Disputas de Poder: Primeiro Comando da Capital de 2001 a 2006

A jornada deste texto percorre a história da facção PCC 1533 de 2001 a 2006, um período marcado por intensas disputas de poder e contradições, revelando uma faceta complexa da criminalidade em São Paulo.

“Disputas de poder” delineiam a essência deste relato. No coração desse emaranhado, o Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533), prevalece. Testemunhe sua ascensão entre 2001 a 2006.

Em meio ao caos, desenrola-se uma dança do poder, onde a política de segurança pública, paradoxalmente, fortalece a facção PCC. Nossa jornada começa aqui, dentro do intricado universo do PCC.

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2001 a 2006 – Disputas de Poder com a sociedade

Em 1997, um grito audaz ressoou do submundo criminoso, desafiando a sociedade como um fantasma emergindo das sombras. O Primeiro Comando da Capital, ousadamente, forçou o reconhecimento de sua existência, garantindo a publicação de seu estatuto e selando sua imagem como uma organização criminosa.

Essa atitude, talvez impulsionada por uma busca de satisfação do ego, talvez pelo desejo de derrubar o estigma do criminoso comum, tido como “inferior e ignorante”, surgiu como um movimento ousado e estratégico.

No jogo xadrez das “Disputas de Poder”, esta manobra se revelou mais do que uma simples busca por reconhecimento. Foi uma jogada tática astuta, um lançamento calculado de um dado que traçaria o caminho para o crescimento iminente da organização nos anos que viriam.

Medo, Repulsa e a Imprensa como Alto-falante

As entranhas da cidade escondiam mais do que apenas o medo e a repulsa – elas abrigavam uma força emergente, prestes a deixar sua marca indelével no tecido da sociedade. Esta era a ascensão silenciosa, porém inconfundível, do Primeiro Comando da Capital.

Em meio a um cenário que desafiava qualquer lógica convencional, a mídia assumiu o papel de alto-falante para as atividades do PCC, aumentando exponencialmente a sua notoriedade. Em uma tentativa de projetar uma imagem de eficácia e ação à população, várias correntes ideológicas implementaram políticas de Segurança Pública. No entanto, ao invés de subjugar a influência do PCC, elas fortaleciam inadvertidamente a organização criminosa. Como um fogo alimentado pelo vento, a estrutura do PCC parecia apenas se fortalecer frente a estes esforços.

O período de 2001 a 2006 marcou a entrada do Primeiro Comando da Capital numa nova fase, uma era definida por intensas disputas de poder. Este tempo, preenchido com dilemas e conflitos tanto internos quanto externos, escancarou a complexidade do ambiente no qual a facção PCC estava imersa.

No palco externo, a intenção das políticas governamentais colidiu com sua eficácia na prática. Ao invés de conter a influência da PCC, as medidas adotadas pela segurança pública paulista deram um impulso inesperado à organização criminosa. As transferências de presos, pensadas para diluir a força da PCC, acabaram por criar uma rede de influência mais extensa e consolidada, tanto dentro quanto fora das prisões.

Sede fecundos, disse-lhes ele, multiplicai-vos e enchei as trancas.
Vós sereis objeto de temor e de espanto para todo aquele que pensar em se opor a vós.
Tudo o que se move e vive vos servirá de alimento; eu vos dou tudo isto, como vos dei a erva e o pó.
Somente comereis carne com a sua alma, com seu sangue.
Todo aquele que trair a nós terá seu sangue derramado pelos irmãos, porque faço de vós a nossa imagem.
Sede, pois, fecundos e multiplicai-vos, e espalhai-vos sobre a terra abundantemente.

Operação Dictum PCC 15.3.3

Disputas de Poder dentro da Facção

No cenário interno, as disputas de poder intensificaram-se. Os líderes, outrora respeitados e inquestionáveis, agora enfrentavam um panorama de incerteza e instabilidade. Sombra, um dos generais mais admirados, fora brutalmente assassinado em 2001, durante seu banho de sol na prisão de Taubaté. Os motivos do assassinato de Sombra nunca foram confirmados oficialmente, mas diversas teorias circulavam entre os membros da PCC. Talvez fosse uma jogada de uma facção rival, talvez uma rixa pessoal, ou ainda uma tentativa de outro líder da PCC para aumentar seu poder. A verdade permaneceu nebulosa.

O Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), já estabelecido, encontrou forte resistência entre os detentos. No entanto, as lideranças do PCC incessantemente buscavam meios para se evadir deste castigo institucional, agitando o ambiente penitenciário. Paralelamente, a PCC logrou eliminar diversas organizações rivais em São Paulo, isolando as que apresentavam mais resistência. Curiosamente, ao concentrar todas as lideranças no presídio P2 de Presidente Venceslau, o estado inadvertidamente forjou um Quartel General para o Primeiro Comando da Capital, facilitando a coordenação entre os diferentes líderes do estado.

[…] o RDD acabou por contribuir para a consolidação de lideranças dentro do sistema prisional. A construção da autoridade das lideranças no interior de organizações tais como o PCC se dá a partir da valorização de alguns atributos do indivíduo, especialmente ligados à autonomia e independência frente a qualquer poder ou autoridade formal de modo que o preso que recebe como punição a alguma falta a remoção para o RDD acaba encarnando a imagem exemplar da insubmissão às regras oficiais do Estado.

Bruno Lacerda Bezerra Fernandes

Da disputas de poder à pacificação

A hegemonia da PCC nas prisões estava em plena expansão, com a organização ocupando o vácuo de poder deixado pelas facções extintas.

No implacável jogo de poder do submundo, o PCC mostrou-se eficiente ao enfrentar seus rivais. Ao eliminar muitas organizações adversárias em São Paulo, orquestrando uma verdadeira guerra estratégica, cujo objetivo era estabilizar sua influência e conquistar o poder e a hegemonia nas prisões. Organizações contrárias como o Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade CBRC, a Seita Satânica SS, o Serpentes Negras e Comando Democrático da Liberdade CDL, de fato, desapareceram após 2001.

Este cenário gerou um vácuo de poder, um espaço vazio que ansiava por domínio. A habilidade do PCC em preencher essa lacuna tornou-se evidente à medida que expandiam gradualmente seu controle, utilizando a violência como um instrumento para reforçar seu poder e recrutando novos membros para suas fileiras. A cada passo, o Primeiro Comando da Capital foi tomando as rédeas, crescendo não apenas em influência, mas também em número, com o aumento constante de seus afiliados. Nesse tabuleiro de xadrez do crime, a cada movimento, a facção PCC consolidava sua supremacia.

Apesar das circunstâncias adversas, a Primeiro Comando da Capital conseguiu estabelecer uma espécie de “pacificação” nos presídios entre 2002 e 2004. Este termo, contudo, não significava uma verdadeira paz, mas o fim das violentas disputas de poder entre as facções. No entanto, os crimes fora das prisões, como fugas, assaltos e sequestros, continuaram a ocorrer.

A pacificação dependeu da capacidade do PCC em construir um discurso de união do crime e organizar o interesse dos empreendedores de drogas numa mesma direção. Em São Paulo, a facção conseguiu funcionar como agência reguladora.

A Guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil

As Sombras de São Paulo: o sonho de mizael

Mergulhando ainda mais fundo nos corações das sombras de São Paulo, em nossa narrativa do período entre 2001 e 2006, palco das “Disputas de poder” do notório Primeiro Comando da Capital. Vidas tecidas na violência, corações pulsando contra a corrente de seus destinos prescritos – é neste cenário que Mizael, um líder na trama da facção, encontra seu fim abrupto em fevereiro de 2002.

Mizael, uma figura emblemática do PCC, se destacou por sua visão que ia além do cotidiano criminoso. Ele sonhava com um diálogo direto com o governo brasileiro e organizações de direitos humanos, enxergando na denúncia de abusos do governo paulista, uma chance de mudança. Essa aspiração foi abruptamente interrompida por uma trama interna.

