A Era do Resgate no PCC e o fim da caixinha do PCC

Atrair novos integrantes com o fim da cobrança da caixinha do PCC e chamar de volta antigos companheiros excluídos são algumas das estratégias da facção criminosa para um novo tempo.

o fim da caixinha está atraindo integrantes

A caixinha do PCC e as mudanças na facção paulista

O fim da caixinha do PCC 1533 não é apenas uma mudança no fluxo de caixa, é o sinal de uma nova Era do PCC.

Várias vezes nessas duas décadas, policiais e promotores de Justiça afirmam que a organização criminosa Primeiro Comando da Capital esteve com seus dias contados.

Faz muito tempo, muito tempo mesmo, o Secretário de Segurança de São Paulo afirmou que o então “Partido do Crime” tinha acabado — isso em 1997.

Depois dele, Secretários de Segurança, promotores de Justiça e políticos de plantão afirmam: É questão de tempo o fim do PCC!

MP-SP anuncia: é iminente a derrota da facção PCC (2018)

Família como base sólida

Todas as tentativas de acabar com a organização criminosa falharam.

Ao contrário das máfias tradicionais, o Primeiro Comando da Capital não se organizou em torno dos parentes de seus líderes.

A família é a base sódia de uma sociedade ou empresa, mas a Família 1533 não é formada apenas de parentes.

Os inimigos e as forças de segurança sabem que a família dos mafiosos são a força e o elo mais fraco da estrutura dessas organizações.

Mas como lidar com a Família 1533, que é uma família formada não pelo sangue do parentesco, mas pelo sangue das ruas, dos corres e dos ideais?

Cartilha de Conscientização da Família 1533

A facção PCC na Era do Resgate

Essa família impediu que os Secretários de Segurança, promotores de Justiça e políticos cumprissem suas promessas de acabar com a organização criminosa paulista.

Como toda a família, no Primeiro Comando da Capital também tiveram aqueles que não correram pelo certo, que erram e faltaram com a Família 1533.

Uma das faltas mais comum era a dos integrantes inadimplentes com o caixinha do PCC que eram expulsos.

Agora, como o filho pródigo da Bíblia, eles estão sendo recebidos de volta ao ceio da Família do Primeiro Comando da Capital.

A facção criminosa está indo atrás de cada um, em cada canto do Brasil para chamar para correr junto.

Regime Disciplinar — Dicionário do PCC

A facção PCC se reinventado para sobreviver

Atuando em quatro continentes, o Primeiro Comando da Capital é hoje a maior e mais abrangente organização de todas as Américas — dependendo do critério utilizado.

Ao conquistar um espaço territorial muito grande e sabendo que ainda tem todo um mundo à conquistar, as lideranças tiveram que mudar algumas estratégias.

Todos os integrantes da facção tem os mesmos direitos e obrigações, o que é motivo de orgulho para os seus “crias”.

Todos são iguais e não deve se cometer injustiça com ninguém.

Essa igualdade é a grande força da facção, mas também é o seu ponto mais fraco — seu calcanhar de Aquiles.

Todos os integrantes pagavam a caixinha, era o justo e o correto, no entanto, também era a maneira mais fácil das autoridades mapearem os integrantes.

Teve uma época em que as lideranças foram chamadas para garantir o pagamento da caixinha.

Administrar todos os picados sai caro

O fortalecimento alcançado pela organização criminosa permite que não se cobre mais de seus integrantes a mensalidade que colocava em risco toda a estrutura.

Agora, os Secretários de Segurança, promotores de Justiça e políticos que quiserem acabar com o Primeiro Comando da Capital terão também que se reinventar.

A cada baixa de uma liderança, novas surgem como um acender de lâmpada, e cada uma delas traz novas ideias, novas estratégias, novos arranjos pessoais e familiares.

A facção sobreviveu a tantos ataques das autoridades, pois foi unida por sangue e forjada no fogo, e para cada um que cai há dez querendo entrar.

Uma estória que contei há exatos 11 anos, em fevereiro de 2012

Acerto de contas no Primeiro Comando da Capital

Eu sabia que não devia ter me metido naquela enrascada.

Sempre disse que vira-latas não se mete em briga de pit-bull, mas falar é fácil, e eu entrei naquele assunto para o qual não tinha sido chamado.

Não podia dar outra coisa, dancei.

Desmaiei pouco tempo depois de começar a chutes de todos os lados.

Primeiro aquela dor indescritível, minha cabeça voava de um lado para outro, eu ainda sentia isso, não tinha perdido totalmente a consciência.

