Tribunal do Crime do PCC e a Operação Antígona do GAECO

A parada é o seguinte: contamos aqui o rolê pesado que o GAECO armou pra botar os irmãos do PCC 1533 que participavam do Tribunal do Crime do Primeiro Comando da Capital atrás das grades. O corre todo começou lá em 2017 e desenrolou 418 anos de cana pro comando.

“Tribunal do Crime”, cê sabe o que é isso, família? Aquele esquema que o Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533) usa pra dar um final nos vacilões e nos inimigos. Só que o bagulho foi longe demais em 2017, quando um armeiro do PCC foi decretado em Itu, essa parada foi o estopim pra um corre pesado do GAECO, que montou a tal da Operação Antígona.

Agora a parada ficou séria, família. O Tribunal do Júri em Ribeirão Preto deu o veredito e os irmãos do PCC tão levando 418 anos de cana no total. Isso é o sistema fazendo a roda girar.

Quer saber mais sobre como o crime foi desenrolado e como os irmãos do PCC tão pagando o pato? Chega junto no site, cola no grupo de leitores ou manda uma MP pro mano que escreveu essa fita. Vamo trocar uma ideia sobre esse corre, tamo junto!

Um caso do Tribunal do Crime: 2017

Saca só, irmão, é mais ou menos assim: a parada gira em torno do investigador André de Sorocaba, de olho nos corres do Rodrigo Teixeira Lima. Esse Rodrigo era treta, trabalhava de assessor parlamentar pro Deputado José Olímpio, mas também se metia com um esquema de desmanche de carros e era o armeiro da facção PCC na área de Sorocaba.

O André tava de olho em Rodrigo, acompanhando seu passos, sabendo que tinha mais truta nessa correnteza. Parecia que o Rodrigo tava devendo pra alguém, tinha que se encontrar pra “acertar umas contas”.

Rolou um encontro, depois outro, mas o mano que queria trocar uma ideia com o Rodrigo deu cano nas duas vezes, aí um terceiro rolê foi marcado.

Aí que a fita aperta, mano. Se o sujeito tivesse pedido o endereço, talvez a parada tivesse ficado na moita, mas o cara quis se achar esperto, tentou chegar “no sapatinho”. Daí começou a chover de ligações pro Rodrigo pra encontrar o destino, só que o investigador André tava na escuta.

Desvendando a parada e desmontando o Tabuleiro do Crime

Nessa troca de ideia, o André colou que o Rodrigo ia encarar o Tribunal do Crime pra esclarecer um lance de estupro de uma mina de 13 anos. Em uma das gravações, o cara solta:

A mina que tava comigo já vazou, eu mandei a real pra ela.

Essa foi a última vez que a voz de Rodrigo ecoou no ouvido do investigador, mano. Depois, nada além de silêncio. Não demorou pra acharem o corpo do armeiro do PCC, jogado perto do rio. André, esperto, ligou os fatos e seguiu o rastro do carro até o local onde desapareceu, perto do Tietê, na beira da Estrada Parque em Itu.

Mano, a fita é essa: se o Ratinho RT, o irmão que ia levar o Rodrigo pro Tribunal do Crime, não tivesse se perdido e papagaiando no celular, talvez a parada não tivesse sido descoberta.

André que tinha granpeado o número, passou a fita para o investigador Moacir Cova, que achou a placa do Gol branco do Ratinho pelas câmeras de segurança, então conseguiram descobrir o dono do carro, que levou aos manos do Tibunal do Crime do PCC que iam julgar o suposto estuprador. Derrubaram um por um que nem castelo de cartas.

Aí fechou o ciclo, o Ratinho RT foi identificado pelo investigador Moacir Cova como o disciplina da quebrada. Tudo se encaixou, mas se o Ratinho não tivesse se perdido, talvez ninguém tivesse sido pego, e ele nunca teria sido reconhecido como o irmão disciplina de Itu do Primeiro Comando da Capital, facção PCC 1533. E é assim que funcional.

O Tribunal do Crime: 2023

Agora segura essa: seis dos irmãos do Primeiro Comando da Capital levaram cana dura na Justiça de São Paulo por mandar rolar “Tribunal do Crime” lá em Ribeirão Preto. As penas chegam a mais de 418 anos de cadeia, sacou?

“Esse ‘Tribunal do Crime’, ou ‘Tabuleiro do PCC’, é a parada que a galera organiza pra dar o troco em inimigos ou nos que furam as leis da quebrada. As sentenças vão de uma coça até uma passagem sem volta, conduzida por um Disciplina ou algum irmão de respeito no pedaço.

Operação Antígona contra o Tribunal do Crime do PCC

Essa fita foi revelada pela Operação Antígona, jogada pelo Gaeco, do MPSP, lá em 2017, quando o mano Ratinho tomou um tombo. E olha só, até um assessor de deputado tava no rolo, o que fez a política inteira tremer.

Antígona, que é o nome que o GAECO colou pra operação contra o Tribunal do Crime do PCC, tem a ver com enterrar o cara vivo. Há 2400 anos, Sófocles contou a história de uma mina, filha do Édipo, aquele carinha que se envolveu com a própria coroa, a Jocasta. Depois que ela deu as caras de novo em Tebas, a Antígona foi enterrada viva, lá no subterrâneo, numa caverna, que nem os irmãos do PCC são enterrados no sistema prisional do Brasil. Entendeu o nome?

Na última fase da Operação Antígona foi em março em São Bernardo, mandaram ver em 11 mandados, seis de busca e cinco pra prender os manos. Três integrantes do PCC acusados de botar pra decidir no ‘Tribunal do Crime’ foram para trás das muralhas.

A menor pena foi 51 anos e a maior 102

No ano passado, 2022, sete irmão também caíram por por sequestro, tortura e execução de um condenado pelo Tribunal do Crime. Além de mandar para dentro do sistema mais três dos pesados do crime organizado, os policiais encontraram mais de 11 mil ‘doletas’, uns celulares e um carro.

No fim das contas, a parada de Ribeirão não tinha nada a ver com a de Itu, mas deu força para o GAECO tocar a operação e agora sobrou pra esses nove manos ligados à cúpula do PCC em Ribeirão Preto, os responsas por organizar e mandar ver nos ‘tabuleiros’ de lá.”

No Tribunal de Justiça de São Paulo, os julgamentos foram divididos em cinco júris populares, rolou entre 2021 e 2023. Os irmãos do PCC responderam por homicídio, sequestro, ocultação de cadáver e organização criminosa. Tinha até uma mina entre os condenados. As penas foram de 51 a 102 anos de prisão.

A investigação, encabeçada pelos promotores Marcos Rioli e Giullio Chieregatti Saraiva, começou depois de um vídeo que mostra três irmãos do PCC dando fim a um rival com golpes de podão, uma espécie de facão de lavoura. Entendeu a fita, mano?

PCC nos Anos 90: das sombras para o Dominio das Ruas

Explore a trajetória da facção PCC nos anos 90, desde o nascimento nas prisões de São Paulo até a expansão para as periferias, enquanto desvenda o mistério de sua constante transformação.

“PCC nos anos 90” não é apenas um termo, mas uma época de mudanças radicais e contornos inesperados no cenário criminal de São Paulo. Mergulhe nessa narrativa onde o caos e a ordem dançam em um equilíbrio delicado, revelando uma história de evolução e adaptação que desafia a imaginação.

Venha descobrir a verdadeira essência do mistério que rodeia o Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533), um enigma sempre em constante transformação. Após a leitura, espero por seus comentários e reflexões. Deixe sua opinião no nosso site, compartilhe suas impressões nos grupos de leitores do WhatsApp ou envie uma mensagem privada para mim. Sua participação enriquece o debate!

Texto baseado no trabalho de Evando Cruz Silva: Molecada no Corre: Crime, geração e moral no Primeiro Comando da Capital

PCC nos anos 90: Sob a Sombra das Grades

As primeiras luzes do dia ainda não haviam riscado o horizonte quando o eco de uma década de mudanças ressoou através das paredes de concreto. O Primeiro Comando da Capital, conhecido apenas como PCC, nasceu nas sombras das prisões de São Paulo na década de 1990. Uma história de transformações e contornos inesperados, trazendo consigo um ar de mistério.

Era uma época em que o caos era a única lei, onde a selvageria humana espreitava a cada canto de cela, o PCC surgiu em 1993 como uma ordem em meio ao caos.

Mano, no dia 11 de março de 1991, as sementes do PCC foram plantadas em solo fértil durante um banho de sangue no presídio do Carandiru. O PCC não brotou em 1993 lá no Piranhão e se espalhou de uma vez só, mas na real, ele já tinha começado lá atrás, em 91, mas foi nesse ano que ele se consolidou…

Naquela tarde de chuva de 93, o Rato caiu morto pelas mãos do Geleião no Piranhão, como era chamado a Casa de Custódia de Taubaté. Zé Marcio, o Gelião, fundava o PCC, regando-o com o sangue do Rato.

O PCC existira sem o neocapitalismo? Por que isso é importante?

Eles eram a luz do fim do túnel para muitos prisioneiros, um sopro de vida em um mundo governado pela lei do mais forte ou do cada um por si. A instituição do “PCC nos anos 90” redefiniu esse pensamento, inaugurando uma nova era de “paz entre os ladrões”, na tentativa de trazer alguma harmonia à anarquia dominante.

Camila Nunes Dias conta que nos anos de 1994 e 1995 a base se solidificou graças a intensificação da repressão dentro do sistema carcerário — quanto mais dura se tornava a vida no cárcere, mais presos se aliavam à bandeira de solidariedade empunhada pelo PCC.

Camila Caldeira Nunes Dias PCC

“… as demonstrações de crueldade e de espetacularização da violência […] desempenharam uma série de funções na conquista e na manutenção do poder e do domínio do PCC sobre a população carcerária.”

A transformação da organização criminosa PCC desde 1993 aos primeiros anos dos anos 2000 é uma história de evolução e adaptação, uma narrativa que desafia a imaginação. No entanto, como seria de se esperar em qualquer história de uma organização criminosa, o verdadeiro mistério reside sempre nos detalhes, escondidos nas sutilezas da vida real.

Em 1994, quando eu era um novato, os presos falavam comigo sobre um tal “Partido do Crime”. Eu falava ‘tá bom’, fingindo que estava entendendo, pois não é bom demonstrar dúvida perto dos detentos…

Só depois, eu e o restante dos agentes fomos descobrir que o tal partido era o Primeiro Comando da Capital, que alguns também chamavam de “Sindicato do Crime”. Para nós, os agentes penitenciários, era evidente a força que o grupo estava ganhando, mas, durante muito tempo, o governo negou a sua existência…

Foi nesse caldeirão que, no início dos anos 2000, o conflito explodiu: … o PCC agora mandava no lugar…

… a história continua no The Intercept Brasil.

A Metamorfose da Hierarquia: Desafiando a Estrutura Tradicional

Muitas mudanças aconteceram naqueles loucos e tensos do PCC nos anos 90. A população carcerária, antes massacrada pelo governo de São Paulo e ao mesmo tempo subjugada por grupos criminosos brutais dentro das prisões, começou a se organizar em torno de uma ideologia que ia sendo construída enquanto era implantada.

A criação do PCC é vista por muitos presos como o fim de um tempo no qual imperava uma guerra de todos contra todos, onde a ordem vigente era “cada um por si” e “o mais forte vence”. As agressões físicas eram bastantecomuns, “qualquer banalidade era motivo para ir pra decisão na faca”.

As violências sexuais também eram bastante recorrentes; para evitá-las, muitas vezes não havia outra saída senão aniquilar o agressor e adicionar um homicídio à sua pena. Os prisioneiros se apoderavam dos bens disponíveis, desde um rolo de papel higiênico até a cela, para vendê-los àqueles que não conseguiam conquistá-los à força.

Karina Biondi

Até 1995 ou 1996, o carcereiro chegava e vendia o preso por, digamos, cinco mil reais para ser escravo sexual.

Aluguel de presos como escravos sexuais no Paraná

No ambiente abafado, impregnado de injustiças e ameaças mortais, é possível vislumbrar como o Primeiro Comando da Capital encontrou espaço para expandir e enraizar-se com impressionante facilidade. E, nesse contexto, a transição para as ruas se tornou apenas um salto lógico e inevitável.

Nas ruas das periferias introduziu de seu código moral nas “biqueiras”, se estabelecendo como uma autoridade alternativa, o Tribunal do Crime, um recurso para a resolução de conflitos. Este controle social também não estava nos planos iniciais do PCC nos anos 90, mas poucos anos após a sua formação nas prisões, este sistema paralelo de justiça já se fazia presente nas principais comunidades periféricas de São Paulo.

Um ponto de virada dramático no enredo foi quando o PCC estendeu sua influência para além das prisões. Esta extensão não era uma estratégia inicial, mas acabou por ser um movimento que poderia ter sido inspirado por um mestre em estratégia.

Impondo a paz pela violência

O PCC nos anos 90, desenhava sua identidade com traços de violência, como uma assinatura indelével. De acordo com o estudioso Dyna, a facção estabeleceu uma rígida política de punições extremas, assemelhando-se às práticas de suplício descritas por Foucault.

Os suplícios, essas punições visíveis e brutalmente violentas, desenhavam um teatro de horror cuja finalidade era reforçar a relação de poder. O soberano aqui era o próprio comando, não se restringindo a indivíduos, mas permeando a organização inteira, atingindo todos, membros ou não.

As mais chocantes manifestações desses suplícios incluíam a decapitação de membros de grupos adversários, ou a execução dos próprios irmãos por falhas graves. A meta era clara: afirmar o poder e a hegemonia do PCC em cada presídio onde tivessem presença.

A crueldade desses atos, entretanto, não era uma invenção do PCC. As raízes dessas práticas brutais já estavam fincadas no solo fértil do mundo do crime. Porém, foi com a ascensão do PCC no universo carcerário que esses suplícios foram incorporados, tornando-se um instrumento de correção e punição para aqueles julgados pelo grupo.

No entanto, outras marcas simbólicas são registradas, como olhos arrancados (dos traidores), cadeado na boca (delatores), coração arrancado (inimigos). Quando se tratava de ex-membros que ocupavam postos mais altos na hierarquia do PCC, se a situação permitisse, o condenado poderia escolher a forma de ser assassinado: como coisa ou verme (a golpes de faca), ou como homem honrado, ocasião em que o chamado kit forca, composto de lençol e banco para que se encarrega se da própria execução.

Camila Caldeira Nunes Dias

PCC nos anos 90: um fantasma oculto na sombra

A crescente organização dos encarcerados e sua exorbitante violência começaram a chamar a atenção, se tornando inescapáveis aos olhos do governo e da imprensa. Mesmo assim, havia uma espécie de cegueira deliberada por parte do Estado, que se recusava a reconhecer a existência de um grupo de detentos tão meticulosamente orquestrado.

No ano de 1995, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo desdenhou dos rumores, afirmando que a imprensa estava “vendo fantasmas” ao falar de uma tal facção criminosa chamada PCC. Contudo, era como se essas palavras servissem de estímulo silencioso, pois em 1997, a misteriosa organização criminosa emergiu das sombras, forçando a sociedade a reconhecer a sua existência e a legitimidade de seu Estatuto.

Como se desafiando o escárnio das autoridades, o PCC se movia, motivado por um ímpeto quase palpável para ser visto e entendido. Creio que Na visão essa era uma demonstração de orgulho e rebelião, características intrínsecas daqueles que se sentem marginalizados e ignorados.

