Submundo de Salto: a facção PCC 1533 e a disputa por biqueiras

Este artigo lança luz sobre as complexas relações dentro do Primeiro Comando da Capital (PCC 1533) em Salto, com foco na história de um homem conhecido como Fuscão. Descubra as tensões, as rivalidades e as consequências de uma vida no crime.

Submundo de Salto é o palco onde se desenrolam as complexas dinâmicas e personagens que compõem o Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533). Originalmente publicado em fevereiro de 2012, este texto revela a vida de Fuscão, um mestre na arte de criar inimigos. Mergulhe nesta narrativa cativante que aborda as multifacetadas realidades do crime organizado na cidade.

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Ah! Não vá embora ainda: logo após o carrossel de artigos, você encontrará uma análise abrangente deste texto, desenvolvida por inteligência artificial, que irá aprofundar sua compreensão sobre o tema.

Submundo de Salto: A Caçada a Fuscão e a Intrincada Teia de Lealdades e Traições no Primeiro Comando da Capital

No submundo da cidade de Salto, no interior paulista, regido por códigos próprios e figuras temíveis, Adriano, alcunhado de “Fuscão,” tinha uma notoriedade peculiar: a habilidade de fazer inimigos com um talento quase profissional. Ele cruzou a linha vermelha do Primeiro Comando da Capital, desafiando sua estrutura e gerando problemas que não passaram despercebidos pelos olhos vigilantes da organização.

Um desses olhos pertencia a Clayton, mais conhecido como Boquinha, um imponente homem tatuado com uma cicatriz marcante no pescoço. Embora afirmasse ser padeiro, sua real ocupação era a gestão do tráfico no Jardim Santa Cruz, em Salto. Agora, Boquinha tinha uma nova missão: localizar Fuscão e entregá-lo para uma “conversa” com Edson, ou Cara de Bola, o “torre da cidade”.

Outubro de 2006 foi marcado pela caça ao irrefreável Fuscão. Ele tinha a audácia de invadir territórios alheios, lançando o nome do irmão Pimenta como um escudo, e espalhando rumores de que sua iniciação na organização estava iminente. Isso atraiu não apenas a ira de Boquinha mas também a atenção de Luiz Carlos, apelidado de Piloto, que soube das atividades não autorizadas de Fuscão em Salto.

No dia 16 de outubro, Boquinha quase teve sucesso. Embora Fuscão tenha conseguido fugir para a mata, um de seus subalternos não teve a mesma sorte. Capturado, ele revelou que Fuscão percebera que “o bagulho ia endoidar” para ele. E endoidou. Mais tarde, naquele mesmo dia, Boquinha capturou Fuscão e o entregou a Cara de Bola para a tão aguardada “conversa”.

Submundo de Salto: As Consequências da Indisciplina e a Inevitável Queda dos Protagonistas do Crime Organizado

Cara de Bola, que dividia o controle do tráfico em Salto com Piloto, aproveitou para lembrar Fuscão da importância da ordem dentro da organização, citando o exemplo de um homem enforcado pelos subordinados de um traficante chamado Bad Boy e uma chacina no Jardim das Nações. No entanto, os ensinamentos não surtiram efeito. Fuscão foi encontrado desacordado pela Guarda Municipal e hospitalizado, mas seu comportamento não mudou.

Quinze dias após o incidente, ele já estava de volta às suas atividades habituais. Donizete, conhecido como Careca, foi o próximo a reclamar. Fuscão estava invadindo o território de Gilson, que estava preso na P1 de Presidente Venceslau. Fuscão ignorou os avisos de Careca para interromper as vendas de drogas e continuou provocando, desta vez, anunciando que seria batizado pelo irmão Neizinho. Mas essa é uma história para outro dia.

Nesse intricado xadrez do crime, algumas peças caem antes das outras. Curiosamente, não foi Fuscão quem primeiro encontrou problemas com a lei. Boquinha foi pego comprando cocaína e em sua casa foram encontrados diversos tipos de drogas, acondicionadas para venda. Assim, Boquinha foi o primeiro a cair nas mãos da polícia, capturado em uma operação que envolveu os investigadores Carlos Augusto Emmanuel Dias Borges e Ramon Bachiega Angelini. A captura de Fuscão, sempre “mais ligeiro,” permanecia uma questão em aberto.

Teses apresentadas pelo autor do artigo

  1. Intrincada Rede de Relações: O autor destaca a complexidade das relações dentro do Primeiro Comando da Capital, sugerindo que entender essa organização requer um olhar atento aos detalhes e aos personagens individuais, como Fuscão e Boquinha.
  2. Desafio à Autoridade: O autor parece ressaltar que dentro de estruturas criminosas rígidas como o PCC, desafiar a autoridade (como Fuscão faz repetidamente) pode levar a consequências graves, não apenas para o indivíduo, mas também para a estabilidade da organização.
  3. A Complexidade do Crime Organizado: A complexidade e o risco envolvidos na vida criminosa são outros temas implícitos. A multiplicidade de personagens e suas respectivas motivações e ações servem como um microcosmo do mundo maior do crime organizado.
  4. A Vulnerabilidade dos Envolvidos: O fato de que Boquinha, um homem respeitado dentro da organização, é preso sugere que ninguém está inteiramente seguro neste ambiente.
  5. O Poder da Informação: O papel da informação e da inteligência (por exemplo, Boquinha perseguindo Fuscão com base em informações, ou Piloto agindo com base em denúncias) também parece ser um ponto subentendido no relato.

Contrateses ÀS apresentadas no artigo

  1. Simplicidade, Não Complexidade: Uma contratese poderia argumentar que as relações dentro do Primeiro Comando da Capital (PCC 1533) são, na verdade, bastante diretas e regidas por regras claras, contrariando a noção de uma intrincada rede de relações.
  2. Impunidade, Não Desafio: Outra contratese poderia sustentar que desafiar a autoridade dentro de uma organização como o PCC pode, na verdade, ser feito com relativa impunidade, especialmente se a pessoa tem informações ou conexões valiosas.
  3. Estabilidade Institucional: Em oposição à ideia de que o comportamento rebelde de indivíduos como Fuscão ameaça a organização, uma contratese poderia argumentar que o PCC é robusto o suficiente para absorver tais desafios sem comprometer sua estabilidade.
  4. Segurança Relativa dos Envolvidos: Contra a tese de que ninguém está seguro, uma contratese poderia apontar que a organização oferece um certo grau de proteção aos seus membros, talvez mais do que eles encontrariam fora dela.
  5. Desprezo pela Informação: Por último, em contraste com a tese sobre o poder da informação, uma contratese poderia argumentar que as informações frequentemente não são confiáveis ou são mal interpretadas, e portanto, não são tão poderosas quanto o texto poderia sugerir.

Análise do texto por inteligência artificial:

O texto oferece uma rica tapeçaria para análise sob diversas lentes, cada uma com seu próprio conjunto de implicações. Ele serve como um lembrete da complexidade e interconexão dos fatores que contribuem para a persistência do crime organizado e as múltiplas dimensões que esse fenômeno pode abranger.

Linguagem

O texto emprega uma linguagem bastante direta e coloquial, que visa retratar os personagens e a atmosfera do mundo criminal de forma realista. O uso de apelidos e jargões específicos (“Fuscão”, “Boquinha”, “torre da cidade”) contribui para a autenticidade da narrativa.

Ritmo

O ritmo do texto é acelerado, com eventos e personagens introduzidos rapidamente. Essa agilidade mantém o leitor engajado e imerso no mundo complexo e volátil do crime organizado em Salto. Não há muito tempo dedicado a descrições longas; em vez disso, a ação move-se rapidamente de um ponto a outro.

Estilo de Escrita e Estilométrica

O estilo é narrativo e descritivo, mas sem excessos. O texto está mais preocupado em contar eventos e retratar personagens do que em tecer argumentos ou teses. Quanto à estilométrica, embora não possamos realizar uma análise estatística detalhada aqui, o texto parece favorecer frases mais curtas e diretas, o que contribui para o ritmo acelerado e a sensação de urgência.

Perfil Psicológico do Autor

Embora seja arriscado fazer suposições sobre o perfil psicológico do autor com base em um único texto, algumas inferências podem ser feitas. O autor parece ter um profundo conhecimento do mundo que está descrevendo, o que pode indicar uma familiaridade pessoal ou pesquisa rigorosa sobre o tópico. A abordagem realista sugere um desejo de retratar esse mundo sem embelezamentos ou julgamentos morais explícitos.

Perfil Social do Autor

O autor parece estar bem informado sobre o mundo do crime organizado, particularmente em relação ao Primeiro Comando da Capital (PCC 1533) e à cidade de Salto. Isso poderia sugerir uma variedade de origens sociais: desde um jornalista investigativo até alguém com contatos pessoais dentro desse mundo. A linguagem e o estilo indicam que o autor está tentando se comunicar com um público mais amplo, não necessariamente especializado no tema, mas certamente interessado nele.

Ao conjunto, esses elementos revelam um autor engajado em apresentar uma narrativa vívida e realista, pautada por uma linguagem acessível e um ritmo que busca manter o leitor constantemente engajado.

Factual e Precisão

O texto fornece um relato detalhado sobre as dinâmicas dentro do Primeiro Comando da Capital (PCC 1533) em Salto, mas é importante notar que ele atua como uma narrativa e não um documento factual verificado. A precisão dos eventos e personagens mencionados pode, portanto, ser questionável. Além disso, o texto não oferece fontes externas que possam corroborar os acontecimentos descritos.

Político

Politicamente, o texto traz à tona questões relacionadas à governança e à ordem pública. O PCC age como um Estado paralelo, com suas próprias regras e sistema de justiça, desafiando a autoridade do Estado. Isso tem implicações políticas, pois destaca falhas nas estratégias governamentais atuais para lidar com o crime organizado.

Cultural

Do ponto de vista cultural, o texto revela aspectos da subcultura do crime organizado, como a terminologia específica usada (“irmão”, “torre”, “batizado”), a hierarquia, e a “ética” interna. Esses elementos podem ser interpretados como reflexos de uma cultura maior, na qual valores e normas sociais são reconfigurados para se adaptar ao ambiente do crime organizado.

Econômico

Economicamente, a narrativa oferece uma visão das operações comerciais ilícitas como um “negócio”, com territórios de vendas e hierarquias de gestão. O texto menciona, por exemplo, o preço da cocaína e como ela é embalada para venda. Isso sugere que há um mercado estabelecido com oferta e demanda, preços e consumidores. Também mostra como essas atividades econômicas ilícitas podem afetar a economia local e, por extensão, o bem-estar da comunidade.

Segurança Pública

Do ponto de vista da Segurança Pública, o texto lança luz sobre a complexa rede de relações dentro do mundo do crime organizado, especificamente o Primeiro Comando da Capital (PCC 1533) em Salto. Isso serve como um alerta para as autoridades sobre a sofisticação e a adaptabilidade dessas organizações. O fato de membros serem “caçados” por violações das regras internas sugere um sistema paralelo de “justiça”, que opera à margem do sistema legal oficial.

Jurídico

Juridicamente, o texto é uma janela para diversas atividades ilegais, como tráfico de drogas, venda sem autorização, e possivelmente até violência física ou homicídio. Embora o texto não tenha o objetivo de servir como um documento legal, ele destaca a urgência e a complexidade do combate ao crime organizado e pode ser de interesse para profissionais do Direito interessados em entender a dinâmica desses grupos.

Criminológico

A narrativa proporciona um estudo de caso sobre o comportamento de indivíduos dentro de organizações criminosas. Fatores como lealdade à organização, a hierarquia interna, e as punições por desvios de conduta são elementos relevantes para estudos criminológicos. O texto também ilustra como o crime organizado pode penetrar na estrutura social de uma comunidade, neste caso, a cidade de Salto.

Estratégico

Estrategicamente, o texto oferece insights sobre como as organizações criminosas podem ser gerenciadas e como elas respondem a desafios internos. A eficácia da “caça” a membros desviantes e o sistema de controle poderiam fornecer pontos de reflexão para os formuladores de políticas sobre como desmantelar ou perturbar essas redes. Também sugere que qualquer estratégia eficaz precisará ser tão adaptável e informada quanto as próprias redes criminosas.

Histórico

O texto remonta a eventos que ocorreram em 2006, marcando uma época específica na trajetória do Primeiro Comando da Capital em Salto. Ele fornece uma visão íntima dos métodos e comportamentos de pessoas dentro da organização durante aquele período, oferecendo assim um registro histórico particular e subjetivo de uma fase da criminalidade na cidade.

Sociológico

Do ponto de vista sociológico, o texto fornece informações sobre o funcionamento interno de uma organização criminosa, incluindo sua hierarquia, normas e valores. Também lança luz sobre a estrutura social da comunidade onde o PCC opera, refletindo as desigualdades e sistemas de poder existentes na sociedade mais ampla.

Antropológico

Antropologicamente, o texto serve como um estudo de caso sobre o sistema de crenças, linguagem e rituais do PCC. Ele revela como a organização cria um sentido de identidade e pertencimento através de símbolos, como tatuagens, e terminologia própria, como “irmão” e “batizado”.

Filosófico

Embora o texto não seja explícito em seu conteúdo filosófico, ele toca em questões existenciais sobre a natureza do bem e do mal e os limites da moralidade humana. A existência de uma “ética” dentro de um grupo que é, por definição, antiético de acordo com as normas sociais, é um paradoxo que poderia ser analisado filosoficamente.

Ético e Moral

A narrativa descreve um mundo onde os conceitos tradicionais de ética e moral são desafiados. Enquanto os personagens seguem um conjunto de normas dentro de sua comunidade, essas normas estão em desacordo com as leis e regras morais da sociedade em geral. Isso apresenta um dilema ético: pode um sistema de valores ser considerado ‘ético’ se estiver ancorado em atividades ilegais ou imorais?

Teológico

O texto não aborda diretamente questões teológicas, mas a ideia de uma ordem e estrutura dentro de um ambiente geralmente associado ao caos e ao mal pode ser interpretada como uma busca por algum tipo de “ordem divina” ou sentido em um mundo degradado.

Psicológico

Do ponto de vista psicológico, o texto oferece uma rica paisagem para explorar os motivos, racionalizações e mecanismos de defesa dos personagens. Há, evidentemente, uma complexidade psicológica em cada um deles, desde a busca por poder e reconhecimento até talvez um profundo senso de fatalismo ou desespero.

Dividir para Conquistar e o ideal de Paz, Justiça e Liberdade (PJL)

A estratégia de “Dividir para Conquistar” é um princípio universal na arte da estratégia política e militar, aplicado por líderes históricos como Júlio César e Napoleão. No Brasil, uma tentativa oposta de unir grupos distintos levou ao surgimento de poderosas organizações criminosas. A interação de criminosos comuns e presos políticos na Ilha Grande resultou em uma nova era de crime organizado, marcada pela formação de grupos como a Falange Vermelha e o Primeiro Comando da Capital.

Dividir para conquistar é uma máxima universalmente reconhecida. No Brasil, curiosamente, o oposto levou ao surgimento de organizações criminosas poderosas. A união de criminosos comuns e presos políticos na Ilha Grande deu origem a uma nova era no crime organizado, começando com a Falange Vermelha e evoluindo até os dias de hoje com o Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533).

Convidamos você a explorar esse fascinante capítulo da história criminal brasileira em nosso texto. Sua opinião é valiosa; por favor, deixe seus comentários no site. Para uma discussão mais interativa, junte-se ao grupo de Zap dos leitores do site.

No final do texto, você encontrará uma análise crítica produzida por inteligência artificial, oferecendo uma perspectiva única sobre o tema abordado.

Dividir para Conquistar como estratégia militar

A estratégia de “dividir para conquistar” (divide et impera, no latim) ficou famosa com o imperador romano Júlio César (100 a.C. – 44 a.C) durante suas conquistas territoriais.

A máxima “dividir para conquistar” tem sido uma pedra angular na arte da estratégia política e militar desde tempos antigos, aplicada até mesmo antes de Júlio César, como por Filipe II da Macedônia. A lógica fundamental envolve fragmentar grupos que possam acumular grande poder, ao mesmo tempo em que se impede que facções menores se unam e, assim, formem uma oposição significativa e robusta. Esse conceito foi posteriormente empregado com habilidade por figuras como Napoleão.

A aplicação bem-sucedida desta estratégia pode ser vista em várias passagens da história. Júlio César utilizou essa tática para conquistar as tribos da Gália, alimentando discórdias entre elas e as enfrentando de forma fragmentada.

Filipe II da Macedônia, o pai de Alexandre, o Grande, usou essa abordagem para dividir e enfraquecer as cidades-estado gregas, facilitando a subsequente conquista macedônia.

Durante a colonização, potências europeias como a Grã-Bretanha aplicaram esse princípio para manter controle sobre colônias vastas e culturalmente diversas, criando rivalidades entre grupos locais.

Napoleão Bonaparte também empregou essa estratégia, explorando tensões internas em regiões que buscava dominar, como parte de seu projeto ambicioso de expansão europeia.

Em todos esses casos, a fragmentação dos oponentes contribuiu decisivamente para alcançar o controle e a vitória.

Dividir para Conquistar e o Exército Brasileiro

No Brasil, a estratégia adotada pelos militares formados pela gloriosa Academia Militar das Agulhas Negras tomou um rumo oposto ao princípio universalmente aceito de “dividir para conquistar”. Essa inovação, contrária às lições históricas, resultou em um fracasso notável.

Em meu texto “Paz, Justiça, e Liberdade – registro de nascimento”, tracei a origem de um lema que veio a definir as bases das atuais facções criminosas no Brasil. Essas organizações, agora responsáveis por uma parcela significativa do PIB nacional, emergiram em grande parte devido a esse erro estratégico militar primário da elite de nossas Forças Armadas.

Os militares brasileiros, numa tentativa equivocada de eliminar a resistência política contra o Regime Militar, uniram dois grupos inimigos distintos, criminosos comuns e opositores políticos, no Presídio da Ilha Grande. Essa decisão de “unir para conquistar” tornou-se um desastre estratégico.

Em um ato que revela a miopia da classe dominante e de seu braço armado, a união forçada entre criminosos comuns e presos políticos não conseguiu sufocar a resistência, mas sim, alimentou uma aliança histórica entre a violência do banditismo e o idealismo revolucionário.

Esta união atípica desencadeou uma era de crime organizado sem precedentes no Brasil, um clarim de resistência e transformação que ressoa desde as profundezas do sistema carcerário até os recantos mais remotos e periféricos de nossa nação. Tal fenômeno reflete as contradições intrínsecas ao Estado, evidenciando uma complexa interação entre poder e marginalização.

Da Falange Vermelha ao Primeiro Comando da Capital

O produto dessa união insólita manifestou-se no início da década de 80 com a criação da Falange Vermelha (FV). Embora sua existência tenha sido efêmera, a FV deu origem ao Comando Vermelho (CV), perpetuando os ideais de “Paz, Justiça e Liberdade” promovidos pelos integrantes da Falange, uma herança dos presos políticos.

Mais de uma década depois, em uma continuação da filosofia pregada pelos militares brasileiros, que teimosamente insistiam em desafiar o princípio consagrado de “dividir para conquistar”, nasceu o Primeiro Comando da Capital. Formado através do contato entre prisioneiros paulistas e cariocas, este contato foi parte de uma estratégia adotada pelas forças de segurança que consistia em transferir presos entre estados. Os prisioneiros de São Paulo, absorvendo o ideal do PJL, disseminaram-no não apenas em seu próprio estado, mas por toda a América Latina.

Neste contexto, apresento hoje os depoimentos de dois personagens inicialmente em lados opostos: José Carlos Gregório, o Gordo, um ladrão de bancos, e Alípio de Freitas, ex-padre e preso político como guerrilheiro.A trajetória de José Carlos Gregório é narrada no Canal Histórias Daki. Gravada há mais de 25 anos, essa entrevista fornece um olhar singular sobre a transição entre o antigo mundo do crime no Brasil e o atual modelo de organização criminosa transnacional.

Por outro lado, o Vavá da Luz, em um texto recheado com o vocabulário e jargões da extrema direita bolsonarista, me levou a refletir sobre o relato do jornalista Carlos Amorim em “O assalto ao poder e a sombra da guerra civil no Brasil”, onde menciona uma fala de Alípio de Freitas sobre sua atuação nas prisões.

Dividir para Conquistar: o Gordo da Falange Vermelha

José Carlos Gregório, conhecido como “Gordo”, foi uma figura proeminente na cena do crime organizado no Brasil, particularmente ligado ao Comando Vermelho. Durante sua prisão na Ilha Grande, ele entrou em contato com presos políticos e desempenhou um papel crucial na fundação da Falange Vermelha.

Essa organização buscava unir criminosos comuns com o objetivo de lutar por melhores condições nas prisões e veio a ser o embrião do que se tornaria o Comando Vermelho. A habilidade de liderança e eloquência de Gordo foi essencial na união de diferentes grupos criminosos que existiam dentro do Presídio da Ilha Grande.

Esses grupos, até então rivais, foram “pacificados” graças à capacidade de Gordo de intermediar conflitos e à adoção dos ideais de união trazidos pelos presos políticos. A influência dos presos políticos, juntamente com a visão e habilidades de Gregório, contribuiu para a formação de uma coalizão que não apenas promoveu a paz entre diferentes facções dentro da prisão, mas também lançou as bases para uma das organizações criminosas mais poderosas do país, refletindo uma mudança significativa no panorama do crime organizado no Brasil.

Gordo continuou a desempenhar um papel vital no Comando Vermelho, contribuindo para a sua expansão e fortalecimento. A sua influência e liderança foram fundamentais para transformar o Comando Vermelho em uma das organizações criminosas mais poderosas e temidas do Brasil. Mesmo após a dissolução da Falange Vermelha, a filosofia e os princípios estabelecidos, como o lema “Paz, Justiça e Liberdade”, continuaram a ressoar no Comando Vermelho, demonstrando o impacto duradouro da contribuição de Gordo.

TRECHOS DA ENTREVISTA DE JOSÉ CARLOS GREGÓRIO, O GORDO

Esses novos hóspedes, diferente de nós, sabiam o que era uma família, eram mais estruturados, mais educados, e viviam os dois lados: o criminoso e o da sociedade. Esses caras assistiam a tudo aquilo que acontecia dentro do presídio e chegaram para nós e disseram que os crimes que eram praticados pelos funcionários e também pelos próprios presos contra outros presos tinham que acabar.

conceito de família, que é forte até hoje no PCC: Cartilha de Conscientização da Família PCC 1533

Quando eles (presos políticos) tinham uma banana, eles dividiam a banana e alimentava todo mundo, e nós fomos vendo como eles faziam e aprendemos. […] E foi aí que começou a surgir essa organização, começando a se organizar dentro da cadeia, para depois transpor o muro da prisão e chegar aqui fora.

Gregório conta que no início as facções se ocupavam de organizar ações e não possuíam chefia, sendo apenas um fórum de mediação entre criminosos:

… cada um cuidava da sua vida, decidindo se iam ou não assaltar algum lugar e como fariam isso, eram um grupo de pessoas que são amigos, são uma família, que se unem. Ninguém era obrigado a entrar ou permanecer.

Artigo 17 do Estatuto da organizaão criminosa PCC: “… Ninguém é obrigado a permanecer no Comando, mas o Comando não vai ser tirado por ninguém.”

 Entretanto, era preciso cumprir as regras, além do que, caso uma missão seja abraçada, não se pode voltar atrás sem cumpri-la — conforme doutrina guerrilheira. O lema é “Paz, Justiça e Liberdade”. Gregório conta que o Comando Vermelho foi fundado já com o lema que hoje é adotado pelo PCC:

O lema do Comando Vermelho é Paz, Justiça e Liberdade:
Paz: é a paz de você viver em paz dentro da cadeia.
Justiça: você faz justiça todos os dias; é você fazer o que o governo não faz, o que quem deveria fazer não faz e, então, você tenta fazer alguma coisa.
Liberdade: é o que todo mundo sabe, sair do presídio a qualquer custo.

