O grito de guerra do Primeiro Comando da Capital, PCC 1533, foi registrado quando Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, ainda brincava pelas ruas de Osasco com seus 10 anos de idade. O lema foi usado bem longe dali por um americano, em um avião que atravessava o Atlântico, próximo à costa da Irlanda, indo de Nova York a Genebra.
Era 25 de agosto de 1978. A comissária de bordo do voo 830, um Boeing 707 da TWA, entregava ao piloto duas cartas com mais de dezenove páginas de declarações e exigências do grupo terrorista que se autodenominou de União dos Soldados Revolucionários do Concelho da Aliança de Alívio Recíproco pela Paz, Justiça e Liberdade em Todo Lugar (United Revolutionary Soldier of the Council of Reciprocal Relief Alliance for Peace, Justice, and Freedom Everywhere).
Esse é o mais antigo documento em que as três palavras chaves foram utilizadas por uma organização criminosa. Dessa vez, ao menos, não foi possível culpar o Marcola de participação, até porque em nenhum momento os investigadores suíços ou os americanos convocaram o moleque de Osasco para ser ouvido.
A organização criminosa exigia nas cartas, entre outras coisas:
- Liberdade imediata para o nazista alemão Rudolf Hess, da prisão de Spandau, em Berlim.
- Liberdade imediata para o americano Sirhan Bishara Sirhan, condenado pelo assassinato de Robert F. Kennedy.
- Liberdade imediata para cinco prisioneiros croatas, presos nos Estados Unidos, que haviam matado um policial em Nova York e sequestrado um avião dois anos antes.
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Se as exigências não fossem atendidas, duas malas com bombas, que estavam no compartimento de bagagem do avião, seriam detonadas. As cartas foram entregues à comissária por uma pessoa disfarçada (óculos e bigode falsos, peruca preta e capa cor laranja brilhante) que, depois de tirar o disfarce, misturou-se às outras 85 pessoas que continuavam a bordo da aeronave.
Depois de voar mil e quinhentos quilômetros, o avião pousou em seu destino, Genebra, onde os negociadores tentaram contatar o terrorista, mas ele não se manifestou, continuando escondido entre os demais passageiros. Consequentemente, veio a ordem para que todos saíssem da aeronave rapidamente.
A mensagem de Paz, Justiça, e Liberdade estava lançada no Aeroporto de Genebra, pelo motorista americano desempregado Rudi Siegfried Kuno Kreitlow. Ele acabou sendo preso em um Clube de Xadrez quando a polícia encerrou as investigações, sendo condenado a 20 anos de prisão.
Kreitlow não participava de nenhum grupo terrorista, mas a semente caiu em um solo fértil: em um presídio brasileiro à 9.300 quilômetros da cidade suíça, onde os presos políticos e os criminosos comuns e de alta periculosidade eram postos em um mesmo ambiente conturbado e opressor – nove meses depois nascia, no Presídio da Ilha Grande, a Falange Vermelha, cujo lema seria Paz, Justiça, e Liberdade.
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A Falange morreu assim que foi criada, mas teve continuidade com o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital, que mantiveram o grito de guerra lançado por Kreitlow. Este último, assim como o Marcola em 1978, jamais poderiam, naquele tempo, imaginar as emoções de ódio e paixão que aquelas palavras causariam no futuro.
O estudioso Diorgeres de Assis Victorio do Canal Ciências Criminais me lembra que originalmente o lema Paz, Justiça, e Liberdade, era utilizado apenas pelo Comando Vermelho, enquanto o Primeiro Comando da Capital adotou o “Liberdade! Justiça! E Paz!”, conforme consta nos primeiros estatutos apreendidos pelas autoridades policiais.
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