Prostituição na Amazônia, a facção PCC 1533 e uma sobrevivente

Mergulhe na complexa realidade da Prostituição na Amazônia, onde exploramos as histórias ocultas de exploração do Primeiro Comando da Capital.

Prostituição na Amazônia revela um cenário sórdido e desesperançado. A vida ali é marcada por exploração, pobreza e violência, envolta num nevoeiro de invisibilidade social. Detalhes chocantes são narrados por mulheres que, frequentemente, são as únicas testemunhas dessas realidades ocultas.

No coração desse submundo, a presença perturbadora do Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533) é um indicativo da complexidade e profundidade do problema. Sua interferência na região é parte crucial dessa história, uma peça inquietante num quebra-cabeça de desumanização.

Convidamos você, leitor, a mergulhar conosco nesse relato. Comente suas impressões no nosso site, em nosso grupo de leitores, ou diretamente conosco, em mensagem privada. A sua participação é fundamental para iluminarmos essa realidade.

Prostituição na Amazônia: sobrevivência na selva

Em meio à vasta selva da Amazônia, onde a natureza se revela em todo o seu esplendor e brutalidade, aninha-se uma realidade selvagem e desumana, onde a inocência é vendida ao preço da sobrevivência: a prostituição. E uma das mãos que manipulam os fios desta obscena marionete é uma organização tão impiedosa quanto eficaz – o Primeiro Comando da Capital.

A trama começa com uma sombra que se move silenciosamente nos bastidores da economia subterrânea, estendendo seus tentáculos criminosos para além do tráfico de drogas, atingindo o submundo da exploração sexual. A prostituição na Amazônia tem sido o campo de colheita mais recente para o PCC, uma área onde o vulnerável se torna presa fácil.

As cidades situadas ao longo do rio Amazonas, com suas luzes cintilantes refletindo na água escura como olhos de gato na noite, proporcionam o cenário ideal para um romance policial. No entanto, ao contrário dos filmes americanos, não existe aqui um detetive brilhante nem uma força policial eficaz para solucionar o mistério. Aqui, os autores dos crimes são conhecidos e as vítimas, juntamente com o seu sofrimento, estão expostas a todos.

Projetos de infraestrutura que não levam em conta o meio ambiente trazem homens de todas as partes do Brasil e até de outros países para a região amazônica. A facção PCC, vê nessa movimentação uma chance de expandir seus negócios. A pobreza e a falta de oportunidades tornam-se as ferramentas de recrutamento, transformando as mulheres locais em mercadorias.

A exploração sexual e as organizações criminosas

A exploração da prostituição na Amazônia pelas organizações criminosas, entre elas o Primeiro Comando da Capital não é apenas um drama criminal, mas também uma tragédia humana, onde cada vítima tem sua própria história, cada uma carregando um fardo de dor que ultrapassa os limites do tolerável e onde cada algoz também tem sua história.

Essa realidade se torna ainda mais cruel quando percebemos que muitos que outrora foram vítimas acabam por se tornar algozes. A batalha para reverter essa situação parece um desafio esmagador. A solução não se encontrará somente nas leis ou na repressão policial, mas também na mobilização social, no entendimento do mecanismo dos interesses humanos e na criação de oportunidades para aqueles que, no momento, possuem escassas.

Em meio a esta trama densa e sombria, as organizações de direitos humanos e a sociedade civil têm um papel importante a desempenhar. No entanto é importante ressaltar que a exploração sexual pelo crime organizado é algo tão antigo quanto a civilização humana, e apesar de não ser de meu conhecimento quando o Primeiro Comando da Capital começou nesse negócio, posso arriscar que se deu com a incorporação nas operações da facção de grupos que já atuavam até mesmo antes da existência das facções criminosas no Brasil.

Minha experiência com a prostituição

Desde a distante época de 1982, minha rota me levou a muitos prostíbulos, cada um com suas luzes ofuscantes e sussurros secretos, antes mesmo de a facção criminosa assombrar as esquinas. Alguns deles persistem, não apenas no pulsar contínuo da capital paulista, mas também na quietude do interior. Hoje, porém, as sombras do PCC se infiltraram em cada um deles, deixando a sua marca indelével.

Recordo-me de uma ocasião em particular, em Sorocaba. Ao lado de um integrante da facção, testemunhei a negociação para a compra de um prostíbulo. Sua postura e olhar determinado eram impenetráveis. Até hoje, me pergunto se a motivação por trás daquela decisão foi puramente econômica, ou se o que realmente estava em jogo era uma demonstração crua de masculinidade e poder. Naquele momento, vi refletido em seus olhos o mesmo brilho sombrio que encontrei em tantos outros ao longo desses anos: o anseio por controle, o desejo de domínio.

Porém, a sombra da facção não era a única presente naqueles locais. Também conheci jovens mulheres, algumas praticamente meninas, que se entregavam a homens por quem não sentiam a menor afeição. Trocavam carícias falsas por dinheiro real, garantindo assim a sobrevivência, não apenas delas, mas também de seus filhos inocentes. Algumas, porém, se submetiam a essa vida sombria, não para alimentar os pequenos corpos que dependiam delas, mas para alimentar seus próprios vícios insaciáveis – álcool, drogas, as maldições modernas.

Entre as vítimas, 62% são mulheres e 23% são meninas, e em torno de 80% das vezes o objetivo é explorá-las sexualmente.

El País: Pelos ‘prostibares’ da Amazônia, como funcionam as redes de prostituição na selva

Depoimento de um leitor do site

Entre as vozes que ecoam nos corredores dessas casas, está Mclovin, um leitor fiel deste relato. Ele me presenteou com um testemunho, um fragmento da realidade que ele viveu…

Eu tenho uma amiga no Pará que tá nesse corre. Ela já foi presa e tudo, mas as coisas estão feias por lá e ela não tá tendo oportunidade de ganhar dinheiro, aí o caminho é a prostiuição. Essa amiga ela passou por isso.

Foi presa, aí solta mas hoje está de preventiva, é mãe solteira e como não encontra oportunidade no crime por ser mulher e a região está em guerra, ela decidiu se prostituir pois nem emprego normal consegue.

Recebeu um convite de melhoria para se prostituir no garimpo, embora ela seja explorada e passe por condições desumanas, ainda assim ela prefere está lá pois tem o que comer e dá para seu filho.

Na voz quem viveu na pele a prostituição na Amazônia

Na reportagem do site Sumaúma – Jornal do Centro do Mundo, uma conversa com uma dessas mulheres que compõem essa teia de prostituição é apresentada ao leitor. A jornalista Marcela Ulhoa, versada em Resposta Humanitária, migração, questões de gênero e populações indígenas, nos guia através da história de vida de Patri. Uma mulher cujo nome é mascarado para proteger sua identidade, mas cuja existência é tão real quanto a nossa, ainda que viva uma realidade que nenhum de nós pode verdadeiramente compreender.

A seguir um resumo do texto do artigo do site Sumaúma, para ler a reportagem completa com as fotos clique no link!

No coração da floresta amazônica, a sobrevivência tem suas próprias regras. Encontramo-nos com a história de Patri, uma venezuelana que buscou nos garimpos brasileiros a promessa de uma vida mais próspera. Deixando seu filho para trás, ela penetrou em um mundo regido pela busca insaciável de lucro, onde a vida humana torna-se uma moeda e o PCC, uma facção criminosa de renome, exerce um poder ameaçador.

Dentro da paisagem inóspita, Patri se agarra a um fio de esperança: um caderno de capa azul. As páginas do caderno absorvem suas experiências no garimpo, narrando casos de abuso, exploração e violência. O garimpo, um barril de pólvora onde a cobiça e o perigo fervem, se tornou seu novo lar – um lugar onde a vida balança perigosamente entre a sobrevivência e a brutalidade.

Iludida pela promessa de um Eldorado, uma terra repleta de oportunidades, Patri se aventurou na direção de Homoxi e Xitei, na Terra Indígena Yanomami. Levava consigo uma fé ingênua e uma esperança cintilante no brilho do ouro. No entanto, o Eldorado que ela encontrou era uma amarga caricatura do que ela havia sonhado.

O ouro e a prostituição na Amazônia

Na luta pelo ouro na densa selva da Amazônia, existe uma realidade sórdida que muitos escolhem ignorar: a prostituição na Amazônia. A história que se desenrola a seguir mergulha nos detalhes sombrios da experiência de uma trabalhadora sexual em um garimpo, onde a realidade é cruel, perigosa e vivida à margem da sociedade.

A descoberta de ouro na região desencadeou uma corrida frenética que atraiu indivíduos de todos os cantos, cada um ansiando por um pedaço do tesouro escondido na floresta. Mas com a riqueza, veio a exploração. Nesse cenário, surgiram os cabarés – lugares onde se vende sexo aos trabalhadores exaustos e desesperados, entre outras mercadorias.

Com o passar do tempo, Patri colecionou cerca de 25 gramas de ouro, o que equivalia a aproximadamente 5.000 reais. Não era o Eldorado que ela havia sonhado, mas era uma recompensa pelo sacrifício que havia feito. Ela retornou de sua odisséia ao garimpo carregando consigo um relato marcante de sobrevivência e coragem.

A saga de Patri ressoa como um aviso, uma visão indomada da realidade encarada por tantas mulheres em situações análogas. Sua luta é um testemunho da tenacidade do espírito humano, uma prova de que a esperança e a dignidade podem perseverar até nas condições mais desumanas. Ela sonha com o dia em que suas memórias serão impressas, tornando-se uma luz guia para outras mulheres que atravessam adversidades semelhantes.

Neste idílico povoado as alunas do Internato Indígena de San Francisco de Loretoyaco são o alvo de muitos olhares de desejo. Homens bem mais velhos que elas as seduzem na saída do colégio…

El País: Pelos ‘prostibares’ da Amazônia, como funcionam as redes de prostituição na selva

a realidade brutal registrada dia à dia

A saga de Patri é um testemunho sombrio da crueldade humana, mas também de uma resiliência surpreendente. Suas lembranças, meticulosamente gravadas nas páginas de um caderno azul, clamam por nossa atenção e ação. A resolução desta história está por ser decidida e, certamente, depende do envolvimento de todos nós. O grito silencioso de Patri, ecoando na selva, serve como lembrete perene do valor da vida humana, mesmo quando ofuscado pelo brilho do ouro.

Patri nos conduz através de sua experiência no garimpo com um realismo que roça o brutal. Ao desembarcar naquele ambiente, ela percebeu rapidamente que sua autonomia estava à mercê da proprietária do cabaré, uma mulher que controlava desde os clientes até a comida. Esta mulher decidia os parceiros de Patri, a remuneração por cada encontro e até mesmo o tempo que cada um duraria.

A trabalhar na sala do cabaré, Patri estudava a dinâmica entre as trabalhadoras sexuais e seus clientes. Notou que um “contrato” mais longo, onde a mulher coabitava e servia a um homem por um período determinado, geralmente implicava mais do que a simples troca de favores sexuais. Esperava-se que essas mulheres cozinhassem, lavassem roupa e garantissem exclusividade.

A prostituição nos fuscons

Patri também detalha o “fuscon”, a denominação dada ao local onde ocorriam os programas. Ela conjectura que o termo possa ter origens na língua indígena local. Estes “fuscones” eram recintos pequenos, improvisados com troncos e lona. Ocasionalmente, as trabalhadoras recebiam uma cama, mas, em outros momentos, apenas uma rede lhes servia de leito.

A realidade inóspita do garimpo se estendia muito além do trabalho sexual. As condições de higiene eram desastrosas, os alimentos exorbitantes e havia uma cultura arraigada de consumo excessivo de álcool e de tiroteios casuais. Para acessar a internet, as mulheres eram forçadas a pagar taxas exorbitantes. Patri também fez questão de relatar a onipresença de drogas, armas de fogo, munições, ouro e gasolina no garimpo.

A discriminação sofrida pelas trabalhadoras sexuais venezuelanas se manifestava intensamente. Patri, sendo uma delas, estava frequentemente à mercê de comentários depreciativos, sendo rotulada de forma depreciativa como “mira”.

Refletindo sobre sua experiência, Patri revela um pesar profundo pelas decisões que a levaram ao garimpo. Ela detalha como as condições árduas de trabalho e de vida corroeram sua saúde mental e física. Comenta o medo persistente da violência e a pressão constante para manter um semblante de dignidade. A dinâmica de poder no garimpo, em sua visão, assemelhava-se à do tráfico de pessoas, uma comparação que ecoa com contundência em suas palavras.

A quem recorrer nesse mundo?

O relato de Patri lança uma luz impiedosa sobre as cruéis realidades de uma vida no garimpo, marcadas pela exploração, pela precariedade e por uma distribuição de poder grotescamente desequilibrada. Ela não poupa críticas ao sistema que perpetua essas condições, nutrindo a esperança de que sua história possa agir como um catalisador para uma mudança necessária.

Certo dia, um cliente regular, empregado do proprietário do cabaré, apresentou-se bêbado. Acabou por adormecer na cama da trabalhadora sexual, deixando-a sem alternativa senão buscar um outro lugar para repousar. No meio da noite, foi abruptamente despertada por outro cliente que lhe propunha um encontro.

As coisas pioraram quando o homem embriagado acordou e, num estado de fúria alcoolizada, confrontou-a com uma faca. Ele a ameaçou com a morte, semeando o terror em seu coração. Nesse momento, a trabalhadora sexual compreendeu que estava absolutamente desprotegida, mesmo dos supostos donos do estabelecimento.

Um cliente mais velho e experiente a advertiu que deveria deixar o cabaré, já que sua vida estava em risco ali. Para tal fuga, o proprietário exigiu o pagamento em ouro, moeda corrente naquela parte isolada do mundo.

A decisão de abandonar esse mundo

Decidiu, então, rumar para outro garimpo, conduzida por indígenas locais, que a auxiliaram respeitosamente em sua odisseia. Ela encontrou em seu tratamento um contraste marcante em relação ao que recebia dos rudes mineiros com os quais normalmente se relacionava.

Apesar de nunca ter testemunhado diretamente a exploração de mulheres indígenas, ouviu histórias dos próprios mineiros, que confidenciavam suas ações repugnantes. No garimpo, a prostituição é apenas uma das muitas facetas da exploração, que inclui ainda a degradação ambiental e o desrespeito aos direitos indígenas.

A narrativa da trabalhadora sexual revela a realidade tenebrosa e oculta que acompanha a corrida do ouro na Amazônia. As histórias de exploração sexual se entrelaçam com a destruição ambiental, tecendo um cenário sombrio de cobiça e desrespeito aos seres humanos e à natureza. Nesse contexto, a prostituição na Amazônia continua a ser uma questão alarmante e urgente, que demanda ação e atenção a nível mundial.

Patri relata que testemunhou índios, sob efeito da cachaça, transformarem-se de tal maneira que chegavam a matar por razões fúteis, evidenciando a triste realidade do alcoolismo em suas comunidades. As mulheres sofriam, assim como as crianças. Foi então que compreendeu o desejo das índias de pôr fim ao comércio de cachaça, visto que os homens, quando embriagados, se metamorfoseavam em criaturas monstruosas. Nesse momento, ela entendeu a importância crucial do respeito à cultura e à integridade das comunidades indígenas. A prostituição na Amazônia, apesar de ser um trabalho para muitas mulheres, tem um impacto direto sobre a vida destas comunidades.

