Morre Pé Quebrado, mas quem são esses integrantes do Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533) e o que ele estaria fazendo na fronteira do Mato Grosso com a Bolívia?
Morre Pé Quebrado: os últimos acontecimentos envolvendo o Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533) e a guerra entre essa facção e o Comando Vermelho (CV) no estado do Mato Grosso.
Inicialmente, é importante entender que a sintonia do “Pé Quebrado” do PCC é responsável por eliminar inimigos da facção e manter a disciplina, conforme o Dicionário do PCC e o Estatuto do PCC. Recentemente, um homem identificado como Davi, integrante do PCC, foi morto em confronto com a Polícia Militar em Mirassol D’Oeste, Mato Grosso.
A pequena cidade de Mirassol D’Oeste não é rota do tráfico internacional, no entanto, fica há 79 quilômetros de Cáceres, a última cidade brasileira antes de acessar a BR-70 para chegar a fronteira com a Bolívia, tornando assim, Mirassol como um refúgio estratégico para o Primeiro Comando da Capital.
Acredita-se que ele estava na região para matar integrantes da facção inimiga Comando Vermelho. Segundo informações, Davi e um comparsa de 19 anos estavam efetuando disparos em uma área rural quando foram surpreendidos pelos policiais. Armado, Davi atirou contra os militares e acabou alvejado.
Antes desse episódio, Davi já havia tentado matar sua ex-namorada e o atual companheiro dela em um bar na avenida Tancredo Neves em Mirassol D’Oeste. Entretanto, o revólver falhou, e Davi fugiu após agredir a ex com socos e chutes na cabeça. Ele também tentou atirar no namorado da ex, mas a arma falhou novamente. (veja o vídeo)
O assassinato do CV em Cuverlândia
Além disso, Davi, seu comparsa de 19 anos e um terceiro criminoso, são suspeitos de assassinar Denilson, suspeito de integrar a organização criminosa rival, em Curvelândia à apenas 24 quilômetros de Mirassol D’Oeste. O comparsa de 19 anos que foi preso afirmou que Davi esta na região para combater o Comando Vermelho.
O homem foi morto com diversos disparos na mesma noite na qual Davi tentou matar sua ex-mulher e seu companheiro. Testemunhas relatam que os assassinos chegaram em uma moto vermelha e ordenaram que as vítimas entrassem na casa. Em seguida, efetuaram vários disparos contra elas.
Ademais, Davi e seu comparsa teriam roubado uma espingarda em São José dos Quatro Marcos, a 13 quilometros de Mirassol, o que demonstra que o criminoso atuava não apenas no município, mas em toda a região.
Celular denuncia Tribunal do Crime da facção PCC após a descoberta de filmagem crucial em aparelho de integrante, esclarecendo um assassinato ocorrido há mais de um ano no Paraguai e cujo corpo foi encontrado na Argentina.
Celular denuncia Tribunal do Crime. Descubra como a filmagem de um aparelho celular levou à captura de um Pé Quebrado (Disciplina do PCC) graças à cooperação das polícias da Argentina e do Paraguai.
Celular denuncia Tribunal do Crime: mas qual foi o crime cometido:
O celular de Emanuel Eduardo, membro do Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533), foi apreendido pela polícia Argentina quando ele foi flagrado em 15 de fevereiro de 2023, durante uma operação policial na Rota Nacional 14, em San José, província de Misiones, Argentina.
No entanto, a prisão ocorreu porque ele apresentou um documento falso em nome de Julio Ariel Rodríguez, além disso, a polícia encontrou uma pistola calibre 9mm da marca Glock com 16 projéteis em sua posse.
Tato ou Liba, como ele é conhecido no mundo do crime, manteve em seu aparelho celular a única evidência que poderia ligar ele a um assassinato no Paraguai há mais de um ano: a gravação mostrava o momento em que ele executava Ever com 30 facadas.
Ever Alfredo, um cabeleireiro que residia no bairro Fortín Toledo em Ciudad del Este, no Paraguai, já havia sido preso com dois quilos de cloridrato de cocaína em 2011. Ele mencionou que iria cortar o cabelo de um cliente e saiu de casa em um veículo branco no dia 24 de janeiro de 2021.
Dias depois, o corpo de Ever Alfredo foi encontrado a 30 quilômetros de distância, boiando no Rio Paraná, do outro lado da fronteira, no bairro Santa Rosa, em Puerto Iguazú, na Argentina.
O celular denuncia Tribunal do crime, e é a prova de sua ligação com o brutal assassinato de Ever. Se não fosse pela filmagem encontrada em seu telefone e pela cooperação entre as autoridades argentinas e paraguaias, Tato, membro do Primeiro Comando da Capital, certamente continuaria impune.
Agora, as autoridades argentinas cooperaram com seus homólogos paraguaios, trocando informações relacionadas ao caso. O promotor Luis Trinidad acusou Tato e exigiu sua extradição. Enquanto isso, a Justiça argentina abriu uma investigação contra ele pelo suposto ato punível de uso de documento adulterado ou falso.
No entanto, ainda resta a pergunta sem resposta: Será que Ever Alfredo foi morto pelo integrante do Primeiro Comando da Capital devido à sua ligação ou negócios com uma organização criminosa rival, por dívida de drogas ou algum tipo de traição?
Em um ambiente sombrio, o Investigador Moacir Cova enfrenta acusações de tortura para obter depoimentos no caso do assassinato de Salvador Luiz. Apesar dos esforços para derrubar o investigador, a gravação das confissões desmente as acusações e os acusados Hildo e Evandro são condenados.
O Investigador Moacir Cova e o Caso das Sombras foi um dos primeiros que acompanhei pessoalmente envolvendo o policial e o Primeiro Comando da Capital.
O Investigador Moacir Cova enfrenta acusações sombrias
A atmosfera era densa e sombria na Corte do Tribunal do Júri em Itu, onde almas atormentadas se reuniam para julgar o destino de dois homens acusados de matar um talarico no Jardim Aeroporto para cumprir um decisão do Tribunal do Crime da Facção PCC 1533.
1. Ato de Talarico: Quando o envolvido tenta induzir a companheira de outro e não é correspondido, usa de meios como, mensagens, ligações, ou gestos. Punição: exclusão sem retorno, fica a cobrança a critério do prejudicado e é analisado pela Sintonia.
Entre as sombras, pairava o fantasma do Investigador Moacir Cova, uma figura enigmática que perseguia os criminosos com a determinação implacável de um demônio.
Hildo e Evandro, os acusados, temiam a força policial, mas era a presença assustadora de Moacir Cova que os mantinha acordados à noite.
A Tristeza de Um Homem Acusado
Hildo, um homem adulto assombrado pelo medo de apanhar, era perseguido pelo investigador devido ao seu passado negro.
Ele e Evandro, acostumados a enfrentar tempestades, encontraram-se presos no olho de um furacão quando foram acusados de assassinar Salvador Luiz.
O sucesso de sua defesa dependia de convencer o júri de que Moacir Cova forçou depoimentos incriminatórios por meio de tortura.
As Acusações Sombrias
Um garoto de treze ou catorze anos e Pâmela, a vizinha da vítima, acusaram Moacir Cova de torturá-los para conseguir suas confissões.
Mas o investigador, astuto como um corvo, apresentou um CD com a gravação do interrogatório que desmentiu as acusações.
A tentativa de derrubar o homem que penetrara em cada canto sombrio de Itu falhou miseravelmente.
A Farsa dos Pais e a Queda dos Acusados
Os pais de Hildo e Evandro, com históricos criminosos ligados ao Primeiro Comando da Capital, tentaram dar credibilidade aos depoimentos dos filhos.
No entanto, durante o Tribunal do Júri, fatos emergiram, ligando os pais a práticas ilegais no passado e derrubando sua credibilidade.
O promotor de justiça Dr. Luiz Carlos Ormeleze desmascarou a trama familiar, enquanto Moacir Cova apresentou provas irrefutáveis de sua própria inocência.
O advogado Dr. José Maria de Oliveira lutou bravamente pela defesa de seus clientes, mas, diante das provas apresentadas por Moacir Cova, a condenação foi inevitável.
O investigador, por sua vez, negou ter cometido qualquer ilegalidade e afirmou que o garoto, Pâmela e outras testemunhas foram procurados por um advogado de defesa para mudarem seus depoimentos e acusá-lo, na tentativa de desacreditar o processo.
O Legado de Moacir Cova
Muitos tentaram em vão derrubar aquele homem, mas o Investigador Moacir Cova permaneceu impávido em face às trevas.
Hildo e Evandro, agora condenados, têm ainda mais razões para temer e odiar a força policial, mas, acima de tudo, o homem que os condenaram.
O talarico de onde estava, podia contemplar a sinistra beira do precipício, o qual seria seu destino final.
Cada passo dado pelo pobre coitado o aproximava cada vez mais da sua derradeira sentença. A realidade macabra se impunha sem piedade.
O infeliz Lelé, um sujeito de Mirassol D’Oeste, no Mato Grosso, já havia enfrentado inúmeros momentos de tensão em seus trinta anos de existência.
Mas, Lelé confiava em sua astúcia para salvá-lo do juízo final. A facção criminosa PCC 1533 não colocaria os seus olhos nele.
Além disso, ele sabia como ninguém como lidar com as regras do Primeiro Comando da Capital — no mundo do crime ele nadava com um peixe na água.
Não seria graças às acusações feitas por um tal de Beleza que ele morreria.
Primeiro ele precisaria estar sempre um passo à frente do inimigo e usar táticas que possam desestabilizar sua influência ou elimaná-la.
O uso de agentes infiltrados
E foi assim, com uma informação recebida de um chegado seu no lava-jato de propriedade do o impiedoso Disciplina irmão Narizinho, que soube que Beleza marcara um encontro para entregá-lo ao Tribunal do Crime do PCC.
Analisou qual o ponto mais fraco para agir. Jamais poderia se contrapor ao irmão Disciplina ou ao Tribunal do Crime. O ponto fraco era justamente o acusador: o Beleza.
Lelé, contudo, não assistiria de braços cruzados à sua própria queda, empurrado pelas mãos vingativas de Beleza por uma questão pessoal: Lelé se engraçou com a filha de Beleza.
Mostraria a Beleza que com ele não se brinca… no entanto, sabia que não poderia fazer o serviço ele mesmo.
Gordão e Pezão eram homens de sua confiança, e chegaram para conversar com ele no sobrado de blocos vermelhos de esquina, localizado no Portal do Éden em Itu.
Tudo foi acertado. Beleza nunca falaria com o Disciplina da Facção PCC. Beleza nunca mais falaria.
O Primeiro Comando da Capital não é para os fracos
Você pode ficar indignado com Lelé e achar impossível que ele tenha assumido a Sintonia da quebrada depois do que ocorreu, mas a vida é assim.
