto de 1993.

Entretanto, a facção paulista passou por transformações significativas ao longo do tempo. A nova geração de faccionados de São Paulo não enfrentou a batalha pelo domínio nem o descrédito da sociedade, que considerava impossível que criminosos se organizassem de forma efetiva. Ela também não vivenciou a repressão do Estado, que tentou aniquilar, através da força bruta, o ideal do PJLIU nascido na opressão carcerária.

A nova geração, que domina a maioria das quebradas e cresceu em meio a desafios, tecnologias e tendências únicas, tem perspectivas e comportamentos diferentes. Ainda que tente manter os princípios originais do PCC, é provável que aja de maneira distinta, e em algumas ocasiões até contrária.

Testemunho essas mudanças entre os conhecidos do Primeiro Comando da Capital, e compreendo que as circunstâncias exigem respostas adaptadas. A nova geração, apesar das adversidades, prosperou após o período de expansão econômica durante o primeiro mandato do presidente Lula, quando muitos irmãos e irmãs da periferia puderam comprar sua primeira geladeira e fogão.

Possivelmente por esse motivo, a nova geração valoriza o consumismo e a ostentação, algo que hoje é viável. Ainda que não queira abandonar explicitamente os ideais da geração anterior, onde a humildade era um conceito recorrente nas quebradas, suas ações indicam uma mudança de comportamento, reflexo das demandas do ambiente em que se desenvolveram.

Atualmente, apesar de a palavra ‘humildade’ ainda ser bastante mencionada, o que mais observo é a busca pela ostentação. Por isso, no aniversário de 135 anos do conto “Elogio da Vaidade” de Machado de Assis, acho apropriado republicá-lo aqui.

Antecipo-me a qualquer discordância do texto a seguir, advertindo de antemão: caso não compartilhe do mesmo pensamento, sugiro que direcione suas queixas ao venerável Machado de Assis!

I – Ostentação passa o papo reto – Machado de Assis, ou quase

Quando a Humildade, de cabeça baixa, silenciou, a Ostentação, num salto, pegou o microfone e mandou a real sem dó:

Irmãos e irmãs, companheiros e companheiras, aliados e aliadas, cunhadas, minas e arlequinas, vocês acabaram de escutar a Humildade, a mais sem brilho, a mais parada, a mais sem movimento no coração da favela; e agora vão sentir o peso da mais firmeza das atitudes, da mais poderosa, da que faz chover dinheiro, drogas, bebidas e alegria na comunidade.

Não caia na neurose da Humildade; olha o que eu represento. Longe de ser só zoeira, minha parada é real, e os resultados você sente nos seus corres de sucesso. Convido todos vocês, sem o papo furado e o teatro de falsidades da Humildade, que eu até valorizo, pois sei o peso que carregou lá atrás.

Eu convoco geral, porque quero todo mundo, pra que todos brilhem nas quebradas, ostentado com orgulho, assim como eu, os ganhos de seus corres, e não que nem uns zés-ninguém, fudidos e largados, manos e minas, coroas e muleques, crias ou lideranaçs, todos vocês que tão no mundo do crime ou que vão estar; eu chamo todos vocês, na mesma levada que a mãe chama os filhos pro rango, ou seja, na responsa e no afeto. Porque ninguém, ou quase ninguém, pode dizer que eu não dei uma chance.

II – Aqui na voz é a Ostentação!

Onde é que eu não estou presente? Onde é que eu não comando? Eu ando pelas quebradas, dos asfaltos aos becos, das coberturas luxuosas às vielas escuras. Faço minhas exceções, é verdade (infelizmente!); mas, em geral, quem me possui, me encontra no encosto do seu sofá, em sua tv e no seu celular de última geração, no vinho do seu copo e nas drogas de suas baladas, no ronco do motor do teu carro ou moto que todo mundo paga pau!

Dá uma olha em você mesmo, nos seus panos e pisantes de grife, nos seus cordões de ouro, no seu visual; procura em seu próprio coração. Você, que não me possui, vasculha bem seus panos velhos, nos cantos do seu barraco; lá eu estou também, mas somente entre sonhos envergonhados; ou ali, no solado desgastado do seu tênis, ou na fé que impulsiona você a querer e lutar por mais. Tudo que você faz ou sonha em fazer é em meu nome, a Ostentação.

Fala sério que você não dá valor a mim! Fala sério que tu paga pau para a Humildade!

Foi pra esconder ou pra exibir que você trouxe essa garrafa de vodka, essas carreiras de pó e esses pacotes de dinheiro? Foi pra esconder ou pra exibir que você comprou esses panos de marca, esses cordões de ouro e prata que tão no seu pescoço e esse carro todo equipado que leva suas minas pra passar uma semana no litoral? Foi pra esconder ou pra exibir que você preparou esse churrascão e você pediu esses pacotes da cerveja mais gelada pagando com notas de 200 e de 100?

E tu, que não possuis nada, foi pra esconder ou pra exibir que vestiu essa camisa velha e meteu no pé esse pisante rasgado? Não, não foi pra exibir, mas porque não teve como ostentar, se tivesse ostentava, como eu!

Pra você, que não me possui, eu trago a esperança de ter, o prazer de sonhar, de querer mais. Pra você, que me possui, eu trago a satisfação de ser respeitado, invejado, admirado. Sou eu, a Ostentação, que incito os manos e as minas a buscarem a excelência, a sonharem com a grandeza, a desejarem a admiração. Eu sou o barulho dos alto-falantes que chama pro palco da vida e impulsiona você a brilhar. Porque sem mim, o que seria de você?

III – O dolorido abraço da ostentação


Mano, deixa eu contar essa parada. Vê aquele mano ali com a mina dele, desfilando feito rei da quebrada? Ele tava sempre no corre na comunidade, mas ninguém valorizava, ele até tropeçava nas responsas, esquecia a rima, mas daí, eu, a Ostentação, entrei na jogada. Ele manteve o foco em mim, botou fé, seguiu no passo certo, e eu do lado dele, e o mano foi ganhando respeito, grana e seu espaço.

Aí, os mesmos que zoavam o mano, agora tão lá, puxando saco, trocando ideia no bar, na mesa de jogo, de boa, como se fossem amigos de infância. E quem aliviou essa treta antiga? Fui eu, a Ostentação. Quem deu aquele up nele e fez todo mundo esquecer das tretas antigas? Eu, a Ostentação, sempre mal falada, mas amiga da quebrada.

Falam que minha presença é pesada, que traz problemas. É caô! Eu só mostro a real; a vida é braba, mas eu dou um jeito em tudo!

Ah, a mãe que cria o filho, que dá de mamar e embala, que coloca nessa criança todo o amor puro, até ela, com todo respeito a senhora, não consegue fazer o que eu faço. Os conselhos da velha não batem com a força no coração.

Aqueles que se sentem pequenos, que se sentem insultados, quando se veem de novo na minha presença, eles se sentem grandes, porque se o amor de mãe é a maior forma de dar sem esperar nada em troca, o amor que esses manos têm por si mesmos quando buscão a ostentação é egoísta, isso é verdade, mas na real? É o caminho mais seguro para o progresso no mundo do crime. Fala que não!

VI – Da quebrada à igreja

Vê aquele mano ali batendo um papo com o chefão da quebrada? Nem tá ligado no que o cara fala, só quer se mostrar, pra todo mundo ver que ele tá no corre com alguém de peso. Ele nem se liga no que a liderança tá falando, só quer ser notado. E quem dá essa moral pra ele? Eu mesma, a Ostentação.

Agora, dá uma olhada naquele moleque com aquela novinha top? Ele nem tá aí pra ela não, se pá nem quer ficar com ela, ele só quer ser visto com a mina. Por que não? Ela é gata, causa inveja. Ele força a barra pra parecer que tem intimidade com ela, até ri das coisas mais nada a ver que ela fala, só pros manos pensarem que eles são chegados.

Mas não é só no mundo do crime e das quebradas que eu tô presente, sacou? Você acha que eu não apareço até na igreja? Claro que apareço. Até os mais crentes às vezes esquecem das coisas do céu e se ligam nas coisas da terra. Olha aquela coroa entrando na igreja, toda produzida, com roupas e aquela Bíblia que nem pode bancar, só pra causar. Todo mundo na igreja vira pra olhar pra ela, mesmo com o culto rolando. Ela se ajeita, abre a Bíblia e faz questão de levantar alto, se exibindo. Ah tá, que que “foi Deus quem comprou” aquele carro que ela ainda nem pagou mas faz questão de parar bem perto do culto e dar carona para os irmãos e irmãs mais pobres. Ela tem dois amores no coração: a fé e eu, a Ostentação. E sabe qual de nós chegou primeiro? Eu mesma, a Ostentação.

V – Ostentação: tem uma pá de seguidores!

Ia perder um tempão pra listar todo mundo que me segue, ia ser mó trampo. Pra que listar tudo, se quase todo mundo me tem no coração? Digo quase, porque tem gente que tá na bad e onde tem tristeza, lá reina a minha rival, a Humildade. Mas o bagulho é que a felicidade é mais forte que o tédio e a felicidade sou eu, a Ostentação. E se deuxar eu, acompanho o mano e a mina desde o berço até o caixão.

Ah, a Humildade! O que ela fez no mundo que valha a pena mencionar? Ela que ajudou a construir as Pirâmides? Ela fecha a avenida para rachas ou para o proibidão? O que vale o cara ir pro trampo de buzão perto de mim que levo pro litoral num Audi? As virtudes dos santos são realmente virtudes? As ideias dos pensadores são ideias mesmo? Ela que traga uma lista das conquistas dela, dos heróis dela, das grandes obras dela; que ela me mostre, e eu vou mostrar que a vida, a história, os séculos não são nada sem mim.

Não caia na tentação da Humildade: é a virtude dos fracos. Talvez você encontre alguém dos antigos da facção que realmente acredite nela. Mas essas palavras bonitas são fáceis de falar, até cheira bem, mas morre rápido. Só ver quem ficou para trás e quem foi para frente. Quem ficou na comunidade e quem mudou para os condomínios e prédios de luxo.

Sacou aquele rolezinho que a Humildade dá, né? É só decepção, mano, e no fim, você tá lá na solidão. Comigo, a parada é outra: vai ter uns malandro que vai falar mal de você; vai ter uns derrotado que vai dizer que eu, a Ostentação, sou inimiga da consciência. É mentira, véi! Eu não tô nem aí pra consciência; eu só dou uma força quando vejo que a consciência tá na pior e eu coloco ela pra se olhar no espelho. Agora, se você prefere o barato da Humildade, manda aí; mas saiba que vai tirar do mundo o sangue quente e a alegria de viver.

Acho que deixei claro quem eu sou, a Ostentação, e quem ela é, a Humildade; e na moral, só nesse papo já mostrei que eu sou de verdade, porque falei tudo, sem medo, sem esconder nada; dei meu próprio salve, que alguns vão achar que é zica; mas eu não tô nem aí pra esses papos furados. Cê viu que eu sou a mãe da vida e da alegria, a cola que segura a comunidade, o aconchego, a força, o bagulho mais firmeza do povo; eu boto uns pra subir, destaco outros, e tenho amor por todos; e quem faz isso é tudo, e não pode ser derrubado por quem não é nada.

A Humildade tá sempre aí, com as palavras suaves, de cabeça baixa, com respeito, mas tá ligado, se puder o mano que vem nesse sapatinho, de mansinho quer ver você por trás. Pergunto pra você, dá pra confiar em quem tá de olho baixo, cara fechada, boca selada sem soltar a voz? Cê poderia afirmar que esse mano é sangue bom e não vai apunhalar você na primeira chance?

Mas e comigo, a Ostentação? Quem pode se enganar com esse sorriso aberto, que vem do fundo do coração; com esse rosto firmeza, esse olhar de satisfação, que nada escurece, que nada apaga; esses olhos, que não se escondem, que não fogem, mas encaram diretamente você, o sol e as estrelas?

VI – Humildade Win?

O quê? Cês acham que não é assim? Será que perdi todo meu dom de convencer, e no fim do papo, tô aqui na frente de um bando que não entendeu nada? Meu Deus! Será que minha concorrente, a Humildade, levou vocês de novo? Todo mundo vai pensar isso ao ver a cara de vocês que tão me ouvindo; ao ver o desprezo daquela mina que tá me olhando. Uma outra levanta os ombros; um outro ri de deboche. Vejo ali um mano me desafiando: outro balançando a cabeça em desaprovação; e todos, todos parecem fechar os olhos, movidos por um mesmo sentimento. Saquei, saquei! Cês tão curtindo o prazer supremo da ostentação, que é se ostentarem como humildes. Venci.

No grupo de Zap do site um debate: Pq no início a luta era do preso oprimido contra o sistema opressor

Luciana do 11

Boa boa

Com meus 46 anos, observado a organização lá no início (anos 90) em região periférica na norte de Sampa, e acompanhado ainda em Sampa essa ascenção, noto que houve mudanças drásticas após essa série de acontecimentos na aplicação das “leis” da família.

