Glauber Mendonça e a falácia do combate à corrupção policial

Este artigo explora as manipulações retóricas de Glauber Mendonça, a poderosa influência do ódio nas redes sociais e na mídia, e oferece um mergulho profundo nas experiências pessoais do autor, enfrentando a corrupção e injustiça no sistema judiciário, carcerário e policial.

Glauber Mendonça, uma face conhecida, é meu foco neste texto. Ele empregou uma falácia intrigante em seu podcast. Aqui analiso e desvendo essa enganação intencional.

O ódio, uma potente ferramenta, é abordado aqui. Muitos, incluindo Glauber Mendonça, o utilizam para engajamento. O lucro muitas vezes, guia esses influenciadores.

Mais adiante, apresento o relato gótico “Entre a Retidão e a Corrupção”. No qual revelo experiências reais, vividas por mim, como a corrupção, a violência e as injustiças, no sistema judiciário, carcerário e policial.

Convido você a aprofundar-se nesta leitura. As nuances do texto prometem surpreender. Junte-se ao nosso grupo de WhatsApp e participe do debate.
Glauber Mendonça: desmontando sua falácia.

Minha gratidão ao leitor Abadom por sua participação ativa em nosso grupo de WhatsApp. Foi graças à sua perspicácia e contribuição que fui levado a uma reflexão tão profunda e enriquecedora. Abadom, sua capacidade de provocar o pensamento e o debate não apenas enriquece nossa comunidade, mas também desafia a todos nós a vermos o mundo sob uma luz diferente.

Glauber Mendonça: ódio e falácia

Em tempos modernos, vemos as emoções serem amplamente utilizadas como ferramentas para engajamento. A potência do ódio, em particular, tem se destacado como uma das maiores forças motrizes do comportamento humano. No âmbito das redes sociais e da mídia em geral, essa emoção tem sido manipulada para engajar, polarizar e, mais insidiosamente, monetizar.

Recentemente, me deparei com um episódio do Podcast Fala Glauber, que, de maneira impactante, reafirmou essa tendência. Não pude evitar, mas me senti saturado por um sentimento avassalador de desagrado logo nos primeiros minutos. O locutor, Gláuber Mendonça, com sua retórica incisiva, usou do ódio não apenas para provocar reações em seus ouvintes, mas também para canalizar essa energia a uma agenda específica. Ele faz parte de uma crescente lista de personalidades, plataformas e políticos que descobriram o lucro do ódio.

No trecho específico que assisti, Gláuber apresentou uma argumentação que, à primeira vista, parece lógica. Ele observou que a corrupção policial é um mal a ser erradicado e, subsequentemente, apontou a impunidade como alimento para essa corrupção. No entanto, ao invés de conduzir sua argumentação para a necessidade de uma maior fiscalização e punição dos policiais criminosos, ele desviou o foco para o aumento da pena para o tráfico de drogas.

Falácia do afirmar o consequente de Glauber Mendonça

Esse raciocínio de Gláuber, ao examiná-lo atentamente, é uma clássica “falácia do afirmar o consequente”. Ele argumenta:

  1. Policiais são corrompidos.
  2. É necessário maior punição.
  3. Assim, a pena para traficantes deve ser aumentada, pois sua impunidade estimula a corrupção.

A falha aqui é evidente. Embora os dois primeiros pontos possam ser verdadeiros, a conclusão não segue a logica das premissas. O combate à corrupção policial não pode ser efetivamente alcançado simplesmente aumentando as penas para os traficantes de drogas. Em vez disso, o foco deveria ser na raiz do problema, que é a corrupção dentro das forças de segurança.

Glauber Mendonça: alimentando e se alimentando do ódio

Este é um claro exemplo de como o ódio e as emoções podem ofuscar a lógica e serem usados para direcionar a narrativa de acordo com uma agenda específica. A falácia de Gláuber Mendonça é um lembrete para todos nós: devemos abordar tais argumentos com uma dose saudável de ceticismo e sempre buscar a verdade por trás das palavras carregadas de emoção.

Polícia que faz sacanagem diz: ‘Se eu der para o juiz, o juiz pega para ele, então pego para mim. Se eu levar para o delegado, o delegado pega para ele.’ Se a gente entrar nesse mundo… Na verdade, nós já entramos, né? Então, esse é o nosso problema. O ‘gigi’ na polícia é porque o cara é vagabundo? Se ele é vagabundo, ele não se sujeita às regras do Estado. Ele cria argumentos para justificar o que faz. Todo mundo constrói uma razão para suas ações. Então, o policial que tá pegando o dinheiro do trabalhador, o policial que tá tomando dinheiro do ladrão, deixa de ser policial, e o ladrão encontra justificativas. E, no final das contas, quem paga a conta é o trabalhador. Eu não estou convencido por certos argumentos desta lei. Vejo um lado funcionando corretamente, com rigor; do outro lado, não.

Glauber Mendonça

Entre a Retidão e a Corrupção: Relatos de um observador

Na tênue e sombria linha que separa o “mundo do crime” do “mundo da lei e da ordem”, existem aqueles que se refugiam sob o manto da corrupção. Nos corredores escuros dos órgãos da Segurança Pública, presenciei policiais, promotores de Justiça, juízes e funcionários de cartórios criminais trilhando o caminho tortuoso da má conduta, talvez persuadidos pela ideia de que o sistema ao seu redor é tão corrompido quanto suas próprias almas.

No entanto, generalizar com base na depravação de poucos e permitir que suas ações manchem a integridade da máquina de Segurança e Justiça seria um erro. Ao nos aprofundarmos nesse universo, devemos sempre lembrar daqueles que, com ética e dedicação, resistem às tentações sombrias. Diferentemente do que argumenta Glauber, eles agem não por medo de severas consequências, mas sim movidos pela retidão moral.

Por um período de tempo tão vasto e insondável que parece se perder na eternidade, servi nas ruas e em postos avançados da Segurança Pública. As injustiças que presenciei destruíram o idealismo com o qual uma vez idolatrei o sistema de Lei e Justiça, e a integridade dos que o serviam.

No entanto, nem minha alma, nem as almas da maioria dos que compartilharam meu caminho, foram atraídas pelos uivos sedutores dos lobos que se escondiam nas sombras à nossa volta. E asseguro, não foi o medo das consequências que nos manteve firmes. Foi assombroso observar como policiais, juízes e promotores manipulam sinistramente as engrenagens da Justiça a seu favor, como evidenciado pela trágica saga de Marielle Franco ou pelos constantes banhos de sangue que assolam as periferias do Brasil.

Em um plantão do Poder Judiciário paulista

Em uma sombria e imprevisível tarde, enquanto eu vagava pelos corredores do Fórum da Comarca de Itu, uma cena perturbadora desenrolou-se diante de meus olhos, desafiando toda a lógica da Lei e Justiça. Um policial militar, chegou algemado, tendo sido capturado em Indaiatuba por um destacamento da Polícia Rodoviária de São Paulo, portando consigo um tijolo de cocaína.

Como se evocados por sombras, dois advogados da capital surgiram, suas presenças marcadas pela aura de poder e conexões. Em nosso diálogo, confessei minha convicção de que o juiz Hélio Villaça Furukawa, conhecido por sua honestidade, jamais liberaria tal indivíduo. Porém, com olhares astutos e sorrisos enigmáticos, os advogados retrucaram, aludindo a suas habilidades em obter um habeas-corpus de um Desembargador não menos influente. A remuneração dos defensores, sem dúvida, superava em muito o modesto ganho de um policial militar. Estranho. Muito estranho.

Ao final da tarde, antes do término do plantão, o policial, em uma reviravolta chocante, saiu livre pela porta principal do Fórum, libertado não pelo honrado Dr. Furukawa, mas por um enigmático Desembargador da capital.

Em um plantão de uma delegacia da Polícia Civil

Testemunhei, certa vez, um incidente que alteraria minha visão da Polícia Civil. Sob a iluminação branca e fria da delegacia, observei uma equipe da Polícia Militar, de feições marcadas pelo peso da responsabilidade, apresentar um sinistro trio, cujas mãos algemadas carregavam tanto a um pacote de dinheiro quanto a alguns pacotes de pinos coloridos e tabletes de drogas.

Durante seu patrulhamento numa estrada rural próxima ao pedágio da Castelo em Itu, os policiais se depararam com um veículo solitário com dois ocupantes suspeitos parado na pista. A inspeção do veículo desvendou o carregamento de drogas. O ambiente tornou-se denso e carregado com a oferta tentadora dos criminosos: sua liberdade em troca de 30 mil Reais.

Apesar da resistência inicial, as sibilantes promessas dos criminosos soaram em seus ouvidos, insinuando que, se os oficiais não aceitassem, um delegado, com seu poder e influência, selaria um pacto ainda mais vantajoso por 20 mil. Com astúcia, os agentes cederam, e, uma hora depois, um advogado da capital apareceu com a quantia exigida. Mas, em um volteio de engenhosidade, todos os envolvidos, incluindo o rábula, foram aprisionados.

Entretanto, o denso manto da realidade desceu. Em poucas horas, presenciei, com um sentimento de angústia e desesperança, um dos criminosos deixando a delegacia, lançando palavras de escárnio e zombaria aos policiais militares:

Otários, aqui saiu por 10 mil!

Entre trevas e lobos

Em meio à escuridão que cobre os corredores da justiça, e no turbilhão de vícios e iniquidades que testemunhei, não apenas nestas ocorrências mas em um mar infindável de outros casos, eu e os bravos companheiros que partilhavam meu caminho, mantivemo-nos firmes e incólumes, agindo sempre sob o manto da retidão e da lei. Mergulhar nas profundezas da corrupção, da traição e da violência gratuita nunca foi para nós uma opção, e, ao contrário do que afirma Glauber, não é um destino predeterminado por circunstâncias.

Cada ser, com sua consciência atormentada ou pura, é o único senhor de seu destino e não pode, por mais que tente, esconder-se nas sombras de sistemas imperfeitos para justificar sua decadência moral. Pois, a integridade genuína brilha, mesmo nas noites mais escuras, fazendo o que é justo e correto, desafiando a crença de que, quando todos fecham os olhos, o mal prevalece. E àquele que proclama que a corrupção é inevitável, eu digo:

O abismo nos chamou, mas não nos levou consigo.

Na Sombra da Reflexão: Questionando os Limites da Consciência

Eis que, ao findar de tal relato, nos deparamos com a sombria encruzilhada da existência humana. A narrativa apresentada, de traições e corrupções, lança uma dúvida que transcende o óbvio: Estariam essas almas perdidas realmente condenadas à eterna escuridão, ou seriam elas meramente prisioneiras de um sistema que as transformou em espectros de sua própria essência?

Glauber Mendonça, com sua retórica, aponta para uma direção, mas será que podemos realmente aceitar tal visão sem questionar sua autenticidade?Na complexa tapeçaria gótica da condição humana, onde linhas de retidão se misturam com fios de decadência, não podemos ceder ao simplismo de generalizações.

Devemos nos perguntar se não é possível, mesmo nos recônditos mais sombrios da justiça, encontrar faíscas de redenção. E à medida que cada um de nós, leitor e observador, reflete sobre essa escuridão, somos confrontados com um dilema ainda maior:

Em que medida somos meros produtos de nosso ambiente, e até onde podemos desafiar as sombras que buscam nos consumir?

Sinédoque e o Primeiro Comando da Capital: Sombras e Realidade

Exploramos a sinédoque sociológica ao analisar o Primeiro Comando da Capital (PCC 1533) nas cidades grandes e pequenas. A sombra do crime é a mesma em todos os lugares?

Sinédoque. O termo literário paira sobre nossa compreensão do Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533). Essa figura de linguagem nos desafia a refletir sobre o crime organizado, de forma única.

Cidades pequenas e grandes compartilham sombras similares, mas com contornos distintos. O PCC nas metrópoles ecoa nas cidades menores, mas será essa uma réplica exata? Convido você a desvendar essa incógnita em nossa matéria de hoje.

Seu insight é precioso para mim. Comente nos comentários do site, participe do grupo de leitores ou envie uma MP para mim. Sua voz tem o poder de enriquecer essa discussão.

Sinédoque: A Sombra do PCC das Cidades Grandes

O companheiro Evandro surgiu com uma ideia intrigante sobre uma tal de “sinédoque” quando conversávamos sobre a Molecada do Corre do PCC. A palavra era estranha para mim, mas ele insistia que estava intimamente ligada ao Primeiro Comando da Capital.

Ao ver os olhos de Evandro brilhando enquanto explicava, comecei a seguir seu pensamento: na imensidão do estado de São Paulo, os contrastes entre as violentas periferias das metrópoles e os pacatos distritos das pequenas cidades são tão vastos quanto a diferença entre o mar e o deserto.

Evandro foi incisivo ao sublinhar: para cada sete almas habitando a vastidão da megalópole paulista, que se estende da capital a múltiplas metrópoles do interior e litoral, existem três moradores em cidades menores. Quando essa perspectiva é extrapolada para o Brasil, a balança se inclina mais para esses pequenos municípios: por cada pessoa nas cidades mais densamente povoadas, há duas outras vivendo o cotidiano das cidades menores, com suas ruas mais serenas.