O Cabaré Pequena Sereia

Os garimpeiros, cegos pela cobiça do ouro, ignoravam o efeito destrutivo de suas ações sobre o meio ambiente, as comunidades indígenas, e cada mulher presa à prostituição. “Se todos pudessem ver o que eu vi, sentir o que eu senti, talvez as coisas pudessem mudar”, supõe Patri. Talvez a prostituição na Amazônia pudesse ser vista sob uma luz diferente, uma luz de respeito, compreensão e empatia. Uma luz que revela a dura realidade enfrentada por tantas mulheres e comunidades indígenas na Amazônia.

Os dias passados no cabaré Pequena Sereia continuam impressos na mente de Patri, vívidos como se fossem ontem. Os rostos das índias, dos garimpeiros, dos amigos e colegas de profissão no mundo da prostituição dançam em suas memórias. Com eles, recebeu lições sobre a existência – o embate pela sobrevivência, a dor intrínseca à vida, a resistência necessária para encarar cada dia. Acima de tudo, compreendeu a relevância do respeito e da empatia para com o próximo.

As mulheres indígenas e a prostituição

As mulheres indígenas envolvidas na prostituição são mães, cuidadoras de seus filhos. Ao dar à luz outra criança, a mais velha é confiada às irmãs, às tias, às avós – a responsabilidade pela criação dos pequenos recai sobre as mulheres da tribo. Enquanto os homens se empenham na lavoura e na caça, as mulheres se dedicam à difícil tarefa de educar os jovens.

Em uma ocasião, Patri informou a uma dessas mulheres, mãe de oito filhos e incapaz de ter mais, que o hospital público realizava a esterilização de forma gratuita. No entanto, a mulher recusou-se a ir, alegando que os funcionários do hospital a tratavam mal por sua origem indígena. Patri percebeu que a vergonha marcava a mulher, agravada pelo desprezo com que os indígenas, sobretudo as mulheres, eram tratados.

A mulher estava visivelmente desolada, seus olhos expressando uma angústia profunda. Patri se ofereceu para levá-la até a cidade, falar com um médico, arranjar a cirurgia. Contudo, a mulher recusou, aterrorizada pela ideia de ser maltratada, de sofrer ainda mais. À beira do desespero, suas lágrimas silenciosamente imploravam por socorro. E, diante dessa cena, Patri se viu impotente, incapaz de fornecer o auxílio de que a mulher tanto precisava.

Patri se viu imersa na tristeza da indígena, compartilhando a sua dor. A mulher se afastou, carregando seu bebê nos braços, e Patri a observou ir, sem nada poder fazer. Foi a primeira vez que ela presenciou uma indígena em lágrimas. Sempre as via fortes, corajosas, lutadoras. Mas naquela ocasião, a vulnerabilidade e fragilidade daquela mulher ficaram expostas. E aquilo a tocou de forma inesquecível.

Patri voltou do inferno para contar ao mundo

Ao ingressar na vida do garimpo, Patri não tinha ideia do que a esperava. Ela não imaginava que seria testemunha de tanta dor, de tanta tristeza. Ela não previa que encontraria a exploração, a degradação, a violência. Ela não antevia que se depararia com a prostituição na Amazônia.

Ela viu a exploração dos indígenas pelos garimpeiros, usados como ferramentas na busca pelo ouro. Viu a degradação da floresta, a destruição da natureza. Viu a violência, a agressão, a exploração sexual. Viu a prostituição, a exploração das mulheres.

Ela viu tudo.

Central de Comunicação da facção PCC: Operação Grajaú On-line

Vamos mergulhar no mundo da “central de comunicação” do Primeiro Comando da Capital (PCC 1533), explorando suas origens, seus perigos e um caso recente envolvendo mais de 300 integrantes da facção.

“Central de comunicação” é a chave para desvendarmos juntos as complexas teias de informação tecidas pelo Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533). Depois de embarcar conosco nessa viagem fascinante, convidamos você a compartilhar seus pensamentos e impressões conosco – seja aqui no site, no nosso grupo de leitores ou através de uma mensagem direta.

Na primeira parte, voltamos no tempo para descobrir as raízes das centrais telefônicas – uma ferramenta crucial que impulsionou o crescimento da facção, mas que também trouxe riscos significativos para seus membros. Na segunda parte, revisitamos casos reais de 2012, onde a desmantelamento de uma dessas centrais resultou na prisão de vários membros.

Finalmente, na última parte, vamos ao coração do caso atual que envolve mais de 300 indivíduos ligados à facção. Esperamos que você nos acompanhe nessa viagem intrigante, e ansiamos para ouvir suas opiniões e insights!

Rede de Comunicação da facção PCC: origem

A revolução da comunicação trazida pelos celulares e o Whatsapp mudou o cenário global, incluindo o domínio do crime organizado. A rede de comunicação do Primeiro Comando da Capital, não é diferente, apesar do seu método eficaz de comunicação se estender muito antes da existência dessas ferramentas.

No ano de 2007, a facção PCC executou uma manobra brilhante, a criação de “centrais telefônicas” descentralizadas. Uma época em que os celulares eram quase inexistentes e a rede de comunicação era dominada por linhas fixas. Estas “centrais”, que operavam por linhas dedicadas, proviam o nível de privacidade necessária nas conversas.

O método usual era um familiar de um integrante preso alugar uma casa exclusivamente para receber ligações de vários presídios e intermediar os contatos com a rua e lideranças. O sistema funcionava eficientemente. Ocasionalmente, uma central era descoberta em uma operação policial ou por acaso, e as autoridades proclamavam ter desmantelado as comunicações do PCC. Um acontecimento similar ocorreu recentemente com a descoberta de um grupo de Whatsapp, no qual membros da facção relatavam a chegada da polícia.

Em 2007, a rede de comunicação da facção PCC englobava um sistema híbrido com telefones fixos, celulares, rádios e dispositivos Nextel. Com a chegada do Whatsapp em 2009, rapidamente se tornou parte integrante da rede. Mesmo com a evolução tecnológica, a estratégia fundamental dessa rede de comunicação permanece a mesma na facção até hoje. Embora as autoridades reiterem que estão no controle, a realidade dessa complexa rede de comunicação sugere um cenário diferente.

A Rede de Comunicação do Irmão Japa

Keiti Luiz, mais conhecido como “irmão Japa” do Primeiro Comando da Capital, já havia sido mencionado neste site em 28 de fevereiro de 2012 por suas conversas telefônicas, nas quais expressava receio de que sua linha pudesse estar sendo monitorada pela polícia.

Normalmente residente no Presídio de Avaré, Japa repreendeu um colega que ousou perguntar ao telefone sobre uma “fita de maconha”. Ele estava plenamente ciente de que tais conversas telefônicas poderiam ser monitoradas, uma suspeita confirmada pelo investigador de polícia Moacir Cova, que passou os últimos 50 dias escutando suas conversas.

Japa tentou moderar seu comportamento, mas a mudança na linguagem não o salvou de uma futura condenação. Em uma ocasião, ordenou que um “brinquedinho” – supostamente uma arma escondida – fosse buscado na casa de um comparsa, dono de um bar, que possivelmente guardava uma pistola Imbel.

Para evitar maiores problemas, Japa decidiu parar de discutir assuntos sensíveis ao telefone, um hábito adquirido após notar que seus adversários começaram a ser presos, um a um, após conversarem com ele por telefone sobre armas ou drogas.

Apesar dos esforços de Japa para limitar suas comunicações, outros estavam dispostos a falar por ele. Luiz Carlos, conhecido como irmão Piloto, um traficante de Salto, mencionou Japa em uma conversa telefônica enquanto procurava por drogas. Outro associado, Maia, também se referiu a Japa durante uma ligação, buscando um fornecimento quando seu próprio estoque estava baixo.

Passando celulares para confundir a polícia

No meio dessas tramas intrincadas, temos o caso de Fernando, de Indaiatuba, que pediu um empréstimo de dez mil reais a Japa para “fazer mercado” e teve que trocar os telefones que Japa estava usando por drogas, para confundir a polícia. O dinheiro foi entregue na casa de Márcia, esposa de Fernando, mas a polícia não se confundiu não.

Existe também a intrigante questão do relacionamento entre Japa, Palha e Delei. Delei era um revendedor de Japa, ou pelo menos foi o que ele afirmou para o traficante Palha. No entanto, Palha não sabia que Japa havia proibido Delei de vender drogas para ele, então Delei encontrou outra fonte para adquirir o produto. Tudo isso foi relatado pelo investigador Moacir Cova, que acompanhava as gravações telefônicas.

As drogas de Japa estavam escondidas na casa da irmã de um colega. Não se sabe se ela estava ciente disso, mas é mais uma prova da natureza familiar do PCC. Japa também tinha controle sobre uma “central de comunicação” localizada na cidade de Itu. Outro personagem que caiu por causa do monitoramento nessa “central de comunicação” de Japa, foi o irmão Cara de Bola que havia comprado as biqueiras nas quebradas da cidade.

Normalmente, este blog transformaria esses episódios em artigos detalhados, mas por hoje essas histórias se tornaram apenas comentários breves. É uma pena, pois é um material rico que, em outras circunstâncias, seria explorado de maneira mais aprofundada, mas menciono aqui apenas para contextualizar o caso que agora vem à tona, com a polícia ganhando espaço na imprensa por derrubar um grupo de WhatsApp do PCC — desculpe, eu não ia rir sozinho.

Julho de 2023: Polícia derruba central de comunicação do PCC

Se os caras passar aqui na Rubi, nós vai mandar o ‘salve’, falou?

informa um membro do grupo do PCC

A Operação Grajaú On-line foi lançada com o objetivo de cumprir 31 mandados de prisão temporária e 40 de busca e apreensão, visando desmantelar uma rede organizada pelo Primeiro Comando da Capital, principalmente em Santana de Parnaíba e Grajaú na zona sul de São Paulo.

Os criminosos utilizavam um grupo do WhatsApp denominado “Original Florim” com 366 membros para monitorar as atividades policiais em tempo real e alertar seus integrantes, evitando assim a detenção de foragidos da Justiça, além de prejuízos nos pontos de drogas e a prisão de patrões e dos moleques dos corres.

Caíram áudios que revelam alertas sobre a presença ou chegada da Polícia Militar, Polícia Civil e Guarda Civil Municipal em locais de venda de drogas e pontos de acesso, revelando a eficácia do sistema de comunicação em tempo real. Devido à operação, um indivíduo foi preso em flagrante por tráfico de drogas e seis outros foram indiciados. Além disso, 13 pessoas foram identificadas, incluindo o “disciplina” da região, responsável por manter a ordem na comunidade.

A Polícia Civil segue empenhada na identificação dos membros restantes do “Original Florim” e investiga a possível existência de outros grupos similares operando no WhatsApp. Entre os áudios analisados, há menções de suspeitas de policiais infiltrados no grupo central de comunicação:

Tira esse número do grupo, aí, mano. Tá na mão dos caras, entendeu?

outro avisando que um dos celulares caiu na mão da polícia

Conselho de Pai, sintonia geral da cidade da facção PCC 1533

Este artigo explora o tema “Conselho de Pai” através da lente da história de Júlio César, também conhecido como irmão Preto do Jardim Vitória. Preto, um líder influente da facção PCC 1533, tenta guiar seu filho para longe do mundo do crime, oferecendo uma perspectiva única sobre o impacto da orientação paternal no submundo do crime.

“Conselho de pai” é o fio condutor desta narrativa envolvente, explorando a intersecção entre fé, família e destino. Destacamos a história de Júlio César, conhecido como Preto, um líder influente no Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533), que tenta orientar seu filho para um caminho longe do crime. Esta história, embora situada em uma realidade dura, oferece uma perspectiva única sobre o poder e a influência da orientação paterna.

Neste texto, encontramos um contraste fascinante entre a sabedoria bíblica do Rei Salomão e o “conselho de pai” oferecido por Preto a seu filho. Mesmo em circunstâncias adversas, o desejo de guiar e proteger prevalece, proporcionando uma janela para as complexidades humanas dentro do mundo do tráfico de drogas. Através desta perspectiva única, somos convidados a refletir sobre o valor da orientação paternal, independentemente do contexto.

Originalmente escrito em janeiro de 2012, este artigo agora ressurge, convidando leitores a mergulharem nesta história de paternidade, destino e escolha. Adoraríamos ouvir seus pensamentos. Por favor, sinta-se à vontade para comentar no site, no nosso grupo de leitores ou mandar uma mensagem privada para mim. Participe desta discussão rica e complexa sobre o “conselho de pai”.

Conselho de Pai: Salomão e Irmão Preto do PCC

O respeito aos pais, uma premissa central da fé cristã, é um pilar frequentemente questionado na sociedade moderna. Atualmente, muitos jovens tendem a dispensar o “conselho de pai”, optando por forjar seu próprio caminho. Em vez de se voltar para a sabedoria da família, eles procuram orientação em seus amigos e na mídia, como a televisão.

Em meio a este contexto, a Bíblia fornece várias advertências sobre as consequências da negligência do “conselho de pai”. Mesmo que a fé religiosa seja deixada de lado, a sabedoria paterna continua a ter valor pelo seu profundo entendimento das complexidades da vida.

Um exemplo marcante dessa sabedoria é encontrado nas palavras do Rei Salomão, personagem bíblico renomado por sua inteligência. Ele aconselhava fortemente seus filhos a honrar as palavras de sua mãe:

Elas serão uma coroa de graça para a tua cabeça e colares para o teu pescoço. Meu filho, se os pecadores quiserem te seduzir, não consintas.

O rei Salomão enfatizava a importância de seguir o “conselho de pai” para garantir “longos dias, anos de vida e paz”.

Primeiro Comando da Capital: O Impacto do Conselho Paternal no Submundo do Crime

Surpreendentemente, essa vontade de guiar e proteger também pode ser encontrada em Júlio César, conhecido como irmão Preto do Jardim Vitória, o sintonia geral de Itu, membro destacado do Primeiro Comando da Capital. Apesar de ser uma figura importante no tráfico de drogas, e comandar Preto tenta manter seu filho longe desse caminho perigoso.

Preto fornece um “conselho de pai” do interior de uma cela de prisão, suas palavras parecendo ecoar as de Salomão.

Aí, a fita é o seguinte mano, se liga só na fita, você não tem tempo não mano, para curtir não. Procura ganhar um dinheiro, daqui uns dias aí, vai estar guardando dinheiro no banco, comprando um carro, reformando sua casa, ou construindo uma casa aí no fundo para você, entendeu mano.

Reflexões sobre o Conselho de Pai: De 2012 até Hoje

A vida de Preto é marcada pelo arrependimento, apesar de sua posição de liderança na organização criminosa. Ele reconhece a brutalidade da vida no tráfico e deseja um destino diferente para seu filho. O filho de Preto parece acolher esse “conselho de pai”, respondendo com esperança:

Essa é minha intenção, aí ó!

No entanto, a história de Roboão, filho de Salomão, serve como um aviso. Ignorando o “conselho de pai”, Roboão sofreu grandes perdas após a morte de Salomão. Assim, o destino pode estar aguardando o filho de Preto, demonstrando que mesmo as melhores intenções podem ser superadas pelo inevitável.