O PCC dos anos 90 também sofreu uma metamorfose notável, substituindo uma hierarquia rígida e centralizada por postos mais fluidos. Neste sistema enigmático, um membro poderia assumir uma “responsa” e trocá-la de acordo com as necessidades ou conveniências, seja suas ou da facção, a qualquer momento e lugar. Talvez essa seja a verdadeira essência do mistério que rodeia o “PCC nos anos 90”, um sistema tão complexo que, quando as autoridades finalmente conseguem desvendá-lo, ele já se modificou.

A atmosfera tensa e carregada de mistério mas aparentemente contida como uma represa pelas muralhas dos presídios prevaleceu até que, nos anos 2000 , estouraram numa onda de mega rebeliões e ataques fora dos presídios. Aqui, o PCC emergiu das sombras, jogado sob os holofotes públicos como uma força a ser reconhecida. Uma reviravolta dramática que desmascarou a falsa segurança dos discursos políticos, forçando as autoridades a reconhecerem que não estavam no controle.

O Brasil e o PCC entram na era da comunicação celular

O pesquisador Eduardo Armando Medina Dyna recorda um fato notável que causou um impacto significativo e revolucionou o PCC na década de 90: a introdução de telefones celulares nas prisões de São Paulo.

Na década de 90, uma mudança silenciosa começou a reconfigurar a paisagem sombria das prisões de São Paulo. Como se guiado por algum código inescrutável, o PCC encontrou uma nova forma de tecer sua teia de influência: o celular.

Era quase mágico. Aqueles pequenos aparelhos, que cabiam na palma de uma mão, começaram a zumbir nas sombras, costurando conexões onde antes existiam apenas paredes de concreto. As notícias corriam pelos corredores lúgubres como correntes elétricas, com um poder invisível que transformava em questão de horas o silêncio dos presos em um murmúrio de inquietação.

Este novo mecanismo era o resultado do trabalho de David Spencer, um homem que outrora combateu a ditadura de Pinochet no Chile. Com a paciência de um mestre relojoeiro, ele ensinou o PCC a montar uma rede de comunicação tão engenhosa quanto um mecanismo de relógio, com peças móveis que se ajustavam e se realinhavam ao mínimo sinal de perigo.

Os telefones eram introduzidos nos presídios de maneiras quase inimagináveis. Cada celular era precioso, sendo introduzido sorrateiramente nas prisões, escondido nas partes mais íntimas dos corpos humanos. Era uma operação perigosa e humilhante, mas essencial para o funcionamento da máquina do PCC.

Com essa nova ferramenta, o PCC não era mais apenas uma organização, mas uma entidade viva, pulsante. Cada membro, independente de onde estivesse, estava ligado à entidade maior, contribuindo com uma parte de seus ganhos. Os que estavam em liberdade davam 500 reais por mês, os do semiaberto, 250 reais, e até os simpatizantes nas cadeias contribuíam com 25 reais. O PCC se tornou um organismo autossustentável, uma criatura nascida do desespero e alimentada pela necessidade, sempre pronta para adaptar, evoluir e sobreviver.

A chegada da nova tecnologia desencadeou um terremoto silencioso nas entranhas do sistema prisional de São Paulo. A ressonância desta transformação reverberava nos corredores frios das prisões, ecoando nas mudanças nas políticas e estratégias de gestão prisional. Viu-se a implementação do Regime Disciplinar Diferenciado, o RDD, uma resposta desesperada para tentar isolar as lideranças e restringir a comunicação que, agora, fluía livre como um rio subterrâneo.

Os complexos prisionais começaram a se expandir, espalhando-se como manchas de óleo pelo estado. A ideia era diluir a influência do PCC, dispersar os membros para enfraquecer a organização. Mas, como as autoridades logo descobririam, era como tentar segurar água nas mãos. O PCC já não estava apenas dentro das prisões, mas também fora delas. E agora, graças à tecnologia, estava conectado de uma maneira que ninguém poderia ter previsto.

Ironia e Paradoxo: As Falsas Promessas de Controle

Por algum motivo que escapa à compreensão, políticos, policiais e uma parcela considerável da imprensa nutriam a crença de que teriam sucesso em combater uma organização criminosa que nasceu no seio do sistema prisional, um monstro gerado para combater as injustiças da própria cadeia, ao aumentar o número de detentos e perpetuar a injustiça carcerária. Essa crença, impregnada de ironia e paradoxo, serve como um lembrete sombrio das complexidades que cercam o “PCC nos anos 90”.

Incrivelmente, graças a todos esses fatores, o “PCC nos anos 90” conseguiu estabelecer uma “paz entre os ladrões” nas prisões e transportar com sucesso o conceito da “moral do crime” para as ruas das periferias. Obteve visibilidade e reconhecimento público com a divulgação do seu Estatuto em 1997, e aprimorou seu sistema de hierarquia e gestão.

Contudo, ainda sob o manto do suspense, ocorreu uma mudança surpreendente. São Paulo experimentou uma redução drástica na taxa de homicídios, com uma queda de mais de 70% nos assassinatos. Esta mudança inesperada poderia apenas ser atribuída à presença cada vez maior do PCC e à disseminação do conceito da moral do crime. As ruas, antes palco de violência incessante, pareciam se acalmar sob sua influência.

E assim, ao final da década, a empresa – um empreendimento de meros cinco anos – já exibia sinais que atuava no cenário internacional com negociações expressivas:

Em fevereiro de 1998, por menos de 1 Real foi enviada de uma agencia do Correio de Campo Grande uma carta com informações de como funcionava o esquema montado pelo Primeiro Comando da Capital no Mato Grosso do Sul.

A carta que derrubou um esquema internacional da facção PCC

Governadores de São Paulo 1990-2000

15 de março de 1987 até 15 de março de 1991
estratégia violenta e repressiva de lidar com a criminalidade, foi a primeira grande ruptura na era democrática
Massacre do 42º DP – fevereiro de 89
Orestes Quércia

15 de março de 1991 até 1 de janeiro de 1995
massacre do Carandiru – 2 de outubro de 1992
desativação e demolição do Carandiru
política de interiorização e divisão dos presídios
fundação do PCC – 31 de agosto de 1993
Luiz Antônio Fleury

1 de janeiro de 1995 até 6 de março de 2001
criticou a ausência de direitos humanos nos governos anteriores e optou por políticas de negociação e patrulhas mais brandas
criação de vagas no sistema penitenciário como uma de suas principais ações políticas
Mário Covas

Mato Grosso: Morre Pé Quebrado da facção PCC 1533

Morre Pé Quebrado, mas quem são esses integrantes do Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533) e o que ele estaria fazendo na fronteira do Mato Grosso com a Bolívia?

Morre Pé Quebrado: os últimos acontecimentos envolvendo o Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533) e a guerra entre essa facção e o Comando Vermelho (CV) no estado do Mato Grosso.

O assassino do PCC em Mirassol D’Oeste

Inicialmente, é importante entender que a sintonia do “Pé Quebrado” do PCC é responsável por eliminar inimigos da facção e manter a disciplina, conforme o Dicionário do PCC e o Estatuto do PCC. Recentemente, um homem identificado como Davi, integrante do PCC, foi morto em confronto com a Polícia Militar em Mirassol D’Oeste, Mato Grosso.

A pequena cidade de Mirassol D’Oeste não é rota do tráfico internacional, no entanto, fica há 79 quilômetros de Cáceres, a última cidade brasileira antes de acessar a BR-70 para chegar a fronteira com a Bolívia, tornando assim, Mirassol como um refúgio estratégico para o Primeiro Comando da Capital.

Acredita-se que ele estava na região para matar integrantes da facção inimiga Comando Vermelho. Segundo informações, Davi e um comparsa de 19 anos estavam efetuando disparos em uma área rural quando foram surpreendidos pelos policiais. Armado, Davi atirou contra os militares e acabou alvejado.

Antes desse episódio, Davi já havia tentado matar sua ex-namorada e o atual companheiro dela em um bar na avenida Tancredo Neves em Mirassol D’Oeste. Entretanto, o revólver falhou, e Davi fugiu após agredir a ex com socos e chutes na cabeça. Ele também tentou atirar no namorado da ex, mas a arma falhou novamente. (veja o vídeo)

O assassinato do CV em Cuverlândia

Além disso, Davi, seu comparsa de 19 anos e um terceiro criminoso, são suspeitos de assassinar Denilson, suspeito de integrar a organização criminosa rival, em Curvelândia à apenas 24 quilômetros de Mirassol D’Oeste. O comparsa de 19 anos que foi preso afirmou que Davi esta na região para combater o Comando Vermelho.

O homem foi morto com diversos disparos na mesma noite na qual Davi tentou matar sua ex-mulher e seu companheiro. Testemunhas relatam que os assassinos chegaram em uma moto vermelha e ordenaram que as vítimas entrassem na casa. Em seguida, efetuaram vários disparos contra elas.

Ademais, Davi e seu comparsa teriam roubado uma espingarda em São José dos Quatro Marcos, a 13 quilometros de Mirassol, o que demonstra que o criminoso atuava não apenas no município, mas em toda a região.

texto base: Morto em confronto seria do PCC e estava matando membros do CV

Celular Denuncia Tribunal do Crime da facção PCC no Paraguai

Celular denuncia Tribunal do Crime da facção PCC após a descoberta de filmagem crucial em aparelho de integrante, esclarecendo um assassinato ocorrido há mais de um ano no Paraguai e cujo corpo foi encontrado na Argentina.

Celular denuncia Tribunal do Crime. Descubra como a filmagem de um aparelho celular levou à captura de um Pé Quebrado (Disciplina do PCC) graças à cooperação das polícias da Argentina e do Paraguai.

Celular denuncia Tribunal do Crime: mas qual foi o crime cometido:

O celular de Emanuel Eduardo, membro do Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533), foi apreendido pela polícia Argentina quando ele foi flagrado em 15 de fevereiro de 2023, durante uma operação policial na Rota Nacional 14, em San José, província de Misiones, Argentina.

No entanto, a prisão ocorreu porque ele apresentou um documento falso em nome de Julio Ariel Rodríguez, além disso, a polícia encontrou uma pistola calibre 9mm da marca Glock com 16 projéteis em sua posse.

Tato ou Liba, como ele é conhecido no mundo do crime, manteve em seu aparelho celular a única evidência que poderia ligar ele a um assassinato no Paraguai há mais de um ano: a gravação mostrava o momento em que ele executava Ever com 30 facadas.

Ever Alfredo, um cabeleireiro que residia no bairro Fortín Toledo em Ciudad del Este, no Paraguai, já havia sido preso com dois quilos de cloridrato de cocaína em 2011. Ele mencionou que iria cortar o cabelo de um cliente e saiu de casa em um veículo branco no dia 24 de janeiro de 2021.

Dias depois, o corpo de Ever Alfredo foi encontrado a 30 quilômetros de distância, boiando no Rio Paraná, do outro lado da fronteira, no bairro Santa Rosa, em Puerto Iguazú, na Argentina.

O celular denuncia Tribunal do crime, e é a prova de sua ligação com o brutal assassinato de Ever. Se não fosse pela filmagem encontrada em seu telefone e pela cooperação entre as autoridades argentinas e paraguaias, Tato, membro do Primeiro Comando da Capital, certamente continuaria impune.

Agora, as autoridades argentinas cooperaram com seus homólogos paraguaios, trocando informações relacionadas ao caso. O promotor Luis Trinidad acusou Tato e exigiu sua extradição. Enquanto isso, a Justiça argentina abriu uma investigação contra ele pelo suposto ato punível de uso de documento adulterado ou falso.

No entanto, ainda resta a pergunta sem resposta: Será que Ever Alfredo foi morto pelo integrante do Primeiro Comando da Capital devido à sua ligação ou negócios com uma organização criminosa rival, por dívida de drogas ou algum tipo de traição?

texto base: El supuesto miembro del grupo criminal Primer Comando Capital. Éste se encuentra implicado en el brutal asesinato.

PCC decapita CV: quase dois anos depois a polícia divulga a foto

Neste texto, o terrível assassinato em que o PCC decapita CV é detalhado, e quase dois anos após o crime, a polícia divulga a foto do suspeito, revelando a brutalidade das facções criminosas.

PCC decapita CV: Explore este texto e descubra a brutalidade da guerra entre facções criminosas Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho em um relato chocante.

Integrante do Comando Vermelho no Tribunal do Crime

O caso perturbador envolvendo o Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533) e o Comando Vermelho (CV). Weberth, conhecido como Zóio, um integrante da facção PCC, está sendo procurado pela polícia por decapitar um rival com uma tesoura.

Randerson, era integrante da facção carioca CV e teve sua cabeça cortada em um ato brutal. A cabeça foi encontrada em uma praça no bairro Jardim Santa Lúcia, em Águas Lindas em Goiás, a 48km de onde ocorreu a execução.

No fatídico dia, Zóio e dois cúmplices conduziram Randerson a uma casa na QI 22 do Setor de Indústrias de Ceilândia, onde ocorreu o sinistro julgamento virtual pelos membros do PCC que durou cerca de 10 horas e da qual participaram cerca de 100 faccionários, sendo que a maioria votou pela execução de Randerson, que foi então brutalmente morto, decapitado, e teve seu corpo abandonado na região, como um aviso sombrio aos demais.

Integrante do PCC decapita CV após julgamento

O paraense Randerson, era um membro batizado no Comando Vermelho, facção carioca nascida em 1979 no Presídio da Ilha Grande em Angra dos Reis. Ele é acusado de matar e decapitar um rival da facção paulista em maio de 2016 e, como num conto de horror, ele havia sido capturado e aprisionado pela polícia, apenas para ser libertado um mês antes de ser morto de forma macabra pelas mãos da facção inimiga.

O PCC filmou a execução com espancamento e pauladas, e a decapitação com golpes de tesoura e facão. No vídeo, um dos executores desafiava Randerson:

Gosta de matar irmão do PCC? Então, mata. Vem com nós, desgrama, que nós faz é assim!

Dois dias após o crime, a polícia encontrou seu corpo e localizou um dos integrantes do PCC envolvido na execução em Águas Lindas.

A polícia prendeu um dos suspeitos de matar o faccioso carioca, já o outro atirou contra uma viatura policial e foi morto, sendo que a arma usada por ele pertencia à Polícia Militar do Distrito Federal. Agora falta um dos executores, Weberth, o Zóio.

Passados 1 ano e 10 meses, a polícia distribui a foto do procurado do homem que já havia sido preso em julho de 2022 pela Polícia Civil de Goiás dentro de um ônibus, em Araguari em Minas Gerais, enquanto se preparava para fugir para São Paulo, na época ele era procurado por armar uma emboscada e assassinar outro integrante do Comando Vermelho chamado Geovane.

O Investigador Moacir Cova é acusado de tortura em Itu

Em um ambiente sombrio, o Investigador Moacir Cova enfrenta acusações de tortura para obter depoimentos no caso do assassinato de Salvador Luiz. Apesar dos esforços para derrubar o investigador, a gravação das confissões desmente as acusações e os acusados Hildo e Evandro são condenados.

O Investigador Moacir Cova e o Caso das Sombras foi um dos primeiros que acompanhei pessoalmente envolvendo o policial e o Primeiro Comando da Capital.