Te convido a enxergar além da brutalidade dos atos do criminoso condenado. Tente ver em Mizael um homem com um plano, um estrategista almejando mudanças para além das grades. Seus desejos ecoavam em um manifesto, onde fazia menção a figuras políticas e intelectuais relevantes, numa tentativa de criar diálogo no âmbito político-jurídico.

Entretanto, dentro do universo fechado do Primeiro Comando da Capital, os sonhos costumam ser encurtados. Cesinha, antigo aliado de Mizael e um dos generais do PCC, baseado em boatos, determinou o fim de Mizael. O líder foi assassinado em um ato simbolicamente cruel, tendo seus olhos arrancados, uma forma de suplício que ecoa a brutalidade deste universo.

Jogos de Poder

Neste jogo de xadrez humano, Mizael e Sombra, outro líder do PCC, se destacaram por suas visões inovadoras. Viu-se em Mizael o potencial de um líder político, ainda que dentro da estrutura de uma organização criminosa. Sua visão, entretanto, foi impedida por uma disputa de poder, comprovando a velha máxima de que em uma guerra interna, não há vencedores, apenas sobreviventes.

Para além dos atos violentos, percebemos os homens por trás da facção PCC, suas ambições e desejos, frustrações e medos. Em um mundo onde a luta pelo poder pode custar a vida, cada decisão tem um peso imenso e os erros, consequências fatais. Entre as sombras das disputas de poder, encontramos seres humanos em sua mais crua essência, lutando pela sobrevivência em um ambiente hostil.

A Reconfiguração do Poder: Traição e Reformulação

Durante esse período de 2001 a 2006, encontramos um cenário volátil nas entranhas do emblemático Primeiro Comando da Capital. As perdas de lideranças chave levaram a uma reestruturação significativa do poder dentro do grupo, dando início a uma fase de intensa reconfiguração interna.

Neste período, presenciamos o assassinato de Ana Maria Olivatto Camacho, ex-esposa de Marcola, perpetrado por Natália, esposa de Geleião. Este evento acendeu o estopim para uma onda de vingança dentro do PCC, com parentes de Natália sendo eliminados por seguidores de Marcola.

A trama de nosso relato se adensa com a delação de Geleião à polícia, num esforço desesperado para proteger sua esposa e a si mesmo. Esta traição foi repudiada pela facção, levando à expulsão de Geleião e Cesinha, líderes renomados do PCC.

O vácuo de poder deixado por estas convulsões internas foi preenchido por Marcola, que ascendeu à liderança do Primeiro Comando da Capital em 2003. Implementou uma reformulação radical, mudando a forma de atuação financeira, política e estratégica da organização.

O PCC Evolui e se estrutura como empresa

A nova fase do PCC foi marcada por uma reorganização, passando de uma estrutura piramidal centralizada para uma organização complexa e descentralizada. Esta mudança democratizou as formas de atuação do grupo, concedendo voz e voto na estrutura interna da facção.

Marcola introduziu o conceito de “Sintonias”, comissões ou setores compostos por vários “irmãos” que reportavam a uma “sintonia final”. Além disso, a facção incluiu os termos “Igualdade e União” no seu lema, evitando problemas internos de poder e melhorando a divisão do trabalho.

No seio desta remodelação, o tráfico de drogas surgiu como uma atividade lucrativa e segura, reduzindo a perda de membros em assaltos e sequestros. Esta mudança levou a facção PCC a se tornar uma organização de caráter empresarial, embora mantendo sua luta contra as opressões e injustiças.

Neste contexto, o PCC, que começou como um partido, continua a existir, agora também como uma empresa. Uma dualidade que produziu uma ruptura singular na história da facção, transformando-a numa entidade complexa e multifacetada.

Baseado no trabalho do pesquisador Eduardo Armando Medina Dyna: “As faces da mesma moeda: uma análise sobre as dimensões do Primeiro Comando da Capital (PCC)”

A fundação do PCC 1533, a facção Primeiro Comando da Capital

Descubra a fundação do PCC 1533 Primeiro Comando da Capital, desde seus primeiros dias até a consolidação da maior facção criminosa do Brasil. Explore a complexidade e os detalhes dessa história significativa.

“Fundação do PCC” não é história pra quem tem coração fraco, é fita pesada, mano. Cola com a gente que vai valer a pena.

O nascimento da facção PCC 1533 não é conto de fadas, é história de resistência, sofrimento e luta. É o som das ruas e das trancas. É o grito dos excluídos.

A história do Primeiro Comando da Capital é sobre os manos e as minas que decidiram não abaixar a cabeça. É sobre a força que nasce na adversidade.

Fudação do PCC segundo o mano Dyna

Então, tamo falando da fundação do Primeiro Comando da Capital, que não nasceu assim, de repente, saca? É um processo complexo, que envolve muito sangue, sofrimento e história.

Mano, cada um tem sua versão de como foi a fundação do PCC. Tipo, cada um vivenciou a parada de um jeito diferente. Então, não dá pra saber qual é a história “verdadeira”, sacou? São visões diferentes do mesmo lance.

Um salve pro Cabelo, ex-Serpentes Negras. Tivemos nossas tretas, mas no final, a gente tava na mesma. Ele sempre tava ligado pra contar como era lá dentro do Carandiru, na época que o PCC tava começando a ferver e quando rolou o massacre de 92. Mas eu dei mole, deixei pra depois. Agora o irmão tá do outro lado, só no meu aguardo.

A fundação do PCC tá ligado diretamente com a Segurança Pública em São Paulo, saca? Não foi um bagulho que apareceu do nada. Foram várias fitas acontecendo, envolvendo os presos e até o governo estadual.

Pra entender melhor a fundação do PCC, temos que abrir a mente e deixar de lado o que a mídia e os conserva tão falando. Tem que ir além do que todo mundo fala por aí, mano.

Então, no fim das contas, o Primeiro Comando da Capital é uma parada complexa, resultado de vários acontecimentos e experiências. Cada história é uma peça do quebra-cabeça pra entender de verdade como foi.

Os 8 fundadores do Primeiro Comando da Capital

A parada começou a ficar séria no “Piranhão”, a Casa de Custódia em Taubaté, depois de um racha no campo de futebol. Tinha o time dos manos do interior, o “comando caipira”, e os da capital.

No início, uns chamavam de Partido da Capital, outros de Partido do Comando da Capital, até que firmaram como Primeiro Comando da Capital. E esse nome, mano, veio pra ficar.

Saca a escalação do time da capital, os 8 fundadores do PCC:

  • Misael Aparecido da Silva (Miza);
  • César Augusto Roriz Silva (Cesinha);
  • José Márcio Felício (Geleião);
  • Wander Eduardo Ferreira (Eduardo Cara Gorda);
  • Antônio Carlos Roberto da Paixão (Paixão);
  • Isaías Moreira do Nascimento (Isaías Esquisito);
  • Ademar dos Santos (Dafé) e
  • Antônio Carlos dos Santos (Bicho Feio)

Notou que o Marcola não tá aí, né não? Depois eu te explico, agora vamo pro jogo.

Rolou uma briga daquelas durante uma partida, dois manos caíram, e o clima pesou. Jozino e Camila contam que Geleião não aliviou pro lado do rival. Quebrou o pescoço do cara e ainda tentou arrancar a cabeça dele.

Depois disso, os manos que estavam começando o PCC se ligaram que iam levar um esculacho da repressão do presídio e decidiram resistir. Fizeram um pacto pra enfrentar a violência que vinha da direção do Piranhão e de onde viesse.

Quem ofender um de nós ofenderá a todos – somos o time do PCC, os fundadores do Primeiro Comando da Capital. Na nossa união ninguém mexe.