Para o mundo do crime, aquele homem, talarico ou não, reunia algumas características essenciais para liderar criminosos:
Astúcia: Lelé é descrito como um homem astuto, que já enfrentou inúmeros momentos de tensão ao longo de sua vida. Essa habilidade de lidar com situações difíceis sugere que ele tem um bom grau de inteligência e sagacidade.
Autoconfiança: Lelé mostra uma forte autoconfiança em sua capacidade de lidar com as situações de perigo e proteger a si mesmo. Isso é evidente em sua decisão de buscar ajuda para se proteger contra Beleza e na forma como ele resolve seus problemas.
Vingança: Lelé não é um homem que se contenta em ser passivo diante de ameaças. Ele mostra uma forte tendência para buscar vingança quando se sente ameaçado. Isso é evidente em sua decisão de matar Beleza depois de descobrir que ele estava tentando entregá-lo à facção criminosa.
Ambição: Lelé parece ser ambicioso em seu desejo de se estabelecer no mundo do crime. Ele está disposto a fazer o que for preciso para manter seu lugar na hierarquia e ganhar respeito entre seus pares. Isso é sugerido pela forma como ele joga sujo e pisa em quem for necessário para manter sua posição.
Falta de empatia: Lelé parece não ter empatia por aqueles que cruzam seu caminho ou que ele considera uma ameaça. Ele não hesita em tomar medidas extremas para se proteger, mesmo que isso signifique matar alguém.
Conhecidos meus diziam que o Primeiro Comando da Capital era um grupo violento de criminosos semi-analfabetos.
Verdade, mas não são os bancos escolares que ensinam as coisas mais importantes da vida, e a vida não é para os fracos.
A guerra na qual os PCCs vivem exige estratégia, tática e habilidade para se obter a vitória.
Apesar de o caso de Lelé e o PCC não envolver uma guerra convencional, ainda é possível avaliar esse caso segundo um conceito estratégico.
Aimportância de conhecer o seu inimigo
No caso de Lelé e o PCC, é importante entender as motivações e estratégias do PCC para poder lidar com ele de forma eficaz.
Isso pode incluir a análise da hierarquia e estrutura da facção paulista, suas redes de comunicação e sua presença geográfica.
Qual teria sido o melhor resultado para a organização criminosa na região da Cidade Nova / Portal do Éden em Itu?
Punir o talarico Lelé e cumprir o seu principal mandamento, ou dar um cargo de liderança para o perigoso e respeitado Lelé?
a importância da flexibilidade e da adaptabilidade
Isso significa que, em vez de adotar uma estratégia fixa e inflexível, é preciso estar preparado para se adaptar às mudanças nas circunstâncias e no comportamento do inimigo.
No caso de Lelé e a organização criminosa, isso pode significar estar sempre vigilante e preparado para se adaptar a novas ameaças e táticas, e ele pareceu por sua atitude capaz desse desafio.
aproveitar as oportunidades e explorar as fraquezas do inimigo
Isso pode envolver o uso de táticas como a criação de armadilhas, a divisão do inimigo ou a exploração de conflitos internos no grupo.
No caso de Lelé e a organização criminosa, ele soube explorar as fraquezas e divisões internas dentro do PCC.
Lelé utilizou seus contatos e sua influência na facção para desestabilizar o grupo que queria sua punição e enfraquecer sua influência.
Ratinho, Cria do 15 assume assassinato de assessor de deputado e líder comunitário
Trago hoje um crime onde um Cria do 15 assume assassinato de um assessor de deputado federal da bancada evangélica.
Francesco Guerra pediu que eu resgatasse essa antiga história que aqui contei em 16 de março de 2017.
Primeiro eu conto o caso como hoje contaria, e na segunda parte coloco o texto original de 2017 com detalhes que hoje eu omito.
O Caso “Cria do 15 assume assassinato”: Estupro, Morte, Política e a Culpa Forjada
Meu caro “Frans do +39”,
Estou relendo um caso bastante complexo e intrincado que pode te interessar que envolve uma série de personagens desonestos e desesperados em busca de vantagens.
Tudo começa com um indivíduo conhecido como Rodrigo, que era líder comunitário, presidente da Associação dos Moradores da Cidade Nova, e ex-assessor do Deputado Missionário José Olímpio.
Mas além de ser essa figura pública admirada também era armeiro da poderosa organização criminal Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533).
Rodrigo teria cometido um crime terrível ao estuprar “Gabi”, uma garota de 13 anos, durante uma festa regada à álcool e drogas em sua mansão.
Por esse crime ele seria condenado à morte pelo próprio PCC que não tolera esse tipo de atitude.
6 Item:
O comando não admite entre seus integrantes, estupradores, pedófilos, caguetas, aqueles que extorquem, invejam, e caluniam, e os que não respeitam a ética do crime.
Estatuto do Primeiro Comando da Capital — PCC 1533
No entanto, ninguém é condenado no Tribunal do Crime sem ter tido o direito a se defender.
13. Decreto:
Para confirmar um decreto a Sintonia tem que analisar com cautela, por se tratar de uma situação de vida.
Tem situações que é claro o decreto, como traição, abandono as demais situações como mão na cumbuca, caguetagem e estupros, a Sintonia analisa num contexto geral.
Quando um decretado chegar em uma quebrada nossa tem que ser cobrado de bate pronto.
Dicionário do PCC 1533 — Regimento Disciplinar 45 ítens
A situação se complica ainda mais quando o Inspetor Moacir Cova é pressionado pela imprensa e por políticos a encontrar um culpado pelo crime.
O Inspetor avisa ao Mundo do Crime que a organização criminosa irá sofrer as consequências se o caso não for esclarecido.
Nesse contexto, a polícia consegue prender um indivíduo chamado “Ratinho RT”, que assume o crime perante o Investigador e o Delegado de Polícia.
Mas qual teria sido a culpa de Ratinho RT?
No entanto, durante o julgamento, o advogado de defesa de Ratinho RT argumentou que ele não foi o responsável pelo crime.
Ele teria sido forçado a assumir a culpa pelo PCC a troco de moral na facção, vantagens para a família e perdão de dívidas.
Ninguém é obrigado a nada pela lei da organização criminosa Primeiro Comando da Capital, por isso ele teria que aceitar a tarefa.
Agora, o caso se torna ainda mais complicado, já que é necessário determinar a verdadeira identidade do criminoso e o grau de culpa de Ratinho.
Detalhes que podem não ser só detalhes
Eles passaram pelas câmeras de monitoramento às 20:16 e voltaram depois de chegar ao local do julgamento, ouvir o acusado, e executá-lo em menos de dez minutos.
Ata do Tribunal do Júri de Itu
“Eles passaram” — Ratinho não sabe dirigir e a câmera de monitoramento do “portal da cidade” prova que ele estava no banco do passageiro.
Quem pode garantir que o homen que dirigia o carro não foi quem puxou o gatilho?
Ratinho afirma que: foi ele que decidiu executar, que atirou, e que não sabe quem dirigia o carro.
Segundo as regras do Primeiro Comando da Capital, para um sujeito ser executado deve passar pelo Tribunal do Crime com direito a defesa e contraditório.
Rodrigo seguiu com Ratinho e com o outro indivíduo por vontade própria. Ele tinha certeza que era inocente e acreditava que podia provar.
O assessor de deputado e armeiro do PCC nunca negou que conhecia e tinha relacionamento com a menina e todos ali tinham relações sexuais com ela.
Gabi teria acusado Rodrigo porque ele se recusou a se relacionar com ela, uma amiga da garota que estava naquela noite com ela confirma isso.
O Promotor de Justiça não negou que Ratinho RT foi obrigado pela organização criminosa a assumir o crime, mas afirma que ele cometeu realmente o crime, e teve que se entregar porque não deu o direito de defesa à Rodrigo durante o Tribunal do Crime.
Em um mundo de certezas só restam dúvidas
Meu caro “Franz do +39”
Como um articulista que preza pela lógica e pelo raciocínio dedutivo, estou ansioso para ver você mergulhar mais fundo nesse caso e descobrir a verdade por trás desses eventos.
No entanto, eu temo que haja muitas camadas de engano e subterfúgio que devem ser desvendadas antes que possamos descobrir a verdadeira identidade do culpado.
Resta agora a nós, meu amigo, reunir todas as informações que temos sobre esse caso e analisá-las com cuidado, para que possamos finalmente trazer a justiça que a vítima merece.
E como pode ver, meu caro Franz, um líder comunitário e assessor de um deputado federal da Bancada Evangélica, defensor da tradicional família brasileira e dos cidadãos de bem, dava uma festa em uma mansão regada a bebidas e drogas e nenhum político foi mencionado durante o julgamento.
Se Ratinho RT (Bruno Augusto Ramos) cumpriu a regra do Primeiro Comando da Capital de “sumariar” o acusado Rodrigo antes de executá-lo, eu não sei.
Mas esse foi o foco do debate entre o advogado de defesa e a Promotoria de Justiça, no caso do assassinato de Rodrigo Teixeira Lima.
Rodrigo é líder comunitário, presidente da Associação dos Moradores da Cidade Nova, e ex-assessor do Deputado Missionário José Olímpio.
Cria do 15 assume assassintato: abandonando as ilusões
Graham Denyer Willis em seu livro “The Killing Consensus: Police, Organized Crime, and the Regulation of Life and Death in Urban Brazil” nos convida a abandonar nossas ilusões.
Segundo ele, devemos enfrentar o fato que policiais e facções criminosas mantêm uma normalidade dentro de nossa sociedade.
Existem mecanismos de justiças que não apenas são conhecidos, mas reconhecidos e parcialmente aceitos pela sociedade.
O Cria do 15 assume assinato e foi condenado a 18 anos de prisão, mas restou a dúvida: ele realmente executou a vítima?
Mas o que mais se discutiu no Tribunal do Júri foi se cumpriu as regras da facção Primeiro Comando da Capital ao cumprir a execução.
Os fatos como foram apresentados no Tribunal do Júri:
Gabi, uma garota de 13 ou 14 anos, “ficou” com o Rodrigo em uma das muitas festas que ele promovia e onde álcool e drogas circulavam em abundância, mas ele não estava afim dela e a “chutou para fora”.
Ela também se relacionava com um irmão da facção chamado Zóio da Cidade Nova em Itu, e como não aceitou ter sido desprezada por Rodrigo contaminou Zóio dizendo que tinha sido estuprada.
Zóio teria cuidado ele mesmo, mas foi morto em troca de tiros com a polícia…
… mas o veneno já estava no ar, na boca do povo, e nas redes sociais, daí alguém pediu providência ao Comando para aplicar a Lei do Crime que pune com a morte estupradores.
No entanto, o acusado deve ser “sumariado”, isto é ouvido e julgado pelo Tribunal do Crime, não pode ser uma decisão individual de um integrante.
Foi decidido que Ratinho RT ia “sumariar” Rodrigo e se o Tribunal do Crime decidisse ele seria executado.
Gabi comemora o assassinato de Rodrigo
Quando Rodrigo morreu Gabi comemorou nas redes sociais, mas depois caiu a ficha e viu a besteira que tinha feito.