Ficha Psicossocial de Preto

Júlio César, mais conhecido como irmão Preto, é uma figura multifacetada, que ao mesmo tempo em que exerce papel de líder no Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533), também é pai preocupado com o futuro de seu filho.

Psicologicamente, Preto apresenta uma combinação de pragmatismo brutal e profundo amor paternal. Apesar de suas ações criminosas, ele é claramente motivado por um forte senso de responsabilidade paternal. Ele é consciente das implicações de suas escolhas e busca fervorosamente desencorajar seu filho de seguir seu caminho. Sua comunicação revela uma tentativa de orientar seu filho a partir de sua própria experiência, provando que, apesar do ambiente brutal em que se encontra, o instinto paternal não é suprimido.

Sociologicamente, Preto é um produto do ambiente em que vive. Ele pertence a uma facção criminosa poderosa e exerce uma posição de liderança dentro dela. No entanto, sua vida no crime o levou a uma existência solitária na prisão, que ele descreve de maneira triste. Essa visão de sua situação indica que ele compreende as implicações de suas ações e o efeito destrutivo que elas tiveram em sua vida e na vida de outros.

Preto, portanto, é um personagem complexo. Enquanto líder criminoso, ele personifica a face dura e inescrupulosa do crime organizado. No entanto, como pai, ele encarna a essência de um homem que quer proteger seu filho dos perigos que ele próprio não conseguiu evitar. Seu perfil psicossocial, portanto, é um estudo sobre as contradições humanas e a complexidade do amor paternal, mesmo nas circunstâncias mais adversas.

Esse texto foi publicado originalmente em 9 de janeiro de 2012 no site aconteceuemitu.org

O Anjo da Guarda no Clube Comerciários de Itu e a facção PCC

“Anjo da Guarda” traz uma narrativa surpreendente, misturando elementos do sobrenatural com a dura realidade das ruas. O conto explora o papel protetor dessas entidades espirituais durante uma noite turbulenta que se desenrola em um clube noturno e nas ruas da cidade, envolvendo até o Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533).

“Anjo da guarda” não é apenas um conceito religioso, mas uma força que pode atuar de maneiras inesperadas. Nesta narrativa, acompanhe um anjo em uma noite cheia de desafios, em um ambiente pouco comum para estas criaturas celestiais. No Clube Comerciários de Itu, nosso anjo precisa intervir em uma briga entre mulheres.

A complexidade da situação aumenta quando se torna aparente que o Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533) tem interesse na resolução rápida da confusão. Este relato traz à tona como forças divinas e humanas podem se intercalar, e como o inesperado pode ser um instrumento de paz e resolução.

Esta história, originalmente escrita em dezembro de 2011, nos lembra da importância de buscar compreender o incomum e o sobrenatural. Convidamos todos os nossos leitores a compartilhar suas opiniões e reflexões sobre a narrativa no site, em nosso grupo de leitores ou através de mensagens privadas.

Anjo da Guarda pede ajuda ao Disciplina Primeiro Comando da Capital

Dizem aos anjos-da-guarda para nunca escolherem suas missões, e naquele instante, ele entendia o porquê.

A mãe daquela menina sempre ensinara que a noite era para repouso, um momento para recuperar as forças após um longo dia de labuta e estudo. Que os anjos cuidavam dos que descansavam em seus lares, mantendo-os em paz. Mas ela estava errada. A noite era um campo aberto para aventuras e paixões, para a dança, para os encontros e desencontros. Era quando os anjos tinham que estar mais vigilantes, protegendo aqueles que buscavam diversão nas ruas, pontos de encontro e clubes.

O anjo-da-guarda que tinha a missão de proteger a jovem estava exausto. Apesar disso, ele a tinha escolhido. Depois de inúmeras gerações protegendo homens que frequentemente se metiam em confusões mortais por motivos banais, ele desejou uma mudança. As mulheres pareciam mais sensatas, pensou ele, que era por evitar conflitos desnecessários.

Agora, no entanto, ele questionava sua escolha. Talvez seu superior tivesse feito uma brincadeira de mau gosto ao designar sua protegida. Ela estava no Clube Comerciários em Itu, um local onde ele já havia testemunhado uma briga que acabou com uma alma enviada ao inferno. Agora, ele via sua protegida envolvida em uma confusão semelhante…

Anjo da Guarda e a briga de mulheres no clube

Lauren Cristiane acabara de levar um soco. Ela afirmou que estava apenas passando perto de um trio de mulheres quando alguém esbarrou em suas bebidas, desencadeando uma reação violenta. Elaine Cristiane, que estava por perto, testemunhou que Lauren levou a culpa sem merecer. A verdadeira culpada foi uma mulher com cabelos kanekalon que havia causado o acidente. Mas em meio à confusão, Lauren foi a primeira a ser agarrada.

Os seguranças do Clube Comerciários, Valdemar e Edilson, intervieram. Eram parte da equipe comandada pelo temido e respeitado investigador Moacir Cova, uma figura cuja reputação sempre precedia seu nome. Rapidamente, eles agiram para interromper a confusão, colocando as duas mulheres para fora do clube. De alguma forma, o anjo da guarda sussurrou em seus ouvidos, alertando-os do perigo de haver um derramamento de sangue.

No entanto, a raiva não se dissipou. Os grupos de mulheres, longe de se acalmarem, continuaram a se agredir em frente ao clube. No entanto, o lugar era conhecido por outro tipo de atividade noturna – o comércio de drogas. Era um dos pontos mais lucrativos de Itu, gerenciado pelos traficantes do Primeiro Comando da Capital. Eles observavam as mulheres, preocupados que a atenção indesejada que a briga estava atraindo pudesse prejudicar seus negócios.

Nesse momento, o anjo-da-guarda interveio novamente. Dessa vez, ele alertou os traficantes sobre os riscos que a continuação do conflito poderia acarretar. Eles entenderam o recado e agiram, colocando um fim à briga para evitar atrair mais atenção para o local. Assim, mesmo que de maneira inusitada, o anjo conseguiu proteger sua protegida. Mas a lição estava aprendida – nunca mais escolheria uma missão.

O desfecho se dá na Justiça dos homens

Após a tempestade, Lauren, a protegida do anjo, tomou uma decisão. Inconformada com a injustiça, ela foi à Delegacia da Mulher DDM de Itu durante a semana, determinada a dar seu depoimento. Encontrou a Guarda Civil Municipal Doralice de plantão naquele dia. A história foi contada em detalhes, com Lauren descrevendo a agressora: uma garota de 1,70m, cabelos castanhos escuros presos em rabo de cavalo, magra, de rosto fino e branco, com uma tatuagem na barriga. A mulher foi identificada como Camila.

Uma testemunha que estava presente corroborou a história de Lauren. Ela afirmou que Camila havia se gabado de sua suposta imunidade, dizendo que todos deveriam saber com quem estavam mexendo. No entanto, essa arrogância não foi bem recebida pelo juiz de direito, Dr. Hélio Villaça Furukawa, que não estava impressionado com tais ameaças.

De acordo com a sentença do Dr. Furukawa, Camila foi condenada a pagar ao Instituto Formando Gente a quantia de R$ 800,00. A justiça havia sido feita, graças à coragem de Lauren, ao trabalho diligente da GCM Doralice e à intervenção oportuna do anjo-da-guarda. Mas a lição ainda ressoava – os anjos-da-guarda nunca devem escolher suas missões.

texto publicado originalmente em dezembro de 2011 no site: aconteceuemitu.org

Disputas de Poder: Primeiro Comando da Capital de 2001 a 2006

A jornada deste texto percorre a história da facção PCC 1533 de 2001 a 2006, um período marcado por intensas disputas de poder e contradições, revelando uma faceta complexa da criminalidade em São Paulo.

“Disputas de poder” delineiam a essência deste relato. No coração desse emaranhado, o Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533), prevalece. Testemunhe sua ascensão entre 2001 a 2006.

Em meio ao caos, desenrola-se uma dança do poder, onde a política de segurança pública, paradoxalmente, fortalece a facção PCC. Nossa jornada começa aqui, dentro do intricado universo do PCC.

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2001 a 2006 – Disputas de Poder com a sociedade

Em 1997, um grito audaz ressoou do submundo criminoso, desafiando a sociedade como um fantasma emergindo das sombras. O Primeiro Comando da Capital, ousadamente, forçou o reconhecimento de sua existência, garantindo a publicação de seu estatuto e selando sua imagem como uma organização criminosa.

Essa atitude, talvez impulsionada por uma busca de satisfação do ego, talvez pelo desejo de derrubar o estigma do criminoso comum, tido como “inferior e ignorante”, surgiu como um movimento ousado e estratégico.

No jogo xadrez das “Disputas de Poder”, esta manobra se revelou mais do que uma simples busca por reconhecimento. Foi uma jogada tática astuta, um lançamento calculado de um dado que traçaria o caminho para o crescimento iminente da organização nos anos que viriam.

Medo, Repulsa e a Imprensa como Alto-falante

As entranhas da cidade escondiam mais do que apenas o medo e a repulsa – elas abrigavam uma força emergente, prestes a deixar sua marca indelével no tecido da sociedade. Esta era a ascensão silenciosa, porém inconfundível, do Primeiro Comando da Capital.

Em meio a um cenário que desafiava qualquer lógica convencional, a mídia assumiu o papel de alto-falante para as atividades do PCC, aumentando exponencialmente a sua notoriedade. Em uma tentativa de projetar uma imagem de eficácia e ação à população, várias correntes ideológicas implementaram políticas de Segurança Pública. No entanto, ao invés de subjugar a influência do PCC, elas fortaleciam inadvertidamente a organização criminosa. Como um fogo alimentado pelo vento, a estrutura do PCC parecia apenas se fortalecer frente a estes esforços.

O período de 2001 a 2006 marcou a entrada do Primeiro Comando da Capital numa nova fase, uma era definida por intensas disputas de poder. Este tempo, preenchido com dilemas e conflitos tanto internos quanto externos, escancarou a complexidade do ambiente no qual a facção PCC estava imersa.

No palco externo, a intenção das políticas governamentais colidiu com sua eficácia na prática. Ao invés de conter a influência da PCC, as medidas adotadas pela segurança pública paulista deram um impulso inesperado à organização criminosa. As transferências de presos, pensadas para diluir a força da PCC, acabaram por criar uma rede de influência mais extensa e consolidada, tanto dentro quanto fora das prisões.

Sede fecundos, disse-lhes ele, multiplicai-vos e enchei as trancas.
Vós sereis objeto de temor e de espanto para todo aquele que pensar em se opor a vós.
Tudo o que se move e vive vos servirá de alimento; eu vos dou tudo isto, como vos dei a erva e o pó.
Somente comereis carne com a sua alma, com seu sangue.
Todo aquele que trair a nós terá seu sangue derramado pelos irmãos, porque faço de vós a nossa imagem.
Sede, pois, fecundos e multiplicai-vos, e espalhai-vos sobre a terra abundantemente.

Operação Dictum PCC 15.3.3

Disputas de Poder dentro da Facção

No cenário interno, as disputas de poder intensificaram-se. Os líderes, outrora respeitados e inquestionáveis, agora enfrentavam um panorama de incerteza e instabilidade. Sombra, um dos generais mais admirados, fora brutalmente assassinado em 2001, durante seu banho de sol na prisão de Taubaté. Os motivos do assassinato de Sombra nunca foram confirmados oficialmente, mas diversas teorias circulavam entre os membros da PCC. Talvez fosse uma jogada de uma facção rival, talvez uma rixa pessoal, ou ainda uma tentativa de outro líder da PCC para aumentar seu poder. A verdade permaneceu nebulosa.

O Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), já estabelecido, encontrou forte resistência entre os detentos. No entanto, as lideranças do PCC incessantemente buscavam meios para se evadir deste castigo institucional, agitando o ambiente penitenciário. Paralelamente, a PCC logrou eliminar diversas organizações rivais em São Paulo, isolando as que apresentavam mais resistência. Curiosamente, ao concentrar todas as lideranças no presídio P2 de Presidente Venceslau, o estado inadvertidamente forjou um Quartel General para o Primeiro Comando da Capital, facilitando a coordenação entre os diferentes líderes do estado.

[…] o RDD acabou por contribuir para a consolidação de lideranças dentro do sistema prisional. A construção da autoridade das lideranças no interior de organizações tais como o PCC se dá a partir da valorização de alguns atributos do indivíduo, especialmente ligados à autonomia e independência frente a qualquer poder ou autoridade formal de modo que o preso que recebe como punição a alguma falta a remoção para o RDD acaba encarnando a imagem exemplar da insubmissão às regras oficiais do Estado.

Bruno Lacerda Bezerra Fernandes

Da disputas de poder à pacificação

A hegemonia da PCC nas prisões estava em plena expansão, com a organização ocupando o vácuo de poder deixado pelas facções extintas.

No implacável jogo de poder do submundo, o PCC mostrou-se eficiente ao enfrentar seus rivais. Ao eliminar muitas organizações adversárias em São Paulo, orquestrando uma verdadeira guerra estratégica, cujo objetivo era estabilizar sua influência e conquistar o poder e a hegemonia nas prisões. Organizações contrárias como o Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade CBRC, a Seita Satânica SS, o Serpentes Negras e Comando Democrático da Liberdade CDL, de fato, desapareceram após 2001.

Este cenário gerou um vácuo de poder, um espaço vazio que ansiava por domínio. A habilidade do PCC em preencher essa lacuna tornou-se evidente à medida que expandiam gradualmente seu controle, utilizando a violência como um instrumento para reforçar seu poder e recrutando novos membros para suas fileiras. A cada passo, o Primeiro Comando da Capital foi tomando as rédeas, crescendo não apenas em influência, mas também em número, com o aumento constante de seus afiliados. Nesse tabuleiro de xadrez do crime, a cada movimento, a facção PCC consolidava sua supremacia.

Apesar das circunstâncias adversas, a Primeiro Comando da Capital conseguiu estabelecer uma espécie de “pacificação” nos presídios entre 2002 e 2004. Este termo, contudo, não significava uma verdadeira paz, mas o fim das violentas disputas de poder entre as facções. No entanto, os crimes fora das prisões, como fugas, assaltos e sequestros, continuaram a ocorrer.

A pacificação dependeu da capacidade do PCC em construir um discurso de união do crime e organizar o interesse dos empreendedores de drogas numa mesma direção. Em São Paulo, a facção conseguiu funcionar como agência reguladora.

A Guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil

As Sombras de São Paulo: o sonho de mizael

Mergulhando ainda mais fundo nos corações das sombras de São Paulo, em nossa narrativa do período entre 2001 e 2006, palco das “Disputas de poder” do notório Primeiro Comando da Capital. Vidas tecidas na violência, corações pulsando contra a corrente de seus destinos prescritos – é neste cenário que Mizael, um líder na trama da facção, encontra seu fim abrupto em fevereiro de 2002.

Mizael, uma figura emblemática do PCC, se destacou por sua visão que ia além do cotidiano criminoso. Ele sonhava com um diálogo direto com o governo brasileiro e organizações de direitos humanos, enxergando na denúncia de abusos do governo paulista, uma chance de mudança. Essa aspiração foi abruptamente interrompida por uma trama interna.