O Investigador Moacir Cova enfrenta acusações sombrias

A atmosfera era densa e sombria na Corte do Tribunal do Júri em Itu, onde almas atormentadas se reuniam para julgar o destino de dois homens acusados de matar um talarico no Jardim Aeroporto para cumprir um decisão do Tribunal do Crime da Facção PCC 1533.

1. Ato de Talarico:
Quando o envolvido tenta induzir a companheira de outro e não é correspondido, usa de meios como, mensagens, ligações, ou gestos.
Punição: exclusão sem retorno, fica a cobrança a critério do prejudicado e é analisado pela Sintonia.

Dicionário do PCC – Regime Disciplinar de 45 ítens

Entre as sombras, pairava o fantasma do Investigador Moacir Cova, uma figura enigmática que perseguia os criminosos com a determinação implacável de um demônio.

Hildo e Evandro, os acusados, temiam a força policial, mas era a presença assustadora de Moacir Cova que os mantinha acordados à noite.

A Tristeza de Um Homem Acusado

Hildo, um homem adulto assombrado pelo medo de apanhar, era perseguido pelo investigador devido ao seu passado negro.

Ele e Evandro, acostumados a enfrentar tempestades, encontraram-se presos no olho de um furacão quando foram acusados de assassinar Salvador Luiz.

O sucesso de sua defesa dependia de convencer o júri de que Moacir Cova forçou depoimentos incriminatórios por meio de tortura.

As Acusações Sombrias

Um garoto de treze ou catorze anos e Pâmela, a vizinha da vítima, acusaram Moacir Cova de torturá-los para conseguir suas confissões.

Mas o investigador, astuto como um corvo, apresentou um CD com a gravação do interrogatório que desmentiu as acusações.

A tentativa de derrubar o homem que penetrara em cada canto sombrio de Itu falhou miseravelmente.

A Farsa dos Pais e a Queda dos Acusados

Os pais de Hildo e Evandro, com históricos criminosos ligados ao Primeiro Comando da Capital, tentaram dar credibilidade aos depoimentos dos filhos.

No entanto, durante o Tribunal do Júri, fatos emergiram, ligando os pais a práticas ilegais no passado e derrubando sua credibilidade.

O promotor de justiça Dr. Luiz Carlos Ormeleze desmascarou a trama familiar, enquanto Moacir Cova apresentou provas irrefutáveis de sua própria inocência.

A Condenação e a Vingança Frustrada

O advogado Dr. José Maria de Oliveira lutou bravamente pela defesa de seus clientes, mas, diante das provas apresentadas por Moacir Cova, a condenação foi inevitável.

O investigador, por sua vez, negou ter cometido qualquer ilegalidade e afirmou que o garoto, Pâmela e outras testemunhas foram procurados por um advogado de defesa para mudarem seus depoimentos e acusá-lo, na tentativa de desacreditar o processo.

O Legado de Moacir Cova

Muitos tentaram em vão derrubar aquele homem, mas o Investigador Moacir Cova permaneceu impávido em face às trevas.

Hildo e Evandro, agora condenados, têm ainda mais razões para temer e odiar a força policial, mas, acima de tudo, o homem que os condenaram.

Artigo publicado originalmente em 16 de dezembro de 2011 e é continuação do artigo: Talarico Morre em Itu

Talarico é só rajada: PCC mata para fugir do Tribunal do Crime

Caso real: acusado de ser talarico, matou o acusador, ganhou moral na organização criminosa Primeiro Comando da Capital e assumiu liderança.

Talarico é só rajada, e Lelé sabia disso.

O talarico de onde estava, podia contemplar a sinistra beira do precipício, o qual seria seu destino final.

Cada passo dado pelo pobre coitado o aproximava cada vez mais da sua derradeira sentença. A realidade macabra se impunha sem piedade.

O infeliz Lelé, um sujeito de Mirassol D’Oeste, no Mato Grosso, já havia enfrentado inúmeros momentos de tensão em seus trinta anos de existência.

Mas, Lelé confiava em sua astúcia para salvá-lo do juízo final. A facção criminosa PCC 1533 não colocaria os seus olhos nele.

Além disso, ele sabia como ninguém como lidar com as regras do Primeiro Comando da Capital — no mundo do crime ele nadava com um peixe na água.

Não seria graças às acusações feitas por um tal de Beleza que ele morreria.

Primeiro ele precisaria estar sempre um passo à frente do inimigo e usar táticas que possam desestabilizar sua influência ou elimaná-la.

O uso de agentes infiltrados

E foi assim, com uma informação recebida de um chegado seu no lava-jato de propriedade do o impiedoso Disciplina irmão Narizinho, que soube que Beleza marcara um encontro para entregá-lo ao Tribunal do Crime do PCC.

Analisou qual o ponto mais fraco para agir. Jamais poderia se contrapor ao irmão Disciplina ou ao Tribunal do Crime. O ponto fraco era justamente o acusador: o Beleza.

O motivo do medo de Lelé

As aventuras amorosas do infeliz com mulheres casadas, uma ofensa que a lei do PCC punia com severidade.

A talaricagem é o primeiro dos 45 mandamentos da organização criminosa Primeiro Comando da Capital.

1. Ato de Talarico:
Quando o envolvido tenta induzir a companheira de outro e não é correspondido, usa de meios como, mensagens, ligações, ou gestos.
Punição: exclusão sem retorno, fica a cobrança a critério do prejudicado e é analisado pela Sintonia.

Dicionário do Primeiro Comando da Capital

Lelé, contudo, não assistiria de braços cruzados à sua própria queda, empurrado pelas mãos vingativas de Beleza por uma questão pessoal: Lelé se engraçou com a filha de Beleza.

Mostraria a Beleza que com ele não se brinca… no entanto, sabia que não poderia fazer o serviço ele mesmo.

Gordão e Pezão eram homens de sua confiança, e chegaram para conversar com ele no sobrado de blocos vermelhos de esquina, localizado no Portal do Éden em Itu.

Tudo foi acertado. Beleza nunca falaria com o Disciplina da Facção PCC. Beleza nunca mais falaria.

De talarico à líder da facção PCC

Uma semana depois, a notícia da morte de Beleza na Cidade Nova se espalhou rapidamente pelo submundo do crime.

Lelé estava a salvo e ninguém mais iria denunciá-lo ao Primeiro Comando da Capital.

No mundo do crime, apenas os mais fortes sobrevivem e Lelé havia provado ser um lobo em pele de cordeiro.

A partir daquele dia, Lelé ganhou o respeito de seus pares no mundo do crime e passou a ser temido e respeitado.

Ele sabia que teria que continuar a jogar sujo e a pisar em quem fosse necessário para manter seu lugar na hierarquia.

Mas ele estava pronto para isso, afinal, no submundo do crime, só os mais fortes sobrevivem.

história postada originalmente nesse site em 16 de agosto de 2011

O Primeiro Comando da Capital não é para os fracos

Você pode ficar indignado com Lelé e achar impossível que ele tenha assumido a Sintonia da quebrada depois do que ocorreu, mas a vida é assim.

Para o mundo do crime, aquele homem, talarico ou não, reunia algumas características essenciais para liderar criminosos:

Astúcia: Lelé é descrito como um homem astuto, que já enfrentou inúmeros momentos de tensão ao longo de sua vida. Essa habilidade de lidar com situações difíceis sugere que ele tem um bom grau de inteligência e sagacidade.

Autoconfiança: Lelé mostra uma forte autoconfiança em sua capacidade de lidar com as situações de perigo e proteger a si mesmo. Isso é evidente em sua decisão de buscar ajuda para se proteger contra Beleza e na forma como ele resolve seus problemas.

Vingança: Lelé não é um homem que se contenta em ser passivo diante de ameaças. Ele mostra uma forte tendência para buscar vingança quando se sente ameaçado. Isso é evidente em sua decisão de matar Beleza depois de descobrir que ele estava tentando entregá-lo à facção criminosa.

Ambição: Lelé parece ser ambicioso em seu desejo de se estabelecer no mundo do crime. Ele está disposto a fazer o que for preciso para manter seu lugar na hierarquia e ganhar respeito entre seus pares. Isso é sugerido pela forma como ele joga sujo e pisa em quem for necessário para manter sua posição.

Falta de empatia: Lelé parece não ter empatia por aqueles que cruzam seu caminho ou que ele considera uma ameaça. Ele não hesita em tomar medidas extremas para se proteger, mesmo que isso signifique matar alguém.

O segredo do sucesso da facção PCC 1533

Pode rir, ri, mas não desacredita não

Conhecidos meus diziam que o Primeiro Comando da Capital era um grupo violento de criminosos semi-analfabetos.

Verdade, mas não são os bancos escolares que ensinam as coisas mais importantes da vida, e a vida não é para os fracos.

A guerra na qual os PCCs vivem exige estratégia, tática e habilidade para se obter a vitória.

Apesar de o caso de Lelé e o PCC não envolver uma guerra convencional, ainda é possível avaliar esse caso segundo um conceito estratégico.

Aimportância de conhecer o seu inimigo

No caso de Lelé e o PCC, é importante entender as motivações e estratégias do PCC para poder lidar com ele de forma eficaz.

Isso pode incluir a análise da hierarquia e estrutura da facção paulista, suas redes de comunicação e sua presença geográfica.

Qual teria sido o melhor resultado para a organização criminosa na região da Cidade Nova / Portal do Éden em Itu?

Punir o talarico Lelé e cumprir o seu principal mandamento, ou dar um cargo de liderança para o perigoso e respeitado Lelé?

a importância da flexibilidade e da adaptabilidade

Isso significa que, em vez de adotar uma estratégia fixa e inflexível, é preciso estar preparado para se adaptar às mudanças nas circunstâncias e no comportamento do inimigo.

No caso de Lelé e a organização criminosa, isso pode significar estar sempre vigilante e preparado para se adaptar a novas ameaças e táticas, e ele pareceu por sua atitude capaz desse desafio.

aproveitar as oportunidades e explorar as fraquezas do inimigo

Isso pode envolver o uso de táticas como a criação de armadilhas, a divisão do inimigo ou a exploração de conflitos internos no grupo.

No caso de Lelé e a organização criminosa, ele soube explorar as fraquezas e divisões internas dentro do PCC.

Lelé utilizou seus contatos e sua influência na facção para desestabilizar o grupo que queria sua punição e enfraquecer sua influência.

O que é o sintonia do PCC? O que significa sintonias no PCC?

Sintonia do PCC. Sintonia não é apenas uma palavra, uma idéia ou uma função dentro da organização criminosa. Sintonia é a base de tudo no PCC

Sintonia do PCC: luz guia nas trevas

Assim começa o comunicado de um Sintonia do PCC:

Um forte e sincero e leal abraço a todos os irmãos e companheiros.

Inicialmente o “sintonia” que for transmitir para os “irmãos” e “companheiros” deve com respeito lembrar a todos que só com a conscientização é possível alcançar a PAZ, mesmo que dentro das muralhas, dos difíceis ambientes e situações que os soldados da facção e suas famílias estejam.

Introdução da Cartilha do Primeiro Comando da Capital

Afirmar que a facção é invensível não é verdade, mas em Deus tudo é possível, até sobreviver no inferno.

Como controlar as feras que vivem dentro de nós? Como controlar as feras que vivem no Mundo do Crime?

Sintonia: apenas os que vivem em sintonia conseguirão sobreviver e andar nas trevas de nosso mundão.

Complexidade como forma de sobrevivência

A organização criminosa Primeiro Comando da Capital é tão complexa que nem mesmo Marcola ou os 14, conhecem todas as engrenagens.

E é assim que tem que ser.

Um pequeno vírus sobrevive no mundão graças ao seu grande poder de mutação.

Quando os anticorpos aprendem seu funcionamento, o vírus já mudou, já não é o mesmo.

E assim acontece com a facção PCC 1533:

As lideranças estavam dispersas: o governo achou que a divisão deixava a facção forte e incontrolável, então juntaram toda a liderança em Presidente Venceslau.

O governo fez um show na televisão com os líderes do Primeiro Comando da Capital sendo transferidos para o P2 em Presidente Venceslau:

Agora o PCC acabou!

apregoram os de sempre

As lideranças juntas se reestruturaram: o governo achou que a união dos líderes deixou os caras mais fortes e incontroláveis, novamente as separaram.

O governo fez um show na televisão com os líderes do Primeiro Comando da Capital sendo transferidos para os Presídios Federais:

Agora o PCC acabou!

apregoram os de sempre

Vai pensando. Vai sonhando. A transferência causou mais uma mutação na facção que continua tão forte quanto antes com a criação da Sintonía dos 14.

O sucesso da organização criminosa PCC é essa complexa estrutura de sintonias independentes, em permanente mutação mas trabalhando em harmonia para o progresso do conjunto.

Sintonía do PCC é a base da facção

Sintonia do PCC não é apenas uma frase, não é apenas um termo.

Sintonia do PCC é a sua razão de existir, de entender o Mundo do Crime e a sociedade.

Foi por falta de sintonia entre o Governo do Estado e a comunidade carcerária que os ataques do Primeiro Comando da Capital ocorreram em 2006.

Graças a perfeita sintonia entre a comunidade carcerária e o mundo do crime nas ruas que os ataques do PCC de 2006 pararam São Paulo.

Sintonía quer dizer correr-lado-a-lado, estar junto na mesma caminhada, ligar a prisão às ruas, quando estão plenamente dentro dos objetivos da facção o integrante está em uma sintonia total ou sintonía 100%.

Não só os irmãos e companheiros que estão em sitonia: hip hoppers, educadores, oficineiros, artistas, blogueiros, ravers, skatistas, pichadores, e qualquer um que queira a pacificação das ruas e justiça para quem está nos presídios.

A teoria na prática é outra

Para preservar a vida de todos nossos irmãos e se precisar de qualquer apoio para sair busque a sintonia de seu estado e se não tiver apoio busque a hierarquia acima.

Mas deixamos claro que aquele que for para a rua tem a obrigação de manter contato com a Sintonia da sua quebrada ou da quebrada que ele estiver.

Os integrantes que estiverem na rua e passando por algum tipo de dificuldade, poderão procurar a Sintonia para que o Comando possa ajudar ir para o corre, deixando claro que o intuito da organização é fortalecer todos os seus.

No entanto, aqui no site, recebo muitas solicitações de ajuda de irmãos e companheiros que tem dificuldade encontrar sua sintonía após saírem do Sistema Carcerário.

Com exceção de São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul, é comum receber mensagens de integrantes perdidos sem conseguir sintonizar o comando.

Lembrando que o irmão ou Disciplina de uma quebrada ou cidade tem acesso ao Sintonía de sua região e não ao Sintonía dos Estados, e assim por diante.

Sintonia do PCC é tudo e nada existe sem sintonía

Talvez por isso os “sintonias” da organização criminosa Primeiro Comando da Capital sejam peças tão fundamentais para a facção criminosa paulista PCC 1533.

Dentro da hierarquia do PCC os sintonias tem a função de harmonizar as ações e o pensamento das partes dispersas e compartimentadas da organização.

Foi a forma criada para impedir que a organização criminosa se fragmenta-se mesmo que perseguida por agências policiais de diversos níveis em todo o mundo,

Mesmo investigadores especialistas no Primeiro Comando da Capital não tem condições de entender a complexidade das partes que formam a complexa engrenagem sempre em mutação.

Mas até onde podem chegar as sintonias?

… se prepara, mas sem alarmar a todos e quanto todo o sistema no Brasil tiver nessa mesma sintonia e lá fora a gente tiver uns 2 dep. federal ou senador […] nas mãos, nós damos nosso grito de guerra: “Paz, justiça e liberdade.”