Nos primeiros anos, os caras tiveram que decidir quem ia mandar no pedaço. Dessa zoeira toda, quem se destacou foi o mano Geleião, José Márcio Felício. O cara ficou preso uns 40 anos, cercado de muitos inimigos, cercado de muita intriga, mas, veja só, morreu em 2021 num hospital penal em São Paulo. Se vê como o bagulho é sinistro, no fim quem matou ele foi a maldita Covid.

O nono fundador do PCC

Tá achando que o nono fundador do PCC foi o Marcola? Vai nessa. A parada é séria. O Estado, com suas políticas de cadeia, jogou a lenha pra essa fogueira arder, sacou? E quem alimentou esse fogo é o nono fundador.

Pedrosa, que em 1992, tingiu suas mãos com o sangue do terrível massacre do Carandiru, era considerado o nono espectro na macabra galeria de fundadores do comando, além dos oito aprisionados naquela horrenda cela. Este ser, governante da gaiola que se encheu com o sangue de irmãos, alguns inocentes, outros desconhecidos para o mundo do crime, foi o lago onde o ódio, que deu vida ao Primeiro Comando da Capital em 93, saciou a sua sede insaciável.

Pedrosa foi o diretor José Ismael Pedrosa quando dos 111 mortos e foi colocado como diretor da Casa de Custódia de Taubaté pelo governador de São Paulo, Fleury Filho, e estava no comando no dia do jogo de fundação do PCC

No dia do jogo, o Sombra, Idemir Ambrózio, e Marcola, Marcos Willians Herbas Camacho (também conhecido como Playboy), nem desceram pro jogo, ficaram de camarote só no sapatinho, vendo a cena toda. Mas os manos tiveram uma função chave na fita toda nesses primeiros anos, saca?

Os integrantes do Primeiro Comando da Capital, desde o início, perceberam o papel do Estado na formação de sua organização. Segundo Jozino, Sombra chamou o diretor José Pedrosa, como o nono fundador do grupo, além dos oito fundadores.

Sombra e Marcola partiram pro combate, mano, contra qualquer Pedrosa que desse as caras. Os caras disseminaram a ideia do PCC, batizaram os novos manos nas outras jaulas de SP, e traçaram os corres, as táticas, as alianças do Primeiro Comando da Capital.

Depois de um tempo no sufoco, muitos irmãos foram batizados sabendo que deviam combater a opressão do Estado, que para alimentar o ódio e o rancor que infestam o coração de cada ‘cidadão de bem’, oferece como sacrifício aos chacais os desamparados e indefesos, quer estejam nas sombrias ruas da periferia, ou nas gélidas masmorras dos presídios.

Fundação do PCC: nós contra eles

Após um período de punições, os presos, agora identificados como integrantes do PCC, começaram a estruturar sua organização de maneira concreta. É fundamental entender que a fundação do PCC foi uma resposta direta às políticas prisionais e à postura do Estado, marcando o início da maior facção criminosa do Brasil.

Pra marcar território, os manos do PCC criaram uns códigos, tipo o 15-3-3, sacou? Essa parada veio do Alfabeto Congo, usado pela galera do Comando Vermelho do Rio. Esses números são as letras P, C, C do nosso alfabeto, formando a sigla PCC. O Mizael, um dos irmãos, criou um logo com o símbolo Yin Yang, pra mostrar o equilíbrio que eles queriam no comando.

Camisetas e tatoos com os códigos 1533, Yin Yang e a cara do revolucionário Che Guevara eles fizeram, pra deixar claro a ideia do PCC. Essa organização foi a resposta dos irmãos pras condições pesadas da cadeia e as tretas do Estado, mostrando como o próprio sistema teve um papel chave na criação da maior facção do Brasil.

Aquele salve pro pesquisador Eduardo Armando Medina Dyna, que é o responsa por passar essas fitas todas pra mim. Se tiver chance, dá uma conferida nos corres dele, mano, porque é de lá que vem a ideia reta.

Mensagem Oficial do 24º aniversário da facção PCC 15.3.3

Hoje é o dia do 24º aniversário do Primeiro Comando da Capital, vulgo PCC 1533. Havia me decidido a não postar nada hoje, mas, sempre tem um mas, Luis Fernando Veríssimo acabou de postar no Estadão uma crönica que me fez mudar de ideia.

O texto do mestre tem um trecho que é mais ou menos assim:

“Qualquer pessoa sensata que parar para pensar na origem e na expansão do Universo e no que nos espera quando nosso Sol se extinguir ou explodir […], pensará: “Isso não vai acabar bem…”.

Bem, aí ele faz o contraponto com um personagem de Voltaire que vê com encantamento tudo a sua volta, por pior que seja a situação.

E é exatamente assim que a sociedade se comporta em relação a organização criminosa PCC: uns veem o colapso do Universo e outros acham que está tudo muito bem.

Marcola como detonador do Apocalipse

Nem Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, nem eu, nem qualquer pessoa em sã consciência pode achar que a existência de um facção criminosa possa ser algo positivo, mas tem gente que passa sua vida achando que pelo fato do PCC existir chegou o dia do Apocalipse – se bem que um dia ele poderá chegar, mas não é hoje.

Em muitos estados, é verdade, ainda não se chegou a um equilíbrio, a pacificação, mas no geral a vida segue com todos buscando o progresso e o que todo mundo quer em um aniversário, comemorar em paz e ser feliz.

Uma mensagem que trombei por aí reflete como está o clima dentro da facção:

“Bom dia a todos sem exceção, olha a nossa disciplina que temos que seguir. Para todos verem como que a família cresceu, e está evoluída! Nossa luta não para!

Antes de dormir colocar a cabeça no travesseiro e falar: hj eu fiz tantas coisas, amanhã vou fazer um pouco mais. Aí, todos fazendo sua parte dentro do seu setor a engrenagem não para e sempre vai evoluir.

Eu tenho orgulho de fazer parte do 1533! 👋Várias noites e vários dias sem dormir, tudo por meu esforço e dedicação ao Primeiro da Capital, amo minhas irmãs, meus irmãos, meus companheiros, que fecham em responsa do p.c.c, que se dedicam.

As companheiras que nos ajudam e acreditam na nossa luta. Com todo meu carinho e respeito, bom dia a todos Irmão… 1533 p.c.c até o fim! Olha nosso aniversário em família, todos fechadão na mesma batida”

É isso, azar da imprensa e dos datenas que terão que procurar sangue para vender audiência em outro lugar.

Ah! Tem um áudio feito especialmente para essa ocasião, e o mais importante, uma mensagem oficial:

Comunicado Geral – Interno e Externo


O Resumo Disciplinar vem através deste deixar um forte abraço a todos, e também a agradecer a todos os nossos irmãos e irmãs, os companheiros e companheiras, que se mantém forte na luta ao nosso lado apesar de todas dificuldades – sempre vendo uma forma para seguir em frente.
A todos aqueles que se foram fica nossa gratidão e agradecimentos por tudo que fizeram enquanto tiveram com nós. Foi onde nos ensinaram que a semente nunca morrerá, pois é uma corrente.

Nesse aniversário da nossa Família PCC nos lembraremos de todos com lagrimas nos olhos, pelas perdas que jamais voltarão. Vocês também nos dão forças para continuar, e para que todo esse sacrifício não seja em vão, e vejam como que essa semente plantada no concreto, regada com muito sangue, se tornou uma árvore de muita esperança.

Nosso agradecimento a todos os nossos queridos que se foram, a todos que se encontram nas trancas federais ou estaduais, que deixaram muitas vezes de viver sua vida para mover essa família.

Deixamos claro que essa semente plantada não morrerá por eles, por nós, e por vocês que nos deram bons exemplos, que essa data sirva para comemorar mas também sirva para refletir o que perdemos em prol a essa luta justa.

Que cada um de nós se faça essas perguntas:

  • Quem acredita na mudança?
  • O que somos?
  • Qual são os nossos objetivos?
  • Quais são nossas metas?

E que podemos honrar essa Família que vai comemorar mais um ano, mas que também está sentindo falta de todos que se foram.

