Prisões como reality show para o seu divertimento.

Ler vários artigos dos mais diversos níveis e origens a respeito do Primeiro Comando da Capital PCC 1533 todos os dias é uma aventura. Às vezes dá muito prazer, por outras desanima.

O artigo “Reality Show das Prisões Brasileiras” do Professor Gilson César Augusto da Silva foi francamente desanimador, provavelmente por ter sido publicado em 2002 e por aqueles mistérios da internet voltou a circular agora.

Naquele tempo as prisões brasileiras estavam caóticas, com sorteio entre os presos: um por dia morria para sobrar mais espaço e melhores condições para os outros, um verdadeiro show televisivo transmitido em cadeia nacional.

Os sorteios não eram feitos em instituições administradas pelo PCC, deixando claro que a massa carcerária chegou ao seu limite de fervura, mas os detentos ainda não organizados não haviam elegido o inimigo maior, matando uns aos outros. O Primeiro Comando já escolhera um inimigo que uniu a todos: a opressão do sistema carcerário e seu controlador, o Governo. A facção fez reféns dez mil pessoas dentro dos presídios em uma dezena de rebeliões simultâneas e com uma pauta de reivindicações clara de melhorias nas condições da carceragem.

No artigo o Prof. Gilson César faz inicialmente um breve histórico da evolução do Sistema Carcerário da antiguidade até chegar nesse momento de ruptura, e aproveitou para comparar com a realidade transmitida pelo Big Brother Brasil: pessoas confinadas:
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“… os chamados “reality shows” … semanalmente um participante é eliminado … embora de discutível gosto, os programas mostram o quão difícil é a convivência humana. As casa onde se realizam esses “reality shows são verdadeiras mansões … há, ainda, boa comida, psicólogos, psiquiatras comportamentais, médicos, entre outras regalias. Além do competidor poder deixar o programa quando quiser … o que se vê em poucos dias de convivência? Pessoas extremamente estressadas, depressivas, agressivas, com reclamações de toda ordem, brigas, choros, ofensas recíprocas. É difícil a referida convivência? Sem dúvida. Mas se é difícil para os referidos participantes, com todas essas benesses, imaginem para os presos.”

O autor faz então ressalta as diferenças das duas realidades e volta a criticar o sistema carcerário, nada de novo. Bom, isso foi o que eu pensei em um primeiro momento, mas por aqueles mistérios da internet, esse artigo que agora voltou serviu para demonstrar que realmente nada mudou.

Em janeiro deste ano começaram os massacres nos presídios que apesar de terem arrefecido continuam, e assim como naquele tempo as prisões brasileiras estão caóticas, com presos morrendo todos os dias na guerra de facções para garantir mais espaço e melhores condições para cumprimento da pena, um verdadeiro show televisivo transmitido em cadeia nacional. (adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});

O soldado da banda do 4º Regimento de Artilharia.

“Bobagem” – podem os senhores me dizer, e talvez o seja, mas já se foram setenta e oito anos e eu ainda me lembro da história quando passo de ônibus pela rua dos Andradas.

Tudo aconteceu no corredor de uma casa que ficava ali atrás de onde hoje está instalada a sede do Partido Democratas aqui em Itu. Eduardo e Angelina, ele com vinte e quatro anos era um garboso soldado do exército brasileiro e ela com dezessete anos era uma garota que morava e trabalhava em uma residência familiar ali perto.

Quando vejo o painel com a foto do vereador Luiz Costa naquela fachada imagino quantas coisas duvidosas aquelas paredes já não devem ter visto. Por traz da estampa do edil tão cheio de certezas, quantas dúvidas, angustias, pessoas magoadas, ou maculadas?

Angelina foi uma delas, Eduardo outra, e todos os parentes e amigos dos dois sofreram anos, levaram as cicatrizes conseguidas naqueles dias por décadas, e aquelas paredes viram tudo isso.

Ali havia uma pensão onde o soldado estava residindo com alguns colegas do quartel de Itu, e todos sabiam que ele estava namorando Angelina. O que não sabiam é que eles já estavam se aproveitando do escurinho da noite para naquele corredor ficarem juntos.

“Bobagem” – podem os senhores me dizer, e talvez o seja, mas em 1934 as coisas não eram simples assim e eu ainda me lembro quando passo de ônibus por aquela rua.

Os dois não sabiam, mas Eduardo estava com sífilis e Angelina depois de três noites seguidas de amor começou a sentir os sintomas da doença – a “casa caiu” para ambos.

Angelina gostava de Eduardo, mas teve que contar a sua patroa, que contou ao seu marido que falou para um visinho…

“… ela foi vista por minha esposa a se queixar e chorar alegando que sentia fortes dores ao urinar, e pediu então seu pagamento, dizendo que ia se tratar…”

Ela recebeu o dinheiro que precisava, mas também perdeu o emprego, a moradia e a honra, pois naquela época nenhuma pessoa direita receberia em seu lar uma mulher de “reputação duvidosa”. Seus próprios pais no início não a aceitaram de volta ao lar, e ela passou alguns dias na casa de Sebastião de Paula, morador do Becão que aceitou socorrê-la.

Apesar de todo o transtorno pelo qual passou, ela ainda teve que comparecer à delegacia de polícia e passar por exame de corpo de delito nas mãos do Dr. Benjamin Simon e do farmacêutico Eduardo Teixeira – ela que nunca teve a intenção de acusar Eduardo acabou levando-o sem querer ao Tribunal do Júri.

Aquilo que seria “bobagem”, pelo que os senhores dizem, na realidade acabou com a vida desta jovem – não a doença, não o caso amoroso, mas o preconceito da sociedade.

Seu pai de Angelina fez de tudo para que o escândalo morresse, e mesmo tendo condições econômicas de processar Eduardo, preferiu não o fazer para livrar o nome de sua família da vergonha pública.

Mas alguns gostam de fazer com que a lei seja cumprida, mesmo quando ela só serve para prejudicar aqueles que em tese deveriam ajudara a proteger.

Este ano assim como em 1934, 24 de maio, dia em que os dois ficaram intimamente juntos pela primeira vez cairá em uma quinta-feira. E assim como em 1934, hoje existem leis absurdas e pessoas dispostas a fazê-las cumprir, mesmo prejudicando aquelas pessoas que só na teoria estariam sendo protegidas por elas, enquanto outros cidadãos que de fato deveriam ser caçados pela legislação estão acima disso.

Passaram-se setenta e oito anos, mas ainda penso nisso quando sigo pela rua dos Andradas próximo de onde está a sede do Partido Democratas do vereador Luiz Costa, mas tudo bem, podem me dizer os senhores, foi apenas uma “bobagem”.

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