Dividir para Conquistar: o revolucionário Alípio de Freitas

Alípio de Freitas, nascido em Portugal em 1929, foi um ex-padre e revolucionário que se tornou uma figura proeminente na luta contra o Regime Militar no Brasil. Durante os anos 1960, ele foi uma das vozes ativas no movimento pela democracia, tendo se envolvido com organizações políticas e revolucionárias. Sua prisão na Ilha Grande como preso político aconteceu em 1970, após ser acusado de colaborar com grupos guerrilheiros contra o regime militar.

Na Ilha Grande, Alípio de Freitas enfrentou duras condições e tortura, mas permaneceu irredutível em seus princípios e crenças políticas. A sua estadia na prisão permitiu que ele interagisse com outros presos políticos e criminosos comuns, uma mistura que mais tarde influenciou a formação de organizações criminosas no país.

Mesmo após sua libertação em 1979, de Freitas continuou a se dedicar à defesa dos direitos humanos e justiça social, escrevendo e lecionando sobre suas experiências e a importância da luta pela democracia. Sua vida é um exemplo vívido de comprometimento com ideais revolucionários e a luta incansável contra a opressão.

TRECHOS DA ENTREVISTA DE ALÍPIO DE FREITAS

Tudo o que os intelectuais queriam era resistir ao sistema penal. No meio, os presos comuns iam aprendendo a se organizar. (…) Depois, os intelectuais foram embora e deixaram a semente. Os outros se apoderaram.

Eu tinha o poder de organização e a força das massas em minhas mãos. Por onde passei, organizei grupos, fomentei a revolução! Fiz isso em todas as prisões por onde caminhei, e não me arrependo.

Interroguem a polícia, esse braço opressor do Estado burguês, sobre por que um grupo de supostos malfeitores se apropriou, na cadeia, dos princípios nobres da organização dos presos políticos. Sob a falsa alegação de que éramos todos assaltantes de bancos, nós, revolucionários, fomos lançados com os criminosos comuns, vítimas todos de um sistema implacável e opressor.

As autoridades, em sua cegueira ideológica, percebendo a criação inadvertida, executaram sistematicamente na prisão as lideranças dos presos comuns que haviam absorvido nossos princípios. Imaginaram que, com essa violência brutal, conseguiriam esmagar a chama da resistência, mas subestimaram a força indomável do espírito revolucionário.

Mas a verdade se fez ouvir! Esse ato bárbaro apenas deixou os criminosos e a prisão entregues aos instintos mais primitivos, permitindo a aliança com uma polícia corrompida e vil. O resultado? Um cenário de caos e violência, um campo fértil para a revolução, onde o clamor por justiça ecoa com uma força inigualável, revelando as profundas contradições do Estado burguês.

Unir nem sempre é a melhor solução

A estratégia de “unir para conquistar” que tem sido implementada erradamente pelas forças de segurança do Brasil reflete um complexo dilema contemporâneo. Nesse contexto, uma abordagem enfática pode ser construída assim: A maneira de lidar com grupos criminosos, seja nos presídios ou nas comunidades periféricas, exige uma reavaliação profunda e estratégica.

A falácia de juntar facções diversas sob um mesmo teto, adotada desde a época do Regime Militar na Ilha Grande, provou-se não apenas ineficaz, mas perigosamente contraproducente. Essa abordagem errônea conduziu, paradoxalmente, a um fortalecimento inadvertido das organizações criminosas. A possibilidade de troca de informações e a consolidação de alianças entre grupos antes rivais transformam uma política de repressão em um mecanismo de fortificação do inimigo.

A implicação contemporânea dessa estratégia mal concebida estende-se para além dos muros dos presídios, chegando às regiões periféricas. O abandono dessas áreas pelo Estado criou um vácuo que tem sido preenchido pelos grupos criminosos, permitindo-lhes não apenas hegemonia sobre o discurso, mas também controle territorial.

Segurança Pública e a Proteção dos mais Vulneráveis

A correção de rumo exige uma nova lógica: “dividir para conquistar”. Isolar grupos criminosos, evitar a homogeneização dos inimigos do Estado, e trabalhar de forma assertiva nas bases e lideranças dessas organizações pode ser a chave para desmantelar as estruturas que fortalecem esses grupos. Esse novo caminho não é apenas uma necessidade estratégica, mas uma imperativa moral, em um momento em que as comunidades mais vulneráveis continuam a ser deixadas à mercê de forças que agem à margem da lei.

A reflexão sobre a realidade atual e a necessidade de reavaliação estratégica oferece uma oportunidade para um compromisso renovado com a justiça, a segurança e a integridade do Estado. O entendimento claro do erro histórico, aliado à coragem de abraçar uma nova direção, pode ser um catalisador para uma mudança significativa no combate ao crime organizado no Brasil.

Análise Crítica do Texto: Dividir para Conquistar e o ideal de Paz, Justiça e Liberdade (PJL)

O texto apresentado oferece uma visão aprofundada e complexa sobre a estratégia de “dividir para conquistar” e sua aplicação em diferentes contextos históricos e geográficos. A análise a seguir explora vários aspectos críticos desse texto:

1. História e Contexto

O texto habilmente traça a origem e o desenvolvimento da estratégia, desde o seu uso pelos romanos até a aplicação na colonização e as campanhas napoleônicas. Ao contextualizar essa abordagem em várias épocas, ele oferece uma compreensão abrangente da sua relevância e persistência ao longo da história.

2. Aplicação no Brasil

A análise da estratégia no contexto brasileiro é particularmente pertinente, dada a sua relação com o Regime Militar e o surgimento do crime organizado. A crítica à abordagem adotada pelos militares brasileiros é bem fundamentada e evidencia uma falha estratégica notável.

3. Personagens Principais

A inclusão de figuras como José Carlos Gregório e Alípio de Freitas enriquece a narrativa, tornando-a mais vívida e pessoal. Esses retratos individuais ilustram a complexidade da situação e a interação entre diferentes segmentos da sociedade.

4. Ligação entre Crime e Política

A análise do relacionamento entre criminosos comuns e presos políticos, e sua influência na formação de organizações criminosas, é perspicaz. Esse aspecto do texto destaca a complexidade das relações sociais e políticas no Brasil e mostra como decisões aparentemente táticas podem ter ramificações de longo alcance.

5. Linguagem e Estilo

O texto é escrito de forma clara e acessível, mas mantém uma linguagem formal que respeita a seriedade do assunto. As citações e referências históricas adicionam profundidade e credibilidade à análise.

6. Opinião e Conclusão Própria do Autor

Em minha opinião, o texto é uma análise bem articulada que combina história, política e sociologia para explorar uma estratégia que tem sido fundamental na política e na guerra. A seção sobre o Brasil é particularmente interessante, destacando um momento crítico na história brasileira e as complexas interações entre o Estado e o submundo do crime. A conclusão poderia ser fortalecida com uma síntese mais enfática das ideias apresentadas e uma reflexão sobre as implicações contemporâneas dessa estratégia.

Conclusão da Análise Crítica

O texto apresenta uma análise rica e multifacetada da estratégia de “dividir para conquistar”. Através de uma exploração histórica e contextual, ele revela as nuances dessa abordagem e sua aplicação em diferentes esferas da vida humana. A análise do contexto brasileiro adiciona uma dimensão única à discussão, mostrando como uma falha na compreensão dessa estratégia pode ter consequências profundas e duradouras.

A ligação entre crime organizado e política, e a influência das ações militares na formação de organizações criminosas, é uma contribuição significativa para o entendimento das complexidades do cenário político e social brasileiro. A análise é robusta, bem pesquisada, e escrita de uma maneira que equilibra a clareza com a profundidade acadêmica, tornando-se um recurso valioso para quem estuda essas questões.

A Ascensão do PCC Primeiro Comando da Capital: 2006-2012

Neste artigo, mergulhamos na história do Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533), acompanhando sua ascensão e expansão entre 2006 e 2012. Analisamos a redução de violência, a monopolização do crime em São Paulo, e a expansão do grupo para além das fronteiras de São Paulo, identificando a maneira como a organização alterou o equilíbrio de poder no mundo do crime.

Ascensão do PCC gera calafrios e curiosidade em partes iguais. Este relato escuro e fascinante retrata a história não contada do Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533). Cada detalhe meticuloso revela a verdadeira magnitude de sua expansão e dominação, conduzindo você por um labirinto de poder e violência.

Esta investigação profunda desvenda os mistérios que envolvem a redução da violência e a monopolização do crime em São Paulo. Convido você a explorar a rede de influência e controle do PCC, como eles se ramificaram para além das fronteiras de São Paulo e alicerçaram seu poder.

Seu olhar crítico e suas perspectivas são valiosas para nós. Após ler, gostaríamos muito de ouvir seus pensamentos. Comente no site, participe de nossos grupos de leitores, ou envie uma mensagem privada para mim. Sua participação é uma parte vital de nossa jornada contínua para compreender a ascensão do PCC.

Ascensão do PCC: uma análise na sociologia do crime

A ascensão do PCC entre 2006 e 2012 marca um capítulo importante na sociologia do crime brasileiro. Através de um jogo de forças inusitado, a facção redefiniu o equilíbrio de poder, estendendo-se além de São Paulo. A expansão foi rápida, agressiva, e o alcance global do PCC levantou questões complexas sobre as fronteiras da criminalidade organizada.

Nesse período, o PCC impôs uma monopolização do crime, dando origem a uma queda na violência – um paradoxo sociológico intrigante. Esta redução, no entanto, não significou a pacificação, mas sim um controle mais centralizado, uma maneira estratégica e racionalizada de operar a dominação. A sociologia do PCC revela uma organização criminal que ascendeu por meio da construção de uma hegemonia, ao mesmo tempo em que moldava a sociedade ao seu redor.

A “Ascensão do PCC” se torna, assim, mais do que a história de uma organização criminosa. É o retrato de uma sociedade que, consciente ou inconscientemente, se adaptou à presença deste poder paralelo. A análise sociológica desse fenômeno desafia nossa compreensão da dinâmica entre crime, poder e sociedade.

De São Paulo para além: a ascensão do PCC

O ano era 2006. O Primeiro Comando da Capital, como a fênix que ressurge das cinzas, mostrava-se reestruturado e ajustado aos novos tempos. Transformou-se no protagonista de um episódio que ficaria marcado na história recente do Brasil: uma batalha de proporções assustadoras que lançou o país em um estado de caos e guerra.

Este embate sem precedentes pôs de um lado a renascida organização criminosa e de outro, os representantes do Estado. Tudo culminou naquilo que se conheceu como os “ataques de Maio”, onde São Paulo – a pulsante metrópole – se viu submersa em sua maior crise nas últimas décadas. Setenta e quatro unidades prisionais, mais do que o dobro da megarrebelião de 2001, se levantaram em protesto contra o sistema, ilustrando a magnitude do controle exercido pelo comando.

O governo, já abalado, assistiu impotente enquanto sua metrópole se tornava o cenário de uma guerra urbana desenfreada, em que a violência se espalhava de maneira virulenta. O PCC, em uma ofensiva brutal, lançou ataques a edifícios públicos e privados, com foco em delegacias e órgãos de segurança pública, promovendo um clima de terror que se espalhou por toda a capital.

Essa explosão de violência tinha suas raízes na Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), que, em um movimento para minar o poder do PCC, transferiu os líderes da organização para prisões de segurança máxima. Esta estratégia, já tentada sem sucesso em 2001, provocou uma forte retaliação, culminando nos eventos de 2006.

Foram transferidos 760 presos para a recém reformada Penitenciária de Presidente Venceslau II. Esta medida, planejada para cortar as comunicações e enfraquecer a atuação do PCC, produziu o efeito oposto: uma reação violenta e destrutiva da organização, acabou por fortalecê-la.

Os números oficiais apresentados desse período são perturbadores: Entre 12 e 20 de maio de 2006, 439 pessoas foram assassinadas apenas estado de São Paulo. A vingança das forças policiais aos ataques foi brutal, com a polícia fechou a semana com 493 homicídios nas periferias em apenas uma semana, seguido por mais quinhentos assassinatos nas três semanas subsequentes.

Os números, entretanto, podem variar. Algumas fontes afirmam que as mortes provocadas pela polícia e pelo PCC foram ainda mais numerosas. O que fica claro, no entanto, é a terrível realidade que se desdobrou naqueles dias em São Paulo, marcada por um número inimaginável de vidas perdidas em uma batalha urbana brutal e sem precedentes.

A redução da violência e a monopolização do crime

No cerne do tumulto de 2006, o Primeiro Comando da Capital lançou uma série de ataques audaciosos que abalaram São Paulo até o seu âmago. Com o pano de fundo de um ano eleitoral, a cidade foi catapultada em uma crise política, enquanto o antigo governador, um conhecido inimigo do partido, lançava sua campanha presidencial.

Em uma demonstração inédita de poder, o PCC fez uso de uma estratégia sem precedentes: a imposição de um toque de recolher. Este foi um ato de desafio tão surpreendente que até mesmo as mais altas autoridades estaduais, confiantes na incapacidade do comando, se viram atordoadas. Ao contrário dos toques de recolher convencionais, este não foi uma imposição do governo, mas um decreto da própria organização criminosa.

A sociedade paulistana, consternada, mas impotente, aderiu obedientemente às ordens do comando. A violência desencadeada pelo PCC marcou sua presença e força na consciência dos cidadãos, fazendo-se cumprir através do medo. Os métodos de comunicação da organização também refletiam a mudança nos tempos: telefones celulares e computadores eram usados para disseminar informações.

As notícias que chegavam à população não eram provenientes da grande mídia ou de comunicados oficiais do Estado, mas de mensagens informais distribuídas pelo comando. Isso amplificou o sentimento de terror entre os habitantes da cidade, com a urgência e realidade das mensagens tornando o medo ainda mais palpável.

O ano de 2006 foi um marco para o PCC, que demonstrou sua capacidade de desafiar o governo, paralisar a polícia e ditar as regras na maior cidade do país. A segurança pública em São Paulo foi transformada como resultado dos eventos daquele ano, com políticas atualizadas para combater a organização, aumentos de investimento na polícia e repressão intensificada contra qualquer ameaça ao governo.

A sociedade civil sentiu em cheio o impacto dessa guerra aberta, cuja ferocidade era alimentada por vingança de ambos os lados. Talvez nunca antes na história de São Paulo um grupo havia confrontado o Estado de maneira tão direta e audaciosa como o PCC fez em 2006. Seu poder e ousadia repercutiram internacionalmente, ecoando o impacto causado em 2001 e marcando a consolidação de uma nova estrutura do comando.

O poder incontestável do PCC e a perturbação da paz

Os anos subsequentes a 2006 marcaram um período de expansão e ascensão do PCC sem precedentes. Uma estratégia de ampliação astutamente orquestrada viu a organização reconfigurar o balanço de poder no submundo do crime, cultivando aliados e identificando inimigos.

Após a tumultuosa tempestade de 2006, os conflitos entre o PCC e a polícia militar diminuíram significativamente. No entanto, os eventos de 2001 e 2006, juntamente com o aumento das prisões e a política de repressão, levaram o grupo a expandir-se além das fronteiras de São Paulo. Seu poder e influência se espalharam para outros estados brasileiros e até mesmo países vizinhos, fortalecendo sua estrutura e solidificando sua hegemonia nos presídios e comunidades, enquanto instilava medo na população em geral.

Muitos estudiosos sugerem que os índices de violência começaram a declinar progressivamente até cerca de 2012. O governo de São Paulo aproveitou-se dessa queda para impulsionar sua imagem de defensor da segurança do Estado, principalmente para ganhos políticos. No entanto, investigações mostram que a redução da violência pode ser atribuída não tanto às políticas de segurança pública, mas sim a um processo complexo de monopolização do crime em São Paulo por parte do PCC.

Esse monopólio, concebido em linhas weberianas e reminiscente da transição das sociedades guerreiras para a concentração de violência na Europa medieval, implicava um controle centralizado das relações sociais dentro do mundo do crime. A ascensão do PCC e seu monopólio da violência no mundo do crime ajudou a reduzir a violência em seus territórios e permitiu ao grupo estabelecer novos métodos racionais para exercer sua dominação.

Ganhar o respeito e o temor daqueles que os cercavam, fortalecer a hegemonia e expandir seu poderio se tornou mais fácil com esse controle incontestável. As ações do PCC estendiam-se pelos territórios sob sua jurisdição, que abrangiam prisões e comunidades. Sua expansão trouxe um poder estabilizador para esses territórios, resultando em uma pacificação e hegemonia que contribuíram para a redução da violência e o cumprimento das normas e condutas impostas.

No entanto, com o monopólio do poder, também veio a oposição. Os inimigos do comando, sejam eles de outras organizações criminosas ou agentes do Estado, desafiavam sua supremacia. Este conflito constante perturbava a paz dos territórios do PCC, resultando em um aumento da violência e insegurança, um testemunho da luta contínua pelo poder.

Baseado no trabalho do pesquisador Eduardo Armando Medina Dyna: “As faces da mesma moeda: uma análise sobre as dimensões do Primeiro Comando da Capital (PCC)”

Comentário de Luciana do 11 no grupo de Zap dos leitores do site

Boa boa

Com meus 46 anos, observado a organização lá no início (anos 90) em região periférica na norte de Sampa, e acompanhado ainda em Sampa essa ascenção, noto que houve mudanças drásticas após essa série de acontecimentos na aplicação das “leis” da família.

Posterior a essa ascenção estive em duas cidades do interior de São Paulo e pude observar de perto a realidade do domínio do PCC, que não condiz com a conduta esperada pela própria organização, e muito diferente do que conheci em São Paulo.

Citando exemplos sólidos, “as ideias” que eu conhecia (periferia de Sampa) eram conduzidas em locais reservados, fiquei bem surpresa no interior de São Paulo quando presenciei a realização de ato tão sério (ao menos pra mim que sempre acreditei na ordem que o PCC aplica) por inúmeras vezes na rua, onde se podia observar a roda de pessoas (envolvidos e disciplinas) realizando “as ideias”.

Além disso, pude presenciar muitos atos contraditórios aos lemas da organização.

Obviamente que com tantos membros chega um momento que simplesmente não dá pra controlar tudo, pessoas são diferentes e muitas entram para a família somente visando progresso próprio e não por acreditar nos ideais do PCC.

Gosto muito das matérias do site e acho fundamentais para esclarecer e pontuar a realidade, mas deixo a sugestão para o Wagner de explorar mais os pequenos núcleos onde o PCC atua, como em cidades mais afastadas dos grandes centros.
É fundamental que o PCC se mantenha fiel aos propósitos inicias: PAZ, JUSTIÇA, LIBERDADE, IGUALDADE E UNIÃO.

Foi assim que cresceu e se solidificou e somente assim perpetuará o respeito e crença na organização (pontuo essa questão por ter cansado de ouvir de inúmeras pessoas que estão desacreditadas principalmente da justiça da organização).

Disputas de Poder: Primeiro Comando da Capital de 2001 a 2006

A jornada deste texto percorre a história da facção PCC 1533 de 2001 a 2006, um período marcado por intensas disputas de poder e contradições, revelando uma faceta complexa da criminalidade em São Paulo.

“Disputas de poder” delineiam a essência deste relato. No coração desse emaranhado, o Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533), prevalece. Testemunhe sua ascensão entre 2001 a 2006.

Em meio ao caos, desenrola-se uma dança do poder, onde a política de segurança pública, paradoxalmente, fortalece a facção PCC. Nossa jornada começa aqui, dentro do intricado universo do PCC.

Após a leitura, espero por seus comentários e reflexões. Deixe sua opinião no nosso site, compartilhe suas impressões nos grupos de leitores do WhatsApp ou envie uma mensagem privada para mim. Sua participação enriquece o debate!

2001 a 2006 – Disputas de Poder com a sociedade

Em 1997, um grito audaz ressoou do submundo criminoso, desafiando a sociedade como um fantasma emergindo das sombras. O Primeiro Comando da Capital, ousadamente, forçou o reconhecimento de sua existência, garantindo a publicação de seu estatuto e selando sua imagem como uma organização criminosa.

Essa atitude, talvez impulsionada por uma busca de satisfação do ego, talvez pelo desejo de derrubar o estigma do criminoso comum, tido como “inferior e ignorante”, surgiu como um movimento ousado e estratégico.

No jogo xadrez das “Disputas de Poder”, esta manobra se revelou mais do que uma simples busca por reconhecimento. Foi uma jogada tática astuta, um lançamento calculado de um dado que traçaria o caminho para o crescimento iminente da organização nos anos que viriam.

Medo, Repulsa e a Imprensa como Alto-falante

As entranhas da cidade escondiam mais do que apenas o medo e a repulsa – elas abrigavam uma força emergente, prestes a deixar sua marca indelével no tecido da sociedade. Esta era a ascensão silenciosa, porém inconfundível, do Primeiro Comando da Capital.

Em meio a um cenário que desafiava qualquer lógica convencional, a mídia assumiu o papel de alto-falante para as atividades do PCC, aumentando exponencialmente a sua notoriedade. Em uma tentativa de projetar uma imagem de eficácia e ação à população, várias correntes ideológicas implementaram políticas de Segurança Pública. No entanto, ao invés de subjugar a influência do PCC, elas fortaleciam inadvertidamente a organização criminosa. Como um fogo alimentado pelo vento, a estrutura do PCC parecia apenas se fortalecer frente a estes esforços.

O período de 2001 a 2006 marcou a entrada do Primeiro Comando da Capital numa nova fase, uma era definida por intensas disputas de poder. Este tempo, preenchido com dilemas e conflitos tanto internos quanto externos, escancarou a complexidade do ambiente no qual a facção PCC estava imersa.

No palco externo, a intenção das políticas governamentais colidiu com sua eficácia na prática. Ao invés de conter a influência da PCC, as medidas adotadas pela segurança pública paulista deram um impulso inesperado à organização criminosa. As transferências de presos, pensadas para diluir a força da PCC, acabaram por criar uma rede de influência mais extensa e consolidada, tanto dentro quanto fora das prisões.

Sede fecundos, disse-lhes ele, multiplicai-vos e enchei as trancas.
Vós sereis objeto de temor e de espanto para todo aquele que pensar em se opor a vós.
Tudo o que se move e vive vos servirá de alimento; eu vos dou tudo isto, como vos dei a erva e o pó.
Somente comereis carne com a sua alma, com seu sangue.
Todo aquele que trair a nós terá seu sangue derramado pelos irmãos, porque faço de vós a nossa imagem.
Sede, pois, fecundos e multiplicai-vos, e espalhai-vos sobre a terra abundantemente.

Operação Dictum PCC 15.3.3

Disputas de Poder dentro da Facção

No cenário interno, as disputas de poder intensificaram-se. Os líderes, outrora respeitados e inquestionáveis, agora enfrentavam um panorama de incerteza e instabilidade. Sombra, um dos generais mais admirados, fora brutalmente assassinado em 2001, durante seu banho de sol na prisão de Taubaté. Os motivos do assassinato de Sombra nunca foram confirmados oficialmente, mas diversas teorias circulavam entre os membros da PCC. Talvez fosse uma jogada de uma facção rival, talvez uma rixa pessoal, ou ainda uma tentativa de outro líder da PCC para aumentar seu poder. A verdade permaneceu nebulosa.

O Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), já estabelecido, encontrou forte resistência entre os detentos. No entanto, as lideranças do PCC incessantemente buscavam meios para se evadir deste castigo institucional, agitando o ambiente penitenciário. Paralelamente, a PCC logrou eliminar diversas organizações rivais em São Paulo, isolando as que apresentavam mais resistência. Curiosamente, ao concentrar todas as lideranças no presídio P2 de Presidente Venceslau, o estado inadvertidamente forjou um Quartel General para o Primeiro Comando da Capital, facilitando a coordenação entre os diferentes líderes do estado.

[…] o RDD acabou por contribuir para a consolidação de lideranças dentro do sistema prisional. A construção da autoridade das lideranças no interior de organizações tais como o PCC se dá a partir da valorização de alguns atributos do indivíduo, especialmente ligados à autonomia e independência frente a qualquer poder ou autoridade formal de modo que o preso que recebe como punição a alguma falta a remoção para o RDD acaba encarnando a imagem exemplar da insubmissão às regras oficiais do Estado.