Ela sabia a caca que fez , é mil vezes certeza que ela não foi estuprada.
palavras do Investigador de Polícia Moacir Cova
Não tinha cabimento o que ela dizia: com ela tinha uma amiga que não quis ficar com o Rodrigo e foi embora e ele não impediu.
Gabi ficou porque quis na casa dele, e lá ele teve todas as chances possíveis de fazer com ela o que quisesse e nada fez.
Ela disse que ele tentou a estuprar no carro quando estava a levando embora, o que não tem lógica.
Outra coisa que chamou a atenção é que o Rodrigo em nenhum momento negou que tivesse ficado com ela e sequer negou o relacionamento.
Rodrigo estranhou que falassem em estupro e confiou que indo dar a sua versão para o Tribunal do Primeiro Comando da Capital tudo ficaria esclarecido.
Pelo que os policiais apuraram no caso, Rodrigo não teve tempo de se defender.
Eles passaram pelas câmeras de monitoramento às 20:16 e voltaram depois de chegar ao local do julgamento, ouvir o acusado, e executá-lo em menos de dez minutos.
O companheiro que estava dirigindo declarou que depois que Ratinho e Rodrigo desceram do carro foi o tempo dele manobrar o carro e o cara já estava morto.
Ratinho é um molecão novo querendo subir rápido no Partido. Essa morte tinha que acontecer para ele ser respeitado e parecer poderoso no bairro e no crime.
contou o Investigador Moacir Cova
Quando o Cria do 15 assume assassinato ele ganha respeiro na facção, mas leva de lambuja uma pena de 18 anos pelo assassinato e mais 8 por tráfico de drogas.
Este artigo aborda os riscos de contratar supostos matadores de aluguel do PCC e como evitar golpes relacionados. Serão discutidas histórias reais de pessoas enganadas e as ações adequadas a serem tomadas em caso de suspeita de uso indevido do nome da facção.
Ao considerar contratar um matador de aluguel, é importante lembrar que muitos golpistas se aproveitam do nome do Primeiro Comando da Capital, a facção PCC 1533.
Aqui, neste site, aproximadamente 25% dos contatos são de pessoas buscando um matador de aluguel. No entanto, contratar um através de um site pode levar a ser vítima de extorsão.
Perfil dos matadores de aluguel do PCC
Os matadores de aluguel, também chamados de “pistoleiros”, são membros ou associados do PCC 1533 contratados para realizar assassinatos. Frequentemente, esses crimes são motivados por disputas internas, vingança ou retaliação. Esses matadores são temidos por sua rapidez, precisão e brutalidade.
Histórias de golpes envolvendo o PCC
É comum o uso indevido do nome do Primeiro Comando da Capital em golpes. Assim como Aline, muitos já foram enganados. Por isso, é importante sempre estar alerta. Ninguém cai em um golpe intencionalmente, e todos nós somos suscetíveis a erros e armadilhas.
Cuidado, não se engane, muitos utilizam o nome da facção para enganar, mas aí, Ricardo Araújo Pereira me mostrou o absurdo que seria isso.
Casos reais de golpes e armadilhas
Para ilustrar a realidade desses golpes, compartilharemos dois casos. Um narrado por Aline e outro testemunhado pessoalmente. Em ambos, o nome da facção paulista foi usado para impor força e respeito, mostrando a importância de se manter atento e cuidadoso ao lidar com essa questão.
Matador de aluguel: A história de Aline
Aline decidiu eliminar alguém que a ameaçava e, sem envolvimento no crime, procurou um matador profissional no Google. O primeiro resultado foi um site chamado matadordealuguelprofissional.tk, que oferecia o serviço por R$5.000 com garantia de anonimato. Apesar de parecer um golpe óbvio, é importante lembrar que todos nós podemos ser enganados de diferentes maneiras.
A relação entre golpes e a facção PCC
Muitas pessoas acreditam que podem usar a força do PCC para se vingar após caírem em golpes. No entanto, não é assim que funciona. Ninguém neste site possui ligação com a facção paulista, e mesmo que tivessem, o Dicionário do PCC estabelece punições apenas para membros que utilizam inadequadamente o nome da organização.
Fica caracterizado quando o integrante foge do que rege a nossa disciplina, não passando uma imagem nítida da organização, quando se coloca como faccionário diante da massa, desrespeitando e agindo totalmente oposto ao que é pregado pela facção.
Punição: exclusão e fica sendo analisado pela irmandade local e pela Sintonia.
O artigo 33 do Dicionário do PCC descreve a punição para membros que desrespeitam a organização, mas essa regra não se aplica a golpistas não afiliados. Portanto, o PCC não se envolverá nesse tipo de questão. Aline também não recorrerá à polícia, já que pagou por um assassinato não realizado.
Golpes e consequências
Assim, o site fraudulento continuará ativo, hospedado em um provedor na Oceania, e vítimas desavisadas continuarão depositando dinheiro na conta do golpista em uma agência do Itaú na Avenida Paulista. A história de Aline serve como alerta para todos que buscam matadores de aluguel e os perigos envolvidos nessa escolha.
Há alguns anos, um conhecido fechou um negócio lucrativo no Paraguai, e ansioso, compartilhou comigo. Cético, comecei a questionar a situação. Em setembro do ano passado, iniciei minha viagem rumo a Foz do Iguaçu, ansioso para ver as cachoeiras.
Desfrutando da jornada
No caminho, parei em Maringá, perto da Catedral, para almoçar e aproveitar o passeio. Se tudo ocorresse conforme o planejado, o conhecido chegaria a Foz de avião no mesmo dia e ficaria no mesmo hotel que eu.
Monitoramento e precauções
Embora não tivéssemos contato direto em Foz, já estava rastreando seu aparelho há dois dias. Os fornecedores buscariam meu conhecido no hotel e o levariam a algum lugar em Pedro Juan Caballero. Minha função era segui-lo à distância e, se necessário, tentar garantir sua segurança neste mundo perigoso.
Matador de aluguel: Todos nós somos enganados
As armadilhas da vida
Após almoçar em Maringá, soube que a operação havia sido cancelada. Wagner Amantino Maciel, um importante membro da facção, foi encontrado morto após uma emboscada no Paraguai. Se até ele, envolvido em complexas operações do Primeiro Comando da Capital, foi traído, quem somos nós para escapar?
Lições de ingenuidade e traição
Aline agiu ingenuamente ao contratar um matador de aluguel pela internet. Quem burla a lei, como Wagner, pode ser enganado e morto. Acreditamos na lei do retorno, mas somos todos iludidos por políticos a cada dois anos. Roubados e vitimados pela criminalidade e falta de serviços básicos, enfrentamos um mundo cruel.
A lista de Ricardo Araújo Pereira
O cronista da Folha, Ricardo Araújo Pereira, menciona alguns motivos pelos quais não se deve aconselhar calma a quem a perdeu. Eu não vou deturpar suas palavras, mas vou usá-las para mostrar por que não devo dizer que você não deve acreditar em alguém que se diz PCC:
Cair em um blefe não depende de nossa vontade. Raramente acreditamos em um golpe porque queremos. “Vou ser enganado agora, que legal” ou “eu vou fazer um grande negócio, parece até enganação, vou arriscar só para conferir”. Não é a razão que estará no comando da pessoa, mas sim a emoção, e meus argumentos não têm o poder de influir nas decisões emocionais de ninguém.
A pessoa que recomenda o cuidado se sente superior àquela que está sendo aconselhada e, no geral, nem se dá conta das inúmeras vezes em que foi enganada em sua vida.
É fácil dizer a alguém que é um absurdo comprar drogas e armas de um novo fornecedor ou contratar um matador de aluguel pela internet quando não se tem uma ameaça à sua vida ou à de seus familiares, no aconchego do lar e lendo um texto na internet. Só quem já passou por momentos de desespero, nos quais a razão se cala diante da emoção, pode julgar os desafortunados.
Existem alguns cartazes dizendo que se deve tomar cuidado, mas “nenhum conselho digno de ser seguido é formulado num meme”.
Ah! Antes que me esqueça, o acordo com aquele fornecedor de Pedro Juan Caballero, com quem meu colega deixou de fazer negócios, não era uma armadilha. Outro conhecido se arriscou mais e acabou fazendo bons negócios ― até que a casa caiu por outros motivos.
Atrair novos integrantes com o fim da cobrança da caixinha do PCC e chamar de volta antigos companheiros excluídos são algumas das estratégias da facção criminosa para um novo tempo.
A caixinha do PCC e as mudanças na facção paulista
O fim da caixinha do PCC 1533 não é apenas uma mudança no fluxo de caixa, é o sinal de uma nova Era do PCC.
Várias vezes nessas duas décadas, policiais e promotores de Justiça afirmam que a organização criminosa Primeiro Comando da Capital esteve com seus dias contados.
Faz muito tempo, muito tempo mesmo, o Secretário de Segurança de São Paulo afirmou que o então “Partido do Crime” tinha acabado — isso em 1997.
Depois dele, Secretários de Segurança, promotores de Justiça e políticos de plantão afirmam: É questão de tempo o fim do PCC!
Essa família impediu que os Secretários de Segurança, promotores de Justiça e políticos cumprissem suas promessas de acabar com a organização criminosa paulista.
Como toda a família, no Primeiro Comando da Capital também tiveram aqueles que não correram pelo certo, que erram e faltaram com a Família 1533.
Uma das faltas mais comum era a dos integrantes inadimplentes com o caixinha do PCC que eram expulsos.
Agora, como o filho pródigo da Bíblia, eles estão sendo recebidos de volta ao ceio da Família do Primeiro Comando da Capital.
A facção criminosa está indo atrás de cada um, em cada canto do Brasil para chamar para correr junto.
Atuando em quatro continentes, o Primeiro Comando da Capital é hoje a maior e mais abrangente organização de todas as Américas — dependendo do critério utilizado.
Ao conquistar um espaço territorial muito grande e sabendo que ainda tem todo um mundo à conquistar, as lideranças tiveram que mudar algumas estratégias.
Todos os integrantes da facção tem os mesmos direitos e obrigações, o que é motivo de orgulho para os seus “crias”.
Todos são iguais e não deve se cometer injustiça com ninguém.
Essa igualdade é a grande força da facção, mas também é o seu ponto mais fraco — seu calcanhar de Aquiles.
Todos os integrantes pagavam a caixinha, era o justo e o correto, no entanto, também era a maneira mais fácil das autoridades mapearem os integrantes.
O fortalecimento alcançado pela organização criminosa permite que não se cobre mais de seus integrantes a mensalidade que colocava em risco toda a estrutura.
Agora, os Secretários de Segurança, promotores de Justiça e políticos que quiserem acabar com o Primeiro Comando da Capital terão também que se reinventar.
A cada baixa de uma liderança, novas surgem como um acender de lâmpada, e cada uma delas traz novas ideias, novas estratégias, novos arranjos pessoais e familiares.