Deixamos um forte abraço a todos em nome da Família PCC e que juntos e unidos venceremos: onde o crime fortalece o crime.

Paz, Justiça, e Liberdade – registro de nascimento

O grito de guerra do Primeiro Comando da Capital, PCC 1533, foi registrado quando Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, ainda brincava pelas ruas de Osasco com seus 10 anos de idade. O lema foi usado bem longe dali por um americano, em um avião que atravessava o Atlântico, próximo à costa da Irlanda, indo de Nova York a Genebra.

Era 25 de agosto de 1978. A comissária de bordo do voo 830, um Boeing 707 da TWA, entregava ao piloto duas cartas com mais de dezenove páginas de declarações e exigências do grupo terrorista que se autodenominou de União dos Soldados Revolucionários do Concelho da Aliança de Alívio Recíproco pela Paz, Justiça e Liberdade em Todo Lugar (United Revolutionary Soldier of the Council of Reciprocal Relief Alliance for Peace, Justice, and Freedom Everywhere).

Esse é o mais antigo documento em que as três palavras chaves foram utilizadas por uma organização criminosa. Dessa vez, ao menos, não foi possível culpar o Marcola de participação, até porque em nenhum momento os investigadores suíços ou os americanos convocaram o moleque de Osasco para ser ouvido.

A organização criminosa exigia nas cartas, entre outras coisas:

  • Liberdade imediata para o nazista alemão Rudolf Hess, da prisão de Spandau, em Berlim.
  • Liberdade imediata para o americano Sirhan Bishara Sirhan, condenado pelo assassinato de Robert F. Kennedy.
  • Liberdade imediata para cinco prisioneiros croatas, presos nos Estados Unidos, que haviam matado um policial em Nova York e sequestrado um avião dois anos antes.

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Se as exigências não fossem atendidas, duas malas com bombas, que estavam no compartimento de bagagem do avião, seriam detonadas. As cartas foram entregues à comissária por uma pessoa disfarçada (óculos e bigode falsos, peruca preta e capa cor laranja brilhante) que, depois de tirar o disfarce, misturou-se às outras 85 pessoas que continuavam a bordo da aeronave.

Depois de voar mil e quinhentos quilômetros, o avião pousou em seu destino, Genebra, onde os negociadores tentaram contatar o terrorista, mas ele não se manifestou, continuando escondido entre os demais passageiros. Consequentemente, veio a ordem para que todos saíssem da aeronave rapidamente.

A mensagem de Paz, Justiça, e Liberdade estava lançada no Aeroporto de Genebra, pelo motorista americano desempregado Rudi Siegfried Kuno Kreitlow. Ele acabou sendo preso em um Clube de Xadrez quando a polícia encerrou as investigações, sendo condenado a 20 anos de prisão.

Kreitlow não participava de nenhum grupo terrorista, mas a semente caiu em um solo fértil: em um presídio brasileiro à 9.300 quilômetros da cidade suíça, onde os presos políticos e os criminosos comuns e de alta periculosidade eram postos em um mesmo ambiente conturbado e opressor – nove meses depois nascia, no Presídio da Ilha Grande, a Falange Vermelha, cujo lema seria Paz, Justiça, e Liberdade.

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A Falange morreu assim que foi criada, mas teve continuidade com o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital, que mantiveram o grito de guerra lançado por Kreitlow. Este último, assim como o Marcola em 1978, jamais poderiam, naquele tempo, imaginar as emoções de ódio e paixão que aquelas palavras causariam no futuro.

O estudioso Diorgeres de Assis Victorio do Canal Ciências Criminais me lembra que originalmente o lema Paz, Justiça, e Liberdade, era utilizado apenas pelo Comando Vermelho, enquanto o Primeiro Comando da Capital adotou o “Liberdade! Justiça! E Paz!”, conforme consta nos primeiros estatutos apreendidos pelas autoridades policiais.

SOBRE ESSE ASSUNTO MAIS DOIS TEXTOS:

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O CV e o ideal de Paz, Justiça e Liberdade do PCC

Há mais de quatro décadas os fundadores, reunidos no Instituto Penal Cândido Mendes, conhecido como Presídio da Ilha Grande, em Angra dos Reis, lançaram as bases das facções criminosas contemporâneas, que hoje movimentam entre 3,5% e 10% do PIB.

Desenterro entrevista de José Carlos Gregório, o Gordo, reproduzida pelo Canal Histórias Daki. Gravada há mais de 25 anos, está no meio do caminho, entre o antigo mundo do crime no Brasil e o atual modelo brasileiro de organização criminosa transnacional.

Esse novo modelo foi forjado após intelectuais, ex-guerrilheiros políticos e membros de grupos armados que se contrapunham ao Governo Militar serem jogados no Presídio da Ilha Grande, onde o Gordo e outros criminosos comuns estavam presos.

Vavá da Luz “em um texto recheado com o vocabulário e jargões da extrema direita”, me lembrou que o jornalista Carlos Amorim relatou no “O assalto ao poder e a sombra da guerra civil no Brasil” uma fala de Alípio de Freitas sobre sua atuação nas prisões:

“Tudo o que os intelectuais queriam era resistir ao sistema penal. No meio, os presos comuns iam aprendendo a se organizar. (…) Depois, os intelectuais foram embora e deixaram a semente. Os outros se apoderaram.”

“Tenho poder de organização. Organizo grupos por onde ando. Fiz isso em todas as prisões por onde passei. Não me arrependo. Perguntem à polícia por que um grupo de malfeitores se apoderou na cadeia dos princípios da organização dos presos políticos. Primeiro, nos misturaram alegando que ambos assaltávamos bancos. Depois, mataram na cadeia todas as lideranças entre os presos comuns, os que estudaram conosco. Pensavam com isso desmantelar o CV ou o PCC. Mas deixaram os bandidos, a cadeia entregue à bicharada, unida à polícia corrompida.”

Trechos da entrevista de José Carlos Gregório, o Gordo

“Esses novos hóspedes, diferente de nós, sabiam o que era uma família, eram mais estruturados, mais educados, e viviam os dois lados: o criminoso e o da sociedade. Esses caras assistiam a tudo aquilo que acontecia dentro do presídio e chegaram para nós e disseram que os crimes que eram praticados pelos funcionários e também pelos próprios presos contra outros presos tinham que acabar.”

CONCEITO E IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA
“Quando eles tinham uma banana, eles dividiam a banana e alimentava todo mundo, e nós fomos vendo como eles faziam e aprendemos. […] E foi aí que começou a surgir essa organização, começando a se organizar dentro da cadeia, para depois transpor o muro da prisão e chegar aqui fora.”

A LUTA PELO FIM DA OPRESSÃO CARCERÁRIA

Gregório conta que no início as facções se ocupavam de organizar ações e não possuíam chefia, sendo apenas um fórum de mediação entre criminosos: “cada um cuidava da sua vida, decidindo se iam ou não assaltar algum lugar e como fariam isso, eram um grupo de pessoas que são amigos, são uma família, que se unem”.

NINGUÉM É OBRIGADO A ENTRAR OU PERMANECER

 Entretanto, é preciso cumprir as regras, além do que, caso uma missão seja abraçada, não se pode voltar atrás sem cumpri-la — conforme doutrina guerrilheira.

O LEMA É PAZ, JUSTIÇA, E LIBERDADE

Gregório conta que o Comando Vermelho foi fundado já com o lema que hoje é adotado pelo PCC:

“O lema do Comando Vermelho é Paz, Justiça e Liberdade:
Paz: é a paz de você viver em paz dentro da cadeia.
Justiça: você faz justiça todos os dias; é você fazer o que o governo não faz, o que quem deveria fazer não faz e, então, você tenta fazer alguma coisa.
Liberdade: é o que todo mundo sabe, sair do presídio a qualquer custo.”