Te convido a enxergar além da brutalidade dos atos do criminoso condenado. Tente ver em Mizael um homem com um plano, um estrategista almejando mudanças para além das grades. Seus desejos ecoavam em um manifesto, onde fazia menção a figuras políticas e intelectuais relevantes, numa tentativa de criar diálogo no âmbito político-jurídico.

Entretanto, dentro do universo fechado do Primeiro Comando da Capital, os sonhos costumam ser encurtados. Cesinha, antigo aliado de Mizael e um dos generais do PCC, baseado em boatos, determinou o fim de Mizael. O líder foi assassinado em um ato simbolicamente cruel, tendo seus olhos arrancados, uma forma de suplício que ecoa a brutalidade deste universo.

Jogos de Poder

Neste jogo de xadrez humano, Mizael e Sombra, outro líder do PCC, se destacaram por suas visões inovadoras. Viu-se em Mizael o potencial de um líder político, ainda que dentro da estrutura de uma organização criminosa. Sua visão, entretanto, foi impedida por uma disputa de poder, comprovando a velha máxima de que em uma guerra interna, não há vencedores, apenas sobreviventes.

Para além dos atos violentos, percebemos os homens por trás da facção PCC, suas ambições e desejos, frustrações e medos. Em um mundo onde a luta pelo poder pode custar a vida, cada decisão tem um peso imenso e os erros, consequências fatais. Entre as sombras das disputas de poder, encontramos seres humanos em sua mais crua essência, lutando pela sobrevivência em um ambiente hostil.

A Reconfiguração do Poder: Traição e Reformulação

Durante esse período de 2001 a 2006, encontramos um cenário volátil nas entranhas do emblemático Primeiro Comando da Capital. As perdas de lideranças chave levaram a uma reestruturação significativa do poder dentro do grupo, dando início a uma fase de intensa reconfiguração interna.

Neste período, presenciamos o assassinato de Ana Maria Olivatto Camacho, ex-esposa de Marcola, perpetrado por Natália, esposa de Geleião. Este evento acendeu o estopim para uma onda de vingança dentro do PCC, com parentes de Natália sendo eliminados por seguidores de Marcola.

A trama de nosso relato se adensa com a delação de Geleião à polícia, num esforço desesperado para proteger sua esposa e a si mesmo. Esta traição foi repudiada pela facção, levando à expulsão de Geleião e Cesinha, líderes renomados do PCC.

O vácuo de poder deixado por estas convulsões internas foi preenchido por Marcola, que ascendeu à liderança do Primeiro Comando da Capital em 2003. Implementou uma reformulação radical, mudando a forma de atuação financeira, política e estratégica da organização.

O PCC Evolui e se estrutura como empresa

A nova fase do PCC foi marcada por uma reorganização, passando de uma estrutura piramidal centralizada para uma organização complexa e descentralizada. Esta mudança democratizou as formas de atuação do grupo, concedendo voz e voto na estrutura interna da facção.

Marcola introduziu o conceito de “Sintonias”, comissões ou setores compostos por vários “irmãos” que reportavam a uma “sintonia final”. Além disso, a facção incluiu os termos “Igualdade e União” no seu lema, evitando problemas internos de poder e melhorando a divisão do trabalho.

No seio desta remodelação, o tráfico de drogas surgiu como uma atividade lucrativa e segura, reduzindo a perda de membros em assaltos e sequestros. Esta mudança levou a facção PCC a se tornar uma organização de caráter empresarial, embora mantendo sua luta contra as opressões e injustiças.

Neste contexto, o PCC, que começou como um partido, continua a existir, agora também como uma empresa. Uma dualidade que produziu uma ruptura singular na história da facção, transformando-a numa entidade complexa e multifacetada.

Baseado no trabalho do pesquisador Eduardo Armando Medina Dyna: “As faces da mesma moeda: uma análise sobre as dimensões do Primeiro Comando da Capital (PCC)”

Policiais Mortos no Litoral: na Visão de um integrante do PCC 1533

Neste texto, o leitor é imerso na tensa atmosfera que envolve a morte de dois policiais aposentados no litoral paulista e as repercussões disso dentro do Primeiro Comando da Capital (Facçã PCC 1533).

“Policiais mortos no litoral” são palavras que chamam a atenção. Mergulhe neste relato, vivenciando a tensão do Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533). Em meio a adrenalina, você se tornará uma testemunha ocular.

Este texto aborda os desafios e os medos, além do fascínio que envolve a realidade do PCC. Uma narrativa arrebatadora que trará luz a um mundo sombrio, mas profundamente humano.

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Policiais assassinados no litoral: Tempo de caça

Policiais mortos no litoral. Esse era o grito dos noticiários. O cenário era real: uma caçada estava em andamento. A adrenalina dominava cada célula, cada pensamento. A tensão era palpável.

Estava aberta a temporada de caça. Não me refiro àquele caçador que esconde-se atrás da mira, apontando para seres desprotegidos na natureza. Falo de uma caçada mais temerosa, onde as presas têm armas que podem atirar de volta e estão em tocaias que só elas sabem onde são, onde o risco de morte é uma constante e onde a possibilidade de matar é uma escolha consciente, mesmo quando há consequências a enfrentar.

O sabor do perigo é indescritível. Enquanto escrevo este texto, recordo a força cega que me impulsionava, a liberdade e vida que se tornavam não importava. Mas a sede de vingança é um veneno que intoxica até os mais sensatos. O sangue chama por sangue, e o ódio alimenta o ódio. Esse é o ciclo vicioso que parece estar se repetindo agora no litoral.

A Mensagem do Jovem Integrante da Facção

Um jovem guerreiro, integrante do Primeiro Comando da Capital, sente agora essa pressão. Não vou julgar aqui a ele ou a quem quer que seja, só digo que sei o que sentia naquele momento. E vou descrever aqui como ele deve ter se sentido quando me mandou aquela mensagem. Ele encarou a mensagem em seu telefone com um arrepio de medo e excitação. Seu coração batia como acelerado, a adrenalina corria livre por suas veias.

“O bagulho tá molhado aqui no litoral, Choque, ROTA, BAEP, tamo tudo entocado na mata aqui. Tá daquele jeito, é só Taliban!” Ele prosseguiu, “O bagulho tá molhado, tá molhado mesmo, os verdinho tá mata, tá na mata daquele jeito! O bagulho tá frenético! Fogo no Parquinho! Todo litoral tá molhado,, todas, em Cubatão, São Vicente, Bertioga… todas as quebradas tá molhadas.”

E, em seguida, um silêncio. Um silêncio carregado de antecipação, um silêncio que pesava no ar como uma cortina de chumbo. Ele estava nas matas que sobem pela serra para o planalto, no meio do caos, assim como deve ter sido para tantos fugitivos por toda a história, de povos nativos caçados pelos primeiros colonizadores portugueses, escravos fugidos de seus senhores, e agora ele, caçado pela polícia. E ainda assim, de alguma maneira, ele estava mais vivo do que nunca.

Policiais Assassinados no Litoral: a Razão da Caça aos PCCs

Ao ser surpreendido pela mensagem de Cria do 15 no sábado, a percepção de que algo de muito significativo tinha ocorrido logo se instalou em mim. O fervor que a mensagem continha era indicativo de um enxame que deixou o ninho em um estado de fervor anormal. Mesmo em ações especializadas, raramente se vê uma mobilização tão estrondosa.

Logo, a névoa esclareceu-se, desvendando o estopim dessa turbulência. Foi em Guarujá, no litoral paulista, onde dois policiais aposentados encontraram seu fim trágico na tarde de sexta-feira, 19 de maio, por volta das 17 horas. Nelson da Silva, subtenente, e Clóvis Oliveira Barbosa, 3º sargento do Corpo de Bombeiros, guardavam um comércio na cidade quando foram mortalmente surpreendidos.

Após o assassinato, os criminosos fugiram em um Fiat Stilo, que foi localizado abandonado há uns dois quilômetros no bairro Vila Zilda, tendo no seu interior uma das armas roubadas dos policiais, uma pistola calibre 380.

A Realidade do “Bico”

Vivemos num mundo onde, paradoxalmente, um policial paulista, mesmo ganhando em média 81% mais do que um trabalhador formal – cerca de R$ 3.495 comparado a R$ 1.926 – não resiste à tentação de engordar a carteira com um ‘bico’ comercial. Um retrato que revela uma sociedade acentuadamente desigual.

No caso dos nossos protagonistas, um subtenente e um sargento, os seus vencimentos na ativa seriam, respectivamente, R$ 5.359 e R$ 4.518. No entanto, na aposentadoria, optaram por complementar seus rendimentos com um ‘bico’. Trabalhando 44 horas semanais num comércio não voltado ao luxo, estimamos que cada um poderia amealhar um extra de cerca de R$ 5.940 (à razão de R$ 30 por hora).

Os policiais, mesmo ganhando substancialmente mais que a maioria dos brasileiros, optam por arriscar suas vidas em trabalhos extras que, estatisticamente, matam 60% mais que os confrontos durante o horário de trabalho. Justificam tal escolha alegando a necessidade de complementar seus baixos salários.

Dois lados da mesma moeda

Do lado de cá, Nelson da Silva e Clóvis Oliveira Barbosa, dois homens mais velhos, trabalhadores incansáveis da segurança pública. Do lado de lá, jovens seduzidos pelo mundo do crime, arremessados por circunstâncias nem sempre claras em um universo onde a morte e a violência são apenas mais uma parte do cotidiano. Em um jogo que não escolheram jogar, esses homens se encontraram.

Ambos, os policiais aposentados, possivelmente tinham famílias para sustentar, sonhos a cumprir, uma vida para viver. O trabalho extra, o “bico”, não era só uma maneira de complementar a renda, era também uma forma de ocupação, uma maneira de continuar servindo e protegendo, algo que nunca deixou de ser parte de sua essência. A sensação de utilidade e de cumprir um papel, de não se entregar à ociosidade, era certamente uma força motriz. A certeza do dever cumprido acompanhava-os. Havia medo? Sim, sempre há. Mas havia também coragem e determinação.

Do outro lado, os jovens do Primeiro Comando da Capital encaravam a morte desses dois homens com uma excitação juvenil, misturada com um sentimento estranho e amargo de triunfo. Era como se, naquele ato, eles se colocassem contra a opressão de um mundo injusto, um mundo que parecia não ter lugar para eles. Não foi uma escolha feita de ânimo leve, mas uma resposta a um sentimento de desesperança e revolta. Estavam eles certos? Certamente não. Mas a vida raramente é definida por linhas claras de certo e errado.

Confronto de Realidades

A morte desses dois homens é lamentável, um triste lembrete da realidade violenta e incerta que muitos vivem. Mas é preciso tentar entender, entender que tanto os policiais aposentados quanto os jovens do PCC são produtos de uma sociedade que, de formas diferentes, falhou com todos eles.

Essa história não tem um final feliz, não tem heróis nem vilões. Há apenas pessoas, cada uma com seus próprios sonhos, esperanças e medos, navegando da melhor maneira que podem em um mundo que é muitas vezes hostil e inóspito. Há apenas pessoas tentando sobreviver, tentando encontrar alguma alegria e sentido em suas vidas.

E talvez, se pudermos aprender alguma coisa com essa história, seja que a verdadeira batalha não é contra o outro, mas contra a injustiça, a exclusão e a falta de oportunidades que leva tantos a caminhos violentos e desesperados. E que, no fim das contas, todos nós, independente de onde viemos ou do caminho que escolhemos, queremos o mesmo: ser felizes, ser livres, ser respeitados e amados. É um sonho simples, mas um que, para muitos, continua sendo apenas isso: um sonho. E é aí que reside a verdadeira tragédia.

Rio Claro: GAECO entra na guerra entre Facção PCC e oposição

Este artigo aborda a violência e o caos em Rio Claro, onde a batalha pelo controle do tráfico de drogas entre o Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533) e um grupo independente culminou em 33 mortes em apenas um ano. Descubra como esta luta está transformando a pequena cidade paulista.

Rio Claro, pacata cidade paulista, abriga segredos que transcendem seu aparente sossego. Convidamos você a adentrar o labirinto obscuro do crime organizado, onde um grupo desafia a dominância do Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533).

Neste intrigante relato, observe pela perspectiva da investigadora Rogéria Mota a ascensão dessa facção independente. Junte-se a nós nessa exploração, pois desvendamos a trama de poder, violência e uma coexistência surpreendente em meio ao caos.

A Batalha Invisível de Rio Claro: Uma Guerra Silenciosa pelo Controle do Tráfico

Tudo na cidade de Rio Claro causava uma sensação de inquietação. A investigadora do GAECO, Rogéria Mota, atenta à atividade de um grupo criminoso independente, se perguntava: “Como pode essa facção crescer em território dominado pelo Primeiro Comando da Capital?“.

Ela percorria as ruas de pedra de Rio Claro, buscando respostas. Observava casas simples e estabelecimentos modestos. Essa paisagem era um terreno fértil para o crime, embora parecesse desproporcional ao calibre dos armamentos desse grupo.

Entre sussurros dos habitantes de Rio Claro, Rogéria descobriu a potência dos armamentos do grupo. Eles rivalizavam com exércitos avançados e os fundos monetários, fruto de um tráfico desenfreado, competiam com o PCC. Essa realidade causava arrepios.

Surpreendeu-se, porém, com a aceitação desse novo grupo pelo PCC. Conforme sua investigação avançava, descobriu uma regra da facção PCC: ninguém é obrigado a aderir. A coexistência com outros grupos era permitida, ainda que nem sempre pacificamente.

Entretanto, a violência não era estranha nesse cenário. A lista de mortos crescia. Entre os nomes, estava o de Juliano, empresário e narcotraficante, assassinado com mais de 30 tiros. Essa situação em Rio Claro não era para os fracos de coração.

Numa Teia de Poder e Medo: A Estranha Tolerância do PCC aos Grupos Independentes

Refletindo, Rogéria percebeu a semente da destruição escondida na própria ética do PCC. A tolerância da facção PCC para com outros grupos permitiu a ascensão de um poderoso rival. Uma ironia amarga, sem dúvida.

As suspeitas de Rogéria Mota pesavam sobre as vítimas, incluindo Juliano, acreditando que poderiam ter negociado com o grupo do notório traficante Anderson. Afinal, no mundo sinistro do crime, acordos são tão voláteis quanto o rastilho de uma vela acesa, sempre ameaçando se desfazer em meio ao mais tênue sopro de desconfiança.

Por muito tempo, a organização Primeiro Comando da Capital agiu como mediador neutro, aceito por todos em São Paulo. No entanto, quando sua autoridade é questionada, as armas ditam a lei.

O isolamento dos líderes da facção PCC, promovido por ações públicas, sem dúvida contribuiu para o crescimento do grupo rival. As autoridades emitiram mandados, realizaram apreensões e sequestraram bens do grupo. Cinco foram presos, mas o líder, Anderson, escapou.

A ação foi coordenada pelo GAECO de Piracicaba. A Rogéria cabia prever e tentar se antecipar às mudanças para que São Paulo não voltasse a ser marcada pela violência pré-hegemonia do PCC. Em 2022, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes em Rio Claro atingiu 15,68, a maior da região.