A facção sobreviveu a tantos ataques das autoridades, pois foi unida por sangue e forjada no fogo, e para cada um que cai há dez querendo entrar.
Uma estória que contei há exatos 11 anos, em fevereiro de 2012
Eu sabia que não devia ter me metido naquela enrascada.
Sempre disse que vira-latas não se mete em briga de pit-bull, mas falar é fácil, e eu entrei naquele assunto para o qual não tinha sido chamado.
Não podia dar outra coisa, dancei.
Desmaiei pouco tempo depois de começar a chutes de todos os lados.
Primeiro aquela dor indescritível, minha cabeça voava de um lado para outro, eu ainda sentia isso, não tinha perdido totalmente a consciência.
Não procurarei definir, ou descrever o que restava dela. Não era sonho, delírio, desfalecimento ou morte. Havia dor e imobilidade.
Sentia meu sangue quente fluir pelo meu nariz e escorre pelo meu rosto. O gosto do sangue agora era o único que sentia.
Sei que respirava, pois a cada inspiração havia muita dor, minhas costelas pareciam facas aguçadas querendo chegar cada vez mais fundo em meus pulmões.
Pronto, fui apresentado ao PCC, eu sabia disso.
Em meio a morte, em meio aquela teia de sonhos e alucinações acredito ter ouvido conversas, vozes que contavam histórias e discutiam seus assuntos como se eu não estivesse ali.
Um diálogo cabuloso definindo meu destino
Talvez imaginassem que eu não sobreviveria, ou talvez só estivessem esperando minha morte para poderem ir embora com a certeza da missão cumprida.
― Entendeu, eu acredito que você vai fazer o que é certo, o que se acha que é certo, entendeu irmão e, estou fechando junto e, é isso. Entendeu, por que tá demais, o mole que tá demais mesmo, né meu a gente sabe que a gente tem certo limite pra fazer as coisas, mas tem uns caras que tiram da linha, esse daí é o tipo que tira da linha. Eu vi ele trabalhando com o irmão Neizinho, ele tá trabalhando sim. Ta inclusive eu te liguei irmão, por que é o seguinte, tem um outro menino lá que tá trabalhando pro irmão Neizinho. Que é o Maicon, não sei se você já ouviu falar. Outro dia foi numa biqueira aí irmão e pegou lá parece um quilo de mercadoria lá no nome do irmão Pimenta, entendeu, moleque? Sem o conhecimento do irmão, moleque? – falou Luiz Carlos do Nascimento, o irmão Piloto.
― Vai vendo. – respondeu o outro.
― Até uns dias atrás ele trabalhava com o irmão Neizinho. Então é um problema, viu, esses meninos, esses funcionários do irmão Neizinho. Aí moleque. Não, e essa aí é grave, pô, que o movimento tá muito descabeçado lá moleque. – falou piloto.
― Então tá usando o nome do irmão aí, colocando o irmão em BO, aí. – concordou o outro.
― Entendeu meu irmão. Aí amanhã eu pego o irmão, eu coloco ele na linha pá nóis pode trocar uma idéia, e aí, cê faz uma viagem só prá lá, já vai e já explica o bê-á-bá prá eles irmão, vê o que eles querem né irmão. Por que pelo simples fato deles estarem todos eles trabalhando com o irmão, pô eles estão totalmente errados… Mas corre com o irmão, então tem que ser no mínimo o bem comportado. Sê viu o outro empregado do Neizinho, o Fuscão, as caminhadas erradas que ele seguiu, num sabe?… – continuava Piloto.
Sabia eu que os dois falavam a respeito dos problemas das biqueiras de Salto, Maicon pegando mercado sem autorização de Pimenta. Ouvi também Piloto dizendo para Edson Rogério França, o irmão Cara de Bola alguma coisa, mas sei como este respondeu:
― Aí o cara já foi pondo o dedo no peito do “M”, aí o bagulho ficou louco. (Marcelo José Marques, o Tio ou “M”)
― Aí imagino né, não. – Piloto.
― Aí soco prá lá, soco prá cá, aí os seguranças rápido já fecho, já fui embora também irmão.
Acho que eles falavam sobre o Fuscão que estava no hospital mando de Cara de Bola, não tinha adiantado o cara dizer que tinha um salve passado por Sandro no papel.
Piloto e Cara de Bola estavam em ordem com a família, Bad Boy estava morto, Fuscão tinha tido sua lição, e eu não sabia onde estava.
Sei que o corvo sobe para quem está com a situação, e que volta a cobrar com quem fechou a caixinha em atraso.
Sobrevivi, narrei aqui o que vi e senti naquela noite, hoje já não pertenço àquele mundo, do qual fui brutalmente retirado, e mesmo se quisesse não mais poderia voltar a pertencer.
Ele seria julgado e condenado a morte pelo Tribunal do Crime do PCC, mas para evitar a sentença, matou seus antigos parceiros de negócios.
Assim, em 2021, matou um dos Sintonias da Rua, Anselmo Santa Fausta, o “Cara Preta”, e o seu braço direito, conhecido como “Sem Sangue”.
O contador foi o mandante e dois os executores. Um deles foi morto no ano seguinte e o outro, um agente penitenciário continua desaparecido.
Agora Vinícius quer dar uma de Theodorelli e se propôs a entregar toda a cúpula da facção ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa de São Paulo.
Os Disciplinas do PCC 1533 na hierarquia da facção
Os Disciplinas do PCC 1533 são o braço forte que mantêm unida a facção criminosa paulista.
Disciplina é o que não falta dentro da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC 15.3.3), e seus integrantes se orgulham disso.
A hierarquia dentro da organização criminosa
É evidente que não utilizam termos como “departamento” e “setores”, mas na prática a facção criminosa reproduz a organização administrativa de qualquer grande empresa legal.
Departamentos:
Financeiro: recebimento das contribuições e controle: dinheiro, contas bancárias e investimentos;
Sintonia do Cadastro: gerencia o ingresso e a situação cadastral dos batizados, tendo registro de nome, local e padrinhos;
Salveiro: transmite as atualizações de regras da cúpula para toda a base operacional — alguns comparam com o cargo de Relações Públicas da empresas, mas seus comunicados são apenas comunicados internos;
Sintonia do Progresso: são os responsáveis pela execução das missões especiais e cotidianas; e
Sintonía dos Gravatas: são os advogados da facção.
Além dos departamentos existem os cargos de gerenciamento. Os chamados “Resumos” podem ser “Geral dos Estados e Países” ou “Geral do Estado”, mas podem ter um local específico de atuação, como o “Geral das Trancas do estado” ou o “Geral das Trancas da unidade prisional”.
Logo me dei conta que uma rodinha de disciplinas estava por ali também. Fiquei mais tranquila.
Vários pontos de conflito que emergiram foram apaziguados graças à mediação dos disciplinas.
O humorista Márcio Américo, que certa época da vida foi um assíduo frequentador da Cracolândia concorda:
A polícia e a prefeitura apenas fingem ter controle do local que é completamente dominado pelo Primeiro Comando da Capital.
Assistindo a ação do Disciplina do PCC na Cracolândia
Deborah Rio em trabalho de campo na conturbada Cracolândia acompanhou de perto a ação dos “Disciplina do PCC 1533”.
Eram eles que negociam com traficantes, usuários de drogas, jornalistas, policiais, e autoridades públicas.
Os Disciplina do PCC 1533 são o braço forte da facção e estão nas ruas, nas biqueiras, nos presídios, e onde quer que a organização criminosa esteja.
Eles são os responsáveis pela aplicação do Dicionário do PCC (Regime Disciplinar) e dos salves (emendas à regra geral de aplicação local ou temporárias).
Porém, o clima era de tensão. Em determinado momento, um usuário, M., começou a questionar exaltadamente o coordenador do programa e da ação, o Capitão Renato Lopes da Silva.
Nesse momento, chegou um disciplina.
Ele se aproximou, passou na minha frente, não tocou em ninguém, só pediu licença com uma voz grossa.
Todo mundo abriu passagem.
O disciplina colocou a mão no ombro de M., cuja fisionomia já havia mudado totalmente … M. se acalmou e disse que respeitava os ‘entendimentos’.”
Em um ambiente pacífico não aparece polícia
É responsabilidade dos Disciplinas do PCC 1533 manter a ordem nas áreas sob domínio do Primeiro Comando da Capital, cobrando bom comportamento de usuários e traficantes locais e garantindo que os entornos dos pontos de drogas estejam em paz e assim não chamar a atenção da polícia.
Essa função social e política dos Disciplina do PCC 1533 os colocam em posição de negociar com as comunidades e as autoridades:
… o Prefeito Fernando Haddad também estava lá. Alexandre de Moraes, o prefeito e um dos Disciplinas discutiam no interior do espaço do Programa Recomeço… o local estava fechado e havia muitos policiais na porta…
Deborah Rio Fromm Tinta
Houve um tempo em que eu acreditava em um mundo ideal, caberia a polícia defender as pessoas com justiça, mas esse tempo acabou.
A pesquisadora Deborah Rio, no entanto, demonstra que a tranquilidade pode ser garantida por outros personagens que não estão sob controle do Estado.
Em algumas comunidades, a segurança e a paz é garantido pelos Disciplinas do Primeiro Comando da Capital e não pelo poder público.
Para ver a realidade, precisamos abandonar as ilusões.
É fato que nos estados e nas regiões onde há o domínio claro do PCC o índice de homicídios e pequenos delitos diminui, mas a “opressão do sistema” é substituída por uma força mais obscura, que não teme mutilar e matar.
Os Disciplina do PCC 1533tem sua atuação dividida, alguns agem apenas dentro das muralhas e outros nas ruas.
Nas ruas — Disciplinas das Quebradas:
O Disciplina da Quebrada atua em uma biqueira ou em um bairro.
Existem cidades e bairro com mais de Disciplina, dependendo do tamanho e da importância do local, mas no geral, se há vários, um será o “Disciplina Final da Cidade”.
Existem também aqueles que atuam em qualquer canto do estado, e são chamados para resolver alguns problemas mais graves, estes são os “Disciplinas do estado“.
E por último, tem aqueles que atuam em qualquer lugar, esses no geral seguem para as áreas de conflito com outras facções ou para resolver problemas com lideranças locais, são os “Disciplinas dos Estados e Países“.
Nos presídios — Disciplinas da Trancas:
Os Disciplinas do PCC 1533 que ficam dentro das muralhas são chamados de jets, e também são hierarquizados: “Jet da unidade“, e “Jet do estado” – podem ser chamados também de Disciplinas.
O Primeiro Comando da Capital teria julgado Bruno Marabel no Tribunal do Crime da facção PCC 1533 e o teria sentenciado à morte o jovem que matou em 2020 sua mãe e seu padrasto, a mulher com que com ele vivia e seus dois filhos de 6 e 4 anos.