O estudioso Diorgeres de Assis Victorio, do Canal Ciências Criminais, me lembra que originalmente o lema Paz, Justiça e Liberdade era utilizado apenas pelo Comando Vermelho, enquanto o Primeiro Comando da Capital adotou o “Liberdade! Justiça! E Paz!”, conforme consta nos primeiros estatutos.

SOBRE ESSE ASSUNTO MAIS DOIS TEXTOS:

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História da Guarda Civil Municipal de Itu 1ª parte

– Resgate Histórico –
Quanto nasceu a Guarda Civil Municipal de Itu?
Com o Decreto 2827/86 de 30 de Junho de 1986, quando o prefeito Lázaro José Piunti instado pelo vereador Dito Roque dispôs sobre sua criação; ou em Novembro de 1966 quando o prefeito João Machado, instituiu a Guarda Noturna de Itu sobre a qual a Guarda Municipal germinou; ou ainda antes, pois a Lei 496/58 de 22 de Outubro de 1958 autorizava o prefeito Galileu Bicudo a destinar doze mil Cruzeiros como subvenção ou auxílio à Guarda Noturna de Itu, demonstrando que esta instituição já atuava na cidade antes de ser absorvida pela municipalidade anos depois.
Podemos questionar a data correta na qual a prefeitura assumiu a segurança pública, assim como podemos indagar se de fato não houve em um passado distante outra instituição que atuou tal qual a Guarda Municipal atua hoje, sendo então sua antecessora.
O historiador ituano Francisco Nardy Filho relatou fatos históricos que endossam este questionamento…
Conta-nos o mestre duas histórias ituanas do final do século XVIII onde a Guarda Nacional formada por civis e agindo sob mando da autoridade municipal com guardas recrutados entre os ituanos.
Uma delas se deu quando da inauguração da Igreja Nossa Senhora da Candelária de 1780 e outra para fazer a segurança da Festa de Cruz das Almas, que acontecia em uma área rural distante do centro da cidade. Exatamente como a guarda haje agora em pleno século XXI. Em nada realmente mudou fora o nome, ao invés de chamar Guarda Nacional passou a ser conhecida como Guarda Civil Municipal.
Por Itu ser uma cidade com mais de quatrocentos anos de história podemos concluir que a Guarda Municipal não foi de fato criada por aqui no século XX e sim recriada, pois já havia atuado nestas paragens antes da extinta Guarda Civil antes de ser instituída no estado de São Paulo em 1926.

O jovem clérigo e as esperanças do velho padre republicano.

Padre João Batista de Oliveira Salgado não sabia que morreria menos de um ano depois daquele dia festivo do mesmo mal que levou quatro anos antes o Padre Miguel Corrêa Pacheco, na Epidemia de Febre Amarela, mas talvez tenha sido melhor assim.

Era o dia da padroeira da cidade, 2 de Fevereiro do ano de 1897, e ele permitiu que o campineiro Padre Elisiário de Camargo Barros dirigisse a missa solene na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelária de Itu, terra onde vivia a família de Pe. Elisiário.

O brilho nos olhos de Pe. João Batista tinha sua razão de ser, pois aquele novo sacerdote prometia muito, e ele sonhava com o dia em que o teria como ajudante até sua aposentadoria. Padre João Batista era incansável na labuta diária, mas sabia que jamais teria coragem para propor mudanças e enfrentar novos desafios e projetos, não era sua cara, não tinha jeito para propor mudanças, mas aquele jovem…

A orquestra comandada pelo Maestro Tristão Mariano e a organista Maria Augusta conseguiam mexer com suas emoções, chorava por dentro se contendo por fora, pois a igreja estava cheia como era de se esperar. Foi um dia de festas e sonhos, mas nem tudo se deu como ele pensou. Seu corpo já havia se decomposto antes que o Padre Elisiário voltasse para Itu, mas muito se concretizou. O novo clérigo enfrentou sozinho os desafios do novo século usando as ferramentas que um jovem escolheria: ousadia e tecnologia. Até então não havia cerimônias no período noturno, e Padre Elisiário menos de um ano depois de assumir a paróquia dotou o templo de energia elétrica, e quem passasse então próximo da matriz a noite podia ouvir o rezar do terço e os cânticos em homenagem a Nossa Senhora do Rosário.

Padre João Batista teria gostado de ver isso, mas talvez tenha sido bom que não tenha ficado por mais tempo aqui entre os vivos, pois aqueles que ousam acabam tendo que enfrentar as autoridades, e isso ele não gostaria de fazer de jeito nenhum, apesar de defender os Ideais Republicanos em pleno Regime Monárquico – outro sonho que não veria em vida se realizar.

O jovem clérigo que naquele dia ele via com esperanças criou do Jornal A Federação em 1905, colocando suas prensas onde hoje é a Capela do Santíssimo. O periódico que ainda hoje é publicado se originou na Liga da Boa Imprensa que ele criou um ano antes. O Bispo viria a implicar com esse jornal dentro da igreja e este acabou sendo retira-lo de lá em 1914.

Pe. João Batista não enfrentaria uma autoridade como fez o jovem Pe. Elisiário, não teria nem admitido que isso acontecesse, jamais! Enfrentar abertamente e sem rodeios um bispo, meu Deus! Dentro dos limites do que era possível ele preferia até mesmo nem se encontrar com uma autoridade, e aquele confronto o teriam levado ao desespero, preferia morrer antes de enfrentar uma situação daquelas…

1 – Pe. João Batista de Oliveira teria colaborado no jornal com tendencias republicanas “O Guaripocaba” publicado em Bragança Paulista – http://www.usf.edu.br/galeria/getImage/385/2781392779563351.pdf

É verdade que ituano come na gaveta?

Se é algo que o ituano gosta é de falar bem de sua terra e de seu espírito acolhedor. Êta povo que recebe bem seus visitantes, e sempre foi assim, desde os tempos do antigamente.

Aqui fazemos o possível para receber bem a todos, e com Auguste não foi diferente, mesmo por que ele era um francês com conhecimento com o governador. Não que para o ituano faça diferença: a origem, as ligações políticas, posição social, ou status econômico de um turista, claro que não, se fosse um nordestino fugido da seca no sertão e sem um centavo no bolso seria tão bem recebido quanto ele, né não?

É até bom tocar nesse assunto agora, visto que a PROTUR está lançando o “Guia do Turismo” que pode ser retirado tanto no trailer que fica na Praça da Matriz, na sede da associação, ou nas empresas associadas. Um ótimo trabalho que conta detalhes e curiosidades de diversos pontos turísticos desta região que integra o Roteiro dos Bandeirantes: Itu, Salto, Porto Feliz, e Tietê.

Esse impresso poderá ajudará a desmentir algumas calúnias que espalharam sobre nós.

Uma das mais chatas deve ser aquela que diz “ituano come na gaveta”. Ouço isso desde que era criança, claro que lá em casa realmente as mesas da cozinha tinham gavetas, e realmente colocávamos lá a comida quando recebíamos visitas, mas não tem nada de errado nisso, né não? Seria bonito ficar comendo enquanto a visita ficava em pé olhando? Claro que não!!! E vai que a gente convida para comer e a pessoa resolve aceitar!!!

Assim não foi justo quando Auguste postou depois de nos visitar que achava estranho ter passado fome por que de manhã só lhe oferecíamos um cafezinho antes dele sair. E ainda teve a pachorra de comentar que… não, vou dar um Ctrl C + Ctrl V aqui no que ele postou se não vocês não vão acreditar em mim:

“Quando … me convidavam para jantar, eu tinha quase sempre a certeza de passar fome durante o dia seguinte; não é que a comida não fosse abundante e saborosa, mas, no dia seguinte só me davam antes de partir um café, apenas acompanhado de pequenos biscoitos.”

Auguste ainda teve a pachorra de acrescentar alguma coisa assim:

“Não acusarei, é certo, de miseráveis os ituanos, mesmo por que vi colegas meus comendo muito bem, mas só me ofereciam café! Para não passar fome tinha que sair escondido comer alguma coisa por aí, e daí voltava e tomava sorrindo o cafezinho que me ofereciam como se fosse grande coisa.”

