O assassinato do Capitão Antonio Correa Pacheco.

Toda a minha vida temi por este momento, e gostaria de postergá-lo ainda mais se pudesse, mas é passada a hora de corrigir uma injustiça, e desnudando a fraude talvez ajude a retirar do rol dos culpados o nome de um inocente.

Chiquinho Lopes, como era conhecido meu avô Francisco Pereira Motta, ex-prefeito de Cabreúva, contou-me antes de morrer e na presença do padre Amirá, um jesuíta da Igreja do Bom Jesus de Itu, esta história que a seguir irei relatar:

Quarta-feira, 18 de março de 1840. 16 horas.
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({}); O escravo Cosme falou ao Pe. Braz Luiz de Pinna, religioso da Igreja Matriz de Itu, o que sabia a respeito do assassinato do capitão Antônio Correa Pacheco, ocorrido semanas antes. O padre era curitibano, muito respeitado pelo povo e se opunha à elite republicana. O cativo ouvido foi assassinado de forma brutal horas depois de conversar com aquele padre baixinho e briguento.

Oficialmente, a versão apresentada foi a de que o Cap. Pacheco chicoteara injustamente um escravo, e defendendo o pobre coitado, um líder negro teria matado o fazendeiro e iniciado uma sublevação dos escravos, mas a morte do senhor de terras, segundo o negro Cosme, foi fruto de uma disputa de poder dentro do Partido Liberal.

O Cap. Pacheco não desconfiou quando aqueles seis cavaleiros chegaram até onde ele estava, desmontaram e seguiram em sua direção, até que um deles abaixou-se e pegou um ferro. Era o fim para o capitão e o início do fim do escravo Estevão, um líder respeitado entre os negros, e que foi escolhido como culpado.

O Júri ocorreu no salão da Venerável Ordem Terceira de São Francisco, poucos dias antes da conversa entre o negro e o religioso, sob forte esquema de segurança da Guarda Nacional e de tropas da capital da província. O resultado foi a condenação à morte por enforcamento do negro Estevão, ocorrida naquela manhã. Anos depois, o local do julgamento foi incendiado propositalmente, e hoje, do antigo conjunto arquitetônico dos franciscanos só resta uma grande cruz: o Cruzeiro São Francisco, bem no centro histórico da cidade de Itu.

Os monarquistas sentiram a força dos republicanos e se aquietaram, visto que a revolta negra foi atribuída à política escravocrata do Império. Padre Pinna, o único que ainda se opunha aos republicanos que dominavam a cidade, foi envenenado naquele mesmo ano e nunca mais se recuperou. Com a saúde debilitada, recebeu ordem de Mateus de Abreu Pereira, bispo de São Paulo, para que saísse de Itu, mas padre Pinna ameaçou os vereadores de tornar público tudo o que ouvira do negro Cosme se os edis não pedissem sua permanência.
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O bispo aceitou que padre Pinna ali permanecesse, e enviou o padre Manoel Ferraz de Camargo para ajudá-lo, todavia o padre Camargo, ao saber pela boca do padre Pinna a verdade, não aceitou assumir a função. Em seguida veio o padre João Paulo Xavier, mas também renunciou três meses depois, assim que lhe foi apresentada a verdade.

Cada vez mais fraco, o pároco pediu então ao seu fiel sacristão que buscasse alguém para receber o encargo. Este foi até Taubaté, local onde os ituanos não tinham força, e convenceu o avô de meu avô a assumir a missão de guardar o segredo passado pelo negro Cosme.

Padre Pinna deixou este relato por escrito: inicialmente anotou atrás da capa de abertura do primeiro Livro Tombo da Igreja Nossa Senhora da Candelária, e temendo que seus inimigos descobrissem e sumissem com o registro, elaborou três documentos relatando os fatos: um foi colocado em seu túmulo, outro foi escondido sob o Cruzeiro de São Francisco, e o terceiro, no braço esquerdo da imagem do arcanjo São Miguel, no altar lateral da matriz ituana.

Uma maldição passada geração após geração, como se Deus quisesse que aquele cativo não houvesse sabido a verdade, ou que ao menos não a houvesse relatado a ninguém. O banho de sangue, as traições e os horrores da vida política teriam ficado ocultos nas frias paredes da Câmara Municipal de Itu, sem terem atingido tantos aqui fora, e perseguido por gerações minha família, que este segredo foi incumbida de guardar.

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Autor: Wagner Rizzi

O problema do mundo online, porém, é que aqui, assim como ninguém sabe que você é um cachorro, não dá para sacar se a pessoa do outro lado é do PCC. Na rede, quase nada do que parece, é. Uma senhorinha indefesa pode ser combatente de scammers; seu fã no Facebook pode ser um robô; e, como é o caso da página em questão, um aparente editor de site de facção pode se tratar de Rícard Wagner Rizzi... (site motherboard.vice.com)

Um comentário em “O assassinato do Capitão Antonio Correa Pacheco.”

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