O que nos preocupa atualmente é a firme disposição da facção de espalhar seus líderes por todos os presídios em Sintonia (…) o objetivo da facção é espalhar os seus líderes pelo interior para fortalecer as regiões que, como eles chamam, não estão na Sintonia.

Espalhai-vos sobre os presídios abundantemente

O Sintonía do PCC: metodologia do caos

Cada sintonía é liderada por um “irmão” batizado da facção paulista PCC 1533.

Diferentemente de outros grupos criminais e mafiosos baseados em laços familiares, a pessoa não é fundamental, e sim a função, como em uma empresa.

Um “irmão” que seja sintonía de uma região ou setor, pode passar a outra posição ou região de acordo com os interesses da Família 1533.

O Barone, escolhido para ser o Sintonia da tranca do Complexo de Gericinó no Rio de Janeiro pelo paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) em parceria com a facção aliada Terceiro Comando Puro (TCP).

Por um estranho acordo, Barone não respondia ao “Sintonia do estado do Rio de Janeiro” ou ao “Sintonia geral das trancas do Rio de Janeiro”.

Barone que não era nem paulista e nem carioca. Veio de Belém do Pará, mas por alguma razão continuava a responder manter a Sintonia Geral de Pernambuco que o indicou para assumir a Sintonia da Tranca no Rio de Janeiro.

Um flash sobre a expansão do PCC no Rio de Janeiro

O Sintonía do PCC: integrando as partes

O sintonía é o responsável por tomar decisões e coordenar as atividades dentro de sua região e de sua especialidade em harmônia com o todo.

Na sua grande maioria, os sintonias são responsáveis por diferentes áreas de atuação da organização criminosa: tráfico de drogas e armas, assaltos, lavagem de dinheiro…

Cada setor do PCC atua de forma totalmente independente do conjunto, por isso a importância de todas as partes seguirem sintonizadas.

A liderança dos 14 precisa harmonizar as disputas constantes entre as diversas sintonias: Trancas, Progresso, Ruas, Interior, Capital, Financeiro, Rifa, Disciplinas… — a tensão é constante.

SintonIa do PCC: segurança, lucro e Família

O PCC não pode ser visto como fonte de lucros ou ganhos financeiros para seus líderes, e nem pode privilegiar pessoalmente seus integrantes conforme a posição ocupada mesmo para suas lideranças máximas.

Os irmãos que assumem cargos não tem salário ou ganhos diretos, só despesas com o cargo, mas com essas responsabilidades ganham moral e visão, abrindo portas para bons negócios.

Conhecer e ter acesso a mercados relevantes no mundo do crime cujas portas são abertas à poucos é um diferencial enorme para conseguir bons negócios.

Dessa forma, a facção opera de forma eficiente e segura, minimizando os riscos de infiltração policial e maximizando os lucros do crime.

Um negócio para poucos: pensar nos irmãos

Existem sintonias que podem gerir e negociar capitais, equipamentos e mercadorias da facção e obter lucros pessoais com isso, mas esses não podem ser abusivos.

No entanto, o intúito do irmão que pretende assumir um posto de liderança não deve ser nem o lucro e nem o poder, mas o que pode fazer pelos seus irmãos.

Aí pegamo firme, pegamo firme não, eu peguei firme. Trouxe a roupa do mundão. Depois consegui a comida do mundão. Aí, eu e o Fabrício começamo a botar o bagulho pra andar. E tava indo legal.

Você tá ali na frente da cadeia pra isso, é primeiro eles, depois nóis [os disciplinas]. Esse é o procedimento, é o fundamento da faxina. Se você for entrar pensando que você vai ter tudo, que você só vai ganhar e não vai contribuir, você tá muito enganado.

Coesão e Cobrança

Além disso, o sistema de sintonias mantém a disciplina e a coesão interna da facção, garantindo que as ordens da liderança sejam cumpridas.

Em caso de descumprimento das orientações das lideranças ou quando algum irmão foge dos princípios da facção ele pode ser punido por agir isoladamente.

Sintonia Fina: para não ter mal entendido

“Sintonia fina” é o termo usado na facção para se referir ao processo de comunicação e coordenação interna entre seus membros.

Entre criminosos todo cuidado é pouco e o clima é sempre tenso, mesmo dentro da Família, então é fundamental que o “papo esteja sempre reto”.

Esse processo é muito rigoroso para garantir que as diferentes células ou associados em todos os estados e países atuem de maneira coesa e segura.

A “sintonia fina” refere-se ao sistema de comunicação entre essas células e facções, que é baseado em um conjunto de regras e protocolos rigorosos.

Esses protocolos incluem a utilização de códigos secretos, comunicação criptografada, regras de conduta e punições para membros que não cumprem as regras estabelecidas.

O certo pelo certo o errado será cobrado

Cobrando de bate pronto os que não correm pelo comando, não correm pelo certo, não estão em sintonia com a ética do crime.

… zuando a quebrada, vou falá pra você, eu cheguei ontem na sintonia lá, falei pro irmão que eu preciso de aval para batizar uns quarenta e matar uns dez pra poder arredondar a regional aqui, irmão.

Allan de Abreu – Cocaína: A Rota Caipira

Assim, há um alto grau de coordenação e controle, permitindo o planejamento e execução de operações complexas, como tráfico de drogas, extorsões, sequestros e assassinatos.

A “sintonia fina” também é usada para resolver conflitos internos e manter a lealdade dos membros, o que é essencial para a sobrevivência da organização.

Os diversos níveis e setores das Sintonias do PCC

Os 14 — A Sintonia dos 14

A Sintonia Final ou Sintonía Geral Final foi substituída pela “Sintonia dos 14”. O Disciplina pega o “contexto das idéias” e manda para os “14”.

Os “14” analisam junto com o resumo e passam a visão para o Disciplina, Resumo e por fim para o Torre.

Se o caso envolve um “decreto” ou “check”, pode levar a vida de alguém ou uma situação entre facções, o Resumo tem que ser ouvido.

Os decretos, comuns no mundo do crime, são previstos no Estatuto e no Dicionário do PCC, mas são sempre processos complexos, mesmo para as lideranças.

O nome “Sintonia dos 14” possívelmente faz referência aos 14 líderes que compunham a antiga “Sintonia Final” em Presidente Bernardes. e mantêm basicamente três níveis hierarquicos: a “Sintonia dos 14”, a “Sintonia dos Estados” e a “Sintonia das Regiões”.

Sintonía Geral Final ou Sintonía Geral Fina (W2 P2 ou SGF)

Como a mudança para a “Sintonia dos 14” é recente, mantenho aqui os dados da Sintonía Geral Final, mas deixando ciente que não está mais ativa.

A “sintonia final” é o topo da hierarquia do Primeiro Comando da Capital e é composta pelos líderes mais graduados da facção.

Eram também conhecidos com W2 ou P2 por estarem os líderes concentrados no Presídio de Segurança Máxima de Presidente Venceslau em São Paulo.

A “sintonia final”, responsável por tomar as decisões mais importantes e estratégicas da organização, é formada por aproximadamente 14 integrantes.

Esses “irmãos” ocupam os mais altos níveis hierárquicos da organização e são responsáveis por coordenar as atividades da facção em todos os países.

Eles definem as estratégias de atuação, estabelecem alianças com outras organizações criminosas e tomam as decisões mais importantes e arriscadas da facção.

Líderes que decretam a morte de outros líderes

As principais lideranças do PCC podem ser enquadradas para responder por suas atitudes pela “Sintonía Final”, como foram os casos de GG, Paka e Pavão.

De lá partiram decisões como as ordens para executar integrantes da alta liderança como Gegê do Mangue e Paka que não estariam agindo de acordo.

Gegê do Mangue fez parte da “Sintonia Final” e foi quem teve a ideia de implantar a rifa paralela do PCC nos outros estados, e apesar de sua importância na facção ele foi condenado à morte pela própria Sintonía Final por enriquecer de maneira indevida com o dinheiro da facção.

A cobrança dentro da prisão paraguaia de Jarvis Gimenes Pavão para entender sua atitude de comercializar com o Comando Vermelho veio dessa instância.

Também de lá partiu em 2016 a ordem para a execução de Jorge Rafaat Toumani e outras lideranças rivais da organização.

Assim como decretar guerra, à paz e a associação a outros grupos criminosos passam por essa liderança.

Foi  a Sintonía Geral Final que acolheu e fez virar realidade a proposta do irmão Moreno que a aliança com o Comando Vermelho fosse quebrada.

Lideranças que planejam o crescimento

É de lá também que sai a decisão final de liberar rebeliões em presídios ou ataques nas ruas.

Roberto Soriano, o Tibiriçá, fazia parte da “Sintonía Final” quando desenvolveu o chamado “Projeto Paraguai” em 2010 que ampliou a ação do PCC naquele país.

São eles que tornam o PCC 1533 uma das organizações criminosas mais temidas do Brasil e um grande desafio para as autoridades que tentam combatê-lo.

Apesar dos esforços das autoridades em isolar essas lideranças suas ordens continuam, ainda hoje atravessando as muralhas das prisões e chegando às ruas.

Muitos advogados, parentes dos presos e funcionários são investigados e por vezes presos por servirem de despachantes para essas lideranças.

Lideranças que foram treinadas pelo melhor

A ideia de formar esse núcleo central decisório nasceu do contato que Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, e outros líderes tiveram com Norambuena.

Mauricio Hernandez Norambuena, esteve preso junto com os PCCs era um ex-guerrilheiro chileno e comandante da organização político-militar Frente Patriótica Manuel Rodríguez.

Norambuena trouxe para o PCC sua experiência em lutas políticas e de guerrilha, e logística militar, entre elas a formação de um politburo. 

Esse órgão fundamental nas lógica soviética consistia em um comitê central com capacidade de gerir núcleos independentes em diversos níveis e funções e regiões.

Sendo assim, a “Sintonía Final” não tem um limite territorial definido, ao contrário de todos os outros níveis de sintonía da organização criminosa.

Lideranças que agem como Conselheiros Administrativos?

O objetivo principal da “Sintonia Final” é lutar pelos ideais da “Família 1533”, o crescimento e o progresso da organização e seus integrantes.

É muito comum se confundir Marcola e a “Sintonía Final” do PCC com o CEO (Chief Executive Officer) e o Conselho Administrativo de uma empresa.

No entanto, diferentemente de uma empresa onde seus administradores visam o lucro, na facção a função é uma missão que pode custar a vida.

Julinho Carambola foi por algum tempo o porta-voz e secretário-geral da Sintonía Geral.

A Sintonia do Progresso

O tráfico de drogas é o carro chefe da facção, e a Sintonia do Progresso é a responsável pelo comércio das drogas da organização criminosa.

A cúpula desse setor é a Sintonia do Progresso Final, sob as quais ficam as Sintonias dos Estados, Países e Regiões.

A “Sintonía do Progresso” é dividida em “Sintonía da FM” e “Sintonía da 100%”, a primeira gere as drogas batizadas distribuídas ao público nas biqueiras, e a segunda a droga pura que entra nos presídios.

A Sintonia dos Estados e Países ou Sintonía Geral dos Estados e Nações

Esta Sintonia pela sua complexidade e tamanho é dividida por regiões: Norte, Sul, Sudeste e Centro-Oeste — havendo mais de um sintonía para cada região.

A Sintonia dos Estados e Países tem a função de manter a coesão de cada região dentro das normas gerais da facção e das lideranças.

Cabe a esses Sintonias participar em conjunto dos “decretos”, julgamentos que podem resultar em morte do acusado, para que não seja cometido injustiças.

… de dois policiais da mesma corporação “”sangue derramado se cobra do mesmo modo”), tendo sido determinado o prazo de dez pias para cumprimento da “missão”, sob pena de a inércia ensejar “punição” por ordem da “Sintonía” da região.

PCC a organização criminosa primeiro comando da capital

Para isso, os responsáveis pelas Sintonias tem que conhecer profundamente toda a área que lhe foi conferida, seu mercado e seus integrantes.

Desta forma pode potencializar suas ações tanto dentro dos presídios quanto nas ruas, repassando e intermediando  informações dos Sintonias das Trancas e das Quebradas.

Esse elo entre a Sintonía Final e o nível operacional e administrativo é fundamental para o funcionamento da complexa engrenagem da organização criminosa paulista.

A sintonia dos outros Estados e Países e o Resumo Disciplinar dos Estados e Países são duas instâncias vinculadas e que aparentemente se confundem.

Sintonía das Trancas ou Sintonía das Cadeias ou Sintonía do Sistema

A sintonia das Trancas é liderada por um “irmão” que é responsável por tomar decisões e coordenar as atividades dentro do Sistema Prisional.

Ele controla os diversos grupos da facção que gerenciam o comércio de drogas, a disciplina dos presos e a realização de rebeliões ou pacificação.

O nome “Trancas” refere-se às celas dos presídios, que são trancadas para manter os presos confinados.

A sintonia das Trancas é responsável por manter a disciplina e a hierarquia dentro dos presídios, garantindo que os membros da facção sejam protegidos.

Essa Sintonia faz com que  as regras da organização sejam seguidas, e os abusos por parte de presos mais fortes e funcionários inescrupulosos sejam coibidos.

As trancas são a base de tudo no PCC

A sintonia das Trancas é muito importante para o PCC, pois o sistema prisional latinoamericano é uma parte fundamental da estrutura da organização.

É ela que garante a maior parte dos batizados que são recrutados dentro do sistema prisional dos diversos estados e países visando sua própria proteção.

Líderes e integrantes do PCC estão presos, e a sintonia das Trancas é responsável por gerenciar as atividades e a comunicação com o mundo exterior.

A intermediação de qualquer produto ilegal ou comunicação para fora das muralhas ou entre unidades dos presídios é gerenciado pela Sintonía das Trancas.

A Sintonia das Trancas é dividida em várias partes menores, como as Sintonias Femininas, Sintonía das Comarcas, Sintonía do Interior, e Sintonía dos CDPs.

“A irmã-sintonía” é a que recebe o “Salve”, comunicado transmitido através do celular pelo “Sintonía geral das cadeias”.

Mesmo essas subdivisões podem ser ainda fatiadas, como por exemplo uma Sintonía para as Padarias dentro de um complexo prisional.

As padarias produzem ou misturam as drogas para venda, tanto no varejo, quanto no atacado para os leilões, dentro e fora dos presídios.

Sintonia dos Gravatas

Essa sintonía ganhou notoriedade nos noticiários entre os anos de 2016 e 2018, mas já era conhecida desde 2006.

A Sintonia dos Gravatas é formada por advogados que trabalham para o Primeiro Comando da Capital — dezenas já foram presos e centenas investigados.

As ações de defesa dos presos integrantes da facção criminosa não constituem qualquer ilícito, no entanto os advogados da Sintonia dos Gravatas extrapolaram suas funções.

Seus integrantes atuam como despachantes dos criminosos, levando salves e decretos de morte, de dentro para fora das muralhas.

Também intermediam a entrada de objetos e pessoas para os presos, administram bens da organização e recebem e gerem objetos e dinheiro obtidos pelo crime.

É comum os advogados da “Sintonia dos Gravatas” serem os responsáveis pelos esquemas de lavagem de dinheiro e organizar manifestações públicas contra o governo.

Nas próprias comunicações do PCC isso fica explícito quando nos deparamos com a fase “Minar o governo e a SAP” (Secretaria de Administração Penitenciária), com imagens comprometedoras de supostos maus-tratos.