Vidas perdidas em uma guerra sem fim

A batalha pelo controle do tráfico de drogas em Rio Claro tem tido um preço alto: somente no último ano, essa guerra resultou em um saldo devastador de 33 assassinatos. A escalada de violência tem um objetivo preciso: a hegemonia do tráfico de drogas . As suspeitas apontam que o grupo de Magrelo possui um arsenal bélico superior ao do próprio PCC na região, um poder de fogo desenfreado capaz de abater rivais e manter seu controle tácito.

Por ora, no entanto, o braço da Justiça agiu conforme a denúncia apresentada pelo MPSP, voltando-se contra os oito alvos marcados pelos mandados, cinco dos quais já se encontravam sob custódia policial.

Adicionalmente, um pedido de sequestro de bens foi deferido, somando um valor colossal de R$ 12.586.000,00 – uma soma que, demonstra o poder dessa organização criminosa independente.

Rogéria precisa entender a mente criminosa para reverter esse quadro de mortes. Contudo, meu papel é apenas observar e relatar as histórias. E, certamente, essa história está longe de terminar.

O que se sabe Sobre Anderson, o líder da organização criminosa

Anderson Ricardo de Menezes, um criminoso de altíssima periculosidade mais conhecido como Magrelo, é um nome que ressoa nos corredores do Gaeco de Piracicaba. E não é à toa: no auge de sua juventude impetuosa, aos vinte anos, Magrelo desferiu múltiplos golpes de canivete num desafeto, um ato que deixou cicatrizes profundas, não apenas no corpo da vítima, mas também no tecido social de Rio Claro.

O modus operandi é cruel, mas eficaz: rastreadores em carros de inimigos, emboscadas em locais desprovidos de testemunhas, veículos incendiados após os atos hediondos. O enigma da morte de Alessandro de Arruda, membro do PCC, desvendado por interceptações telefônicas, revela a mão de dois comparsas de Magrelo por trás do assassinato.

Com um histórico criminal notavelmente extenso, Anderson Ricardo de Menezes, conhecido como Magrelo, aos 48 anos, desafia a maior organização criminosa do Cone Sul, o Primeiro Comando da Capital, e seus negócios já se estendem além das fronteiras de São Paulo, alcançando as áreas limítrofes entre o Brasil e o Paraguai.

O criminoso Magrelo já contabilizava em sua ficha delitos como roubo, tentativa de homicídio, lesão corporal dolosa e tráfico de drogas, tornando-se alvo da Operação Carro Falso em 2014, uma ação organizada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo direcionada aos ladrões e receptadores de veículos furtados. No mês anterior, ele e outros oito cúmplices foram indiciados pelos promotores de justiça de Piracicaba pelos crimes de organização criminosa e associação ao tráfico de drogas.

Na última quarta-feira, Magrelo esquivou-se habilmente de um cerco policial, apesar de sua prisão preventiva ter sido decretada pela justiça. Sua fuga era mais um golpe contra a sensação de segurança, uma prova contundente de que a batalha entre a lei e o crime em Rio Claro estava longe de ser concluída.

artigo base para esse texto: Josmar Jozino – Grupo rival do PCC provoca onda de assassinatos e aterroriza Rio Claro (SP)

Fichamento do Caso Operação Oposição em Rio Claro

  1. Evento: Operação Oposição em Rio Claro (SP) no dia 17 de maio de 2023.
  2. Organizações envolvidas: GAECO (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) e o 10º BAEP (Batalhão de Ações Especiais de Polícia).
  3. Objetivo da Operação: Cumprir oito mandados de prisão preventiva e nove de busca e apreensão contra integrantes de uma organização criminosa formada no município.
  4. Grupo Criminoso Alvo: Organização rival ao Primeiro Comando da Capital (PCC), formada em Rio Claro.
  5. Resultado da Operação: Cinco pessoas presas, três foragidas (incluindo o líder do grupo), apreensão de dinheiro, celulares, armas e munições.
  6. Líder do grupo: Anderson Ricardo de Menezes (Magrelo ou Patrão) conseguiu fugir.
  7. Situação do grupo: Membros tinham acesso a armamento de grosso calibre, munições, coletes balísticos e apresentavam vasta movimentação financeira devido ao tráfico de drogas.
  8. Medida Judicial: Sequestro de bens no valor de R$ 12.586.000,00.
  9. Consequências da rivalidade entre os grupos: 33 assassinatos no ano passado (2022), incluindo Juliano Gimenes Medina, morto com 30 tiros em 8 de junho de 2022.
  10. Investigação: O GAECO de Piracicaba e a Polícia Civil de Rio Claro descobriram o grupo de Magrelo através da investigação do assassinato de Medina.
  11. Assassinato de Medina: Os suspeitos são Rogério Rodrigo Graff de Oliveira (Apertadinho) e Willian Ribeiro de Lima Diez (Feio), que já se encontravam presos.

PCC nos Anos 90: das sombras para o Dominio das Ruas

Explore a trajetória da facção PCC nos anos 90, desde o nascimento nas prisões de São Paulo até a expansão para as periferias, enquanto desvenda o mistério de sua constante transformação.

“PCC nos anos 90” não é apenas um termo, mas uma época de mudanças radicais e contornos inesperados no cenário criminal de São Paulo. Mergulhe nessa narrativa onde o caos e a ordem dançam em um equilíbrio delicado, revelando uma história de evolução e adaptação que desafia a imaginação.

Venha descobrir a verdadeira essência do mistério que rodeia o Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533), um enigma sempre em constante transformação. Após a leitura, espero por seus comentários e reflexões. Deixe sua opinião no nosso site, compartilhe suas impressões nos grupos de leitores do WhatsApp ou envie uma mensagem privada para mim. Sua participação enriquece o debate!

Texto baseado no trabalho de Evando Cruz Silva: Molecada no Corre: Crime, geração e moral no Primeiro Comando da Capital

PCC nos anos 90: Sob a Sombra das Grades

As primeiras luzes do dia ainda não haviam riscado o horizonte quando o eco de uma década de mudanças ressoou através das paredes de concreto. O Primeiro Comando da Capital, conhecido apenas como PCC, nasceu nas sombras das prisões de São Paulo na década de 1990. Uma história de transformações e contornos inesperados, trazendo consigo um ar de mistério.

Era uma época em que o caos era a única lei, onde a selvageria humana espreitava a cada canto de cela, o PCC surgiu em 1993 como uma ordem em meio ao caos.

Mano, no dia 11 de março de 1991, as sementes do PCC foram plantadas em solo fértil durante um banho de sangue no presídio do Carandiru. O PCC não brotou em 1993 lá no Piranhão e se espalhou de uma vez só, mas na real, ele já tinha começado lá atrás, em 91, mas foi nesse ano que ele se consolidou…

Naquela tarde de chuva de 93, o Rato caiu morto pelas mãos do Geleião no Piranhão, como era chamado a Casa de Custódia de Taubaté. Zé Marcio, o Gelião, fundava o PCC, regando-o com o sangue do Rato.

O PCC existira sem o neocapitalismo? Por que isso é importante?

Eles eram a luz do fim do túnel para muitos prisioneiros, um sopro de vida em um mundo governado pela lei do mais forte ou do cada um por si. A instituição do “PCC nos anos 90” redefiniu esse pensamento, inaugurando uma nova era de “paz entre os ladrões”, na tentativa de trazer alguma harmonia à anarquia dominante.

Camila Nunes Dias conta que nos anos de 1994 e 1995 a base se solidificou graças a intensificação da repressão dentro do sistema carcerário — quanto mais dura se tornava a vida no cárcere, mais presos se aliavam à bandeira de solidariedade empunhada pelo PCC.

Camila Caldeira Nunes Dias PCC

“… as demonstrações de crueldade e de espetacularização da violência […] desempenharam uma série de funções na conquista e na manutenção do poder e do domínio do PCC sobre a população carcerária.”

A transformação da organização criminosa PCC desde 1993 aos primeiros anos dos anos 2000 é uma história de evolução e adaptação, uma narrativa que desafia a imaginação. No entanto, como seria de se esperar em qualquer história de uma organização criminosa, o verdadeiro mistério reside sempre nos detalhes, escondidos nas sutilezas da vida real.

Em 1994, quando eu era um novato, os presos falavam comigo sobre um tal “Partido do Crime”. Eu falava ‘tá bom’, fingindo que estava entendendo, pois não é bom demonstrar dúvida perto dos detentos…

Só depois, eu e o restante dos agentes fomos descobrir que o tal partido era o Primeiro Comando da Capital, que alguns também chamavam de “Sindicato do Crime”. Para nós, os agentes penitenciários, era evidente a força que o grupo estava ganhando, mas, durante muito tempo, o governo negou a sua existência…

Foi nesse caldeirão que, no início dos anos 2000, o conflito explodiu: … o PCC agora mandava no lugar…

… a história continua no The Intercept Brasil.

A Metamorfose da Hierarquia: Desafiando a Estrutura Tradicional

Muitas mudanças aconteceram naqueles loucos e tensos do PCC nos anos 90. A população carcerária, antes massacrada pelo governo de São Paulo e ao mesmo tempo subjugada por grupos criminosos brutais dentro das prisões, começou a se organizar em torno de uma ideologia que ia sendo construída enquanto era implantada.

A criação do PCC é vista por muitos presos como o fim de um tempo no qual imperava uma guerra de todos contra todos, onde a ordem vigente era “cada um por si” e “o mais forte vence”. As agressões físicas eram bastantecomuns, “qualquer banalidade era motivo para ir pra decisão na faca”.

As violências sexuais também eram bastante recorrentes; para evitá-las, muitas vezes não havia outra saída senão aniquilar o agressor e adicionar um homicídio à sua pena. Os prisioneiros se apoderavam dos bens disponíveis, desde um rolo de papel higiênico até a cela, para vendê-los àqueles que não conseguiam conquistá-los à força.

Karina Biondi

Até 1995 ou 1996, o carcereiro chegava e vendia o preso por, digamos, cinco mil reais para ser escravo sexual.

Aluguel de presos como escravos sexuais no Paraná

No ambiente abafado, impregnado de injustiças e ameaças mortais, é possível vislumbrar como o Primeiro Comando da Capital encontrou espaço para expandir e enraizar-se com impressionante facilidade. E, nesse contexto, a transição para as ruas se tornou apenas um salto lógico e inevitável.

Nas ruas das periferias introduziu de seu código moral nas “biqueiras”, se estabelecendo como uma autoridade alternativa, o Tribunal do Crime, um recurso para a resolução de conflitos. Este controle social também não estava nos planos iniciais do PCC nos anos 90, mas poucos anos após a sua formação nas prisões, este sistema paralelo de justiça já se fazia presente nas principais comunidades periféricas de São Paulo.

Um ponto de virada dramático no enredo foi quando o PCC estendeu sua influência para além das prisões. Esta extensão não era uma estratégia inicial, mas acabou por ser um movimento que poderia ter sido inspirado por um mestre em estratégia.

Impondo a paz pela violência

O PCC nos anos 90, desenhava sua identidade com traços de violência, como uma assinatura indelével. De acordo com o estudioso Dyna, a facção estabeleceu uma rígida política de punições extremas, assemelhando-se às práticas de suplício descritas por Foucault.

Os suplícios, essas punições visíveis e brutalmente violentas, desenhavam um teatro de horror cuja finalidade era reforçar a relação de poder. O soberano aqui era o próprio comando, não se restringindo a indivíduos, mas permeando a organização inteira, atingindo todos, membros ou não.

As mais chocantes manifestações desses suplícios incluíam a decapitação de membros de grupos adversários, ou a execução dos próprios irmãos por falhas graves. A meta era clara: afirmar o poder e a hegemonia do PCC em cada presídio onde tivessem presença.

A crueldade desses atos, entretanto, não era uma invenção do PCC. As raízes dessas práticas brutais já estavam fincadas no solo fértil do mundo do crime. Porém, foi com a ascensão do PCC no universo carcerário que esses suplícios foram incorporados, tornando-se um instrumento de correção e punição para aqueles julgados pelo grupo.

No entanto, outras marcas simbólicas são registradas, como olhos arrancados (dos traidores), cadeado na boca (delatores), coração arrancado (inimigos). Quando se tratava de ex-membros que ocupavam postos mais altos na hierarquia do PCC, se a situação permitisse, o condenado poderia escolher a forma de ser assassinado: como coisa ou verme (a golpes de faca), ou como homem honrado, ocasião em que o chamado kit forca, composto de lençol e banco para que se encarrega se da própria execução.

Camila Caldeira Nunes Dias

PCC nos anos 90: um fantasma oculto na sombra

A crescente organização dos encarcerados e sua exorbitante violência começaram a chamar a atenção, se tornando inescapáveis aos olhos do governo e da imprensa. Mesmo assim, havia uma espécie de cegueira deliberada por parte do Estado, que se recusava a reconhecer a existência de um grupo de detentos tão meticulosamente orquestrado.

No ano de 1995, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo desdenhou dos rumores, afirmando que a imprensa estava “vendo fantasmas” ao falar de uma tal facção criminosa chamada PCC. Contudo, era como se essas palavras servissem de estímulo silencioso, pois em 1997, a misteriosa organização criminosa emergiu das sombras, forçando a sociedade a reconhecer a sua existência e a legitimidade de seu Estatuto.

Como se desafiando o escárnio das autoridades, o PCC se movia, motivado por um ímpeto quase palpável para ser visto e entendido. Creio que Na visão essa era uma demonstração de orgulho e rebelião, características intrínsecas daqueles que se sentem marginalizados e ignorados.

O PCC dos anos 90 também sofreu uma metamorfose notável, substituindo uma hierarquia rígida e centralizada por postos mais fluidos. Neste sistema enigmático, um membro poderia assumir uma “responsa” e trocá-la de acordo com as necessidades ou conveniências, seja suas ou da facção, a qualquer momento e lugar. Talvez essa seja a verdadeira essência do mistério que rodeia o “PCC nos anos 90”, um sistema tão complexo que, quando as autoridades finalmente conseguem desvendá-lo, ele já se modificou.

A atmosfera tensa e carregada de mistério mas aparentemente contida como uma represa pelas muralhas dos presídios prevaleceu até que, nos anos 2000 , estouraram numa onda de mega rebeliões e ataques fora dos presídios. Aqui, o PCC emergiu das sombras, jogado sob os holofotes públicos como uma força a ser reconhecida. Uma reviravolta dramática que desmascarou a falsa segurança dos discursos políticos, forçando as autoridades a reconhecerem que não estavam no controle.

O Brasil e o PCC entram na era da comunicação celular

O pesquisador Eduardo Armando Medina Dyna recorda um fato notável que causou um impacto significativo e revolucionou o PCC na década de 90: a introdução de telefones celulares nas prisões de São Paulo.

Na década de 90, uma mudança silenciosa começou a reconfigurar a paisagem sombria das prisões de São Paulo. Como se guiado por algum código inescrutável, o PCC encontrou uma nova forma de tecer sua teia de influência: o celular.

Era quase mágico. Aqueles pequenos aparelhos, que cabiam na palma de uma mão, começaram a zumbir nas sombras, costurando conexões onde antes existiam apenas paredes de concreto. As notícias corriam pelos corredores lúgubres como correntes elétricas, com um poder invisível que transformava em questão de horas o silêncio dos presos em um murmúrio de inquietação.