A Proliferação do Crime Organizado nas Cidades Menores

Mas, à semelhança de um fantasma escondido nas sombras, a imagem do crime organizado, tão familiar nas grandes cidades, projeta-se, instigando sentimentos de medo, expectativa e fascínio. O Primeiro Comando da Capital desponta como um espectro que se difunde pelas cidades menores. Contudo, o quanto dessa aparição é sombra e quanto é realidade nesses lugares mais pacatos? Em que medida se assemelha ao que presenciamos nas metrópoles?

É aqui que a sinédoque entra em cena, uma figura de linguagem que Evandro insistiu ser crucial para entender o PCC. Muitas vezes, nosso olhar para as cidades menores é tingido pelos estereótipos formados nas grandes cidades. Este é o erro da sinédoque, onde o PCC das ruas de espírito turbulento de São Paulo é projetado como uma sombra sobre as cidades menores de pacatas almas.

No entanto, essa simplificação parece insuficiente para capturar a complexidade do crime organizado. Afinal, o PCC nas cidades menores é uma entidade diferente, não apenas uma versão reduzida das cidades grandes. É crucial abandonar a sinédoque e examinar de perto o funcionamento do PCC nos variados contextos urbanos. Somente assim podemos desvendar o verdadeiro rosto do espectro que se esconde nas cidades menores.

Mas fica a pergunta que me perturba. Por que buscamos ver o Primeiro Comando da Capital das pequenas cidades como um reflexo do que acontece nos grandes centros? E quais seriam esses pontos de semelhança e diferença? A chave para essas perguntas, suspeito, pode residir no coração da sinédoque e do PCC.

Desvendando a Sinédoque a partir do Rio de Janeiro

Toda essa história sobre sinédoque começou com Evandro relatando um intrigante diálogo com Júlio, um jovem interno da Fundação Casa. De volta de uma viagem ao Rio de Janeiro, Evandro compartilhava suas observações, despertando a curiosidade de Júlio. Ele questionava a aparente onipresença de fuzis na cidade maravilhosa, uma visão estranha para um paulista desarmado do interior.

Repentinamente, Ricardo se junta à conversa.”Confere só,” diz Júlio, “Evandro falava dos fuzis cariocas. Lá, o corre é pesado, todo mundo anda com ferro. Aqui, não temos nem fuzil”. Discordando, Ricardo alega já ter visto um fuzil em uma biqueira da cidade, dando início a um debate sobre a validade de seu relato.

No final, Ricardo reconhece a distinção entre as realidades das duas cidades: “É verdade, mas o Rio é mesmo outro mundo. É uma metrópole, não uma cidade pequena”. Uma reflexão que nos leva a questionar a sinédoque, onde uma parte representa o todo.

Esse debate entre Júlio e Ricardo reflete aquilo que acontece no contexto da facção PCC da capital e do interior. Assim como imaginamos o Rio de Janeiro violento com armas para todos os lados, nós mesmos podemos imaginar o interior com a organização criminosa estruturada como é na capital, no entanto, talvez não seja assim.

Uma visão da capital e do interior

Vamos imaginar uma cidade com mais ou menos 180 mil moradores. Um lugar com um centro cheio de lojas e casas que são separadas pelo quanto cada um ganha. Tanto os bairros mais humildes quanto os mais chiques ficam em lugares isolados: tem os conjuntos habitacionais, as áreas de ocupação e os condomínios fechados, seja de casas ou de chácaras. Aqui, o transporte público é pouco e as linhas de ônibus funcionam só das 5h às 22h, com intervalo de quase uma hora, só fazem caminhos curtos. Ou seja, ligam os bairros ao centro e do centro de volta aos bairros e quando muito, tem uma linha circular para dar uma volta por todos os bairros da cidade.

Essa singularidade da vida nas cidades pequenas reflete na dinâmica do crime e do tráfico de drogas: primeiro, há menos pessoas envolvidas na venda e compra de drogas, afetando o dinheiro circulante, as rotas de entrega e o número de empregos disponíveis. Em segundo lugar, a relação entre esse comércio ilícito e a polícia altera significativamente a maneira como as atividades são conduzidas. Não é incomum que os jovens envolvidos no tráfico conheçam pessoalmente, e até convivam, com os policiais que os prenderam, extorquiram ou agrediram. Os líderes dos pontos de venda, muitas vezes, são antigos colegas de escola, companheiros de jogos de futebol, ou até mesmo parentes.

As interações pessoais, sociais e políticas, assim como as dinâmicas do tráfico nessas cidades do interior de São Paulo, são fortemente influenciadas por esta proximidade entre os agentes da lei e os infratores, bem como pelo legado histórico da escravidão negra. A estrutura dessas cidades e a história de suas economias – tanto formais quanto informais – são, em muitos casos, ligadas a antigas oligarquias, remanescentes dos tempos coloniais.

De Rio de Janeiro e São Paulo à Serra da Saudade

Ao considerar estudos urbanos, tendemos a focalizar as metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro. Entretanto, devemos evitar a “sinédoque sociológica”, isto é, não podemos considerar outros municípios simplesmente como miniaturas destas capitais. São Paulo e Rio de Janeiro são anomalias: nenhuma outra cidade brasileira hospeda uma população tão vasta, abriga uma gama tão diversa de meios de produção ou possui um leque tão amplo de classes sociais. Nenhuma outra cidade experimentou uma imigração tão maciça ou estabeleceu um mercado tão diversificado.

No entanto, isso não significa que as cidades do interior de São Paulo estão isentas do crime organizado. A questão é que não podemos presumir que a organização criminosa Primeiro Comando da Capital opera da mesma maneira ou tem os mesmos objetivos na megalópole de São Paulo e na tranquila cidade mineira de Serra da Saudade.

Pessoa em situação de rua: capital e interior

Anteriormente, mencionei neste site as ações dos membros do PCC na cracolândia e presenciei pessoalmente algumas dessas ações quando vivi próximo à Cásper Líbero com a Washington Luiz. Quando me mudei para o interior, esperava algo semelhante, mas a realidade aqui era outra.

Diferentemente da capital, nos lugares onde os moradores de rua se aglomeram no interior (praças centrais, rodoviária e mercadão), não havia sinal de membros de facções. Ocasionalmente, alguém de fora chegava se identificando como PCC, mas logo partia, muitas vezes após ser repreendido pelos próprios moradores ou membros de facções que não queriam problemas nas ruas. Na rodoviária, às vezes, um membro assumia o tráfico, mas durava pouco tempo até de ser detido pela Guarda Civil ou pela Polícia Militar.

Em uma cidade pequena, onde todos os moradores de rua são conhecidos, é mais facil para as autoridades localizar e prender os membros de facções ou indivíduos violentos. Outro fator é que o comércio de drogas entre os moradores de rua movimenta pouco dinheiro e isso dificulta a estruturação do crime organizado nesse meio.

Em conversa com um conhecido que passou anos vivendo nas ruas tanto na capital quanto em diversas cidades do interior, ele salientou que é muito raro encontrar membros ativos do PCC entre os moradores de rua do interior, ao contrário da capital. Lá, nos albergues, Centros Pops e até mesmo nas ruas, sempre há alguém ligado ao PCC. Segundo ele, essa presença é um mal necessário, já que a violência é alta e o PCC, ao impor uma certa disciplina, consegue controlar (ainda que não totalmente) casos de roubo, estupro e agressões onde está presente, pois essas atitudes são inaceitáveis para a ética do crime.

Esse contraste entre a realidade da capital e do interior mostra por que não podemos simplificar demais as coisas, ou seja, evitar o que chamamos de “sinédoque”. Não podemos pensar que o que acontece nas cidades grandes ocorre da mesma forma, só que numa escala menor, nas cidades pequenas. Isso pode nos levar a interpretar as coisas de forma errada. Por exemplo, a presença e as ações do PCC variam dependendo do lugar.

Dois bares em comunidades e duas realidades

Na pacata vida interiorana de um pequeno município de São Paulo, um leitor do nosso site partilhou a sua experiência. Apesar de não pertencer ao universo do crime, convivia com pequenos traficantes e outros criminosos nas rodas de conversa e partidas de bilhar do bar local. Ali, as brigas eram frequentes, mas ele quase sempre conseguia apaziguar os ânimos. E quando não conseguia, a polícia logo intervinha, dispersando os envolvidos. O Primeiro Comando da Capital até tinha representantes na cidade, porém sua presença era quase invisível, e raramente se ouvia falar deles.

O enredo da vida desse leitor tomou um rumo inesperado quando se mudou para a Grande São Paulo. Nos primeiros dias, ele procurou se integrar à nova realidade, fazendo amizades num bar perto de sua nova residência. As partidas de bilhar e conversas continuaram, mas o roteiro dessa nova vida mostrou-se drasticamente diferente da que conhecia.

Em uma noite que parecia comum, uma briga estourou no bar. Movido pelo instinto de pacificador, ele tentou intervir. Porém, a resposta que recebeu foi chocante: homens desconhecidos o jogaram ao chão, desferindo golpes enquanto afirmavam que “ali era território do crime” e ele deveria manter distância. A viatura da Polícia Militar, que em seu passado simbolizava a resolução de conflitos, apenas passou sem tomar nenhuma ação.

A dura realidade do crime organizado na metrópole veio à tona quando esses homens arrastaram um dos envolvidos na briga para um carro, com o propósito de aplicar um “salve”. Esta experiência serviu como um alarmante despertar para as disparidades entre a vida no interior e na capital, ressaltando o papel dominante e pernicioso do PCC na Grande São Paulo, contrastando com sua presença quase imperceptível em sua cidade natal.

Baseado no trabalho de Evando Cruz Silva: Molecada no Corre: Crime, geração e moral no Primeiro Comando da Capital

Periferia e Crime: A Real das Quebradas e a Facção PCC 1533

Nesse corre, nós vamos fundo na ligação entre periferia e crime, dando um confere na violência, nos papos pesados de preconceito e na treta do Estado e do Primeiro Comando da Capital na vida das quebradas.

“Periferia e crime”, mano Dynão das Massas solta a real de quem vive, mostrando a treta de viver nesse cenário, os discursos que encostam no povo e como os manos e as minas da perifa compram essa ideia e reproduzem o papo, fortalecendo o preconceito, e como o Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533) entra nessa história. É isso que é, né? Dá seu salve aí nos comentários do site, no grupo de leitores ou manda uma DM pra mim.

Periferia e Crime: A parada nas quebradas e o corre do Estado

Vou te passar a real sobre “periferia e crime”, um cenário complexo que balança a vida da quebrada. A violência tá solta e tem várias faces, entendeu? E os discursos, irmão, muitas vezes são falas pesadas de preconceito, que jogam os mais humildes no mesmo balaio e esquecem da desigualdade.

A mídia, a polícia, os playboy, todos criam uma identidade de “bandido” pra quem é da periferia. Aí, na visão deles, é o medo que comanda os becos, com tráfico, roubo, sequestro e outras tretas dominando o cenário.

Nessa fita, os mais humildes ficam à margem, sempre tratados como se fossem do crime, sem nem ter a chance de mudar a parada. Mas ó, a realidade da “periferia e crime” é mais embaçada do que parece. Tem o corre dos manos e minas no limite, se fortalecendo juntos, resistindo.

E tem o papel do Estado também, com a truculência da polícia reprimindo os menos afortunados, sem dar brecha pra eles se livrarem dessa. O sistema mira neles como inimigos a serem derrubados. E aí, os próprios envolvidos compram essa ideia, fazendo a roda girar.

As organizações criminosas, tipo o Primeiro Comando da Capital, tão no olho do furacão. Elas desafiam as autoridades, mostrando que a parada é mais complexa do que parece, que não tem espaço pra simplificação e rotulação.

A força do preconceito nos papos que rolam

Então, irmão, a gente precisa entender essa parada, desafiar os discursos que só botam o pobre como vilão. Só assim a gente vai conseguir fazer a diferença nas quebradas, encontrar um caminho melhor pra todos.

Quando o papo é “bandido”, “prisão”, “justiça” e “direitos humanos”, muita gente só fala o que ouviu e age com agressividade contra quem pensa diferente. Mas é preciso entender que essa parada é cíclica, que a gente só reproduz o que ouve e acaba não vendo a realidade que tá rolando.

Aí, os que tão no poder espalham essas ideias, criam uma disciplina que controla a gente e a sociedade toda. O mano Gabriel já falou que esse preconceito tem lugar, classe social e cor específica. Geralmente, é o mano preto, pobre e morador da perifa que leva a fama de “bandido”.

A gente precisa entender a complexidade das relações sociais no cenário de “periferia e crime”. Reconhecendo os discursos e práticas envolvidos, a gente pode buscar soluções mais justas e inclusivas pra toda a comunidade. E aí, tá preparado pra encarar essa realidade, mano?

Aquele salve pro pesquisador Eduardo Armando Medina Dyna, que é o responsa por passar essas fitas todas pra mim. Se tiver chance, dá uma conferida nos corres dele, mano, porque é de lá que vem a ideia reta.

Pânico Social: a Realidade e a Relação com a Facção PCC 1533

Neste texto, exploramos o pânico social, os discursos que o alimentam e as causas históricas e sociais, tudo no ritmo e a relação de tudo isso com a facção PCC 1533.


Pânico social, cê tá ligado? Cola com a gente pra entender como essa parada mexe com a vida da geral e a sociedade, e qual é a relação com o Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533).

Pânico Social: a mídia e o pânico social: qual é a fita?

E aí, irmão, tá ligado na fita do pânico social, né?