El caso de Bruno Marabel “la casa del horror de Paraguay” | Criminalista Nocturno
Por ter sido torturado por agentes carcerários em na Penitenciária Nacional de Tacumbú, Bruno foi transferido para Centro de Rehabilitación Social (Cereso) de Itapúa onde teria sido alertado que sua vida estaria em risco. Devido a natureza de seus crimes, a organização criminosa PCC teria decidido que o jovem deveria morrer. Transferido novamente, agora para a Penitenciaría Regional de Concepción.
Embora a facção Primeiro Comando da Capital proíba agiotagem, há um caso conhecido de um agiota que financiava ações dentro da organização criminosa paulista.
Se existem agiotas dentro do Primeiro Comando da Capital, como eu nunca conheci nenhum?
Essa dúvida me surgiu enquanto o senhor Joaquim Maria me contava detalhes de uma história que eu conhecia de passagem:
A história do Capitão, homem responsável por parte do paiol do 19 e que financiava operações de quadrilhas de integrantes da facção PCC 1533, no Brasil e no exterior.
Meu encontro com Joaquim Maria no Boa Vista
Eu acompanhava um conhecido que foi entregar um pacote para o “patrão das biqueiras” do Boa Vista, e, enquanto aguardávamos no bar na entrada do bairro ao lado da loja de rações, Joaquim Maria se assentou na mureta para conversar conosco…
… e foi assim que consegui os detalhes da história do Capitão e daqueles que lhe eram próximos.
Não negarei o inegável: que eles pertenciam ao mundo do crime e que foi graças ao lado errado da vida que conseguiram concretizar o sonho dosque moram nas periferias:
Normalmente eu altero os nomes dos envolvidos, seja por uma questão de discrição ou para evitar algum processo, mas nessa história há muitos personagens que são de conhecimento público, então optei grafar os nomes reais:
José de Meneses (Mene), Eulália (Lia), (Capitão) Nogueira e Cristiana.
Eles acabaram sendo conhecidos não por pertencerem à facção Primeiro Comando da Capital, mas, sim, pelos laços de amor e amizade que os uniam, e por essa razão é que achei que valeria a pena vir contar a você o que aconteceu com eles.
Nem todos os PCCs agem e vivem da mesma forma e nos mesmos ambientes.
Esses quatro são um exemplo; é falacioso o estereótipo construído em torno de quem são os membros da Família 1533, como você mesmo pode ter constatado se conheceu Mene, Lia, Capitãoe Cristiana.
É fato que eles, assim como todos nós, relativizavam as regras sociais, mas não eram más pessoas.
De certa forma vivemos todos no mundo do crime, aceitando com naturalidade a quebra de normas sociais que nos são impostas e nos desagradam – algo normal para você, talvez seja deplorável para outro.
A morte de um trabalhador com oitenta tiros, disparados por soldados do exército enquanto ele seguia com sua família para um chá de bebê, pode ser vista como um crime bárbaro, consequência de discursos políticos populistas, ou um incidente no qual “o exército não matou ninguém”.
Tudo é relativo; o injusto pode passar a ser o justo ou ao menos aceitável, o importante é haver uma justificativa de autorredenção de nossos pecados:
utilizar o celular dirigindo (só por um minutinho);
dirigir alcoolizado (eu estou bem e vou dirigir com cuidado);
comercializar drogas (se eu não vender, alguém venderá, é a lei do mercado);
deixar de declarar renda ao governo (o brasileiro já paga impostos demais);
assaltar bancos ou desviar dinheiro público (roubar dos ricos ou do governo) etc.
Os quatro, assim como nós mesmos, nos encaixamos em uma ou outra infração e condenamos sem perdão os outros grupos. Contudo, vim aqui para falar sobre a vida de Capitão Nogueira, e não sobre a minha, a sua ou a do presidente Bolsonaro. Voltemos ao assunto…
Amar e trabalhar na facção pcc 1533
Crescendo no seio da Família 1533
Apesar dos crimes que cometeram, eles se viam como boas pessoas, que apenas não aceitavam alguns valores que lhe eram impostos por uma sociedade injusta e desigual, e acreditavam ser seu direito correr atrás do prejuízo.
Eu afirmo isso por conhecer muita gente como o Capitãoe seus amigos, mas o filósofo, sociólogo e jurista italiano Alessandro Baratta, que não os conhece, afirma basicamente a mesma coisa, só que em palavras mais pomposas:
Menee Liatinham quinze anos quando seus pais se mudaram, com a diferença de apenas alguns dias, para o Boa Vista, vizinhos de onde morava Cristiana, que era nascida no bairro e tinha a mesma idade que eles.
Houve algo mágico entre Liae Cristiana, enquanto a mudança descia do caminhão, Cris se ofereceu para ajudar, e naquele momento se tornaram mais que amigas, se tornaram irmãs. Com Menefoi igual, chegou e se interessou por Lia e nunca a trocou por nenhuma outra.
Menee Liaconheceram a adolescência e o amor ao mesmo tempo que as drogas e o lado errado da vida, pois Cristiana era a filha do dono de uma biqueira, e era ela quem ia levar a droga para os vaporzinhos que ficavam nas ruas próximas à casa.
Cristiana era uma garota fantástica, alegre, muito boa de conversa e superinteligente. Menee Liasabiam que tinham sorte de tê-la como amiga, e foi ela quem ajeitou com seu pai para deixar com os dois algumas porções para venderem enquanto namoravam no parque.
Menee Liasempre chegavam juntos e saíam juntos da escola, do parque e das festas, só se separando enquanto Lia ia até a casa de Cristiana para pegar mais mercadoria para vender, ou quando Meneera chamado para fazer alguns corresmais pesados.
Mene da facção PCC cai pela primeira vez
Conhecendo e fazendo negócios com o Capitão
Menenem tinha ainda completado seus dezesseis anos e já estava com uma moto, só não estava em seu nome, mas era dele, paga com a venda de drogas no parque e como piloto em assaltos e distribuição de drogas.
Poucos meses depois de acabar de pagar a moto, deu fuga nas ROCAMs (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) de São Roque à Araçariguama, mas foi pego quando acabou a gasolina, e a família teve que ir buscá-lo no Conselho Tutelar – não ficou preso, mas perdeu sua moto.
De volta para casa, os amigos apresentaram a ele o Capitão.
O jovem já tinha ouvido falar do Capitão, mas como este nunca aparecia na quebrada,Mene nunca tinha visto o ex-capitão da PM. O oficial expulso da corporação também já ouvira falar que Meneera firmeza nas responsase por isso o chamou para conversar.
Uma proposta foi feita pelo homem e aceita pelo rapaz, que saiu do encontro com uma moto muito melhor que a anterior. A partir daí, passou a fazer serviços para o Capitãoquando era chamado, e, apesar da diferença de idade, se tornaram amigos.
Deixando a quebrada
Todo mundo invejava Menee Lia
Após ser capturado pela polícia pela primeira e última vez em sua vida, Menedecidiu que não queria que Liacontinuasse nessa vida, mas ambos continuaram no tráfico até que ele foi engajado para o serviço militar obrigatório.
No dia em que Meneentrou no quartel, Liadeixou a venda de drogas para nunca mais voltar. No dia em que Menedeu baixa do quartel, foi buscá-la na casa dos pais, casaram-se e foram morar em um bairro de classe média em Indaiatuba.
Meneresolve que é chegada a hora de mudar o futuro seu e de sua mulher
Ele não queria mais que ela se envolvesse com o mundo do crime, então deixaram o passado e cortaram os laços que os ligavam ao Boa Vista. Desde então ela não mais teve nenhuma ligação com o lado errado da vida, apenas ele se manteve nos negócios.
Mene,que sempre foi conceituado dentro da facção, viu que seu tempo no quartel foi bem aproveitado, pois a destreza e o conhecimento na manutenção e na operação de armamentos longos lhe permitiu ganhar ainda mais dinheiro.
Desde que se mudou para Indaiá, ele só participava de assaltos em várias partes do país, transportava armamentos das fronteiras para São Paulo e dava instrução de tiro e manutenção de armas longas para os membros da organização.
A mulher do Capitão
É possível amar um homem com o dobro de sua idade?
Uma década se passou nessa nova vida e o casal Menee Liacontinuava apaixonado, como José Maria relatou-me no seu jeito de falar:
O casal teve uma única filha, Ana Sophia, e no dia do aniversário de dez anos da menina parou um automóvel de alto padrão em frente à residência, do qual saltam duas pessoas que foram tão importantes no passado do casal: Capitãoe Cristiana.
Tudo mudou após a mudança de Menee Lia
Pouco tempo depois que os jovensdeixaram o Boa Vista, os pais de Cristiana morreram em um acidente de automóvel e ela, tendo ficado sozinha, acabou indo morar com o Capitão, que a acolheu como se fosse sua filha.
A convivência porém os aproximou de outra maneira, e eles acabaram se casando alguns anos depois, mas, não sejamos hipócritas, a jovem Cristiana nunca esteve realmente apaixonada pelo velho ex-militar.
José Maria com seu jeito professoral de balcão de bar me descreveu assim esse relacionamento:
Qual a surpresa e a felicidade de Menee Liaquando ficaram sabendo que Capitãoe Cristiana estavam chegando para ficar – procuravam um recanto para se aquietarem.
Menee Lia insistiram que ficassem em sua casa, havia quartos de sobra, mas Capitão,que prezava por sua privacidade, já escolhera uma casa em um luxuoso condomínio próximo dali.
Capitãoresolve que é chegada a hora de mudar o futuro seu e de sua mulher
Desde a morte de seus pais, Cristiana não atuava mais nos corres nas ruas, passando a gerenciar os negócios do Capitão e os que lavavam o dinheiro da organização criminosa: lava-jatos, postos de gasolina, uma rede de pizzarias e uma franquia de buffet infantil.
O Capitão continuava com o paiol da facção, o financiamento das quadrilhas, e só para sentir a adrenalina fluindo em seu sangue ia na linha de frente nas grandes operações de ataques a sedes de transportadoras de valores e a pilhagem de pequenas cidades.
No entanto, Capitãoe Cristiana durante uma viagem pela Europa resolveram que mudariam de vida, assim como no passado o fizeram Menee Lia, e trataram de se ancorar nos arredores Indaiatuba, porque lá já viviam seus grandes amigos do passado.
E assim o fizeram. Capitão desmontou seu esquema criminoso, ficando apenas com o financiamento de ações de quadrilhas ligadas ao Primeiro Comando da Capital.
O certo pelo certo os juros não serão cobrados
O certo pelo certo, os juros não serão cobrados
Assim como Capitão, Meneabandona todas as suas outras ações criminosas para trabalhar exclusivamente no transporte de valores e na cobrança de dívidas para seu velho amigo.
No início essa operação seguia tranquila e o lucro para ambos superava o que ganhavam no tráfico e nos assaltos, mas a cobrança de juros em empréstimos foi proibida dentro da facção Primeiro Comando da Capital – o que afetou o lucro da dupla.