Bem, Auguste, próxima vez então que vier aqui para Itu dá uma passada pelo trailer da PROTUR em vez de vir filar rango aqui em casa!!! Pronto, falei!!!

Auguste de Saint-Hilaire esteve em Itu nos últimos dias de 1819 e primeiros dias de 1820, e deixou relato escrito em seu livro “Viagem à Província de S. Paulo”, se não acredita que ele escreveu isso mesmo consulte a biblioteca mais próxima.

Padre Miguel Dias Ferreira X Padre Miguel Corrêa Pacheco

Não tem como confundir um com o outro, mas é interessante que poucos conterrâneos saberiam quem foi um ou quem foi o outro. Então, vamos lá.

Ambos foram párocos da Igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária de Itu, ou Outuguaçu como ainda era chamado na segunda metade do Século XVIII, quando assumiu por aqui Pe. Miguel Dias Ferreira.

Ambos vieram para auxiliar um pároco mais idoso e assumiram depois a paróquia. Padre Miguel Dias veio inicialmente como vigário da vara até o falecimento do antigo titular Padre Félix Nabor em 1750; já Pe. Miguel Corrêa Pacheco veio como vigário cooperador e posteriormente vigário coadjutor assumindo o paroquiato com o afastamento do Padre Luiz Braz de Pinna em 1856.

Existindo portanto quase que exatos 100 anos entre um e outro, e as coincidências acabam por aí.

Padre Miguel Dias Pacheco é chamado pelo historiador e maestro Luís Roberto de Francisco como “padre músico” tendo registro histórico que atuou como cantor e harpista de exéquias, enquanto seu colega foi o responsável pela vinda para a matriz do órgão Cavaillé-Coll comprado por João Tibiriçá Piratininga.

O historiador Luiz Mott conta que Pe. Miguel Dias foi o Comissário do Santo ofício que participou dos inquéritos Secretos e condenações da Santa Inquisição no Convento do Carmo.

Já Pe. Miguel Corrêa se destacou pelas inúmeras obras que fez em benefício da igreja matriz e da cidade, como:

– reforma interna da capela-mor com instalação das estalas para os cônegos;
– uma escola para meninas pobres, com a vinda das irmãs de Chambery que posteriormente assumiram o Convento do Patrocínio;
– uma escola para meninos pobres, que posteriormente foram as bases do Colégio São Luiz e da Escola Convenção;
– vinda das freiras para auxiliar na Santa Casa;
– transferência do antigo órgão da Matriz para a Igreja São João de Deus;
– reforma da fachada da igreja encomendada aos engenheiros Joaquim Bernardo Borges e Ramos de Azevedo;
– mecenato ao pintor Almeida Júnior; e
– compra e instalação das imagens do alta-mór, da fachada da igreja além dos sinos, e as pinturas de Lavínia Cereda.

Pessoa inigualável, era visto por muitos como simplório, dado seu jeito quase caipira e humilde, não misturava política com religião e morreu durante em 1892 vitimado pela epidemia de varíola que varria a nação, mesmo colocando-se em risco, Pe. Miguel Corrêa Pacheco visitava os paroquianos adoecidos levando ajuda espiritual e material a quem precisava.

O soldado da banda do 4º Regimento de Artilharia.

“Bobagem” – podem os senhores me dizer, e talvez o seja, mas já se foram setenta e oito anos e eu ainda me lembro da história quando passo de ônibus pela rua dos Andradas.

Tudo aconteceu no corredor de uma casa que ficava ali atrás de onde hoje está instalada a sede do Partido Democratas aqui em Itu. Eduardo e Angelina, ele com vinte e quatro anos era um garboso soldado do exército brasileiro e ela com dezessete anos era uma garota que morava e trabalhava em uma residência familiar ali perto.

Quando vejo o painel com a foto do vereador Luiz Costa naquela fachada imagino quantas coisas duvidosas aquelas paredes já não devem ter visto. Por traz da estampa do edil tão cheio de certezas, quantas dúvidas, angustias, pessoas magoadas, ou maculadas?

Angelina foi uma delas, Eduardo outra, e todos os parentes e amigos dos dois sofreram anos, levaram as cicatrizes conseguidas naqueles dias por décadas, e aquelas paredes viram tudo isso.

Ali havia uma pensão onde o soldado estava residindo com alguns colegas do quartel de Itu, e todos sabiam que ele estava namorando Angelina. O que não sabiam é que eles já estavam se aproveitando do escurinho da noite para naquele corredor ficarem juntos.

“Bobagem” – podem os senhores me dizer, e talvez o seja, mas em 1934 as coisas não eram simples assim e eu ainda me lembro quando passo de ônibus por aquela rua.

Os dois não sabiam, mas Eduardo estava com sífilis e Angelina depois de três noites seguidas de amor começou a sentir os sintomas da doença – a “casa caiu” para ambos.

Angelina gostava de Eduardo, mas teve que contar a sua patroa, que contou ao seu marido que falou para um visinho…

“… ela foi vista por minha esposa a se queixar e chorar alegando que sentia fortes dores ao urinar, e pediu então seu pagamento, dizendo que ia se tratar…”

Ela recebeu o dinheiro que precisava, mas também perdeu o emprego, a moradia e a honra, pois naquela época nenhuma pessoa direita receberia em seu lar uma mulher de “reputação duvidosa”. Seus próprios pais no início não a aceitaram de volta ao lar, e ela passou alguns dias na casa de Sebastião de Paula, morador do Becão que aceitou socorrê-la.

Apesar de todo o transtorno pelo qual passou, ela ainda teve que comparecer à delegacia de polícia e passar por exame de corpo de delito nas mãos do Dr. Benjamin Simon e do farmacêutico Eduardo Teixeira – ela que nunca teve a intenção de acusar Eduardo acabou levando-o sem querer ao Tribunal do Júri.

Aquilo que seria “bobagem”, pelo que os senhores dizem, na realidade acabou com a vida desta jovem – não a doença, não o caso amoroso, mas o preconceito da sociedade.

Seu pai de Angelina fez de tudo para que o escândalo morresse, e mesmo tendo condições econômicas de processar Eduardo, preferiu não o fazer para livrar o nome de sua família da vergonha pública.

Mas alguns gostam de fazer com que a lei seja cumprida, mesmo quando ela só serve para prejudicar aqueles que em tese deveriam ajudara a proteger.

Este ano assim como em 1934, 24 de maio, dia em que os dois ficaram intimamente juntos pela primeira vez cairá em uma quinta-feira. E assim como em 1934, hoje existem leis absurdas e pessoas dispostas a fazê-las cumprir, mesmo prejudicando aquelas pessoas que só na teoria estariam sendo protegidas por elas, enquanto outros cidadãos que de fato deveriam ser caçados pela legislação estão acima disso.

Passaram-se setenta e oito anos, mas ainda penso nisso quando sigo pela rua dos Andradas próximo de onde está a sede do Partido Democratas do vereador Luiz Costa, mas tudo bem, podem me dizer os senhores, foi apenas uma “bobagem”.

O Jornal Notícias Populares de Itu e a Guarda Municipal.

Millor Fernandes disse certa vez: “Brasil, condenado à esperança.” E eu lhe pergunto: “Será que os ituanos têm direito ao menos ter esperanças?

Ao fim da era dos bandeirantes a cidade de Itu era um recanto tido como provinciano, onde as pessoas de fora eram vistas com reservas e recebidas de maneira fria, e por onde dois grupos lutavam pelo controle da cidade, não pelo desenvolvimento da comunidade e sim pelo aumento do poder de cada facção.

Após o inchamento urbano a partir da década de setenta, muitos bairros se formaram graças aos migrantes, aparecendo novas lideranças que levaram ao declínio a cultura isolacionista, e esta mesclagem trouxe mudanças em todos os níveis sociais, setores econômicos e regiões da cidade.