Posterior a essa ascenção estive em duas cidades do interior de São Paulo e pude observar de perto a realidade do domínio do PCC, que não condiz com a conduta esperada pela própria organização, e muito diferente do que conheci em São Paulo.

É fundamental que o PCC se mantenha fiel aos propósitos inicias: PAZ, JUSTIÇA, LIBERDADE, IGUALDADE E UNIÃO. Foi assim que cresceu e se solidificou e somente assim perpetuará o respeito e crença na organização (pontuo essa questão por ter cansado de ouvir de inúmeras pessoas que estão desacreditadas principalmente da justiça da organização).

scarp metal do 46

Muitos emocionados que não sabe de fato o que é o crime. Por isso eu falo que cadeia é escola.

Wagner do Site

Verdade! Aqueles que conheceram a facção atrás das grades ou em comunidades hostis, onde a morte, o sofrimento insuportável e a injustiça emergem como inimigos incansáveis, foram forjados na fornalha da adversidade. Não é por menos que não só enfrentaram as dificuldades com uma coragem indomável, enquanto suas almas conheceiam o abismo e ao retornarem, voltaram mais fortes do que nunca. Pois é na escuridão mais profunda que se acende a chama mais brilhante, e aqueles que atravessaram o vale das sombras estão preparados para iluminar o caminho para os que não conheceram a mesma tormenta.

Luciana do 11

Concordo, mas não posso deixar de considerar que há também: “Infelizmente, o crime pode parecer uma forma de sobrevivência e ascenção social– fatores que eram secundários para as primeiras gerações do PCC, que lutavam por direitos mínimos de sobrevivência e dignidade.

Lá nos anos 90 entrava se para a organização pura e simplesmente por ideiais, de uns anos pra cá a molecada quer a “ascenção social” e o “poder”. E já vi muitos “emocionados” mais velhos também scarp metal do 46 …rs

Pra falar a verdade tenho saudades de encontrar gente que tá no PCC por acreditar nos ideiais e criminosos por opção não pela falta de opções…
Sabe? Gente que prática crimes pq gosta, não por outros interesses.

scarp metal do 46

Pq no início a luta era do preso oprimido contra o sistema opressor. Depois que o PCC tomou as ruas, as ideias de muitos mudaram. Tem uns aí que sai com a missão de resgatar os irmãos, mas depois de conhecer o luxo esquece dos seus, uns até pensa em dar golpe de estado. É como vc ralou, é quase impossível administrar tanta gente como hoje em dia.

Tem muitos kk, faz pq gosta e não por necessidade. Mas essa não é mais uma realidade da periferia. Esses que faz pq gosta estão na moita, longe da vista de muitos. A verdade é que nem todo mundo nasceu pra bandido, assim como para ser cantor ou escritor. Por isso poucos se destacam no mundo do crime como mente pensante.

Luciana do 11

“Mente pensante”, adorei isso

scarp metal do 46

Aquela frase que diz “quer conhecer o homem? Dê poder a ele.” É exatamente isso. Leva 10 pessoas para um assalto a banco, quem ostenta na comunidade ou cidade onde mora termina rodando, os que “pensam” prefere investir o dinheiro e continuar passando despercebido sem ostentar ou esbanjar riqueza.

Antigamente o bandido pensava em bancar fugas, pagar advogados e ajudar a família dos irmãos. Hoje em dia muitos querem um carro de luxo, passeio de lancha e fechar camarote.

Luciana do 11

Concordo plenamente. O poder é o maior revelador de personalidades. A ostentação e a alteração de personalidade por “ter o poder” de muitos de dentro da organizacao acaba por denigrir os verdadeiros ideais. É triste demais, como disse sou uma expectadora de uma vida do PCC, e sinto saudades dos anos 90 de verdade. É triste demais, como disse sou uma expectadora de uma vida do PCC, e sinto saudades dos anos 90 de verdade. É desse jeito, a irmandade tem se perdido com os egos.

scarp metal do 46

A verdade é que abriu as portas com a guerra, aí entrou muita gente sem ideologia. Só que isso é um ciclo como qualquer coisa na natureza, uma hora a própria natureza se encarrega de separar o joio do trigo. Infelizmente alguns acaba com o nome do PCC, mas só pra quem tá de fora. Mesma coisa é na política, nas polícias e demais profissões. Sempre tem as maçã podre.

Luciana do 11

Essa é minha preocupação sabia? Que essas atitudes erradas manchem o nome do PCC. Os que estão de fora também são parte importante, principalmente na credibilidade dentro das quebradas. A luta sempre foi contra o sistema. Quem é de quebrada sabe que não é política social ou empresário que ajuda os necessitados, e sim o crime.

scarp metal do 46

O crime aparece onde o sistema falha. É ajuda na feira, no gás, remédios… resolve broncas… é nós pelos nossos. Mas tem locais que os frentes não estão de frente de vdd, aí que acontece a judaria e os erros de muitos. Como já foi dito aqui antes, pessoas que passam por cima dos mandamentos achando que não vai ter cobrança, mas a lei do PCC serve pra todos integrantes.

Já passei pelo sistema 4 vezes, e lá de 4mil uns 300 sabe articular um plano bem feito, sabe trocar uma ideia, sabe conduzir as situações. Só que esses são um perigo para os governantes e diretores de presídios, por isso são exilados na federal. Para o sistema, quanto mais burro for o bandido é melhor. Só que até no crime surge um Nicola Tesla da vida. São esses que muda o cenário no submundo e muitas vezes as mudanças passam despercebida pra quem tá de fora.

Mas aí basta ver o que vem acontecendo com a ascensão do PCC que vão notar que tudo que a mídia fala é balela. Esses dias prenderam um cara que na casa dele tinha peças de carro roubado, parecia um ferro velho de tanto lixo e falta de higiene na casa. Mas a mídia taxou o cara como um chefão do PCC e braço direito de Marcola só pq tirou cadeia em Presidente Vencenslau 2.

Esses dias eu vi uma pessoa defendendo a PM e falando que quem é contra eles é pq comprou a cartilha de esquerda e suas pautas. Mas quem vive na favela sabe que eles oprimem e é comum matar inocente e taxa a vítima como bandidos. No nordeste é comum o PM ser integrante de grupo de extermínio.

Para se defender o policial falar que a polícia que mais mata é a que mais morre, mas bandido não quer confronto, é se ele enfrenta é pq sabe que não resta outra opção. Falta planejamento para apreensões e por isso a polícia investe no confronto. O país Israel é um dos menores e não perde guerra pra nenhuma super potência, pois eles estão encurralados rodeados de inimigos e o mar vermelho atrás. Assim é o crime, enquanto houver mão branca as mortes não acabam.

Já dizia Sun Tzu: Quando cercar o inimigo, deixe uma saída para ele, caso contrário, ele lutará até a morte.

Luciana do 11

Eu realmente admiro demais o propósito da causa, muito mesmo. Mesmo não fazendo parte da organização diretamente, sempre estive a disposição para todos os integrantes que precisaram/precisam de algum tipo de ajuda.

Simplesmente pq acredito no propósito inicial do PCC, a irmandade de coração mesmo. A luta é sempre mais gratificante, mesmo que não se alcance o sucesso total em tudo o tempo todo (impossível né?!) quando a gente sabe que tem quem corre com a gente ou pela gente.

Se suas contas estiverem certas scarp metal do 46, só 7,5% 😕 de todos os presos no sistema tem capacidade de liderança e cabeça para fazer os negócios da facção.

Esses que defendem a PM são estão sob a influência bolsonarista na opinião de desavisados…

Falta planejamento sim para as ações das polícias, até o pq o investimento no Brasil em segurança ainda é 10 vezes maior do que em inteligência. Logo, subtende se que investem no confronto em primeiro lugar.

Disputas de Poder: Primeiro Comando da Capital de 2001 a 2006

A jornada deste texto percorre a história da facção PCC 1533 de 2001 a 2006, um período marcado por intensas disputas de poder e contradições, revelando uma faceta complexa da criminalidade em São Paulo.

“Disputas de poder” delineiam a essência deste relato. No coração desse emaranhado, o Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533), prevalece. Testemunhe sua ascensão entre 2001 a 2006.

Em meio ao caos, desenrola-se uma dança do poder, onde a política de segurança pública, paradoxalmente, fortalece a facção PCC. Nossa jornada começa aqui, dentro do intricado universo do PCC.

Após a leitura, espero por seus comentários e reflexões. Deixe sua opinião no nosso site, compartilhe suas impressões nos grupos de leitores do WhatsApp ou envie uma mensagem privada para mim. Sua participação enriquece o debate!

2001 a 2006 – Disputas de Poder com a sociedade

Em 1997, um grito audaz ressoou do submundo criminoso, desafiando a sociedade como um fantasma emergindo das sombras. O Primeiro Comando da Capital, ousadamente, forçou o reconhecimento de sua existência, garantindo a publicação de seu estatuto e selando sua imagem como uma organização criminosa.

Essa atitude, talvez impulsionada por uma busca de satisfação do ego, talvez pelo desejo de derrubar o estigma do criminoso comum, tido como “inferior e ignorante”, surgiu como um movimento ousado e estratégico.

No jogo xadrez das “Disputas de Poder”, esta manobra se revelou mais do que uma simples busca por reconhecimento. Foi uma jogada tática astuta, um lançamento calculado de um dado que traçaria o caminho para o crescimento iminente da organização nos anos que viriam.

Medo, Repulsa e a Imprensa como Alto-falante

As entranhas da cidade escondiam mais do que apenas o medo e a repulsa – elas abrigavam uma força emergente, prestes a deixar sua marca indelével no tecido da sociedade. Esta era a ascensão silenciosa, porém inconfundível, do Primeiro Comando da Capital.

Em meio a um cenário que desafiava qualquer lógica convencional, a mídia assumiu o papel de alto-falante para as atividades do PCC, aumentando exponencialmente a sua notoriedade. Em uma tentativa de projetar uma imagem de eficácia e ação à população, várias correntes ideológicas implementaram políticas de Segurança Pública. No entanto, ao invés de subjugar a influência do PCC, elas fortaleciam inadvertidamente a organização criminosa. Como um fogo alimentado pelo vento, a estrutura do PCC parecia apenas se fortalecer frente a estes esforços.

O período de 2001 a 2006 marcou a entrada do Primeiro Comando da Capital numa nova fase, uma era definida por intensas disputas de poder. Este tempo, preenchido com dilemas e conflitos tanto internos quanto externos, escancarou a complexidade do ambiente no qual a facção PCC estava imersa.

No palco externo, a intenção das políticas governamentais colidiu com sua eficácia na prática. Ao invés de conter a influência da PCC, as medidas adotadas pela segurança pública paulista deram um impulso inesperado à organização criminosa. As transferências de presos, pensadas para diluir a força da PCC, acabaram por criar uma rede de influência mais extensa e consolidada, tanto dentro quanto fora das prisões.

Sede fecundos, disse-lhes ele, multiplicai-vos e enchei as trancas.
Vós sereis objeto de temor e de espanto para todo aquele que pensar em se opor a vós.
Tudo o que se move e vive vos servirá de alimento; eu vos dou tudo isto, como vos dei a erva e o pó.
Somente comereis carne com a sua alma, com seu sangue.
Todo aquele que trair a nós terá seu sangue derramado pelos irmãos, porque faço de vós a nossa imagem.
Sede, pois, fecundos e multiplicai-vos, e espalhai-vos sobre a terra abundantemente.

Operação Dictum PCC 15.3.3

Disputas de Poder dentro da Facção

No cenário interno, as disputas de poder intensificaram-se. Os líderes, outrora respeitados e inquestionáveis, agora enfrentavam um panorama de incerteza e instabilidade. Sombra, um dos generais mais admirados, fora brutalmente assassinado em 2001, durante seu banho de sol na prisão de Taubaté. Os motivos do assassinato de Sombra nunca foram confirmados oficialmente, mas diversas teorias circulavam entre os membros da PCC. Talvez fosse uma jogada de uma facção rival, talvez uma rixa pessoal, ou ainda uma tentativa de outro líder da PCC para aumentar seu poder. A verdade permaneceu nebulosa.

O Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), já estabelecido, encontrou forte resistência entre os detentos. No entanto, as lideranças do PCC incessantemente buscavam meios para se evadir deste castigo institucional, agitando o ambiente penitenciário. Paralelamente, a PCC logrou eliminar diversas organizações rivais em São Paulo, isolando as que apresentavam mais resistência. Curiosamente, ao concentrar todas as lideranças no presídio P2 de Presidente Venceslau, o estado inadvertidamente forjou um Quartel General para o Primeiro Comando da Capital, facilitando a coordenação entre os diferentes líderes do estado.