Pela novas regras do crime organizado, o financiador das operações podia acertar receber parte do butim conseguido pela quadrilha nas ações, mas não podia cobrar pelo uso do dinheiro em si como se fosse um empréstimo a juros.
Mesmo assim, financiamento de assaltos, da importação e exportação de grandes quantidades de drogas garantiam um lucro enorme, mas quando as operações falhavam a obrigação de pagar continuava com o devedor, que não podia ser extorquido com a cobrança de juros.
Essa é uma das regras do “certo pelo certo e o errado será cobrado”, que foi incorporada para impedir que as famílias dos encarcerados fossem extorquidas por dívidas contraídas pelos cativos, ou que esses, ao sair, tivessem nas costas uma dívida impagável.
No entanto, era no degradé existente entre o preto e o branco que Capitãoe Menenavegavam, buscando se manter pelo lado certo da vida errada sem deixar de receber o que consideravam um ganho justo pelo que foi investido.
Amor e talaricagem na facção PCC 1533
A família 1533, o amor e a talaricagem
A vida continuava tranquila nos negócios e os casais ainda mais unidos e felizes. As saídas de Meneagora eram menos frequentes e mais rápidas, logo voltando para Lia. Já Capitãoe Cristiana quase não se ausentavam de seu lar.
Depois de trocarem muitas palavras sobre coisas totalmente indiferentes à nossa história, Menefixou o olhar na sua interlocutora e aventurou estas palavras:
— Não tem saudade do passado, Cris?
A mulher estremeceu, abaixou os olhos e não respondeu.
Meneinsistiu. A resposta de Cristiana foi:
— Não sei; deixe-me!
E forcejou por tirar o braço de Mene; mas este reteve-a.
— Onde quer ir? Está com medo de mim?
Nisso Menerecebe quase que ao mesmo tempo duas mensagens no WhatsApp. Ele dá uma olhada rápida, vê quem as enviou e resolve não responder naquele momento para não correr o risco de Cristiana se desvencilhar.
Ela realmente ficou embaraçada, como se ela também tivesse algum sentimento por ele que mantinha escondido por conta de seu casamento. Em suas noites ela devia pensar nele enquanto estava deitada ao lado do velho oficial, e Mene percebendo isso insistiu:
— Se não me ama, fala, “de boa”; receberei essa confissão como castigo de não ter casado com você, e sim com alguém que eu realmente nunca amei. Você sabe que eu fiquei com Liaapenas para poder ficar mais perto de você e acabei por me casar com ela apenas para que ela não odiasse você por me tirar dela, e foi você quem quis que nos separássemos.
Um romance do passado escondido de todos
Foi assim que Joaquim Maria contou para mim algo que ninguém sabia sobre o caso que existiu entre Cristiana e Mene quando este já namorava com Lia.
Cristiana ficou naquela época com ele apenas por prazer, e quando viu que o amor de Liaera verdadeiro e sincero deixou o jovem para a amiga, sem nunca lhe dizer nada. Agora, depois de tantos anos, Meneresolve exigir o resgate de uma paixão adolescente.
Para sua sorte, Liachegou, e Menemudou de assunto.
As mensagens de Sininho e Camila Veneno
O destino resolve que é chegada a hora de mudar o futuro daqueles casais
Cristiana se despediu do casal, mas, na saída, Mene ficou a sós com ela e novamente declarou seu amor, afirmando que não sossegaria enquanto não ficassem juntos, nem que fosse ao menos uma noite – ela lhe devia isso.
Quando Meneentrou novamente em casa, comentou com a esposa que Cristiana estava agitada e aconselhou que ela fosse visitar a amiga assim que possível para ver se o que a afligia.
Nunca saberei se o rapaz instigou a mulher apenas por um prazer doentio, para ver se Liahavia desconfiado de alguma coisa ou para testar o quanto a antiga amante conseguiria manter o antigo segredo.
Um descuido e uma descoberta
O que sei é que naquele dia, um pouco mais tarde, Meneteve que ir até o aeroporto de Viracopos retirar alguns equipamentos que chegavam e que deveriam ser levados até um galpão em Pirituba, na Zona Oeste de São Paulo, ainda naquele dia.
Enquanto isso, Lia foi à escola buscar Ana Sophia e deixou a menina para estudar na casa de uma amiga. Ao voltar para casa, sozinha, resolveu visitar Cristiana, conforme havia lhe sugerido o marido antes de sair.
Ela ligou para Menepara avisá-lo onde ela estaria, mas ouviu o telefone tocando no quarto – na pressa de sair, ele devia ter esquecido o aparelho em casa. Ela notou que havia duas mensagens não lidas, e resolveu ler as mensagens.
O casal não tinha segredos, confiavam totalmente um no outro. Foi ela mesma quem havia escolhido a senha do celular para ele. Eram as duas mensagens que Menehavia recebido e não lido enquanto estava tentando convencer Cristiana a voltar o relacionamento com ele.
Mensagem enviada por “Sininho”:
“Mene, se acha que sou trouxa, parabéns, a única coisa que você vai conseguir com isso é fika sozinho. Vc fika com a Camila, ela me disse. ME ESQUECE CARA DE PAU.”
Mensagem enviada por “Camila Veneno”:
“Seu merda, não aparece aqui, Sininho é minha amiga, vc é um bosta e td que vc disse prá ela é mentira, aprende ser homem. Vc me engana com ela, e vc nunca nunca nunca nunca me pagou, não sou sua puta. Rodada é sua mãe! Nunca vem mais.”
Lia sempre foi forte, mas sentou e chorou. Eram essas as missões que deixava o marido por dias fora de casa?
Armas de Viracopos à ZO SP
Uma mensagem misteriosa interrompe a missão de Mene
Menenão havia esquecido o celular, ele o deixara de propósito, como sempre fazia quando saía em um missão – se o sinal do aparelho fosse rastreado, seu localizador apontaria que ele não saiu de sua residência.
O que de fato ele esqueceu, porque se distraiu com Cristiana, foi de apagar as duas mensagens. A mulher não costumava mexer no aparelho, então ele depois resolveria com calma a parada com as duas piranhas de Campinas.
Ele retirou o pacote no aeroporto de Viracopos e já seguia pela Rodovia dos Bandeirantes quando recebeu uma mensagem no aparelho que levava nas operações e que só o Capitãotinha o número:
“Vem para já minha casa, agora. Preciso falar com você sem demora.”
O Capitãosabia que ele estava no meio de um serviço que ele mesmo havia passado. O que podia ser tão urgente assim para interromper o trabalho?
Primeiro imaginou que o esquema foi descoberto pela polícia, que iria interceptá-lo na estrada ou no momento da entrega, mas também poderia ser que o parceiro percebeu alguma trairagem e os compradores poderiam tentar zerá-lo e ficar com o pacote sem pagar.
Se arrependeu de ter aceitado aquele serviço. A paga era boa, mais que o triplo que o normal, mas eles haviam prometido às mulheres que não mais iriam fazer esses corres, só que não resistiram à tentação de uma grana fácil.
Missão cancelada
Quando minutos se transformam em horas
O azar é que já havia passado o último retorno, ficando longe para voltar por Campinas, e até para cortar pela Vinhedo-Viracopos teria que ir até Itupeva, perto de Jundiaí, para fazer o retorno, uma hora e meia de viagem – nesse tempo daria para entregar o pacote…
A cada quilômetro rodado suas emoções se alteravam, ora se tranquilizava, ora ficava ansioso – e havia ainda longos sessenta quilómetros pela frente para se martirizar, e nem o trânsito estava colaborando.
Eles estavam tão sossegados, para que foram se meter nessa? – Menenão se conformava.
“Preciso falar com você sem demora.” – dizia a mensagem.
Isso não estava certo, se o plano tivesse sido descoberto eles tinham uma mensagem combinada para Meneabortar a missão e mocosaro pacote.
Será que a polícia estaria esperando na casa do velho?
Ou talvez não, pode ser que o Capitãoficou muito puto com o cancelamento da missão e queria a companhia do rapaz para se desestressar. Isso tinha acontecido no passado, quando ele era mais novo, mas agora pode ser que o velho militartivesse uma recaída.
Aquela estrada parecia nunca acabar, nunca percebeu como era tão longa.
Pensou em seguir antes para sua casa, pegar a mulher e fugir, desaparecer por uns dias e só voltar depois de ter saído fora do flagrante; ou seria melhor seguir a ordem do companheiro?
Deveria ir a casa do Capitãoarmado ou desarmado, com ou sem o pacote?
Na casa do capitão expluso da PM
Meneresolve se deixar levar pelo destino
Entrou no condomínio e seguiu para a residência do Capitão. Não notou nenhuma reação diferente nos seguranças da portaria, que ligaram para a casa para que o proprietário autorizasse sua entrada.
Mas se a polícia estivesse esperando por ele, os seguranças, que eram todos policiais e guardas civis que faziam bico para o condomínio, não iriam estragar o flagrante, pelo contrário, deveriam estar torcendo contra ele.
“Foda-se”, pensou. Ele iria descobrir em poucos minutos.
Menepodia esperar tudo, menos aquilo
Ele gelou ao chegar próximo à casa e ver que o carro de Liaestava ali. Cristiana devia ter contado ao marido da talaricagem de Mene, e o velho que chamara Lia para resolverem juntos a parada.
Parou próximo, planejando uma forma de se livrar da acusação de Cristiana, pois talarico morre pelo Dicionário da Facção PCC 1533.
Não adiantaria fugir, ele seria caçado pela facção e seria justiçado.
Tribunal do Crime – Agiotagem
O destino não devia ter reunido novamente os quatro
Resolveu entrar, conversar, sentir o clima, ouvir as acusações e depois jogar a culpa em Cristiana, acusando-a de querer trocar o velho Capitãopor ele, e como ele a teria recusado, ela o acusava falsamente para se vingar.
No final ela iria se ferrar e ele se sairia bem, quem duvidaria que ela não tivesse interesse em trocar o velho por ele?
Às vezes o destino nos prega algumas peças.
Menee Capitãohaviam resolvido abandonar a maioria de suas atividades criminosas para se dedicar às suas famílias.
A infidelidade de Menecom outras garotas poderia ter abalado um pouco esse cenário tranquilo, principalmente depois que Liadescobriu as mensagens e resolveu ir à casa de Capitãopara desabafar com Cristiana, sem imaginar que a amiga também havia ficado no passado com Mene, e que agora desejava reatar o caso.
Mas nem Liae nem o Capitãojamais saberiam disso por Cristiana – Meneestava certo, a garota realmente queria ficar com ele, só não tinha coragem de assumir essa posição, temendo que se o marido desconfiasse mataria a ambos.
O certo pelo certo e o errado será cobrado
Quando Liachegou à casa, foi surpreendida por seis homens armados que mantinham Capitãoe Cristiana sentados em um sofá, e ela foi colocada junto a eles.