Eduardo Armando Medina Dyna mandou a real, falando que a violência urbana com fitas tipo o Primeiro Coamando da Capital deixa a geral com medo. Pânico social é o nome da parada, e não é só causa e efeito dos corres do dia a dia.

Mano, é uma fita complexa envolvendo racismo, desigualdade, treta econômica e política, tudo isso cria a “criminalidade” que a gente vê por aí, e alimenta esse monstro do tal pânico social.

A mídia tá sempre de olho, reforçando as ideias erradas e botando mais lenha na fogueira. A relação entre o governo e os presos, tipo a facção PCC, só aumenta o medo e a insegurança da galera.

Pra entender a fita toda, tem que analisar o que a mídia, a polícia e os conservadores tão falando. Foucault explica que esses discursos tão cheios de poder e moldam como a gente enxerga as coisas.

Tipo em 1920, Rui Barbosa mandou um papo reto no discurso de 37 páginas chamado “A imprensa e o dever da verdade“. A ideia foi da Valeria e do Márcio que botaram a pilha nesse assunto: a verdade da mídia e o PCC.

baseado em As Faces da Mesma Moeda: uma análise sobre as dimensões do Primeiro Comando da Capital — UNESP de Marília

Pânico Social: cidadãos de bens X cidadãos do mal

Nas quebradas da vida, irmão, a cena é tensa. A história é contada em dois lados, os “cidadão do bem” e os “cidadão do mal”. Mas nessa selva de pedra, a coisa não é tão simples, não.

Pra quem nasce na periferia, o jogo é bruto, irmão. Uns tentam levar a vida na linha, buscando o pão de cada dia, enquanto outros tão encurralados, sem muita saída, sem chance de mudar a rota dessa trajetória. A sociedade marca a cara, rotula a gente, mas cê acha que é fácil assim, preto?

O “cidadão do bem” se esforça, tenta se virar, mas a parada é sinistra, as oportunidades são poucas e a realidade não dá trégua. E o “cidadão do mal”? Será que ele escolheu o caminho do crime ou foi a vida que o empurrou pra lá?

A verdade é que entre o “do bem” e o “do mal”, a linha é tênue, os dois vivem no mesmo mundo, enfrentando a mesma batalha. A gente precisa abrir os olhos pra entender o que tá rolando, buscar as causas lá no fundo, e não só julgar a superfície.

A vida é complexa, as lutas são duras e a esperança é escassa. Mas a gente resiste, mano, mesmo com a sociedade tentando nos dividir. Chega de rótulos, chega de preconceito. Só juntos a gente vai mudar essa história e escrever um novo capítulo.

A lei que é implacável com os oprimidos

Tornam bandidos os que eram pessoas de bem.

Eles são os certos e o culpado é você

Se existe ou não a culpa

Ninguém se preocupa

Pois em todo caso haverá sempre uma desculpa.

Racistas Otários – Racionais MCs

Buscando soluções: como sair dessa treta?

Só que também tem a parada da moral e religião nesses discursos, tipo a divisão entre “cidadão de bem” e “bandido do mal”. Essa fita dificulta a compreensão do pânico social, que tem raízes profundas e precisa de solução.

A mídia fica de olho no que rola perto e longe, saca os esquemas, os que sonegam e roubam a pátria e a galera, mas fica na moita e aponta pra outro lado, sem enxergar o mal de verdade onde a gente vive, e essa é a fita em que a gente tá metido.

Então, tem que olhar a história e as causas, desvendar os discursos e ver a relação entre o Estado e as organizações dos presos, como o PCC, pra entender o pânico social e buscar soluções que mudem o jogo.

No final das contas, mano, pânico social é uma fita complexa que envolve vários aspectos da nossa vida. A ideia é desvendar os discursos e enxergar a realidade, pra criar uma sociedade mais firmeza e justa.

André do Rap: a real do líder do Primeiro Comando da Capital PCC

Neste texto, contamos a história de “André do Rap”, líder do Primeiro Comando da Capital, mostrando que a realidade é muito diferente do que a mídia apresenta.

André do Rap: conheça real a história do líder do Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533) como pode ser bem diferente do que mostra a mídia.

André do Rap, a Facção PCC 1533, e a Realidade das Quebradas

André do Rap, líder do Primeiro Comando da Capital, apresentando a verdade, irmão. A grande mídia, sempre em busca de audiência, cria um mito folclórico em torno dele, distorcendo informações e associando qualquer evento no país ao nome de André.

Mas aí, o advogado criminalista Áureo Tupinambá Filho entra em cena. Ele esclarece que o helicóptero de R$ 7 milhões devolvido pelo STJ não pertencia ao líder da facção PCC, mas a mídia insiste na ideia contrária. Além disso brother, apreensão de itens foi feita de maneira incorreta, sem ordem judicial, irmão.

Áureo Tupinambá Filho deixa claro que a lei deve ser cumprida, mesmo que no caso de André do Rap ela tenha sido desrespeitada. Em 2019, durante a prisão, a polícia apreendeu celulares, computadores e moto aquática, tudo isso sem autorização judicial, falhando na missão.

André do Rap foi condenado em segunda instância por tráfico de drogas e teve sua prisão decretada. Outra investigação envolvendo lavagem de dinheiro e organização criminosa estava acontecendo, mas a mídia só quer saber de sensacionalismo, entende?

Então, irmão, fique atento e analise as informações com cuidado, especialmente quando envolve casos como o de André e a facção PCC. A realidade é bem diferente do que a mídia quer te fazer acreditar, mantenha-se informado e não se deixe enganar.

A mídia e suas histórias

Mano, tá complicado pra nossa sociedade escapar dessa fita – a construção de um ciclo policial-midiático-criminoso, um pelourinho da mídia que expõe e criminaliza a periferia pro prazer daqueles que se acham superiores.

A TV é um show que não traz informação, só faz espetáculo. Talvez ainda seja a maior influência na opinião sobre os manos das facções.

“O que é a facção e como agem os irmãos” são ideias criadas, não verdades absolutas. A imagem vive sendo reescrita, mexendo e sendo mexida pela mídia, que reconstrói junto com a sociedade toda.

A parada de quem é vilão e quem é herói muda pra cada um, e o que é “herói” pra um grupo de pessoas e classe social não é a mesma coisa pra outros grupos e classes.

Mas, é preciso sacar que essas imagens, tanto do vilão quanto do herói, são feitas pela mídia (e essa construção mexe, também, com a autoimagem da galera).

Ascensão da Tropa Castelar: Mistério e Violência em Sorriso MT

A Tropa Castelar, uma facção criminosa formada por ex-integrantes do Comando Vermelho, surge em Mato Grosso, aliando-se ao Primeiro Comando da Capital. Com o enfraquecimento do CV, a Tropa Castelar busca ganhar espaço no cenário criminal.

Tropa Castelar: como ficará a Cidade Tranquila do Passado

Sorriso, uma cidade situada nas vastidões do estado de Mato Grosso, é célebre por sua fértil produção agrícola e pela amabilidade que emana de sua população.

Com aproximadamente 100 mil almas, Sorriso ostenta o título de capital nacional do agronegócio e se orgulha de sua pujante economia.

Entretanto, as sombras da inquietação pairam sobre a cidade, pois sua paz é agora ameaçada pelo surgimento da Tropa Castelar, uma facção criminosa composta por ex-integrantes do temível Comando Vermelho.

A Tropa Castelar e a Guerra pelo Poder

A Tropa Castelar, oriunda do momento em que alguns membros do Comando Vermelho decidiram renegar sua lealdade e formar um grupo independente, selou um pacto com o Primeiro Comando da Capital, o poderoso antagonista dos CVs.

Inicialmente, a Tropa Castelar carecia de recursos monetários, armas e efetivo, o que parecia conduzi-los ao infortúnio.

Todavia, o PCC enxergou uma oportunidade de fragilizar o Comando Vermelho e optou por unir-se à Tropa Castelar, fortalecendo-os e engendrando uma ameaça inédita para Sorriso.

Infiltrados na Polícia Militar

A Tropa Castelar não só adquiriu força com a aliança sinistra com o PCC, como também logrou infiltrar informantes nas entranhas da Polícia Militar.

Um terceiro sargento foi aprisionado recentemente, acusado de compartilhar informações sigilosas com seus comparsas e até mesmo de “delatar” camaradas de farda.

Essa situação gerou um clima de consternação e instabilidade no sistema de segurança pública da cidade.

Infiltrados na Sociedade

Revelando a extensão, ousadia e a influência maligna da Tropa Castelar, um jornalista da cidade de Peixoto de Azevedo enredou-se com a facção criminosa, transportando drogas da região Norte para Cuiabá em um veículo da imprensa e servindo como informante do grupo.

O jornalista, Juvenilson, lançava mão de sua posição e das viagens frequentes à capital em um carro de imprensa para convencer seus comparsas de que seria “improvável ser interceptado por viaturas policiais”.

Operação Recovery: Tentativa de Restaurar a Ordem

Perante o caos, a Polícia Civil desencadeou a “Operação Recovery”, com o propósito de capturar membros do Comando Vermelho responsáveis pelo tráfico de drogas e homicídios em Sorriso.

No total, 34 pessoas foram presas e R$ 1 milhão em bens da facção foram confiscados. Com o CV debilitado, a Tropa Castelar, agora respaldada pela facção PCC, busca se impor na cidade.

Tropa Castelar: O Caso de Elvis e sua Garota

A violência é uma instituição tão natural como a própria vida humana. Decorre do nosso instinto de sobrevivência, sendo o grande motivo para o homem ter dominado a natureza. Mas essa afirmação não pretende trazer glamour à violência.

Talvez no último estágio da existência humana, a evolução definitiva seja exatamente vencer o instinto natural que nos propala a nos destruirmos mutuamente.

Conexão Teresina: uma crônica sobre a atuação do PCC no Piauí

Em um infortúnio recente, repleto de violência e desespero, um veículo Chevrolet Vectra empreendeu uma perseguição sombria à motocicleta pilotada por um homem chamado Elvis, que levava consigo uma garota na garupa.

Ao longo do sinistro embate, o condutor do automóvel, movido por uma inescrutável determinação, arremessou o veículo em direção à motocicleta, resultando na queda trágica do casal ao chão, sob o olhar indiferente da noite.

Elvis, suspeito de fazer parte da infame organização criminosa Comando Vermelho, fora escolhido como alvo pelos ocupantes do Vectra, membros da enigmática e temida Tropa Castelar.

De forma inesperada, o motorista do Vectra perdeu o controle de seu veículo, colidindo com um poste e provocando danos à estrutura, como se as próprias forças das trevas conspirassem contra ele.

Com um ar sombrio e impiedoso, ele e seu cúmplice desceram do automóvel e, em um ato de fria brutalidade, executaram Elvis com uma série de disparos que ecoaram pela eternidade.

A garota, porém, foi poupada pelos criminosos, como se o destino houvesse intervindo em seu favor.

Ela foi socorrida pelos Bombeiros e até o presente momento, os perpetradores desse hediondo ato permanecem ocultos nas sombras, aguardando o desfecho de seu nefasto enredo.

leia texto base: Membro do Comando Vermelho é morto por integrantes de facção rival em Sorriso

Entrevista do Marcola para o Globo é falsa, mas continua atual

Entrevista do Marcola foi uma criação do articulista Arnaldo Jabor para o jornal O Globo em 2006, no entanto, passados 17 anos ainda repercute

Entrevista do Marcola é citada por deputado na Argentina

Carlos del Frade é conhecido por investigar o tráfico de drogas em Santa Fé, e como especialista foi entrevistado pelo programa Crimen y Misterio.

Frade é jornalista, escritor e deputado provincial pela Frente Social y Popular (FSP) e citou na edição de ontem uma suposta frase dita por Marcola.

Segundo o parlamentar argentino, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, seria o chefe do Primeiro Comando da Capital e teria afirmado que:

…. a única forma que eles têm de nos vencer é dando trabalho, educação, alegria, cultura e esporte.

Não me lembro dessa afirmação de Marcola, e creio ser algum tipo de alteração na famosa entrevista falsa de Marcola para O Globo.

No entanto, independente de ser ou não dele esta frase, o fato é que o mito Marcola continua forte dentro e fora do Brasil

artigo base no El Confidencial Online: El legislador santafesino termina nombrando lo dicho por Marcol, máximo líder del Primer Comando de la Capital que dijo: la única manera que tienen de ganarnos es dando trabajo, educación, alegría, cultura, y deporte.

Entrevista do Marcola é citada por site no Paraguai

Em janeiro de 2017, estava correndo na internet uma suposta entrevista que o Marcola teria dado à Globo.

Na realidade, a falsa entrevista era uma criação do articulista Arnaldo Jabor e de quando em quando volta a viralizar.

A diferença desta vez é que, a entrevista corria o mundo como sendo verdadeira, e um dos sites que reproduziu como sendo uma entrevista verdadeira foi o Moopio.com

O site paraguaio deve ter percebido o erro e já retirou o artigo:

Así piensa ‘Marcola’, el ‘capo’ del PCC

A entrevista produzida por Arnaldo Jabor para O Globo

Eu trago aqui para quem ainda não leu a reportagem no original, se bem que acho que todos já conhecem:

Entrevista com Marcola para O Globo, capa do jornal da época.

Estamos todos no inferno.
Não há solução, pois não conhecemos nem o problema.

O GLOBO: Você é do PCC?

Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos.