[…] o RDD acabou por contribuir para a consolidação de lideranças dentro do sistema prisional. A construção da autoridade das lideranças no interior de organizações tais como o PCC se dá a partir da valorização de alguns atributos do indivíduo, especialmente ligados à autonomia e independência frente a qualquer poder ou autoridade formal de modo que o preso que recebe como punição a alguma falta a remoção para o RDD acaba encarnando a imagem exemplar da insubmissão às regras oficiais do Estado.

Bruno Lacerda Bezerra Fernandes

Da disputas de poder à pacificação

A hegemonia da PCC nas prisões estava em plena expansão, com a organização ocupando o vácuo de poder deixado pelas facções extintas.

No implacável jogo de poder do submundo, o PCC mostrou-se eficiente ao enfrentar seus rivais. Ao eliminar muitas organizações adversárias em São Paulo, orquestrando uma verdadeira guerra estratégica, cujo objetivo era estabilizar sua influência e conquistar o poder e a hegemonia nas prisões. Organizações contrárias como o Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade CBRC, a Seita Satânica SS, o Serpentes Negras e Comando Democrático da Liberdade CDL, de fato, desapareceram após 2001.

Este cenário gerou um vácuo de poder, um espaço vazio que ansiava por domínio. A habilidade do PCC em preencher essa lacuna tornou-se evidente à medida que expandiam gradualmente seu controle, utilizando a violência como um instrumento para reforçar seu poder e recrutando novos membros para suas fileiras. A cada passo, o Primeiro Comando da Capital foi tomando as rédeas, crescendo não apenas em influência, mas também em número, com o aumento constante de seus afiliados. Nesse tabuleiro de xadrez do crime, a cada movimento, a facção PCC consolidava sua supremacia.

Apesar das circunstâncias adversas, a Primeiro Comando da Capital conseguiu estabelecer uma espécie de “pacificação” nos presídios entre 2002 e 2004. Este termo, contudo, não significava uma verdadeira paz, mas o fim das violentas disputas de poder entre as facções. No entanto, os crimes fora das prisões, como fugas, assaltos e sequestros, continuaram a ocorrer.

A pacificação dependeu da capacidade do PCC em construir um discurso de união do crime e organizar o interesse dos empreendedores de drogas numa mesma direção. Em São Paulo, a facção conseguiu funcionar como agência reguladora.

A Guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil

As Sombras de São Paulo: o sonho de mizael

Mergulhando ainda mais fundo nos corações das sombras de São Paulo, em nossa narrativa do período entre 2001 e 2006, palco das “Disputas de poder” do notório Primeiro Comando da Capital. Vidas tecidas na violência, corações pulsando contra a corrente de seus destinos prescritos – é neste cenário que Mizael, um líder na trama da facção, encontra seu fim abrupto em fevereiro de 2002.

Mizael, uma figura emblemática do PCC, se destacou por sua visão que ia além do cotidiano criminoso. Ele sonhava com um diálogo direto com o governo brasileiro e organizações de direitos humanos, enxergando na denúncia de abusos do governo paulista, uma chance de mudança. Essa aspiração foi abruptamente interrompida por uma trama interna.

Te convido a enxergar além da brutalidade dos atos do criminoso condenado. Tente ver em Mizael um homem com um plano, um estrategista almejando mudanças para além das grades. Seus desejos ecoavam em um manifesto, onde fazia menção a figuras políticas e intelectuais relevantes, numa tentativa de criar diálogo no âmbito político-jurídico.

Entretanto, dentro do universo fechado do Primeiro Comando da Capital, os sonhos costumam ser encurtados. Cesinha, antigo aliado de Mizael e um dos generais do PCC, baseado em boatos, determinou o fim de Mizael. O líder foi assassinado em um ato simbolicamente cruel, tendo seus olhos arrancados, uma forma de suplício que ecoa a brutalidade deste universo.

Jogos de Poder

Neste jogo de xadrez humano, Mizael e Sombra, outro líder do PCC, se destacaram por suas visões inovadoras. Viu-se em Mizael o potencial de um líder político, ainda que dentro da estrutura de uma organização criminosa. Sua visão, entretanto, foi impedida por uma disputa de poder, comprovando a velha máxima de que em uma guerra interna, não há vencedores, apenas sobreviventes.

Para além dos atos violentos, percebemos os homens por trás da facção PCC, suas ambições e desejos, frustrações e medos. Em um mundo onde a luta pelo poder pode custar a vida, cada decisão tem um peso imenso e os erros, consequências fatais. Entre as sombras das disputas de poder, encontramos seres humanos em sua mais crua essência, lutando pela sobrevivência em um ambiente hostil.

A Reconfiguração do Poder: Traição e Reformulação

Durante esse período de 2001 a 2006, encontramos um cenário volátil nas entranhas do emblemático Primeiro Comando da Capital. As perdas de lideranças chave levaram a uma reestruturação significativa do poder dentro do grupo, dando início a uma fase de intensa reconfiguração interna.

Neste período, presenciamos o assassinato de Ana Maria Olivatto Camacho, ex-esposa de Marcola, perpetrado por Natália, esposa de Geleião. Este evento acendeu o estopim para uma onda de vingança dentro do PCC, com parentes de Natália sendo eliminados por seguidores de Marcola.

A trama de nosso relato se adensa com a delação de Geleião à polícia, num esforço desesperado para proteger sua esposa e a si mesmo. Esta traição foi repudiada pela facção, levando à expulsão de Geleião e Cesinha, líderes renomados do PCC.

O vácuo de poder deixado por estas convulsões internas foi preenchido por Marcola, que ascendeu à liderança do Primeiro Comando da Capital em 2003. Implementou uma reformulação radical, mudando a forma de atuação financeira, política e estratégica da organização.

O PCC Evolui e se estrutura como empresa

A nova fase do PCC foi marcada por uma reorganização, passando de uma estrutura piramidal centralizada para uma organização complexa e descentralizada. Esta mudança democratizou as formas de atuação do grupo, concedendo voz e voto na estrutura interna da facção.

Marcola introduziu o conceito de “Sintonias”, comissões ou setores compostos por vários “irmãos” que reportavam a uma “sintonia final”. Além disso, a facção incluiu os termos “Igualdade e União” no seu lema, evitando problemas internos de poder e melhorando a divisão do trabalho.

No seio desta remodelação, o tráfico de drogas surgiu como uma atividade lucrativa e segura, reduzindo a perda de membros em assaltos e sequestros. Esta mudança levou a facção PCC a se tornar uma organização de caráter empresarial, embora mantendo sua luta contra as opressões e injustiças.

Neste contexto, o PCC, que começou como um partido, continua a existir, agora também como uma empresa. Uma dualidade que produziu uma ruptura singular na história da facção, transformando-a numa entidade complexa e multifacetada.

Baseado no trabalho do pesquisador Eduardo Armando Medina Dyna: “As faces da mesma moeda: uma análise sobre as dimensões do Primeiro Comando da Capital (PCC)”

PCC nos Anos 90: das sombras para o Dominio das Ruas

Explore a trajetória da facção PCC nos anos 90, desde o nascimento nas prisões de São Paulo até a expansão para as periferias, enquanto desvenda o mistério de sua constante transformação.

“PCC nos anos 90” não é apenas um termo, mas uma época de mudanças radicais e contornos inesperados no cenário criminal de São Paulo. Mergulhe nessa narrativa onde o caos e a ordem dançam em um equilíbrio delicado, revelando uma história de evolução e adaptação que desafia a imaginação.

Venha descobrir a verdadeira essência do mistério que rodeia o Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533), um enigma sempre em constante transformação. Após a leitura, espero por seus comentários e reflexões. Deixe sua opinião no nosso site, compartilhe suas impressões nos grupos de leitores do WhatsApp ou envie uma mensagem privada para mim. Sua participação enriquece o debate!

Texto baseado no trabalho de Evando Cruz Silva: Molecada no Corre: Crime, geração e moral no Primeiro Comando da Capital

PCC nos anos 90: Sob a Sombra das Grades

As primeiras luzes do dia ainda não haviam riscado o horizonte quando o eco de uma década de mudanças ressoou através das paredes de concreto. O Primeiro Comando da Capital, conhecido apenas como PCC, nasceu nas sombras das prisões de São Paulo na década de 1990. Uma história de transformações e contornos inesperados, trazendo consigo um ar de mistério.

Era uma época em que o caos era a única lei, onde a selvageria humana espreitava a cada canto de cela, o PCC surgiu em 1993 como uma ordem em meio ao caos.

Mano, no dia 11 de março de 1991, as sementes do PCC foram plantadas em solo fértil durante um banho de sangue no presídio do Carandiru. O PCC não brotou em 1993 lá no Piranhão e se espalhou de uma vez só, mas na real, ele já tinha começado lá atrás, em 91, mas foi nesse ano que ele se consolidou…

Naquela tarde de chuva de 93, o Rato caiu morto pelas mãos do Geleião no Piranhão, como era chamado a Casa de Custódia de Taubaté. Zé Marcio, o Gelião, fundava o PCC, regando-o com o sangue do Rato.

O PCC existira sem o neocapitalismo? Por que isso é importante?

Eles eram a luz do fim do túnel para muitos prisioneiros, um sopro de vida em um mundo governado pela lei do mais forte ou do cada um por si. A instituição do “PCC nos anos 90” redefiniu esse pensamento, inaugurando uma nova era de “paz entre os ladrões”, na tentativa de trazer alguma harmonia à anarquia dominante.

Camila Nunes Dias conta que nos anos de 1994 e 1995 a base se solidificou graças a intensificação da repressão dentro do sistema carcerário — quanto mais dura se tornava a vida no cárcere, mais presos se aliavam à bandeira de solidariedade empunhada pelo PCC.

Camila Caldeira Nunes Dias PCC

“… as demonstrações de crueldade e de espetacularização da violência […] desempenharam uma série de funções na conquista e na manutenção do poder e do domínio do PCC sobre a população carcerária.”

A transformação da organização criminosa PCC desde 1993 aos primeiros anos dos anos 2000 é uma história de evolução e adaptação, uma narrativa que desafia a imaginação. No entanto, como seria de se esperar em qualquer história de uma organização criminosa, o verdadeiro mistério reside sempre nos detalhes, escondidos nas sutilezas da vida real.

Em 1994, quando eu era um novato, os presos falavam comigo sobre um tal “Partido do Crime”. Eu falava ‘tá bom’, fingindo que estava entendendo, pois não é bom demonstrar dúvida perto dos detentos…

Só depois, eu e o restante dos agentes fomos descobrir que o tal partido era o Primeiro Comando da Capital, que alguns também chamavam de “Sindicato do Crime”. Para nós, os agentes penitenciários, era evidente a força que o grupo estava ganhando, mas, durante muito tempo, o governo negou a sua existência…

Foi nesse caldeirão que, no início dos anos 2000, o conflito explodiu: … o PCC agora mandava no lugar…

… a história continua no The Intercept Brasil.

A Metamorfose da Hierarquia: Desafiando a Estrutura Tradicional

Muitas mudanças aconteceram naqueles loucos e tensos do PCC nos anos 90. A população carcerária, antes massacrada pelo governo de São Paulo e ao mesmo tempo subjugada por grupos criminosos brutais dentro das prisões, começou a se organizar em torno de uma ideologia que ia sendo construída enquanto era implantada.

A criação do PCC é vista por muitos presos como o fim de um tempo no qual imperava uma guerra de todos contra todos, onde a ordem vigente era “cada um por si” e “o mais forte vence”. As agressões físicas eram bastantecomuns, “qualquer banalidade era motivo para ir pra decisão na faca”.

As violências sexuais também eram bastante recorrentes; para evitá-las, muitas vezes não havia outra saída senão aniquilar o agressor e adicionar um homicídio à sua pena. Os prisioneiros se apoderavam dos bens disponíveis, desde um rolo de papel higiênico até a cela, para vendê-los àqueles que não conseguiam conquistá-los à força.

Karina Biondi

Até 1995 ou 1996, o carcereiro chegava e vendia o preso por, digamos, cinco mil reais para ser escravo sexual.

Aluguel de presos como escravos sexuais no Paraná

No ambiente abafado, impregnado de injustiças e ameaças mortais, é possível vislumbrar como o Primeiro Comando da Capital encontrou espaço para expandir e enraizar-se com impressionante facilidade. E, nesse contexto, a transição para as ruas se tornou apenas um salto lógico e inevitável.

Nas ruas das periferias introduziu de seu código moral nas “biqueiras”, se estabelecendo como uma autoridade alternativa, o Tribunal do Crime, um recurso para a resolução de conflitos. Este controle social também não estava nos planos iniciais do PCC nos anos 90, mas poucos anos após a sua formação nas prisões, este sistema paralelo de justiça já se fazia presente nas principais comunidades periféricas de São Paulo.

Um ponto de virada dramático no enredo foi quando o PCC estendeu sua influência para além das prisões. Esta extensão não era uma estratégia inicial, mas acabou por ser um movimento que poderia ter sido inspirado por um mestre em estratégia.