Este novo mecanismo era o resultado do trabalho de David Spencer, um homem que outrora combateu a ditadura de Pinochet no Chile. Com a paciência de um mestre relojoeiro, ele ensinou o PCC a montar uma rede de comunicação tão engenhosa quanto um mecanismo de relógio, com peças móveis que se ajustavam e se realinhavam ao mínimo sinal de perigo.

Os telefones eram introduzidos nos presídios de maneiras quase inimagináveis. Cada celular era precioso, sendo introduzido sorrateiramente nas prisões, escondido nas partes mais íntimas dos corpos humanos. Era uma operação perigosa e humilhante, mas essencial para o funcionamento da máquina do PCC.

Com essa nova ferramenta, o PCC não era mais apenas uma organização, mas uma entidade viva, pulsante. Cada membro, independente de onde estivesse, estava ligado à entidade maior, contribuindo com uma parte de seus ganhos. Os que estavam em liberdade davam 500 reais por mês, os do semiaberto, 250 reais, e até os simpatizantes nas cadeias contribuíam com 25 reais. O PCC se tornou um organismo autossustentável, uma criatura nascida do desespero e alimentada pela necessidade, sempre pronta para adaptar, evoluir e sobreviver.

A chegada da nova tecnologia desencadeou um terremoto silencioso nas entranhas do sistema prisional de São Paulo. A ressonância desta transformação reverberava nos corredores frios das prisões, ecoando nas mudanças nas políticas e estratégias de gestão prisional. Viu-se a implementação do Regime Disciplinar Diferenciado, o RDD, uma resposta desesperada para tentar isolar as lideranças e restringir a comunicação que, agora, fluía livre como um rio subterrâneo.

Os complexos prisionais começaram a se expandir, espalhando-se como manchas de óleo pelo estado. A ideia era diluir a influência do PCC, dispersar os membros para enfraquecer a organização. Mas, como as autoridades logo descobririam, era como tentar segurar água nas mãos. O PCC já não estava apenas dentro das prisões, mas também fora delas. E agora, graças à tecnologia, estava conectado de uma maneira que ninguém poderia ter previsto.

Ironia e Paradoxo: As Falsas Promessas de Controle

Por algum motivo que escapa à compreensão, políticos, policiais e uma parcela considerável da imprensa nutriam a crença de que teriam sucesso em combater uma organização criminosa que nasceu no seio do sistema prisional, um monstro gerado para combater as injustiças da própria cadeia, ao aumentar o número de detentos e perpetuar a injustiça carcerária. Essa crença, impregnada de ironia e paradoxo, serve como um lembrete sombrio das complexidades que cercam o “PCC nos anos 90”.

Incrivelmente, graças a todos esses fatores, o “PCC nos anos 90” conseguiu estabelecer uma “paz entre os ladrões” nas prisões e transportar com sucesso o conceito da “moral do crime” para as ruas das periferias. Obteve visibilidade e reconhecimento público com a divulgação do seu Estatuto em 1997, e aprimorou seu sistema de hierarquia e gestão.

Contudo, ainda sob o manto do suspense, ocorreu uma mudança surpreendente. São Paulo experimentou uma redução drástica na taxa de homicídios, com uma queda de mais de 70% nos assassinatos. Esta mudança inesperada poderia apenas ser atribuída à presença cada vez maior do PCC e à disseminação do conceito da moral do crime. As ruas, antes palco de violência incessante, pareciam se acalmar sob sua influência.

E assim, ao final da década, a empresa – um empreendimento de meros cinco anos – já exibia sinais que atuava no cenário internacional com negociações expressivas:

Em fevereiro de 1998, por menos de 1 Real foi enviada de uma agencia do Correio de Campo Grande uma carta com informações de como funcionava o esquema montado pelo Primeiro Comando da Capital no Mato Grosso do Sul.

A carta que derrubou um esquema internacional da facção PCC

Governadores de São Paulo 1990-2000

15 de março de 1987 até 15 de março de 1991
estratégia violenta e repressiva de lidar com a criminalidade, foi a primeira grande ruptura na era democrática
Massacre do 42º DP – fevereiro de 89
Orestes Quércia

15 de março de 1991 até 1 de janeiro de 1995
massacre do Carandiru – 2 de outubro de 1992
desativação e demolição do Carandiru
política de interiorização e divisão dos presídios
fundação do PCC – 31 de agosto de 1993
Luiz Antônio Fleury

1 de janeiro de 1995 até 6 de março de 2001
criticou a ausência de direitos humanos nos governos anteriores e optou por políticas de negociação e patrulhas mais brandas
criação de vagas no sistema penitenciário como uma de suas principais ações políticas
Mário Covas

Primeiro Estatuto do PCC : história, análises e significados

Este texto detalha a criação do Primeiro Estatuto do PCC 1533, suas metas e valores, e como a organização enfrenta injustiças no sistema penitenciário paulista.

Primeiro Estatuto PCC, as palavras ecoam como um raio de luz sombrio, iluminando uma história entrelaçada com a luta pela justiça e dignidade em um ambiente de prisão. Me acompanhe nessa viagem tensa e carregada de ansiedade, um passeio pelas sombras das celas superlotadas, onde este documento histórico foi meticulosamente concebido.

A cada passo, descobrimos as motivações profundas do Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533), a batalha silenciosa que eles travam contra a opressão e injustiça dentro do sistema penitenciário paulista. Uma narrativa que se desdobra como um romance noir, onde as palavras do estatuto se tornam personagens de um enredo em que a sobrevivência, a solidariedade e a resistência são os temas centrais.

Pode-se ouvir a batida do coração da organização, pulsando nos artigos cuidadosamente traçados, cada um um manifesto de resistência, cada palavra um sussurro de desafio. Venha, leitor, descubra os segredos do Primeiro Estatuto do PCC, deixe-se envolver nesta saga de determinação e coragem, onde a luta pelos direitos dos encarcerados se torna uma história de suspense eletrizante.

Após a leitura, espero por seus comentários e reflexões. Deixe sua opinião no nosso site, compartilhe suas impressões nos grupos de leitores do WhatsApp ou envie uma mensagem privada para mim. Sua participação enriquece o debate!

Primeiro Estatudo do PCC: Pensado Palavra por Palavra

Era uma tarde tensa em um ambiente superlotado, quando Mizael, Sombra e outros detentos se reuniram em um espaço improvisado como escritório dentro de sua cela. O ar estava pesado, carregado de ansiedade e o barulho incessante da prisão abafava qualquer tentativa de silêncio. As paredes, desgastadas e marcadas, eram testemunhas da elaboração de um manifesto político que mudaria o destino de muitos. Com caneta e papel em mãos, delinearam 17 artigos bem definidos, meticulosamente pensados para servir de base para a coesão política de seu grupo.

O objetivo primordial era combater as mazelas do sistema penitenciário paulista, um ambiente opressivo, violento e desumano. Eles buscavam garantir os direitos básicos dos membros do PCC e suas famílias, lutando por justiça e dignidade. A cada palavra escrita, a cada linha traçada, sentiam que se aproximavam um pouco mais de seu objetivo.

No entanto, em 1997, o documento viria à tona, tornando-se público e causando alvoroço na opinião pública. As autoridades do governo paulista, encurraladas e desconfortáveis, tentaram desmentir a existência do estatuto, mas a verdade já havia escapado de suas garras, ganhando vida própria.

Primeiro Estatudo do PCC: Artigos de Solidariedade

  1. Lealdade, respeito, e solidariedade acima de tudo ao Partido
  2. A Luta pela liberdade, justiça e paz
  3. A união da Luta contra as injustiças e a opressão dentro das prisões
  4. A contribuição daqueles que estão em Liberdade com os irmãos dentro da prisão através de advogados, dinheiro, ajuda aos familiares e ação de resgate
  5. O respeito e a solidariedade a todos os membros do Partido, para que não haja conflitos internos, porque aquele que causar conflito interno dentro do Partido, tentando dividir a irmandade será excluído e repudiado do Partido.

No silêncio abafado da cela, os primeiros artigos do estatuto ganhavam vida. Traziam em suas linhas os ideais que deveriam ser a bússola de todos os membros: a luta incansável contra a desigualdade social, as injustiças e a opressão, inimigos tão presentes na realidade da população carcerária.

A solidariedade era o grito mudo que ecoava entre as palavras escritas, unindo os filiados da organização em um laço indissolúvel. Esse vínculo estendia-se além das grades enferrujadas, alcançando aqueles que, agora livres, caminhavam pelas ruas, carregando consigo o peso do passado e a esperança de um futuro melhor.

A ajuda mútua se manifestava de várias formas, sutis e diretas. Uma contribuição financeira aqui, um trabalho realizado ali, todos em prol da irmandade, formando um mosaico de tarefas econômicas e políticas que mantinham o coração da organização pulsando.

Desde o início, a centralização hierárquica era a espinha dorsal da estrutura política do PCC. Uma fortaleza edificada com o propósito de evitar fissuras internas que pudessem abalar a unidade política e a coesão do grupo. Um equilíbrio delicado, uma dança constante ao redor do abismo do conflito, onde a vigilância e a lealdade eram suas únicas defesas.

Assim, as páginas do estatuto se desdobravam, cada artigo um manifesto de resistência e determinação, um mapa para navegar nas águas turbulentas do sistema penitenciário, uma chama de esperança na escuridão opressiva da prisão.

Códigos de Ferro: Disciplina e Hierarquia na Facção PCC

  1. Jamais usar o Partido para resolver conflitos pessoais, contra pessoas de fora. Porque o ideal do Partido está acima de conflitos pessoais. Mas o Partido estará sempre Leal e solidário à todos os seus integrantes para que não venham a sofrerem nenhuma desigualdade ou injustiça em conflitos externos.
  2. Aquele que estiver em Liberdade “bem estruturado” mas esquecer de contribuir com os irmãos que estão na cadeia, serão condenados à morte sem perdão
  3. Os integrantes do Partido tem que dar bom exemplo à serem seguidos e por isso o Partido não admite que haja assalto, estupro e extorsão dentro do Sistema.
  4. O partido não admite mentiras, traição, inveja, cobiça, calúnia, egoísmo, interesse pessoal, mas sim: a verdade, a fidelidade, a hombridade, solidariedade e o interesse como ao Bem de todos, porque somos um por todos e todos por um.
  5. Todo integrante tem que respeitar a ordem e a disciplina do Partido. Cada um vai receber de acordo com aquilo que fez por merecer. A opinião de Todos será ouvida e respeitada, mas a decisão final será dos fundadores do Partido.

Nos corredores sombrios da organização, duas palavras ecoavam como um mantra: disciplina e punições. O sexto artigo do estatuto delineava com uma clareza brutal que o Primeiro Comando da Capital devia se sobrepor a qualquer forma de interesse individual que não buscasse o coletivo. Eles haviam estabelecido uma linha clara, e aqueles que ousassem cruzá-la, buscando lucrar à custa do partido ou abandonando suas funições para benefício próprio, seriam atingidos com as mais severas punições. A mentira, a traição, qualquer forma de quebra da aliança com o PCC, não seria tolerada.

A ideia de disciplina e punição não era nova, mas uma complexa técnica social, que Foucault detalhava em sua obra. A moralidade se entrelaçava com essas redes de sociabilidade, dando forma aos valores que os membros deveriam adotar em suas vidas cotidianas, ampliando essas teias sociais sob a supervisão vigilante do PCC.

O oitavo artigo era o fruto dessa intrincada rede de sociabilidade, unida pela disciplina e pela punição. A conduta exemplar que se esperava dos membros produzia uma espécie de legitimidade e aprovação moral, fortalecendo ainda mais o poder e a disciplina que permeavam a organização.

Assim, ações consideradas “imorais”, como assaltos entre os próprios presos, estupros e extorsões de presos mais poderosos, deveriam ser erradicadas. Antes da existência do grupo, tais práticas eram, infelizmente, comuns. O oitavo artigo, então, se tornou uma forte declaração contra os estupros, instaurando uma nova cultura política nos territórios dominados pelo PCC.

O décimo artigo lembrava a todos a necessidade de obediência dentro da estrutura disciplinar. A estrutura inicial do PCC, de caráter piramidal, garantia o “direito” dos componentes de falar e julgar em favor do partido, mas a decisão final e o poder sempre retornavam às mãos dos fundadores. Nessa divisão interna, havia os que mandavam, os “generais”, e os que obedeciam, os “soldados”. Uma clara divisão do trabalho, uma hierarquia incontestável.

Nesse sistema, o poder se manifestava sem disfarces, sem necessidade de mascarar a realidade. “Soldado”, “general”, os termos deixavam evidente a estrutura rígida e intransigente que governava cada membro, cada decisão, cada ação dentro do Primeiro Comando da Capital.

Lema e Legado: A Batalha Simbólica do PCC

  1. O Primeiro Comando da Capital PCC fundado no ano de 1993, numa luta descomunal e incansável contra a opressão e as injustiças do Campo de concentração “anexo” à Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, tem como tema absoluto a “Liberdade, a Justiça e Paz”.
  2. O partido não admite rivalidades internas, disputa do poder na Liderança do Comando, pois cada integrante do Comando sabe a função que lhe compete de acordo com sua capacidade para exercê-la.
  3. Temos que permanecer unidos e organizados para evitarmos que ocorra novamente um massacre semelhante ou pior ao ocorrido na Casa de Detenção em 02 de outubro de 1992, onde 111 presos foram covardemente assassinados, massacre este que jamais será esquecido na consciência da sociedade brasileira. Porque nós do Comando vamos mudar a prática carcerária, desumana, cheia de injustiças, opressão, torturas, massacres nas prisões.
  4. A prioridade do Comando no montante é pressionar o Governador do Estado à desativar aquele Campo de Concentração “anexo” à Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, de onde surgiu a semente e as raízes do comando, no meio de tantas lutas inglórias e a tantos sofrimentos atrozes.

O lema “Paz, Justiça e Liberdade”, outrora entoado pelo Comando Vermelho, agora ecoava nos corredores do PCC, um emblema de seus ideais e batalhas políticas. As linhas rígidas da unidade e disciplina, delineadas no estatuto inicial, foram forjadas para a preservação da organização, um escudo contra as injustiças, um grito silencioso contra novos massacres como o de 1992 no Carandiru. Eles lutavam por direitos básicos que lhes eram negados, direitos que pareciam evaporar ao cruzar as portas de ferro do sistema prisional.

Disciplina e punição, essas eram as ferramentas que mantinham o equilíbrio delicado do poder entre generais e soldados. Uma estabilidade necessária para evitar divisões dentro da organização. Se os presos não estivessem unidos por uma causa comum, o sistema prisional continuaria a triunfar, a manter seu status quo inabalado.

O décimo quarto artigo carregava um objetivo simbólico, mas ao mesmo tempo, incrivelmente palpável. A desativação da Casa de Custódia de Taubaté era um sonho, quase um mito, para os membros do PCC. Ali, onde tudo começou, onde a fama de ser uma das prisões mais violentas de São Paulo foi cimentada, eles desejavam provocar uma mudança. Expor os crimes de José Pedrosa, libertar as celas da tortura, essa era uma meta que se estendia além do simbólico, era uma meta que precisava ser alcançada.