Eu era pobre e invisível… vocês nunca me olharam durante décadas… e antigamente era mole resolver o problema da miséria…

O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias… A solução é que nunca vinha… Que fizeram?

Nada.

O governo federal alguma vez alocou uma verba para nós?

Nós só apareciamos nos desabamentos no morro ou nas músicas românticas sobre a “beleza dos morros ao amanhecer”, essas coisas…

Agora, estamos ricos com a multinacional do pó, e vocês estão morrendo de medo…

Nós somos o início tardio de vossa consciência social… Viu?

Sou culto… leio Dante na prisão…

O GLOBO: Mas… a solução seria…

Solução? Não há mais solução, cara…

A própria ideia de “solução” já é um erro.

Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio?

Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo?

Solução como?

Só viria com muitos bilhões de dólares gastos organizadamente, com um governante de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento econômico, revolução na educação, urbanização geral; e tudo teria de ser sob a batuta quase que de uma “tirania esclarecida”, que pulasse por cima da paralisia burocrática secular, que passasse por cima do Legislativo cúmplice (Ou você acha que os 287 sanguessugas vão agir? Se bobear, vão roubar até o PCC…) e do Judiciário, que impede punições.

Teria de haver uma reforma radical do processo penal do país, teria de haver comunicação e inteligência entre polícias municipais, estaduais e federais (nós fazemos até conference calls entre presídios…).

E tudo isso custaria bilhões de dólares e implicaria numa mudança psicossocial profunda na estrutura política do país.

Ou seja: é impossível. Não há solução.

O GLOBO: Você não tem medo de morrer?

Vocês é que têm medo de morrer, eu não.

Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar… mas eu posso mandar matar vocês lá fora…. nós somos homens-bomba.

Na favela tem cem mil homens-bomba… estamos no centro do Insolúvel, mesmo…

Vocês no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira.

Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês.

A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração… a morte para nós é o presunto diário, desovado numa vala…

Vocês intelectuais não falavam em luta de classes, em “seja marginal, seja herói”?

Pois é: chegamos, somos nós!

Há, há!

Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né?

Eu sou inteligente. Eu leio, li 3.000 livros e leio Dante… mas meus soldados todos são estranhas anomalias do desenvolvimento torto desse país.

Não há mais proletários, ou infelizes ou explorados.

Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivado na lama, se educando no absoluto analfabetismo, se diplomado nas cadeias, como um monstro Alien escondido nas brechas da cidade.

Já surgiu uma nova linguagem.Vocês não ouvem as gravações feitas “com autorização da Justiça”?

Pois é. É outra língua.

Estamos diante de uma espécie de pós-miséria. Isso.

A pós-miséria gera uma nova cultura assassina, ajudada pela tecnologia, satélites, celulares, internet, armas modernas.

É a merda com chips, com megabytes. Meus comandados são uma mutação da espécie social, são fungos de um grande erro sujo.

O GLOBO: O que mudou nas periferias?

Grana. A gente hoje tem.

Você acha que quem tem US$40 milhões como o Beira-Mar não manda?

Com 40 milhões a prisão é um hotel, um escritório… Qual a polícia que vai queimar essa mina de ouro, tá ligado?

Somos uma empresa moderna, rica. Se funcionário vacila, é despedido e jogado no “microondas”…

Há, há…

Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes.

Nós temos métodos ágeis de gestão.

Vocês são lentos e burocráticos.

Nós lutamos em terreno próprio.

Vocês, em terra estranha.

Nós não tememos a morte.

Vocês morrem de medo.

Nós estamos bem armados.

Vocês vão de três-oitão.

Nós estamos no ataque.

Vocês, na defesa.

Vocês têm mania de humanismo.

Nós somos cruéis, sem piedade.

Vocês nos transformam em superstars do crime.

Nós fazemos vocês de palhaços.

Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados.

Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produtos vêm de fora, somos globais.

Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses.

Vocês nos esquecem assim que passa o surto de violência.

O GLOBO: Mas o que devemos fazer?

Vou dar um toque, mesmo contra mim.

Peguem os barões do pó!

Tem deputado, senador, tem generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas.

Mas quem vai fazer isso? O Exército? Com que grana?

Não tem dinheiro nem para o rancho dos recrutas…

O país está quebrado, sustentando um Estado morto a juros de 20% ao ano, e o Lula ainda aumenta os gastos públicos, empregando 40 mil picaretas.

O Exército vai lutar contra o PCC e o CV?

Estou lendo o Klausewitz, “Sobre a guerra”.

Não há perspectiva de êxito… Nós somos formigas devoradoras, escondidas nas brechas…

A gente já tem até foguete antitanques… Se bobear, vão rolar uns Stingers aí…

Pra acabar com a gente, só jogando bomba atômica nas favelas…

Aliás, a gente acaba arranjando também “umazinha”, daquelas bombas sujas mesmo. Já pensou? Ipanema radioativa?

O GLOBO: Mas… não haveria solução?

Vocês só podem chegar a algum sucesso se desistirem de defender a “normalidade”.

Não há mais normalidade alguma. Vocês precisam fazer uma autocrítica da própria incompetência.

Mas vou ser franco…na boa… na moral… Estamos todos no centro do Insolúvel.

Só que nós vivemos dele e vocês… não têm saída. Só a merda. E nós já trabalhamos dentro dela.

Olha aqui, mano, não há solução. Sabem por quê?

Porque vocês não entendem nem a extensão do problema.

Como escreveu o divino Dante: “Lasciate ogna speranza voi cheentrate!”, ou seja, “Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno”.

publicado originalmente neste site em 1º de janeiro de 2017

Jornalista paraguaio foi morto pelo PCC?

Tudo indica que o jornalista paraguaio foi morto pelo PCC em Pedro Juan Caballero por engano, o alvo seria outro jornalista investigativo.

Imprensa acredita que jornalista paraguaio foi morto pela facção

Se o Alex Alves, jornalista paraguaio, foi morto pelo PCC 1533 não se sabe ao certo.

O que é certo é que foi executado por pistoleiros em Pedro Juan Caballero, que a cidade é o centro comercial do Primeiro Comando da Capital, e que estava em um carro de outro jornalista que já tinha sido ameaçado por investigar a ação da facção na cidade.

Indícios é que não faltam da participação da facção paulista no crime.

reportagem completa no site ANSA-Latina: Asesinan a un periodista, donde opera una de las organizaciones criminales que crece en la región, el brasileño Primer Comando de la Capital (PCC)

Imprensa e Redes Sociais ligam PCC 1533 aos governos de esquerda

Grupos da extrema direita internacional se organizam e difundem pelo mundo a ideia que a facção Primeiro Comando da Capital se expande em países de esquerda.

Imprensa e redes sociais ligadas à grupos de extrema direita difundem pelo mundo notícias vinculando a expansão da facção Primeiro Comando da Capital nos países onde são oposição. Argentina e Chile são o foco no momento, ao mesmo tempo, não se faz mensão ao Uruguai e Paraguai onde o aumento de casos é mais expressivo, mas os governos são considerados de direita.

As reportagens e postagens são um show de generalidades sem dados comprobatórios ou notícias de casos pontuais que visam estabelecer um vínculo entre membros do governo e integrantes da facção paulista ou demonstrar a inabilidade ou falta de comprometimento no combate ao crime.

texto no The Rio Times

Leia mais em: A organização criminosa Primeiro Comando da Capital sendo utilizada para desestabilizar governos e instituições pelo mundo.

Leia também: O Primeiro Comando da Capital ajudou na eleição de Jair Bolsonaro

A imprensa e os ataques do PCC em 2006

A imprensa sensacionalista apoiando a chacina policial daqueles que se assemelham com o estereótipo do criminoso.

Resenha: “Fronteiras de Tensão: política e violência nas periferias de São Paulo” de Gabriel de Santis Feltran

Gabriel Feltran, no meio de uma pesquisa de campo em comunidades da periferia paulistana, em 2006, acompanhou um evento dramático: os ataques da organização criminosa Primeiro Comando da Capital às forças policiais e a prédios públicos.

A ação do PCC seria uma retaliação a uma série de ataques para extermínio de integrantes da facção e o sequestro do sobrinho de Marcola por um policial civil. O saldo oficial do levante foram 564 mortos: 505 civis e 59 agentes públicos.

O pesquisador acompanhou “de perto” as reações das pessoas de Sapopemba, e também “de longe”, via noticiários. Segundo Feltran, a repercussão do evento amplificou a “fala do crime”: a imprensa, sobretudo a sensacionalista, deu subsídios para que a “vingança” contra os “bandidos” fosse consumada. Embora inseridos formalmente num regime político fundado sobre a universalidade dos direitos, processa-se uma disputa simbólica em que o direito universal para “bandidos” seria uma afronta à própria democracia.

Sob fontes acessadas em sua etnografia, o autor revela que a repressão policial após os “ataques do PCC” se voltou para todos aqueles que se “parecem” com “bandidos”.

“Morrem, nesse contexto, não necessariamente quem cometeu os crimes, mas quem tem a mesma idade e cor de pele, que usam as mesmas roupas ou os mesmos acessórios daqueles identificados publicamente como criminosos, ou seja, os jovens das periferias urbanas”.

Gabriel Feltran

Nestas “fronteiras de tensão”, não apenas os jovens “do crime”, mas, de forma geral, os jovens das periferias sofrem por parte das instituições públicas um estranhamento de seus rostos e corpos, de seus modos de comportamento, bem como de seus discursos.

Embora a maioria dos jovens busque as alternativas fugazes no mercado de trabalho lícito, e não as atividades ilícitas, a invisibilidade pública facilita a violência contra eles. Nesse contexto, a repressão, o encarceramento e o extermínio dos “bandidos” muitas vezes atingem quem é visto como semelhante.


Trechos da resenha de Paulo Artur Malvasi sobre o livro “Fronteiras de Tensão: política e violência nas periferias de São Paulo” de Gabriel de Santis Feltran.

LEIA ARTIGO INTEGRAL NA REVISTA DOS DISCENTES DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

Facção PCC 1533 como “corpo político”

De que adianta matar um corpo se a alma continua viva? – a ineficácia das políticas de Segurança Pública baseadas em ações policiais de combate à facção PCC 1533.

Dar perdido em PM é diversão de cria do 15

Bardos cantavam histórias fantásticas que assombravam aqueles que as ouviam em volta das fogueiras nos bosques, nas aldeias ou nas mal iluminadas tabernas, e os heróis de suas narrativas eram jovens que se insurgiam, desafiando os soldados dos poderosos.

MCs cantam histórias fantásticas que assombram aqueles que as ouvem em seus celulares, nas avenidas e nos bailes funks, e os heróis de suas narrativas são os jovens que se insurgem, desafiando os policiais que entram nas comunidades a mando dos poderosos.

”Já que tu quer adrenalina, já que tu quer um lazer
É nós que mostra o dedo pros radar, pras viatura
Pra sentir o prazer, adrenalina de dar fuga.”

MC Kevin

E aquela noite eu não tinha dúvidas que estava olhando para um desses garotos cujas histórias seriam contadas pelas quebradas muito tempo depois que ele as tivesse deixado.

Os pequenos feitos daquele moleque seriam engrandecidos cada vez que alguém recontasse uma de suas aventuras, sempre aumentando um ponto ao conto, e, quem sabe, um dia não acabaria sendo letra de algum Proibidão?

Na noite de quinta-feira tive que entregar alguns pacotes no Planalto, e valeu a pena: a caminhada foi boa e conheci esse garoto.

Fotomontagem com homem fazendo  desaparecer um objeto na frente de policiais. Acima a frase "Revista Policial, desaparecendo com as drogas".
A arte de ocultar provas da polícia

Show de magia na quebrada do Planalto

Uma viatura da Polícia Militar deixava o Planalto no momento em que eu entrava no bairro.

Próximo ao local onde devia fazer a entrega havia um grupo de jovens, e logo que estacionei fui falar com eles para saber como estava o clima por lá – uma das garotas eu já conhecia.

Três moleques, duas meninas e dois Gols rebaixados, sendo um com placa de Campinas e outro de Indaiatuba; eles riam muito e quando a garota me viu, veio empolgada me apresentar aos demais – o clima não podia estar melhor.

Ela me contou que eles acabaram de ser abordados pela viatura que vi deixando o bairro, e enquanto a garota falava um dos garotos mostrou para mim com orgulho um saquinho com uns 100 gramas de cocaína. Todos voltaram a rir – o moleque havia feito mais uma das suas.

Eles me contaram a história…

Assim que a viatura entrou na rua, o garoto mostrou aos amigos o pacote; só deu tempo de levantarem os olhos: os policiais já os estavam abordando.

Procedimento padrão: revista pessoal e nos veículos. Como nada encontraram, os policiais foram embora, mas assim que a viatura virou a esquina o garoto abriu a mão e mostrou para os outros que continuava com o saquinho de cocaína.

Não era a primeira e nem a última vez que ele fazia uma jogada arriscada e se saía bem.

Nunca saberemos como ele fez para sumir com a droga tão rápido, na frente dos amigos e dos policiais e passar pela revista, afinal um mágico não revela seu truque – daí o fascínio pelo ilusionismo.

Fotomontagem onde uma mulher solta pela boca fumaça ocultando parcialmente um carro. Acima a frase "Cortina de Fumaça, garotos garantindo a segurança".
Jovens chamando atenção de policiais

Moleques como isca e cortina de fumaça

Fiquei pelo menos meia hora com eles, cada um contando uma façanha diferente protagonizada pelo moleque de Indaiatuba, enquanto ele mesmo apenas sorria.

