O uso político da facção PCC e a caça ao inimigo imaginário
A organização criminosa PCC e a caça à organização que grupos políticos de direita apregoam fazem parte da mesma narrativa de ódio.
Grupos criminosos há muito são usados para encobrir as reais intenções de grupos políticos e a bola da vez é o Primeiro Comando da Capital.
Por todo o mundo partidos de direita afirmam que a facção brasileira chegou à seu pais trazendo insegurança graças a conivência dos partidos de esquerda.
É o fantasma utilizado como desculpa da vez para justificar governos como Trump e Bolsonaro, baseados em uma falsa moralidade e segurança do povo cristão.
Tomado o poder sob esse falso argumento, começam o processo de corrosão do sistema democrático e de suas instituições.
Medo: ferramenta de sobrevivência da espécie
O medo é um sentimento poderoso intimamente ligado à nossa sobrevivência, e para nós humanos é impossível separar um medo real de um imaginário.
Grupos políticos e sociais em todas as nações e em todas as épocas de nossa história utilizaram de nossos medos para dominar e conduzir.
Há 3,7 milhões de anos, deixamos pegadas nas cinzas vulcânicas em Laetoli liderados por algum de nós que apontou a iminente erupção vulcânica: sobrevivêmos.
Desde os tempo bíblicos até hoje, adeptos de crenças judaico-cristãs caçam: bruxas, adivinhos, mães e pais de santos — levados por medo ou razões insanas.
Novecentos anos antes de Cristo, Saul consultava a pitoniza que seu povo tanto combatia — o ser humano não é pródigo em aprender com seus erros.
Medo: inimigo atemporal
O medo do imaginário é tão forte que ultrapassa gerações, fronteiras e culturas.
No passado eram apenas as bruxas e pitonizas, e hoje são os comunistas e a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533).
Como seres humanos, estamos programados para detectar e responder ao perigo.
Quando percebemos uma ameaça, o nosso sistema nervoso autônomo desencadeia uma resposta de “luta ou fuga”, que nos prepara para enfrentar ou escapar do perigo.
Devido a essa conexão com a sobrevivência, o medo pode ser um gatilho poderoso para a ação.
Medo: como ferramenta política no Brasil
Políticos e outras autoridades frequentemente usam o medo como ferramenta para motivar as pessoas a tomar determinadas ações ou apoiar determinadas políticas.
Eles podem criar narrativas que exploram as emoções mais profundas das pessoas, como o medo de perder a segurança, o medo da incerteza ou o medo da ameaça à identidade e ao bem-estar.
Infelizmente, às vezes essas narrativas são exageradas ou usadas para manipular as pessoas, muitas vezes para fins políticos.
Quando os políticos usam o medo dessa maneira, é importante que as pessoas mantenham um senso crítico e procurem informações precisas e confiáveis para tomar suas próprias decisões informadas.
No Brasil, o político da direita cristã, Roberto Jefferson representa esse grupo que constroi narrativas exageradas para manipular o medo de bruxas.
Jeffersom soube usar como poucos narrativa com grande poder de assombro no imaginário popular como: o comunismo, pautas morais e religiosas, inimigos externos como a Venezuela e Cuba, e o Primeiro Comando da Capital.
Medo: como ferramenta política no Chile
O PCC e a caça às Bruxas garantem voz para aqueles que precisam de um inimigo, mesmo que imaginário.
Passada a onda pelos Estados Unidos e Brasil, chega ao Chile, onde deputados do União Democrática Independente (UDI) bradam: “Malles Maleficarum, as bruxas chegaram!”
Uma das ferramentas utilizadas com brilho por esses grupos políticos é a apropriação de mecanismos investigatórios e cooptação de profissionais de segurança pública.
Dados da Comissão de Investigação sobre Crime no Norte do Chile justificariam a crença na presença do Primeiro Comando da Capital no país.
O deputado Juan Manuel Fuenzalida é um dos que defendem que a segurança nacional e da população estão ameaçadas pela presença da facção brasileira PCC.
Os parlamentares pediram ao governo que revelasse as informações a esse respeito. O executivo preferiu minimizar a essa grave situação pela qual estamos passando.
No entanto, o governo tem a obrigação da transparencia. Deve apontar a situação que estamos vivendo, embora isso implique reconhecer que o cenário é sério.
Deputado Juan Manuel Fuenzalida
PCC e a caça às Bruxas: nem aqui, nem no Chile
O PCC e a caça às Bruxas sempre foram usados como pretesto para ações violentas dos órgãos de repressão policiais e sociais.
Políticos de direita unificaram o discurso que os governos e o Judiciário estão acobertando a real situação por estarem em conlúio com a organização criminosa.
Estudo o PCC e acompanho há anos esses ataques, mas nesses últimos meses me surpreendo com a avalanche de réplicas dessa mesma acusação pelo mundo.
Se houve ou não houve prisões de integrantes da facção durante o governo não faz diferença, há sempre um discurso pronto para justificar o envolvimento.
Essas afirmações são absolutamente irresponsáveis.
Eles cobram transparência do governo e forçam uma situação para a qual não têm experiência ou relevância.
A única coisa que eles pretendem é gerar medo na população.
Raúl Leiva da Comissão de Segurança da Câmara Baixa
É irresponsável que toda semana seja um parlamentar ou parlamentar anunciando a chegada de uma nova banda criminosa ao país.
Parece -me que é uma agenda construída para semear medo na população e eu pediria a esses parlamentares que cumpram suas posições.
Deputada Alejandra Placencia
Já o deputado Jaime Araya (tucano, muito provavelmente) pede que se encontre um meio termo: “com seriedade, responsabilidade, rigor, sem minimizar e sem exagerar o problema que temos, porque o que as pessoas precisam é que você sabe o que o estado vai fazer para enfrentar o crime organizado .”