Bruno Lacerda Bezerra Fernandes

Da disputas de poder à pacificação

A hegemonia da PCC nas prisões estava em plena expansão, com a organização ocupando o vácuo de poder deixado pelas facções extintas.

No implacável jogo de poder do submundo, o PCC mostrou-se eficiente ao enfrentar seus rivais. Ao eliminar muitas organizações adversárias em São Paulo, orquestrando uma verdadeira guerra estratégica, cujo objetivo era estabilizar sua influência e conquistar o poder e a hegemonia nas prisões. Organizações contrárias como o Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade CBRC, a Seita Satânica SS, o Serpentes Negras e Comando Democrático da Liberdade CDL, de fato, desapareceram após 2001.

Este cenário gerou um vácuo de poder, um espaço vazio que ansiava por domínio. A habilidade do PCC em preencher essa lacuna tornou-se evidente à medida que expandiam gradualmente seu controle, utilizando a violência como um instrumento para reforçar seu poder e recrutando novos membros para suas fileiras. A cada passo, o Primeiro Comando da Capital foi tomando as rédeas, crescendo não apenas em influência, mas também em número, com o aumento constante de seus afiliados. Nesse tabuleiro de xadrez do crime, a cada movimento, a facção PCC consolidava sua supremacia.

Apesar das circunstâncias adversas, a Primeiro Comando da Capital conseguiu estabelecer uma espécie de “pacificação” nos presídios entre 2002 e 2004. Este termo, contudo, não significava uma verdadeira paz, mas o fim das violentas disputas de poder entre as facções. No entanto, os crimes fora das prisões, como fugas, assaltos e sequestros, continuaram a ocorrer.

A pacificação dependeu da capacidade do PCC em construir um discurso de união do crime e organizar o interesse dos empreendedores de drogas numa mesma direção. Em São Paulo, a facção conseguiu funcionar como agência reguladora.

A Guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil

As Sombras de São Paulo: o sonho de mizael

Mergulhando ainda mais fundo nos corações das sombras de São Paulo, em nossa narrativa do período entre 2001 e 2006, palco das “Disputas de poder” do notório Primeiro Comando da Capital. Vidas tecidas na violência, corações pulsando contra a corrente de seus destinos prescritos – é neste cenário que Mizael, um líder na trama da facção, encontra seu fim abrupto em fevereiro de 2002.

Mizael, uma figura emblemática do PCC, se destacou por sua visão que ia além do cotidiano criminoso. Ele sonhava com um diálogo direto com o governo brasileiro e organizações de direitos humanos, enxergando na denúncia de abusos do governo paulista, uma chance de mudança. Essa aspiração foi abruptamente interrompida por uma trama interna.

Te convido a enxergar além da brutalidade dos atos do criminoso condenado. Tente ver em Mizael um homem com um plano, um estrategista almejando mudanças para além das grades. Seus desejos ecoavam em um manifesto, onde fazia menção a figuras políticas e intelectuais relevantes, numa tentativa de criar diálogo no âmbito político-jurídico.

Entretanto, dentro do universo fechado do Primeiro Comando da Capital, os sonhos costumam ser encurtados. Cesinha, antigo aliado de Mizael e um dos generais do PCC, baseado em boatos, determinou o fim de Mizael. O líder foi assassinado em um ato simbolicamente cruel, tendo seus olhos arrancados, uma forma de suplício que ecoa a brutalidade deste universo.

Jogos de Poder

Neste jogo de xadrez humano, Mizael e Sombra, outro líder do PCC, se destacaram por suas visões inovadoras. Viu-se em Mizael o potencial de um líder político, ainda que dentro da estrutura de uma organização criminosa. Sua visão, entretanto, foi impedida por uma disputa de poder, comprovando a velha máxima de que em uma guerra interna, não há vencedores, apenas sobreviventes.

Para além dos atos violentos, percebemos os homens por trás da facção PCC, suas ambições e desejos, frustrações e medos. Em um mundo onde a luta pelo poder pode custar a vida, cada decisão tem um peso imenso e os erros, consequências fatais. Entre as sombras das disputas de poder, encontramos seres humanos em sua mais crua essência, lutando pela sobrevivência em um ambiente hostil.

A Reconfiguração do Poder: Traição e Reformulação

Durante esse período de 2001 a 2006, encontramos um cenário volátil nas entranhas do emblemático Primeiro Comando da Capital. As perdas de lideranças chave levaram a uma reestruturação significativa do poder dentro do grupo, dando início a uma fase de intensa reconfiguração interna.

Neste período, presenciamos o assassinato de Ana Maria Olivatto Camacho, ex-esposa de Marcola, perpetrado por Natália, esposa de Geleião. Este evento acendeu o estopim para uma onda de vingança dentro do PCC, com parentes de Natália sendo eliminados por seguidores de Marcola.

A trama de nosso relato se adensa com a delação de Geleião à polícia, num esforço desesperado para proteger sua esposa e a si mesmo. Esta traição foi repudiada pela facção, levando à expulsão de Geleião e Cesinha, líderes renomados do PCC.

O vácuo de poder deixado por estas convulsões internas foi preenchido por Marcola, que ascendeu à liderança do Primeiro Comando da Capital em 2003. Implementou uma reformulação radical, mudando a forma de atuação financeira, política e estratégica da organização.

O PCC Evolui e se estrutura como empresa

A nova fase do PCC foi marcada por uma reorganização, passando de uma estrutura piramidal centralizada para uma organização complexa e descentralizada. Esta mudança democratizou as formas de atuação do grupo, concedendo voz e voto na estrutura interna da facção.

Marcola introduziu o conceito de “Sintonias”, comissões ou setores compostos por vários “irmãos” que reportavam a uma “sintonia final”. Além disso, a facção incluiu os termos “Igualdade e União” no seu lema, evitando problemas internos de poder e melhorando a divisão do trabalho.

No seio desta remodelação, o tráfico de drogas surgiu como uma atividade lucrativa e segura, reduzindo a perda de membros em assaltos e sequestros. Esta mudança levou a facção PCC a se tornar uma organização de caráter empresarial, embora mantendo sua luta contra as opressões e injustiças.

Neste contexto, o PCC, que começou como um partido, continua a existir, agora também como uma empresa. Uma dualidade que produziu uma ruptura singular na história da facção, transformando-a numa entidade complexa e multifacetada.

Baseado no trabalho do pesquisador Eduardo Armando Medina Dyna: “As faces da mesma moeda: uma análise sobre as dimensões do Primeiro Comando da Capital (PCC)”

Comunicado Geral Estados e Países – 04/04/2023 – Região Norte

Comunicado Geral do PCC a respeito de conflitos com outras gangues e milícias, como o Comando Vermelho CV, que têm atacado familiares e pessoas inocentes. O Primeiro Comando da Capital expressa indignação, condena essas ações violentas e sinaliza que irá reagir para proteger sua família e membros.

Ataque dos inimigos na Região Amazônica

Primeiramente, um abraço a todos os irmãos (as) e companheiros (as).

Vamos abordar uma questão que vem acontecendo há algum tempo e, nos últimos dias, vem ocorrendo com frequência.

Vamos direto ao ponto:

Uma milícia chamada Comando Vermelho e algumas gangues que agem igual a eles, que não têm autonomia e controle sobre seus integrantes, vêm tirando a vida de familiares nossos e também de pessoas inocentes que não têm nada a ver com a nossa guerra, com o objetivo de intimidar nossos irmãos (as) e companheiros (as) dentro dos estados, como Amazonas, entre outros.

Um recado importante

Pois bem, vamos mandar aqui um recado para vocês que compactuam com esses tipos de atitudes covardes contra pessoas inocentes.

Nós, do Primeiro Comando da Capital, fomos criados em cima de opressões por parte do governo e, até hoje, estamos firmes e fortes na luta, lutando sem parar.

Com vocês não será diferente

As atitudes desses covardes estão gerando ódio e revolta. Portanto, com toda nossa indignação perante todos os fatos que vêm sendo apurados, daremos um recado para essa milícia do CV e outras gangues que compactuam com as atitudes deles:

Aquele que vier mexer com nossa família, iremos usar de todos os recursos que temos e vamos cobrar de igual.

Não é nosso objetivo, muito menos o que queremos, mas não vamos aceitar que a vida de nossos familiares e pessoas inocentes sejam tiradas por esses animais sem cérebros.

Então, aqui está toda nossa indignação, deixando claro que não iremos mais aceitar tais fatos apurados e narrados neste comunicado.

Deixamos um abraço a todos os irmãos (as), companheiros (as) e a todo o crime do Brasil que corre com o certo, sem exceção.

Assinado: Apoio S.F, Primeiro Comando da Capital – Estados e Países.

histórico da disputa do PCC na Região Norte e posíveis estratégias apontadas nesse comunicado geral

análise aprofundada do documento: Comunicado Geral Estados e Países – 04/04/2023 – Região Norte

ChatGPT fala sobre a facção PCC Primeiro Comando da Capital

O que a inteligência artificial pensa sobre o PCC, guerra entre facções, jovens e drogas.

Terceira parte da entrevista com o ChatGPT

Nessa terceira publicação, o ChatGPT sobre a relação da facção PCC com a questão das armas, drogas, jovens e a guerra entre facções.

…. é necessário pensar em estratégias que possam ir além da repressão e abordar outras questões, como prevenção, tratamento de dependentes químicos e políticas públicas de segurança mais eficazes, visando reduzir o poder do crime organizado e melhorar as condições das prisões.

ChatGPT

… a falta de controle de armas no Brasil também pode contribuir para a disponibilidade de armas para o PCC.

ChatGPT

O PCC e os outros grupos criminosos

O que você sabe sobre a guerra entre as facções criminosas no Brasil.

A guerra entre as facções criminosas no Brasil é uma luta constante pelo controle de territórios, tráfico de drogas e outros crimes organizados.

As duas principais facções criminosas no Brasil são a Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) que operam em várias regiões do país e há relatos frequentes de violência e conflitos armados entre elas.

Embora ambas as organizações criminosas sejam muito poderosas e perigosas, é difícil determinar qual delas tem uma vantagem clara sobre a outra, pois a situação é altamente dinâmica e pode mudar rapidamente.

Ambas as facções têm seus próprios pontos fortes e fracos, e é provável que sua capacidade de competir e prosperar dependa de vários fatores, incluindo o ambiente político, econômico e social em que operam.

A situação é agravada pela corrupção e falta de efetividade das forças de segurança, o que permite que as facções criminosas tenham acesso a armas e recursos financeiros.

A guerra entre facções criminosas tem sido uma fonte de preocupação para as autoridades brasileiras e é considerada um dos maiores desafios para a segurança pública no país.

Quais são os grupos, facções, bondes ou gangues que atuam em conjunto como aliados da facção paulista Primeiro Comando da Capital?

(esta resposta eu não publicarei pois o ChatGPT errou redondamente, citando inimigos históricos como o Comando Vermelho, Primeiro Grupo Catarinense e a Família do Norte como aliados, além disso cita grupos que sequer existem)

Quais grupos criminosos internacionais podem ser comparados com o Primeiro Comando da Capital? E por qual razão?

A principal atividade do Primeiro Comando da Capital é o tráfico de drogas, mas também está envolvido em outros crimes, como roubos, sequestros e assassinatos.

O PCC é conhecido por sua hierarquia rígida, disciplina interna, lealdade aos membros e violência extrema contra seus inimigos.

Algumas organizações criminosas que também são conhecidas por suas atividades ilícitas, violência extrema contra seus inimigos, hieraquia rígida e disciplina interna são:

  • Yakuza: uma organização criminosa japonesa que se originou na década de 1600. Seus membros estão envolvidos em diversas atividades ilegais, incluindo tráfico de drogas, jogos de azar, extorsão e prostituição. A Yakuza é conhecida por sua estrutura hierárquica e por suas tatuagens corporais, que são usadas como símbolos de identificação.
  • Cartéis de drogas mexicanos: organizações criminosas que controlam o tráfico de drogas no México e em outros países. Os cartéis são conhecidos por sua violência extrema e seus confrontos com as autoridades. Alguns dos cartéis mais conhecidos incluem o Cartel de Sinaloa, o Cartel de Jalisco Nova Geração e o Cartel de Los Zetas.
  • Máfia italiana: uma organização criminosa que se originou na Itália no final do século XIX. A Máfia está envolvida em várias atividades ilegais, incluindo tráfico de drogas, extorsão, jogos de azar e assassinatos. A organização é conhecida por sua estrutura hierárquica e pela lealdade inabalável dos membros.

Cada um desses grupos criminosos tem sua própria história e características distintas.

No entanto, todos eles estão envolvidos em atividades ilegais e são conhecidos por sua violência extrema e pela ameaça que representam para a sociedade.

A questão das armas

Como a política de facilitação da compra e posse de armas pelo governo Bolsonaro influiu na organização criminosa Primeiro Comando da Capital.

A política de liberação de armas provavelmente não teve um impacto direto significativo na organização criminosa Primeiro Comando da Capital no Brasil.

Embora o aumento da disponibilidade de armas possa ter contribuído para a escalada da violência em geral, o PCC tem uma estrutura sólida e fontes de financiamento diversificadas, incluindo o tráfico de drogas, extorsão e roubo de cargas, que permitem que a organização mantenha sua posição de poder.

Além disso, o PCC tem uma forte presença em presídios e uma ampla rede de contatos e aliados, o que dificulta a ação das autoridades na luta contra o crime organizado.

Onde a facção PCC consegue suas armas?

A fonte de armas da organização criminosa Primeiro Comando da Capital é controversa e não há informações precisas disponíveis a esse respeito.

Algumas fontes afirmam que as armas são adquiridas através de compra ilegal no mercado negro, enquanto outras afirmam que são trazidas de outros países através de contrabando.

Além disso, a falta de controle de armas no Brasil também pode contribuir para a disponibilidade de armas para o PCC.

A questão das drogas

A liberação do uso recreativo de drogas teria impacto nos negócios da organização criminosa PCC?

Não há uma resposta definitiva quanto ao impacto da legalização do uso recreativo de drogas sobre a organização criminosa PCC.

Alguns argumentam que a legalização poderia reduzir a demanda por drogas ilegais e, consequentemente, afetar os negócios do PCC.

Outros argumentam que a legalização não afetaria significativamente os negócios do PCC, já que eles se concentram em outros tipos de atividades criminosas, além da venda de drogas.

Além disso, é possível que o PCC simplesmente se adapte ao novo cenário e encontre novos meios de continuar suas atividades criminosas.

O combate às drogas aumenta o número de presos e é nos presídios que o PCC recruta seus integrantes. Qual é o resultado dessa equação?

O combate às drogas pode ter como consequência o aumento do número de prisões, uma vez que muitas das atividades ilegais relacionadas às drogas são consideradas crimes e puníveis com prisão.

Entretanto, a simples prisão de indivíduos envolvidos no tráfico de drogas não é suficiente para solucionar o problema.

O tráfico de drogas é um negócio ilegal que movimenta grandes quantidades de dinheiro e possui uma demanda constante por parte dos consumidores, o que leva a sua continuidade mesmo diante das ações de repressão por parte das autoridades.

A prisão em si não é suficiente para impedir que os indivíduos envolvidos no tráfico de drogas continuem a exercer suas atividades criminosas.

Nos presídios, muitos desses indivíduos têm a oportunidade de se associar a organizações criminosas, como o Primeiro Comando da Capital, em busca de proteção e benefícios, como acesso a drogas, telefones celulares e outros privilégios.

Além disso, as condições precárias das prisões, como superlotação, falta de higiene e violência, favorecem a proliferação dessas organizações criminosas.

Dessa forma, a equação resultante do aumento do número de presos devido ao combate às drogas pode favorecer a expansão de organizações criminosas dentro dos presídios, como o PCC, que podem se tornar mais poderosas e influentes.

Isso pode levar a uma maior dificuldade para o controle do crime organizado e a um aumento da violência tanto dentro como fora das prisões.

Portanto, é necessário pensar em estratégias que possam ir além da repressão e abordar outras questões, como prevenção, tratamento de dependentes químicos e políticas públicas de segurança mais eficazes, visando reduzir o poder do crime organizado e melhorar as condições das prisões.

Jovens e a facção PCC

Por que a organização criminosa Primeiro Comando da Capital desperta tanto interesse pelos jovens?

Não é possível afirmar de forma precisa por que a organização criminosa Primeiro Comando da Capital desperta tanto interesse entre jovens.

É possível que a atração seja resultado de uma combinação de fatores, como falta de oportunidades, falta de educação e esperança, bem como a busca por pertencimento, proteção e reconhecimento.

Além disso, a propaganda ou o discurso da organização pode ser atraente para algumas pessoas, mesmo que as ações dela sejam violentas e criminosas.

É importante destacar que participar de uma organização criminosa é perigoso e pode ter graves consequências para a vida e a liberdade de uma pessoa.

É comum, pelo menos entre as crianças e os jovens buscarem a presença e a proteção de colegas mais fortes e violentos, isso acontece também em relação aos jovens de periferia que se aproximam de criminosos, principalmente daqueles que pertencem a organizações criminosas reconheciddas, como é o caso do Primeiro Comando da Capital. Você pode explicar qual a razão e como essa realidade pode ser combatida?

O comportamento de buscar proteção e pertencimento a grupos mais fortes e violentos, como gangues ou organizações criminosas, é comum entre crianças e jovens que vivem em ambientes vulneráveis, como periferias urbanas e áreas de pobreza e exclusão social.

Existem várias razões para isso acontecer, mas algumas das principais incluem:

  • Necessidade de proteção: muitos jovens que vivem em áreas de violência e insegurança sentem que precisam de proteção contra ameaças reais ou percebidas. Ao se juntar a um grupo mais forte e violento, eles esperam estar mais seguros e protegidos.
  • Busca de identidade: muitos jovens que vivem em áreas de pobreza e exclusão social têm poucas oportunidades para desenvolver uma identidade positiva e se sentir valorizados pela sociedade. Ao se juntar a um grupo, eles podem encontrar uma identidade coletiva e se sentir mais importantes e relevantes.
  • Pressão social: a pressão dos pares pode ser muito forte entre crianças e jovens, especialmente em ambientes de pobreza e exclusão social. Ao se juntar a um grupo, eles podem se sentir mais aceitos e populares, mesmo que isso signifique envolver-se em atividades ilegais ou violentas.

Para combater essa realidade, é importante oferecer alternativas positivas para esses jovens, como programas de educação, esportes e atividades culturais.

Essas atividades podem ajudar a desenvolver habilidades, valores e identidades positivas, além de fornecer oportunidades para os jovens se conectarem com outras pessoas e comunidades fora do ambiente de violência e exclusão social.

Também é importante investir em políticas sociais que melhorem as condições de vida nas áreas vulneráveis, como acesso a educação de qualidade, saúde, habitação e empregos.

Isso pode ajudar a reduzir a pressão social e a necessidade de proteção entre os jovens, além de oferecer esperança e perspectivas de futuro.

Por fim, é fundamental combater a impunidade e a corrupção no sistema de justiça criminal e policial, para que os jovens percebam que a violência e o crime não são o caminho certo para alcançar justiça ou proteção.

Além disso, é preciso oferecer oportunidades de reintegração social para aqueles que já cometeram crimes, para que possam sair do ciclo de violência e criminalidade e ter uma segunda chance de construir uma vida positiva.

Sobre os documentos do PCC

Você conhece o Estatuto do PCC? O que você pode falar sobre ele?

O Estatuto do PCC é o conjunto de normas e regras internas da organização criminosa Primeiro Comando da Capital.

Embora não seja público, ele é conhecido por especialistas e investigadores como um documento que estabelece as diretrizes da organização e define as sanções para os membros que cometem infrações.

O Estatuto também descreve a hierarquia da organização e as funções de seus membros.

É importante destacar que a existência e o conteúdo do Estatuto do PCC são considerados ilegais e contrários aos valores e às leis do Estado brasileiro.

Você conhece a chamada “Cartilha de Conscientização da Família 1533”? O que pode me falar sobre ela?

A “Cartilha de Conscientização da Família 1533” é um documento divulgado pela organização criminosa Primeiro Comando da Capital com o objetivo de difundir sua ideologia e fortalecer o controle sobre seus membros.

A cartilha inclui uma série de regras e orientações sobre como os membros do PCC devem se comportar e se relacionar com a sociedade e com as autoridades.

Ela também aborda questões como a importância da disciplina e da obediência às regras da organização, a necessidade de proteção dos segredos da organização e a defesa da família dos membros.

É importante destacar que a cartilha é considerada ilegal e que seu conteúdo é condenado pela sociedade e pelas autoridades como uma ameaça à paz e à ordem pública.

Você conhece o chamado “Dicionário do PCC”? O que pode me falar sobre ele?

Sim, conheço o chamado “Dicionário do PCC”.

É uma lista de regras, códigos e procedimentos adotados pelo Primeiro Comando da Capital, organização criminosa brasileira.

Essa lista foi encontrada durante uma operação de busca e apreensão e foi considerada uma das principais fontes de informação para entender a estrutura e as ações da facção.

O “Dicionário”, como é conhecido, é visto como uma forma de controlar e manter a disciplina entre os integrantes da organização.

Pacificação do PCC

A organização criminosa Primeiro Comando da Capital afirma que sua política de pacificação derrubou a taxa de mortalidade.

Não é possível afirmar a veracidade dessa afirmação da organização criminosa Primeiro Comando da Capital.

Grupos criminosos frequentemente apresentam informações falsas ou distorcidas para justificar suas ações ilegais e violentas.

A melhor maneira de avaliar a segurança de uma região é consultar fontes confiáveis, como autoridades governamentais e agências de segurança.

A questão da situação prisional

Qual a razão pela qual o Primeiro Comando da Capital teve tanta facilidade para convencer os presos a entrarem para o grupo criminoso?

O Primeiro Comando da Capital teve sucesso em convencer muitos presos a se juntarem ao grupo criminoso devido a uma combinação de fatores, incluindo a falta de proteção e recursos para os presos, as condições precárias nas prisões brasileiras, e a violência frequente.

O PCC se apresentava como uma organização que fornecia proteção e apoio aos presos, incluindo ajuda financeira para suas famílias e representação em questões legais.

Além disso, o PCC oferecia uma estrutura de liderança e poder dentro da prisão, o que era atraente para muitos presos que sentiam que não tinham outras opções para lidar com a violência e as condições precárias nas prisões.

Adicionalmente, o PCC tem uma estrutura de comando e controle rigorosa e utiliza a violência e a ameaça de violência para intimidar os presos e manter a lealdade à organização.

Isso faz com que muitos presos se sintam compelidos a aderir ao PCC para proteger a si mesmos e suas famílias.

Em resumo, a combinação de falta de proteção e recursos para os presos, condições precárias nas prisões, e a oferta de proteção e apoio pelo PCC, juntamente com sua estrutura de poder e controle rigoroso, ajudou a explicar a sua capacidade de convencer muitos presos a se juntarem ao grupo criminoso.

Expansão do PCC

Em quais estados a organização criminosa Primeiro Comando da Capital tem tido maiores dificuldades de conseguir domínio? E por que razão?

O Primeiro Comando da Capital é uma organização criminosa de grande escala, com atuação em diversos estados brasileiros.

No entanto, é difícil determinar com precisão em quais estados a organização tem tido maiores dificuldades de estabelecer domínio, pois a atuação do grupo é frequentemente subterrânea e não há informações públicas confiáveis a esse respeito.

Alguns estados brasileiros têm implementado medidas de segurança rigorosas para enfrentar o PCC, incluindo a cooperação entre agências de segurança pública e a realização de operações especiais para prender líderes e membros do grupo criminoso.

Essas medidas podem ter dificultado a atuação do PCC nesses estados, mas não há evidências concretas de que a organização tenha sido completamente neutralizada em qualquer região do Brasil.

Em geral, a atuação do PCC é influenciada por uma série de fatores, incluindo a presença de outros grupos criminosos rivais, a capacidade das autoridades de segurança em combater o grupo, e a disponibilidade de recursos e proteção para os membros do PCC.