Impondo a paz pela violência

O PCC nos anos 90, desenhava sua identidade com traços de violência, como uma assinatura indelével. De acordo com o estudioso Dyna, a facção estabeleceu uma rígida política de punições extremas, assemelhando-se às práticas de suplício descritas por Foucault.

Os suplícios, essas punições visíveis e brutalmente violentas, desenhavam um teatro de horror cuja finalidade era reforçar a relação de poder. O soberano aqui era o próprio comando, não se restringindo a indivíduos, mas permeando a organização inteira, atingindo todos, membros ou não.

As mais chocantes manifestações desses suplícios incluíam a decapitação de membros de grupos adversários, ou a execução dos próprios irmãos por falhas graves. A meta era clara: afirmar o poder e a hegemonia do PCC em cada presídio onde tivessem presença.

A crueldade desses atos, entretanto, não era uma invenção do PCC. As raízes dessas práticas brutais já estavam fincadas no solo fértil do mundo do crime. Porém, foi com a ascensão do PCC no universo carcerário que esses suplícios foram incorporados, tornando-se um instrumento de correção e punição para aqueles julgados pelo grupo.

No entanto, outras marcas simbólicas são registradas, como olhos arrancados (dos traidores), cadeado na boca (delatores), coração arrancado (inimigos). Quando se tratava de ex-membros que ocupavam postos mais altos na hierarquia do PCC, se a situação permitisse, o condenado poderia escolher a forma de ser assassinado: como coisa ou verme (a golpes de faca), ou como homem honrado, ocasião em que o chamado kit forca, composto de lençol e banco para que se encarrega se da própria execução.

Camila Caldeira Nunes Dias

PCC nos anos 90: um fantasma oculto na sombra

A crescente organização dos encarcerados e sua exorbitante violência começaram a chamar a atenção, se tornando inescapáveis aos olhos do governo e da imprensa. Mesmo assim, havia uma espécie de cegueira deliberada por parte do Estado, que se recusava a reconhecer a existência de um grupo de detentos tão meticulosamente orquestrado.

No ano de 1995, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo desdenhou dos rumores, afirmando que a imprensa estava “vendo fantasmas” ao falar de uma tal facção criminosa chamada PCC. Contudo, era como se essas palavras servissem de estímulo silencioso, pois em 1997, a misteriosa organização criminosa emergiu das sombras, forçando a sociedade a reconhecer a sua existência e a legitimidade de seu Estatuto.

Como se desafiando o escárnio das autoridades, o PCC se movia, motivado por um ímpeto quase palpável para ser visto e entendido. Creio que Na visão essa era uma demonstração de orgulho e rebelião, características intrínsecas daqueles que se sentem marginalizados e ignorados.

O PCC dos anos 90 também sofreu uma metamorfose notável, substituindo uma hierarquia rígida e centralizada por postos mais fluidos. Neste sistema enigmático, um membro poderia assumir uma “responsa” e trocá-la de acordo com as necessidades ou conveniências, seja suas ou da facção, a qualquer momento e lugar. Talvez essa seja a verdadeira essência do mistério que rodeia o “PCC nos anos 90”, um sistema tão complexo que, quando as autoridades finalmente conseguem desvendá-lo, ele já se modificou.

A atmosfera tensa e carregada de mistério mas aparentemente contida como uma represa pelas muralhas dos presídios prevaleceu até que, nos anos 2000 , estouraram numa onda de mega rebeliões e ataques fora dos presídios. Aqui, o PCC emergiu das sombras, jogado sob os holofotes públicos como uma força a ser reconhecida. Uma reviravolta dramática que desmascarou a falsa segurança dos discursos políticos, forçando as autoridades a reconhecerem que não estavam no controle.

O Brasil e o PCC entram na era da comunicação celular

O pesquisador Eduardo Armando Medina Dyna recorda um fato notável que causou um impacto significativo e revolucionou o PCC na década de 90: a introdução de telefones celulares nas prisões de São Paulo.

Na década de 90, uma mudança silenciosa começou a reconfigurar a paisagem sombria das prisões de São Paulo. Como se guiado por algum código inescrutável, o PCC encontrou uma nova forma de tecer sua teia de influência: o celular.

Era quase mágico. Aqueles pequenos aparelhos, que cabiam na palma de uma mão, começaram a zumbir nas sombras, costurando conexões onde antes existiam apenas paredes de concreto. As notícias corriam pelos corredores lúgubres como correntes elétricas, com um poder invisível que transformava em questão de horas o silêncio dos presos em um murmúrio de inquietação.

Este novo mecanismo era o resultado do trabalho de David Spencer, um homem que outrora combateu a ditadura de Pinochet no Chile. Com a paciência de um mestre relojoeiro, ele ensinou o PCC a montar uma rede de comunicação tão engenhosa quanto um mecanismo de relógio, com peças móveis que se ajustavam e se realinhavam ao mínimo sinal de perigo.

Os telefones eram introduzidos nos presídios de maneiras quase inimagináveis. Cada celular era precioso, sendo introduzido sorrateiramente nas prisões, escondido nas partes mais íntimas dos corpos humanos. Era uma operação perigosa e humilhante, mas essencial para o funcionamento da máquina do PCC.

Com essa nova ferramenta, o PCC não era mais apenas uma organização, mas uma entidade viva, pulsante. Cada membro, independente de onde estivesse, estava ligado à entidade maior, contribuindo com uma parte de seus ganhos. Os que estavam em liberdade davam 500 reais por mês, os do semiaberto, 250 reais, e até os simpatizantes nas cadeias contribuíam com 25 reais. O PCC se tornou um organismo autossustentável, uma criatura nascida do desespero e alimentada pela necessidade, sempre pronta para adaptar, evoluir e sobreviver.

A chegada da nova tecnologia desencadeou um terremoto silencioso nas entranhas do sistema prisional de São Paulo. A ressonância desta transformação reverberava nos corredores frios das prisões, ecoando nas mudanças nas políticas e estratégias de gestão prisional. Viu-se a implementação do Regime Disciplinar Diferenciado, o RDD, uma resposta desesperada para tentar isolar as lideranças e restringir a comunicação que, agora, fluía livre como um rio subterrâneo.

Os complexos prisionais começaram a se expandir, espalhando-se como manchas de óleo pelo estado. A ideia era diluir a influência do PCC, dispersar os membros para enfraquecer a organização. Mas, como as autoridades logo descobririam, era como tentar segurar água nas mãos. O PCC já não estava apenas dentro das prisões, mas também fora delas. E agora, graças à tecnologia, estava conectado de uma maneira que ninguém poderia ter previsto.

Ironia e Paradoxo: As Falsas Promessas de Controle

Por algum motivo que escapa à compreensão, políticos, policiais e uma parcela considerável da imprensa nutriam a crença de que teriam sucesso em combater uma organização criminosa que nasceu no seio do sistema prisional, um monstro gerado para combater as injustiças da própria cadeia, ao aumentar o número de detentos e perpetuar a injustiça carcerária. Essa crença, impregnada de ironia e paradoxo, serve como um lembrete sombrio das complexidades que cercam o “PCC nos anos 90”.

Incrivelmente, graças a todos esses fatores, o “PCC nos anos 90” conseguiu estabelecer uma “paz entre os ladrões” nas prisões e transportar com sucesso o conceito da “moral do crime” para as ruas das periferias. Obteve visibilidade e reconhecimento público com a divulgação do seu Estatuto em 1997, e aprimorou seu sistema de hierarquia e gestão.

Contudo, ainda sob o manto do suspense, ocorreu uma mudança surpreendente. São Paulo experimentou uma redução drástica na taxa de homicídios, com uma queda de mais de 70% nos assassinatos. Esta mudança inesperada poderia apenas ser atribuída à presença cada vez maior do PCC e à disseminação do conceito da moral do crime. As ruas, antes palco de violência incessante, pareciam se acalmar sob sua influência.

E assim, ao final da década, a empresa – um empreendimento de meros cinco anos – já exibia sinais que atuava no cenário internacional com negociações expressivas:

Em fevereiro de 1998, por menos de 1 Real foi enviada de uma agencia do Correio de Campo Grande uma carta com informações de como funcionava o esquema montado pelo Primeiro Comando da Capital no Mato Grosso do Sul.

A carta que derrubou um esquema internacional da facção PCC

Governadores de São Paulo 1990-2000

15 de março de 1987 até 15 de março de 1991
estratégia violenta e repressiva de lidar com a criminalidade, foi a primeira grande ruptura na era democrática
Massacre do 42º DP – fevereiro de 89
Orestes Quércia

15 de março de 1991 até 1 de janeiro de 1995
massacre do Carandiru – 2 de outubro de 1992
desativação e demolição do Carandiru
política de interiorização e divisão dos presídios
fundação do PCC – 31 de agosto de 1993
Luiz Antônio Fleury

1 de janeiro de 1995 até 6 de março de 2001
criticou a ausência de direitos humanos nos governos anteriores e optou por políticas de negociação e patrulhas mais brandas
criação de vagas no sistema penitenciário como uma de suas principais ações políticas
Mário Covas

Primeiro Estatuto do PCC : história, análises e significados

Este texto detalha a criação do Primeiro Estatuto do PCC 1533, suas metas e valores, e como a organização enfrenta injustiças no sistema penitenciário paulista.

Primeiro Estatuto PCC, as palavras ecoam como um raio de luz sombrio, iluminando uma história entrelaçada com a luta pela justiça e dignidade em um ambiente de prisão. Me acompanhe nessa viagem tensa e carregada de ansiedade, um passeio pelas sombras das celas superlotadas, onde este documento histórico foi meticulosamente concebido.

A cada passo, descobrimos as motivações profundas do Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533), a batalha silenciosa que eles travam contra a opressão e injustiça dentro do sistema penitenciário paulista. Uma narrativa que se desdobra como um romance noir, onde as palavras do estatuto se tornam personagens de um enredo em que a sobrevivência, a solidariedade e a resistência são os temas centrais.

Pode-se ouvir a batida do coração da organização, pulsando nos artigos cuidadosamente traçados, cada um um manifesto de resistência, cada palavra um sussurro de desafio. Venha, leitor, descubra os segredos do Primeiro Estatuto do PCC, deixe-se envolver nesta saga de determinação e coragem, onde a luta pelos direitos dos encarcerados se torna uma história de suspense eletrizante.

Após a leitura, espero por seus comentários e reflexões. Deixe sua opinião no nosso site, compartilhe suas impressões nos grupos de leitores do WhatsApp ou envie uma mensagem privada para mim. Sua participação enriquece o debate!

Primeiro Estatudo do PCC: Pensado Palavra por Palavra

Era uma tarde tensa em um ambiente superlotado, quando Mizael, Sombra e outros detentos se reuniram em um espaço improvisado como escritório dentro de sua cela. O ar estava pesado, carregado de ansiedade e o barulho incessante da prisão abafava qualquer tentativa de silêncio. As paredes, desgastadas e marcadas, eram testemunhas da elaboração de um manifesto político que mudaria o destino de muitos. Com caneta e papel em mãos, delinearam 17 artigos bem definidos, meticulosamente pensados para servir de base para a coesão política de seu grupo.

O objetivo primordial era combater as mazelas do sistema penitenciário paulista, um ambiente opressivo, violento e desumano. Eles buscavam garantir os direitos básicos dos membros do PCC e suas famílias, lutando por justiça e dignidade. A cada palavra escrita, a cada linha traçada, sentiam que se aproximavam um pouco mais de seu objetivo.

No entanto, em 1997, o documento viria à tona, tornando-se público e causando alvoroço na opinião pública. As autoridades do governo paulista, encurraladas e desconfortáveis, tentaram desmentir a existência do estatuto, mas a verdade já havia escapado de suas garras, ganhando vida própria.

Primeiro Estatudo do PCC: Artigos de Solidariedade

  1. Lealdade, respeito, e solidariedade acima de tudo ao Partido
  2. A Luta pela liberdade, justiça e paz
  3. A união da Luta contra as injustiças e a opressão dentro das prisões
  4. A contribuição daqueles que estão em Liberdade com os irmãos dentro da prisão através de advogados, dinheiro, ajuda aos familiares e ação de resgate
  5. O respeito e a solidariedade a todos os membros do Partido, para que não haja conflitos internos, porque aquele que causar conflito interno dentro do Partido, tentando dividir a irmandade será excluído e repudiado do Partido.

No silêncio abafado da cela, os primeiros artigos do estatuto ganhavam vida. Traziam em suas linhas os ideais que deveriam ser a bússola de todos os membros: a luta incansável contra a desigualdade social, as injustiças e a opressão, inimigos tão presentes na realidade da população carcerária.

A solidariedade era o grito mudo que ecoava entre as palavras escritas, unindo os filiados da organização em um laço indissolúvel. Esse vínculo estendia-se além das grades enferrujadas, alcançando aqueles que, agora livres, caminhavam pelas ruas, carregando consigo o peso do passado e a esperança de um futuro melhor.