Promoto de Justiça Márcio Christino

Essa frase do Promotor Márcio Christino comprova que mesmo quando a organização utiliza imagens reais de maus tratos, os órgãos públicos consideram um abuso a acusação.

Christiano é a prova viva da importância de uma força poderosa para se contrapor a um sistema tão injusto.

Sintonía da Rifa  — Sintonía do Jogo do Bicho

Não sei como ficou a Sintonia das Rifas com a decisão de 2022 de tirar da obrigatoriedade a contribuição para a rifa de seus membros.

O nome “Rifa” refere-se a compra de bilhetes numerados onde os integrantes da facção concorriam a prêmios.

Apesar de não ser obrigatória, os integrantes eram coagidos a comprar os bilhetes para ajudar as famílias integrantes presos, mortos ou inválidos com cestas básicas.

As rifas e os bailes funk rendem um bom dinheiro para a facção e é essencial para fazer justiça com a família daqueles que necessitam.

Sintonía das Ruas

A “Sintonia das Ruas” que mais ganhou notoriedade foi o Dyego Santos Silva, o Coringa, que era Sintonía Geral da Rua em São Paulo.

Dyego geria uma verba maior que a maioria dos municípios brasileiros.

A sintonia geral de rua comunica a todos os seus integrantes interna e externa que graças a dedicação de muitos dos seus integrantes, a partir desta data 02/2011 será implantado dentro da organização um setor de apoio aos irmãos que vierem necessitar de um auxílio bélico e apoio financeiro para o auxílio aluguel e outras maiores necessidades emergenciais.

Este setor se caracteriza como sendo um banco de apoio aos irmãos. O objetivo central deste novo trabalho será unicamente fortalecer os irmãos que estão totalmente descabelados saindo da prisão ou também aqueles irmãos que se encontram na liberdade em período inferior a seis meses.

Revista Piauí – A GUERRA: Como o PCC deflagrou uma crise nas prisões brasileiras ao tentar ganhar poder fora de São Paulo

Sintonía Restrita — Progresso Restrito

Esses são a nata da atividade. São encarregados das ações de inteligência, investigação e planejamento.

Algumas de suas ações ganharam destaque e envolviam planejamento de longo prazo, com aluguel de casas próximas aos alvos e meses de observação.

No geral as ações desse grupo passam despercebidas pois os agentes da Sintonía Restrita simulam assaltos ou acidentes para cumprir os decretos.

As ações dessa Sintonia, no entanto, nunca serão descobertas. Funcionários públicos que foram investigados e suas famílias mapeadas, não denunciarão por medo de retaliação.

Estratégia, ousadia e muito acesso à informação permeiam um “setor de inteligência” criado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC).

O grupo funciona como uma ampla rede de criminosos.

As grades e os muros de prisões ao redor do país não são suficientes para brecar o fluxo de informações que movimentam as engrenagens da chamada sintonia restrita – o atual cérebro da facção criminosa.

Carlos Carone e Mirelle Pinheiro para o Metrópoles

Como funciona a Sintonia do PCC no Estado de São Paulo 

Em São Paulo, além das sintonias setoriais ligadas à do estado, existem subdivisões entre interior e capital.

A Sintonia de São Paulo é responsável pela coordenação das ações do PCC dentro do estado de São Paulo e tem influência em outras regiões do país.

A estrutura da Sintonia de São Paulo é dividida em três níveis: a “Sintonia Geral”, a “Sintonia dos Estados” e a “Sintonia das Regiões”.

A “Sintonia Geral” de São Paulo por vezes é também responsável pela tomada de decisões estratégicas da organização criminosa PCC 1533 em todo o país.

A “Sintonia das Regiões” é responsável por coordenar as atividades do PCC em cada região dentro de cada estado.

Na capital há um “Sintonia Geral Final de SP” mas a metrópole é dividida pelas zonas: ZL, ZN, ZS e ZO, e depois por bairros.

Cada região tem um representante na Sintonia das Regiões, que é responsável por coordenar as ações do PCC em sua área geográfica específica.

Essa estrutura de organização do PCC permite que a facção atue de forma coordenada e eficiente não só no Estado, mas em todo o país.

Sintonía do PCC no Interior SP

São Paulo tem uma característica diferente de outros estados, ele é dividido em regiões e essas regiões são divididas pelos códigos de área DDD.

As regiões são Vale do Paraíba, Bauru, Sorocaba, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Litoral… (respectivamente 012, 014, 015, 016, 013…)

Além dessa divisão ainda há a “Sintonia Local” que é responsável por coordenar as atividades do PCC em cada cidade do interior.

Cada cidade tem um representante na Sintonia Local, que é responsável por coordenar as ações do PCC em sua área de atuação.

Todas essas sintonias estão sob a coordenação da “Sintonía Geral Final do Interior SP”

… mil membros pelo interior paulista, discriminado cidade a cidade. Toda a contabilidade empresarial do PCC ali, ao alcance de um clique. Com cifras volumosas. Só em julho entraram na caixa da sintonía do interior exatos…

Allan de Abreu – Cocaína: A Rota Caipira

Outras sintonias dentro da organização criminosa PCC

  • Sintonia do Financeiro – administração de bens e recursos;
  • Sintonia da Cebola ou Sintonía da Caixinha – arrecadação das mensalidades dos batizados;
  • Sintonia das Ajudas ou Sintonía do Apoio – administra o pagamento das cestas básicas ou pensões;
  • Sintonia dos Ônibus – garante transporte para a visita dos presos;
  • Sintonia do Pé de Borracha – administra os veículos da facção;
  • Sintonía dos Cigarros – um dos principais negócios da facção em várias regiões;
  • Sintonia das FM – controle de pontos de drogas que são cedidos a terceiros; e
  • Sintonia Bob Esponja ou Sintonía das drogas – Sintonía das IML que é da cocaína batizada)
  • Sintonia do Cadastro

Curiosidade:

A palavra sintonia é repedita 43 vezes no Dicionário do PCC; 17 vezes no Estatuto do PCC de 2017; e 4 vezes na Cartilha do PCC.

Das Trevas, irmão do Primeiro Comando da Capital na pequena Deodápolis em Mato Grosso do Sul era o Sintonia da Quebrada e do Cadastro, e não só mantinha suas biqueiras como entregava mercadoria para quem não tinha como investir.

Além de tudo o que foi dito, Sintonia também está na Netflix.

A Era do Resgate no PCC e o fim da caixinha do PCC

Atrair novos integrantes com o fim da cobrança da caixinha do PCC e chamar de volta antigos companheiros excluídos são algumas das estratégias da facção criminosa para um novo tempo.

A caixinha do PCC e as mudanças na facção paulista

O fim da caixinha do PCC 1533 não é apenas uma mudança no fluxo de caixa, é o sinal de uma nova Era do PCC.

Várias vezes nessas duas décadas, policiais e promotores de Justiça afirmam que a organização criminosa Primeiro Comando da Capital esteve com seus dias contados.

Faz muito tempo, muito tempo mesmo, o Secretário de Segurança de São Paulo afirmou que o então “Partido do Crime” tinha acabado — isso em 1997.

Depois dele, Secretários de Segurança, promotores de Justiça e políticos de plantão afirmam: É questão de tempo o fim do PCC!

MP-SP anuncia: é iminente a derrota da facção PCC (2018)

Família como base sólida

Todas as tentativas de acabar com a organização criminosa falharam.

Ao contrário das máfias tradicionais, o Primeiro Comando da Capital não se organizou em torno dos parentes de seus líderes.

A família é a base sódia de uma sociedade ou empresa, mas a Família 1533 não é formada apenas de parentes.

Os inimigos e as forças de segurança sabem que a família dos mafiosos são a força e o elo mais fraco da estrutura dessas organizações.

Mas como lidar com a Família 1533, que é uma família formada não pelo sangue do parentesco, mas pelo sangue das ruas, dos corres e dos ideais?

Cartilha de Conscientização da Família 1533

A facção PCC na Era do Resgate

Essa família impediu que os Secretários de Segurança, promotores de Justiça e políticos cumprissem suas promessas de acabar com a organização criminosa paulista.

Como toda a família, no Primeiro Comando da Capital também tiveram aqueles que não correram pelo certo, que erram e faltaram com a Família 1533.

Uma das faltas mais comum era a dos integrantes inadimplentes com o caixinha do PCC que eram expulsos.

Agora, como o filho pródigo da Bíblia, eles estão sendo recebidos de volta ao ceio da Família do Primeiro Comando da Capital.

A facção criminosa está indo atrás de cada um, em cada canto do Brasil para chamar para correr junto.

Regime Disciplinar — Dicionário do PCC

A facção PCC se reinventado para sobreviver

Atuando em quatro continentes, o Primeiro Comando da Capital é hoje a maior e mais abrangente organização de todas as Américas — dependendo do critério utilizado.

Ao conquistar um espaço territorial muito grande e sabendo que ainda tem todo um mundo à conquistar, as lideranças tiveram que mudar algumas estratégias.

Todos os integrantes da facção tem os mesmos direitos e obrigações, o que é motivo de orgulho para os seus “crias”.

Todos são iguais e não deve se cometer injustiça com ninguém.

Essa igualdade é a grande força da facção, mas também é o seu ponto mais fraco — seu calcanhar de Aquiles.

Todos os integrantes pagavam a caixinha, era o justo e o correto, no entanto, também era a maneira mais fácil das autoridades mapearem os integrantes.

Teve uma época em que as lideranças foram chamadas para garantir o pagamento da caixinha.

Administrar todos os picados sai caro

O fortalecimento alcançado pela organização criminosa permite que não se cobre mais de seus integrantes a mensalidade que colocava em risco toda a estrutura.

Agora, os Secretários de Segurança, promotores de Justiça e políticos que quiserem acabar com o Primeiro Comando da Capital terão também que se reinventar.

A cada baixa de uma liderança, novas surgem como um acender de lâmpada, e cada uma delas traz novas ideias, novas estratégias, novos arranjos pessoais e familiares.

A facção sobreviveu a tantos ataques das autoridades, pois foi unida por sangue e forjada no fogo, e para cada um que cai há dez querendo entrar.

Uma estória que contei há exatos 11 anos, em fevereiro de 2012

Acerto de contas no Primeiro Comando da Capital

Eu sabia que não devia ter me metido naquela enrascada.

Sempre disse que vira-latas não se mete em briga de pit-bull, mas falar é fácil, e eu entrei naquele assunto para o qual não tinha sido chamado.

Não podia dar outra coisa, dancei.

Desmaiei pouco tempo depois de começar a chutes de todos os lados.

Primeiro aquela dor indescritível, minha cabeça voava de um lado para outro, eu ainda sentia isso, não tinha perdido totalmente a consciência.

Não procurarei definir, ou descrever o que restava dela. Não era sonho, delírio, desfalecimento ou morte. Havia dor e imobilidade.

Sentia meu sangue quente fluir pelo meu nariz e escorre pelo meu rosto. O gosto do sangue agora era o único que sentia.

Sei que respirava, pois a cada inspiração havia muita dor, minhas costelas pareciam facas aguçadas querendo chegar cada vez mais fundo em meus pulmões.

Pronto, fui apresentado ao PCC, eu sabia disso.

Em meio a morte, em meio aquela teia de sonhos e alucinações acredito ter ouvido conversas, vozes que contavam histórias e discutiam seus assuntos como se eu não estivesse ali.

Um diálogo cabuloso definindo meu destino

Talvez imaginassem que eu não sobreviveria, ou talvez só estivessem esperando minha morte para poderem ir embora com a certeza da missão cumprida.

― Entendeu, eu acredito que você vai fazer o que é certo, o que se acha que é certo, entendeu irmão e, estou fechando junto e, é isso. Entendeu, por que tá demais, o mole que tá demais mesmo, né meu a gente sabe que a gente tem certo limite pra fazer as coisas, mas tem uns caras que tiram da linha, esse daí é o tipo que tira da linha. Eu vi ele trabalhando com o irmão Neizinho, ele tá trabalhando sim. Ta inclusive eu te liguei irmão, por que é o seguinte, tem um outro menino lá que tá trabalhando pro irmão Neizinho. Que é o Maicon, não sei se você já ouviu falar. Outro dia foi numa biqueira aí irmão e pegou lá parece um quilo de mercadoria lá no nome do irmão Pimenta, entendeu, moleque? Sem o conhecimento do irmão, moleque? – falou Luiz Carlos do Nascimento, o irmão Piloto.

― Vai vendo. – respondeu o outro.

― Até uns dias atrás ele trabalhava com o irmão Neizinho. Então é um problema, viu, esses meninos, esses funcionários do irmão Neizinho. Aí moleque. Não, e essa aí é grave, pô, que o movimento tá muito descabeçado lá moleque. – falou piloto.

― Então tá usando o nome do irmão aí, colocando o irmão em BO, aí. – concordou o outro.

― Entendeu meu irmão. Aí amanhã eu pego o irmão, eu coloco ele na linha pá nóis pode trocar uma idéia, e aí, cê faz uma viagem só prá lá, já vai e já explica o bê-á-bá prá eles irmão, vê o que eles querem né irmão. Por que pelo simples fato deles estarem todos eles trabalhando com o irmão, pô eles estão totalmente errados… Mas corre com o irmão, então tem que ser no mínimo o bem comportado. Sê viu o outro empregado do Neizinho, o Fuscão, as caminhadas erradas que ele seguiu, num sabe?… – continuava Piloto.

Sabia eu que os dois falavam a respeito dos problemas das biqueiras de Salto, Maicon pegando mercado sem autorização de Pimenta. Ouvi também Piloto dizendo para Edson Rogério França, o irmão Cara de Bola alguma coisa, mas sei como este respondeu:

― Aí o cara já foi pondo o dedo no peito do “M”, aí o bagulho ficou louco. (Marcelo José Marques, o Tio ou “M”)

― Aí imagino né, não. – Piloto.

― Aí soco prá lá, soco prá cá, aí os seguranças rápido já fecho, já fui embora também irmão.

Acho que eles falavam sobre o Fuscão que estava no hospital mando de Cara de Bola, não tinha adiantado o cara dizer que tinha um salve passado por Sandro no papel.

Piloto e Cara de Bola estavam em ordem com a família, Bad Boy estava morto, Fuscão tinha tido sua lição, e eu não sabia onde estava.

Sei que o corvo sobe para quem está com a situação, e que volta a cobrar com quem fechou a caixinha em atraso.

Sobrevivi, narrei aqui o que vi e senti naquela noite, hoje já não pertenço àquele mundo, do qual fui brutalmente retirado, e mesmo se quisesse não mais poderia voltar a pertencer.

Emprego de Risco: Lavar dinheiro da facção PCC 1533

Estar sendo acusado de lavar dinheiro da facção PCC Primeiro Comando da Capital é hoje a menor preocupação de empresário de segurança privada.

Preso empresário acusado de lavar dinheiro da facção PCC

Lavar dinheiro da facção PCC 1533 (Primeiro Comando da Capital) é uma das atividades mais rentáveis e tem muitos integrantes querendo essa função.

Todos querem para si colocar as mãos nesse dinheiro, mesmo sabendo que os próprios colegas cobrarão qualquer desvio.

Todos querem para si essa posição, mesmo sabendo que as autoridades estão de olho para pegar como informante.

É muito dinheiro. É muita tentação. É muita informação.

