O narcomercado africano e a facção PCC

A importância do Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533) no tráfico de drogas do continente africano?

Artigo original de Alessandro Ford para o site InSight Crime: Cocaine Trade Grows in East and Southern Africalivre tradução

Comércio de cocaína cresce na África Oriental e Meridional

De acordo com pesquisas recentes, à medida que os mercados globais de cocaína se expandem, remessas de drogas muito maiores estão chegando aos países da África Oriental e Meridional do que se acreditava anteriormente.

A Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional (GI-TOC) aponta que investigações de mercados de drogas em 16 países encontraram níveis consideráveis ​​de consumo local, além de fluxos crescentes de tráfico para a Europa e a Austrália.

As cargas viajam principalmente em contêineres marítimos saindo do porto de Santos no Brasil, embora também haja um fluxo constante de pessoas levando consigo quantidades menores através do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. A maior parte dessas cargas desembarca em países costeiros como África do Sul, Moçambique, Quênia e Tanzânia, para serem posteriormente traficadas para outros continentes, ou mesmo para o interior da África.

Como resultado de tudo isso, tem havido um próspero comércio de drogas cuja verdadeira magnitude é desconhecida devido à fraca capacidade de interceptação. Os corredores de tráfico mais famosos do continente estão no oeste e no Norte da África, mas como eles têm maior capacidade de monitoramento – por exemplo, os porta-aviões navais franceses que patrulham o Golfo da Guiné – é difícil fazer comparações com base apenas nos dados de apreensão.

Abaixo, o InSight Crime apresenta três fatos importantes sobre o progresso da cocaína na África Oriental e Meridional.

Preços de varejo da cocaína em toda a região. Cortesia de Jason Eligh e do GI-TOC

Corredores de tráfico de grande escala

Os traficantes de cocaína enviam regularmente grandes remessas para vários países da região. Isso ocorre de três formas: em contêineres, em embarcações marítimas, como barcos de pesca, e por meio de esquemas de narcotráfico da América Latina.

A investigação identificou vários portos receptores principais, como Durban na África do Sul, Pemba e Nacala em Moçambique, Dar es Salaam e Zanzibar na Tanzânia, Mombaça no Quênia e Walvis Bay na Namíbia.

Por outro lado, observa o relatório, os navios desembarcaram ou deixam drogas “ao longo das costas leste e oeste da África do Sul, na costa norte de Moçambique entre Angoche e Pemba, nas águas costeiras de Zanzibar e Madagascar, na costa queniana de Kilifi a Lamu e as águas costeiras da área marítima da Somália-Quênia“.

Os esquemas de microtráfico são os mais diversos, tanto em termos de método de contrabando como de destino. Essas cargas, geralmente com menos de 5 quilos, podem viajar por correio, ser transportadas por mensageiros humanos em voos comerciais ou em bagagens abandonadas que são recolhidas por funcionários cúmplices nos aeroportos.

As taxas de interceptação são muito baixas e os mensageiros humanos viajam facilmente pela região. Abundantes conexões significam que o Aeroporto de Bole em Adis Abeba, Etiópia, e o Aeroporto Internacional Oliver Tambo em Joanesburgo, África do Sul, são os principais pontos de conexão para a Europa, Oriente Médio e Ásia.

Os traficantes de drogas da Nigéria há muito dominam os fluxos marítimos e aéreos desde que estabeleceram postos avançados de navegação em São Paulo, Brasil, no final dos anos 2000. Em 2013, eles já organizaram até 30% das exportações de cocaína por navio ou contêineres do porto de Santos , segundo relatório publicado naquele ano pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).

o porto de Santos, Brasil

Mais recentemente, em dezembro deste ano, a polícia prendeu um suposto traficante de cocaína nigeriano em São Paulo. Ele era acusado de embarcar cinco toneladas de cocaína, em outubro de 2021, do porto do Rio de Janeiro para a Europa via Moçambique. Além deste caso, no entanto, acredita-se que os atores nigerianos tenham perdido terreno, diz Jason Eligh, autor do relatório e especialista ligado ao GI-TOC.

Eles desempenham um certo papel, particularmente em termos de distribuição regional de cocaína no Leste e Sul da África. O que não se sabe é o tamanho desse papel hoje, em comparação com uma década atrás, por exemplo.

disse Eligh ao InSight Crime

A chegada do PCC, a organização criminosa brasileira

A ascensão meteórica de outro grupo pode ter sido a causa do deslocamento dos nigerianos: o Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533), a maior quadrilha carcerária do Brasil. Desde meados da década de 2010, o PCC com sede em São Paulo dominou o tráfico de drogas do Brasil para a Europa, transformando o porto de Santos em um centro global de comércio de cocaína.