O Juramento: Centralização e Aliança contra a Opressão do Sistema

  1. Partindo do Comando Central da Capital do QG do Estado, as diretrizes de ações organizadas simultâneas em todos os estabelecimentos penais do Estado, numa guerra sem trégua, sem fronteira, até a vitória final.
  2. O importante de tudo é que ninguém nos deterá nesta luta porque a semente do Comando se espalhou por todos os Sistemas Penitenciários do estado e conseguimos nos estruturar também do lado de fora, com muitos sacrifícios e muitas perdas irreparáveis, mas nos consolidamos à nível estadual e à médio e longo prazo nos consolidaremos à nível nacional.

    Em coligação com o Comando Vermelho – CV iremos revolucionar o país dentro das prisões e nosso braço armado será o Terror “dos Poderosos” opressores e tiranos que usam o Anexo de Taubaté e o Bangu I do Rio de Janeiro como instrumento de vingança da sociedade na fabricação de monstros.

    Conhecemos nossa força e a força de nossos inimigos Poderosos, mas estamos preparados, unidos e um povo unido jamais será vencido.

    LIBERDADE! JUSTIÇA! E PAZ!

    O Quartel General do PCC, Primeiro Comando da Capital, em coligação com Comando Vermelho CV
    UNIDOS VENCEREMOS

As sombras do cimento frio da cela pairavam sobre os homens que se reuniam, seus rostos tensos iluminados apenas pela fraca luz que se infiltrava pelas estreitas janelas. O ar estava espesso, carregado com a importância do que estava prestes a ser discutido. Os últimos dois artigos do estatuto – o coração da sua visão política – estavam em jogo.

A centralização do poder e a aliança com o Comando Vermelho eram questões cruciais, a essência que moldaria a identidade do Primeiro Comando da Capital. A figura do “bandido” estava em processo de evolução, de uma presença individual para um sujeito coletivo, uma nova forma de organização que se espalharia por todo o Brasil na década de 2000.

O PCC, desde o seu início, alimentava a visão de uma frente unida de organizações de presos contra o estado – um inimigo comum. O 17º artigo do estatuto delineou a esperança de uma coligação nacional entre o PCC e o CV, uma fortaleza que se estenderia além das fronteiras de São Paulo e Rio de Janeiro.

A desativação das penitenciárias Bangu I e Piranhão – dois ícones sinistros do sistema carcerário – era mais do que um objetivo prático; era uma declaração simbólica de intento. A mensagem era clara: unidade contra a injustiça, a desigualdade e a opressão.

O estatuto, revolucionário e inovador em sua época, representou uma rejeição coesa e organizada do falido sistema penitenciário. O PCC se tornou conhecido por seus rituais simbólicos, como o “batismo”, um rito de passagem que, apesar das mudanças ao longo dos anos, manteve seu objetivo fundamental: acolher novos membros na irmandade do Primeiro Comando da Capital.

A tensão na sala se dissipou, substituída por uma resolução silenciosa. As palavras finais do estatuto foram escritas, selando o compromisso de luta por paz, justiça e liberdade. Sob a luz fraca, esses homens haviam forjado um novo caminho, uma nova forma de resistência, cujas ondas ressoariam em todo o sistema penitenciário brasileiro.

Iniciação e Juramento: O Batismo no Submundo do PCC

Imagine-se na pele de um novato no Primeiro Comando da Capital, o temido PCC. O processo de admissão, longe de ser algo simples, requer a indicação de um padrinho, um membro já consolidado que lhe avalia e indica para a facção. A sua entrada não é uma questão de oferecer-se, mas sim de ser convidado. Uma vez convidado, a preparação para a entrada começa, sempre sob a vigilância atenta do padrinho.

E nesse universo, a interdependência entre o padrinho e o afilhado é crucial. Seu padrinho assume uma responsabilidade quase paternal por você e, caso cometa algum erro, é ele quem sofrerá as consequências até o final deste sinistro “ritual de passagem”. O laço que os une é reforçado por valores como lealdade, honestidade, confiança e a obrigação de seguir as regras da facção. Se conseguir respeitar estes princípios, você é admitido na organização.

A cerimônia de batismo é uma ocasião de gravidade sombria, onde o padrinho, o afilhado e um terceiro membro se reúnem. O novato deve proferir um juramento de lealdade, comprometendo-se a cumprir o estatuto, assumir responsabilidade e manter uma reputação respeitável no mundo do crime, para assim consolidar sua posição no universo do PCC.

O PCC tem sua própria linguagem, um código criado para reforçar o vínculo entre seus membros. Essa linguagem codificada cria novos laços de interdependência dentro e fora das prisões, e provoca uma profunda transformação do indivíduo durante o processo de batismo. Nessa transformação, um novo vocabulário nasce, um glossário do crime, se preferir, influenciado pela dura realidade do mundo do crime, conforme documentado meticulosamente por Feltran.

Uma vez admitido no PCC, o novato torna-se um “Irmão”. Não importa onde ou como ocorreu o batismo, em São Paulo ou em outra unidade federativa, dentro ou fora das prisões – uma vez batizado, será sempre um irmão. Tal como em qualquer organização, o PCC tinha a sua própria hierarquia no início, com os generais – os fundadores e líderes da organização – no topo, e os soldados – os membros da base que seguem as ordens dos generais – formando a coluna vertebral da facção.

Linguagem Codificada: A Semiótica do Submundo do PCC

Imagine-se agora imerso em um universo onde o vernáculo é tão estranho e específico quanto o ambiente em si. No mundo do PCC, os inimigos de facções rivais são denominados “Coisas”, enquanto os policiais militares, carcereiros ou qualquer outro agente de segurança pública são chamados pejorativamente de “Vermes”. Qualquer intruso que não pertence a este universo é designado como “Zé Povinho”.

Para entender melhor esta classificação peculiar, convém citar uma etnografia sobre o assunto: Segundo o sistema classificatório usado pelos presos, “irmão” é o termo usado para um membro batizado do PCC; “primo” se refere ao preso que vive em prisões do PCC, mas que não é membro batizado; “coisa” é o termo usado para os inimigos, que podem ser tanto presos de outras facções quanto funcionários da segurança pública. Aqueles que não pertencem ao mundo do crime, que não são irmãos, primos ou coisas, recebem a denominação pejorativa de Zé Povinho.

A terminologia estende-se ainda ao espaço territorial dominado pela “família” PCC. Os bairros periféricos são conhecidos como “quebradas”. Qualquer indivíduo, pertença ele ou não ao mundo do crime, reconhece o bairro de origem como “sua quebrada”. Esse local de pertencimento transcende as barreiras do espaço físico, carregando consigo costumes, hábitos, gírias e a nostalgia de suas origens. O indivíduo se orgulha de onde veio, tornando-se uma parte integral de sua identidade.

O glossário do PCC é vasto e pode ser encontrado em uma grande variedade de bibliografias. A semiótica dentro deste universo é vasta e complexa, proporcionando uma significação única que os indivíduos atribuem a determinados significados. Eles reinterpretam diversos procedimentos, normas e comportamentos, criando dialetos dentro do mundo da periferia que são incorporados ao mundo do crime e vice-versa. E assim, um novo mundo linguístico é forjado, tão complexo e fascinante quanto o próprio universo do PCC.

Baseado no trabalho do pesquisador Eduardo Armando Medina Dyna: “As faces da mesma moeda: uma análise sobre as dimensões do Primeiro Comando da Capital (PCC)”

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A Virada de Jogo rápida e a Nova Geração da Facção PCC 1533

Este texto traz uma análise das mudanças na mentalidade da nova geração do Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533), focando no conceito da “virada de jogo” no mundo do crime.

“Virada de jogo”, mano, é o que tá rolando na mentalidade da nova geração do Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533). Aquele mundo do crime que a gente conhece tá sendo reescrito por essa molecada que já tá chegando nos cargos de comando.

Não é mais só o corre das droga, a parada agora é ainda mais cabulosa. Esses moleques tão moldando o futuro do PCC e, mano, do nosso Brasil também.

Então, bora entender essa “virada de jogo”? Vem com a gente nesse papo reto e descubra como a nova geração do PCC tá mudando as regras do jogo.

A Virada de Jogo no PCC: Uma Nova Mentalidade

Cinco anos atrás, Evando Cruz Silva me mostrou a real da molecada do corre do Primeiro Comando da Capital. Naquele tempo, pré-pandemia e pré-Bolsonaro, a coisa era outra. Mas as histórias que ele trouxe ainda tão ligadas à realidade e mostram como a virada de jogo na mentalidade das novas gerações, que já tão chegando nos cargos de comando, difere da visão dos fundadores da facção.

Clareza aos nossos objetivo, que as metas ativem a consciência de todos, não queremos regalias mas sim um sistema humanizado para um futuro melhor para toda a sociedade, pois nossas famílias, nossos filhos, assim como as famílias e filhos de todos aqueles que estão fora dos muros depende do respeito aos nossos direitos.

Mas o nosso sacrifícios é pela consciência da nossa luta, e que tem o significado de tudo por que lutamos e acreditamos que esse significado é pela mais bela prova de amor, a liberdade, coragem e crença pela luta.

Cartilha de Conscientização da Família 15.3.3

Cinco anos, irmão, pode parecer nada, mas no mundo do crime é uma eternidade. A virada de jogo é rápida. Os líderes caem, os moleques sobem, trazendo uma nova visão pro crime organizado. Evando já tinha visto essa mudança, e agora o que ele falou faz sentido. Entender essa virada de jogo rápida é chave pra ver o presente e futuro do PCC e da sociedade brasileira.

Evando mandou o papo de como tá ligada a perifa, o corre e o mundo do crime em São Paulo. E a letra que ele soltou sobre a virada de jogo no comando da organização criminosa PCC é o que tá mantendo a facção viva e forte nas últimas três décadas. A ideia é essa: bora captar a nova fita dessa molecada no tráfico e do “proceder”, o código que dá a diretriz nas quebrada?

Virada de jogo: líderes vão, proceder fica

O mano sacou a real: PCC tá numa virada de jogo, os cria mais nova tão pegando os bagulho de comando, tá reinterpretando o “proceder”, esse é o norte moral do Comando. Essa visão ele pegou de papo reto com a molecada que passou pelo socioeducativo de São Paulo entre 2014 e 2016.

Então, as ideias de Evando ainda ecoam hoje, descrevendo a evolução do PCC e a molecada do corre. Essa virada de jogo, essa transformação, é o que vai moldar o futuro do PCC e do nosso Brasil.

No rolê dos anos 2010, o Primeiro Comando da Capital tava expandindo o domínio. Não só fechando negócios internacionais, mas também buscando poder político e burocrático. Nessa mesma época, a fala nas quebradas era de um corre desenfreado, um caos nas comunidades periféricas, ligado à molecada nova que tava entrando no crime.

Essa molecada do corre, como são conhecidos, entraram no nosso radar. Tão no front de batalha urbano do crime, vendendo drogas nas esquinas, dando canseira na polícia, sendo presos, revistados, presos e mortos.

Molecada dos corres: fundamentos e desafios

No mesmo compasso, é essa molecada do corre que faz o estado perder a mão nas quebrada, cravando a bandeira do PCC nos becos e nas mente da perifa. E agora, esses crias tão puxando uma nova virada de jogo na pegada da facção PCC, que tá expandindo o domínio, trocando a ideia, entrando em outros corres.

Por aqui, “nova geração” é mais que um número na certidão. É vivência tecida socialmente, entrelaça cor, classe, gênero, território e as oportunidades que o destino joga. Essa molecada encara dois fundamentos da vida no crime: o trampo das droga e os códigos de conduta que comandam esse rolê.

Entendendo o corre das droga e o tal “proceder” fica claro, que a vivência da nova geração tá mudando o jogo. Mira nos moleque de 12 a 21 anos, que já rodaram ou tão na contenção, lá no interior de São Paulo. Eles tão no epicentro dessa “virada de jogo” no crime, e no Primeiro Comando da Capital.

A velocidade da vida faz o jogo mudar rápido, o que a molecada fala hoje, vai ser o que precisamos pra sacar o tráfico, o crime e o “proceder” do PCC daqui pra frente.

Quando o PCC tava crescendo (anos 1990-2000), o comando virou um norte de conduta e oportunidade pros cria da periferia de São Paulo. Mas o jogo não para, nunca para. Com os irmão do PCC agora nos corres internacionais, a nova geração já pensa diferente dos fundadores.

Essa “virada de jogo”, cheia de mistério, é o que a gente tem que desenrolar pra entender o futuro dos cria e do Primeiro Comando da Capital nas quebrada e na sociedade do Brasil.

Baseado no trabalho de Evando Cruz Silva: Molecada no Corre: Crime, geração e moral no Primeiro Comando da Capital

Conexão Teresina: o Submundo da Facção PCC 1533 no Nordeste

Em “Conexão Teresina”, William Luz nos leva a uma jornada intensa e sombria pelo mundo do Primeiro Comando da Capital, contando a história de um ex-membro em busca de redenção no Piauí, enquanto lida com a expansão da facção no Nordeste e um amor proibido que pode desencadear uma guerra.

“Conexão Teresina” é um romance policial pulsante que te envolve no submundo do Primeiro Comando da Capital (Facção PCC 1533) no Nordeste. Não perca essa história arrebatadora, inspirada em fatos reais.

Desvende as Profundezas do Primeiro Comando da Capital em “Conexão Teresina”

Prepare-se para mergulhar no intrincado mundo do Primeiro Comando da Capital com “Conexão Teresina: uma crônica sobre a atuação do PCC no Piauí”, o novo lançamento de William Luz.

A facção PCC é um dos grupos criminosos mais temidos e enigmáticos do Brasil, e nesta obra de ficção inspirada em eventos reais, você será levado ao âmago de sua ação, onde amor, ódio, vingança e violência se entrelaçam em uma trama cativante.

Acompanhe a vida de Marcos Lengruber, um ex-integrante do PCC que fugiu para Teresina, Piauí, após os violentos ataques da organização em São Paulo em 2006. Agora, enquanto tenta reconstruir sua vida, o passado volta para assombrá-lo, quando um ex-parceiro de crime é enviado para liderar a conexão Teresina do PCC, que está em plena expansão pelo Nordeste.

Amor, ódio e vingança: a história humana por trás do crime organizado

Ana, uma bela teresinense, se encontra entre esses dois parceiros de crime, agora em lados opostos, dando ainda mais intensidade a esta história de amor, ódio e vingança.

O autor William Luz, ao descrever a violência como uma instituição tão natural quanto a própria vida humana, nos lembra que, apesar da brutalidade, a humanidade tem a capacidade de sobreviver e evoluir. E é exatamente isso que ele faz através de sua escrita – uma crônica de sobrevivência e evolução, inspirada em fatos reais.

“Conexão Teresina” é mais do que apenas um romance policial. É um vislumbre perspicaz e corajoso da realidade do crime organizado no Brasil, e um testamento de como o PCC, nascido nos presídios de São Paulo, conseguiu se espalhar por todo o país, corrompendo policiais, juízes e políticos pelo caminho.

O PCC no Nordeste: Uma conexão perigosa

Entre no mundo do PCC e testemunhe em primeira mão a expansão da facção pelo Nordeste. Adquira “Conexão Teresina: uma crônica sobre a atuação do PCC no Piauí” da Editora Clube de Autores hoje mesmo. Prepare-se para uma jornada que você não esquecerá tão cedo.