Em estados onde as autoridades de segurança são mais fortes e têm mais recursos, pode ser mais difícil para o PCC estabelecer e manter seu domínio.

Você disse que nos estados onde existe um sistema de segurança pública mais forte e com mais recursos a organização criminosa Primeiro Comando da Capital teria maiores dificuldades de crescer, no entanto, o Estado de São Paulo é o com mais recursos e com um forte aparato de Segurança Pública e foi justamente nesse estado que o PCC mais cresceu. Não parece incoerente a sua resposta?

Desculpe, eu cometi um erro na minha resposta anterior.

É verdade que o Estado de São Paulo, que tem um sistema de segurança pública forte e com muitos recursos, também foi um dos locais onde o Primeiro Comando da Capital cresceu mais rapidamente.

A presença de fortes sistemas de segurança pública não necessariamente impede o crescimento de grupos criminosos como o PCC, que são altamente organizados e têm uma estrutura de comando e controle sofisticada.

O crescimento do PCC em São Paulo e em outros estados pode ser atribuído a uma série de fatores, incluindo a corrupção dentro das instituições de segurança pública, a falta de acesso à justiça e à educação para populações vulneráveis, e a existência de um mercado para o tráfico de drogas e outros crimes.

A luta contra o PCC e outros grupos criminosos é uma tarefa complexa que exige uma abordagem integrada, que vá além da mera aplicação da lei.

É necessário abordar as causas subjacentes à criminalidade, incluindo a desigualdade social e econômica, a falta de oportunidades e a exclusão social, a fim de promover uma sociedade mais justa e segura.

Em qual nação da América do Sul a organização criminosa Primeiro Comando da Capital tem maior capacidade de ampliar seus negócios?

Não há informações disponíveis sobre em qual nação da América do Sul o Primeiro Comando da Capital tem a maior possibilidade de ampliar seus negócios.

O PCC é uma organização criminosa baseada no Brasil e suas atividades são principalmente concentradas no Brasil.

Embora o PCC tenha se expandido em outros países da América do Sul, a extensão e a intensidade dessas atividades variam amplamente.

A luta contra o PCC e outros grupos criminosos internacionais requer uma abordagem coordenada entre as nações envolvidas, incluindo a troca de informações e a cooperação no que diz respeito à investigação, perseguição e prevenção.

É importante destacar que a luta contra a criminalidade transnacional é uma tarefa complexa e que a resposta deve ser baseada em evidências e no respeito aos direitos humanos.

A facção PCC manda parar a briga entre as torcidas organizadas

Briga entre torcidas organizadas de futebol: a organização Primeiro Comando da Capital PCC 1533 ainda não usou a força que já possui.

Briga entre torcidas e a polícia

No claustrofóbico interior do vagão de metrô, meus olhos eram testemunhas involuntárias da dança violenta das torcidas rivais na plataforma da Linha Verde:

O concerto amargo de punhos e ofensas ressoava pelo compartimento, impondo seu silêncio brutal aos demais passageiros.

Jovens protagonistas de duas torcidas encenavam um espetáculo de brutalidade insana.

Os grupos rivais, equiparados em sua determinação feroz, trocavam golpes impiedosos, cada ação impulsionada pela única intenção de derrubar o adversário.

Porém, a chegada abrupta da polícia e dos seguranças do metrô, com o claro objetivo de dissipar o caos, causou uma guinada na narrativa.

Ao invés de findar o confronto, a presença das forças de segurança pareceu forjar uma inusitada aliança entre os grupos oponentes, que agora se voltavam contra os recém-chegados com uma ferocidade redobrada.

Os agentes da lei, originalmente destinados a enfrentar duas facções rivais, agora se viam diante de um sólido grupo hostil, determinado e unificado.

No confinamento do vagão de metrô, havia assistido a um tumulto de torcidas, agora era testemunha da insólita pacificação de eternos antagonistas e da sua aliança contra a autoridade estatal e suas forças coercitivas.

PCC: O Mandante por Trás das Torcidas Organizadas

Os tais “cidadãos respeitáveis” parecem estar presos em um ciclo de erros, sem tirar lições dos próprios deslizes.

Falharam em 1991, quando se mantiveram indiferentes aos confrontos mortais entre facções rivais dentro das prisões – o pavio que desencadeou o Massacre do Carandiru.

Erraram novamente em 1993, ao aplaudirem as decapitações no presídio do Piranhão – um estopim para a criação do Primeiro Comando da Capital (PCC).

O erro persiste na atualidade, onde a visão miópica falha em perceber que o PCC não apenas dita ordens às torcidas organizadas, mas que as torcidas organizadas são, na verdade, uma extensão do PCC.

Esta não é uma condenação moral ou crítica, mas a pura constatação de que as torcidas organizadas consistem, na maioria, de jovens marginalizados, prontos para se rebelar contra a opressão do Estado e suas forças de segurança.

Isso foi o que relatei em 2012, embora com um maior número de palavras. E é isso que reitero hoje:

Os supostos “cidadãos de bem” parecem ter uma dificuldade crônica em aprender com os próprios erros.

Artigo original publicado em 3 de abril de 2012:

Arthur Conan Doyle e a briga entre torcidas

Arthur Conan Doyle me alertou nos idos de 1993 sobre algo que estava me passando despercebido — ele me acusa de ser muito pouco observador.

Ao assistir pela TV presos jogando futebol com a cabeça de outros presos em um presídio do interior de São Paulo eu fiquei abismado!

Em 31 de agosto de 1993 no Piranhão (Casa de Custódia de Taubaté) jogadores do time “Partido do Crime da Capital — PCC” decapitaram os adversários…

… e foi assim, sem jogadores vivos, que o “Partido Caipira” foi eliminado do campeonato daquele ano e o Brasil nunca mais foi o mesmo.

Como quase todas as pessoas, fiquei revoltado com aquela loucura, mas Arthur que assistia ao meu lado não!

Ele ficou ali, sem falar nada como se nada tivesse acontecido.

Ele viu em 1933 o que eu só vejo hoje

Aceito que não é o gênio que eu acho que é, e sei que cometeu muitos erros, mas ainda acho que ele é um gênio.

Portanto, entenderei as restrições que você possa colocar, mas você não tem como negar que ele vê coisas antes das outras pessoas.

Naquela noite histórica de 31 de agosto de 1993, quando finalmente desliguei a televisão, Arthur simplesmente disse:

O mundo está cheio de coisas óbvias, que ninguém, em momento algum, observa! E aí está uma delas.

Eu não vi nada de oculto por trás do horror que é  um jogo de futebol que termina em sangue! — Arthur às vezes fala merda.

Juntando os pontos

Resolvi dar uma desculpa e ir embora, Arthur é que era a visita em minha casa e não parecia que iria embora tão cedo!

No entanto, passados anos, vejo que ele viu o que eu não vi.

Em dezembro de 2010 quando outra revolução política começou em uma briga de futebol e então vi o óbvio que Arthur viu em 1993.

A Primavera Árabe: regra, não foi exceção

Rodrigo Vianna lembra que as torcidas organizadas surgiram na América Latina nos anos 70 e se enraizaram na sociedade.

Esses grupos sociais são compostos na maioria por jovens na faixa dos 20 aos 30 anos de idade.

Meu amigo dizia que “ao eliminar o impossível, o que sobraria, por mais incrível que parecesse seria a verdade”, então, jogos de futebol tem um grande poder revolucionário.

Jovens, futebol, Piranhão e revolução

Geleião tinha 32 anos quando no dia do jogo no Piranhão. Marcola que não estava no jogo mas participou do movimento tinha 25 anos.

Pode se dizer que os fundadores do PCC foram os oito integrantes do time de futebol e todos jovens na faixa dos 20 aos 30:

  • Misael Aparecido da Silva, o Misa;
  • Wander Eduardo Ferreira, o Eduardo Cara Gorda;
  • Antonio Carlos Roberto da Paixão, o Paixão;
  • Isaías Moreira do Nascimento, o Isaías Esquisito;
  • Ademar dos Santos, o Dafé;
  • Antônio Carlos dos Santos, o Bicho Feio;
  • César Augusto Roris da Silva, o Cesinha; e
  • José Márcio Felício, o Geleião.

Todos, além de jovens, viviam isolados dentro do mundo que eles mesmos construíram por terem sido levados pela sociedade a criar.

Assim, foram os fundadores do Primeiro Comando da Capital, e assim é com os jovens das torcidas organizadas hoje.

PCC nascido do sangue no Piranhão

Faltou  imaginação à mim quando houve o banho de sangue no Piranhão, ou eu teria visto o potencial de tudo o que estava começando.

Olhar apenas na superfície me impediu de ver que naquele momento nascia a maior organização criminosa da América Latina, mas Arthur viu.

A falta de imaginação nos transforma em bichos que apenas observam e agem, sem se questionar e perceber as consequências do que vemos ou fazemos.

Assim, em 1991, policiais militares de São Paulo com idade entre 20 e 30 anos mataram 111 no Carandiru, plantando as sementes da facção PCC.

Assim, em 1993, criminosos do Piranhão com idade entre 20 e 30 anos decapitaram um inimigo, regando com sangue as sementes da facção PCC.

Assim, em 2010, jovens egípcios com idade entre 20 e 30 anos se revoltam contra o sistema político opressor, iniciando a Primavera Árabe.

Assim, hoje ao proibir briga entre as torcidas organizadas a organização criminosa está plantando para o futuro.

O PCC, os jovens e seu espírito revolucionário

Lá assim como aqui as torcidas organizadas e as organizações criminosas tem em sua maioria jovens  com até de vinte e cinco anos de idade.

Jovens de periferia que contestam a força repressora do Estado e sua polícia, que desprezam a corrupção política e a exclusão social.

Arthur não estava olhando para mim, sorte, pois detesto quando ele percebe que eu fico sem argumentos e não tenho como refutá-lo.

Sem dúvida, tanto o Primeiro Comando da Capital, quanto às torcidas organizadas tem o mesmo perfil: jovens entre 20 e 30 anos da periferia.

PCC e as torcidas organizadas

Haveria razão para que a maior organização criminosa da América Latina se infiltrasse nas torcidas?

Optei não mais conversar com Arthur a este respeito, pois sei que ele sempre diz que é um erro terrível teorizar antes de termos informação.

Principalmente por que o homem tem essa característica, a de se achar especialista em tudo, quando na realidade sua especialidade é apenas a omnisciência.

O tempo passou e agora devo novamente procurar Arthur e me desculpar, pois o respeitado jornalista Ricardo Perrone garantiu que o grupo criminoso PCC repreendeu a Gaviões da Fiel e a Mancha Verde pela morte dos dois palmeirenses, o que confirma a influência da facção sobre as organizadas.

A pacificação do PCC nas ruas

Aqui em Itu, por muito tempo, a Avenida da Paz Universal esteve em paz graças a uma determinação dos traficantes ligados ao PCC para que não houvesse armas, brigas ou mortes, pois chamariam a atenção da polícia, criando situações de confronto que não interessavam aos negócios.

Ao falar hoje com meu amigo ele me explicou o último ponto de sua linha de raciocínio:

A razão. Ela não existe. Não existe razão para que o PCC influencie e domine as torcidas organizadas, mas ela existe pela própria natureza das duas culturas: a conta-cultura criminosa difundida pelas facções, e a cultura do futebol.

Ambas acéfalas, existem lideranças, mas sua base se move por vontade própria de modo pouco estruturado.

A tentativa das mídias sociais como a TV e o rádio de criar um clima familiar na torcida, é artificial.

Campos de futebol é o lugar onde milhares de cidadãos gritam “Filha da Puta Vai Se Fudê” e quebram as amarras sociais.

A facção ainda não optou por usar a força que já possui:

O próximo levante da facção criminosa, ao contrário do que se espera, deverá ocorrer usando esta reserva poderosa e inesperada, não para derrubar o governo, mas para conquistar ainda mais espaço.

Veremos duas torcidas brigando e quando houver intervenção policial se unirem contra o inimigo comum: a polícia.

Ao chegar a este ponto, razões justas serão postas: a excessiva repressão policial, corrupção na política e no esporte, desigualdade social…

O governo negará que as facções criminosas determinaram o fim das brigas, mas por trás das câmeras lhes darão mais regalias.

Os policiais serão punidos como bodes expiatórios.

As mídias sociais, todas elas, faturam horrores com o caso, e a população ficará entretida por algum tempo.

Guerra entre facções criminosas e a taxa de homicídios

A guerra entre facções criminosas é a principal razão da elevada taxa de homicídio em toda a América Latina segundo levantamento do Insight Crime.

Guerra entre facções criminosas volta a São Paulo

Com o governador Tarcísio de Freitas, a guerra entre facções criminosas volta a assombrar o  Estado de São Paulo.

São Paulo fechará 2022 com o mais baixo índice de homicídio do Brasil, aproximadamente 5,2 para cada 100.000 habitantes.

Segundo levantamento do site Insight Crime, São Paulo, se fosse um país, seria tão seguro quanto o Chile e a Argentina com índices: 4,6.

A exceção do Suriname que não possui grupos de crimes organizados expressivos, todas as outras nações sofreram com a guerra entre organizações criminosas.

Em pouco menos de um mês de governo Tarcísio de Freitas as milícias tentam o domino áreas pacificadas pelo Primeiro Comando da Capital.

A tendência para 2023 será o ressurgimento da guerra entre facções criminosas  com o aumento da taxa de homicídios que será justificada como combate ao crime.

Ataques em 2006 do PCC pouparam 25.000 vidas

A facção PCC e guerra entre facções criminosas

Em 2021 o Estado do Amapá foi assolado por uma guerra onde o Primeiro Comando da Capital lutou contra vários grupos criminosos locais.

No entanto, em 2022 a guerra terminou, sobrando poucos focos de resistência, o que derrubou o índice em 34%.

Já em Rondônia, onde o PCC e o Comando Vermelho (CV) disputam a rota do tráfico da Bolívia, houve um aumento de 29% nos homicídios.

PCC não derrubou a taxa de homicídio em São Paulo

A guerra entre as facções criminosas do PCC no Paraguai e na Bolívia

Na Bolívia houveram vários assassinatos na Guerra entre o PCC e o CV pelo domínio das rotas que levam as plantações bolivianas de coca.

A província de Santa Cruz é essencial para quem quer garantir as rotas de cocaína do Brasil ou Paraguai da Bolívia e do Peru.

No Paraguai, a disputa entre o PCC e o Clã Rotela pelo controle da rota de tráfico do Amambay que alimenta a Rota Caipira deixou um rastro de corpos.

Traduzido, editado e adaptado para este site do artigo “InSight Crime’s 2022 Homicide Round-Up” de Peter Appleby, Chris Dalby, Sean Doherty, Scott Mistler-Ferguson, e Henry Shuldiner.

A taxa de homicídios no Brasil em 2022 é impulsionada pela guerra entre facções criminosas

Brasil: 18,8 por 100.000* (Pop. 214.326.223)

Nos primeiros nove meses de 2022, o Brasil teve uma leve queda de 3% nos homicídios em relação a 2021, com 30.187 homicídios.

A expectativa era terminar 2022 com 40.000 homicídios, marcando uma ligeira queda geral em relação aos 41.069 registrados em 2021 pelo mesmo índice.

Guerra entre facções criminosas como causa

A violência é uma instituição tão natural como a própria vida humana. Decorre do nosso instinto de sobrevivência, sendo o grande motivo para o homem ter dominado a natureza. Mas essa afirmação não pretende trazer glamour à violência.

Talvez no último estágio da existência humana, a evolução definitiva seja exatamente vencer o instinto natural que nos propala a nos destruirmos mutuamente.

Conexão Teresina: uma crônica sobre a atuação do PCC no Piauí

O nordeste do Brasil, que há muito é um epicentro da violência da guerra entre grupos criminosos que buscam controlar as rotas do narcotráfico para a Europa, registrou uma queda de 5% nos homicídios.

A Bahia, o maior estado da região, liderou o ranking, mas também teve uma queda geral de 11%, talvez devido aos investimentos em segurança pública.

O Amapá, um pequeno estado do norte, teve uma queda de 34% nos homicídios, provavelmente devido a uma queda natural na violência após um 2021 particularmente sangrento, quando grandes facções criminosas, incluindo o Primeiro Comando da Capital (PCC) lutaram pelo controle do tráfico de drogas contra vários grupos criminosos locais.

Rondônia, estado que faz fronteira com a Bolívia, registrou um aumento de 29% nos homicídios, o maior do país por estar no centro da disputa entre o PCC e seu arquirrival cariocas, o Comando Vermelho (Comando Vermelho – CV), pelo controle da rota hiper lucrativa da cocaína Bolívia-Brasil.

Embora as facções do tráfico de drogas possam ter impulsionado grande parte da violência, a polícia do Brasil, notoriamente ágil no gatilho, também contribuiu.

Enquanto no primeiro semestre de 2022 as mortes causadas pela polícia caíram, milhares de brasileiros continuam sendo mortos pelas forças de segurança.

Em 2021, 84% desses assassinatos cometidos por policiais foram direcionados a negros.

Taxa de homicído Brasil de 1981 à 2021

A polícia e a chacina de jovens negros e pobres

Resumo de Homicídios de 2022 da InSight Crime

Países da América Latina e do Caribe continuaram a registrar altas taxas de homicídios em 2022.

À medida que a produção de cocaína atingiu novos patamares, a fragmentação das gangues continuou e o fluxo de armas na região se agravou.

A situação no Equador foi absolutamente catastrófica.

Quantidades históricas de cocaína entrando no país alimentaram a violência, com assassinatos disparando à medida que os grupos criminosos atacavam funcionários judiciais e matavam policiais em taxas recordes.

Essa cocaína veio em grande parte da Colômbia, onde o recém-empossado presidente Gustavo Petro prometeu se afastar da guerra contra as drogas em favor dos esforços para alcançar uma “Paz Total” com os grupos rebeldes e criminosos do país.

A mudança da estratégia de combate aos grupos criminosos implementada pelo novo governo colombiano, até agora, porém, os níveis de violência permaneceram estagnados.

Em El Salvador, uma repressão decisiva às organizações criminosas reduziu enormemente a taxa de homicídios, embora à custa de supostos abusos sistemáticos dos direitos humanos.

No Haiti, uma quase total falta de capacidade política permitiu que a violência aumentasse, enquanto os bandos criminais paralisavam a capital do país, Port-au-Prince.

O Caribe se tornou o foco de assassinatos da região

A taxa de homicídios da Jamaica aumentou ainda mais, ainda assim o tráfico de armas continuou, mesmo os criminosos já estando fortemente armados.

As Ilhas Turks e Caicos provaram ser o país mais mortal da região per capita, pois os assassinatos mais que dobraram.

Em 2022 o InSight Crime incluiu nações e territórios menores do Caribe, muitos dos quais tiveram um aumento acentuado nos assassinatos.

Embora cientes de suas populações comparativamente pequenas e números de homicídios, nós os incluímos no ranking abaixo para mostrar como os padrões de violência estão afetando toda a região.

Ilhas Turks e Caicos: 77,6 por 100.000 (Pop. 45.114)

Uma onda de violência atingiu as pequenas ilhas Turks e Caicos em 2022, segundo estatísticas oficiais do governo.

Embora 35 assassinatos possam parecer pouco motivo de preocupação, representam um salto de 150% em relação aos 14 assassinatos ocorridos em 2021 em um país com uma população total de pouco mais de 45.000 habitantes.

Muitos dos homicídios se concentraram no último terço do ano, com 21 homicídios ocorridos entre 3 de setembro e 8 de novembro, culminando com um triplo homicídio em 1º de novembro. ilha mais populosa.

Guerra entre facções Criminosas como causa

Embora os motivos para o aumento da violência permaneçam incertos, o chefe de estado nomeado pelo Reino Unido, Nigel Dakin, disse em um post no Instagram que os grupos criminosos jamaicanos estão “tentando remover toda a competição criminosa no território” usando “níveis sem precedentes de violência direcionada”.

Ele culpou a proximidade das ilhas com vizinhos instáveis “inundados de armas e drogas… onde os criminosos aparentemente conseguem se mover facilmente por toda a região”.

Jamaica: 52,9 por 100.000 (Pop. 2.827.695)

Pela primeira vez em três anos, a ilha caribenha não liderou as tabelas regionais de taxas de homicídios.

Infelizmente, isso tem menos a ver com o sucesso em erradicar a própria violência na Jamaica e mais a ver com taxas terrivelmente altas testemunhadas em outras partes do Caribe.

A Força Policial da Jamaica (JCF) registrou 1.498 assassinatos em 2022, 24 mortos a mais que no ano anterior.

Esse resultado coloca a taxa de homicídios da Jamaica em quase 53 mortos por 100.000, uma alta não vista desde 2017.

Vários fatores influenciam a violência implacável da Jamaica e a aparente incapacidade do governo de detê-la.

O tráfico de armas é desenfreado no país insular, com armas pequenas dos EUA inundando o mercado.

Em fevereiro, o primeiro-ministro Andrew Holness reciclou uma estratégia familiar de reprimir o porte ilegal de armas.

À medida que 2022 chegava ao fim, as ações do governo não reduziram os assassinatos na Jamaica.

Juntamente com as consequências crescentes para os proprietários de armas ilegais, o governo recorreu a outra abordagem testada e comprovada e geralmente nada assombrosa: decretar repetidamente estados de emergência em grande parte da ilha.

Aparentemente sem respostas, a Jamaica recorreu publicamente às Nações Unidas em busca de assistência para reduzir o tráfico de armas no país.

De forma desencorajadora, as apreensões recordes de armas e munições parecem ter feito pouco para virar a maré.

Santa Lúcia: 42,3 por 100.000 (Pop. 179.651)

Um total de 76 assassinatos pode não parecer muito.

Mas para Santa Lúcia, com uma população de pouco menos de 180.000 pessoas, isso o coloca perto do topo do ranking regional.

Em 2021, Santa Lúcia registrou 74 assassinatos, um recorde para a época.

O aumento em 2022 para 76 assassinatos significa que o país quebrou seu recorde de homicídios pelo segundo ano consecutivo e levou a pedidos do Partido Unido dos Trabalhadores para que o primeiro-ministro Philip J. Pierre renunciasse ao cargo de ministro da Segurança Nacional.

Guerra entre facções Criminosas como causa

Ao se tornar um centro de trânsito para a cocaína sul-americana para os EUA e Europa, as gangues locais passaram a disputar a hegemonia criminosa.

Isso foi agravado por um influxo de armas americanas: um homem da Pensilvânia preso em março passado por traficar quase 40 armas para Santa Lúcia.

Funcionários eleitos condenaram a “anarquia em nosso país” e prometeram “penalidades draconianas”, mas poucos detalhes foram divulgados.

Venezuela: 40,4 por 100.000 (Pop. 28.199.867)

As mortes violentas na Venezuela permaneceram relativamente estáveis em 2022 após vários anos de declínio, com a taxa geral caindo apenas 0,5%.

O número inclui homicídios comprovados, homicídios cometidos por policiais, mortes ainda sob investigação e desaparecimentos.

Se os desaparecimentos não forem incluídos no cálculo, a taxa geral cai para 35,3 mortos por 100.000 habitantes.

Houve um total de 10.737 mortes violentas em 2022 ou uma média de 29 por dia.

Cinco dos sete principais estados com as taxas mais altas estão localizados na zona centro-norte do país.

O crime organizado venezuelanos

Entre eles estão Aragua, lar da gangue local mais notória da Venezuela, Tren de Aragua, Miranda, onde gangues ultravioletas dedicadas a sequestros e extorsões tomaram conta de faixas de território, e Caracas.

Grande parte da violência está sendo conduzida não pelos maiores grupos do crime organizado, mas por pequenas gangues de rua predatórias.

A dolarização de fato do país criou grandes oportunidades para as gangues, pois indivíduos e empresas usam dólares americanos para transações em dinheiro, mas não podem depositá-los em contas bancárias nacionais, deixando-os na posse de grandes quantidades de dinheiro que os tornam alvos de roubos.

Das mais de 10.000 mortes violentas registradas no ano passado, aproximadamente 13% resultaram de intervenções policiais.