No editorial do Jornal Notícias Populares de Itu, Reginaldo Carlota descreve a triste situação da Guarda Municipal de Itu, que segundo ele utiliza coletes balísticos vencidos, os baixos salários, velhos revólveres trinta e oito, viaturas sem condições (cita inclusive um uninho como sendo um desses veículos – como se alguém pudesse chamar um Uno de viatura):

“… diziam que o governo anterior havia dado um tiro no peito da corporação, deixando ela as portas da morte. Se isso é verdade, então pode se dizer que o governo atual, então deu um tiro na cabeça da corporação, um tiro de misericórdia que a liquidou de vez.”

Apesar das ferrenhas críticas aos prefeitos no que concerne a Guarda Civil Municipal de Itu, Carlota não poupou elogios ao inspetor GCM Rovaldo Martins Leite, que segundo ele é o “mandachuva da GCM, … [que] agora é idolatrado pelos novatos, … o cara que estava afastado há tempos e esquecido da mídia, tornou-se o guarda mais popular da cidade outra vez. E o nome da GCM foi lá em cima. Aparentemente muito mais que a PM, inclusive.”

O jornalista faz algumas ligações sutis com o editorial em outros pontos daquela edição, alguns dirigidos a pessoas específicas e sobre assuntos específicos, outros de maneira mais despudorada, como é a questão dos salários, pois destaca o valor pago por Cabreúva e mesmo não fazendo a comparação entre as duas corporações deixa claro que há uma diferença significativa.

Reginaldo Carlota tem um profundo conhecimento do que ocorre nos bastidores da segurança pública da cidade de Itu, e aquela edição prova isso, mas aqui só colocamos estes dados como forma de ilustrar a evolução social que está ocorrendo em nossa cidade: tanto o repórter quanto o GCM Rovaldo são fruto da migração e da expansão demográfica de Itu.

Algo como esta reportagem ou até mesmo o nicho de mercado no qual atua o jornal não existiam há trinta anos; e o inspetor da guarda civil é fruto da migração, e ambos são fontes de pressão para os tradicionais grupos políticos da cidade, ora se aliando de um lado ou de outro, para garantir suas conquistas e seu espaço.

Nos últimos anos ambos conseguiram mudar os rumos das áreas onde atuam: Reginaldo Carlota revolucionou a maneira como a sociedade local se permite ver, sem pudor de mostrar seu lado mais negro; e o inspetor da guarda civil travou uma árdua luta para a recuperação da corporação e por melhorias para sua equipe, abandonando antigas lideranças e negociando com as novas forças que atuavam na cidade e dentro da corporação (o resultado a se ver pela reportagem do jornalista não foi o esperado).

Como em tudo na vida, a verdade não pode ser vista em preto e branco, e por ironia do destino as letras dos jornais são sempre negras sob um fundo branco. Talvez seja uma forma de nos alertar para ficarmos atentos que nem tudo que lá escrito é exatamente o que parece ser…

Se por um lado a luta do GCM Rovaldo não pôde retirar a Guarda Municipal do fundo do poço no qual a reportagem alega que ela estava e não tendo conseguido dar as promoções que estão atrasadas há anos, por outro lado estruturou e profissionalizou as relações dentro da corporação, além de conseguir modernizar o aparelho e a forma de atuação da equipe.

As oligarquias tradicionais que por tanto tempo dominaram a cidade e a corporação foram postas em xeque nesta luta que foi travada pelo inspetor Rovaldo para conseguir efetivar as mudanças, conseguindo apoio de novas lideranças, que estavam livres das tradições e obrigações geradas pelo peso do sobrenome ou antigas dívidas morais.

O que aparentemente o tempo não conseguiu mudar foi a sina da provinciana cidade de Itu, pois os grupos que lutam pelo controle da cidade, não buscam conseguir o desenvolvimento da comunidade e sim o aumento do poder da facção que representa, como sempre foi na história do município.

Então volto a perguntar ao sábio Millor Fernandes: “Será que os ituanos têm direito ao menos ter esperanças?

Padre Miguel Corrêa Pacheco e o caso do capitão.

Um colega indagou-me do destino de um documento que citei aqui. Esclarecerei relatando a história tal qual me chegou, contada por Francisco Pereira Motta (filho). Anos se passaram, mas seu relato foi marcante:
Francisco Pereira Motta (pai) não pediu aquilo a Deus, mas pelo segundo dia consecutivo a neblina era uma cortina branca e densa. Era madrugada na margem do córrego Boa Vista na fazenda Piraí em Itu, onde passou várias noites oculto aguardando aquele dia.

Acreditava que estava seguro com segredo do qual era guardião, mas recebeu um recado inesperado: deveria se encontrar com o padre Miguel próximo da entrada da fazenda Vassoural. A mensagem não deixava dúvidas que Pe. Miguel Corrêa Pacheco sabia do segredo.

(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({}); Talvez, como ele próprio, o religioso estivesse aflito, afinal conhecia a natureza de seu caráter: justo e de mansa índole. Provavelmente este também estava se preparando para sair naquele momento sem chamar a atenção dos liberais.

Francisco celou as montarias e chamou o capataz, só um louco enfrentaria os republicanos ituanos sozinho, mas protegidos pela densa neblina e pelo frio da madrugada estariam a salvo.

Em terras da Fazenda Jurumirim, próximos do córrego Bananeira, Francisco sua espinha congelou-se. Desmontaram, e aproveitando a densa neblina seguiu sorrateiramente até uma tropa que lá estava. Não precisou ouvir muito para perceber que seria vítima de uma emboscada.

Voltou para junto de seu companheiro e de suas montarias. Seu pai foi escolhido por Pe. Braz Luiz de Pinna para guardar a verdade envolvendo a morte do capitão Antônio Correa Pacheco, e ele honraria esta confiança. Se os republicanos interceptaram a mensagem talvez Pe. Miguel já estivesse morto ou em perigo, mas segue em frente.

(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({}); Passaram pela entrada da fazenda Vassoural sem encontrá-lo. Chegando ao cume do último morro antes do vale do córrego do Taboão ouviu o som de um sininho aproximando-se. Após a curva descortinou-se a cidade e vindo pela estrada um coroinha carregando uma pequena campaninha, seguido de Pe. Miguel, que caminhava protegido por uma umbela carregada pelo sacristão.

Não podia ser mais singelo o artifício armado pelo astucioso padre. Os republicanos ridicularizavam-no pelo seu jeito simplório, e ao sair paramentado carregando o santo Viático, fez com que acreditassem que iria apenas levar conforto espiritual para um moribundo.

Padre Miguel sorriu quando os cavaleiros se ajoelharam. Pediu a seus dois companheiros que aguardassem junto ao capataz e afastou-se um pouco com Francisco, explicando o motivo tê-lo chamado em Taubaté.

Contou-lhe que conviveu com Pe. Pinna nos últimos anos de sua vida, quando para cá veio como cooperador do vigário coadjutor Pe. Benjamin Toledo Mello. Disse que assistiu sem entender suas constantes lutas brigas com os republicanos, mas só veio, a saber, sobre o caso do Capitão Pacheco, dias antes do falecimento do velho pároco em dez de julho de 1865, quando esse lhe contou.

Segundo padre Pinna o pai de Francisco foi escolhido como guardião por sua fé e rigidez de caráter. A distância lhe manteria em segurança dos republicanos, mas precisava de alguém por perto para mantê-lo informado caso algo ameaçasse as provas que deixaria para serem reveladas no futuro.

Vinte anos se passou desde então, e nove meses se passou desde que padre Miguel benzeu o novo cemitério da cidade. O religioso sabia que se fariam transferir os corpos dos diversos cemitérios para a nova morada. Desta forma chamou Francisco para que este retirasse do túmulo do Pe. Pinna no jazigo do Carmo o documento que com fora enterrado.
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Francisco cumpriu sua missão, exatamente vinte anos após o enterro de Pe. Pinna. Retornou então para Taubaté, onde anos depois encarregou seu filho que tinha seu mesmo nome, de continuar a proteger a verdade sobre o caso Pacheco.