Imagino que todos estavam ali para chamar a atenção para si caso aparecesse uma viatura policial, garantindo que a entrega ocorresse sem problemas – eles eram a isca e, se necessário, serviriam de cortina de fumaça.

Ouvi com prazer cada história que contaram e teria ficado ainda mais se não houvesse chegado o irmão que ia ficar com a mercadoria – a outra garota que estava com os moleques era sua companheira.

Imagino que se naquela noite os PMs não tivessem abordado os moleques, talvez ainda estivessem por lá quando eu chegasse ao Planalto.

Quando o irmão chegou, cumprimentou os garotos, me pegou pelo braço e me levou para trás dos carros onde me entregou o dinheiro.

Fomos até o meu carro, entreguei os pacotes a ele e saí dali me despedindo apenas com um aceno para os garotos.

Fotomontagem com o rosto do pesquisador Eduardo Yuji Yamamoto   abaixo da frase "Corpo Social, diferenciando o corpo da alma".
Pesquisador Eduardo Yuji Yamamoto

O Primeiro Comando da Capital como corpo social

No caminho de volta tentei entender o que ocorreu e o que estava acontecendo em nossa sociedade – não era nada daquilo que era mostrado pela televisão e pelas redes sociais.

Seriam esses os traficantes que precisavam ser abatidos com um tiro na cabecinha como prega a atual onda sócio-política ocidental?

Enquanto dirigia me lembrei do artigo “Corpo político, implicação, representação” do doutor em Comunicação Eduardo Yuji Yamamoto, publicado na INTERCOM – Revista Brasileira de Ciências da Comunicação.

O pesquisador falava sobre os black-blocs, mas para mim o estudo se encaixava como uma luva naquilo que eu acabara de vivenciar, e descrevia com perfeição as pessoas que eu tão bem conhecia.

O fato de o Primeiro Comando da Capital haver se transformado em um “corpo político” é uma consequência da crise pela qual passa a democracia ocidental desse início de século:

“A instauração política aparece assim como a constituição de um corpo dotado de unidade, de vontade consciente, de eu comum […] As metáforas do corpo político não descrevem apenas uma procura de coesão social orgânica.”

Vladimir Safatle

Aqueles moleques e aquelas meninas nada mais são células que compõe um complexo “corpo político”, e aquele gesto do garoto de desafio velado ao Estado é apenas um entre milhares de “insurgências” que pipocam madrugada a dentro nas ruas das periferias.

Ilustração do corpo estilizado de uma criança metade razão e metade emoção sob a frase "Corpo e Espírito, fortalecendo o "Espírito de Corpo".
Nossas emoções residem em nossa alma

Atacando o corpo do Primeiro Comando da Capital

Ouvindo os diversos discursos messiânicos de combate ao Primeiro Comando da Capital: Sérgio Moro com o seu “Projeto anticrime”, Wilson Witzel com seus drones e snipers com licença para matar, e João Dória prometendo “Guerra sem tréguas ao PCC”, me lembro dos passos que demos para chegarmos a situação que vivemos hoje:

  • Quando a República foi proclamada, os governantes resolveram acabar com a farra que era o uso de drogas no Brasil nos tempos do Império e incluíram no Código Penal de 1890 a criminalização das “substâncias venenosas”, e com isso esse mal seria extirpado…
  • após cinquenta anos ficou claro que o sonho não havia se tornado realidade, e as drogas haviam se tornado um problema ainda maior, então foi inserido no Código Penal de 1940 previsão para a prisão de usuários e traficantes, e com essas regras mais rígidas, específicas e abrangentes o mal seria eliminado…
  • após trinta e seis anos ficou claro que o sonho não havia se tornado realidade, mas vivíamos um Regime Militar, e agora, com as forças armadas e sob a vigência dos Atos Institucionais nenhum traficante sobreviveria, só faltava para isso uma lei que colocasse os criminosos em seu devido lugar. Os militares fazem ser aprovada a Lei de Tóxicos de 1976, e dessa vez, as drogas seriam eliminadas de uma vez por todas….
  • após trinta anos ficou claro que o sonha não havia se tornado realidade, então é aprovada Lei Antidrogas de 2006, pois a anterior não era suficientemente dura, e agora todos comemoraram, afinal, com o endurecimento das penas as facções seriam desmanteladas…
  • após sete anos ficou claro que o sonho não havia se tornado realidade, e a facção PCC 1533 se internacionalizava – mas com a Lei de Combate ao Crime do Organizado de 2013 as facções seriam desmanteladas…
  • após cinco anos ficou claro que o sonho não havia se tornado realidade, e as facções se fortaleceram – mas com o novo governo em 2019 que promete o justiçamento dos criminosos, a permissão para que o “cidadão de bem” tenha arma em casa, e a implantação de um pacote de leis com o endurecimento das penas, as facções serão desmanteladas…

O exército e as forças policiais já estão fazendo sua parte executando negros nas periferias como nunca antes, e sem economizar munição: “Um dia antes de ação com 80 tiros, Exército matou jovem pelas costas”.

Recorte do Jornal Extra com a manchete "Escalada da Violência".
Jornal Extra e a escalada da violência

O espírito se fortalece quando o corpo padece.

Se os policiais tivessem encontrado o saquinho com a cocaína que aquele moleque do Planalto havia ocultado, ele seria preso, mas a facção não teria se enfraquecido.

Marcola e Gegê do Mangue, dois dos principais líderes da facção, há muito foram retirados das ruas, e a facção também não se enfraqueceu, ao contrário do que foi apregoado na época por policiais e membros do Ministério Público de São Paulo (MP-SP).

O Marcola era homicida, sequestrador, roubava banco, não tinha nada a ver com a facção, mas é um homem articulado. E quando ele foi levado para o presídio de Tremembé [no interior de SP] começa a conversar com os últimos presos políticos no sistema prisional e aprende com eles sobre como estruturar o tráfico, a gerenciar como uma empresa, ao mesmo tempo em que vende internamente para os detentos a ideia de uma irmandade revolucionária.

desembargadora Ivana David

O Estado e seus justiceiros continuam a caçar as células da facção PCC 1533, e por não acreditarem em espíritos se negam a enxergá-los; e enquanto se concentram em combater o corpo, o espírito da organização criminosa continua a se fortalecer.

Fotomontagem onde a ilustração de  um garoto fica ao centro e de um lado dois garotos em azul e do outo um casal em vermelho.
Entre a comodidade e a adrenalina

Primeiro Comando da Capital afetando a alma

Encarcerar e matar criminosos não é eficaz, no entanto, essa é a “estratégia” utilizada pelo Estado. Não há um “Plano B”, uma política de controle e segurança eficiente, pois aqueles que habitam os gabinetes e os coturnos não entendem as razões que aqueles garotos têm para entrar no mundo do crime.

Moleques e meninas do corre possuem um espírito contraventor que não é movido por razões materiais.

As ruas estão vivas e se alimentam dos sentimentos comuns difundidos nas conversas, nas rodinhas, nas escolas e nas redes sociais. Cada um que é preso ou morto alimenta ainda mais o imaginário que afeta e fortalece o espírito do grupo.

É interessante como a palavra “afeta” pode transmitir mal seu significado.

Os sentimentos que afetam os jovens insurgentes em sua rodas de conversas ou daquilo que veem nas ruas e nas mídias, alimentam um espírito de corpo ilógico, baseado nas emoções do grupo. Essa miscelânea de emoções e informações levará essa garotada a passar parte de sua a vida buscando saciar desejos racionalmente insaciáveis.

“Falamos de desejo, e não de reivindicações, justamente porque reivindicações podem ser satisfeitas, mas o desejo obedece à outra lógica – ele tende à expansão, ele se espraia, contagia, prolifera, se multiplica e se reinventa à medida que se conecta com outros.” – Peter Pál Pelbart

A soma de todas essas emoções são compartilhadas, e mesmo quando uma de suas células é morta ou retirada das ruas esse afeto continua no coletivo daquela comunidade, reforçando-o ainda mais.

Jovens Insurgentes enfrentando as autoridades

O Primeiro Comando da Capital alimentando o medo

Aqueles garotos, assim como milhões de outros, buscam grupos de insurgentes para se unir e ajudar na construção de uma sociedade mais justa, se preciso enfrentando as autoridades do Estado e da família…

mas na real, eles estão mesmo fugindo da angústia e do tédio e procurando usufruir de momentos de emoção, seja de cólera ou de alegria, tanto faz.

A crise do sistema democrático ocidental leva esses garotos a lutarem por suas demandas sociais fora de um sistema político que não apresenta uma alternativa na qual eles possam se apegar.

Sem opções reais de perspectiva social, seguem a esmo, se juntando a grupos que mantenham vivas as suas esperanças.

Sigmund Freud descreve essa busca constante e inalcançável como pulsão, mas eu diria que essa garotada se alimenta de emoção e não vive sem ela.

O Estado, no entanto, precisa de um inimigo para manter vivo o medo, então dirá que esses garotos são criminosos que os “cidadãos de bem” precisam temer e promete que seus agentes os eliminarão.

“[…] nossos governos sabem bem, o crime não é uma patologia social, mas um dispositivo fundamental para o fortalecimento da coesão. Por isso, nunca houve e nunca haverá sociedade sem crime. […] Ela precisa do crime. Na governabilidade atual, o crime não é algo que se combate, ele é algo que se gerencia.”

Vladimir Safatle

Para a manutenção do Estado, alguns precisam ocupar hoje o lugar que já foi ocupado por outros insurgentes, como os Farroupilhas ou os Quilombolas, que, se hoje são considerados movimentos sociais, na época eram descritos como criminosos.

Para se manter o status quo, o ódio da população e dos agentes policiais devem ser direcionados sobre os garotos do tráfico de drogas.

Fotomontagem com pessoas andando à esmo abaixo da frase "Predestinação Divina, insurgentes contra o tédio e o destino".
Caminhando sem destino e sem futuro

Primeiro Comando da Capital como predestinação

Todos nós, eu, você e aquela garotada, somos afetados por alguma emoção. Acreditamos que somos senhores de nossos destinos, mas o fato é que não tivemos domínio sobre o que nos afetou durante nossa vida e nos fez ser quem somos hoje.

Alguns de nós nascemos para ser “vasos de ira”, enquanto outros nasceram para ser “vasos de misericórdia” e não adianta reclamar:

“Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?”

Paulo de Tarso

Nossa predestinação pode ser divina ou construída pelos afetos que se somam ao longo de nossas vidas, mas é inegável:

O apedrejado em praça pública é fruto de vivências diferentes daquele cidadão de bem que lhe atirou a primeira pedra enquanto clamava a Deus dizendo “Senhor, Senhor!”.

As experiências e sentimentos vividos tanto pelo algoz quanto pela vítima se distinguem e independeram de suas vontades, mas os políticos e as mídias utilizarão a mesma régua para medir a ambos.

Talvez por isso cada vez menos pessoas se sentem representadas pelo sistema político, e o número de insurgentes se prolifera por todo o ocidente, seja enfrentando a polícia na Champs Elysee ou no bairro Planalto.

Primeiro Comando da Capital como fator de coesão

O Estado para muitos é a bota do policial que só aparece na periferia para intimidar e extorquir, e se esse quadro é real ou foi construído pelo imaginário coletivo não vem ao caso, o fato é que ele alimenta o discurso de ódio e medo de grupos sociais.

Alguns desses garotos se calam e buscam se proteger evitando contato, submetendo-se a misericórdia dos dominantes, mas outros se “mobilizam pelo desejo e não pelo medo”, abandonando a segurança pessoal e aceitando o risco em defesa de um coletivo.

O Primeiro Comando da Capital é um coletivo, formado por insurgentes: indivíduos que não acreditam que possam ser representados e defendidos pelo sistema político e social vigente.

A facção PCC 1533 aparece como uma alternativa que permite que eles atinjam seus objetivos de vida, e, não sendo uma organização estratificada, aceitam ser afetados por ela da mesma forma que sabem que a estarão afetando.

As ações de combate à organização estão fadadas ao fracasso ao se focarem na criminalização dos indivíduos membros da facção, ignorando os afetos que acalentaram seus novos membros e que formam um sólido e ao mesmo tempo etérico “corpo político”.

“[…] a política moderna inventou a representação. Ela nos fez acreditar que só haveria sujeitos políticos onde houvesse representação, […] Fora da representação só haveria o caos, e é necessário organizar as vozes de maneira tal que se possa controlar seu tempo de fala, seu lugar de fala, sua perspectiva, suas ‘instâncias decisórias’.”

Os membros da facção Primeiro Comando da Capital se sentem representados e representantes, e acreditam que por lá todos têm a mesma voz e os mesmos direitos, sejam irmãos, companheiros, ou aliados, e por isso valeria a pena lutar “até a última gota de sangue”.

Esse é no fundo o conceito de nação, o “corpo social” do qual todos gostaríamos de fazer parte, mas que a cada dia cada um de nós nos sentimos mais distanciados.

E assim, dia a dia ouvimos cada vez menos que “um filho teu não foge à luta e nem teme, quem te adora, a própria morte” e cada vez maisaté a última gota de sangue”.

Facção PCC: “onde os membros devotam suas vidas em troca do interesse maior da organização”.