Certa vez, um contador da facção criminosa Primeiro Comando da Capital caiu e para reduzir a pena entregou a estrutura da facção.

Theodorelli, o cagueta X9, garantiu a prisão de nada menos que 175 integrantes, entre eles a alta cúpula do PCC, incluindo o próprio Marcola.

Dicionário da Facção PCC – Regimento Disciplinar da Organização Criminosa

  1. Caguetagem:
    Fica caracterizado quando são exibidas provas concretas ou reconhecimento do envolvido. A
    sintonia deve analisar todos os ângulos, porque se trata de uma situação muito delicada.
    Punição: Exclusão, cobrança a critério do prejudicado.

Não prestou. Theodorelli não foi preso e entrou no Programa de Proteção às Vítimas e Testemunhas (Provita).

Por algum motivo ele saiu do Provita e foi assassinado logo em seguida no bairro Pedregal, em Novo Gama, Goiás, no entorno do Distrito Federal.

leia também como são os setores da facção e qual a função dos Disciplinas

Contador resolve Matar para não morrer

Pense em um lugar onde se pode procurar proteção contra o crime: algo assim como uma empresa de segurança.

Vinícius é o dono da empresa que conta com a colaboração de agentes públicos como policiais e agentes penitenciários.

Para não morrer Vinícius mata “Cara Preta” e “Sem Sangue”, integrantes do PCC — não em nome do combate ao crime, mas para salvar a própria pele.

O empresário era responsável por lavar dinheiro do Primeiro Comando da Capital, mas como a ganância é incontrolável acabou metendo a mão na cumbuca.

Tem como fugir da punição da facção PCC?

Dicionário da Facção PCC – Regimento Disciplinar da Organização Criminosa

  1. Mão na cumbuca:
    É caracterizado quando rouba algo da organização, dinheiro, drogas, armas, etc… Trata de uma situação grave.
    Punição: exclusão e morte, depende da situação com análise da Sintonia.

Ele seria julgado e condenado a morte pelo Tribunal do Crime do PCC, mas para evitar a sentença, matou seus antigos parceiros de negócios.

Assim, em 2021, matou um dos Sintonias da Rua, Anselmo Santa Fausta, o “Cara Preta”, e o seu braço direito, conhecido como “Sem Sangue”.

O contador foi o mandante e dois os executores. Um deles foi morto no ano seguinte e o outro, um agente penitenciário continua desaparecido.

Agora Vinícius quer dar uma de Theodorelli e se propôs a entregar toda a cúpula da facção ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa de São Paulo.

Boa sorte.

leia matéria completa no R7

Quem são os Disciplinas do PCC 1533? Como e onde atuam?

Os Disciplinas do PCC 1533 dentro da hierarquia da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (facção PCC).

“Disciplina do PCC 1533” retrata a força unificadora na facção criminosa de São Paulo. Integrantes do Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533) demonstram orgulho na disciplina rígida. Porém, descobrir os genuínos representantes da hierarquia da facção tornou-se um desafio.

Submersos na complexidade do crime, estes “Disciplinas” personificam o controle estrutural similar a grandes corporações. Cada faceta da organização, do financeiro à transmissão de regras, evidencia uma estrutura intricada de poder que define o PCC.

Incentivamos vivamente os leitores a compartilharem suas opiniões sobre a matéria em nosso site, no grupo de leitores ou por mensagem privada. Explore a complexidade do PCC e participe da discussão.

Os Disciplinas do PCC 1533 na hierarquia da facção

Os “Disciplinas do PCC” representam o músculo robusto que mantém coeso o conglomerado criminal de São Paulo. A Primeiro Comando da Capital é conhecida por sua disciplina rigorosa, um ponto de orgulho para seus membros. No entanto, recentemente, tornou-se uma tarefa cada vez mais desafiadora localizar nas periferias e no submundo do crime os autênticos representantes da hierarquia da facção.

A hierarquia dentro da organização criminosa

É evidente que não utilizam termos como “departamento” e “setores”, mas na prática a facção criminosa reproduz a organização administrativa de qualquer grande empresa legal.

Departamentos:

  • Financeiro: recebimento das contribuições e controle: dinheiro, contas bancárias e investimentos;
  • Sintonia do Cadastro: gerencia o ingresso e a situação cadastral dos batizados, tendo registro de nome, local e padrinhos;
  • Salveiro: transmite as atualizações de regras da cúpula para toda a base operacional — alguns comparam com o cargo de Relações Públicas da empresas, mas seus comunicados são apenas comunicados internos;
  • Sintonia do Progresso: são os responsáveis pela execução das missões especiais e cotidianas; e
  • Sintonía dos Gravatas: são os advogados da facção.

Ficha de Cadastro no sistema PCC 1533

Além dos departamentos existem os cargos de gerenciamento. Os chamados “Resumos” podem ser “Geral dos Estados e Países” ou “Geral do Estado”, mas podem ter um local específico de atuação, como o “Geral das Trancas do estado” ou o “Geral das Trancas da unidade prisional”.

Facção PCC: Mensagem do Resumo às lideranças dos estados

O Conselho de Administração da organização criminosa Primeiro Comando da Capital é chamado Sintonía Final.

Os Disciplinas recebem as informações dos Salveiros e agem de acordo com o Sintonía da comunidade para manter a paz entre os ladrões.

A Sintonia Final comunica a todos os irmãos que foram feitas algumas mudanças necessárias em nosso Estatuto. O PCC foi fundado em 1993…

OS Disciplinas da facção PCC na Cracolândia em São Paulo

Houve um tempo em que eu acreditava em um mundo ideal, caberia a polícia defender as pessoas com justiça, mas esse tempo acabou.

Assim como eu, a pesquisadora Deborah Rio Fromm Tinta também aprendeu que o mundo é mais complexo do que vemos nos filmes.

Logo me dei conta que uma rodinha de disciplinas estava por ali também. Fiquei mais tranquila.

Vários pontos de conflito que emergiram foram apaziguados graças à mediação dos disciplinas.

O humorista Márcio Américo, que certa época da vida foi um assíduo frequentador da Cracolândia concorda:

A polícia e a prefeitura apenas fingem ter controle do local que é completamente dominado pelo Primeiro Comando da Capital.

Observando o Papel do Disciplina do PCC na Cracolândia

No turbulento epicentro da Cracolândia, a pesquisadora Deborah Rio teve a oportunidade de acompanhar em primeira mão as operações dos “Disciplinas do PCC 1533”.

Eram esses homens que orquestravam as negociações com traficantes, dependentes químicos, jornalistas, forças policiais e autoridades governamentais.

Os Disciplinas do PCC 1533 constituem a espinha dorsal da facção, presentes nas ruas, nas biqueiras, nos presídios e onde mais a organização criminosa marca sua presença.

A eles é confiada a responsabilidade de aplicar o Dicionário do PCC (o Regime Disciplinar) e os salves (alterações temporárias ou locais à regra geral).

O medo e o ódio alimentam seu poder e sua autoridade – cordeiros não balem em terras onde lobos uivam.

Continua Deborah:

Porém, o clima era de tensão. Em determinado momento, um usuário, M., começou a questionar exaltadamente o coordenador do programa e da ação, o Capitão Renato Lopes da Silva.

Nesse momento, chegou um disciplina.

Ele se aproximou, passou na minha frente, não tocou em ninguém, só pediu licença com uma voz grossa.

Todo mundo abriu passagem.

O disciplina colocou a mão no ombro de M., cuja fisionomia já havia mudado totalmente … M. se acalmou e disse que respeitava os ‘entendimentos’.”

Discionário da organização criminosa PCC 1533 — Regime Disciplinar da facção

Em um ambiente pacífico não aparece polícia

Os chamados “Disciplinas do PCC 1533” assumem a tarefa complexa de instaurar a ordem em territórios sob controle do Primeiro Comando da Capital. Eles cobram civilidade de usuários e traficantes locais, garantindo um verniz de paz nas proximidades dos pontos de venda de drogas, evitando, assim, o olhar incisivo da polícia.

Essa função social e política dos Disciplina do PCC 1533 os colocam em posição de negociar com as comunidades e as autoridades:

… o Prefeito Fernando Haddad também estava lá. Alexandre de Moraes, o prefeito e um dos Disciplinas discutiam no interior do espaço do Programa Recomeço… o local estava fechado e havia muitos policiais na porta…

Deborah Rio Fromm Tinta

Houve um tempo em que alimentei a utopia de que a manutenção da ordem e a defesa dos cidadãos seria uma prerrogativa da polícia, mas esse período idealista se foi.

A pesquisadora Deborah Rio, através de seus estudos, ilustra que a segurança pode ser um papel desempenhado por personagens não ligados ao aparato estatal.

Em determinadas comunidades, a proteção e a paz não são garantidas pelo governo, mas sim pelos Disciplinas do Primeiro Comando da Capital. Para vislumbrar a realidade, precisamos primeiro abandonar as miragens.

É uma verdade incontestável que nas regiões sob o claro domínio do PCC há uma redução nos índices de homicídios e crimes menores. No entanto, a “opressão do sistema” é substituída por uma força mais sombria, que não hesita em mutilar e matar.

Os Disciplinas do PCC 1533 dividem-se em atuações específicas, alguns operando dentro das prisões e outros nas ruas.

Nas ruas – os Disciplinas das Quebradas:

O Disciplina da Quebrada opera numa “biqueira” ou num bairro. Dependendo do tamanho e da importância do local, podem existir várias cidades e bairros sob a tutela de um Disciplina. Em geral, onde há vários, um se sobressairá como o “Disciplina Final da Cidade”. Há também os “Disciplinas do estado”, que atuam em qualquer lugar para resolver conflitos mais sérios. E, finalmente, os “Disciplinas dos Estados e Países”, que são enviados para áreas de confronto com outras facções ou para mediar problemas com lideranças locais.

Nos presídios – os Disciplinas da Trancas:

Os Disciplinas do PCC 1533 que permanecem atrás das grades são conhecidos como “jets”. Eles também obedecem a uma hierarquia: “Jet da unidade” e “Jet do estado” – embora possam também ser denominados como Disciplinas.

Leia a tese completa da pesquisadora Deborah

Pacificação: a paz entre entre ladrões

A paz entre os ladrões foi conquistado pela pacificação do Primeiro Comando da Capital após o massacre do Carandirú.

A Pacificação PCC como gestora da “paz entre ladrões”

Paz entre ladrões é uma missão impossível, apesar de teóricos imaginarem há milênios formas de controlá-los…

Estamos no ano 1993 depois de Cristo. Todo o mundo do crime está em guerra… Todo? Não! Uma Casa de Custódia povoada por irredutíveis sobreviventes do Carandiru ainda resiste ao opressor.

Se considerarmos apenas nossa realidade recente podemos ver duas experiências bastante distintas: a do Regime Militar e os do Período Democrático:

Conheça a Carta do PCC ao Mundo do Crime de 3 de agosto de 2017

Quem poderá trazer a pacificação ao mundo do crime

Ambos os regimes tentaram cada um a seu modo controlar, sem sucesso, a violência nas comunidades dominadas pelo crime.

… o governo, não conhece a realidade das cadeias, o PCC criou raízes em todo o sistema carcerário paulista.

Nas prisões, diretores ultrapassados, da época repressão, tentavam resolver o problema de maneira que em foram doutrinados: porretes, choques, água fria, porrada…

Não foi suficiente. Em menos de três anos, já eram três mil. Em menos de dez anos, 40 mil.

Carlos Amorim

Álvaro e Renato, policiais e pesquisadores, afirmam que foi aí que o a facção PCC 1533 aproveitou a lacuna deixada pelo poder público.

Análise de inteligência: das ações ideológicas disciplinares e correcionais promovidas pelo Primeiro Comando da Capital — Álvaro de Souza Vieira e Renato Pires Moreira

A paz entre ladrões só pode vir de dentro para fora

Aqueles criminosos conheciam e se fizeram ser respeitados nas comunidades em que estavam inseridos: nas carceragens, nas comunidades periféricas e no mundo do crime.

Esses grupos, por milênios, foram excluídos do controle social do Estado, sendo deixados à própria sorte para viverem sob o julgo dos mais fortes.

Nesse meio o Primeiro Comando da Capital assumiu a “gestão da violência”, dentro do conceito aceito do “monopólio do uso da força pelo Estado”.

Gabriel Feltran nos conta que as comunidades periféricas, criminosas ou carcerárias, terminaram se adequando às normas da facção e não colaborando mais com a polícia.

Assim, um modo específico de gestão do uso da violência nas interações entre a polícia e o crime é estabelecido. Não existe agressão física, tampouco troca de tiros ou enfrentamento, mas um conflito ‘contido’ inserido numa esfera de interação discursiva voltada ao alcance de acordos financeiros.

Indaiatuba SP: um exemplo prático da paz entre ladrões

Em 27 de fevereiro de 2012 produzi um dos primeiros artigos onde descrevi a pacificação promovida pelo Primeiro Comando da Capital em uma comunidade periférica:

Edgar Allan Poe ensinava que existia uma forma correta para se açoitar uma criança: devia ser da esquerda para a direita.

O escritor explica a razão:

Todas as pancadas devem ser na mesma direção para lançar para fora os erros, mas cada pancada na direção oposta, soca para dentro os erros.

Talvez ele tenha razão.

Apesar das surras impostas pela sociedade, o tráfico de drogas e o crime se mantêm fortes e robustos.

Passamos pelo Regime Militar e pela Redemocratização e, com lágrimas nos olhos, vejo que não há mais esperança para o problema: falhamos.

Açoitamos a criança em todos os sentidos, e não em uma única direção como Allan Poe orientou.

E em rebento crescido não haverá açoite que possa ser dado pelo sistema policial e jurídico que surta qualquer efeito, o mal feito está feito.

Só nos cabe abaixar a cabeça e apreciar a divisão dos despojos entre os criminosos que se organizaram e se fortaleceram sob nossos próprios açoites.

continua após o mapa…

Diálogo entre ladrões: assim fundiona a paz entre ladrões

Esse diálogo trocado sobre um conflito no Morada do Sol demonstra como a organização criminosa gere os conflitos de maneira natural e com profundo conhecimento:

Edson Rogério França, o “Irmão Cara de Bola”, “Torre” da organização criminosa em Indaiatuba conversa com Willian do bairro Morada do Sol.

Willian Neves dos Santos Vieira, o “Irmão Sinistro”, é soldado da facção criminosa e morador da rua Custódio Cândido Carneiro no bairro:

— O espaço que tem lá na rua 59 é bom, é meu e do Mateus, tá ligado irmão? O irmão Matheus, conhece o Matheus? — pergunta Sinistro.

— Não, não conheci. Você fala o do trailer?

— Não irmão, lá embaixo na 59, lá embaixo, no trailer é o Marcelo, é outro menino, inclusive ele pega mercadoria de ti. — explica Sinistro.

— Não, de mim não. — se defende Cara de Bola.

— O sol brilha para todos, tenho este espaço lá há mais de treze anos. Agora, um menino meu estava precisando de uma força e eu ajeitei um canto para ele fazer a caminhada, e o Cláudio agora está ameaçando matar a mulher dele. Pô, o Cláudio é prá cá, eu sou mais prá lá, pro fundão, sou lá do lado da rua 80 e da rua 78. Já o TG do CECAP é firmeza.

Tribunal do Crime do PCC – o mediador aceito

Eu não conheço o Cláudio, portanto eu não posso afirmar que ele tenha sido açoitado quando criança do lado certo ou errado.

