O banda criminal los Choleros disputa o estratégico eixo de tráfico de drogas do Departamento boliviano de Pando com o Primeiro Comando da Capital (PCC 1533) e facção carioca Comando Vermelho (CV).
jornalista Allan de Abreu
Pando faz fronteira com o Acre, Rondônia, e Peru, além de dar acesso ao centro da Bolívia — controlar essa rota reduz o custo do tráfico devido ao menor risco de perda da liberdade, de investimentos e de vidas.
A capital Cobija se localiza ao lado dos núcleos urbanos brasileiros de Brasiléia e Epitaciolândia, e as organizações lutam também para tomar o controle do comércio local, como ilustra artigo do El Dia:
A comerciante boliviana Maria Eugenia Alavi Burgoa foi assassinada no Mercado Municipal de Epitaciolândia, (…) o crime teria sido executado pela facção Bonde dos 13 (B13) [até então] aliada do PCC. Ela levava produtos de Antofagasta (via El Alto) para a Zona Franca de Cobija e trocando com artigos brasileiros…
Explicando outro caso investigado, o chefe de polícia de Pando explica:
Cel. Julio Monroy
O contexto da discórdia: Choleros, PCCs, B13s e CVs
O repórter Ivan Alejandro Paredes (El Deber) no artigo “Choleros, la mafia pandina que declaró la guerra al PCC y Comando Vermelho” que os Choleros se especializaram em aliciar jovens e adolescentes para atravessarem as fronteiras brasileiras com drogas, especialmente cocaína, mas agora o grupo disputa o controle e o poder territorial.
A organização criminosa paulista se associa às famílias e grupos locais bolivianos, seguindo a estratégia elaborada por seu líder Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, que privilegia a construção de alianças baseadas em interesses comuns econômicos e de sobrevivência.
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A aliança com o PCC não vingou em Pando
Dentro desse contexto, como entender a disputa com o grupo criminoso local?
Tudo começa com com o assassinato pelo PCC de Jorge Rafaat Toumani no centro de Pedro Juam Caballero em 15 de junho de 2016 que quebra da antiga aliança PCC/B13/ADA/GDE contra CV/FDN.
Essa ação coroou a tentativa do controle hegemônico do mercado ilegal paraguaio por parte da facção PCC 1533, mas acabou criando dificuldades além das previstas para o grupo paulista.
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As peças se arranjando sem Rafaat Toumani
Ao contrário do que previram os líderes do PCC, a morte do megatraficante paraguaio enfraqueceu, mas não acabou com o Comando Vermelho — essa fragilidade criou problemas colaterais para seu aliado amazonense Família do Norte (FDN).
Passados oito anos, a situação no Paraguai continua indefinida e no Norte, na Rota do Solimões as mudanças não param de acontecer.
Inicialmente, o Primeiro Comando da Capital uniu-se a um grupo desmembrado da Família do Norte, denominada a Cartel do Norte (CDN), para eliminar os crias que resistiam da facção Comando Vermelho e do que sobrou da FDN.
O tempo desgastou essa vantagem inicial e a aliança com a Cartel do Norte foi desfeita. Resultando na retomada de vastas áreas pelo Comando Vermelho, incluindo Manaus e Rio Branco, expulsando crias do PCC parte em direção à Bolívia e outra de volta às suas regiões nativas no sudeste e sul.
Divisão, caos e espaço para Los Choleros
Essa disputa entre os grupos brasileiros e a dificuldade cada vez maior do Primeiro Comando da Capital em fechar novas alianças permitiu que o antigo aliado do Acre, o Bonde dos 13, no lado brasileiro da fronteira do Departamento de Pando, se declarasse neutra.
E do outro lado da fronteira de Pando, na Bolívia, o grupo local Choleros tomasse coragem e fôlego para enfrentar de igual para igual e ao mesmo tempo os dois mais importantes grupos criminais do Cone Sul.

O Plano “Z” de combate ao crime em Pando
Na ocasião, a Brigada Parlamentar e o Comando da Polícia Departamental do Departamento de Pando apresentaram um plano para ação conjunta de combate aos grupos criminosos.
A ideia era localizar criminosos e controlar áreas de fronteira com o Brasil impedindo a presença de criminosos brasileiros em Cobija.
O recrutamento de menores de idade por criminosos já era conhecido e foi considerado uma das prioridades:
“É preocupante que menores de idade estejam envolvidos em atos criminosos, são bolivianos comandados por brasileiros que estão à frente das quadrilhas”.
Deputada Ariana Gonzales (MAS) presidente da Brigada Parlamentar Pando
No entanto, passado quase um ano, todos os problemas apontados parecem apenas que se agravaram.
O narcotráfico está ganhando esta batalha contra o Estado, demonstrando supremacia no controle do território (…) Esses cartéis de drogas são organizados no exterior por grupos como Los Chapitos (um grupo de narcotraficantes do México), o PCC (Primeiro Comando da Capital), grupos combinados com as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e, claro, eles têm equipamentos e armas de melhor qualidade do que as forças de ordem.
coronel do Exército da Bolívia Jorge Santistevan
A CDN só cresceu, no ano passado está facção virou PCC, as rotas do Amazonas a maioria é controlada por braços do PCC, o CV não tomou nenhuma área do PCC apenas perdeu, inclusive o Coquinho um dos chefes do CV no Norte do Brasil virou PCC.