A ajuda mútua se manifestava de várias formas, sutis e diretas. Uma contribuição financeira aqui, um trabalho realizado ali, todos em prol da irmandade, formando um mosaico de tarefas econômicas e políticas que mantinham o coração da organização pulsando.

Desde o início, a centralização hierárquica era a espinha dorsal da estrutura política do PCC. Uma fortaleza edificada com o propósito de evitar fissuras internas que pudessem abalar a unidade política e a coesão do grupo. Um equilíbrio delicado, uma dança constante ao redor do abismo do conflito, onde a vigilância e a lealdade eram suas únicas defesas.

Assim, as páginas do estatuto se desdobravam, cada artigo um manifesto de resistência e determinação, um mapa para navegar nas águas turbulentas do sistema penitenciário, uma chama de esperança na escuridão opressiva da prisão.

Códigos de Ferro: Disciplina e Hierarquia na Facção PCC

  1. Jamais usar o Partido para resolver conflitos pessoais, contra pessoas de fora. Porque o ideal do Partido está acima de conflitos pessoais. Mas o Partido estará sempre Leal e solidário à todos os seus integrantes para que não venham a sofrerem nenhuma desigualdade ou injustiça em conflitos externos.
  2. Aquele que estiver em Liberdade “bem estruturado” mas esquecer de contribuir com os irmãos que estão na cadeia, serão condenados à morte sem perdão
  3. Os integrantes do Partido tem que dar bom exemplo à serem seguidos e por isso o Partido não admite que haja assalto, estupro e extorsão dentro do Sistema.
  4. O partido não admite mentiras, traição, inveja, cobiça, calúnia, egoísmo, interesse pessoal, mas sim: a verdade, a fidelidade, a hombridade, solidariedade e o interesse como ao Bem de todos, porque somos um por todos e todos por um.
  5. Todo integrante tem que respeitar a ordem e a disciplina do Partido. Cada um vai receber de acordo com aquilo que fez por merecer. A opinião de Todos será ouvida e respeitada, mas a decisão final será dos fundadores do Partido.

Nos corredores sombrios da organização, duas palavras ecoavam como um mantra: disciplina e punições. O sexto artigo do estatuto delineava com uma clareza brutal que o Primeiro Comando da Capital devia se sobrepor a qualquer forma de interesse individual que não buscasse o coletivo. Eles haviam estabelecido uma linha clara, e aqueles que ousassem cruzá-la, buscando lucrar à custa do partido ou abandonando suas funições para benefício próprio, seriam atingidos com as mais severas punições. A mentira, a traição, qualquer forma de quebra da aliança com o PCC, não seria tolerada.

A ideia de disciplina e punição não era nova, mas uma complexa técnica social, que Foucault detalhava em sua obra. A moralidade se entrelaçava com essas redes de sociabilidade, dando forma aos valores que os membros deveriam adotar em suas vidas cotidianas, ampliando essas teias sociais sob a supervisão vigilante do PCC.

O oitavo artigo era o fruto dessa intrincada rede de sociabilidade, unida pela disciplina e pela punição. A conduta exemplar que se esperava dos membros produzia uma espécie de legitimidade e aprovação moral, fortalecendo ainda mais o poder e a disciplina que permeavam a organização.

Assim, ações consideradas “imorais”, como assaltos entre os próprios presos, estupros e extorsões de presos mais poderosos, deveriam ser erradicadas. Antes da existência do grupo, tais práticas eram, infelizmente, comuns. O oitavo artigo, então, se tornou uma forte declaração contra os estupros, instaurando uma nova cultura política nos territórios dominados pelo PCC.

O décimo artigo lembrava a todos a necessidade de obediência dentro da estrutura disciplinar. A estrutura inicial do PCC, de caráter piramidal, garantia o “direito” dos componentes de falar e julgar em favor do partido, mas a decisão final e o poder sempre retornavam às mãos dos fundadores. Nessa divisão interna, havia os que mandavam, os “generais”, e os que obedeciam, os “soldados”. Uma clara divisão do trabalho, uma hierarquia incontestável.

Nesse sistema, o poder se manifestava sem disfarces, sem necessidade de mascarar a realidade. “Soldado”, “general”, os termos deixavam evidente a estrutura rígida e intransigente que governava cada membro, cada decisão, cada ação dentro do Primeiro Comando da Capital.

Lema e Legado: A Batalha Simbólica do PCC

  1. O Primeiro Comando da Capital PCC fundado no ano de 1993, numa luta descomunal e incansável contra a opressão e as injustiças do Campo de concentração “anexo” à Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, tem como tema absoluto a “Liberdade, a Justiça e Paz”.
  2. O partido não admite rivalidades internas, disputa do poder na Liderança do Comando, pois cada integrante do Comando sabe a função que lhe compete de acordo com sua capacidade para exercê-la.
  3. Temos que permanecer unidos e organizados para evitarmos que ocorra novamente um massacre semelhante ou pior ao ocorrido na Casa de Detenção em 02 de outubro de 1992, onde 111 presos foram covardemente assassinados, massacre este que jamais será esquecido na consciência da sociedade brasileira. Porque nós do Comando vamos mudar a prática carcerária, desumana, cheia de injustiças, opressão, torturas, massacres nas prisões.
  4. A prioridade do Comando no montante é pressionar o Governador do Estado à desativar aquele Campo de Concentração “anexo” à Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, de onde surgiu a semente e as raízes do comando, no meio de tantas lutas inglórias e a tantos sofrimentos atrozes.

O lema “Paz, Justiça e Liberdade”, outrora entoado pelo Comando Vermelho, agora ecoava nos corredores do PCC, um emblema de seus ideais e batalhas políticas. As linhas rígidas da unidade e disciplina, delineadas no estatuto inicial, foram forjadas para a preservação da organização, um escudo contra as injustiças, um grito silencioso contra novos massacres como o de 1992 no Carandiru. Eles lutavam por direitos básicos que lhes eram negados, direitos que pareciam evaporar ao cruzar as portas de ferro do sistema prisional.

Disciplina e punição, essas eram as ferramentas que mantinham o equilíbrio delicado do poder entre generais e soldados. Uma estabilidade necessária para evitar divisões dentro da organização. Se os presos não estivessem unidos por uma causa comum, o sistema prisional continuaria a triunfar, a manter seu status quo inabalado.

O décimo quarto artigo carregava um objetivo simbólico, mas ao mesmo tempo, incrivelmente palpável. A desativação da Casa de Custódia de Taubaté era um sonho, quase um mito, para os membros do PCC. Ali, onde tudo começou, onde a fama de ser uma das prisões mais violentas de São Paulo foi cimentada, eles desejavam provocar uma mudança. Expor os crimes de José Pedrosa, libertar as celas da tortura, essa era uma meta que se estendia além do simbólico, era uma meta que precisava ser alcançada.

O Juramento: Centralização e Aliança contra a Opressão do Sistema

  1. Partindo do Comando Central da Capital do QG do Estado, as diretrizes de ações organizadas simultâneas em todos os estabelecimentos penais do Estado, numa guerra sem trégua, sem fronteira, até a vitória final.
  2. O importante de tudo é que ninguém nos deterá nesta luta porque a semente do Comando se espalhou por todos os Sistemas Penitenciários do estado e conseguimos nos estruturar também do lado de fora, com muitos sacrifícios e muitas perdas irreparáveis, mas nos consolidamos à nível estadual e à médio e longo prazo nos consolidaremos à nível nacional.

    Em coligação com o Comando Vermelho – CV iremos revolucionar o país dentro das prisões e nosso braço armado será o Terror “dos Poderosos” opressores e tiranos que usam o Anexo de Taubaté e o Bangu I do Rio de Janeiro como instrumento de vingança da sociedade na fabricação de monstros.

    Conhecemos nossa força e a força de nossos inimigos Poderosos, mas estamos preparados, unidos e um povo unido jamais será vencido.

    LIBERDADE! JUSTIÇA! E PAZ!

    O Quartel General do PCC, Primeiro Comando da Capital, em coligação com Comando Vermelho CV
    UNIDOS VENCEREMOS

As sombras do cimento frio da cela pairavam sobre os homens que se reuniam, seus rostos tensos iluminados apenas pela fraca luz que se infiltrava pelas estreitas janelas. O ar estava espesso, carregado com a importância do que estava prestes a ser discutido. Os últimos dois artigos do estatuto – o coração da sua visão política – estavam em jogo.

A centralização do poder e a aliança com o Comando Vermelho eram questões cruciais, a essência que moldaria a identidade do Primeiro Comando da Capital. A figura do “bandido” estava em processo de evolução, de uma presença individual para um sujeito coletivo, uma nova forma de organização que se espalharia por todo o Brasil na década de 2000.

O PCC, desde o seu início, alimentava a visão de uma frente unida de organizações de presos contra o estado – um inimigo comum. O 17º artigo do estatuto delineou a esperança de uma coligação nacional entre o PCC e o CV, uma fortaleza que se estenderia além das fronteiras de São Paulo e Rio de Janeiro.

A desativação das penitenciárias Bangu I e Piranhão – dois ícones sinistros do sistema carcerário – era mais do que um objetivo prático; era uma declaração simbólica de intento. A mensagem era clara: unidade contra a injustiça, a desigualdade e a opressão.

O estatuto, revolucionário e inovador em sua época, representou uma rejeição coesa e organizada do falido sistema penitenciário. O PCC se tornou conhecido por seus rituais simbólicos, como o “batismo”, um rito de passagem que, apesar das mudanças ao longo dos anos, manteve seu objetivo fundamental: acolher novos membros na irmandade do Primeiro Comando da Capital.

A tensão na sala se dissipou, substituída por uma resolução silenciosa. As palavras finais do estatuto foram escritas, selando o compromisso de luta por paz, justiça e liberdade. Sob a luz fraca, esses homens haviam forjado um novo caminho, uma nova forma de resistência, cujas ondas ressoariam em todo o sistema penitenciário brasileiro.

Iniciação e Juramento: O Batismo no Submundo do PCC

Imagine-se na pele de um novato no Primeiro Comando da Capital, o temido PCC. O processo de admissão, longe de ser algo simples, requer a indicação de um padrinho, um membro já consolidado que lhe avalia e indica para a facção. A sua entrada não é uma questão de oferecer-se, mas sim de ser convidado. Uma vez convidado, a preparação para a entrada começa, sempre sob a vigilância atenta do padrinho.

E nesse universo, a interdependência entre o padrinho e o afilhado é crucial. Seu padrinho assume uma responsabilidade quase paternal por você e, caso cometa algum erro, é ele quem sofrerá as consequências até o final deste sinistro “ritual de passagem”. O laço que os une é reforçado por valores como lealdade, honestidade, confiança e a obrigação de seguir as regras da facção. Se conseguir respeitar estes princípios, você é admitido na organização.

A cerimônia de batismo é uma ocasião de gravidade sombria, onde o padrinho, o afilhado e um terceiro membro se reúnem. O novato deve proferir um juramento de lealdade, comprometendo-se a cumprir o estatuto, assumir responsabilidade e manter uma reputação respeitável no mundo do crime, para assim consolidar sua posição no universo do PCC.

O PCC tem sua própria linguagem, um código criado para reforçar o vínculo entre seus membros. Essa linguagem codificada cria novos laços de interdependência dentro e fora das prisões, e provoca uma profunda transformação do indivíduo durante o processo de batismo. Nessa transformação, um novo vocabulário nasce, um glossário do crime, se preferir, influenciado pela dura realidade do mundo do crime, conforme documentado meticulosamente por Feltran.

Uma vez admitido no PCC, o novato torna-se um “Irmão”. Não importa onde ou como ocorreu o batismo, em São Paulo ou em outra unidade federativa, dentro ou fora das prisões – uma vez batizado, será sempre um irmão. Tal como em qualquer organização, o PCC tinha a sua própria hierarquia no início, com os generais – os fundadores e líderes da organização – no topo, e os soldados – os membros da base que seguem as ordens dos generais – formando a coluna vertebral da facção.

Linguagem Codificada: A Semiótica do Submundo do PCC

Imagine-se agora imerso em um universo onde o vernáculo é tão estranho e específico quanto o ambiente em si. No mundo do PCC, os inimigos de facções rivais são denominados “Coisas”, enquanto os policiais militares, carcereiros ou qualquer outro agente de segurança pública são chamados pejorativamente de “Vermes”. Qualquer intruso que não pertence a este universo é designado como “Zé Povinho”.

Para entender melhor esta classificação peculiar, convém citar uma etnografia sobre o assunto: Segundo o sistema classificatório usado pelos presos, “irmão” é o termo usado para um membro batizado do PCC; “primo” se refere ao preso que vive em prisões do PCC, mas que não é membro batizado; “coisa” é o termo usado para os inimigos, que podem ser tanto presos de outras facções quanto funcionários da segurança pública. Aqueles que não pertencem ao mundo do crime, que não são irmãos, primos ou coisas, recebem a denominação pejorativa de Zé Povinho.