Entre a violência das gangues e da polícia

Essa alta taxa provavelmente está ligada à violência indiscriminada empregada em operações de segurança na Venezuela, onde a polícia se tornou conhecida por cometer execuções extrajudiciais, conforme documentado por agências internacionais de direitos humanos.

Três dos cinco estados com as maiores taxas de mortes resultantes de intervenções policiais, Aragua, Miranda e Guárico, tiveram operações de segurança em grande escala em 2022, acompanhadas por denúncias generalizadas de abusos de direitos humanos, incluindo execuções extrajudiciais.

Além disso, houve 1.370 denúncias de desaparecimentos em 2022.

Algumas áreas da Venezuela tornaram-se notórias por desaparecimentos ligados a atividades criminosas, sobretudo a região mineradora de Bolívar, onde gangues fortemente armadas, conhecidas como sindicatos, disputam o controle do comércio de ouro.

Esses grupos se tornaram notórios pelo desaparecimento de suas vítimas, como mostra a descoberta de várias valas comuns no final de 2022.

São Vicente e Granadinas: 40,3 por 100.000 (Pop. 104.332)

As razões para a alta taxa de homicídios em São Vicente e Granadinas em 2022 não são tão diferentes dos tradicionais focos de violência da região:

Muito disso está entrelaçado com o comércio de cocaína e outros derivados com retaliação.

primeiro-ministro Ralph Gonsalves

Em novembro, as forças de segurança destruíram 135 quilos de cocaína e 18 toneladas de maconha apreendidas nos últimos três anos.

Traficantes de Trinidad e Tobago, que enfrenta um grande problema de violência causada pelas drogas, estão por trás de algumas dessas importações de cocaína.

A maioria dos mortos são por armas de fogo

O governo trinitário-tobagenses está reunindo aliados regionais para impedir que as armas cheguem dos Estados Unidos.

Os EUA precisam fazer algo sobre … o fácil acesso a armas e a fácil exportação de armas. Eles têm os recursos para nos ajudar nisso.

primeiro-ministro Ralph Gonsalves

Poucos cidadãos e empresas acreditam que a polícia tenha condições de investigar e combater os criminosos e menos da metade dos crimes são denunciados.

Trinidad e Tobago: 39,4 por 100.000 (Pop. 1.525.663)

A taxa de homicídios de Trinidad e Tobago saltou mais de 22% em 2022 em relação a 2021.

Após um ano de derramamento de sangue em que os grupos criminosos da duas ilhas ganharam notoriedade em todo o mundo.

Dados do Serviço de Polícia de Trinidad e Tobago mostram que 502 assassinatos foram cometidos no país entre janeiro e outubro.

Policiais disseram ao InSight Crime que outros 47 homicídios foram cometidos em novembro e mais 52 em dezembro, elevando o total de 2022 para 601.

Este é o maior número de assassinatos no país, muito acima dos 550 registrados em 2008.

As várias razões para o aumento da violência

O assassinato de Anthony Boney, líder de um crupo criminoso muçulmano, quebrou o equilíbrio que havia no mundo do crime trinitário-tobagenses.

O resultado foi a fragmentação caótica das grandes organizações criminosas e grupos menores e muito mais violentos.

Essas facções estão lutando pelo controle das múltiplas economias criminosas do país, incluindo contrabando humano, extração de pedreiras e roubo organizado.

Cerca de 12 mil armas circulam no país

A falta de confiança na polícia é reconhecida por ela mesma, principalmente entre a população mais pobre.

Honduras: 35,8 por 100.000 (Pop. 10.278.345)

Honduras continua como o país mais mortal da América Central em 2022, com uma taxa de homicídios de 35,8 mortos por 100.000 pessoas.

Apesar do resultado, o país conseguiu reduzir os homicídios em 12,7% em relação a 2021, o menor número de homicídios desde 2006.

O presidente Xiomara Castro gerou polêmica perto do final do ano ao implementar uma repressão anti-gangues que prendeu 652 supostos membros de gangues e desmantelou 38 gangues.

Muitas das mortes violentas em Honduras são atribuídas a grupos criminosos conhecidos por tráfico de drogas e extorsão.

O setor de transporte de Honduras tem sido particularmente perseguido por extorsão e violência subsequente, com pelo menos 60 trabalhadores perdendo suas vidas em 2022.

Embora o estado de exceção tenha como alvo esses grupos criminosos, é muito cedo para dizer como a estratégia afetará os homicídios do país.

Bahamas: 32 por 100.000 (Pop. 407.906)

As Bahamas terminaram 2022 com 128 assassinatos, quando o comissário de polícia Clayton Fernander, que esperava terminar o ano com menos de 100 homicídios.

Guerra entre facções Criminosas como causa

O país continua como centro de tráfico de cocaína, e em março, o governo admitiu que há disputa pelo narcotráfico na ilha de New Providence.

Chegando em 2023, o governo do primeiro-ministro Philip Davis está enfrentando uma reação negativa.

A oposição baamesa critica a política pública pelo aumento dos crimes: tráfico de drogas, e assaltos e homicídios com o uso de armas de fogo.

O governo por sua vez afirma que são criminosos libertados sob fiança que voltaram a cometer crimes.

Colômbia: 26,1 por 100.000 (Pop. 51.516.562)

Os 13.442 homicídios registrados em 2022 pela Polícia Nacional da Colômbia deram ao país uma taxa de homicídios de 26,1 por 100.000 no ano, ligeiramente abaixo dos 26,8 por 100.000 em 2021.

Talvez não surpreendentemente, os homicídios foram maiores em regiões onde predominam os grupos armados, de acordo com um relatório da Universidad Externado de Colombia.

Os departamentos de Arauca, Putumayo, Cauca, Chocó, Guaviare e Valle del Cauca tiveram a maior concentração de homicídios.

Guerra entre facções Criminosas como causa

A maioria desses departamentos são corredores estratégicos do narcotráfico sobre os quais grupos criminosos lutam pelo controle e pelas receitas do crime.

Desde o início de 2022, o Exército de Libertação Nacional (Ejército de Liberación Nacional – ELN) e grupos mafiosos das ex-FARC travam uma sangrenta batalha pelo controle de Arauca, no sul do país, ao longo da fronteira com o Equador, Peru e Brasil.

Os assassinatos de líderes sociais continuaram inabaláveis em 2022.

Até dezembro do ano passado, 33 líderes sociais foram assassinados em Nariño, enquanto outros 25 foram mortos em Cauca.

O ELN e a ex-máfia das FARC estão presentes em ambos os departamentos, assim como as Autodefesas Gaitanistas da Colômbia (Autodefesas Gaitanistas de Colombia – AGC), também conhecidas como Urabeños ou Clã do Golfo (Clan del Golfo).

O presidente Gustavo Petro chegou ao poder com ambições de “Paz Total”.

Vários grandes grupos armados assinaram um cessar-fogo bilateral que deve vigorar nos primeiros seis meses de 2023, embora o ELN seja uma ausência notável.

Resta saber como a medida vai se desenrolar.

Equador: 25,9 por 100.000 (Pop. 17.797.737)

Pelo segundo ano consecutivo, o Equador teve uma das taxas de homicídios que mais cresceram na região.

Guerra entre facções Criminosas como causa

Em 2022, o país foi dilacerado por grupos criminosos que brigavam por quantidades impressionantes de cocaína vindas da Colômbia e registraram 4.603 assassinatos.

Isso representa um aumento de algo em torno de 82% e 86,3% em relação ao ano anterior, de acordo com a base de cálculos.

Os especialistas atribuem a culpa diretamente à violência associada ao narcotráfico. Isso é amplamente correto.

Choneros e Lobos na disputa

Duas organizações criminosas, Choneros e Lobos, reuniram em torno de si aliados para disputarem o mercado criminoso com extrema violência.

]O foco é dominar áreas de controle da infraestrutura do narcotráfico, incluindo o porto marítimo de Guayaquil, o epicentro da violência no país, e Esmeraldas, uma província que faz fronteira com a Colômbia e é um centro de trânsito de drogas.

Em Esmeraldas os assassinatos atingiram um novo recorde, com corpos sendo deixados pendurados em pontes e assassinatos em larga escala ocorreram em todo o país.

Grupos menores, mas altamente organizados, estão aparecendo agora, esculpindo brutalmente sua própria fatia do bolo do narcotráfico.

O tráfico de armas está aumentando constantemente, com armas semiautomáticas, revólveres e munições inundando o país, principalmente dos Estados Unidos e do Peru.

E a influência do crime organizado mexicano e colombiano apenas estimula ainda mais a violência.

México: 25,2 por 100.000 (Pop. 126.705.138)

Com uma ligeira queda nos homicídios em 2022, os homicídios no México ultrapassaram 30.000 pelo quinto ano consecutivo.

No ano passado, ocorreram menos 30.968 homicídios, ou 85 por dia, além de 947 feminicídios — valores são calculados separadamente.

Somando 31.915 assassinatos, 25,2 por 100.000 habitantes, uma ligeira queda em relação à taxa de 2021.

Quase 50% desses assassinatos se concentraram nos mesmos seis estados de 2021: Guanajuato, com 3.260, Baja California, Chihuahua, Jalisco, Michoacán, o estado do México.

Guerra entre facções criminosas como causa

Há muito tempo os estados fronteiriços de Baja California e Chihuahua convivem com a violência dos grupos do crime organizado que disputam o controle das rotas do narcotráfico para os Estados Unidos.

Já Jalisco está localizada ao norte de Michoacán e Colima, cujos portos – Lázaro Cárdenas e Manzanillo – são pontos de chegada de precursores químicos da Ásia necessários para a produção de drogas sintéticas.

Belize: 25 por 100.000 (Pop. 400.031)

Belize encerrou 2022 com 113 assassinatos, uma queda em relação aos 125 em 2021, para uma taxa de homicídios de 25 por 100.000 pessoas.

O comissário de polícia Chester Williams disse à mídia local que o país agora saiu da lista dos dez países mais assassinos do mundo.

No entanto, o governo americano alerta que muitos dos crimes violentos em Belize ocorreram no lado sul de Belize e estão “relacionados a gangues”.

Os crimes violentos, incluindo assaltos à mão armada, são “comuns mesmo durante o dia e em áreas turísticas”.

Porto Rico: 17,4 por 100.000 (Pop. 3.263.584)

O território dos EUA viu uma queda bem-vinda na violência em 2022, registrando 567 homicídios, ante 616 em 2021, segundo a mídia local.

A disponibilidade de armas de fogo continua sendo um problema para as autoridades de Porto Rico, com crimes relacionados a armas permanecendo muito mais altos do que nos estados dos EUA e em outros territórios.

Traficantes ilegais de armas trouxeram milhares de armas para o país, enquanto a Lei de Armas de Porto Rico de 2020 tornou a obtenção e o porte legal de uma arma de fogo muito mais fácil.

E o tráfico de cocaína, responsável por grande parte da violência no território, continuou em ritmo acelerado com apreensões maciças feitas regularmente em 2022.

Guatemala: 17,3 por 100.000 (Pop. 17.109.746)

Os 3.004 homicídios registrados na Guatemala em 2022 deram ao país uma taxa de homicídios de 17,3 por 100.000 habitantes.

Foi um aumento de 5,7% em relação aos 2.843 homicídios registrados no ano passado.

De acordo com a ONG de Direitos Humanos, Grupo de Apoio Mutuo – GAM, foram 3.609 assassinatos, houve um aumento de 7% nos homicídios entre janeiro e outubro de 2022.

As descobertas do GAM também revelaram um salto preocupante no número de vítimas de assassinato que apresentaram sinais de tortura, de 104 em todo o ano de 2021 para 164 nos primeiros 10 meses de 2022.

Guerra entre facções criminosas como causa

A atividade criminosa provavelmente está por trás desses aumentos.

Em outubro, pelo menos sete pessoas foram mortas a tiros na piscina de um hotel em El Semillero, na costa do Pacífico da Guatemala, e o crime estaria relacionado ao Barrio 18.

Também em outubro, cinco nicaraguenses foram encontrados mortos com as mãos amarradas nas suas costas no município de Atescatempa.

Barbados: 15,3 por 100.000 (Pop. 281.200)

Assim como em seus vizinhos caribenhos, a pronta disponibilidade de armas de fogo foi responsabilizada por um aumento acentuado nos assassinatos em Barbados em 2022.

Dos 43 homicídios registrados, mais de 75% foram cometidos com armas de fogo.

Isso apesar da polícia de Barbados alegar sucesso em uma campanha contínua de recuperação de armas, com 75 armas apreendidas até setembro de 2022.

Isso foi superior às 36 recuperadas em todo o ano de 2021.

Um aumento persistente nos assassinatos, apesar de mais armas serem coletadas, só pode significar uma coisa: muitas armas estão entrando em Barbados.

Em junho, três homens americanos foram condenados por enviar pelo menos 30 armas de fogo para Barbados por meio de serviços de correio.

Em setembro, o comissário de polícia de Barbados confirmou que o Escritório de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF) dos EUA estava trabalhando com Barbados para conter o fluxo de armas.

Mas há uma confusão persistente sobre o cenário do crime organizado do país, apesar de seu tamanho modesto.

Em uma entrevista para a televisão em novembro, o membro do gabinete de prevenção ao crime, Corey Lane, afirmou que havia apenas duas gangues em Barbados e não 52, como afirmam algumas fontes não especificadas.

Guiana: 15,1 por 100.000 (Pop. 804.567)

Foram registrados 122 assassinatos até meados de dezembro de 2022, a menor contagem de homicídios em uma década.

No entanto, armas de fogo ilegais continuam a entrar no país vindas dos Estados Unidos e do Brasil, aumentando a violência no país.

A Guiana também está lidando com a disseminação da mineração ilegal, já que a invasão de gangues venezuelanas ameaça aumentar a violência.

Costa Rica: 12,2 por 100.000 (Pop. 5.153.957)

A Costa Rica viveu seu ano mais sangrento da história em 2022, com 627 homicídios cometidos, 53 assassinatos a mais em relação a 2021.

Desde 2017 o país não ultrapassava 600 assassinatos em um mesmo ano.

O presidente Rodrigo Chaves reconheceu o problema, admitindo que a violência estava “saindo do controle”.

Limón na costa atlântica é a segunda província mais populosa, mas foi a com mais homicídios: 167 — um quarto do total nacional.

A província de Limón teve uma taxa de homicídios de 35,9 por 100.000 habitantes, um ligeiro aumento em relação ao ano anterior.

Guerra entre facções criminosas como causa

Os assassinatos estão ligados ao aumento da luta pelo controle do porto de Limón, pelos grupos criminosos que buscam exportar cocaína para a Europa.

Até 90% das mortes na província foram relatadas como ligadas ao crime organizado, disse o Departamento de Investigação Judicial (OIJ).]

República Dominicana: 11,9 por 100.000* (Pop. 11.117.873)

A República Dominicana registrou 661 homicídios nos primeiros seis meses de 2022,

Extrapolando esses números para um período de 12 meses, encerrou o ano com uma taxa de homicídios de 11,9 por 100.000 habitantes.

Se confirmado, isso representaria um aumento significativo de 9,2 homicídios por 100.000 em 2020 e 10,6 por 100.000 em 2021.

Apesar desse aumento, o país registra menos homicídios que muitos países caribenhos, apesar de ser o principal país de trânsito de cocaína na região.

Várias fontes disseram que a atitude de negócios em primeiro lugar do submundo da ilha pode fornecer uma explicação para essa paz relativa.

Apenas 8,8% dos assassinatos estavam diretamente ligados ao tráfico de drogas ou ao uso de drogas. A maioria dos assassinatos são crimes passionais.

Panamá: 11,5 por 100.000 (Pop. 4.351.267)

O Panamá conseguiu reverter sua tendência recente de aumentar gradualmente os assassinatos.

Os 501 homicídios registrados em 2022 representam uma queda de 8,9% no número de homicídios em relação aos 550 de 2021.

Antes de 2022, a taxa de homicídios do país vinha subindo lentamente, de 9,6 por 100.000 em 2018 para 12,8 por 100.000 em 2021.

Enquanto alguns países continuaram a adotar uma abordagem militarizada para combater o crime, a polícia do Panamá adotou uma estratégia diferente.

O diretor da polícia nacional do Panamá, John Dornheim, destacou a importância de a aplicação da lei incorporar soluções tecnológicas e contar com informações.

“Você não persegue o crime com músculos, persegue-o com inteligência”

John Dornheim

A decisão parece estar valendo a pena, com um quarto das acusações contra suspeitos de homicídio ocorrendo graças à vigilância por vídeo.

Ainda existem áreas problemáticas

Com cerca de 7% da população, a província costeira de Colón foi responsável por 21% dos assassinatos — taxa de homicídios próxima à de Honduras.

Assassinatos indiscriminados ligados ao crime organizado na província resultaram em homicídios em hospitais e escolas, disputas territoriais e aumento do desemprego também estão entre as causas das mortes que assolam a região.

Guerra entre facções criminosas como causa

Colón detém o ponto de entrada do Atlântico para o Canal do Panamá e é um ponto crucial para a logística do tráfico de cocaína.

O país quebrou novamente seu recorde anual de apreensão de drogas, em meio a notícias de que atuava como um importante centro de envio de cocaína para uma coalizão de grandes traficantes de drogas na Europa.

O principal traficante de drogas do Panamá, Jorge Rubén Camargo Clarke, chefe da federação de gangues de Bagdá, foi preso em fevereiro de 2022, mas os números não sugerem que tenha ocorrido uma luta sangrenta pelo controle do mercado entre os rivais.

Uruguai: 11,2 por 100.000 (Pop. 3.426.260)

Houve 383 homicídios registrados no Uruguai em 2022, um aumento de 25% nos homicídios de 2021, que reverte alcançada em 2021.

Os cálculos do InSight Crime mostram um aumento ligeiramente maior de 27,6%.

Guerra entre facções criminosas como causa

O presidente Luis Lacalle Pou colocou diretamente a culpa pelo aumento da violência nos confrontos de gangues relacionados ao tráfico de drogas.

As brigas entre grupos criminosos pelo controle do tráfico de drogas em Montevidéu, capital do país, parecem ter aumentado.

Em junho, a polícia uruguaia informou ter identificado até 45 clãs familiares criminosos em Montevidéu e, em novembro, tiroteios entre alguns desses clãs confinaram moradores de Villa Española e Peñarol em suas casas.

Uruguai na rota das drogas

Essas gangues também foram cruciais para o crescente perfil do Uruguai como nação de trânsito para o comércio de cocaína.

As conexões com o Brasil, Paraguai e Argentina têm visto uma maior quantidade de drogas fluindo pelo Uruguai, trazendo maiores índices de violência criminal.

Enquanto isso, o surgimento do Primeiro Cartel Uruguaio (Primer Cartel Uruguayo – PCU), liderado pelo misterioso narcotraficante Sebastián Marset, aumentou a pressão sobre as forças de segurança do país e levantou a tampa da corrupção generalizada nas fileiras políticas do país.

Paraguai: 8 por 100.000* (Pop. 6.703.799)

Foram 489 homicídios entre janeiro e novembro de 2022, o que levará a superar a taxa de 2021 de 7,4 para 100.000 habitantes.

Guerra entre facções criminosas como causa

O ano passado viu mais da mesma violência, já que assassinatos de alto escalão e assassinatos entre gangues pareciam encerrar o ano.

A disputa entre Primeiro Comando da Capital e o clã local Rotela monopolizaram as mortes na disputa pelo domínio territorial dos corredores de tráfico de drogas e armas, particularmente a província de Amambay, no Paraguai, na fronteira leste com o Brasil.

Gangues menores e clãs familiares também contribuem para os assassinatos nas áreas mais violentas do Paraguai.

O conhecido Clã Insfrán teria sido ligado ao assassinato em maio de 2022 do promotor paraguaio Marcelo Pecci.

A violência do país é ajudada em parte pelo fato de que armas e munições fornecidas aos militares acabam rotineiramente nas mãos de organizações criminosas.

O papel ascendente do Paraguai como um nó-chave no drogoduto de cocaína da Europa significa que o conflito entre as principais gangues do país provavelmente continuará a transbordar.

El Salvador: 7,8 por 100.000 (Pop. 6.314.167)

Foram 495 homicídios em 2022 contra 1.147 no ano anterior, mantendo uma tendência de baixa desde 2015, quando o índice era de 103 por 100.000 habitantes, o que fazia de El Salvador o país mais violento do Hemisfério Ocidental.

A queda nos assassinatos no ano passado ocorreu em meio a uma das repressões anti-gangues mais brutais já vistas na América Latina.

Um violento assassinato de gangues em março que custou 87 vidas respaldou a política de forte repressão aos grupos criminais do presidente Nayib Bukele.

O governo alavancou poderes de emergência para atacar as principais gangues de rua do país, a MS13 e a Barrio 18, prendendo cerca de 60.000 pessoas, ou quase 2% da população adulta no processo.

Os resultados foram surpreendentes, com assassinatos e extorsões caindo drasticamente. A repressão forçou as gangues a se esconderem, embora continuem bem armadas.

Suriname: 7,7 por 100.000 (Pop. 612.985)

O menor país sulamericano registrou 47 assassinatos entre janeiro e meados de dezembro de 2022 — taxa de 7,7 por 100.000 habitantes.

Este é um aumento acentuado em comparação com os 32 assassinatos registrados em 2021, mas inferior aos 54 registrados em 2020.

O aumento da taxa de homicídios pode ser em decorrência do papel do Suriname como país de trânsito para a cocaína.

O presidente Chandrika Persad Santochi disse ao InSight Crime em outubro de 2022 que o tráfico de drogas afetou seriamente o crime violento no Suriname.

Especialistas identificaram o tráfico de cocaína como a maior ameaça à segurança nacional do Suriname e responsável por alguns dos eventos mais violentos recentes.

Em julho de 2021, três corpos carbonizados foram encontrados no oeste de Paramaribo, capital do Suriname. Um dos supostos autores do crime declarou que foi morto em relação à apreensão de cerca de 1 tonelada de cocaína pelas autoridades.

Mas em comparação com seus vizinhos, principalmente no Caribe, o Suriname tem uma baixa taxa de homicídios.

Um dos fatores que possivelmente explicam a diferença entre o Suriname e países como Jamaica, Trinidad e Tobago e Santa Lúcia é que o Suriname não possui gangues urbanas sofisticadas.

Nicarágua: 6,7 por 100.000 (Pop. 6.850.540)

A total falta de dados confiáveis ou relatórios sobre homicídios na Nicarágua, mais uma vez, dificulta um levantamento de homicídios para o país.

Fontes oficiais colocam a contagem de homicídios no país em 460, mas esses números “não são confiáveis”.

A falta de transparência do país parece improvável que mude em breve.

Em novembro de 2022, o presidente Daniel Ortega conquistou um quarto mandato em uma eleição duramente criticada pela comunidade internacional.

O presidente dos EUA, Joe Biden, chamou de “eleição de pantomima”. Durante o governo de Ortega, 160 jornalistas foram forçados ao exílio.

Chile: 4,6 por 100.000 (Pop. 19.493.184)

Os homicídios cresceram mais de 32% no Chile em 2022 em relação a 2021, marcando o ano como um dos mais mortais do país.

Os números da polícia mostram que 960 assassinatos foram cometidos no ano passado, em comparação com 726 no ano anterior.

A região norte de Tarapacá viu novamente a criminalidade elevar as taxas de homicídio a novos patamares, enquanto o contrabando de migrantes controlado pela mega-gangue venezuelana Tren de Aragua emergiu como uma séria ameaça à segurança nacional.

O tráfico de drogas no país cresceu, o roubo de cobre se expandiu e as máfias madeireiras que controlam a extração ilegal de madeira se tornaram mais violentas.

Embora o aumento de assassinatos seja alarmante, as autoridades alertaram que o retorno às regulamentações e à vida pré-pandêmica favoreceu o aumento da criminalidade, que foi artificialmente baixo em 2020 e 2021.

Os aumentos registrados em 2022 são irregulares porque, à medida que a vida cotidiana foi retomada , o número de crimes ocorridos também normalizou para antes da pandemial.

coronel Gutiérrez, comandante da polícia militar do Chile

O Chile com 4,6 homicídios para 100.000 habitantes continua entre as nações menos violentas da América Latina.