Nos últimos anos, como consequência do acirramento da disputa por poder entre grupos criminosos, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), tem sido recorrente a execução de grupos rivais dentro de unidades prisionais. Nestes casos, a morte, mesmo qualificada por uma brutalidade terrível, choca ainda menos. Tornamo-nos uma sociedade sádica, despudorada que não apenas aceita estas mortes, mas vibra com elas. A morte deve entrar em casa, tomar café e almoçar todos os dias com cada um de nós e não mais assustar. Tal sadismo toma forma a partir do crescente número de programas jornalísticos sensacionalistas, sucessos de audiência, centrados no espetáculo da violência. O medo da violência não desperta indignação, mas alimenta o ódio ao “outro”, reforçando a cisão social. Neste sentido, a percepção reproduzida nos últimos anos de uma sociedade dividida entre “cidadãos de bem” e “marginais” aparece como a versão mais moderna da polarização entre a Casa Grande e a Senzala. (leia o artigo dessa citação na íntegra)

Rafael Moraes é professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)


A matemática política da opressão carcerária

A opressão no ambiente carcerário como fator necessário para o sucesso de uma política de segurança pública.


Nem esquenta, nem ele e nem nenhum outro carcereiro tem importância para mim.


O carcereiro, a facção PCC 1533, o Estado e a sociedade

Digo a minha garota que ela merece o que está se passando com ela, afinal, foi uma de suas mãos que marcou um “X” no quadrinho de “opção de função” quando ela se inscreveu no concurso público, o mesmo ocorrido talvez se dê no caso de Diorgeres, ou talvez não.

Você se lembra do carcereiro Diorgeres, não?

Nem esquenta, nem ele e nenhum outro carcereiro tem alguma importância para mim, para você ou para aquelas duas acadêmicas, mas, mesmo assim, vou lhe contar algo sobre ele.

(Não devia citar as duas acadêmicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul [UFRGS], pois o presidente Jair Bolsonaro alertou que não se deve dar palanque a acadêmicos doutrinados em Gramsci, mas com a permissão do Capitão prefiro dar nome aos bois.)

O que você fazia em fevereiro de 2001?

Caso você não se lembre ou caso não vincule a pessoa ao fato, Diorgeres de Assis Victorio era o carcereiro que foi levado como refém ao telhado do Carandiru com uma faca ao pescoço na apresentação pública do Primeiro Comando da Capital:

“Então um dos detentos que parecia um líder disse que precisava de dois reféns para ir com ele até a muralha do pátio. Era ali, na frente de todo mundo, que eles costumavam matar os reféns. Como na época do Exército eu havia tido aulas de prisioneiro de guerra, com porrada, tapa na cara etc., concluí que poderia estar mais preparado do que os outros para ir, então eu acenei com a cabeça para um colega que achei que tinha mais frieza e nós dois dissemos que iríamos.”

Arte sobre foto de um repórter e do governador Wilson Witzel em um presídio sob a frase "Quanto pior melhor, ganhando visibilidade midiática".
Governador Wilson Witzel na prisão

Quanto pior for a prisão, melhor será

Assim como a minha garota escolheu marcar um “X” no quadrinho de “opção de função” quando ela se inscreveu no concurso público, Diorgeres escolheu viver nos traiçoeiros corredores do sistema prisional e ser um refém do PCC. Foi escolha dele — ou talvez não.

Desde que eu o conheço, ele não concorda com o zurro popular que exige penas mais longas e condições mais duras e cruéis de encarceramento; assim como ele, o fazem as pesquisadoras da UFRGS: Oriana Hadler e Neuza Maria de Fátima Guareschi.

Contrariando nosso presidente, cito-as, pois foram elas que me explicaram a lógica matemática que leva o Estado a triturar Diorgeres e outros agentes de segurança carcerária (ASPens), sob os aplausos ou indiferença da sociedade, de mim e de você:

“Os cálculos estatais relacionados ao sistema prisional brasileiro têm se constituído tanto pelos investimentos financeiros no encarceramento, corpos físicos de policiais e mais aprisionamentos […] Questionar como organizam-se as relações pautadas na lógica de segurança é provocar estranhamento em relação a um estado naturalizado de violências […]”

As pesquisadoras Oirana e Neusa Maria, ao contrário de mim, de você e do capitão Jair, não acreditam que aqueles trabalhadores e apenados padecem por conta de suas escolhas, mas pelo resultado de uma desumana equação política.

Arte sobre foto de agentes penitenciários tendo ao fundo gladiadores em um coliseu sob a frase "O espetáculo não pode parar, ave Caesar, morituri te salutant".
Ave caesarm moritum te salutam

Dos holofotes da mídia ao breu cotidiano

Gilson César Augusto da Silva no artigo “Reality Show das Prisões Brasileiras” faz um breve histórico da evolução do Sistema Carcerário da antiguidade até chegar aos dias de hoje, e compara com a realidade transmitida pelo Big Brother Brasil:

“… os chamados “reality shows” … semanalmente um participante é eliminado … embora de discutível gosto, os programas mostram o quão difícil é a convivência humana. As casa onde se realizam esses “reality shows são verdadeiras mansões … há, ainda, boa comida, psicólogos, psiquiatras comportamentais, médicos, entre outras regalias. Além do competidor poder deixar o programa quando quiser … o que se vê em poucos dias de convivência? Pessoas extremamente estressadas, depressivas, agressivas, com reclamações de toda ordem, brigas, choros, ofensas recíprocas. É difícil a referida convivência? Sem dúvida. Mas se é difícil para os referidos participantes, com todas essas benesses, imaginem para os presos [e para aqueles que lá trabalham].”

Como fica então aqueles que arriscam sua saúde trabalhando nas galerias do Sistema Prisional, confinados em um ambiente insalubre e claustrofóbico em companhia de pessoas que tiveram problemas de adaptação às normas sociais?

A Segurança Pública e seus agentes são utilizados como peças publicitárias pela mídia e pelos políticos, mas quando os holofotes se apagam são abandonados para sofrerem o desgaste cotidiano, seja nos corredores dos cárceres ou os meandros burocráticos:

“O Departamento de Perícias Médicas do Estado, vendo o meu quadro clínico grave, entendeu por bem me readaptar e determinou que eu fosse afastado do contato com presos. Mas o Estado, vendo o conhecimento que eu tinha sobre o cárcere, ao invés de me afastar do contato de presos, determinou que eu fosse à Autoridade Apuradora da Unidade Prisional …”

A depressão carcerária dos corredores para as mentes

Sangue novo como combustível para o espetáculo

Nós não nos importamos com as condições de saúde daqueles que passam suas vidas dentro das muralhas, sejam eles prisioneiros condenados ou aqueles que por lá trabalham – a imprensa e os políticos sabem disso e entregam à nós o que queremos: um espetáculo.

O cruel abandono dos profissionais

Por vezes tratados como refugo, com falsa benevolência, são postos de lado, havendo uma política de isolar estes das novas “equipes especializadas”, formadas por jovens recém-engajados – prontos para começarem o seu próprio desgaste.

O ambiente insalubre do Sistema Prisional afetará diretamente a saúde mental desses garotos, assim como o fez com aqueles profissionais que os antecederam, no entanto a Administração Penitenciária vende a ideia de que agora será diferente…

… e sempre haverá garotos para assumirem as posições daqueles que já se desgastaram perambulando pelo claustros e que agora não mais aceitam alimentar o espetáculo midiático e político com seu sangue e o de sua família .

Você não acredita? Diorgeres explica com detalhes no artigo “Síndrome do pânico em agentes de segurança penitenciária”, publicado no site Canal Ciências Criminais:

“Muitos agentes não conseguem suportar todo esse descaso do Estado com a sua saúde e assim cometem o suicídio. Espero que eu resista a ponto de ver o Judiciário tomar uma atitude quanto a isso e que assim o Judiciário não caia em descrédito.”

Arte sobre foto de João Dória Júnior em frente a um quadro negro e uma equação matemática.
A matemática política da insegurança

A matemática política da opressão carcerária

Para a administração pública prevalece a lógica matemática do ganho político e midiático:

“ […] Trata-se, portanto, de um cálculo mínimo sobre vidas a serem gerenciadas em um plano de investimento entre baixos custos e a menor repercussão possível, combinada com a ampliação e execução de práticas violentas.”

O espetáculo (Esp) apresentado pela mídia para o público é igual ao grau de opressão (Op) multiplicado pela economia feita no investimento carcerário (Ec).

A matemática é simples: Op x Ec = Esp

Quanto maiores forem os fatores maior será a possibilidade do caos extrapolar as muralhas dos presídios e, consequentemente, gerar o maior espetáculo midiático possível, elevando a sensação de insegurança do cidadão e abrindo espaço para um grupo político específico.

Aplaudem-se as novas levas de prisioneiros e de agentes de segurança, não porque o mundo ficará mais seguro, mas por nos trazer uma maior sensação de segurança, não importando quem é Diorgeres ou quem são os agentes penitenciários que vivem nas galerias das carceragens.

Arte sobre foto do presidente Jair Bolsonaro com uma família assistindo a uma cena de massacre na televisão.
Bolsonaro e o show da isegurança pública

A política de inSegurança Pública e a política

Fora do meio acadêmico, poucos admitem que toda sociedade é afetada pelo resultado de uma iníqua equação matemática produzida por grupos políticos especializados em vender sua imagem de paladinos da lei e da ordem discursando sobre pilhas de cadáveres:

“Nesse cenário, encontramos diversos atores que ocupam o lugar daqueles que matam e, concomitantemente, dos que morrem nesse jogo de cálculos sobre vidas e grades. Pode-se dizer que é estabelecido um jogo onde a provisoriedade se torna eternidade […] Esse jogo morfético se mantém e é produzido junto a campos de saber e narrativas especialistas, que mantêm e instauram a violência do direito.”

Se é compreensível que um cidadão caia no conto do político salvador da pátria, é difícil explicar a posição de profissionais que sofrem na pele as consequências dessa política repressiva e ainda assim continuam as apoiando.

Alguns como Diorgeres questionam há muito políticas que tornam esses ambientes pútridos que impregnam os corpos, as mentes e as almas de todos aqueles que por lá vivem e trabalham. Mas esses são exceções, mas…

… ele, assim como outros ASPens, ao assinalarem com um “X” o quadrinho de “opção de função” quando eles se inscreveram no concurso público não pretendiam carregar os estigmas de dentro do cárcere para suas vidas, suas famílias e seus descendentes.

Nos últimos anos, como consequência do acirramento da disputa por poder entre grupos criminosos, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), tem sido recorrente a execução de grupos rivais dentro de unidades prisionais. Nestes casos, a morte, mesmo qualificada por uma brutalidade terrível, choca ainda menos. Tornamo-nos uma sociedade sádica, despudorada que não apenas aceita estas mortes, mas vibra com elas. A morte deve entrar em casa, tomar café e almoçar todos os dias com cada um de nós e não mais assustar. Tal sadismo toma forma a partir do crescente número de programas jornalísticos sensacionalistas, sucessos de audiência, centrados no espetáculo da violência. O medo da violência não desperta indignação, mas alimenta o ódio ao “outro”, reforçando a cisão social. Neste sentido, a percepção reproduzida nos últimos anos de uma sociedade dividida entre “cidadãos de bem” e “marginais” aparece como a versão mais moderna da polarização entre a Casa Grande e a Senzala. (leia o artigo dessa citação na íntegra)

Rafael Moraes é professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

Pedro Rodrigues da Silva, o Pedrinho Matador, conhece o sistema prisional de São Paulo como poucos. Ele ficou sem ver a rua de 1973 até 2007 e de 2011 até 2018 — viveu mais de 40 atrás das grades e por lá, ele conta que viu mais de 200 presos serem mortos enquanto esteve por lá, sendo que mais de 100 foram ele mesmo que matou.

Viveu no cárcere no tempo do Regime Militar, da redemocratização e dos governos com leve viés progressista, mas mudança mesmo, houve quando a facção paulista despontou como hegemônica, acabando com as diversas gangs e grupos dentro das cadeias e presídios.

Sobre o Primeiro Comando da Capital ele afirmou durante uma entrevista:

“Fui [convidado a entrar no PCC], mas não entrei. Ali é o seguinte: depois que surgiu o partido, você vê que a cadeia mudou. Não morre ninguém porque o partido não deixa. É paz. Paz para a Justiça ver. Se começa uma briga, eles seguram. Eles também ajudam quem sai, arrumam trabalho.”

transcrito por Willian Helal Filho para O Globo

Google Trends 2018 e a facção PCC 1533

O que os usuários do Google interessados na facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC 1533) buscaram em 2018 e o que podemos concluir destes resultados.

O Primeiro Comando da Capital prossegue firme e forte

Apesar do grande esforço da mídia, dos órgãos de segurança e dos políticos durante a campanha eleitoral, a facção PCC 1533 se manteve exatamente dentro de sua média histórica na década – 31 pontos:

 

PCC

CV

FDN

2018

31

13

10

2017

ano atípico

 

 

2016

32

13

6

2015

34

12

6

2014

46

16

2

2013

36

12

2012

29

5

2011

18

14

2010

22

6

Durante 2017 houve as grandes chacinas dentro do sistema prisional que se iniciaram com o ataque perpetuado pela facção Família do Norte (FDN) em Compaj, no Amazonas, culminando com a guerra dentro da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, e batalhas e assassinatos em carceragens por todo o país subvertendo o resultado, por essa razão optei por excluir os números desse ano na tabela.