A terminologia estende-se ainda ao espaço territorial dominado pela “família” PCC. Os bairros periféricos são conhecidos como “quebradas”. Qualquer indivíduo, pertença ele ou não ao mundo do crime, reconhece o bairro de origem como “sua quebrada”. Esse local de pertencimento transcende as barreiras do espaço físico, carregando consigo costumes, hábitos, gírias e a nostalgia de suas origens. O indivíduo se orgulha de onde veio, tornando-se uma parte integral de sua identidade.

O glossário do PCC é vasto e pode ser encontrado em uma grande variedade de bibliografias. A semiótica dentro deste universo é vasta e complexa, proporcionando uma significação única que os indivíduos atribuem a determinados significados. Eles reinterpretam diversos procedimentos, normas e comportamentos, criando dialetos dentro do mundo da periferia que são incorporados ao mundo do crime e vice-versa. E assim, um novo mundo linguístico é forjado, tão complexo e fascinante quanto o próprio universo do PCC.

Baseado no trabalho do pesquisador Eduardo Armando Medina Dyna: “As faces da mesma moeda: uma análise sobre as dimensões do Primeiro Comando da Capital (PCC)”

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A fundação do PCC 1533, a facção Primeiro Comando da Capital

Descubra a fundação do PCC 1533 Primeiro Comando da Capital, desde seus primeiros dias até a consolidação da maior facção criminosa do Brasil. Explore a complexidade e os detalhes dessa história significativa.

“Fundação do PCC” não é história pra quem tem coração fraco, é fita pesada, mano. Cola com a gente que vai valer a pena.

O nascimento da facção PCC 1533 não é conto de fadas, é história de resistência, sofrimento e luta. É o som das ruas e das trancas. É o grito dos excluídos.

A história do Primeiro Comando da Capital é sobre os manos e as minas que decidiram não abaixar a cabeça. É sobre a força que nasce na adversidade.

Fudação do PCC segundo o mano Dyna

Então, tamo falando da fundação do Primeiro Comando da Capital, que não nasceu assim, de repente, saca? É um processo complexo, que envolve muito sangue, sofrimento e história.

Mano, cada um tem sua versão de como foi a fundação do PCC. Tipo, cada um vivenciou a parada de um jeito diferente. Então, não dá pra saber qual é a história “verdadeira”, sacou? São visões diferentes do mesmo lance.

Um salve pro Cabelo, ex-Serpentes Negras. Tivemos nossas tretas, mas no final, a gente tava na mesma. Ele sempre tava ligado pra contar como era lá dentro do Carandiru, na época que o PCC tava começando a ferver e quando rolou o massacre de 92. Mas eu dei mole, deixei pra depois. Agora o irmão tá do outro lado, só no meu aguardo.

A fundação do PCC tá ligado diretamente com a Segurança Pública em São Paulo, saca? Não foi um bagulho que apareceu do nada. Foram várias fitas acontecendo, envolvendo os presos e até o governo estadual.

Pra entender melhor a fundação do PCC, temos que abrir a mente e deixar de lado o que a mídia e os conserva tão falando. Tem que ir além do que todo mundo fala por aí, mano.

Então, no fim das contas, o Primeiro Comando da Capital é uma parada complexa, resultado de vários acontecimentos e experiências. Cada história é uma peça do quebra-cabeça pra entender de verdade como foi.

Os 8 fundadores do Primeiro Comando da Capital

A parada começou a ficar séria no “Piranhão”, a Casa de Custódia em Taubaté, depois de um racha no campo de futebol. Tinha o time dos manos do interior, o “comando caipira”, e os da capital.

No início, uns chamavam de Partido da Capital, outros de Partido do Comando da Capital, até que firmaram como Primeiro Comando da Capital. E esse nome, mano, veio pra ficar.

Saca a escalação do time da capital, os 8 fundadores do PCC:

  • Misael Aparecido da Silva (Miza);
  • César Augusto Roriz Silva (Cesinha);
  • José Márcio Felício (Geleião);
  • Wander Eduardo Ferreira (Eduardo Cara Gorda);
  • Antônio Carlos Roberto da Paixão (Paixão);
  • Isaías Moreira do Nascimento (Isaías Esquisito);
  • Ademar dos Santos (Dafé) e
  • Antônio Carlos dos Santos (Bicho Feio)

Notou que o Marcola não tá aí, né não? Depois eu te explico, agora vamo pro jogo.

Rolou uma briga daquelas durante uma partida, dois manos caíram, e o clima pesou. Jozino e Camila contam que Geleião não aliviou pro lado do rival. Quebrou o pescoço do cara e ainda tentou arrancar a cabeça dele.

Depois disso, os manos que estavam começando o PCC se ligaram que iam levar um esculacho da repressão do presídio e decidiram resistir. Fizeram um pacto pra enfrentar a violência que vinha da direção do Piranhão e de onde viesse.

Quem ofender um de nós ofenderá a todos – somos o time do PCC, os fundadores do Primeiro Comando da Capital. Na nossa união ninguém mexe.

Nos primeiros anos, os caras tiveram que decidir quem ia mandar no pedaço. Dessa zoeira toda, quem se destacou foi o mano Geleião, José Márcio Felício. O cara ficou preso uns 40 anos, cercado de muitos inimigos, cercado de muita intriga, mas, veja só, morreu em 2021 num hospital penal em São Paulo. Se vê como o bagulho é sinistro, no fim quem matou ele foi a maldita Covid.

O nono fundador do PCC

Tá achando que o nono fundador do PCC foi o Marcola? Vai nessa. A parada é séria. O Estado, com suas políticas de cadeia, jogou a lenha pra essa fogueira arder, sacou? E quem alimentou esse fogo é o nono fundador.

Pedrosa, que em 1992, tingiu suas mãos com o sangue do terrível massacre do Carandiru, era considerado o nono espectro na macabra galeria de fundadores do comando, além dos oito aprisionados naquela horrenda cela. Este ser, governante da gaiola que se encheu com o sangue de irmãos, alguns inocentes, outros desconhecidos para o mundo do crime, foi o lago onde o ódio, que deu vida ao Primeiro Comando da Capital em 93, saciou a sua sede insaciável.

Pedrosa foi o diretor José Ismael Pedrosa quando dos 111 mortos e foi colocado como diretor da Casa de Custódia de Taubaté pelo governador de São Paulo, Fleury Filho, e estava no comando no dia do jogo de fundação do PCC

No dia do jogo, o Sombra, Idemir Ambrózio, e Marcola, Marcos Willians Herbas Camacho (também conhecido como Playboy), nem desceram pro jogo, ficaram de camarote só no sapatinho, vendo a cena toda. Mas os manos tiveram uma função chave na fita toda nesses primeiros anos, saca?

Os integrantes do Primeiro Comando da Capital, desde o início, perceberam o papel do Estado na formação de sua organização. Segundo Jozino, Sombra chamou o diretor José Pedrosa, como o nono fundador do grupo, além dos oito fundadores.

Sombra e Marcola partiram pro combate, mano, contra qualquer Pedrosa que desse as caras. Os caras disseminaram a ideia do PCC, batizaram os novos manos nas outras jaulas de SP, e traçaram os corres, as táticas, as alianças do Primeiro Comando da Capital.

Depois de um tempo no sufoco, muitos irmãos foram batizados sabendo que deviam combater a opressão do Estado, que para alimentar o ódio e o rancor que infestam o coração de cada ‘cidadão de bem’, oferece como sacrifício aos chacais os desamparados e indefesos, quer estejam nas sombrias ruas da periferia, ou nas gélidas masmorras dos presídios.

Fundação do PCC: nós contra eles

Após um período de punições, os presos, agora identificados como integrantes do PCC, começaram a estruturar sua organização de maneira concreta. É fundamental entender que a fundação do PCC foi uma resposta direta às políticas prisionais e à postura do Estado, marcando o início da maior facção criminosa do Brasil.

Pra marcar território, os manos do PCC criaram uns códigos, tipo o 15-3-3, sacou? Essa parada veio do Alfabeto Congo, usado pela galera do Comando Vermelho do Rio. Esses números são as letras P, C, C do nosso alfabeto, formando a sigla PCC. O Mizael, um dos irmãos, criou um logo com o símbolo Yin Yang, pra mostrar o equilíbrio que eles queriam no comando.

Camisetas e tatoos com os códigos 1533, Yin Yang e a cara do revolucionário Che Guevara eles fizeram, pra deixar claro a ideia do PCC. Essa organização foi a resposta dos irmãos pras condições pesadas da cadeia e as tretas do Estado, mostrando como o próprio sistema teve um papel chave na criação da maior facção do Brasil.

Aquele salve pro pesquisador Eduardo Armando Medina Dyna, que é o responsa por passar essas fitas todas pra mim. Se tiver chance, dá uma conferida nos corres dele, mano, porque é de lá que vem a ideia reta.

Marketing: Análise do Estatuto da Facção PCC 1533 — 7ª parte

O texto explora o Estatuto do PCC, analisando como estratégias de marketing são utilizadas para criar um senso de identidade e propósito, e como a organização responde às adversidades, moldando-se em meio a desigualdades e o sistema prisional.

Marketing: Será que a estratégia de divulgação da marca Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533) ao abrir seu estatuto ao público foi positiva? Uma leitura intrigante e esclarecedora.

Estrutura e Organização: O Marketing da Ordem no Caos

Análisar o Estatuto do PCC, na perspectiva de marketing me pareceu ser importante, pela abrangência, respeito e sucesso obtida pela marca “Primeiro Comando da Capital – Facção PCC 1533“.

O documento, claramente foi não foi criado para o público geral e teve como seu público-alvo:

  1. Irmãos e companheiros do PCC: aos quais o estatuto fornece orientações claras sobre o comportamento esperado, a hierarquia a ser seguida, as responsabilidades de cada membro e as consequências de não cumprir as regras.
  2. Potenciais integrantes: estatuto também serve como um documento de orientação para aqueles que estão considerando ingressar na organização. Define claramente o que se espera dos membros, o compromisso necessário e o sistema de valores do PCC.
  3. Membros de outras facções e organizações: Embora não seja o público-alvo principal, o estatuto também envia uma mensagem para outras facções e organizações sobre a estrutura, as regras e os princípios do PCC.

Solidariedade e Identidade Coletiva: A Construção de um Pertencimento

Para o público a que se destinou, o documento é perfeito, tanto na linguagem utilizada quanto no conteúdo. Aparentemente, a intenção era propagar alguns de seus ideais.

  • Solidariedade e responsabilidade coletiva: O estatuto promove a solidariedade e a responsabilidade coletiva entre os membros do PCC, estabelecendo normas e valores que reforçam a cooperação e a lealdade mútua. Essa ênfase na solidariedade e na responsabilidade coletiva pode ser conectada aos pensamentos do comunitarismo e o marxismo, que defendem a importância das relações sociais e da colaboração na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
  • Ética e moralidade: O estatuto estabelece princípios éticos e morais que devem guiar o comportamento dos membros da organização, como a verdade, a fidelidade, a lealdade e a solidariedade. Esses princípios refletem uma preocupação com a conduta moral e a construção de um sistema de valores alternativo ao sistema prisional e à sociedade em geral. A discussão sobre ética e moralidade no estatuto pode ser relacionada a teorias filosóficas como o deontologismo e o consequencialismo, que buscam fundamentar princípios éticos e morais.
  • Conflito e resistência: O estatuto apresenta uma visão de mundo marcada pelo conflito e pela resistência, posicionando o PCC em uma luta contra a opressão e a injustiça. Essa perspectiva pode ser associada a tradições filosóficas como o materialismo dialético e a teoria crítica, que abordam a dialética entre opressão e resistência e buscam compreender as dinâmicas de poder e dominação na sociedade.

No entanto, em determinado momento, a cúpula da organização criminosa optou por divulgar seu Estatuto ao público externo ao mundo do crime. Diante dessa decisão, surge uma questão: Será que a escolha foi positiva?”

A percepção social derivada da leitura do Estatuto do PCC

Das ruas das periferias aos ambientes acadêmicos, o resultado foi positivo. Apesar do documento cimentar a visão em grupos que já eram radicalmente contra a percepção de qualquer tipo de humanidade entre os criminosos, o Estatuto apresentou a organização como um grupo com finalidades política e social.

Não analiso aqui a correção ou não do papel representativo da facção criminosa, apenas o resultado prático da apresentação do Estatuto como uma jogada de marketing para justificar suas ações dentro e fora dos presídios.

Cabe lembrar também o momento histórico em que a organização foi criada e divulgou seu Estatuto. Estávamos vivendo um período de redemocratização após o fim do Regime Militar, com a aprovação recente da ‘Carta Magna Cidadã’, a Constituição Federal de 1988. A sociedade fervilhava com grandes debates sobre a função social do estado, a violência policial e os direitos humanos.

A organização em busca da Paz, da Justiça e da Liberdade

A repetição de frases como “liberdade, justiça e paz” e “juntos venceremos” no Estatuto do Primeiro Comando da Capital sugere que os autores do documento estavam tentando estabelecer um senso de identidade e propósito compartilhado entre os membros do PCC.