Apesar de monarquista, padre Miguel votou no liberal Dr. Antonio Francisco de Paula Leite, pois o político impediu que os republicanos fossem à Taubaté exterminar os Pereira Motta, um voto de agradecimento pelo fim de um rastro de sangue que já se arrastava há cinqüenta anos.

Anos depois do falecimento de padre Miguel, a família dos guardiões mudou-se para Cabreúva, município visinho ao de Itu, e hoje a carta testamento repousa na Cúria de São Paulo levada pelas mãos do Cônego Motta.

É tudo o que me foi contado.

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O assassinato do Capitão Antonio Correa Pacheco.

Toda a minha vida temi por este momento, e gostaria de postergá-lo ainda mais se pudesse, mas é passada a hora de corrigir uma injustiça, e desnudando a fraude talvez ajude a retirar do rol dos culpados o nome de um inocente.

Chiquinho Lopes, como era conhecido meu avô Francisco Pereira Motta, ex-prefeito de Cabreúva, contou-me antes de morrer e na presença do padre Amirá, um jesuíta da Igreja do Bom Jesus de Itu, esta história que a seguir irei relatar:

Quarta-feira, 18 de março de 1840. 16 horas.
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({}); O escravo Cosme falou ao Pe. Braz Luiz de Pinna, religioso da Igreja Matriz de Itu, o que sabia a respeito do assassinato do capitão Antônio Correa Pacheco, ocorrido semanas antes. O padre era curitibano, muito respeitado pelo povo e se opunha à elite republicana. O cativo ouvido foi assassinado de forma brutal horas depois de conversar com aquele padre baixinho e briguento.

Oficialmente, a versão apresentada foi a de que o Cap. Pacheco chicoteara injustamente um escravo, e defendendo o pobre coitado, um líder negro teria matado o fazendeiro e iniciado uma sublevação dos escravos, mas a morte do senhor de terras, segundo o negro Cosme, foi fruto de uma disputa de poder dentro do Partido Liberal.

O Cap. Pacheco não desconfiou quando aqueles seis cavaleiros chegaram até onde ele estava, desmontaram e seguiram em sua direção, até que um deles abaixou-se e pegou um ferro. Era o fim para o capitão e o início do fim do escravo Estevão, um líder respeitado entre os negros, e que foi escolhido como culpado.

O Júri ocorreu no salão da Venerável Ordem Terceira de São Francisco, poucos dias antes da conversa entre o negro e o religioso, sob forte esquema de segurança da Guarda Nacional e de tropas da capital da província. O resultado foi a condenação à morte por enforcamento do negro Estevão, ocorrida naquela manhã. Anos depois, o local do julgamento foi incendiado propositalmente, e hoje, do antigo conjunto arquitetônico dos franciscanos só resta uma grande cruz: o Cruzeiro São Francisco, bem no centro histórico da cidade de Itu.

Os monarquistas sentiram a força dos republicanos e se aquietaram, visto que a revolta negra foi atribuída à política escravocrata do Império. Padre Pinna, o único que ainda se opunha aos republicanos que dominavam a cidade, foi envenenado naquele mesmo ano e nunca mais se recuperou. Com a saúde debilitada, recebeu ordem de Mateus de Abreu Pereira, bispo de São Paulo, para que saísse de Itu, mas padre Pinna ameaçou os vereadores de tornar público tudo o que ouvira do negro Cosme se os edis não pedissem sua permanência.
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O bispo aceitou que padre Pinna ali permanecesse, e enviou o padre Manoel Ferraz de Camargo para ajudá-lo, todavia o padre Camargo, ao saber pela boca do padre Pinna a verdade, não aceitou assumir a função. Em seguida veio o padre João Paulo Xavier, mas também renunciou três meses depois, assim que lhe foi apresentada a verdade.

Cada vez mais fraco, o pároco pediu então ao seu fiel sacristão que buscasse alguém para receber o encargo. Este foi até Taubaté, local onde os ituanos não tinham força, e convenceu o avô de meu avô a assumir a missão de guardar o segredo passado pelo negro Cosme.

Padre Pinna deixou este relato por escrito: inicialmente anotou atrás da capa de abertura do primeiro Livro Tombo da Igreja Nossa Senhora da Candelária, e temendo que seus inimigos descobrissem e sumissem com o registro, elaborou três documentos relatando os fatos: um foi colocado em seu túmulo, outro foi escondido sob o Cruzeiro de São Francisco, e o terceiro, no braço esquerdo da imagem do arcanjo São Miguel, no altar lateral da matriz ituana.

Uma maldição passada geração após geração, como se Deus quisesse que aquele cativo não houvesse sabido a verdade, ou que ao menos não a houvesse relatado a ninguém. O banho de sangue, as traições e os horrores da vida política teriam ficado ocultos nas frias paredes da Câmara Municipal de Itu, sem terem atingido tantos aqui fora, e perseguido por gerações minha família, que este segredo foi incumbida de guardar.

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Uma família feliz e um assassinato no centro de Itu.


A casa assobradada e cheia de janelas que davam para o Largo, onde se vê o Cruzeiro da Cidade, com suas mangueiras no quintal espalhando as verdes copas carregadas de frutos saborosos, vivia um de seus dias de grande movimento.

Alí, morava o Drº João Dias Ferraz da Luz, mineiro de Campanha, ex-deputado Conservador em seu distrito, pela Província de Minas Gerais, sua esposa D. Balbina de Barros Ferraz da Luz e filhos.

Viera a família da Villa do Patrocínio das Araras, anteriormente de Campinas, e de Pouso Alegre, onde se conheceram e se casaram.
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Em Itu, cidade progressista, em grande desenvolvimento, devido a lavoura cafeeira e também pelo Colégio de Patrocínio, das irmãs de São José, que se preocuparam em educar a juventude local e das cidades próximas, o “Sr. Doutor” como o chamava sua esposa, clinicava na Santa Casa e era médico das freiras do Patrocínio.

Nestes dias, que antecedem o Natal, as Festas de fim de ano, D. Balbina e suas escravas prosseguiam na arrumação da casa.

Cortinas, móveis, tudo era limpo e renovado, enquanto no fogão à lenha da cozinha, tachos fumegantes exalavam o perfume dos doces caseiros, que depois de prontos, eram guardados num quartinho, a dispensa.

Não só doces, mas rosquinhas, biscoitos de polvilho, pães, balas e, era chamada quitanda.

Os frangos e o célebre de pernil temperado com a receita da dona da casa, receita esta, que chegou até suas bisnetas, tudo era uma festa para os que participavam desta correria.

Presentes chegavam, enviados por famílias amigas, com cumprimentos de Boas Festas.

Estes presentes seriam retribuídos até o Dia de Reis, 06 de Janeiro, como era o costume da época.

Os escravos, que não eram muitos, já haviam recebidos fatos novos e alguns alegres com os festejos, corriam de cá para lá atarefados, enquanto outros resmungavam baixinho, para que a Sinhá não ouvisse.

O piano da sala, que D. Balbina tocava tão bem, era cuidadosamente lustrado e já se haviam escolhido as duas lindas meninas, filhas de escravos, que em seus vestidos vermelhos de tafetá e com o rostinho brilhando por causa do pouco óleo que se lhes passavam, ficariam junto ao piano emoldurado-o e ao recital esperado.

Isto se repetia todos os anos para a alegria de todos, mas só até aquele ano…
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({}); Dr. João Dias Ferraz da Luz, formado em Medicina em 1857, foi eleito deputado geral por Minas, e foi assassinado por seu escravo Nazário em 8 de fevereiro de 1879 em sua casa em Itu juntamente com duas filhas, uma preta e uma pobre senhora.

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