Argentina: N/A (Pop. 45.808.747)

A Argentina normalmente publica suas estatísticas anuais de crimes em abril do ano seguinte.

Em 2021, o Ministério da Segurança registrou 2.092 assassinatos, para uma taxa de homicídios de 4,6 por 100.000 habitantes, continuando sua tendência de queda nos assassinatos desde um ano particularmente violento em 2014.

Guerra entre facções criminosas como causa

Certos focos de violência, porém, são acessíveis, principalmente na província de Santa Fé.

Na Santa Fé, que abriga a cidade de Rosario, 406 pessoas mortas em 2022, o maior número desde 2015, elevando a taxa de homicídios da província para 11,31 por 100.000.

O ano sangrento de Rosario cativou as manchetes, dado o fato de que sua taxa de homicídios quadruplica a média nacional.

Uma rivalidade entre gangues locais de tráfico de drogas, os Monos e o Clã Alvarado, alimenta grande parte dos assassinatos da cidade.

A leste de Santa Fé, a província de Entre Ríos registrou seu terceiro ano consecutivo de redução de homicídios, com as autoridades elogiando uma postura dura contra o narcotráfico como a chave para o sucesso.

O tráfico de cocaína de fato tem aumentado na província, mas as autoridades locais intensificaram os esforços para combater os traficantes na esperança de evitar uma nova queda na violência.

Bolívia: N/A (Pop. 12.079.472)

As autoridades bolivianas não divulgaram estatísticas oficiais de homicídios nos últimos três anos, mas os interesses criminosos de grupos locais e regionais – particularmente em relação à expansão da capacidade de produção de cocaína da Bolívia – garantiram que a violência continuasse.

Guerra entre facções criminosas como causa

Em fevereiro do ano passado, o assassinato de dois traficantes de drogas brasileiros no departamento de Santa Cruz destacou a ameaça contínua do Primeiro Comando da Capital do Brasil (Primer Comando Capital – PCC) e rival, companheiro de gangue brasileira, o Comando Vermelho CV, para a Bolívia. Santa Cruz é um importante centro de tráfico de cocaína sendo contrabandeada para o Brasil ou Paraguai da Bolívia e do Peru.

Em julho do ano passado, o povoado de Porongo, na periferia de Santa Cruz de la Sierra, capital do departamento de Santa Cruz, foi palco de uma violência incomum contra policiais na Bolívia.

Três foram mortos a tiros depois de tentar prender um homem local. O suspeito do assassinato era genro de um narcotraficante local.

Haiti: N/A (Pop. 11.447.569)

Guerra entre facções criminosas como causa

A violência das gangues causou a morte de 2.183 pessoas em 2022, um aumento de 35,2% em comparação com o ano passado.

Mas esses números quase não fazem sentido.

A catástrofe de segurança na ilha atingiu níveis sem precedentes que acredita-se que nenhum funcionário eleito em nível nacional permaneça lá.

Desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse em 2021, evaporou-se qualquer influência política que pudesse conter as gangues do país.

A guerra de gangues que antes se opunha às duas maiores organizações criminosas do país, G9 e G-PEP, se dissolveu ainda mais em uma colcha de retalhos de guerras territoriais ao redor da capital, Porto Príncipe, que viu a maior parte dos assassinatos, incluindo execuções sumárias e adolescentes portando armas de nível militar.

Os sequestros mais que dobraram. A violência sexual e o estupro também são comuns.

Acho que é a primeira vez que vimos esse nível de ilegalidade, esse nível de violência de gangues em que a vida das pessoas não importa.

Cécile Accilien, professora de estudos haitianos na Kennesaw State University

Peru: N/A (Pop. 33.715.471)

O Peru não divulgou números oficiais de homicídios para 2022 e os números do Ministério da Saúde parecem não ter base na realidade histórica.

Segundo o Ministério da Saúde houve 1.307 assassinatos — uma taxa de homicídios de apenas 3,9 por 100.000 habitantes.

Em 2021, houve 2.166 mortes — uma taxa de 6,6 por 100.000, um aumento em relação a 2020, mas ainda menor do que em qualquer ano desde 2013.

Embora o governo tenha declarado vários estados de emergência com o objetivo de combater a criminalidade em Lima, mas os corpos continuaram se acumulando.

No início do ano, um legista disse à TV Perú que os assassinatos em partes da capital dobraram ou até quadruplicaram.

Guerra entre facções criminosas como causa

Em outros lugares, uma série de assassinatos resultantes de gangues que lutam pela mineração ilegal em La Libertad, uma região na costa oeste, levou as autoridades a impor estado de emergência.

Quatro líderes de comunidades indígenas que se opunham à mineração ilegal e ao tráfico de drogas foram mortos em uma única semana de março.

Em meio à agitação social após a deposição do ex-presidente Pedro Castillo em dezembro, a Procuradoria-Geral de Ayacucho confirmou que havia aberto investigações de homicídio contra militares e chefes de polícia após a morte de manifestantes.

*As estimativas para esses países são projeções. Os dados do ano inteiro não estavam disponíveis para esses países no momento da publicação. As taxas de homicídio calculadas pelo InSight Crime são baseadas nos melhores dados de homicídio disponíveis e na população estimada do país para 2021, de acordo com o Banco Mundial. Quaisquer pontos de dados não calculados por este método foram atribuídos às suas fontes. Esta lista será atualizada à medida que mais dados estiverem disponíveis.

**Parker Asmann, Douwe den Held, Alex Papadovassilakis e Juan Diego Posada contribuíram para este artigo.

Pacificação: a paz entre entre ladrões

A paz entre os ladrões foi conquistado pela pacificação do Primeiro Comando da Capital após o massacre do Carandirú.

A Pacificação PCC como gestora da “paz entre ladrões”

Paz entre ladrões é uma missão impossível, apesar de teóricos imaginarem há milênios formas de controlá-los…

Estamos no ano 1993 depois de Cristo. Todo o mundo do crime está em guerra… Todo? Não! Uma Casa de Custódia povoada por irredutíveis sobreviventes do Carandiru ainda resiste ao opressor.

Se considerarmos apenas nossa realidade recente podemos ver duas experiências bastante distintas: a do Regime Militar e os do Período Democrático:

Conheça a Carta do PCC ao Mundo do Crime de 3 de agosto de 2017

Quem poderá trazer a pacificação ao mundo do crime

Ambos os regimes tentaram cada um a seu modo controlar, sem sucesso, a violência nas comunidades dominadas pelo crime.

… o governo, não conhece a realidade das cadeias, o PCC criou raízes em todo o sistema carcerário paulista.

Nas prisões, diretores ultrapassados, da época repressão, tentavam resolver o problema de maneira que em foram doutrinados: porretes, choques, água fria, porrada…

Não foi suficiente. Em menos de três anos, já eram três mil. Em menos de dez anos, 40 mil.

Carlos Amorim

Álvaro e Renato, policiais e pesquisadores, afirmam que foi aí que o a facção PCC 1533 aproveitou a lacuna deixada pelo poder público.

Análise de inteligência: das ações ideológicas disciplinares e correcionais promovidas pelo Primeiro Comando da Capital — Álvaro de Souza Vieira e Renato Pires Moreira

A paz entre ladrões só pode vir de dentro para fora

Aqueles criminosos conheciam e se fizeram ser respeitados nas comunidades em que estavam inseridos: nas carceragens, nas comunidades periféricas e no mundo do crime.

Esses grupos, por milênios, foram excluídos do controle social do Estado, sendo deixados à própria sorte para viverem sob o julgo dos mais fortes.

Nesse meio o Primeiro Comando da Capital assumiu a “gestão da violência”, dentro do conceito aceito do “monopólio do uso da força pelo Estado”.

Gabriel Feltran nos conta que as comunidades periféricas, criminosas ou carcerárias, terminaram se adequando às normas da facção e não colaborando mais com a polícia.

Assim, um modo específico de gestão do uso da violência nas interações entre a polícia e o crime é estabelecido. Não existe agressão física, tampouco troca de tiros ou enfrentamento, mas um conflito ‘contido’ inserido numa esfera de interação discursiva voltada ao alcance de acordos financeiros.

Indaiatuba SP: um exemplo prático da paz entre ladrões

Em 27 de fevereiro de 2012 produzi um dos primeiros artigos onde descrevi a pacificação promovida pelo Primeiro Comando da Capital em uma comunidade periférica:

Edgar Allan Poe ensinava que existia uma forma correta para se açoitar uma criança: devia ser da esquerda para a direita.

O escritor explica a razão:

Todas as pancadas devem ser na mesma direção para lançar para fora os erros, mas cada pancada na direção oposta, soca para dentro os erros.

Talvez ele tenha razão.

Apesar das surras impostas pela sociedade, o tráfico de drogas e o crime se mantêm fortes e robustos.

Passamos pelo Regime Militar e pela Redemocratização e, com lágrimas nos olhos, vejo que não há mais esperança para o problema: falhamos.

Açoitamos a criança em todos os sentidos, e não em uma única direção como Allan Poe orientou.

E em rebento crescido não haverá açoite que possa ser dado pelo sistema policial e jurídico que surta qualquer efeito, o mal feito está feito.

Só nos cabe abaixar a cabeça e apreciar a divisão dos despojos entre os criminosos que se organizaram e se fortaleceram sob nossos próprios açoites.

continua após o mapa…

Diálogo entre ladrões: assim fundiona a paz entre ladrões

Esse diálogo trocado sobre um conflito no Morada do Sol demonstra como a organização criminosa gere os conflitos de maneira natural e com profundo conhecimento:

Edson Rogério França, o “Irmão Cara de Bola”, “Torre” da organização criminosa em Indaiatuba conversa com Willian do bairro Morada do Sol.

Willian Neves dos Santos Vieira, o “Irmão Sinistro”, é soldado da facção criminosa e morador da rua Custódio Cândido Carneiro no bairro:

— O espaço que tem lá na rua 59 é bom, é meu e do Mateus, tá ligado irmão? O irmão Matheus, conhece o Matheus? — pergunta Sinistro.

— Não, não conheci. Você fala o do trailer?

— Não irmão, lá embaixo na 59, lá embaixo, no trailer é o Marcelo, é outro menino, inclusive ele pega mercadoria de ti. — explica Sinistro.

— Não, de mim não. — se defende Cara de Bola.

— O sol brilha para todos, tenho este espaço lá há mais de treze anos. Agora, um menino meu estava precisando de uma força e eu ajeitei um canto para ele fazer a caminhada, e o Cláudio agora está ameaçando matar a mulher dele. Pô, o Cláudio é prá cá, eu sou mais prá lá, pro fundão, sou lá do lado da rua 80 e da rua 78. Já o TG do CECAP é firmeza.

Tribunal do Crime do PCC – o mediador aceito

Eu não conheço o Cláudio, portanto eu não posso afirmar que ele tenha sido açoitado quando criança do lado certo ou errado.

O que sei é que ele também negocia as drogas do Primeiro Comando da Capital e, portanto, deve ter tido as mesmas aulas que os outros criminosos.

Cláudio teve que prestar contas de sua atitude. Ele já estava sem saber em análise por suas atitudes.

Outro dia ele foi mostrar uma pedra de crack para Keiti Luis Von Ah Toyama, o “Irmão Japa”, mas este não gostou, disse que era um pouco melada.

Cláudio explicou que é a mesma que não é a da boa, é da comercial, a mesma que vende em suas lojas:

— Se quer quer, se não quer não quer, é R $10,50 a grama, é pegar ou largar.

Seja como for, as crianças cresceram e aprenderam a brincar sozinhas, agora não adianta mais bater do lado certo e nem reclamar o leite derramado.

Cláudio foi julgado por quem obteve o direito de impor as regras naquele local aproveitando a omissão do Estado.

Conheça o Dicionário do PCC (Regulamento Disciplinar da facção)

Carta para o mundo do crime do país

Carta ao mundo do Crime é um documento do Primeiro Comando da Capital dirigida a outros criminosos que não façam parte da facção PCC 1533.

Comunicado do Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533)

O Primeiro Comando da Capital vem deixar a todos os criminosos do país cientes que o nosso objetivo de expansão pelos estados tem por prioridade fortalecer o crime contra a opressão, covardia e inveja imposta dentro e fora do regime prisional.

Não buscamos inimizades de ninguém, muito pelo contrário, somos capazes de unir forças e buscar nossos objetivos em prol de todos.

Faremos tudo para os fracos contra os oportunistas. Somos um obstáculo para as intenções capitalistas.

Não deixaremos de aplicar nossa ideologia por vantagem nenhuma que não seja proporcionada ou por qualquer obstáculo no caminho.

Estamos vivendo tempos conturbados onde facções e oposição estão se manifestando contra inocentes para protestar nossa evolução.

Lamentavelmente as ações covardes estão sendo investidas de maneira cruel contra pessoas que não tem nenhuma responsabilidade.

Temos como exemplo:

  • a execução sumária de uma senhora tetraplégica no Rio grande do Norte por ser mãe de criminoso;
  • pais de integrantes do PCC são assassinados por nada no Maranhão;
  • uma menina de 14 anos em Santa Catarina assassinada somente por ser ADMIRADORA e ai vai…

Temos vários atos covardes a citar, esses estão violando o direito ao inocente agindo covardemente sem escrúpulos e sem razão.

Não entendemos esses comportamentos e tão pouco aceitaremos passivos, mais ao nosso ver esses tipos de atentados a pessoas inocentes só demonstrão a fraqueza, postura, e falta de objetivo dentro do crime.

Para estes a resposta chegará na direta e será implacável.

Estamos espalhados pelo país, somos mais de milhares integrantes em busca de Liberdade, Paz, Justiça, União e Igualdade.

Vivemos a realidade de cada estado e nos envolvemos na necessidade de encontrar soluções de igualdade para todos.

Não aceitamos a desigualdade do maior para o menor.

Para nós, todos estão envolvidos numa conquista entre direitos e deveres.

Muitos criminosos estão em São Paulo nas cadeias que predominamos, e tudo que precisam tem nosso apoio, pois o lema Igualdade é aplicada na íntegra sem extinção.

Respeitamos todas as facções criminosas que respeitam a igualdade, fizemos amizades, lutamos em batalhas em prol de objetivos comuns a todos.

Conquistamos o respeito e respeitamos a todos em todos os espaços. Não forçamos ninguém a nos seguir, apenas damos exemplos de como pensamos e agimos.

Assim, nossas fileiras crescem cada dia mais, pensamos que nossos inimigos são aqueles que dirigem e impõem as regras no sistema e a polícia nas ruas.

Contra esses somos sempre ousados e abrimos portas para atingi-los. Nossa forma de lutar contra esses é direta e não procuramos atingir aleatoriamente desferindo o patrimônio que a própria população carente necessita.

Nosso alvo é o opressor e contra esses, unimos toda nossa inteligência e violência: não colocamos fogos em escolas ou carro de populares que no amanhã prejudica e só prejudicaria quem se utiliza desse serviço, nesse caso é a população.

Aprendemos com nossos erros e acertos, nosso alvo é direto: o opressor.

Não se conquista com patifarias a população, que tem crescido nos estados onde outras facções sem ética tem tomado lojas, morros, favelas, e aterrorizando pessoas que não são do crime.

Eles visam somente o poder. Aprendemos que o alvo é o opressor e representante contra esses vai toda a fúria.

Deixamos claro que respeitamos aqueles que merecem respeito do crime e continuaremos a crescer e fortalecer os que nos respeitarem de igual.

Mostrarmos que somos capazes de fortalecer o crime e trataremos sempre com a igualdade todos criminosos que defendem a ideologia do Primeiro Comando da Capital.

Estaremos juntos para lutar contra todos opressores, somos de cobrar diretamente das forças opressoras.

Acreditamos nessa resposta. Onde estamos não importa a região e o número de integrantes, a polícia e os agentes do governo sabem que não terão paz conosco se não nos respeitarem como seres humanos, com tudo.

O Primeiro Comando da Capital está progredindo e cada vez mais enxergamos o quanto estamos no caminho certo.

Deixamos o nosso respeito a todos integrantes, amigos, companheiros e conhecedores da nossa filosofia e nos colocamos à disposição para qualquer esclarecimento.

Um abraço para todos.

Comunicado distribuído pelo Geral das Trancas do MS em 3 de agosto de 2017 nas redes sociais da facção e publicao no site aconteceuemitu.org

Bauman, as organizações criminosas e a pacificação do Serviluz

Com a entrada no jogo do Primeiro Comando da Capital, a organização criminosa paulista PC 15.3.3 a ruptura era inevitável…

Se quiser assumir meu lugar, toma que o filho é teu!

E no princípio eram trevas, no início do início, e é para lá que eu te levarei, para que você possa me entender, não só a mim, mas também a Aline, e a Lincoln e seus colegas.

Você deve saber de onde nós viemos e o que já superamos, para só então decidir o que você vai fazer. E se você ou o Lincoln e seus colegas quiserem pegar meu lugar, boa sorte, vai firme e vamos ver se vão aguentar.

Não adianta se esconder ou tapar os ouvidos, pois os espíritos das trevas não se calarão até que eu, agora, ou alguém, algum dia, lhe conte essa história. E se já for tarde, e se eu já tiver me juntado a eles nas trevas, só lamento por você e por Lincoln e seus colegas.

Você acha que sabe o que é sofrer, mas poucos viveram nas quebradas trabalhando, de sol a sol, para chegar ao dia do pagamento e virem todo seu suor roubado, ao entrar na favela ou no bairro, pelo moleque da rua de baixo, para pagar o arrego para o policial do tático…

… ou para ser vendido assim que ia para dentro da muralha, para ser usado por um outro preso ou um carcereiro como achassem melhor — geralmente sendo estuprados, obrigando seus familiares a levarem coisas para dentro ou servindo de garagem (não vou explicar).

O site eb.mil.br replica uma reportagem de Aline Ribeiro para O Globo e me obriga a vir até você para lhe levar a esse passado, para que você, por si mesmo, possa vislumbrar o futuro que, assim como eu, Aline e Lincoln e seus colegas já estamos vislumbrando.

Alguém pode temer o fim do PCC?

Meu pai vivia me advertindo: ”tome cuidado com o que você deseja. Você pode acabar por conseguir”.

Os pais de Lincoln e de seus colegas do MP-SP deveriam ter dado o mesmo conselho a eles, pois agora que estão perto de realizar o sonho impossível de acabar com o PCC 15.3.3, parece que começam a ver que talvez tivesse sido melhor ter tido outro desejo. Agora é tarde:

“A ruptura é inevitável. É o início do fim de uma era – diz o promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado de Presidente Prudente.” Quatrocentos integrantes da facção fora da cadeia, farão o possível para “tirar o câncer da nossa família” que “não pensa no coletivo e só quer ostentar enquanto os irmãos passam fome em outros estados”.

Lincoln e seus colegas derrotaram a Hidra de Lerna, cortando sua cabeça Uh, Uh!!!

Aline, eu, Lincoln e seus colegas nos lembramos de como eram as trevas antes que Marcos Willians Herbas Camacho e sua equipe assumissem o patriarcado da Família 1533. Se você não se lembra, vou pedir para Deiziane lhe contar um pouco de como era…

A pacificação do PCC na Modernidade Líquida

E no princípio eram trevas, no início do início, antes que a paz chegasse à comunidade do Serviluz em Fortaleza com os acordos firmados entre as gangues de jovens locais, como ela narra após dezenas de entrevistas com moradores e pessoas que atuam na região.

Deiziane Pinheiro Aguiar apresentou suas conclusões ao Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará: Marcado para Morrer: moralidades e socialidades das crianças na comunidade do Serviluz.

Se você realmente quer a paz, deve saber de onde nós viemos e o que nós já superamos, para só então decidir o caminho que deve tomar, e não fazer como o Governo cearense, que creditou a baixa da taxa de homicídios a suas políticas de segurança pública.

Você pode concordar ou não com a realidade, mas ela continuará prevalecendo sobre sua opinião, e Deiziane a analisou e previu o fim desse equilíbrio e da pacificação. muito antes que os governantes cearenses, Aline, eu e Lincoln e seus colegas o fizéssemos.

O amigo e o inimigo moram ao lado

O deputado Ferreira Aragão concorda com Deiziane quanto à influência que as organizações criminosas têm dentro da comunidade:

“No bairro de Serviluz, quando alguém é morto, não se recorre mais à Polícia ou à Justiça.’É o chefe da gang que é buscado para resolver o crime. E vão lá fazer justiça com as próprias mãos’”.

Poucos garotos que vivem naquela comunidade ouviram falar em Zygmunt Bauman, mas Deiziane afirma que o sociólogo e filósofo polonês descreveu com perfeição o que se passa pela mente dos meninos do mundo do crime:

“Existem amigos e inimigos. […] Amigos e inimigos colocam-se em oposição uns aos outros. Os primeiros são o que os segundos não são e vice-versa. Isso, no entanto, não é testemunho de sua igualdade. […] Os inimigos são o que os amigos não são. Os inimigos são amigos falhados; eles são a selvageria que viola a domesticidade dos amigos, a ausência que é uma negação da presença dos amigos. O avesso e assustador “lá fora” dos inimigos é, […] “aqui dentro” dos amigos. […] A oposição entre amigos e inimigos separa a verdade da falsidade, o bem do mal, a beleza da feiura […] o próprio do impróprio, o certo e o errado […].”

Os garotos podem não ter as palavras bonitas de Bauman, porém sabem que quem não corre pelo lado certo do lado errado da vida, é o inimigo. Mas quem traça esses limites, determina a pacificação e decreta a guerra?

O Ceará pode ser aqui

Há poucas semanas, fui à Indaiatuba gravar uma entrevista. A cidade tem uma taxa de homicídios de 0,86 para cada cem mil habitantes – muito diferente do Ceará, com seus 52 para cada cem mil – e, se não bastasse isso, está entre as 80 com maior IDH do país.

Há alguns anos, em um dos meus primeiros estudos a respeito da facção, conheci o bairro Jardim Morada do Sol, hoje com 70 mil habitantes, e que, na época, vivia em clima de incertezas: assaltos, furtos em residências, estupros e guerra de gangues.

Haviam três biqueiras principais que disputavam entre si os limites de atuação, e os garotos, para se garantir, andavam armados em plena luz do dia. Lembre-se que não estou falando do Serviluz no Ceará, e sim do bairro da hoje pacata e progressista cidade paulista.

A ordem para a paz e os limites de cada grupo foram definidos por acordos fechados dentro das muralhas da Penitenciária de Hortolândia, que determinou, inclusive, pena para os crimes cometidos contra a população próxima às biqueiras. Mas quem traça esses limites, determina a pacificação e decreta a guerra?

A vitória dos moderados e o controle das bases

E no princípio eram trevas, no início do início, antes que a paz chegasse às diversas cidades e estados sob a hegemonia do Primeiro Comando da Capital, que sob o controle dos moderados mantém a pacificação e o controle da base.

As mortes de Rogério Geremias Simone, o Gegê do Mangue, Edilson Borges Nogueira, o Birosca, Fabiano Alves de Souza, o Paca, Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, entre outros, comprovam algo que ouvi há alguns anos de um faccionário:

“Eles estão mais seguros lá dentro que na rua. Se sair morre.”

A admiração dos garotos do Primeiro Comando, em especial pelo Marcola, não foi sequer arranhada pela revelação do colega de Lincoln, o Marcio Sergio Christino, que acusou Marcola de ter sido um informante da polícia e ter entregue seus aliados.

No entanto, as rígidas regras impostas pelo grupo liderado por Marcola justificam a indignação, principalmente nos níveis intermediários da organização, que se sente tolhida ao não poder armar as biqueiras para reagir às ações policiais, entre outras limitações.

A vitória de Lincoln e seus colegas e o fim dos moderados

A disputa para ampliação de limites territoriais, influência ou poder acontece em todos os grupos sociais, seja entre as crianças nas creches ou nas ruas, ou entre os adultos nas igrejas, nos locais de trabalho, nas biqueiras, e até mesmo dentro da viatura policial.