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A facção PCC 1533 e seus aliados e inimigos

Em 2017 ironizei as facções inimigas:

“… os usuários do Google não vinculam o Comando Vermelho ao tema [crime organizado]… desculpa aí 2, no Google é tudo 3!!!”

Em 2018 os usuários do Google continuaram relacionando apenas o Primeiro Comando da Capital ao termo “Crime Organizado”; não por menos, este ano se aprofundou o racha dentro Família do Norte, e o Comando Vermelho (CV) perdeu espaço com a intervenção militar no Rio de Janeiro – E aí 2, valeu ostentar os pesadões nas biqueiras?

“Eu estou a lembrar da siciliana Letizia Battaglia, ela ficou famosa pelas suas fotorreportagens sobre a máfia siciliana, a secular Cosa Nostra, para as revistas norte-americanas que lhe pedem fotografias sobre a máfia, ela tem sempre a mesma resposta: ‘Eu não sei mais como fotografá-la, porque não a encontro mais’. Fotografias de máfia hoje não existem, a máfia siciliana ficou invisível, não mais promove ações espetaculares, não mais atacam as forças de ordem, e não mais produzem excelentíssimos cadáveres.”


Wálter Fanganiello Maierovitch

Os usuários do Google deixaram de referenciar as facções criminosas cariocas Comando Vermelho e Amigo dos Amigos (ADA) ao termo “facção criminosa”, o que pode estar refletindo perda de importância desses dois grupos após a intervenção federal no Rio e a guerra pelo domínio da favela da Rocinha:

Termo: “facção criminosa”

2018

2017

Primeiro Comando da Capital

11

12

Família do Norte

7

Comando Vermelho

1

5

Amigo dos Amigos

2

Primeiro Grupo Catarinense

2

Terceiro Comando Puro

1

O interesse do internauta reflete o poder midiático das facções

As facções criminosas no Brasil se dividem em nacionais, regionais e locais. As facções nacionais PCC, CV e FDN mantêm rotas de importação e exportação e abastecem as facções regionais e locais com armas e drogas.

Os números do Trends 2018 confirmam a previsão de Camila Nunes Dias de que a hegemonia da facção paulista nas prisões se refletiria nas ruas, afinal imagem é tudo. Os garotos querem pertencer a um grupo de sucesso e a pouca pesquisa das outras facções nacionais demonstram que está havendo a quebra do interesse por elas, inclusive nas quebradas onde suas crias são captadas.

O Rio de Janeiro continua lindo, mas não tão amigo

A surpresa dos números do Trends 2018 se deu pela desimportância atribuída pelo internauta ao Comando Vermelho enquanto facção criminosa, que passou a ter tanta relevância na rede quanto o Terceiro Comando Puro (TCP), outra facção regional aliada do Primeiro Comando da Capital que sequer apareceu no Trends 2017.

A expectativa de crescimento da facção Amigo dos Amigos, outra aliada regional do PCC no Rio de Janeiro, não se concretizou; ao contrário, devido ao apoio dado pelas forças de segurança para as milícias, somado à batalhas nos morros contra as facções inimigas em 2018.

A utilização dos braços regionais permitiu ao PCC ser ignorado pelo carioca que pesquisa “facção criminosa”, mas os dois aliados regionais da facção, pela primeira vez, superaram individualmente o Comando Vermelho:

Terceiro Comando Puro

78

Amigo dos Amigos

50

Comando Vermelho

43

Primeiro Comando da Capital

21

Os usuários perderam interesse na facção inimiga Primeiro Grupo Catarinense (PGC) que chegou a aparecer na listagem de 2017, quando a facção capixaba que tentou barrar o Primeiro Comando da Capital, que buscava garantir o livre trânsito dos insumos oriundos do Paraguai, criar novas rotas alternativas para a exportação pelos portos de Santa Catarina e dominar os presídios.

Trends capixaba

2018

2017

Primeiro Comando da Capital

35

7

Primeiro Grupo Catarinense

24

21

Listagem das facções aliadas, inimigas e neutras → ۞

O internauta que se interessou em pesquisar sobre o PCC em 2019 queria saber mais a respeito do seu líder, do funcionamento do grupo criminoso e sobre os principais inimigos da facção.

Assim como no ano anterior, as pesquisas feitas por meio das palavras “homicídio”, “roubo”, “assalto”, “insegurança”, “assassinato”, “morte” não foram vinculadas ao PCC ou ao crime organizado, mas…

… diferentemente de 2017, o Primeiro Comando da Capital deixou também de ser uma referência nas pesquisas feitas sobre os termos “sistema prisional” e “sistema carcerário”, refletindo a pacificação imposta pela facção sobre as trancas sob seu domínio, a separação mais criteriosa feita pelos agentes públicos e o acordo tácito com as facções inimigas.

Personagens ligados à facção paulista

Apenas os nomes de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, e de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, tiveram relevância nas pesquisas vinculadas ao PCC, além é claro do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

Qual é a música?

Pelo segundo ano consecutivo, o grupo musical Facção Central supera os Racionais MC’s e Mc Zóio de Gato nas pesquisas feitas pelos usuários.

A imprensa e a facção PCC

Nenhum órgão de imprensa se destacou esse ano, em oposição ao que aconteceu em de 2017, quando a UOL chegou a ser citada como referência de busca para questões sobre a facção criminosa paulista.

A pesquisa pela facção por estado da federação

Os sul-matogrossenses, que sequer pesquisavam sobre o termo “Primeiro Comando da Capital” em 2017, passaram a liderar como os usuários que mais procuram sobre o tema. Além das ações policiais tentando desarticular o braço da Rota Caipira que passa por lá, também houve destaque nas mídias das ligações da facção paulista com as forças policiais, que chegavam a disponibilizar escolta com viaturas oficiais para caminhões com contrabando de cigarros.

O Ceará manteve a posição de destaque devido à guerra entre facções que ainda impera por lá, onde o Primeiro Comando da Capital e seu aliado Guardiões do Estado (GDE) disputam palmo a palmo os corações e as almas dos jovens nas periferias.

Mato Grosso do Sul

100

Ceará

77

São Paulo

55

Alagoas

46

Bahia

29

Pará

29

Amazonas

28

Goiás

27

Santa Catarina

26

Maranhão

23

Paraíba

23

Minas Gerais

21

Paraná

21

Mato Grosso

20

Rio Grande do Norte

20

Distrito Federal

18

Espírito Santo

17

Rio de Janeiro

17

Pernambuco

16

Rio Grande do Sul

8

Os estados do Acre, Maranhão, Piauí, Rondônia, Roraima, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Tocantins, devido à baixa taxa de acesso à rede, não tiveram relevância na pontuação, por isso ficaram de fora da listagem. No entanto, o Alagoas teve um número significativo de pesquisas pelos termos “facção PPC” e “PCC 1533″.

O nome da facção paulista no Brasil e no mundo

O termo “Primeiro Comando da Capital” se tornou mais homogêneo, sendo preferido pela metade dos usuários em todas as regiões do país, ao contrário de 2017, quando os termos “Facção PCC” e “PCC 1533” tinham o mesmo índice de busca.

A tendência entre os povos de língua espanhola segue no caminho da unificação do termo para “Primer Comando Capital” em vez de “Primer Comando de la Capital”, que hoje só é predominante na Colômbia e ocasionalmente na Argentina e no Chile.

As nações latinas que mais buscam informações sobre o grupo criminoso foram: Paraguai (100), Bolívia (24), Argentina (5) e Colômbia (?).

A busca pelos termos em inglês “First Commander of the Capital” e “First Capital Commander” não tiveram relevância em 2018, esse segundo ainda foi consultado com alguma frequência este ano no Reino Unido e no ano passado na Dinamarca.

No exterior as pesquisas pelo termo em português “Primeiro Comando da Capital” foram feitas em 2018 principalmente em Portugal, Países Baixos, Taiwan e Itália. A surpresa ficou por conta da entrada na lista do país asiático que desbancou a tradicional Argentina.

A facção PCC, a polícia e o Contrato Social

A polícia e o Primeiro Comando da Capital gerenciando as normas nas comunidades carentes paulistas.

São Paulo, Zona Norte, dia molhado

A vida não é difícil e nem fácil, mas é cheia de regras que precisam ser seguidas para se caminhar em paz. Isso vale para mim, para você, para os crias do 15 e para a população das comunidades da periferia, mas para os que seguem as regras está suave.

É a lei do certo pelo certo e o que é errado será cobrado.

Toda vez que vou à região do Jaraguá na Zona Norte de São Paulo eu me perco. Por isso planejo cada passo antes de sair:

“… chegando na pracinha ‘que dá pros’ predinhos deixo o carro, vou o resto do caminho a pé, encontro o aliado, entro e saio da comunidade (um pé lá e um pé cá) – simples assim.”

Já estava escurecendo quando cheguei. Havia um grupo de garotos tomando cerveja próximo de onde eu havia planejado deixar o carro. De boa, quem não é visto não é lembrado, e se eu deixasse o carro ali toda viatura que passasse iria consultar a placa – melhor não.

Rodei mais dois quarteirões e parei na Lourenço Matielli, ali ninguém botaria reparo na placa de fora.

Onde citei nesse site favelas e comunidades → ۞

A imprensa obriga a polícia apresentar resultados

Deixei o carro, segui a pé até a entrada da comunidade onde o aliado estava me esperando, e entramos na comunidade.

Ao contornar o campinho, escorreguei em uma tábua molhada: ninguém riu, ninguém ajudou, ninguém disse nada – me levantei, seguimos e resolvemos a parada.

Eu só estava lá de passagem, jogo rápido, mas o aliado aconselhou que eu ficasse ali até seus familiares irem para o culto. O clima estava pesado e não dava para sair de lá sem trombar com alguma viatura, e eu sendo de fora de certo seria parado.

Não carregava nenhum bagulho comigo, mas regras são regras, e é melhor não dar sorte para o azar. Normas de conduta existem para serem seguidas, elas garantem a paz na comunidade e a segurança de todos.

A quebrada estava molhada, e desde que começaram a procurar Amanda qualquer deslize poderia entornar o caldo.

Era polícia para todo o lado depois que o caso ganhou espaço na televisão e chamou a atenção da mídia para a comunidade, e isso é ruim para todos.

A polícia querendo resultados pressionava até morador que nunca se envolveu com a criminalidade – patifaria com a população, a cara deles.

Será extremamente difícil nossa sociedade sair —a construção de um círculo policial-midiático-criminoso, um pelourinho midiático ao qual expõe e criminaliza as comunidades periféricas para o deleite de uma população que se sente superior.

Ninguém comentou nada quando escorreguei, assim como ninguém falaria nada sobre o caso do desaparecimento de Amanda, a ex do irmão Vampirinho do PCC, principalmente depois que começou a correr o boato que ela estaria pagando de X9 para a Civil:

Dicionário da facção PCC 1533

42. Traição:

Caracterizado quando um integrante da organização leva informações para outras facções ou para a polícia…

A punição para caguetagem é a morte

Enquanto a polícia não encontrasse os corpos a pressão continuaria. Alguém teria que vazar a informação para dar chance para os agentes acharem o local, mas se nem assim isso fosse resolvido, alguém ia ter que pular na frente e assumir o B.O. para restabelecer a paz. – é assim que funcionam as coisas da ponte para cá.

A imprensa teria cenas para colocar no noticiário, os policiais iam pousar de Charles Bronson, os negócios voltariam a fluir suave e a população não ia ficar mais na pressão – só que alguém ia ter que assumir o B.O. voluntariamente, é a lei do PCC 1533.

Onde citei nesse site a imprensa → ۞

O proceder do certo pelo certo

Alguns dizem que ela não morreu por passar informações à polícia.

Amanda, ao romper o relacionamento com Vampirinho, se envolveu com Dentinho, um outro homem do mundo do crime, mas não é assim que se “corre pelo lado certo da vida errada”, e ela conhecia o proceder da facção.

“Assim como as mulheres são consideradas propriedade do homem, sua vida e sua morte são mantidas pelo homem.”

Existe todo um proceder a ser seguido para estar dentro do código de ética do crime, e Dentinho, sendo criminoso, também tinha a obrigação de conhecer:

  • Para não cair na talaricagem, Dentinho teria que ir falar com o ex-companheiro de Amanda para tirar a limpo a história da separação, para só então ficar com ela.

A facção Primeiro Comando da Capital é por sua natureza machista, e uma mulher ao se unir a um companheiro não pode simplesmente lhe dar as costas e trocá-lo por outro – a cobrança pela talaricagem fica a critério do prejudicado após a análise do Sintonia.

Eu não sei o que aconteceu por lá, o que sei é que Amanda e Dentinho desapareceram e que quatro corpos foram localizados enterrados na mata depois que a Guarda Civil Municipal recebeu uma dica de onde eles estariam – vamos ver se agora diminui a pressão.

Como o PCC lida com as mulheres → ۞

Contrato Social: a etiqueta da sobrevivência

Por estar circulando fora da minha quebrada, eu poderia até morrer ou ser preso, com sorte apenas levar um esculacho ou tomar um salve, ou, no mínimo, ter que dar explicações para os integrantes da facção ou da polícia. Tô fora!

  • Você imagina que só é morto, preso ou leva esculacho da polícia quem corre pelo lado errado da vida? – garoto inocente.
  • Você imagina que só pode tomar um salve ou ter que dar explicações para integrantes da facção quem for do crime? – acorda para a vida.