Com o passar do tempo, essa estratégia provou ser extremamente bem-sucedida, com a sigla PJLIU, representando “Paz, Justiça, Liberdade, Igualdade e Unidade“, tornando-se um emblema cobiçado nas comunidades periféricas. Isto é verdade não apenas no universo criminal, mas também entre os jovens das classes média e alta, embora em menor número. Estes indivíduos, apesar de serem poucos, possuem uma influência política e social significativa.

O Estatuto do PCC também revela uma organização que busca estrutura, coesão e identidade coletiva em resposta às condições adversas do sistema prisional e às desigualdades sociais mais amplas. Através do estabelecimento de regras, princípios e objetivos, a facção PCC busca criar um senso de ordem e propósito entre seus membros, enquanto também se posiciona como uma força de resistência contra a opressão e a injustiça.

A Construção de uma Identidade Coletiva: O PCC contra o Mundo

O estatuto do PCC tenta estruturar seus membros. Estabelece regras, princípios e metas. Isso é uma resposta ao caos prisional. A falta de ordem é um problema frequente. A demonstração de organização foi estratégica. Reforçou a imagem da facção perante o público.

O documento cria consciência de classe entre os presos. Identifica-os como vítimas de injustiças. Essa visão incentiva a luta coletiva contra a desumanidade prisional e a desigualdade social. Assim, o estatuto se tornou uma ferramenta de marketing.

O estatuto retrata um conflito contra o Estado e as autoridades prisionais. Isso legitima as ações do PCC, retratando a organização como uma força de resistência. Esse ponto de vista, de resistência contra a opressão, inspirou grupos e criou a imagem da luta de Davi contra Golias.

Também forneceu argumentos para a defesa de uma legitimidade social do grupo. Desta forma, a solidariedade e a lealdade entre os membros cria uma identidade coletiva, um mecanismo de coesão social. Essa identidade fortalece a capacidade dos presos de enfrentar adversidades, o que foi percebido pelo público externo.

O documento faz com que cada criminoso se sinta parte de algo maior. Portanto, este é um exemplo de marketing eficaz, amplificando a ameaça e o poder da organização.

O estatuto de 1997 cita a aliança com o Comando Vermelho, sugerindo uma estratégia de expansão e cooperação. Tais alianças respondem à repressão estatal e ao impulso de reforçar a organização. Porém, essa menção desapareceu no estatuto de 2007. Contudo, em seu início, a então pouco conhecida marca paulista vinculou sua imagem à temida organização criminosa carioca, absorvendo parte do sucesso dessa marca.

A cultura do PCC: O Marketing da Sobrevivência

O documento estabelece valores morais e éticos e desenvolve práticas de respeito a comunidade dentro e fora das muralhas, enfatizando a lealdade de seus integrantes, o que juntamente com a expressa uma cosmovisão que posiciona o PCC como uma força de resistência. O uso de termos como “liberdade”, “justiça” e “paz” transforma a luta do PCC em uma causa simbólica, garantiu um grande resultado midiático.

Portanto, a decisão das lideranças da organização de tornar público o documento teve fatores positivos e que se estendem até hoje, tanto pela construção, mesmo que errônea, de uma estrutura organizada e justa, quanto pelo espaço ganho na mídia.

Análise do Estatuto da facção PCC 1533 – 2ª parte: após 26 anos

Muito tempo se passou desde que, em 1997, o Primeiro Comando da Capital trazia ao conhecimento público seu Estatuto. Afinal, o que podemos afirmar após esses 26 anos?

Análise do Estatuto: O mundo mudou e a facção PCC também? Esta reflexão busca entender como o Primeiro Comando da Capital se adaptou às transformações sociais e tecnológicas desde sua fundação em 1997. Embora a organização tenha alcançado alguns objetivos e abandonado outros, é evidente que, assim como o mundo, a facção PCC também evoluiu ao longo dos anos, enfrentando novos desafios e adaptando-se às mudanças.

Análise do Estatuto: A evolução da facção PCC

Esta análise busca compreender como a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533) se desenvolveu desde sua fundação. Ressaltando que a sociedade e o contexto em que o Estatuto foi criado, em 1997, eram bem diferentes dos dias atuais.

Em 1997, a era digital ainda engatinhava, e o Brasil vivia em um contexto de luta por justiça social e direitos humanos. Já em 2023, a era digital avançou, e a sociedade enfrenta outros desafios. Mas como o PCC se adaptou a essas mudanças?

Duas imagens, duas realidades

Em 1997, o disco dos Racionais MCs “Sobrevivendo no Inferno” foi lançado, retratando a opressão carcerária, e na mesma época, manifestações na Praça dos Três Poderes ocorriam com grupos pedindo mais justiça social. Nesse contexto, o Primeiro Comando da Capital apresentou seu Estatuto, estabelecendo os princípios e objetivos da organização criminosa.

Em 2023, o livro “A Guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil” e as manifestações de grupos “patriotas bolsonaristas” na Praça dos Três Poderes, pedindo a volta do Regime Militar, evidenciam as transformações ocorridas na sociedade e a evolução da facção no mundo do crime.

Análise do Estatuto: o balanço é favorável

O Estatuto de 1997 estabeleceu princípios, objetivos e regras para a organização criminosa. Passados 25 anos, é possível analisar o que foi cumprido ou abandonado pela facção. Em geral, os resultados são favoráveis aos administradores da organização criminosa paulista.

Alguns objetivos alcançados incluem:

  1. Lutar pela liberdade, justiça e paz: O PCC consolidou-se no sistema prisional, influenciando condições carcerárias em algumas regiões. Houve avanços, mas ainda existem muitas regiões de disputa com facções rivais e violência entre integrantes e grupos dentro da própria irmandade.
  2. União na luta contra injustiças e opressão na prisão: O PCC estabeleceu uma rede de apoio entre os presos, porém nem sempre houve melhorias tangíveis ou duradouras nas condições prisionais. No entanto, nos presídios sob seu controle, a morte, o estupro e a extorsão de detentos e seus familiares, tanto por agentes públicos quanto por grupos de presos, foram eliminados.
  3. Contribuição dos membros em liberdade aos irmãos na prisão: Essa proposta foi amplamente alcançada, porém, há críticas internas sobre a distribuição dos recursos entre os membros.
  4. Respeito e solidariedade entre os membros: O PCC conseguiu estabelecer uma forte cultura de lealdade e solidariedade, porém precisa lidar constantemente com conflitos internos, disputas pelo poder e rivalidades entre os criminosos.

O objetivo abandonado

A coligação com o Comando Vermelho (CV) não se manteve, resultando em rivalidades e conflitos, assim como não conseguiu ganhar a hegemonia por concenso. Além disso, o PCC expandiu sua influência, mas não de forma revolucionária, focando-se na expansão de suas atividades criminosas.

Razões da mudança de rumo

Muitos fatores contribuíram para que o PCC não alcançasse todos os seus objetivos. Além das mudanças na sociedade, também houve uma mudança na própria facção.

Se em 1997 os integrantes eram internos e egressos do sistema carcerário que tinham como objetivo a luta por direitos, hoje, os membros do PCC se consideram empresários autônomos e, em sua maioria, evangélicos.

O PCC continua a afirmar que a união e igualdade são seus pilares fundamentais, mas será mesmo? A verdade é que o mundo mudou, e o Primeiro Comando da Capital também precisou se adaptar a essa nova realidade.

Ao longo dos anos, algumas propostas do Estatuto foram abandonadas, enquanto outras permaneceram. Mas, no fim das contas, a facção PCC se mostrou capaz de evoluir e enfrentar os desafios do mundo moderno.

Ismael Pedrosa: A Sombra na Gênese da facção PCC 1533

O papel de José Ismael Pedrosa, diretor da Casa de Custódia de Taubaté, foi fundamental na criação do Primeiro Comando da Capital (PCC). Sua postura violenta e arbitrária, aliada às políticas de Estado, intensificou o sofrimento dos detentos e impulsionou a formação da organização criminosa.

A Casa de Custódia de Taubaté: Um Retrato de Horror

Sob o manto de opressão e violência de Ismael Pedrosa, a Casa de Custódia de Taubaté, conhecida como Piranhão, se tornou o caldeirão fervente onde nasceu o Primeiro Comando da Capital (PCC).

No coração desse cenário tenebroso, uma figura sombria se destacava: José Ismael Pedrosa, o então diretor da instituição.

Ismael Pedrosa, o Espírito da Crueldade

Assombrado por seu passado no massacre do Carandiru, Pedrosa carregava consigo a reputação de impiedoso e temido.

A transferência para Taubaté em 1993 apenas exacerbou a violência, punições e arbitrariedades em seu reinado de terror, alimentando a revolta e o ódio dos detentos.

O Pacto Sombrio: O Surgimento do PCC

Em meio ao caos, oito presos, temendo punições severas após um jogo de futebol violento, selaram um pacto macabro de resistência e solidariedade.

Nascia, então, a facção paulista PCC 1533, uma resposta sinistra às políticas de Estado e às ações sombrias de Pedrosa.

A Dança das Sombras: O Estado e o PCC

A obra de Jozino ilumina o papel das autoridades estatais e da figura de Pedrosa no fenômeno PCC, destacando a relação de causa e efeito entre ambos.

Segundo Débora, esposa de um membro do PCC, seu marido teria afirmado para o diretor:

O PCC foi fundado por nove pessoas. Oito presos e o senhor!

O Legado Macabro de Ismael Pedrosa: O Estatuto da Organização Criminosa PCC

O artigo 14 do Estatuto da Organização Criminosa PCC de 1997 revela a meta sombria de desativar a Casa de Custódia de Taubaté, o local onde o grupo nasceu entre “lutas inglórias e sofrimentos atrózes”.

14. A prioridade do Comando no montante é pressionar o Governador do Estado à desativar aquele Campo de Concentração “anexo” à Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, de onde surgiu a semente e as raízes do Comando, no meio de tantas lutas inglórias e a tantos sofrimentos atrózes.

Estatuto do Primeiro Comando da Capital de 1997

A desativação do local simboliza a libertação dos cárceres da tortura e das mãos de Pedrosa.

Conclusão: O Eco da Escuridão

A história do PCC está entrelaçada à figura sombria de José Ismael Pedrosa, cujas ações e políticas intensificaram o sofrimento dos detentos e impulsionaram a criação da organização criminosa. Como um conto macabro, o legado de Pedrosa ecoa nas sombras da sociedade, lembrando-nos da crueldade humana e das consequências das ações nefastas daqueles que detêm o poder.

texto base desse artigo: A complexidade e o enigma do Primeiro Comando da Capital: uma análise do surgimento sóciohistórico da facção — de Eduardo Armando Medina Dyna (UFPR)

Facção Criminosa Poder Secreto | Trailer Oficial | HBO Max | PCC

O Poder Secreto, trailer oficial, conta como nasceu a filosofia dos mano:
“O crime fortalece o crime”. Essa era a missão daqueles que criaram a maior facção que o Brasil já viu, o Primeiro Comando da Capital, o PCC 1533.

Salve, irmão! Vou tentar resumir esse vídeo aí! Vamo que vamo!

Foi naquele dia 2 de outubro de ’92
Que rolou uma rebelião, o sangue escorreu
Na Casa de Detenção do Carandiru, em Sampa City
Foi um episódio sinistro do sistema carcerário

Depois do banho de sangue, os mano tão ligado
Os líderes sobreviventes foram transferidos
Pra um presídio em Taubaté, o Piranhão
Onde a situação era ainda pior que na prisão

Pra evitar mais massacre, os presos se uniram
E criaram o “Comando da Capital” pro futebol jogar
Mas o esporte era só um meio, mano
De lutar por melhores condições dentro da prisão

Foi daí que nasceu a filosofia dos mano
“O crime fortalece o crime”, essa era a missão
De criar a maior facção que o Brasil já viu
O Primeiro Comando da Capital, o PCC

E assim, irmão, a história se desenrolou
Os mano foram crescendo, a fama aumentou
Mas essa é uma história longa, que ainda vai rolar
O PCC tá aí, forte e pronto pra lutar

Se liga nessa parada que vou te contar Bruno Paes Manso e Camila Nunes Dias vão explicar Tudo que rolou na ascensão do PCC No livro “A Guerra”, irmão, pode crer!

Foi lá que surgiu a máxima “o crime fortalece o crime” Que virou a filosofia dos mano, sem firula, sem creme E assim, a maior facção do país nasceu Com os mano lutando, mano a mano, como sempre foi!

Facção PCC 15.3.3: Volksgeist ou Patologia Social?

Erstes Hauptstadt Kommando, volksgeist: o Primeiro Comando da Capital (Facção PCC 15.3.3) como espírito de um povo oprimido e reprimido.

Facção PCC 15.3.3 como força revolucionária

Publicar que os integrantes da facção PCC 15.3.3 são revolucionários já me mandou à delegacia para prestar depoimento, no entanto é um fato.