Não procurarei definir, ou descrever o que restava dela. Não era sonho, delírio, desfalecimento ou morte. Havia dor e imobilidade.

Sentia meu sangue quente fluir pelo meu nariz e escorre pelo meu rosto. O gosto do sangue agora era o único que sentia.

Sei que respirava, pois a cada inspiração havia muita dor, minhas costelas pareciam facas aguçadas querendo chegar cada vez mais fundo em meus pulmões.

Pronto, fui apresentado ao PCC, eu sabia disso.

Em meio a morte, em meio aquela teia de sonhos e alucinações acredito ter ouvido conversas, vozes que contavam histórias e discutiam seus assuntos como se eu não estivesse ali.

Um diálogo cabuloso definindo meu destino

Talvez imaginassem que eu não sobreviveria, ou talvez só estivessem esperando minha morte para poderem ir embora com a certeza da missão cumprida.

― Entendeu, eu acredito que você vai fazer o que é certo, o que se acha que é certo, entendeu irmão e, estou fechando junto e, é isso. Entendeu, por que tá demais, o mole que tá demais mesmo, né meu a gente sabe que a gente tem certo limite pra fazer as coisas, mas tem uns caras que tiram da linha, esse daí é o tipo que tira da linha. Eu vi ele trabalhando com o irmão Neizinho, ele tá trabalhando sim. Ta inclusive eu te liguei irmão, por que é o seguinte, tem um outro menino lá que tá trabalhando pro irmão Neizinho. Que é o Maicon, não sei se você já ouviu falar. Outro dia foi numa biqueira aí irmão e pegou lá parece um quilo de mercadoria lá no nome do irmão Pimenta, entendeu, moleque? Sem o conhecimento do irmão, moleque? – falou Luiz Carlos do Nascimento, o irmão Piloto.

― Vai vendo. – respondeu o outro.

― Até uns dias atrás ele trabalhava com o irmão Neizinho. Então é um problema, viu, esses meninos, esses funcionários do irmão Neizinho. Aí moleque. Não, e essa aí é grave, pô, que o movimento tá muito descabeçado lá moleque. – falou piloto.

― Então tá usando o nome do irmão aí, colocando o irmão em BO, aí. – concordou o outro.

― Entendeu meu irmão. Aí amanhã eu pego o irmão, eu coloco ele na linha pá nóis pode trocar uma idéia, e aí, cê faz uma viagem só prá lá, já vai e já explica o bê-á-bá prá eles irmão, vê o que eles querem né irmão. Por que pelo simples fato deles estarem todos eles trabalhando com o irmão, pô eles estão totalmente errados… Mas corre com o irmão, então tem que ser no mínimo o bem comportado. Sê viu o outro empregado do Neizinho, o Fuscão, as caminhadas erradas que ele seguiu, num sabe?… – continuava Piloto.

Sabia eu que os dois falavam a respeito dos problemas das biqueiras de Salto, Maicon pegando mercado sem autorização de Pimenta. Ouvi também Piloto dizendo para Edson Rogério França, o irmão Cara de Bola alguma coisa, mas sei como este respondeu:

― Aí o cara já foi pondo o dedo no peito do “M”, aí o bagulho ficou louco. (Marcelo José Marques, o Tio ou “M”)

― Aí imagino né, não. – Piloto.

― Aí soco prá lá, soco prá cá, aí os seguranças rápido já fecho, já fui embora também irmão.

Acho que eles falavam sobre o Fuscão que estava no hospital mando de Cara de Bola, não tinha adiantado o cara dizer que tinha um salve passado por Sandro no papel.

Piloto e Cara de Bola estavam em ordem com a família, Bad Boy estava morto, Fuscão tinha tido sua lição, e eu não sabia onde estava.

Sei que o corvo sobe para quem está com a situação, e que volta a cobrar com quem fechou a caixinha em atraso.

Sobrevivi, narrei aqui o que vi e senti naquela noite, hoje já não pertenço àquele mundo, do qual fui brutalmente retirado, e mesmo se quisesse não mais poderia voltar a pertencer.

Autor: Ricard Wagner Rizzi

O problema do mundo online, porém, é que aqui, assim como ninguém sabe que você é um cachorro, não dá para sacar se a pessoa do outro lado é do PCC. Na rede, quase nada do que parece, é. Uma senhorinha indefesa pode ser combatente de scammers; seu fã no Facebook pode ser um robô; e, como é o caso da página em questão, um aparente editor de site de facção pode se tratar de Rícard Wagner Rizzi... (site motherboard.vice.com)

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