As pessoas que conheci naquela comunidade não sabem o que Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau disseram sobre o Contrato Social, mas elas sabem que não devem rir, ajudar ou fazer comentários quando uma visita escorrega numa tábua.

Ao abrir mão dessas pequenas liberdades privadas a comunidade garante em troca proteção contra aqueles que possam roubar, extorquir, matar ou estuprar na favela e nos predinhos.

Hobbes, Locke e Rousseau chamariam isso de Contrato Social, mas aquela gente que mora ali não chama de nada, apenas segue as regras, e todos continuam sem problemas – simples assim.

Eu, sendo uma visita naquela comunidade, tinha meus privilégios, mas deveria evitar encontrar com os representantes do Estado constituído (polícia) ou do Estado paralelo (facciosos) – se um me parasse e o outro visse, sujaria para meu lado. Tô fora!

Onde citei nesse site o Estado paralelo → ۞

Finn e Monique explicando nossas escolhas

Sabemos que é assim que a coisa funciona, mas Finn Stepputat e Monique Nuijten no artigo Antropologia e o enigma do Estado, publicado na obra Handbook of Political Anthopology, explicam as razões pelas quais as coisas acontecerem dessa forma.

Se você duvida que as coisas acontecem como estou lhe contando ou que Finn e Monique não estão certos em suas conclusões, não se preocupe, afinal os pesquisadores se basearam em Giorgio Agamben, que afirmou certa vez:

“Acredite em tudo que eu disse, não acredite em nada. Aprenda a diferenciar fatos e opiniões pessoais. Faça sua PRÓPRIA pesquisa, então, ESCOLHA no que acreditar.”

… ou talvez Giorgio não tenha dito isso – talvez seja uma opinião pessoal minha ou de outra pessoa qualquer. Pensando bem, é melhor você fazer sua própria pesquisa e só então escolher se acredita ou não em mim e em Finn e Monique.

A banalização da morte

Quando da morte de Marielle Franco, circularam pelas redes sociais fotos com uma garota sentada no colo de um homem e a frase: “Marielle e Marcinho VP, a santa da Globo e seu namorado” – tem gente boa que vai arder no inferno por ter compartilhado essa foto.

“Será possível que algumas vidas sejam consideradas merecedoras de luto, e outras não?”

Há quem comemore quando um ladrão, traficante, talarico, político, policial, inimigo, pederastra, empresário ou comerciante é morto pela ação legal ou ilegal do Estado: pelas mãos de policiais ou membros de facções criminosas – talvez seja este o seu caso.

O fato de aceitarmos cada vez com maior naturalidade que o outro seja morto é uma consequência natural de nossa paulatina imersão em um Estado de exceção – aquela história do sapo na água fervendo.

Ninguém daria a mínima se eu desaparecesse naquela quebrada da Zona Norte, assim como ninguém está preocupado com toda aquela população que vive à sombra de dois Estados, que impõem suas regras em troca de uma suposta garantia de segurança.

Para horror de Judith Butler, matar deixou de ser o ápice da desigualdade social para se tornar uma ferramenta de controle social aceita tanto por aqueles que vivem nas áreas de risco quanto por aqueles que assistem de longe, pelas telinhas da tv ou pela internet.

Martin Buber explica como funciona esse poder intrínseco do homem de negociar na prática sua liberdade em relação ao outro dentro de cada ambiente, tipo assim: não rir de uma visita que escorrega ou não comentar o que se sabe para quem não se deve.

Pode parecer hipocrisia ou foucaultionismo, mas esse nosso poder de gerir de forma calculista nossa vida é o que aos poucos nos trouxe para esse ponto onde estamos.

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Os efeitos de 11 de setembro da ponte para cá

Erra quem acredita que nós não fomos atingidos pelos aviões em 11 de setembro de 2001.

Aquele clima pesado que pairava sobre a comunidade na Zona Norte de São Paulo e que me obrigava a esperar o melhor momento para sair era apenas um dos reflexos na comunidade do ataque às Torres Gêmeas – se bem que ninguém por lá dava conta disso.

Há tempos, os Estados paralelos passaram paulatinamente a criar regras e a cobrar obediência para garantir a segurança das comunidades às quais pertencem, sob os aplausos de muitos e o silêncio da maioria, isso mesmo antes de 11 de setembro, mas…

… após o atentado da Al Qaeda, o Estado Constituído em diversos países, aos poucos, passou a questionar direitos e a tolerar abusos por parte de seus agentes, sob os aplausos de muitos e o silêncio da maioria, com o pretexto de manter a paz.

Por causa disso, policiais e facciosos estavam ainda mais empoderados para cobrar de mim e de qualquer outro que seguisse suas regras de comportamento, e eu estava lá, entre um e outro, mas a quem recorrer? Ao Chapolin Colorado?

Meu soberano deve me proteger, e é por isso que aceito seu jugo e suas ameaças – pelo menos é o que Hobbes me garantiu. Pode parecer uma posição hipócrita, mas, conscientemente ou não, é o que eu e você fazemos todos os dias.

Como foi descrito por Charles Tilly, a população da comunidade da Zona Norte sabe que deve obediência aos policiais que representam o poder da legalidade, mas também devem aos criminosos locais que efetivamente garantem a segurança no dia a dia.

Eu não preciso que Charles me diga que nesses tempos pós 11/9 a vida é menos valorizada, tanto pelos agentes do governo quanto pelos faccioso, e por isso esperei para sair em um momento em que não encontrasse nenhum deles pelo caminho.

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Nem todos podem ser mortos assim sem mais nem menos

Giorgio Agamben afirma que eu, Amanda, Dentinho e os garotos das favelas e das comunidades estamos na lista dos matáveis, mas nem todos têm “vidas nuas”, desprotegidas, que estão sujeitas à execução sem a punição dos matadores.

Giorgio só não negou o inegável

Enquanto alguns, entre eles talvez você, negam que estejam sob o jugo de algum poder soberano, Giorgio analisou os limites que essa elite se impõe e descobriu a lógica aplicada por esses grupos para separar quem pode ou não ser morto.

“Elite” talvez não seja como você descreveria um grupo pequeno de policiais ou criminosos que advogam para si o poder de decidir quem vive e quem morre, mas são eles que controlam os bens mais preciosos dos homens: sua vida e sua liberdade.

Giorgio chuta para o escanteio a noção de que o soberano é aquele que detém o poder legal, reconhecendo a soberania naquele que tem a “capacidade de matar, punir e disciplinar com impunidade”.

A vida nua não pode ser magra

Caroline Humphrey no entanto alerta que a vida pode “ser nua”, como afirma Giorgio, mas que esse conceito não pode ser entendido sem uma análise profunda de cada “modo de vida” em cada comunidade.

Eu sabia, mesmo sem que Caroline me dissesse, que naquela comunidade eu poderia ser punido por infringir uma das normas não escritas mas aceitas por algum daqueles soberanos, e ficaria por isso mesmo, sem punição para meus algozes.

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A tênue separação entre a realidade e a utopia

Em um mashrut na Mongólia ou em uma van irregular nas periferias brasileiras existe um universo real colorido convivendo com a utopia dos que enxergam o mundo em preto e branco – Lei! Ora, a lei.

Dentro de cada um daqueles veículos, assim como nas comunidades, as regras de conduta são aceitas ou toleradas pelos passageiros, acima mesmo das leis formais da sociedade, para que essa tênue película que separa o real do utópico não seja rasgada.

  • Experimente tirar a camiseta em uma van e se sentar ao lado de uma garota: a regra de conduta daquela comunidade não aceita. Diga que você está amparado pela Constituição Cidadã de 1988 (desculpe se me rio: kkk).

Cada proprietário de van ou de mashrut é um pouco soberano, mas responde a um grupo maior que garante sua soberania. Da mesma forma ocorre em comunidades urbanas e rurais com soberanos locais, ligados ou não ao governo oficial.

Cada nicho social abandonado pelo Estado de direito a sua própria sorte cria sua malha social com soberanos locais chancelados pela autoridade do Primeiro Comando da Capital ou alguma outra organização criminosa, como ressalta Graham Willis:

“[Impondo] sua própria violência estrutural, toda institucionalizada e simbólica”.

Assim, seus representantes, da mesma forma que os policiais, têm autoridade para fazer o uso da força e decidir quem poderá entrar na lista das vidas (in)desejáveis ​​e “mortais”.

A morte por consenso desnudada por Graham vale tanto para policiais quanto para criminosos, tanto para vítimas como para algozes. Aqueles que decidem sobre quem vive ou morre em uma comunidade também são mortos impunemente.

Do ponto de vista de Graham, não há dois soberanos, mas sim uma soberania consensual, em que o Estado de direito aceita a regulação da violência por “outros regimes” apenas quando é de seu interesse.

Então tá, mas, para mim, não muda nada. Vou ter que baixar a cabeça e responder às perguntas dos representantes do soberano ou do suserano, que podem decidir impunemente sobre minha vida ou minha liberdade.

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Junto com os crentes para evitar a polícia

Eu só pensava em sair de lá de boa e o mais rápido possível. Chegou a hora do culto e a família do aliado com seus trajes de igreja caminharam comigo a reboque – eu não estava muito no estilo “crente”, mas dava para passar batido.

Para quem mora em condomínio parece natural ter seguranças para impedir a ação de criminosos dentro de suas muralhas, assim como para quem mora em uma comunidade também parece natural que os traficantes locais mantenham a ordem na quebrada.

Isso não acontece apenas aqui – afirmam Finn e Monique.

O que horroriza não é o fato da facção PCC 1533 tomar para si parte da segurança pública, mas desnudar esse acordo tácito entre o Estado de direito e o poder paralelo, que desde sempre esteve nas mãos de policiais corruptos, vigilantes, milicianos ou gangues locais.

O Estado se apresenta como representante único e legítimo, mas os detentores da soberania local, mesmo que na ilegalidade, por vezes estão mais afinados ao “sistema de valores locais compartilhados” pelas comunidades, e daí sua aceitação tácita.

Ao contornarmos os predinhos passamos por um grupo de rapazes sendo abordados por duas viaturas da força-tática. Nem preciso descrever a cara que o policial que fazia a segurança da equipe fez em nossa direção.

Acostumados, o casal e as crianças nem ligaram – normal para eles, para mim, te conto o que pensei:

“É assim que pensam em formar um Estado unificado, onde o cidadão trabalhador se sente protegido pelo poder legal? Firmeza, vai nessa! Ponto para a criminalidade.”

No mundo real da comunidade, as pessoas andam dentro das regras de um Estado dividido e terceirizado, enquanto a mídia e os burocratas ficam atrás de suas mesas escondidos sob montanhas de procedimentos, ideologias e números, vivendo em um mundo utópico.

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Glauco e o novo membro da Família 1533

Me despeço da família e agradeço pela companhia, que me livrou do possível transtorno e do constrangimento de passar por uma geral da polícia ou ser chamado para o debate pelos garotos da comunidade.

No caminho de casa, já na Rodovia Castelo Branco, me lembrei de Glauco, não o cartunista, mas de Glauco Barsalini, que escreveu “Estado de exceção permanente: soberania, violência e direito na obra de Giorgio Agamben”.

  • “OK Google, me lembre amanhã de perguntar ao Dr. Barsalini na padaria Santo Antônio se o Glauco da PUC-Campinas é parente dele.”

O que me fez lembrar da tese de Glauco foi a cara de satisfação de dois rapazes que estavam de farda naquela abordagem policial na Zona Norte de São Paulo enquanto conduziam um dos aviõezinhos preso por tráfico de drogas na quebrada.

O trabalho do acadêmico aponta como consequência desse encarceramento em massa o surgimento e a expansão das organizações criminosas e o que aquelas “pessoas que vivem em comunidades pobres pensam sobre o crime e o policiamento”.

Assim como Finn e Monique, Glauco busca entender o crime organizado em um contexto global e contemporâneo, evitando se contaminar pelo ambiente provinciano que acredita que o fenômeno PCC 1533 é uma criação fora da realidade mundial e de seu tempo.

Ao chegar na segurança de meu lar, depois de resolver as responsas que tinha acertado com o aliado, fui para meu merecido descanso, tão satisfeito quanto aqueles dois policiais que levaram o garoto para ser doutrinado na filosofia da Familia 1533.

Como diria minha velha amiga Odete de Almeida: “É prá cá bá”

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Nos últimos anos, como consequência do acirramento da disputa por poder entre grupos criminosos, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), tem sido recorrente a execução de grupos rivais dentro de unidades prisionais. Nestes casos, a morte, mesmo qualificada por uma brutalidade terrível, choca ainda menos. Tornamo-nos uma sociedade sádica, despudorada que não apenas aceita estas mortes, mas vibra com elas. A morte deve entrar em casa, tomar café e almoçar todos os dias com cada um de nós e não mais assustar. Tal sadismo toma forma a partir do crescente número de programas jornalísticos sensacionalistas, sucessos de audiência, centrados no espetáculo da violência. O medo da violência não desperta indignação, mas alimenta o ódio ao “outro”, reforçando a cisão social. Neste sentido, a percepção reproduzida nos últimos anos de uma sociedade dividida entre “cidadãos de bem” e “marginais” aparece como a versão mais moderna da polarização entre a Casa Grande e a Senzala. (leia o artigo dessa citação na íntegra)

Rafael Moraes é professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
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