O que sei é que ele também negocia as drogas do Primeiro Comando da Capital e, portanto, deve ter tido as mesmas aulas que os outros criminosos.

Cláudio teve que prestar contas de sua atitude. Ele já estava sem saber em análise por suas atitudes.

Outro dia ele foi mostrar uma pedra de crack para Keiti Luis Von Ah Toyama, o “Irmão Japa”, mas este não gostou, disse que era um pouco melada.

Cláudio explicou que é a mesma que não é a da boa, é da comercial, a mesma que vende em suas lojas:

— Se quer quer, se não quer não quer, é R $10,50 a grama, é pegar ou largar.

Seja como for, as crianças cresceram e aprenderam a brincar sozinhas, agora não adianta mais bater do lado certo e nem reclamar o leite derramado.

Cláudio foi julgado por quem obteve o direito de impor as regras naquele local aproveitando a omissão do Estado.

Conheça o Dicionário do PCC (Regulamento Disciplinar da facção)

Tribunal do Crime busca Marabel

O jovem Bruno Marabel que está preso no Paraguai por matar toda a sua família conseguiu na Justiça proteção contra a facção PCC 1533.

O Primeiro Comando da Capital teria julgado Bruno Marabel no Tribunal do Crime da facção PCC 1533 e o teria sentenciado à morte o jovem que matou em 2020 sua mãe e seu padrasto, a mulher com que com ele vivia e seus dois filhos de 6 e 4 anos.

Outras fontes apontam que Bruno não teria sido aceito dentro da facção, mas que teria comprado favores dentro do cárcere com o dinheiro e os presentes que lhe são enviados pelos fãs, no entanto acabou se enrolando nas contas e ficou devendo dentro do sistema carcerário.

El caso de Bruno Marabel “la casa del horror de Paraguay” | Criminalista Nocturno

Por ter sido torturado por agentes carcerários em na Penitenciária Nacional de Tacumbú, Bruno foi transferido para Centro de Rehabilitación Social (Cereso) de Itapúa onde teria sido alertado que sua vida estaria em risco. Devido a natureza de seus crimes, a organização criminosa PCC teria decidido que o jovem deveria morrer. Transferido novamente, agora para a Penitenciaría Regional de Concepción.

Habeas Corpus Genérico a favor de Bruno Marabel Ramírez.

Em uma rara decisão, a Suprema Corte de Justiça (CSJ) emitiu um habeas corpus que obriga que as autoridades garantam a segurança de Bruno do Tribunal do Crime do PCC 1533.

Um agiota na Família PCC 1533

Embora a facção Primeiro Comando da Capital proíba agiotagem, há um caso conhecido de um agiota que financiava ações dentro da organização criminosa paulista.

Financiando as ações da facção PCC 1533

Se existem agiotas dentro do Primeiro Comando da Capital, como eu nunca conheci nenhum?

Essa dúvida me surgiu enquanto o senhor Joaquim Maria me contava detalhes de uma história que eu conhecia de passagem:

A história do Capitão, homem responsável por parte do paiol do 19 e que financiava operações de quadrilhas de integrantes da facção PCC 1533, no Brasil e no exterior.

Meu encontro com Joaquim Maria no Boa Vista

Eu acompanhava um conhecido que foi entregar um pacote para o “patrão das biqueiras do Boa Vista, e, enquanto aguardávamos no bar na entrada do bairro ao lado da loja de rações, Joaquim Maria se assentou na mureta para conversar conosco…

… e foi assim que consegui os detalhes da história do Capitão e daqueles que lhe eram próximos.

Não negarei o inegável: que eles pertenciam ao mundo do crime e que foi graças ao lado errado da vida que conseguiram concretizar o sonho dos que moram nas periferias:

E eu que sempre quis um lugar gramado e limpo, assim, verde como o mar, com cercas brancas, uma seringueira com balança… – Racionais MC’s

Dois casais brindando em uma mesa tendo ao fundo um casal de jovens na periferia e acima a frase "Abandonando Esteriótipos, eles não frequentam os bailes funks".
Facção PCC 1533 Abandonando Estereótipos

Abandone seus conceitos para ler essa história

Normalmente eu altero os nomes dos envolvidos, seja por uma questão de discrição ou para evitar algum processo, mas nessa história há muitos personagens que são de conhecimento público, então optei grafar os nomes reais:

José de Meneses (Mene), Eulália (Lia), (Capitão) Nogueira e Cristiana.

Eles acabaram sendo conhecidos não por pertencerem à facção Primeiro Comando da Capital, mas, sim, pelos laços de amor e amizade que os uniam, e por essa razão é que achei que valeria a pena vir contar a você o que aconteceu com eles.

Nem todos os PCCs agem e vivem da mesma forma e nos mesmos ambientes.

Esses quatro são um exemplo; é falacioso o estereótipo construído em torno de quem são os membros da Família 1533, como você mesmo pode ter constatado se conheceu Mene, Lia, Capitão e Cristiana.

É fato que eles, assim como todos nós, relativizavam as regras sociais, mas não eram más pessoas.

De certa forma vivemos todos no mundo do crime, aceitando com naturalidade a quebra de normas sociais que nos são impostas e nos desagradam – algo normal para você, talvez seja deplorável para outro.

A morte de um trabalhador com oitenta tiros, disparados por soldados do exército enquanto ele seguia com sua família para um chá de bebê, pode ser vista como um crime bárbaro, consequência de discursos políticos populistas, ou um incidente no qual “o exército não matou ninguém”.

Tudo é relativo; o injusto pode passar a ser o justo ou ao menos aceitável, o importante é haver uma justificativa de autorredenção de nossos pecados:

  • utilizar o celular dirigindo (só por um minutinho);
  • dirigir alcoolizado (eu estou bem e vou dirigir com cuidado);
  • comercializar drogas (se eu não vender, alguém venderá, é a lei do mercado);
  • deixar de declarar renda ao governo (o brasileiro já paga impostos demais);
  • assaltar bancos ou desviar dinheiro público (roubar dos ricos ou do governo) etc.

Os quatro, assim como nós mesmos, nos encaixamos em uma ou outra infração e condenamos sem perdão os outros grupos. Contudo, vim aqui para falar sobre a vida de Capitão Nogueira, e não sobre a minha, a sua ou a do presidente Bolsonaro. Voltemos ao assunto…

Um casal trafica em uma área verde sob uma tarja com os dizeres "amar e trabalhar, sempre juntos no amor e nos corres".
Amar e trabalhar na facção pcc 1533

Crescendo no seio da Família 1533

Apesar dos crimes que cometeram, eles se viam como boas pessoas, que apenas não aceitavam alguns valores que lhe eram impostos por uma sociedade injusta e desigual, e acreditavam ser seu direito correr atrás do prejuízo.

Eu afirmo isso por conhecer muita gente como o Capitão e seus amigos, mas o filósofo, sociólogo e jurista italiano Alessandro Baratta, que não os conhece, afirma basicamente a mesma coisa, só que em palavras mais pomposas:

“(…) a delinquência como forma de comportamento baseado sobre normas e valores diversos dos que caracterizam a ordem constituída e, especialmente, a classe média, em oposição a tais valores, do mesmo modo que o comportamento conformista se baseia sobre a adesão a estes valores e normas.”

Mene e Lia tinham quinze anos quando seus pais se mudaram, com a diferença de apenas alguns dias, para o Boa Vista, vizinhos de onde morava Cristiana, que era nascida no bairro e tinha a mesma idade que eles.

Houve algo mágico entre Lia e Cristiana, enquanto a mudança descia do caminhão, Cris se ofereceu para ajudar, e naquele momento se tornaram mais que amigas, se tornaram irmãs. Com Mene foi igual, chegou e se interessou por Lia e nunca a trocou por nenhuma outra.

Mene e Lia conheceram a adolescência e o amor ao mesmo tempo que as drogas e o lado errado da vida, pois Cristiana era a filha do dono de uma biqueira, e era ela quem ia levar a droga para os vaporzinhos que ficavam nas ruas próximas à casa.

Cristiana era uma garota fantástica, alegre, muito boa de conversa e superinteligente. Mene e Lia sabiam que tinham sorte de tê-la como amiga, e foi ela quem ajeitou com seu pai para deixar com os dois algumas porções para venderem enquanto namoravam no parque.

Mene e Lia sempre chegavam juntos e saíam juntos da escola, do parque e das festas, só se separando enquanto Lia ia até a casa de Cristiana para pegar mais mercadoria para vender, ou quando Mene era chamado para fazer alguns corres mais pesados.

Fotomontagem com um garoto em uma moto em frente a um mapa e sob a frase "Mene cai pela primeira vez, deu fuga de Mairinque à Araçariguama".
Mene da facção PCC cai pela primeira vez

Conhecendo e fazendo negócios com o Capitão

Mene nem tinha ainda completado seus dezesseis anos e já estava com uma moto, só não estava em seu nome, mas era dele, paga com a venda de drogas no parque e como piloto em assaltos e distribuição de drogas.

Poucos meses depois de acabar de pagar a moto, deu fuga nas ROCAMs (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) de São Roque à Araçariguama, mas foi pego quando acabou a gasolina, e a família teve que ir buscá-lo no Conselho Tutelar – não ficou preso, mas perdeu sua moto.

De volta para casa, os amigos apresentaram a ele o Capitão.

O jovem já tinha ouvido falar do Capitão, mas como este nunca aparecia na quebrada, Mene nunca tinha visto o ex-capitão da PM. O oficial expulso da corporação também já ouvira falar que Mene era firmeza nas responsas e por isso o chamou para conversar.

Uma proposta foi feita pelo homem e aceita pelo rapaz, que saiu do encontro com uma moto muito melhor que a anterior. A partir daí, passou a fazer serviços para o Capitão quando era chamado, e, apesar da diferença de idade, se tornaram amigos.

Fotomontagem de um casal sob a frase "deixando a quebrada, da comunidade para o condomínio".
Deixando a quebrada

Todo mundo invejava Mene e Lia

Após ser capturado pela polícia pela primeira e última vez em sua vida, Mene decidiu que não queria que Lia continuasse nessa vida, mas ambos continuaram no tráfico até que ele foi engajado para o serviço militar obrigatório.

No dia em que Mene entrou no quartel, Lia deixou a venda de drogas para nunca mais voltar. No dia em que Mene deu baixa do quartel, foi buscá-la na casa dos pais, casaram-se e foram morar em um bairro de classe média em Indaiatuba.

Se alguém tinha dúvidas do amor de um pelo outro, a atitude do garoto provou que “era impossível amar-se mais do que se amavam aqueles dois. E com razão as garotas tinham inveja à felicidade de Lia.

Após a mudança, o casal não mais voltou ao Boa Vista, e apenas “um ou outro escolhido conseguiu às vezes penetrar no santuário em que os dois viviam, e de cada vez que de lá saía”, levava consigo do profundo amor que os uniam.

Mene resolve que é chegada a hora de mudar o futuro seu e de sua mulher

Ele não queria mais que ela se envolvesse com o mundo do crime, então deixaram o passado e cortaram os laços que os ligavam ao Boa Vista. Desde então ela não mais teve nenhuma ligação com o lado errado da vida, apenas ele se manteve nos negócios.

Mene, que sempre foi conceituado dentro da facção, viu que seu tempo no quartel foi bem aproveitado, pois a destreza e o conhecimento na manutenção e na operação de armamentos longos lhe permitiu ganhar ainda mais dinheiro.

Desde que se mudou para Indaiá, ele só participava de assaltos em várias partes do país, transportava armamentos das fronteiras para São Paulo e dava instrução de tiro e manutenção de armas longas para os membros da organização.

Fotomontagem de um casal em uma  cidade européia sob a frase "A mulher do Capitão, um amor sincero seria possível?"
A mulher do Capitão

É possível amar um homem com o dobro de sua idade?

Uma década se passou nessa nova vida e o casal Mene e Lia continuava apaixonado, como José Maria relatou-me no seu jeito de falar:

“Nenhuma nuvem sombreava o céu da existência do casal. [exceto vez por outra quando ele saía a trabalho e ficava fora alguns dias sem se comunicar] Mas não passava isso de uma chuva de primavera, que mal assomava o sol à porta, cessava para deixar aparecer as flores do sorriso e a verdura do amor.”

O casal teve uma única filha, Ana Sophia, e no dia do aniversário de dez anos da menina parou um automóvel de alto padrão em frente à residência, do qual saltam duas pessoas que foram tão importantes no passado do casal: Capitão e Cristiana.

Tudo mudou após a mudança de Mene e Lia

Pouco tempo depois que os jovens deixaram o Boa Vista, os pais de Cristiana morreram em um acidente de automóvel e ela, tendo ficado sozinha, acabou indo morar com o Capitão, que a acolheu como se fosse sua filha.

A convivência porém os aproximou de outra maneira, e eles acabaram se casando alguns anos depois, mas, não sejamos hipócritas, a jovem Cristiana nunca esteve realmente apaixonada pelo velho ex-militar.

José Maria com seu jeito professoral de balcão de bar me descreveu assim esse relacionamento:

“Cristiana não sentia pelo Capitão um amor igual ou mesmo inferior ao que lhe inspirava, votava-lhe uma estima respeitosa. E o hábito, desde Aristóteles todos reconhecem isso, e o hábito, aumentando a estima de Cristiana, dava à vida do Capitão uma paz, uma tranquilidade, um gozo brando, digno de tanta inveja como era o do casal Mene e Lia.”.

Fotomontagem com duas fotos com dois casais em frente a notícias de jornais sob a frase "Saqueando cidades: ações que podem render milhões".
Facção PCC 1533 saqueando cidades

As operações do Capitão e sua nova vida

Cristiana era uma jovem de trinta anos, sorriso verdadeiro, belos cabelos, pele sedosa e olhos brilhantes, “gostosa” seria pouco para descrevê-la, e mesmo para quem goza das belezas do céu, como era o caso de Mene, não tinha como deixar de invejar a sorte do Capitão, um sessentão bem apessoado.

Qual a surpresa e a felicidade de Mene e Lia quando ficaram sabendo que Capitão e Cristiana estavam chegando para ficar – procuravam um recanto para se aquietarem.

Mene e Lia insistiram que ficassem em sua casa, havia quartos de sobra, mas Capitão, que prezava por sua privacidade, já escolhera uma casa em um luxuoso condomínio próximo dali.

Capitão resolve que é chegada a hora de mudar o futuro seu e de sua mulher

Desde a morte de seus pais, Cristiana não atuava mais nos corres nas ruas, passando a gerenciar os negócios do Capitão e os que lavavam o dinheiro da organização criminosa: lava-jatos, postos de gasolina, uma rede de pizzarias e uma franquia de buffet infantil.

O Capitão continuava com o paiol da facção, o financiamento das quadrilhas, e só para sentir a adrenalina fluindo em seu sangue ia na linha de frente nas grandes operações de ataques a sedes de transportadoras de valores e a pilhagem de pequenas cidades.

No entanto, Capitão e Cristiana durante uma viagem pela Europa resolveram que mudariam de vida, assim como no passado o fizeram Mene e Lia, e trataram de se ancorar nos arredores Indaiatuba, porque lá já viviam seus grandes amigos do passado.

E assim o fizeram. Capitão desmontou seu esquema criminoso, ficando apenas com o financiamento de ações de quadrilhas ligadas ao Primeiro Comando da Capital.