Cristiana chorava, mas ela e o Capitãoficaram em silêncio por quase uma hora até que Meneentrou e também foi imediatamente rendido.
Com uma voz suave, mas com as gírias próprias da facção, um dos homens avisou ao Capitãoe a Meneque seriam levados para um debate, pois estavam sendo acusados de agiotagem.
Com calma, o homem afirmou que não precisavam se preocupar, que tudo seria esclarecido e logo voltariam para casa se estivessem correndo pelo certo, e que o resto da quadrilha continuaria ali para garantir que eles não tentassem alertar a segurança ao sair.
Capitão saiu conduzindo seu carro, tendo ao lado Mene, e no banco de trás dois homens do Tribunal do Crime.
Passaram-se meia hora até que os que estavam na casa receberam a mensagem de que os homens estavam seguros no cativeiro e que podiam deixar a casa.
Foi mais ou menos essa história que Joaquim Maria me contou, se bem que acrescentei alguns detalhes que eu já conhecia, assim como outras coisas descobri depois conversando com um ou com outro por aí.
A noite já havia fechado quando o “patrão das biqueiras” no Boa Vista chegou para fechar o negócio, e tudo se resolveu rapidamente – ao lado do bar há uma loja de ração com uma balança, o que facilita tudo.
Por pura ironia do destino ficamos conversando por algum tempo antes de poder voltar para casa, porque uma equipe da força tática parou para fazer a abordagem em alguns garotos que desciam a avenida quase em frente ao bar em que estávamos.
Pedimos mais algumas cervejas enquanto olhávamos a polícia trabalhando. Como os garotos estavam limpos, só receberam os esculachos de praxe.
Me veio uma outra pergunta em mente: será que eles agiriam com esse mesmo procedimento se houvessem câmeras nos uniformes ou se estivessem em um bairro nobre da cidade?
Os policiais, assim como nós mesmos, cometemos uma ou outra infração e condenamos sem perdão os pecados cometidos pelos outros. Contudo, não vim aqui para falar sobre como os policiais fazem seu trabalho, e sim sobre dois casais de criminosos.
(Esse texto é baseado em fatos reais que foram adaptados tendo como base o conto “Casada e viúva” de Joaquim Maria Machado de Assis)
Aqueles policiais agiram como quaisquer outros homens teriam agido na mesma situação – todos participaram, e nunca saberemos com certeza quem é o pai da criança:
O nascimento do PCC seria evitável até o momento no qual o diretor do presídio foi empurrado para o lado e os homens se enfiaram com violência para dentro da instituição.
A Casa de Custódia do Carandiru estava sendo invadida sob os olhares sedentos de prazer dos telespectadores que, de suas poltronas, acompanhavam o evento e repetiam com o Datena: “bandido bom é bandido morto”:
A ereção e as emoções sentidas por aqueles homens que se enfiaram naquele emaranhado de corredores escuros e sujos baixou após algumas horas.
No entanto, os policiais, sem se darem conta, plantaram a semente do mal e regaram-na com o sangue de centenas de detentos e as lágrimas de milhares de seus amigos, mulheres e familiares.
Dez meses depois, há 134 km dali, na Casa de Custódia do Taubaté, o fruto daquele sêmen introduzido gerou o Primeiro Comando da Capital.
Até então existiam milhares de grupos de detentos agindo isoladamente em presídios, cadeias, abrigo de menores e clínicas de internação por todo o país, mas o Massacre do Carandiru teve o poder de integrar as diversas gangues.
Foi possível, então, implantar uma ética do crime dentro do sistema carcerário, algo que freasse os abusos sexuais, a violência física e a extorsão sofrida por outros encarcerados e por agentes públicos.
Um século e meio se passou, e eu e você somos expectadores de um mundo que banaliza a vida e a morte. Somos parte integrante da desumanidade de uma sociedade frívola e cruel, construída por valores insensíveis.
O estupro era evitável até o momento em que o diretor foi empurrado para o lado e os corredores escuros eram transformados em rios de sangue.
Nós, eu e você, assistimos ávidos de um prazer quase sexul a morte dos detentos do Carandiru, mas aquele estupro coletivo gerou um filho que agora nos cobra vingança.
Lamento ser eu a vir lhe dizer, mas o garoto não pode ser morto. Ele nasceu de um estupro e foi batizado em um rio de sangue.
O garoto cresceu, tornou-se uma ideia, um mito, e hoje vive na mente e no coração de milhões de brasileiros e de milhares de outros latino-americanos.
Cenas da pacificação trazida pela facção Primeiro Comando da Capital (PCC 1533) – a realidade brasileira superando a ficção dos americanos da DC Comics.
— Eu não vou entregar a cidade para o crime organizado, não importa o que os números digam! – retruca o investipol.
— E seus colegas? Quantos deles foram alvejados no ano passado? Nos ataques de 2005 o PCC matou 45 policiais em apenas alguns dias Em 1999, só em serviço foram 44 policiais mortos. No ano passado, já com a pacificação, apenas 11 colegas foram mortos. Em um único ano foram 33 policiais que deixaram de morrer nas mãos dos criminosos, voltaram para casa e continuaram com suas vidas e com suas famílias!
— Eu sei das estatísticas.
— Um dia eu prometo que nós vamos acabar com o Primeiro Comando da Capital. Esse país tem que ficar em pé outra vez, mas por enquanto vai devagar, por favor. – pede, em tom conciliador, o delegado.
— Mas a cada dia em que os cidadãos vão até um traficante, para pedir proteção ou justiça, mais difícil será para reconquistá-los. – insiste, inconformado e com a cabeça baixa, o investigador.
— Quer que as pessoas respeitem mais os policiais? Tem maneiras mais inteligentes que cuspir na cara do PCC: basta seguir as normas e os regulamentos. Se o cidadão estiver errado, prenda; se não tiver provas, não forje um flagrante ou abuse da força para conseguir informações. – finaliza o delegado.
A pacificação do PCC, o repórter e o faccioso
Juro que vi um repórter entrevistando um líder da facção:
— Há rumores que a facção está controlando as comunidades, criando regulamentos e dizendo aos criminosos quais os crimes que podem ser executados e determinando os locais. Por exemplo, não seria permitido assaltar próximo às biqueiras. Essa informação procede?
— Me diga, Qual é a taxa de homicídios em São Paulo? – questiona o faccioso.
— Estamos em uma queda histórica. – responde de pronto o repórter.
— Queda histórica. – começa a responder em tom de ironia o líder criminoso –. Sabe? Augusto Cesar reinou no período de mais longa paz e prosperidade que o mundo já conheceu. Ficou conhecida como a Pax Romana, e talvez um dia a pacificação que temos hoje no estado de São Paulo seja chamada de Pacificação do Primeiro Comando da Capital, quem sabe?
A pacificação do PCC, o jovem cidadão e o faccioso
Juro que vi um cidadão questionando um líder da facção sobre a pacificação em São Paulo:
— Eu quero agradecer por tudo que tem feito por essa comunidade. É verdade que o PCC proíbe mortes desnecessárias e controla na periferia o crime? Todo mundo está falando disso, eu só quero saber como funciona. – começa o rapaz.
— Primeiro, uma pergunta: você concordaria com a ideia de que uma organização criminosa impusesse as regras para os demais criminosos? – retruca o líder da facção.
— Se, há três anos, quando meus pais foram mortos, esse controle já existisse, eles talvez ainda estivessem vivos.
— Exatamente, mas a facção não controla diretamente o crime nas ruas, a facção dá as diretrizes e os disciplinas de cada cidade, de cada quebrada, são quem avaliam cada caso e, se acharem que alguém está furando as regras, chamam para o debate, e, se não resolver, manda para o Tribunal do Crime. – conclui o faccioso.
Juro que vi esses diálogos no primeiro episódio da quarta temporada da série “Gotam – Pax Pinguina” – com algumas modificações no texto para adequá-lo à nossa realidade:
Acresci os números referentes ao estado de São Paulo, substituí os termos “Pax Pinguina” pelo “Pacificação do Primeiro Comando” e “gangue do Pinguim” por “Primeiro Comando”, e as palavras “comissário” por “delegado”,e “Pinguim”por “um chefe da organização criminosa”.
Encaixou-se em nossa realidade como uma luva.
Os roteiristas de Gotam alegam que a quarta temporada foi baseada no enredo de três antigas revistas da coleção, mas o controle que Pinguim exerce sobre a criminalidade se assemelha à forma de agir do PCC, e não às descritas nas revistas da DC Comics.
O fato de uma produção estrangeira descrever de maneira tão precisa uma realidade nossa me leva a duas conclusões:
esse fenômeno não é local e está acontecendo em outras culturas ou
os autores se basearam em nossa experiência social.
O mundo real supera a imaginação do cinema
Entre as características quase universais e atemporais do mundo do crime estão as guerras entre grupos rivais (facções) – a hegemonia de organização criminosa com regras escritas e ficha de ingresso de membros é uma raridade tanto na ficção quanto na realidade.
O Primeiro Comando da Capital tem o mais sofisticado sistema burocrático entre todas as organizações criminosas.
No PCC não há punição sem lei anterior que a regulamente:
O Estatuto do PCC foi a base sobre a qual a facção se consolidou. Funciona para a organização criminosa como a Constituição funciona para a legislação de um país.
Quando age em desacordo com a ética do crime:
O Dicionário da Facção é um conjunto de normas que determinam e regulamentam o que é passível de punição e qual a penalidade. O Dicionário regulamenta o Estatuto, assim como o Código Penal e o Código de Processo Penal regulamentam a Constituição.
Para que tenham consciência e apoiem a luta:
Os membros da facção, seus familiares e simpatizantes devem se relacionar com a sociedade segundo as diretrizes da Cartilha do Primeiro Comando da Capital, que detalha a forma como a facção e seu Estatuto devem ser apresentados ao público externo.
Quem somos e em que condições estamos vivendo:
Existe uma Ficha de Cadastro no Sistema para os membros da facção, com detalhamentos que impressionam qualquer departamento de recursos humanos – lembrando que esses dados são coletados, distribuídos e guardados fora do alcance das autoridades.
Vencendo o crime organizado
A realidade superou em muito a ficção criada pelos quadrinistas da DC Comics: enquanto o PCC criou um sistema complexo, o assecla do Pinguim, responsável pelo gerenciamento do RH, possui apenas o registro dos criminosos e os locais onde podem atuar.
Até o momento em que escrevo, eu ainda não assisti a toda a temporada, mas posso adiantar que o pequeno Batman e o Detetive Gordon irão demolir a organização montada pelo Pinguim – dúvida?
No mundo real, os mecanismos de divisão do poder e o Código de Processo Penal são uma máquina de moer carne que sustenta milhares de advogados por todo o país enquanto divide nossa sociedade em castas.