Além disso, o grupo começou a enviar volumes crescentes de drogas para a costa atlântica da África nos últimos anos, a fim de diversificar o trânsito para a Europa e estabelecer novos mercados na África e na Ásia. As ligações linguísticas, históricas e de transporte fizeram de Moçambique uma rota importante, especialmente devido à sua proximidade com a África do Sul, o principal centro de distribuição de cocaína da região.

O país se tornou um nó de trânsito regional para os carregamentos de cocaína da quadrilha do porto de Santos tanto para o mercado regional, principalmente a África do Sul, quanto para a Europa e outras áreas.

afirma o relatório da UNODC
a costa de Moçambique

Uma mistura de vários fatores, como a presença de funcionários locais flexíveis, pouco desenvolvimento de infraestrutura, conexões multimodais de transporte para mercados europeus, uma língua comum e o hábito de fechar os olhos para o movimento de mercadorias ilícitas, como heroína, fez de Moçambique a escolha natural como caminho viável para sua rota de distribuição de cocaína.

conclui o documento da UNODC

Em 2020, o narcotraficante brasileiro Gilberto Aparecido dos Santos, vulgo “Fuminho”, que permanecia foragido das autoridades internacionais, foi preso junto com dois comparsas nigerianos na capital moçambicana, Maputo, onde estaria organizando tráfico de drogas para o Primeiro Comando da Capital. A imprensa brasileira destacou então que ele já havia feito negócios em vários países vizinhos.

Depois disso, não houve mais prisões de integrantes do PCC na região. No entanto, é provável que o grupo continue a rumar para a África Meridional no futuro. A única dúvida é se vai enviar membros da facção “batizados”, como Fuminho, para organizar os embarques, como alegadamente está a fazer em Portugal, ou se vai recorrer a intermediários externos.

Consumo surpreendentemente alto

Uma das principais conclusões do relatório é que os mercados de cocaína na África Oriental e Meridional estão muito mais desenvolvidos do que o esperado. Tanto a droga em pó quanto o crack estão amplamente disponíveis em toda a região, e estima-se que o uso seja surpreendentemente alto em vários países.

Por exemplo, de acordo com uma estimativa, os 60 milhões de habitantes da África do Sul podem consumir até 19 toneladas de cocaína por ano. Em uma base per capita, isso é comparável à Austrália, um dos maiores consumidores de cocaína do mundo, cujos 25 milhões de pessoas consumiram cerca de 5,6 toneladas de cocaína entre 2019 e 2020, de acordo com o último Relatório de Dados sobre Drogas Ilícitas do país.

Além disso, a pureza também é relativamente alta. O número mais recente do UNODC, em 2017, coloca a pureza média de um grama de cocaína em pó na África do Sul em 55%, em comparação com 60% no Reino Unido no mesmo ano, o maior consumidor de cocaína da Europa.

Divisão de três gramas de cocaína em pó em uma cidade costeira do Quênia. Cortesia de Jason Eligh

E a renda é abundante. Em dezembro de 2022, um quilo de cocaína em pó estava sendo vendido no atacado na África do Sul por algo entre US$ 26.000 e US$ 29.000, diz Jason Eligh. Isso é um pouco menos do valor comercializado em algumas áreas da Europa Ocidental. Da mesma forma, o relatório estima que o preço médio de varejo por grama foi de US$ 38 na África do Sul em 2021, o que, embora baixo para a Europa, ainda é muito bom.

O mercado também não se limita à África do Sul. Seus vizinhos, Essuatíni (antiga Suazilândia) e Lesoto, consomem uma quantidade impressionante per capita; de sua parte, Malawi supostamente tem oito vezes mais usuários de cocaína do que usuários de heroína. O crack é amplamente usado na Zâmbia, e o comércio de cocaína no Quênia é lucrativo o suficiente para causar uma competição violenta entre os traficantes.

Em resumo, a pesquisa indica que a região não deve mais ser considerada periférica em relação ao comércio global de cocaína. (…) É um importante ponto de destino para o mercado.”

diz Jason Eligh

Autor: Ricard Wagner Rizzi

O problema do mundo online, porém, é que aqui, assim como ninguém sabe que você é um cachorro, não dá para sacar se a pessoa do outro lado é do PCC. Na rede, quase nada do que parece, é. Uma senhorinha indefesa pode ser combatente de scammers; seu fã no Facebook pode ser um robô; e, como é o caso da página em questão, um aparente editor de site de facção pode se tratar de Rícard Wagner Rizzi... (site motherboard.vice.com)

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