Fotomontagem de ilustração de uma mão fazendo o símbolo do 3 a frente de uma outra mão colocando moedas na mesa sob a frase "O certo pelo certo, o PCC 1533 e a cobrança de juros".
O certo pelo certo os juros não serão cobrados

O certo pelo certo, os juros não serão cobrados

Assim como Capitão, Mene abandona todas as suas outras ações criminosas para trabalhar exclusivamente no transporte de valores e na cobrança de dívidas para seu velho amigo.

No início essa operação seguia tranquila e o lucro para ambos superava o que ganhavam no tráfico e nos assaltos, mas a cobrança de juros em empréstimos foi proibida dentro da facção Primeiro Comando da Capital – o que afetou o lucro da dupla.

Pela novas regras do crime organizado, o financiador das operações podia acertar receber parte do butim conseguido pela quadrilha nas ações, mas não podia cobrar pelo uso do dinheiro em si como se fosse um empréstimo a juros.

Mesmo assim, financiamento de assaltos, da importação e exportação de grandes quantidades de drogas garantiam um lucro enorme, mas quando as operações falhavam a obrigação de pagar continuava com o devedor, que não podia ser extorquido com a cobrança de juros.

Essa é uma das regras do “certo pelo certo e o errado será cobrado”, que foi incorporada para impedir que as famílias dos encarcerados fossem extorquidas por dívidas contraídas pelos cativos, ou que esses, ao sair, tivessem nas costas uma dívida impagável.

No entanto, era no degradé existente entre o preto e o branco que Capitão e Mene navegavam, buscando se manter pelo lado certo da vida errada sem deixar de receber o que consideravam um ganho justo pelo que foi investido.

Fotomontagem de um casal tendo ao fundo uma mulher olhando sob a frase "Amor e talaricagem, quando o amor se transforma em pecado".
Amor e talaricagem na facção PCC 1533

A família 1533, o amor e a talaricagem

A vida continuava tranquila nos negócios e os casais ainda mais unidos e felizes. As saídas de Mene agora eram menos frequentes e mais rápidas, logo voltando para Lia. Já Capitão e Cristiana quase não se ausentavam de seu lar.

Certa vez, Cristiana foi fazer uma visita a Lia, mas esta havia saído, ficando apenas Mene em casa. Vou contar exatamente como Joaquim Maria descreveu o diálogo que houve entre os dois naquele dia:

Depois de trocarem muitas palavras sobre coisas totalmente indiferentes à nossa história, Mene fixou o olhar na sua interlocutora e aventurou estas palavras:

— Não tem saudade do passado, Cris?

A mulher estremeceu, abaixou os olhos e não respondeu.

Mene insistiu. A resposta de Cristiana foi:

— Não sei; deixe-me!

E forcejou por tirar o braço de Mene; mas este reteve-a.

— Onde quer ir? Está com medo de mim?

Nisso Mene recebe quase que ao mesmo tempo duas mensagens no WhatsApp. Ele dá uma olhada rápida, vê quem as enviou e resolve não responder naquele momento para não correr o risco de Cristiana se desvencilhar.

Ela realmente ficou embaraçada, como se ela também tivesse algum sentimento por ele que mantinha escondido por conta de seu casamento. Em suas noites ela devia pensar nele enquanto estava deitada ao lado do velho oficial, e Mene percebendo isso insistiu:

— Se não me ama, fala, “de boa”; receberei essa confissão como castigo de não ter casado com você, e sim com alguém que eu realmente nunca amei. Você sabe que eu fiquei com Lia apenas para poder ficar mais perto de você e acabei por me casar com ela apenas para que ela não odiasse você por me tirar dela, e foi você quem quis que nos separássemos.

Um romance do passado escondido de todos

Foi assim que Joaquim Maria contou para mim algo que ninguém sabia sobre o caso que existiu entre Cristiana e Mene quando este já namorava com Lia.

Cristiana ficou naquela época com ele apenas por prazer, e quando viu que o amor de Lia era verdadeiro e sincero deixou o jovem para a amiga, sem nunca lhe dizer nada. Agora, depois de tantos anos, Mene resolve exigir o resgate de uma paixão adolescente.

Para sua sorte, Lia chegou, e Mene mudou de assunto.

Fotomontagem de duas garotas olhando uma outra mexendo no celular sob a frase "Sininho e Camila Veneno, recebeu não leu o pau comeu",
As mensagens de Sininho e Camila Veneno

O destino resolve que é chegada a hora de mudar o futuro daqueles casais

Cristiana se despediu do casal, mas, na saída, Mene ficou a sós com ela e novamente declarou seu amor, afirmando que não sossegaria enquanto não ficassem juntos, nem que fosse ao menos uma noite – ela lhe devia isso.

Quando Mene entrou novamente em casa, comentou com a esposa que Cristiana estava agitada e aconselhou que ela fosse visitar a amiga assim que possível para ver se o que a afligia.

Nunca saberei se o rapaz instigou a mulher apenas por um prazer doentio, para ver se Lia havia desconfiado de alguma coisa ou para testar o quanto a antiga amante conseguiria manter o antigo segredo.

Um descuido e uma descoberta

O que sei é que naquele dia, um pouco mais tarde, Mene teve que ir até o aeroporto de Viracopos retirar alguns equipamentos que chegavam e que deveriam ser levados até um galpão em Pirituba, na Zona Oeste de São Paulo, ainda naquele dia.

Enquanto isso, Lia foi à escola buscar Ana Sophia e deixou a menina para estudar na casa de uma amiga. Ao voltar para casa, sozinha, resolveu visitar Cristiana, conforme havia lhe sugerido o marido antes de sair.

Ela ligou para Mene para avisá-lo onde ela estaria, mas ouviu o telefone tocando no quarto – na pressa de sair, ele devia ter esquecido o aparelho em casa. Ela notou que havia duas mensagens não lidas, e resolveu ler as mensagens.

O casal não tinha segredos, confiavam totalmente um no outro. Foi ela mesma quem havia escolhido a senha do celular para ele. Eram as duas mensagens que Mene havia recebido e não lido enquanto estava tentando convencer Cristiana a voltar o relacionamento com ele.

Mensagem enviada por “Sininho”:

“Mene, se acha que sou trouxa, parabéns, a única coisa que você vai conseguir com isso é fika sozinho. Vc fika com a Camila, ela me disse. ME ESQUECE CARA DE PAU.”

Mensagem enviada por “Camila Veneno”:

“Seu merda, não aparece aqui, Sininho é minha amiga, vc é um bosta e td que vc disse prá ela é mentira, aprende ser homem. Vc me engana com ela, e vc nunca nunca nunca nunca me pagou, não sou sua puta. Rodada é sua mãe! Nunca vem mais.”

Lia sempre foi forte, mas sentou e chorou. Eram essas as missões que deixava o marido por dias fora de casa?

Fotomontagem tendo ao centro uma estrada, à esquerda uma doca de descarga, à direita a cidade de São Paulo.
Armas de Viracopos à ZO SP

Uma mensagem misteriosa interrompe a missão de Mene

Mene não havia esquecido o celular, ele o deixara de propósito, como sempre fazia quando saía em um missão – se o sinal do aparelho fosse rastreado, seu localizador apontaria que ele não saiu de sua residência.

O que de fato ele esqueceu, porque se distraiu com Cristiana, foi de apagar as duas mensagens. A mulher não costumava mexer no aparelho, então ele depois resolveria com calma a parada com as duas piranhas de Campinas.

Ele retirou o pacote no aeroporto de Viracopos e já seguia pela Rodovia dos Bandeirantes quando recebeu uma mensagem no aparelho que levava nas operações e que só o Capitão tinha o número:

“Vem para já minha casa, agora. Preciso falar com você sem demora.”

O Capitão sabia que ele estava no meio de um serviço que ele mesmo havia passado. O que podia ser tão urgente assim para interromper o trabalho?

Primeiro imaginou que o esquema foi descoberto pela polícia, que iria interceptá-lo na estrada ou no momento da entrega, mas também poderia ser que o parceiro percebeu alguma trairagem e os compradores poderiam tentar zerá-lo e ficar com o pacote sem pagar.

Se arrependeu de ter aceitado aquele serviço. A paga era boa, mais que o triplo que o normal, mas eles haviam prometido às mulheres que não mais iriam fazer esses corres, só que não resistiram à tentação de uma grana fácil.

Fotomontagem de uma interminável estrada sob a frase "missão cancelada, vem já para minha casa, agora."
Missão cancelada

Quando minutos se transformam em horas

O azar é que já havia passado o último retorno, ficando longe para voltar por Campinas, e até para cortar pela Vinhedo-Viracopos teria que ir até Itupeva, perto de Jundiaí, para fazer o retorno, uma hora e meia de viagem – nesse tempo daria para entregar o pacote…

A cada quilômetro rodado suas emoções se alteravam, ora se tranquilizava, ora ficava ansioso – e havia ainda longos sessenta quilómetros pela frente para se martirizar, e nem o trânsito estava colaborando.

Eles estavam tão sossegados, para que foram se meter nessa? – Mene não se conformava.

“Preciso falar com você sem demora.” – dizia a mensagem.

Isso não estava certo, se o plano tivesse sido descoberto eles tinham uma mensagem combinada para Mene abortar a missão e mocosar o pacote.

Será que a polícia estaria esperando na casa do velho?

Ou talvez não, pode ser que o Capitão ficou muito puto com o cancelamento da missão e queria a companhia do rapaz para se desestressar. Isso tinha acontecido no passado, quando ele era mais novo, mas agora pode ser que o velho militar tivesse uma recaída.

Aquela estrada parecia nunca acabar, nunca percebeu como era tão longa.

Pensou em seguir antes para sua casa, pegar a mulher e fugir, desaparecer por uns dias e só voltar depois de ter saído fora do flagrante; ou seria melhor seguir a ordem do companheiro?

Deveria ir a casa do Capitão armado ou desarmado, com ou sem o pacote?

Fotomontagem de um homem olhando para carros parados na garagem de uma residência sob a frase "na casa do capitão, espere sempre pelo inesperado",
Na casa do capitão expluso da PM

Mene resolve se deixar levar pelo destino

Entrou no condomínio e seguiu para a residência do Capitão. Não notou nenhuma reação diferente nos seguranças da portaria, que ligaram para a casa para que o proprietário autorizasse sua entrada.

Mas se a polícia estivesse esperando por ele, os seguranças, que eram todos policiais e guardas civis que faziam bico para o condomínio, não iriam estragar o flagrante, pelo contrário, deveriam estar torcendo contra ele.

“Foda-se”, pensou. Ele iria descobrir em poucos minutos.

Mene podia esperar tudo, menos aquilo

Ele gelou ao chegar próximo à casa e ver que o carro de Lia estava ali. Cristiana devia ter contado ao marido da talaricagem de Mene, e o velho que chamara Lia para resolverem juntos a parada.

Parou próximo, planejando uma forma de se livrar da acusação de Cristiana, pois talarico morre pelo Dicionário da Facção PCC 1533.

Talarico. O destino de talarico é a morte:

1. Ato de Talarico: Quando o envolvido tenta induzir a companheira de outro e não é correspondido, usa de meios como, mensagens, ligações, ou gestos. Punição: exclusão sem retorno, fica a cobrança a critério do prejudicado e é analisado pela Sintonia.

Não adiantaria fugir, ele seria caçado pela facção e seria justiçado.

Fotomontagem do Tribunal do Crime do PCC 1533 sob a frase "o certo pelo certo e o errado será cobrado".
Tribunal do Crime – Agiotagem

O destino não devia ter reunido novamente os quatro

Resolveu entrar, conversar, sentir o clima, ouvir as acusações e depois jogar a culpa em Cristiana, acusando-a de querer trocar o velho Capitão por ele, e como ele a teria recusado, ela o acusava falsamente para se vingar.

No final ela iria se ferrar e ele se sairia bem, quem duvidaria que ela não tivesse interesse em trocar o velho por ele?

Às vezes o destino nos prega algumas peças.

Mene e Capitão haviam resolvido abandonar a maioria de suas atividades criminosas para se dedicar às suas famílias.

A infidelidade de Mene com outras garotas poderia ter abalado um pouco esse cenário tranquilo, principalmente depois que Lia descobriu as mensagens e resolveu ir à casa de Capitão para desabafar com Cristiana, sem imaginar que a amiga também havia ficado no passado com Mene, e que agora desejava reatar o caso.

Mas nem Lia e nem o Capitão jamais saberiam disso por Cristiana – Mene estava certo, a garota realmente queria ficar com ele, só não tinha coragem de assumir essa posição, temendo que se o marido desconfiasse mataria a ambos.

O certo pelo certo e o errado será cobrado

Quando Lia chegou à casa, foi surpreendida por seis homens armados que mantinham Capitão e Cristiana sentados em um sofá, e ela foi colocada junto a eles.

Cristiana chorava, mas ela e o Capitão ficaram em silêncio por quase uma hora até que Mene entrou e também foi imediatamente rendido.

Com uma voz suave, mas com as gírias próprias da facção, um dos homens avisou ao Capitão e a Mene que seriam levados para um debate, pois estavam sendo acusados de agiotagem.

Com calma, o homem afirmou que não precisavam se preocupar, que tudo seria esclarecido e logo voltariam para casa se estivessem correndo pelo certo, e que o resto da quadrilha continuaria ali para garantir que eles não tentassem alertar a segurança ao sair.

Capitão saiu conduzindo seu carro, tendo ao lado Mene, e no banco de trás dois homens do Tribunal do Crime.

Passaram-se meia hora até que os que estavam na casa receberam a mensagem de que os homens estavam seguros no cativeiro e que podiam deixar a casa.

Segundo Raymundo Juliano Feitosa cobrança mais cruel pelo Código Penal do PCC é o chamado xeque-mate: esquartejamento do infrator enquanto ele ainda está vivo, e só depois ele é morto e todo esculacho é filmado e jogado nas redes – essa condenação é aplicada aos estupradores e pedófilos, também, tem por finalidade servir de exemplo para outros que teriam interesse em fazer o mesmo.

Mas o xeque-mate não seria o caso para Mene.

A polícia atuando nas ruas

Foi mais ou menos essa história que Joaquim Maria me contou, se bem que acrescentei alguns detalhes que eu já conhecia, assim como outras coisas descobri depois conversando com um ou com outro por aí.

A noite já havia fechado quando o “patrão das biqueiras” no Boa Vista chegou para fechar o negócio, e tudo se resolveu rapidamente – ao lado do bar há uma loja de ração com uma balança, o que facilita tudo.

Por pura ironia do destino ficamos conversando por algum tempo antes de poder voltar para casa, porque uma equipe da força tática parou para fazer a abordagem em alguns garotos que desciam a avenida quase em frente ao bar em que estávamos.

Pedimos mais algumas cervejas enquanto olhávamos a polícia trabalhando. Como os garotos estavam limpos, só receberam os esculachos de praxe.

Me veio uma outra pergunta em mente: será que eles agiriam com esse mesmo procedimento se houvessem câmeras nos uniformes ou se estivessem em um bairro nobre da cidade?

Os policiais, assim como nós mesmos, cometemos uma ou outra infração e condenamos sem perdão os pecados cometidos pelos outros. Contudo, não vim aqui para falar sobre como os policiais fazem seu trabalho, e sim sobre dois casais de criminosos.

(Esse texto é baseado em fatos reais que foram adaptados tendo como base o conto “Casada e viúva” de Joaquim Maria Machado de Assis)

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