Talvez apareça um Batman e um Gordon ou um salvador da pátria para nos proteger, ou talvez o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) dê mais um passo em seu lento deslocamento em direção ao aperfeiçoamento, ou talvez deixemos como está para ver como é que fica…
Existem oportunidades de mercado para a compra de cocaína da Bolívia e do Paraguai por um preço quase um terço abaixo das rotas atacadistas do Primeiro Comando da Capital.
O assunto deste artigo é o Primeiro Comando da Capital, a compra de cocaínatribu pura no atacado, a trairagem dentro da facção e o Regime Disciplinar ou Dicionário do PCC, mas nada disso de fato para mim importa, como pretendo demonstrar aqui.
Ernesto Sabato está certo ao afirmar que “viver consiste em construir futuras lembranças, [e eu, assim como ele, sabia que estava] preparando lembranças minuciosas que algum dia [haveriam] de me trazer melancolia e desesperança”.
E a pedido do próprio Ernesto, eu não vou me alongar no assunto, mesmo porque é tudo bastante simples, como você mesmo verá, e por isso não farei que você perca tempo lendo “palavras ao vento” ― hoje será papo-reto, resumo.
Só vou contar para você como eu fiquei sabendo de tudo, para que você não precise me chamar de novo na delegacia para dar explicações, assim, já fica tudo dito e pronto ― ah! antes que me esqueça, neste texto há trechos do livro do Ernesto: O Túnel.
A minha tão sonhada esfiha do Habib’s
Eu era office-boy em São Paulo, trabalhava no prédio da Jovem Pan na Avenida Paulista, e na esquina da Alameda Joaquim Eugênio de Lima com a Alameda Santos havia um Habib’s ― isso foi no começo da década de 1990.
Na empresa em que eu trabalhava, o pessoal do Departamento de Arte mandava que eu fosse comprar esfihas no Habib’s todos os dias. Era caro demais para meu bolso, então fiquei por meses só sentindo o cheiro e vendo os caras comendo.
É verdade me que ofereciam, mas eu dava uma desculpa e ia comer minha marmita de arroz, arroz, arroz, feijão e uma mistura (uma mistura era como minha mãe chamava o ovo).
Foi assim por meses, até que em um dia de pagamento, depois de acertar todas as minhas contas, fui ao Habib’s e me sentei sozinho para experimentar com gosto a tal da tão cheirosa e tentadora esfiha.
Só contei isso para que você entendesse o porquê de, naquela noite do ano passado, eu estar sozinho no Habib’s, degustando esfihas e lembranças minuciosas que sempre me fazem sentir melancólico e desesperançado ― eu curto esses momentos de solidão e deprê.
Basta de efusões. Eu disse que relataria esta história de forma enxuta, e assim o farei.
Uma operação policial próxima ao Habib’s
Eu estava sentado junto à janela, e uma barreira policial havia sido montada no final do quarteirão, então, quem entrava na rua, obrigatoriamente teria que passar pelos policiais ― só que não.
Para minha surpresa, entram no restaurante dois conhecidos meus, que, ao verem as viaturas policiais fechando a via, entraram no estacionamento do Habib’s e resolveram esperar lá dentro pelo fim da operação policial.
Vieram para minha mesa ― pronto, acabou meu sossego, lá se foi minha paz e minha degustação deprê.
Pediram de cara duas pizzas, uma de calabresa e outra portuguesa ― ai, meu Deus, só falta pedirem que eu rache a conta e eu nem gosto dessas pizzas!
A barreira não se encerrava, o assunto fluía. Os garotos estavam indo buscar dois quilos de cocaína pura, puríssima, vindos diretamente da Bolívia por meio de um contato em Santa Cruz de La Sierra ― pense em dois garotos empolgados.
Iam faturar uma boa grana sem o risco de pegar dois mil quilômetros de estradas e fazer negócio em um país estrangeiro com um contato que não conheciam pessoalmente.
Garotos espertos, não marcaram a entrega na cidade deles, e sim em Campinas ― cidade grande, com muito fluxo de veículos e muitas entradas e saídas.
Colocaram sobre a mesa os pacotinhos de dinheiro totalizando cinco mil Reais.
Empolgados, me contaram que já haviam, no ato da encomenda, depositado em uma conta da Caixa quatro mil. Quinze dias depois de pegarem a mercadoria, depositariam outra parcela de cinco mil.
Para falar a verdade eu estava mais preocupado com a conta do Habib’s, mas algo me incomodou na conta dos garotos: 5+4+5=14, tudo bem, é um bom preço, afinal o preço da cocaína em São Paulo gira em torno de 18 mil, só que, sempre tem o “só que…”
O preço de mercado da cocaína pura, gira em torno de 18 mil DÓLARES o quilo, à vista, e eles estavam comprando por 14 mil REAIS dois quilos, parcelado! ― pense em dois garotos empolgados e um tiozinho olhando com cara de “Oh! Coitados!”.
Os garotos do corre e a garota do transporte
Bem, eu prometi que seria breve, que não iria me alongar, mas é importante que você saiba de tudo para entender que eu não tive nada a ver com isso, e só fiquei sabendo dos nomes, da história e dos locais por puro acaso.
Tocou o celular de um deles, era a garota que transportava a mercadoria, e como não tinha nenhuma mesa por perto ocupada, eles colocaram no viva-voz.
Ela falava com bastante naturalidade, e os garotos tentaram fazer com que que ela levasse a mercadoria para o estacionamento do Habib’s, ali mesmo, mas ela insistia em outro ponto.
Nunca tinha imaginado que o transporte funcionava assim. Eles haviam acompanhado o trajeto pelos Google Maps, legal essa tecnologia, só que, sempre tem o “só que…”
Reparei que não estava sincronizado on-line, que ela atualizava manualmente a localização ― estranhei isso.
Ela insistia em que eles fizessem o depósito da segunda parcela antes que a mercadoria fosse entregue ― estranhei isso também.
Só eu parecia achar que era muita coisa estranha para um negócio, mas cada um com seus problemas, a minha preocupação era que eles saíssem do Habib’s sem pagar as pizzas que por sinal, só eles estavam comendo.
Eu devia estar demonstrando nervosismo porque os garotos me intimaram a dar explicação para minha agitação.
Buscando cara crachá dentro do Sistema
Não ia dizer para eles que estava preocupado que não pagassem a conta do Habib’s, então disfarcei, e disse que o preço da droga estava incompatível, a atualização do localizador estava sendo feito manualmente e não senti firmeza na voz e no método da garota.
Vieram com aquela enxurrada de afirmações que tudo estava certo, que não tinham dúvidas, que era um irmão conhecido da facção, para depois de alguns momentos de silêncio, ficarem tensos e olhando um para o outro.
Pensei até que não tinham acreditado na minha história, e haviam percebido minha preocupação sobre quem iria pagar as pizzas, mas aí os dois foram para os celulares e esqueceram da minha presença ― eu deveria ter saído sem pagar naquele momento.
Começaram a ligar para o contato que estava intermediando o negócio, era um irmão de outro estado, mas que estava respondendo só em texto e, quando soltava a voz, dava para perceber que era gravação antiga ― só os garotos na empolgação não tinham manjado.
Dei o toque e, então, eles começaram a correr em busca de informações dentro do Sistema Carcerário ― um liga para um Sintonia, outro para um Cadastro, e começou o debate e a agitação dentro das trancas para conseguir informação do tal irmão.
A confirmação vem do Cadastro do MS
Veja, não estou tentando alongar o assunto, pelo contrário, estou resumindo ao máximo, pois assim eu havia dito a você que o faria, no entanto é importante que você entenda todos os detalhes para ver que fui apenas um mero observador nessa história.
O cadastro do Mato Grosso do Sul passou o Cara Crachádo tal irmão. De fato ele existia e não era excluído, porém, alguém estaria usando o nome dele para aplicar golpes, e eles estavam sendo vítimas de uma armação.
Imagine a cara dos dois quando receberam essa resposta das trancas. Planos maléficos foram feitos na hora, e pelo celular armaram rapidamente uma equipe para pegarem a garota, com ou sem drogas.
Engrossaram a voz quando ela ligou novamente, ameaçaram usar o Tribunal do Crime do PCC para pegar tanto ela quanto os outros envolvidos ― ela desligou. A barreira policial a essa altura já havia ido embora, e eu pensei em pedir um café.
Desisti do café. Se eles não pagassem a pizza, ia sobrar para mim, e teria que rezar para que o saldo no cartão desse para pagar a conta ― eu só tinha 10 reais em dinheiro. Será que daria para tirar os 10% do garçom? Às vezes por causa de cinco reais o cartão não passa.
Toca o celular, uma mensagem escrita, dizendo que eles deviam deixar quieto o bagulho e engolirem o prejuízo em paz, que eles sabiam quem os garotos eram. Mandaram até as fotos das casas dos dois rapazes, dizendo que fariam uma denúncia para a polícia caso insistissem.
Vi que a foto era do Google Street View, mas ficava evidente que o golpista tinha informações sobre os garotos e poderia causar problemas se quisesse.
O tal do irmão ainda propôs um negócio para os garotos: ele pagaria 50% do lucro em outros golpes se eles indicassem possíveis compradores e dessem dados para ele poder chegar nos caras, assim como alguém tinha feito com eles.
Esse encontro no Habib’s aconteceu há um ano, e só agora me lembrei de contar essa história, pois fiquei sabendo que o mesmo golpe, utilizando o nome do mesmo irmão continua sendo aplicado, com alguma variação.
Fui àquela noite reviver uma lembrança do passado, mas acabei construindo mais uma futura lembrança, minuciosa, que hoje já me traz certa melancolia e desesperança.
Mas o importante é que consegui cumprir o que prometi: não me alonguei no assunto mais que o estritamente necessário ― como acaba de me lembrar Ernesto.
O grupo criminoso Primeiro Comando da Capital, assim como as bruxas e o comunismo, é utilizado para que grupos políticos, que estão no poder ou desejam chegar a ele, criem um ambiente de terror com alguma finalidade específica.
Aparentemente é o que voltou a acontecer agora na Bolívia, onde parte do governo do presidente Luis Arce deseja facilitar a ação no país da Drug Control Administration (DEA), apesar de há muito a facção PCC 1533 ter caído no esquecimento pela população boliviana.
Os números do Google Trends não deixam dúvidas de que o fantasma está sendo alimentado artificialmente para então poder ser combatido.
Facção PCC: os dois lados da questão
Quem se opõe a essa narrativa para justificar uma intervenção americana no país, que no geral não acaba bem, é o vice-ministro de Substâncias Controladas, Jaime Mamani Espíndola, que afirma que se fosse significativa a presença da facção paulista no país as autoridades não poderiam circular livremente como o fazem.
Quem apoia e alimenta essa narrativa e pede a presença do DEA, que no geral acaba trazendo dólares para o país e holofotes para políticos e agentes do Estado através de políticas de “intercâmbio”, é a oposição de direita que há poucos anos tentou tomar o país a força e a Comunidad Ciudadana (CC), uma coligação política de centro liderada pelo ex-presidente Carlos Mesa.