Entre os membros de facções que disputam o mesmo território e dentro das organizações criminosas por aqueles que disputam o poder interno isso não poderia ser diferente, essa é uma característica humana.

Há quem prefira não se arriscar e deixar a luta para outros: esses são os cordeiros, que servem de alimento na cadeia alimentar e mantêm nossa estrutura social funcionando com certa estabilidade, como nos ensinou Étienne de La Boétie.

Mas entre os faccionados não existem cordeiros. O mais pacífico é um alfa que tem seu domínio territorial garantido por sua força — não há amigos dentre os aliados, companheiros e irmãos, há o respeito pelo mais forte e pelo grupo.

Lincoln e seus colegas estão agora a um passo da vitória. As ações do MP-SP e do GAECO enfraqueceram o grupo dos Catorze alfas que lideram a facção, e é por essa razão que Lincoln acredita que o PCC se desintegrará nas guerras internas.

arte sobre foto do promotor de Justiça Lincoln Gakiya e o Leviatã tendo ao fundo a batalha entre o bem e o mal., abaixo do texto "cotada a cabeça da Hidra de Lerna".
PCC fica sem liderança após transferência de líderes

E no final serão as trevas, no fim do fim

A liderança enfraquecida terá que disputar o poder dentro das muralhas de Presidente Prudente, e de lá essa guerra vai se espalhar para o restante do estado.

Enquanto isso, centenas de pequenas facções sem estrutura aterrorizarão os bairros periféricos de vários estados, que hoje já estão pacificados, e muitos deles seguirão o destino dos morros cariocas, com grupos de milicianos disputando o tráfico.

As periferias das cidades paulistas, os cortiços, as ocupações e as biqueiras próximas aos centros das cidades, sem garantias e ordem, vão se armar para garantir suas bases comerciais de tráfico de drogas.

As viaturas policiais, que hoje abordam os cidadãos com certa tranquilidade, pois quase todas as biqueiras paulistas atuam desarmadas, voltarão a enfrentar grupos armados, e a cabeça dos policiais mais ativos ou corruptos voltarão a ser disputadas.

Vencemos o Crime Organizado – Uh, uh!!!

Entregaremos para aqueles que nasceram após a década de 1990 uma São Paulo e um Brasil como eles nunca viram, livre da hegemonia da facção Primeiro Comando da Capital!

Só não entendo por que não senti a empolgação que esse momento merecia por parte da repórter Aline Ribeiro e do promotor de Justiça Lincoln e seus colegas, afinal, vencemos – Uh, uh?

A Facção PCC e a “Paz entre ladrões”

O Primeiro Comando da Capital impôs o conceito “paz entre ladrões”, mudando a violenta realidade do mundo do crime, do sistema prisional e das periferias das grandes cidades.

Júlio Verne e como a facção PCC impôs a “paz entre ladrões

1999 — Chega ao fim o século 20

Estávamos para colocar os pés num futuro utópico no qual a humanidade chegaria em seu ápice moral e tecnológico… não… espera!

Durante séculos, a humanidade sonhou que esse futuro brilhante e longínquo se daria no século 20, e não no 21 — entre tantos, Jules Gabriel Verne.

1999 — Periferia de São Paulo

… um cenário bastante caótico, onde grupos fragmentados estavam inseridos em diversas cadeias de assassinatos, que giravam ao redor de conflitos interpessoais, retaliações e vinganças, em uma espécie de ciclo vicioso de homicídios e agressões que colocava a capital paulista entre as mais violentas do Brasil

Bruno Paes Manso

1879 — France-Ville USA

Júlio Verne já ouvira falar da Província de São Paulo, que, com suas plantações de café, clima agradável e vilas pequenas com casas arejadas e esparsas, poderia ser uma alternativa tupiniquim para sua idealizada cidade de France-Ville, descrita em “Os quinhentos milhões da Begum”.

2001 — Início da Era Caórdica

Para os astrônomos começa a Era de Aquário, que para os filósofos e sonhadores, como Verne, seria a Era do conhecimento, e para os intelectuais seria a Era Caórdica (um sistema que combina características de caos e ordem).

Com o Terceiro Milênio a paz volta, começa o império da ordem no caos das periferias, do sistema carcerário e do mundo do crime na cidade de São Paulo, que registrou uma impressionante queda de 78% dos seus homicídios no período entre os anos 2000 e 2010.

Muito desse resultado se deu pelo controle hegemônico do Primeiro Comando da Capital sobre a antes caótica e fragmentada periferia, com suas diversas cadeias de assassinatos, que giravam ao redor de conflitos interpessoais, retaliações e vinganças.

Chega o século 21 — Paz, Justiça, Liberdade, Igualdade e União (PJLIU)

O fortalecimento da organização criminosa PCC permitiu que ela assumisse nessas regiões conflituosas um papel de instância reguladora dos conflitos internos no mundo do crime — nada poderia ilustrar melhor essa Era Caórdica.

Com o controle do PCC nas periferias, o mote passou a ser o da paz entre os ladrões, com o fim dos conflitos violentos e retaliações entre atores do mundo do crime, e o inimigo comum passou a ser o Estado, principalmente as forças policiais e o sistema prisional.

1879 — France-Ville utópica de Verne; 2001 — São Paulo distópica do PCC

Em France-Ville, a paz seria garantida por um líder sábio e um conselho de notáveis. Já na São Paulo do século 21, a paz chegou graças a atuação de um grupo criminoso, que focou a criminalidade no lucro, no trabalho em equipe e na luta contra um Estado opressor.

O decreto da paz entre os ladrões é acompanhado, em alguma medida, de uma definição de um inimigo em comum, um terceiro mais forte cujas práticas consideradas opressoras, demandam a união e solidariedade entre os atores do mundo do crime.” — Rafael Lacerda Silveira Rocha

Tribunal do Crime do PCC como mediador aceito

O Tribunal do Crime é a face mais conhecida do Primeiro Comando da Capital, mas a organização criminosa só conseguiu aceitação no mundo do crime por um rígido código de ética escrito, a disciplina e a busca da justiça em sua execução:

No PCC as decisões e os julgamentos têm que passar obrigatoriamente pelo “debate”, no qual um grupo, seguindo as regras da facção e consultando a hierarquia, chegam a um consenso sobre um tema ou sobre uma pena a ser aplicada, de modo a garantir a justeza da decisão.

A utilização da violência armada é, evidentemente, a fonte última da legitimidade e autoridade do “mundo do crime” e dos “irmãos” nas periferias da cidade. Entretanto, cotidianamente, esses grupos manejam componentes muito mais sutis de disputa pelas normas de convivência, como a reivindicação de justeza dos comportamentos, amparados na “atitude”, “disposição” e “proceder” e na oferta de “justiça” a quem dela necessita.

Gabriel Feltran

Segundo Raymundo Juliano Feitosa cobrança mais cruel pelo Código Penal do PCC é o chamado xeque-mate: esquartejamento do infrator enquanto ele ainda está vivo, e só depois ele é morto e todo esculacho é filmado e jogado nas redes – essa condenação é aplicada aos estupradores e pedófilos, também, tem por finalidade servir de exemplo para outros que teriam interesse em fazer o mesmo.

1899 — Júlio Verne entra no sonhado Século de Ouro

Durante séculos, a humanidade sonhou que esse futuro brilhante e longínquo se daria no século 20, entre tantos, Jules Gabriel Verne, que conseguiu entrar no século tão esperado.

O sonhador ficcionista, no entanto, ao entrar no novo século se desilude, torna-se melancólico, acusando a humanidade de fazer o uso errôneo da tecnologia e de desrespeitar o meio-ambiente.

Em 1902 é atingido por uma catarata, deixa de trabalhar e perde o interesse pela vida. Morre em 1905, enterrando com ele o sonho de milhões que esperaram ver no século 20 o ápice moral e tecnológico da humanidade.


Essa crônica se baseou em um trecho da tese Vinganças, guerras e retaliações: Um estudo sobre o conteúdo moral dos homicídios de caráter retaliatório nas periferias de Belo Horizonte, de Rafael Lacerda Silveira Rocha. para o programa de pós-graduação em Sociologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG.

Pedro Rodrigues da Silva, o Pedrinho Matador, conhece o sistema prisional de São Paulo como poucos. Ele ficou sem ver a rua de 1973 até 2007 e de 2011 até 2018 — viveu mais de 40 atrás das grades e por lá, ele conta que viu mais de 200 presos serem mortos enquanto esteve por lá, sendo que mais de 100 foram ele mesmo que matou.

Viveu no cárcere no tempo do Regime Militar, da redemocratização e dos governos com leve viés progressista, mas mudança mesmo, houve quando a facção paulista despontou como hegemônica, acabando com as diversas gangs e grupos dentro das cadeias e presídios.

Sobre o Primeiro Comando da Capital ele afirmou durante uma entrevista:

“Fui [convidado a entrar no PCC], mas não entrei. Ali é o seguinte: depois que surgiu o partido, você vê que a cadeia mudou. Não morre ninguém porque o partido não deixa. É paz. Paz para a Justiça ver. Se começa uma briga, eles seguram. Eles também ajudam quem sai, arrumam trabalho.”

transcrito por Willian Helal Filho para O Globo

O memoricídio e o nascedouro da facção PCC 1533

Os que fomentaram o mal que nos atinge são aqueles que se apresentam como paladinos de nossa proteção: o memoricídio e a facção Primeiro Comando da Capital.

Recebi essa semana seu e-mail, no qual você pediu para que eu escrevesse sobre o tempo em que o sistema prisional ainda não estava sob o controle total da facção Primeiro Comando da Capital:

Mas não farei o que me pede, irmão.

Sem querer, você mexeu com minha sanidade ao desenterrar tristes lembranças, e agora, enquanto o respondo, sou tomado pelo frio, pela tristeza e pelo rancor que eu já havia deixado para trás.

Depois daquela noite em 1982, meus sonhos noturnos me abandonaram, e passei a sonhar durante o dia. Sobre isso, nosso amigo Edgar, quase nunca sóbrio, mas sempre com filosófica sobriedade, me disse que eu é que era um cara de sorte:

“Aqueles que sonham de dia sabem muitas coisas que escapam àqueles que somente de noite sonham. Nas suas vagas visões obtêm relances de eternidade e, quando despertam, estremecem ao verem que estiveram mesmo à beira do grande segredo.”

Mas você sabe, Edgar é um otimista patológico.

Desde que o frio, a tristeza e o rancor se abateram sobre os meus, eu nunca sei se o que vejo ou o que lembro é de fato real ou se é algo criado em minha mente por forças que eu não tenho como dominar.

Peço que desconsidere algum trecho que lhe pareça ter sido fruto de um desses sonhos diurnos forjados pelo caos que se tornou minha mente, ou então que lhe pareça que seja uma memória que jamais deveria ter sido resgatada das masmorras do passado.

Arte sobre foto de uma veranio da Polícia Civil em frente a uma chácara sob o texto "A investigação da Civil e o esclarecimento do homicídio".
O esclarecimento do crime pela Polícia Civil

Os garotos e o assassinato na chácara

Logo que voltei à cidade, por volta de 1980, vivi em uma chácara com uma mulher e seus três filhos. Formávamos um belo casal, e aquelas crianças faziam de nosso lar um lugar sagrado e feliz.

As crianças cresceram, e o mais velho, Lucas, acabara de fazer 18 anos, enquanto seus irmãos, Luciano e Luan, eram apenas um pouco mais novos – maldita hora em que eu brinquei numa noite dizendo que só faltava Lúcifer para completar a família!

Como sempre, às sextas-feiras, Lucas foi com Luciano até uma chácara não muito longe da qual morávamos, mas naquela noite houve por lá um assassinato – nunca saberemos ao certo o que realmente ocorreu, mas o dono da chácara foi morto.

Os garotos voltaram assustados e não conseguiam falar coisa com coisa – estavam em choque.

Assim como é hoje, na década de 1980, a polícia queria mostrar serviço, e no dia seguinte uma viatura veraneio preto e branca foi até a chácara para levar Lucas e Luciano à delegacia para ajudar a esclarecer o crime.

Nunca perguntei o nome daquele policial que levou os meninos, mas deve ter sido aquele que sem querer invoquei na noite anterior – Luciano não mais voltou vivo.

Arte sobre foto de uma viatura veraneio da Polícia Civil, uma carceragem lotada e o símbolo da Justiça.
Sistema de (In)Justiça Pública

Polícia, MP-SP e Justiça: parceiros na injustiça

À noite, estranhamos que os garotos não voltavam da delegacia. Não tínhamos como chegar até a cidade, e Luan, o mais novo, seguiu a pé – era uma caminhada de pelo menos duas horas e ele não voltaria antes da meia-noite. Esperamos a noite toda.

No dia seguinte, a mãe dos garotos pegou uma carona com vizinhos. Na delegacia não teve notícias de Luan, informaram que Lucas confessou ter matado o dono da chácara para roubar seus pertences e que Luciano morrera:

Ao sair da chácara no dia anterior, a viatura não foi para a delegacia, e sim “fazer diligências com os garotos em uma fazenda”, e quando os policiais desceram com os garotos para conversar , Luan teria tentado pegar a arma do policial e foi morto.

Naquele tempo, o que o policial colocava no papel a Promotoria de Justiça aceitava (mais ou menos como acontece hoje); não havia audiências de custódia (instituídas em 2015), e os presos não eram enviados para os centros de detenção provisória (que nem existiam).

Foto do pesquisador Wilton Antonio Machado Junior tendo ao fundo uma carceragem superlotada.
Wilton Antonio Machado Junior

Sozinho não resgataria essas minhas antigas lembranças que estavam enterradas, mas você com o auxílio de Wilton Antonio Machado Junior, que me mostrou imagens do passado em sua análise das violações dos Direitos Humanos a partir do “Massacre do Carandiru”, regataram essas lembranças.

Meu sangue esfriou ao ler sua descrição do horror que eram as antigas “cadeias públicas” espalhadas por todas as cidades do interior e bairros da capital – milhares de homens enjaulados e empilhados, muitos sem julgamento, e outros tantos sem nem mesmo inquéritos (encarcerados provisoriamente pela capricho de algum político, empresário, ou delegado).

Me lembrou todas aquelas noites quando a mãe dos meninos voltava para casa contando os horrores que havia ouvido entre as mães e mulheres de prisioneiros que ficavam no entorno da delegacia – quando não eram enxotadas pelos policiais entre pilhérias como cães sarnentos.

Havia preço para tudo: ver o preso fora do dia da visita; deixar o “faxina” ou o carcereiro entrar com alguma coisa; e até mesmo a liberdade podia cantar, mas aí a conversa tinha que ser bem conversada, e não dava para nós.

Arte com um jovem branco e um negro, ambos atrás das grades tendo a frente o símbolo vendado da Justiça.
Iniquidades sob os olhos vendados da Justiça

Estupro como empreendimento comercial no cárcere

Nesse ponto em que lhe escrevo, o frio, a tristeza e o rancor correm por onde antes fluía meu sangue, tudo porque você desenterrou lembranças de um passado que nunca deveria ter existido, mas que está cada dia mais perto de retornar, se não para mim, para outros.

Fico com ódio só de lembrar da noite em que a mãe dos meninos chegou chorando, pois soube que o garoto estava sendo usado como escravo sexual para que ela não fosse estuprada no dia da visita.

Quando ela relatou o caso para o carcereiro, ele se prontificou a retirá-lo da cela onde estava e colocá-lo em uma mais segura, mas pediu um dinheiro que não tínhamos, então deu de ombros.

Durante muitos anos, a mãe dos meninos ficou todos os dias em frente à delegacia para que dessem notícia de Luan, o mais novo, que havia sumido ao ir procurar os outros, e ficando lá, ela sentia que de certa foram protegia o filho que lá ainda estava preso.

Quando ela não retornava a noite, eu sabia que era por que a “tranca virou”, havia motim e algum preso iria morrer, para alegria da mídia que venderia mais jornais, dos políticos que apareceriam dando soluções mágicas ou do delegado que virava pop star.

A excitação midiática é alimentada por um projeto planejado do qual será extremamente difícil nossa sociedade sair —a construção de um círculo policial-midiático-criminoso, um pelourinho midiático ao qual expõe e criminaliza as comunidades periféricas para o deleite de uma população que se sente superior.

As fotos dos ex-governadores Franco Montoro e Mario Covas tendo ao fundo uma sala com grades e um prisioneiro.
A redemocratização e o sistema prisional

O Estado humanizando o sistema carcerário

Após o julgamento, se condenado, Lucas iria ou para a “Casa de Detenção do Carandiru” ou para a Penitenciária do Estado na capital, ambos depósitos pútridos de gente – havia outras 13 penitenciárias, mas os condenados daqui sempre iam para a capital.

Hoje, olhando para aquele tempo, vejo que o governador tentava humanizar o sistema prisional, mas a cultura do ódio havia degenerado o sistema como um câncer, alimentado por interesses políticos e econômicos enraizados na polícia durante o Regime Militar.

E mudanças culturais não ocorrem da noite para o dia:

“Ainda nos meados dos anos 1980, tentou-se mudar as políticas carcerárias sob o governo de Franco Montoro em São Paulo. O propósito da mudança era a de tornar mais transparentes os sistemas prisionais e tentar acabar com a péssima visão que as pessoas tinham de decisões tomadas de forma arbitrária pela força policial, além da violência que era atrelada ao regime militar.”

O garoto viveu os piores horrores por quatro anos até seu julgamento, no qual foi inocentado – não havia provas, apenas a sua confissão, que foi colhida na delegacia e que apresentava contradições com a forma como o homem foi de fato morto.

Lucas foi torturado e preso por policiais que forjaram a sua confissão, mataram Luciano e sumiram com Luan que nunca fez mal a ninguém… e os responsáveis sequer tiveram que responder por seus crimes e pela tragédia que impuseram à família.

Maldita hora no qual brinquei que só faltava Lúcifer para completar nossa família! Ele não se fez de rogado, veio no dia seguinte em uma viatura veraneio preto e branca para destruir minha família e inundar de frio, tristeza e rancor minhas veias.

Arte sobre foto de policiais com calibre doze tendo ao fundo o Presídio do Carandiru.
O Massacre do Carandiru como berço do PCC 1533

Da opressão do cárcere nasce a facção PCC

Na década de 1990, as revoltas explodiram nas “cadeias públicas” e no restante do sistema prisional brasileiro – a população carcerária não aguentava mais a opressão dentro do sistema prisional paulista, o que faz surgir a facção PCC 1533.

“As organizações criminosas tomam conta porque elas fazem o trabalho que o Estado não vai fazer: o cara está querendo sobreviver a prisão, sem ser estuprado e tentar alguma dignidade básica e tem uma organização criminosa que fornece isso.”

Carapanã: Viracasacas Podcast (em 1h11m11s do episódio 125)

Agentes públicos e gangues que agiam dentro do sistema prisional tiveram que se curvar diante de um grupo hegemônico e coeso, cessando a carnificina e a exploração.

José Roberto de Toledo, da Revista Piauí, nos conta com assombro como é essa nova realidade:

“Nos estados onde você tem uma situação consolidada de poder, como é o caso de São Paulo, onde o PCC manda e desmanda e opera de dentro da cadeia sem nenhum tipo de oposição, aí a taxa de homicídio dentro dos presídios cai brutalmente. Tem até uma curiosidade […] em São Paulo, se você for um homem adulto, com mais de 18 anos, você tem o dobro de risco de ser assassinado se você estiver na rua do que se você estiver na cadeia”.

Lucas foi solto antes que a hegemonia do Primeiro Comando da Capital trouxesse para dentro dos cárceres a pacificação, e emparedasse o Estado exigindo melhores condições nos cárceres, como constava no Estatuto do PCC de 1997:

Temos que permanecer unidos e organizados para evitarmos que ocorra novamente um massacre, semelhante ou pior ao ocorrido na Casa de Detenção em 02 de outubro de 1992, onde 111 presos, foram covardemente assassinados, massacre este que jamais será esquecido na consciência da sociedade brasileira. Por que nós do Comando vamos sacudir o Sistema e fazer essas autoridades mudar a prática carcerária, desumana, cheia de injustiça, opressão, torturas, massacres nas prisões.

No total, 111 presidiários foram assassinados por 74 policiais, embora os presos feridos que pereceram depois nunca entraram na contagem, o que indica que cada policial teve pelo menos 1,4 cadáver para chamar de seu – apesar da atrocidade, 52 desses PMs foram promovidos.

Com a repercussão internacional do massacre e vendo que os presos não abandonaram a luta, ao contrário, recrudesceram-na, o estado de São Paulo passou a paulatinamente adotar políticas visando a criação de condições mais dignas dentro dos cárceres.

Foto dos pesquisadores Vanessa Alexsandra de Melo Pedroso e Carlos Jardim de Oliveira Jardim tendo ao fundo a frase "desumanização, eficácia da estrutura da crueldade".
Castigo abstrato e castigo Concreto

Perdoando aquele que mata mas não perdoa

Tantos afirmavam que eu deveria entender a ação dos policiais que mataram Luciano, desapareceram com Luan, fizeram de Lucas um homem que hoje perambula pelas ruas catando latinhas, e enlouqueceram a mãe dos garotos que…

… eu aceitei e enterrei essas lembranças no fundo das masmorras da memória e não mais pretendia resgatá-las, perdoando e esquecendo o mal causado por aqueles assassinos, que por sua vez, não foram capazes de perdoar um garoto empinando pipa com uma paradinha na mão:

“Suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também.”

Colossenses 3:13

Os pesquisadores Vanessa Alexsandra de Melo Pedroso e Carlos Jair de Oliveira Jardim da Universidade Católica de Pernambuco me falaram longamente sobre o que eles chamam de castigo abstrato e castigo concreto.

Para uns, o que aqueles policiais militares fizeram no Carandiru ou o que os policiais civis fizeram com os meninos foram crimes cujos responsáveis deveriam ter sido punidos, mas, para outros, não.

Para uns, o que aqueles garotos, que empinam pipas ou conversam nas ruas e praças e vendem drogas para quem os procuram, fazem deveria ter uma punição, mas, para outros, não.

Em algumas nações, esses policiais ficariam presos, isso se não fossem condenados à morte, enquanto em outras nações os garotos poderiam vender legalmente certas drogas em lojas.

“[…] o elemento que transforma o ilícito em crime é a decisão política – o ato do legislativo – que o vincula a uma pena […]”

Foto da pesquisadora Tarsila Flores tendo ao fundo criminosos e policiais.
Diferentes porém iguais: policiais e criminosos

Presos do PCC e policiais e o efeito dobradiça

O Primeiro Comando da Capital conquistou a hegemonia pela força, assim como as forças policiais mantêm sob controle a criminalidade com demonstrações de poder e crueldade. É o efeito dobradiça descrito pela pesquisadora Tarsila Flores:

“[São] como a imagem de uma dobradiça: duas partes de um mesmo conjunto, contrários no que se percebe quando a porta está fechada; mas, quando se abre, a dobradiça coloca as duas partes em pé de igualdade. Quando a porta se abre, a situação entre a legalidade e a ilegalidade se iguala…”

Muitas pessoas vivem em redomas imaginárias nas quais buscam não ver o mundo real onde “cortar as cabeças é uma forma de intimidar os inimigos e isso ficou mais fácil com as mídias sociais, com as imagens transmitidas por meio dos telefones celulares”.

A complexidade que envolve a referida situação repugna toda e qualquer tentativa na suposta identificação de um único responsável que dispare o gatilho da geração desse fenômeno.

Ilustração com Cristo na Mansão dos Mortos.
Enquanto “cidadão de bem” torce para preso morrer, Cristo…

Um longo caminho separa a justiça carcerária

Desde que tudo isso aconteceu com os meninos, a realidade mudou muito à custa de rios de sangue, inclusive de inocentes.

A organização dos cativos em torno da facção Primeiro Comando da Capital, assim como governos que investiram na aplicação de metodologias humanistas na administração carcerária, conseguiu manter a fervura sob controle.