O Primeiro Comando da Capital age com violência para conquistar visibilidade e se apresentar como alternativa de opção de poder para uma fração da sociedade.

A omissão do poder público em proteger essa fração da sociedade joga-á nos braços de qualquer um que se mostre capaz de lhe defender.

…o PCC esboça reação transgressora perante o exercício daquilo que classificam como alienação, perversão e aceitação passiva da sociedade, perante os valores estabelecidos a partir do conceito de justiça, face aos aspectos representativos do universo do
crime.

Alvaro de Souza Vieira e Renato Pires Moreira

Com esse espírito revolucionário, os Crias do 15 se empoderam e enfrentam a sociedade constituída com apoio de grupos marginalizados: criminosos ou não.

Os corpos aprisionados nos cárceres transformaram as prisões em um espaço “vivo” dotado de um “espírito próprio” e esse espectro dominou corpos sociais nas periferias.

Transpondo para o fenômeno PCC o conceito de “cidade dentro das Cidades” de Robert Ezra Park posso afirmar que os Crias do 15 são revolucionários.

Essa fração raivosa da sociedade assume para si a perspectiva da promoção de melhores condições, normas e critérios dentro de hábitos, costumes e práticas comuns da parcela da sociedade a qual pertencem, sejam prisões ou periferias das cidades.

Facção PCC 15.3.3 como uma força interior silenciosa

Volksgeist: o espírito do povo como um ser vivo marcado por forças interiores silenciosas com consciência que é mantida permanentemente sufocada e controlada para não se rebelar.

Em alguns momentos na história esse espírito do povo salta depois de aguentar por muito tempo viver com brasa aos seus pés.

Em maio de 2006 assistimos esse raro fenômeno.

Os ataques da facção PCC obrigaram a sociedade parar e ouvir. A ação, criticada pela sociedade constituída, mas com forte apoio de grupos marginalizados.

Carta para o mundo do crime do país

A facção PCC 15.3.3 não é uma força interior silenciosa

Vai pensando que Primeiro Comando da Capital adormece em sua cidade.

Não, os Crias do 15 não adormecem, são homens e mulheres perseguidos por homens e mulheres, à espera do momento de mudar a sociedade.

Desprezados fora da comunidade, para sobreviver se uniram aos gaviões, aos falcões, e aos seres selvagens que lhe deram acolhida.

Venham olhar de perto e de dentro, venha sentir o sangue pulsando, os dentes rangendo, e os barulho dos tiros nos cárceres e nas periferias.

Definitivamente não há nada de silencioso em sua cidade, mas você não quer ouvir e para que não ouçam o som da mídia badra alto.

Cartilha de Conscientização da Família PCC 1533

para não ver Olhe para fora e para longe

Só ignorando a realidade é possível ignorar a influência da organização criminosa PCC 1533 na construção histórica de sua cidade.

Hoje a urbanidade das grandes cidades levam em consideração as alterações sociais que os ataques do PCC incorporaram no modo como as pessoas se relacionam.

Há quem não tem consciência disso são os que, segundo Étienne de La Boétie em seu Discurso da Servidão Voluntária, se alimentam, se protegem e pastam bovinamente.

Facção PCC 15.3.3 como uma comunidade que se opõe à sociedade

A oposição de uma comunidade se opondo à sociedade é um conceito descrito por Émile Durkheim, Ferdinand Tönnies, Georg Simmel e Max Weber.

Mas foi Tönnies quem melhor descreveu as características de uma comunidade: laços de sangue, relações primárias, consenso entre seus membros, e rígido controle social.

Não há melhor forma de descrever o PCC — será Tönnies leu o Estatuto do Primeiro Comando da Capital, quando ele escreveu “laços de sangue”?

Mas no tempo de Tönnies esse termo tinha um entendimento diferente do que temos hoje.

Facção PCC 15.3.3 um grupo de “communitas”

Max Weber lembra que as cidades ocidentais se formaram da mesma intenção que os fundadores do Primeiro Comando da Capital tiveram para criar a facção:

… uma forma dos excluídos amotinados moradores dos burgos medievais fazerem frente ao poder do príncipe ou do bispo formando irmandades (communitas).

A base desses amotinados seria o interesse mútuo de proteção e eram garantidos por um juramento (conjuratio), ou no caso da facção PCC, o batismo feito para que um integrante se torne “irmão”.

A psicóloga Silvia Ramos garante que a possibilidade da facção manter a ordem é superior ao do Estado de Direito, pois ninguém duvida de sua capacidade de ação.

A força da facção é uma característica típica das comunidades em contraposição com a da sociedade, essa última sim um um ser vivo marcado por forças silenciosas.

Facção PCC 15.3.3 unindo os que fogem da opressão

Os camponeses que fugiram da miséria e se juntaram nas cidades medievais no século 9.

Escravos libertos e exilados europeus empobrecidos que fugiram da miséria se juntaram nas favelas e nas periferias dos centros urbanos no início do século 18.

Seja nos séculos 9, 18 ou 21, essas pessoas empobrecidas eram consideradas “patologias sociais”.

Foram combatidos e mortos como pessoas preguiçosas e criminosas, mas foram eles que enterraram a Idade Média e forjaram a Era Industrial.

O Primeiro Comando da Capital assim como eles é tido como uma patologia social, e talvez o seja, mas não é o que pensa Durkheim.

Émile Durkheim, no entanto, afirma que não há como saber quando uma sociedade está no ponto de ruptura e quais serão os atores dessa mudança.

Sendo assim, ainda não podemos cravar se a facção PCC 1533 é uma relação social de ruptura ou patologia social, pois estamos cegos pela proximidade.

E vamos considerar os Crias do 15 heróis, criminosos dependendo dos interesses da classe social, das condições de vida e comunidade a qual pertencemos.

Texto publicado originalmente em 16 de agosto de 2016.

Facção PCC 1533: mecanismo de criação do crime organizado

Um grupo do crime organizado não nasce com propósito criminoso. Pode parecer incrível, mas o Primeiro Comando da Capital está aí para provar essa teoria.

Crime Organizado: que mecanismo o gera?

O Primeiro Comando da Capital (PCC 15.3.3) não foi sonhado e criado para ser uma organização do crime organizado.

Tudo começou no cárcere em 1992 com o fato mais bárbaro, cruel, e covarde: o massacre de 111 detentos no Carandiru, por Policiais Militares…

Cartilha do PCC – Conscientização, união e família

No entanto, o sonho de uns virou o pesadelo de muitos em três continentes, mas a culpa não pode ser atribuída aos sonhadores.

O sonho presente na criação do PCC também é o seu maior pesadelo: enfrentar o sistema carcerário que, quanto mais duro, mais forte o torna.

Sistema Penal X Sistema Prisional — Razão X Emoção

Se alguma dúvida restava quanto a esse ponto, tive certeza ainda mais quando li o artigo de Alvaro de Souza Vieira e Renato Pires Moreira.

Pois é o que os dois policiais e pesquisadores mineiros dão a entender em artigo publicado na Revista Científica de Segurança Pública da PM-RN:

Análise de inteligência: das ações ideológicas disciplinares e correcionais promovidas pelo Primeiro Comando da Capital.

… não se pode precisar sobre a origem das instituições criminosas. Todavia, algumas organizações surgiram da necessidade das pessoas em se reunir, não objetivando – ordinariamente – a prática de crimes, e sim, como tática para o combate de possíveis desigualdades sociais vigentes, em tese, pactuadas pelo Estado.

Alvaro de Souza Vieira e Renato Pires Moreira

Mas os pesquisadores não se referiram à atuação da Polícia Militar de São Paulo, que com sua ação no Carandiru gerou a facção PCC.

Apesar dos policiais militares negarem a paternidade do Primeiro Comando da Capital, três acadêmicos afirmam que eles são os pais da criança.

PCC um filho indesejado da PM-SP

Tão pouco a direção da Casa de Custódia de Taubaté quando autorizou o jogo de futebol entre os presos que gerou a facção PCC 1533.

… Rato foi morto por Cesinha: a primeira semente jogada ao solo fértil utilizando o método que seria imortalizado na fundação oficial da facção criminosa.

O neoliberalismo e a facção PCC 1533

Na realidade, se refere aos fundadores do Partido do Crime da Capital (PCC), que desceram para campo naquela tarde de chuva em 1991, no Piranhão.

Aqueles oito presos entraram em campo capitaneados por José Márcio Felício, o Geleião, para defender o time da Capital contra o time do Partido Caipira.

Sob fortes provocações mútuas, tais como “Eu vou beber teu sangue”, a rixa inicial degenerou em um briga sangrenta na qual cabeças rolaram (literalmente).

Afinal, quanto mais sangrento, o simbolísmo da ruptura passa a ser mais marcante e duradouro.

Organização criminosa PCC: uma parto difícil

Como afirmaram Álvaro e Renato, aqueles homens não começaram aquele dia o mais poderoso grupo do crime organizado sul-americano com o objetivo criminoso.

Chegaram para aquele jogo após uma série de crimes cometidos pelo Estado e seus representantes e, naquele dia, com a conivência da direção do Piranhão.

… e saíram dos presídios passando a aplicar fora das muralhas o que aprenderam lá dentro:

“sozinhos somos fortes, unidos somos invencíveis”, “todos contra um”, e “até a última gota de sangue”.

Tudo para defender os irmãos contra a opressão do Estado.

Pesquisa sobre o Primeiro Comando da Capital

Crime organizado uma como soma de erros

A direção imaginou que os “Caipiras” eliminariam os remanescentes do Massacre do Carandiru, sepultando de vez os rebeldes que buscavam melhoria nas condições carcerárias.

… já atuando como advogado foi possível constatar in loco, a situação de calamidade por que passam as instalações e condições carcerárias do sistema penal.

O PCC como fruto das condições carcerárias.

Deu errado. A Polícia Militar de São Paulo, a diretoria do presídio, e aqueles oito presos não pretendiam, mas criaram o Primeiro Comando da Capital.

Afinal, se Georges Balandier teorizou, foi o octógono de Geleião que tornou real as imagens, as construções simbólicas e as narrativas míticas da facção PCC.

Tudo começou naquele jogo, mas os elementos construtivos da dominação foram se agregando: a sua fundação, o batismo e as execuções de inimigos e traidores.

A História lentamente se desenrola diante de nossos olhos. Precisamos apenas olhar e compreender de onde vêm e para onde vai e que mecanismo move.

A imprensa e os ataques do PCC em 2006

A imprensa sensacionalista apoiando a chacina policial daqueles que se assemelham com o estereótipo do criminoso.

Resenha: “Fronteiras de Tensão: política e violência nas periferias de São Paulo” de Gabriel de Santis Feltran

Gabriel Feltran, no meio de uma pesquisa de campo em comunidades da periferia paulistana, em 2006, acompanhou um evento dramático: os ataques da organização criminosa Primeiro Comando da Capital às forças policiais e a prédios públicos.

A ação do PCC seria uma retaliação a uma série de ataques para extermínio de integrantes da facção e o sequestro do sobrinho de Marcola por um policial civil. O saldo oficial do levante foram 564 mortos: 505 civis e 59 agentes públicos.

O pesquisador acompanhou “de perto” as reações das pessoas de Sapopemba, e também “de longe”, via noticiários. Segundo Feltran, a repercussão do evento amplificou a “fala do crime”: a imprensa, sobretudo a sensacionalista, deu subsídios para que a “vingança” contra os “bandidos” fosse consumada. Embora inseridos formalmente num regime político fundado sobre a universalidade dos direitos, processa-se uma disputa simbólica em que o direito universal para “bandidos” seria uma afronta à própria democracia.

Sob fontes acessadas em sua etnografia, o autor revela que a repressão policial após os “ataques do PCC” se voltou para todos aqueles que se “parecem” com “bandidos”.

“Morrem, nesse contexto, não necessariamente quem cometeu os crimes, mas quem tem a mesma idade e cor de pele, que usam as mesmas roupas ou os mesmos acessórios daqueles identificados publicamente como criminosos, ou seja, os jovens das periferias urbanas”.

Gabriel Feltran

Nestas “fronteiras de tensão”, não apenas os jovens “do crime”, mas, de forma geral, os jovens das periferias sofrem por parte das instituições públicas um estranhamento de seus rostos e corpos, de seus modos de comportamento, bem como de seus discursos.

Embora a maioria dos jovens busque as alternativas fugazes no mercado de trabalho lícito, e não as atividades ilícitas, a invisibilidade pública facilita a violência contra eles. Nesse contexto, a repressão, o encarceramento e o extermínio dos “bandidos” muitas vezes atingem quem é visto como semelhante.


Trechos da resenha de Paulo Artur Malvasi sobre o livro “Fronteiras de Tensão: política e violência nas periferias de São Paulo” de Gabriel de Santis Feltran.

LEIA ARTIGO INTEGRAL NA REVISTA DOS DISCENTES DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

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