Segregação Urbana e Segurança Privada e a Facção PCC 1533

Na real? A cidade tá fatiada, com o Primeiro Comando da Capital (Facção PCC 1533) na jogada. Segregação Urbana e Segurança Privada é o que sustenta essa parada. Vamos desenrolar essa fita?

Segregação Urbana e Segurança Privada, e como essa zica cai no colo da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533). Vamo entender essa parada juntos, tá ligado? Cola nesse papo reto.

Entre Muros e Câmeras: O Papel do PCC na Segregação Urbana e Segurança Privada

Mano, saca só essa ideia que eu tive lendo um trampo do mano Dyno. Ele deu a letra sobre o Primeiro Comando da Capital, a facção PCC 1533. Essa organização criminosa é tanto causa quanto consequência do que tá rolando nas quebradas. O medo do crime, a segurança privada aumentando, a segregação espacial… Tudo isso tem o dedo do PCC, tá ligado?

Mas não para por aí, não. A desigualdade social, o preconceito com o “bandido”, e o crescimento de Sampa, também alimentam a força dessa organização. Então é isso, mano. Se liga nessa parada, e depois chega junto pra trocar uma ideia, seja aqui no site, nos grupos de leitura ou no privado. Tamo junto!

O PCC e o Negócio da Segurança Privada

Segurança privada e negócio rentável: A real é que o Primeiro Comando da Capital, tá causando um corre dos cidadãos pra segurança privada. A fita é o seguinte: o medo do crime, que a organização criminosa PCC espalha, cria um mercado firmeza pra essas empresas de segurança privada, tá ligado?

Mano, tem mais fita nessa história. Os caras que controlam essas empresas de segurança, na maioria das vezes, têm algum tipo de ligação com os homens da lei ou os milicos. E aí, irmão, esses mesmos aí podem ter conexão, conhecimento e até investimento de integrante de organização criminosa.

Fica naquela, né? Difícil saber onde começa ou onde termina a influência da facção Primeiro Comando da Capital nessas empresas, pois ninguém vai anunciar isso no cartão de vizita, né não. Será que não tem empresa mutretada com os irmãos? Quem pode dizer? Eu é que não sei de nada, e muito menos o mano Dyna.

No final das contas, a parada é um ciclo vicioso: as organizações criminosas alimentam o medo, o medo alimenta a segurança privada, e a segurança privada, de um jeito ou de outro, acaba alimentando o crime organizado. Essa é a real do bagulho, irmão.

Desigualdade Social e Espacial: O Terreno Fértil do PCC

Desigualdade social e espacial: Sabe de onde vem o PCC, o Primeiro Comando da Capital? Vem das quebradas e dos presídios de São Paulo, lugares onde a desigualdade social e a divisão espacial cortam mais fundo que faca de dois gumes.

Por que você acha que isso acontece, irmão? Porque a falta de oportunidade, o peso da pobreza e a dor da exclusão, mano, fazem a mente dos manos, tá ligado? E é nesse chão duro, nessa realidade brutal, que o PCC encontra os seus soldados, os seus guerreiros e até, seus cliêntes e suas vítimas.

A desigualdade, a pobreza, a falta de oportunidades, só aumentam, formando um círculo vicioso, um ciclo sem fim. O PCC se alimenta da desigualdade e, em troca, a desigualdade se alimenta do PCC. É uma parada complicada, mano, mas é a nossa realidade na cidade de concreto.

Condomínios Fechados e o Refúgio dos Privilegiados

Condomínios fechados e segregação espacial: o Primeiro Comando da Capital, tem causado terror e o resultado disso? A galera fica com medo, sacou? E essa parada de medo faz o que? Empurra a elite pra dentro de condomínios, com segurança particular e o escambau.

Mas vai vendo, será mesmo? Pode ser que não seja isso não, pode ser que estejam querendo distância de pobre, porque não querem se misturar ou só prá cantar garganta que mora em condomínio. Até o final eu explico essa fita.

Aí o que acontece, camarada? Esses “enclaves fortificados”, como tão chamando, pipocam por toda a cidade e por todas as cidades. Por que? Porque esse medo do crime, muitas vezes ligado ao PCC, tá levando a rapaziada pra esses lugares, entendeu?

E isso só aumenta a segregação, a divisão entre nós e eles.

No final das contas, meu bom, o PCC e essas outras organizações criminosas tão afetando até onde a gente mora e com quem a gente se relaciona, sacou? E isso, mano, é só mais uma prova de como a desigualdade e a segregação tão cravadas na nossa sociedade.

Mas aí, será que é verdade que o PCC e o crime organizado têm essa influência toda no crescimento dos condomínios, ou isso também é coisa da nossa cabeça?

Pensa bem, em São Paulo, onde o PCC domina, o número de homicídio nunca foi tão baixo, e a taxa de criminalidade tá em queda há décadas. Além disso, já na década de 80, alguns municípios tavam criando leis pra proibir os condomínios que tavam se espalhando pelas cidades, e nem tinha crime organizado nessa época. Faz a gente pensar, né não

A Estigmatização do ‘Bandido’ e a Sombra do PC

A mídia e a opinião pública tão sempre prontas pra marcar o “bandido”. E quando marca, o “bandido” deixa de ser gente, sacou? Mas isso muda, tá ligado? Muda quando o “bandido” é da nossa família, ou alguém que a gente admira, convive. Essa parada só alimenta o medo. E esse medo, mano, só nos faz se fechar ainda mais.

Lembra daquele presidente, né? O que falava que não tinha que ter idade mínima pra prisão, que moleque de 14 anos devia responder como adulto? Então, quando o moleque dele, o Renan, o 04, foi acusado de crime, ele virou a casaca. Falou que “o moleque tem 24 anos, vive com a mãe, ninguém conhece ele”. E ainda pediu pra deixar o menino em paz. Quando a fita apertou pra ele, disse que não ia esperar a polícia “foder a minha família”, e mudou o chefe da polícia. Ele e os filhos, mano, não são pobres, então, não são “bandidos” que precisam ficar fora das muralhas dos condomínios.

Por isso, irmão, esse medo que justifica um monte de medida de segurança mais pesada não é contra os criminosos, os bandidos, mas sim contra nós, os pobres. E é nessa fita que o estigma existe. Quanto mais o Primeiro Comando da Capital, o PCC, é citado, mais a galera se fecha, mais a segurança aumenta. É um ciclo vicioso, tá ligado?

Mas, pensa bem, será que essa estigmatização é toda culpa do PCC? Ou será que é a sociedade que tá pronta pra apontar o dedo pro “bandido” e reforçar essa narrativa? É de se pensar, né não? No final das contas, a gente tá no meio dessa confusão toda, só tentando sobreviver.

São Paulo: A Evolução de uma Cidade e o Crescimento do PCC

Urbanização e evolução de São Paulo: a cidade tá sempre mudando, tá ligado? E com ela, o Primeiro Comando da Capital, também. À medida que a cidade foi crescendo, a população aumentando, principalmente nas quebradas, na periferia, o PCC foi se espalhando.

São Paulo, irmão, se expandiu, mas não foi pra todos. As comunidades periféricas, onde a facção PCC tem força, ficaram pra trás. E aí, saca só, a segregação urbana só aumenta. A cidade cresce, mas a divisão entre a gente e eles, os ricos, só fica mais forte.

E os ricos, mano, eles se trancam em seus condomínios, com segurança privada e tudo. E a gente? Fica do lado de fora, sob o comando do grupo criminoso PCC. A segurança deles aumenta, e a nossa, como fica?

No fim das contas, irmão, a presença do Primeiro Comando da Capital nas quebradas, tá ligado, só mostra como a desigualdade e a segregação tão enraizadas na nossa cidade. E aí, enquanto eles ficam seguros atrás de seus muros, a gente tem que se virar. É de se pensar, né não?

Aquele salve pro pesquisador Eduardo Armando Medina Dyna, que é o responsa por passar essas fitas todas pra mim. Se tiver chance, dá uma conferida nos corres dele, mano, porque é de lá que vem a ideia reta.

Marketing: Análise do Estatuto da Facção PCC 1533 — 7ª parte

O texto explora o Estatuto do PCC, analisando como estratégias de marketing são utilizadas para criar um senso de identidade e propósito, e como a organização responde às adversidades, moldando-se em meio a desigualdades e o sistema prisional.

Marketing: Será que a estratégia de divulgação da marca Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533) ao abrir seu estatuto ao público foi positiva? Uma leitura intrigante e esclarecedora.

Estrutura e Organização: O Marketing da Ordem no Caos

Análisar o Estatuto do PCC, na perspectiva de marketing me pareceu ser importante, pela abrangência, respeito e sucesso obtida pela marca “Primeiro Comando da Capital – Facção PCC 1533“.

O documento, claramente foi não foi criado para o público geral e teve como seu público-alvo:

  1. Irmãos e companheiros do PCC: aos quais o estatuto fornece orientações claras sobre o comportamento esperado, a hierarquia a ser seguida, as responsabilidades de cada membro e as consequências de não cumprir as regras.
  2. Potenciais integrantes: estatuto também serve como um documento de orientação para aqueles que estão considerando ingressar na organização. Define claramente o que se espera dos membros, o compromisso necessário e o sistema de valores do PCC.
  3. Membros de outras facções e organizações: Embora não seja o público-alvo principal, o estatuto também envia uma mensagem para outras facções e organizações sobre a estrutura, as regras e os princípios do PCC.

Solidariedade e Identidade Coletiva: A Construção de um Pertencimento

Para o público a que se destinou, o documento é perfeito, tanto na linguagem utilizada quanto no conteúdo. Aparentemente, a intenção era propagar alguns de seus ideais.

  • Solidariedade e responsabilidade coletiva: O estatuto promove a solidariedade e a responsabilidade coletiva entre os membros do PCC, estabelecendo normas e valores que reforçam a cooperação e a lealdade mútua. Essa ênfase na solidariedade e na responsabilidade coletiva pode ser conectada aos pensamentos do comunitarismo e o marxismo, que defendem a importância das relações sociais e da colaboração na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
  • Ética e moralidade: O estatuto estabelece princípios éticos e morais que devem guiar o comportamento dos membros da organização, como a verdade, a fidelidade, a lealdade e a solidariedade. Esses princípios refletem uma preocupação com a conduta moral e a construção de um sistema de valores alternativo ao sistema prisional e à sociedade em geral. A discussão sobre ética e moralidade no estatuto pode ser relacionada a teorias filosóficas como o deontologismo e o consequencialismo, que buscam fundamentar princípios éticos e morais.
  • Conflito e resistência: O estatuto apresenta uma visão de mundo marcada pelo conflito e pela resistência, posicionando o PCC em uma luta contra a opressão e a injustiça. Essa perspectiva pode ser associada a tradições filosóficas como o materialismo dialético e a teoria crítica, que abordam a dialética entre opressão e resistência e buscam compreender as dinâmicas de poder e dominação na sociedade.

No entanto, em determinado momento, a cúpula da organização criminosa optou por divulgar seu Estatuto ao público externo ao mundo do crime. Diante dessa decisão, surge uma questão: Será que a escolha foi positiva?”

A percepção social derivada da leitura do Estatuto do PCC

Das ruas das periferias aos ambientes acadêmicos, o resultado foi positivo. Apesar do documento cimentar a visão em grupos que já eram radicalmente contra a percepção de qualquer tipo de humanidade entre os criminosos, o Estatuto apresentou a organização como um grupo com finalidades política e social.

Não analiso aqui a correção ou não do papel representativo da facção criminosa, apenas o resultado prático da apresentação do Estatuto como uma jogada de marketing para justificar suas ações dentro e fora dos presídios.

Cabe lembrar também o momento histórico em que a organização foi criada e divulgou seu Estatuto. Estávamos vivendo um período de redemocratização após o fim do Regime Militar, com a aprovação recente da ‘Carta Magna Cidadã’, a Constituição Federal de 1988. A sociedade fervilhava com grandes debates sobre a função social do estado, a violência policial e os direitos humanos.

A organização em busca da Paz, da Justiça e da Liberdade

A repetição de frases como “liberdade, justiça e paz” e “juntos venceremos” no Estatuto do Primeiro Comando da Capital sugere que os autores do documento estavam tentando estabelecer um senso de identidade e propósito compartilhado entre os membros do PCC.

Com o passar do tempo, essa estratégia provou ser extremamente bem-sucedida, com a sigla PJLIU, representando “Paz, Justiça, Liberdade, Igualdade e Unidade“, tornando-se um emblema cobiçado nas comunidades periféricas. Isto é verdade não apenas no universo criminal, mas também entre os jovens das classes média e alta, embora em menor número. Estes indivíduos, apesar de serem poucos, possuem uma influência política e social significativa.

O Estatuto do PCC também revela uma organização que busca estrutura, coesão e identidade coletiva em resposta às condições adversas do sistema prisional e às desigualdades sociais mais amplas. Através do estabelecimento de regras, princípios e objetivos, a facção PCC busca criar um senso de ordem e propósito entre seus membros, enquanto também se posiciona como uma força de resistência contra a opressão e a injustiça.

A Construção de uma Identidade Coletiva: O PCC contra o Mundo

O estatuto do PCC tenta estruturar seus membros. Estabelece regras, princípios e metas. Isso é uma resposta ao caos prisional. A falta de ordem é um problema frequente. A demonstração de organização foi estratégica. Reforçou a imagem da facção perante o público.

O documento cria consciência de classe entre os presos. Identifica-os como vítimas de injustiças. Essa visão incentiva a luta coletiva contra a desumanidade prisional e a desigualdade social. Assim, o estatuto se tornou uma ferramenta de marketing.

O estatuto retrata um conflito contra o Estado e as autoridades prisionais. Isso legitima as ações do PCC, retratando a organização como uma força de resistência. Esse ponto de vista, de resistência contra a opressão, inspirou grupos e criou a imagem da luta de Davi contra Golias.

Também forneceu argumentos para a defesa de uma legitimidade social do grupo. Desta forma, a solidariedade e a lealdade entre os membros cria uma identidade coletiva, um mecanismo de coesão social. Essa identidade fortalece a capacidade dos presos de enfrentar adversidades, o que foi percebido pelo público externo.

O documento faz com que cada criminoso se sinta parte de algo maior. Portanto, este é um exemplo de marketing eficaz, amplificando a ameaça e o poder da organização.

O estatuto de 1997 cita a aliança com o Comando Vermelho, sugerindo uma estratégia de expansão e cooperação. Tais alianças respondem à repressão estatal e ao impulso de reforçar a organização. Porém, essa menção desapareceu no estatuto de 2007. Contudo, em seu início, a então pouco conhecida marca paulista vinculou sua imagem à temida organização criminosa carioca, absorvendo parte do sucesso dessa marca.

A cultura do PCC: O Marketing da Sobrevivência

O documento estabelece valores morais e éticos e desenvolve práticas de respeito a comunidade dentro e fora das muralhas, enfatizando a lealdade de seus integrantes, o que juntamente com a expressa uma cosmovisão que posiciona o PCC como uma força de resistência. O uso de termos como “liberdade”, “justiça” e “paz” transforma a luta do PCC em uma causa simbólica, garantiu um grande resultado midiático.

Portanto, a decisão das lideranças da organização de tornar público o documento teve fatores positivos e que se estendem até hoje, tanto pela construção, mesmo que errônea, de uma estrutura organizada e justa, quanto pelo espaço ganho na mídia.