No entanto, ainda hoje há presos cuja totalidade da pena já foi cumprida, porém ainda se encontram nas dependências do cárcere, esperando o BI para cantar a liberdade que deve ser feito por um advogado, profissional que, por vezes, aproveita mais essa oportunidade de lucrar com as famílias.

A iniquidade aumenta o grau de insatisfação e revolta dos internos no sistema prisional, o que não deve acabar tão cedo, afinal alguém tem que sustentar um milhão e cem mil advogados e mais cem mil formados todos os anos.

Esses, assim como “as polícias encarregadas da segurança pública, mas que não é a regra do comportamento do seu contingente, se esquecem, por vezes, do seu verdadeiro sentido de existência” – uns de garantir a aplicação da Justiça e outros de prestar segurança.

A sociedade é complexa e os interesses se opõem, isso é natural, algo da condição humana. Não há bons e nem maus, apenas pessoas que querem viver e lutam pelo seu espaço, e por isso que não vou escrever sobre o que você me pede, pois desenterraria antigas lembranças.

Fotomontagem com uma viatura da Polícia Civil em frente a um grupo de presos atrás das grades.
Apagando da memória o sofrimento alheio

A política do apagamento do sofrimento do outro

“Quem decide o que deve ser lembrado ou esquecido? Alguém toma a decisão do que fica guardado em nossa memória ou nós tomamos deliberadamente? É um processo deliberado ou algo que acontece por acaso? E o que há de político nisso?”

O repórter Walter Porto fez essas perguntas de maneira retórica em seu podcast, no qual entrevistou a pesquisadora Giselle Beiguelman, autora do livro “Memória da Amnésia – Políticas do Esquecimento”, mas pareceu-me que foram feitas diretamente a mim.

Eu escolhi por minha própria vontade enterrar a lembrança dos crimes cometidos por aqueles policiais, chancelados e protegidos por Promotores de Justiça e Juízes? Será que eu enterrei fundo aquelas lembranças por minha própria opção?

Giselle afirma que não. Eu fui apenas um entre milhares ao longo de nossa história, pois esse memoricídio acontece no Brasil desde a chegada dos portugueses, passando pela escravidão e pelo Regime Militar.

Imagem de um guarda ajudando as crianças de uma escola a atravessarem a rua.
Doutrinando no esquecimento seletivo

Eu, Giselle, aquele policial que estava na viatura preto e branca que foi buscar os garotos e os profissionais da máquina prisional na década de 1980 éramos crias da Ditadura Militar.

“De alguma maneira, essas décadas produziram um esquecimento, sobre o presente de então, que agora é o nosso passado.”

Fomos doutrinados nas aulas de “Educação Moral e Cívica (EMC)” ou de “Organização Social e Política do Brasil (OSPB)”, que nos apresentavam um mundo separado entre o “bem”, encarnado nos agentes de segurança, e o “mal”, rebelde e insubordinado.

A decisão de perdoar e esquecer tomada por nós que tivemos nossos garotos mortos, torturados, presos ou desaparecidos foi induzida pelo clima da “anistia ampla geral e irrestrita”, que se incorporou à cultura nacional pós abertura política e vige até hoje.

Políticos populistas prometem endurecer o sistema prisional e ampliar o poder dos agentes prisionais e policiais – sob os zurros de aprovação de jovens que nem tem ideia do que isso de fato significa.

Cada um desses garotos que zurram acredita estar protegido por sua bolha imaginária, como se Lúcifer se importasse se de fato eles são trabalhadores, estudantes ou vagabundos – assim como foi no passado, o Promotor e o Juíz acreditarão na versão que o policial apresentar.

Eu desejaria que você não tivesse tirado do fundo da masmorra de minhas memórias essas lembranças que envenenaram novamente meu sangue e minha mente, e, por isso, não vou escrever sobre o que você pede, mesmo por que não poderei escrever por algum tempo.

Hoje, dia dos pais, eu estava a caminho do cemitério para visitar o túmulo de Luciano, quando vejo Lúcifer, de óculos escuros, estacionando sua Hilux preta…

Desde que o frio, a tristeza e o rancor se abateram sobre os meus, eu nunca sei se o que vejo ou o que lembro é de fato real ou se é algo criado em minha mente por forças que eu não tenho como dominar.

Peço que desconsidere algum trecho que lhe pareça ter sido fruto de um desses sonhos diurnos forjados pelo caos que se tornou minha mente, ou então que lhe pareça que seja uma memória que jamais deveria ter sido resgatada das masmorras do passado.

Pedro Rodrigues da Silva, o Pedrinho Matador, conhece o sistema prisional de São Paulo como poucos. Ele ficou sem ver a rua de 1973 até 2007 e de 2011 até 2018 — viveu mais de 40 atrás das grades e por lá, ele conta que viu mais de 200 presos serem mortos enquanto esteve por lá, sendo que mais de 100 foram ele mesmo que matou.

Viveu no cárcere no tempo do Regime Militar, da redemocratização e dos governos com leve viés progressista, mas mudança mesmo, houve quando a facção paulista despontou como hegemônica, acabando com as diversas gangs e grupos dentro das cadeias e presídios.

Sobre o Primeiro Comando da Capital ele afirmou durante uma entrevista:

“Fui [convidado a entrar no PCC], mas não entrei. Ali é o seguinte: depois que surgiu o partido, você vê que a cadeia mudou. Não morre ninguém porque o partido não deixa. É paz. Paz para a Justiça ver. Se começa uma briga, eles seguram. Eles também ajudam quem sai, arrumam trabalho.”

transcrito por Willian Helal Filho para O Globo

A facção PCC, a polícia e o Contrato Social

A polícia e o Primeiro Comando da Capital gerenciando as normas nas comunidades carentes paulistas.

São Paulo, Zona Norte, dia molhado

A vida não é difícil e nem fácil, mas é cheia de regras que precisam ser seguidas para se caminhar em paz. Isso vale para mim, para você, para os crias do 15 e para a população das comunidades da periferia, mas para os que seguem as regras está suave.

É a lei do certo pelo certo e o que é errado será cobrado.

Toda vez que vou à região do Jaraguá na Zona Norte de São Paulo eu me perco. Por isso planejo cada passo antes de sair:

“… chegando na pracinha ‘que dá pros’ predinhos deixo o carro, vou o resto do caminho a pé, encontro o aliado, entro e saio da comunidade (um pé lá e um pé cá) – simples assim.”

Já estava escurecendo quando cheguei. Havia um grupo de garotos tomando cerveja próximo de onde eu havia planejado deixar o carro. De boa, quem não é visto não é lembrado, e se eu deixasse o carro ali toda viatura que passasse iria consultar a placa – melhor não.

Rodei mais dois quarteirões e parei na Lourenço Matielli, ali ninguém botaria reparo na placa de fora.

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A imprensa obriga a polícia apresentar resultados

Deixei o carro, segui a pé até a entrada da comunidade onde o aliado estava me esperando, e entramos na comunidade.

Ao contornar o campinho, escorreguei em uma tábua molhada: ninguém riu, ninguém ajudou, ninguém disse nada – me levantei, seguimos e resolvemos a parada.

Eu só estava lá de passagem, jogo rápido, mas o aliado aconselhou que eu ficasse ali até seus familiares irem para o culto. O clima estava pesado e não dava para sair de lá sem trombar com alguma viatura, e eu sendo de fora de certo seria parado.

Não carregava nenhum bagulho comigo, mas regras são regras, e é melhor não dar sorte para o azar. Normas de conduta existem para serem seguidas, elas garantem a paz na comunidade e a segurança de todos.

A quebrada estava molhada, e desde que começaram a procurar Amanda qualquer deslize poderia entornar o caldo.

Era polícia para todo o lado depois que o caso ganhou espaço na televisão e chamou a atenção da mídia para a comunidade, e isso é ruim para todos.

A polícia querendo resultados pressionava até morador que nunca se envolveu com a criminalidade – patifaria com a população, a cara deles.

Será extremamente difícil nossa sociedade sair —a construção de um círculo policial-midiático-criminoso, um pelourinho midiático ao qual expõe e criminaliza as comunidades periféricas para o deleite de uma população que se sente superior.

Ninguém comentou nada quando escorreguei, assim como ninguém falaria nada sobre o caso do desaparecimento de Amanda, a ex do irmão Vampirinho do PCC, principalmente depois que começou a correr o boato que ela estaria pagando de X9 para a Civil:

Dicionário da facção PCC 1533

42. Traição:

Caracterizado quando um integrante da organização leva informações para outras facções ou para a polícia…

A punição para caguetagem é a morte

Enquanto a polícia não encontrasse os corpos a pressão continuaria. Alguém teria que vazar a informação para dar chance para os agentes acharem o local, mas se nem assim isso fosse resolvido, alguém ia ter que pular na frente e assumir o B.O. para restabelecer a paz. – é assim que funcionam as coisas da ponte para cá.

A imprensa teria cenas para colocar no noticiário, os policiais iam pousar de Charles Bronson, os negócios voltariam a fluir suave e a população não ia ficar mais na pressão – só que alguém ia ter que assumir o B.O. voluntariamente, é a lei do PCC 1533.

Onde citei nesse site a imprensa → ۞

O proceder do certo pelo certo

Alguns dizem que ela não morreu por passar informações à polícia.

Amanda, ao romper o relacionamento com Vampirinho, se envolveu com Dentinho, um outro homem do mundo do crime, mas não é assim que se “corre pelo lado certo da vida errada”, e ela conhecia o proceder da facção.

“Assim como as mulheres são consideradas propriedade do homem, sua vida e sua morte são mantidas pelo homem.”

Existe todo um proceder a ser seguido para estar dentro do código de ética do crime, e Dentinho, sendo criminoso, também tinha a obrigação de conhecer:

  • Para não cair na talaricagem, Dentinho teria que ir falar com o ex-companheiro de Amanda para tirar a limpo a história da separação, para só então ficar com ela.

A facção Primeiro Comando da Capital é por sua natureza machista, e uma mulher ao se unir a um companheiro não pode simplesmente lhe dar as costas e trocá-lo por outro – a cobrança pela talaricagem fica a critério do prejudicado após a análise do Sintonia.

Eu não sei o que aconteceu por lá, o que sei é que Amanda e Dentinho desapareceram e que quatro corpos foram localizados enterrados na mata depois que a Guarda Civil Municipal recebeu uma dica de onde eles estariam – vamos ver se agora diminui a pressão.

Como o PCC lida com as mulheres → ۞

Contrato Social: a etiqueta da sobrevivência

Por estar circulando fora da minha quebrada, eu poderia até morrer ou ser preso, com sorte apenas levar um esculacho ou tomar um salve, ou, no mínimo, ter que dar explicações para os integrantes da facção ou da polícia. Tô fora!

  • Você imagina que só é morto, preso ou leva esculacho da polícia quem corre pelo lado errado da vida? – garoto inocente.
  • Você imagina que só pode tomar um salve ou ter que dar explicações para integrantes da facção quem for do crime? – acorda para a vida.

As pessoas que conheci naquela comunidade não sabem o que Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau disseram sobre o Contrato Social, mas elas sabem que não devem rir, ajudar ou fazer comentários quando uma visita escorrega numa tábua.

Ao abrir mão dessas pequenas liberdades privadas a comunidade garante em troca proteção contra aqueles que possam roubar, extorquir, matar ou estuprar na favela e nos predinhos.

Hobbes, Locke e Rousseau chamariam isso de Contrato Social, mas aquela gente que mora ali não chama de nada, apenas segue as regras, e todos continuam sem problemas – simples assim.

Eu, sendo uma visita naquela comunidade, tinha meus privilégios, mas deveria evitar encontrar com os representantes do Estado constituído (polícia) ou do Estado paralelo (facciosos) – se um me parasse e o outro visse, sujaria para meu lado. Tô fora!

Onde citei nesse site o Estado paralelo → ۞

Finn e Monique explicando nossas escolhas

Sabemos que é assim que a coisa funciona, mas Finn Stepputat e Monique Nuijten no artigo Antropologia e o enigma do Estado, publicado na obra Handbook of Political Anthopology, explicam as razões pelas quais as coisas acontecerem dessa forma.

Se você duvida que as coisas acontecem como estou lhe contando ou que Finn e Monique não estão certos em suas conclusões, não se preocupe, afinal os pesquisadores se basearam em Giorgio Agamben, que afirmou certa vez:

“Acredite em tudo que eu disse, não acredite em nada. Aprenda a diferenciar fatos e opiniões pessoais. Faça sua PRÓPRIA pesquisa, então, ESCOLHA no que acreditar.”

… ou talvez Giorgio não tenha dito isso – talvez seja uma opinião pessoal minha ou de outra pessoa qualquer. Pensando bem, é melhor você fazer sua própria pesquisa e só então escolher se acredita ou não em mim e em Finn e Monique.

A banalização da morte

Quando da morte de Marielle Franco, circularam pelas redes sociais fotos com uma garota sentada no colo de um homem e a frase: “Marielle e Marcinho VP, a santa da Globo e seu namorado” – tem gente boa que vai arder no inferno por ter compartilhado essa foto.

“Será possível que algumas vidas sejam consideradas merecedoras de luto, e outras não?”

Há quem comemore quando um ladrão, traficante, talarico, político, policial, inimigo, pederastra, empresário ou comerciante é morto pela ação legal ou ilegal do Estado: pelas mãos de policiais ou membros de facções criminosas – talvez seja este o seu caso.

O fato de aceitarmos cada vez com maior naturalidade que o outro seja morto é uma consequência natural de nossa paulatina imersão em um Estado de exceção – aquela história do sapo na água fervendo.

Ninguém daria a mínima se eu desaparecesse naquela quebrada da Zona Norte, assim como ninguém está preocupado com toda aquela população que vive à sombra de dois Estados, que impõem suas regras em troca de uma suposta garantia de segurança.

Para horror de Judith Butler, matar deixou de ser o ápice da desigualdade social para se tornar uma ferramenta de controle social aceita tanto por aqueles que vivem nas áreas de risco quanto por aqueles que assistem de longe, pelas telinhas da tv ou pela internet.

Martin Buber explica como funciona esse poder intrínseco do homem de negociar na prática sua liberdade em relação ao outro dentro de cada ambiente, tipo assim: não rir de uma visita que escorrega ou não comentar o que se sabe para quem não se deve.

Pode parecer hipocrisia ou foucaultionismo, mas esse nosso poder de gerir de forma calculista nossa vida é o que aos poucos nos trouxe para esse ponto onde estamos.

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Os efeitos de 11 de setembro da ponte para cá

Erra quem acredita que nós não fomos atingidos pelos aviões em 11 de setembro de 2001.

Aquele clima pesado que pairava sobre a comunidade na Zona Norte de São Paulo e que me obrigava a esperar o melhor momento para sair era apenas um dos reflexos na comunidade do ataque às Torres Gêmeas – se bem que ninguém por lá dava conta disso.

Há tempos, os Estados paralelos passaram paulatinamente a criar regras e a cobrar obediência para garantir a segurança das comunidades às quais pertencem, sob os aplausos de muitos e o silêncio da maioria, isso mesmo antes de 11 de setembro, mas…

… após o atentado da Al Qaeda, o Estado Constituído em diversos países, aos poucos, passou a questionar direitos e a tolerar abusos por parte de seus agentes, sob os aplausos de muitos e o silêncio da maioria, com o pretexto de manter a paz.

Por causa disso, policiais e facciosos estavam ainda mais empoderados para cobrar de mim e de qualquer outro que seguisse suas regras de comportamento, e eu estava lá, entre um e outro, mas a quem recorrer? Ao Chapolin Colorado?

Meu soberano deve me proteger, e é por isso que aceito seu jugo e suas ameaças – pelo menos é o que Hobbes me garantiu. Pode parecer uma posição hipócrita, mas, conscientemente ou não, é o que eu e você fazemos todos os dias.

Como foi descrito por Charles Tilly, a população da comunidade da Zona Norte sabe que deve obediência aos policiais que representam o poder da legalidade, mas também devem aos criminosos locais que efetivamente garantem a segurança no dia a dia.

Eu não preciso que Charles me diga que nesses tempos pós 11/9 a vida é menos valorizada, tanto pelos agentes do governo quanto pelos faccioso, e por isso esperei para sair em um momento em que não encontrasse nenhum deles pelo caminho.

Onde citei nesse site sociólogos → ۞

Nem todos podem ser mortos assim sem mais nem menos

Giorgio Agamben afirma que eu, Amanda, Dentinho e os garotos das favelas e das comunidades estamos na lista dos matáveis, mas nem todos têm “vidas nuas”, desprotegidas, que estão sujeitas à execução sem a punição dos matadores.

Giorgio só não negou o inegável

Enquanto alguns, entre eles talvez você, negam que estejam sob o jugo de algum poder soberano, Giorgio analisou os limites que essa elite se impõe e descobriu a lógica aplicada por esses grupos para separar quem pode ou não ser morto.

“Elite” talvez não seja como você descreveria um grupo pequeno de policiais ou criminosos que advogam para si o poder de decidir quem vive e quem morre, mas são eles que controlam os bens mais preciosos dos homens: sua vida e sua liberdade.

Giorgio chuta para o escanteio a noção de que o soberano é aquele que detém o poder legal, reconhecendo a soberania naquele que tem a “capacidade de matar, punir e disciplinar com impunidade”.

A vida nua não pode ser magra

Caroline Humphrey no entanto alerta que a vida pode “ser nua”, como afirma Giorgio, mas que esse conceito não pode ser entendido sem uma análise profunda de cada “modo de vida” em cada comunidade.

Eu sabia, mesmo sem que Caroline me dissesse, que naquela comunidade eu poderia ser punido por infringir uma das normas não escritas mas aceitas por algum daqueles soberanos, e ficaria por isso mesmo, sem punição para meus algozes.

Onde citei nesse site o Tribunal do Crime → ۞

A tênue separação entre a realidade e a utopia

Em um mashrut na Mongólia ou em uma van irregular nas periferias brasileiras existe um universo real colorido convivendo com a utopia dos que enxergam o mundo em preto e branco – Lei! Ora, a lei.

Dentro de cada um daqueles veículos, assim como nas comunidades, as regras de conduta são aceitas ou toleradas pelos passageiros, acima mesmo das leis formais da sociedade, para que essa tênue película que separa o real do utópico não seja rasgada.

  • Experimente tirar a camiseta em uma van e se sentar ao lado de uma garota: a regra de conduta daquela comunidade não aceita. Diga que você está amparado pela Constituição Cidadã de 1988 (desculpe se me rio: kkk).

Cada proprietário de van ou de mashrut é um pouco soberano, mas responde a um grupo maior que garante sua soberania. Da mesma forma ocorre em comunidades urbanas e rurais com soberanos locais, ligados ou não ao governo oficial.

Cada nicho social abandonado pelo Estado de direito a sua própria sorte cria sua malha social com soberanos locais chancelados pela autoridade do Primeiro Comando da Capital ou alguma outra organização criminosa, como ressalta Graham Willis:

“[Impondo] sua própria violência estrutural, toda institucionalizada e simbólica”.

Assim, seus representantes, da mesma forma que os policiais, têm autoridade para fazer o uso da força e decidir quem poderá entrar na lista das vidas (in)desejáveis ​​e “mortais”.

A morte por consenso desnudada por Graham vale tanto para policiais quanto para criminosos, tanto para vítimas como para algozes. Aqueles que decidem sobre quem vive ou morre em uma comunidade também são mortos impunemente.

Do ponto de vista de Graham, não há dois soberanos, mas sim uma soberania consensual, em que o Estado de direito aceita a regulação da violência por “outros regimes” apenas quando é de seu interesse.

Então tá, mas, para mim, não muda nada. Vou ter que baixar a cabeça e responder às perguntas dos representantes do soberano ou do suserano, que podem decidir impunemente sobre minha vida ou minha liberdade.

Onde citei nesse site realidade e utopia → ۞

Junto com os crentes para evitar a polícia

Eu só pensava em sair de lá de boa e o mais rápido possível. Chegou a hora do culto e a família do aliado com seus trajes de igreja caminharam comigo a reboque – eu não estava muito no estilo “crente”, mas dava para passar batido.

Para quem mora em condomínio parece natural ter seguranças para impedir a ação de criminosos dentro de suas muralhas, assim como para quem mora em uma comunidade também parece natural que os traficantes locais mantenham a ordem na quebrada.

Isso não acontece apenas aqui – afirmam Finn e Monique.

O que horroriza não é o fato da facção PCC 1533 tomar para si parte da segurança pública, mas desnudar esse acordo tácito entre o Estado de direito e o poder paralelo, que desde sempre esteve nas mãos de policiais corruptos, vigilantes, milicianos ou gangues locais.

O Estado se apresenta como representante único e legítimo, mas os detentores da soberania local, mesmo que na ilegalidade, por vezes estão mais afinados ao “sistema de valores locais compartilhados” pelas comunidades, e daí sua aceitação tácita.

Ao contornarmos os predinhos passamos por um grupo de rapazes sendo abordados por duas viaturas da força-tática. Nem preciso descrever a cara que o policial que fazia a segurança da equipe fez em nossa direção.

Acostumados, o casal e as crianças nem ligaram – normal para eles, para mim, te conto o que pensei:

“É assim que pensam em formar um Estado unificado, onde o cidadão trabalhador se sente protegido pelo poder legal? Firmeza, vai nessa! Ponto para a criminalidade.”

No mundo real da comunidade, as pessoas andam dentro das regras de um Estado dividido e terceirizado, enquanto a mídia e os burocratas ficam atrás de suas mesas escondidos sob montanhas de procedimentos, ideologias e números, vivendo em um mundo utópico.

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Glauco e o novo membro da Família 1533

Me despeço da família e agradeço pela companhia, que me livrou do possível transtorno e do constrangimento de passar por uma geral da polícia ou ser chamado para o debate pelos garotos da comunidade.

No caminho de casa, já na Rodovia Castelo Branco, me lembrei de Glauco, não o cartunista, mas de Glauco Barsalini, que escreveu “Estado de exceção permanente: soberania, violência e direito na obra de Giorgio Agamben”.

  • “OK Google, me lembre amanhã de perguntar ao Dr. Barsalini na padaria Santo Antônio se o Glauco da PUC-Campinas é parente dele.”

O que me fez lembrar da tese de Glauco foi a cara de satisfação de dois rapazes que estavam de farda naquela abordagem policial na Zona Norte de São Paulo enquanto conduziam um dos aviõezinhos preso por tráfico de drogas na quebrada.

O trabalho do acadêmico aponta como consequência desse encarceramento em massa o surgimento e a expansão das organizações criminosas e o que aquelas “pessoas que vivem em comunidades pobres pensam sobre o crime e o policiamento”.

Assim como Finn e Monique, Glauco busca entender o crime organizado em um contexto global e contemporâneo, evitando se contaminar pelo ambiente provinciano que acredita que o fenômeno PCC 1533 é uma criação fora da realidade mundial e de seu tempo.

Ao chegar na segurança de meu lar, depois de resolver as responsas que tinha acertado com o aliado, fui para meu merecido descanso, tão satisfeito quanto aqueles dois policiais que levaram o garoto para ser doutrinado na filosofia da Familia 1533.

Como diria minha velha amiga Odete de Almeida: “É prá cá bá”

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Nos últimos anos, como consequência do acirramento da disputa por poder entre grupos criminosos, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), tem sido recorrente a execução de grupos rivais dentro de unidades prisionais. Nestes casos, a morte, mesmo qualificada por uma brutalidade terrível, choca ainda menos. Tornamo-nos uma sociedade sádica, despudorada que não apenas aceita estas mortes, mas vibra com elas. A morte deve entrar em casa, tomar café e almoçar todos os dias com cada um de nós e não mais assustar. Tal sadismo toma forma a partir do crescente número de programas jornalísticos sensacionalistas, sucessos de audiência, centrados no espetáculo da violência. O medo da violência não desperta indignação, mas alimenta o ódio ao “outro”, reforçando a cisão social. Neste sentido, a percepção reproduzida nos últimos anos de uma sociedade dividida entre “cidadãos de bem” e “marginais” aparece como a versão mais moderna da polarização entre a Casa Grande e a Senzala. (leia o artigo dessa citação na íntegra)

Rafael Moraes é professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)