Enquanto quem não conseguia enxergar o que estava acontecendo batia palmas e postava seus kkks nas redes sociais após a morte de Gegê do Mangue e Paca, o Promotor de Justiça Lincoln Gakiya colocava suas barbas de molho e alertava que nuvens escuras estavam despontando no horizonte.
A história da morte de Gegê começou a ser mal contada com o estranho surgimento do bilhete que auxiliou as autoridades a desvendarem todo o caso, o que leva à questão; desde quando as autoridades já estavam cientes do plano de eliminar os líderes do Primeiro Comando da Capital e quais serão as consequências dessas mortes?
É ela que impede que nossas fronteiras sejam invadidas por traficantes de armas e drogas, com direito a belas fotos com militares nas estradas e helicópteros sobrevoando as matas e os rios — show.
Gegê do Mangue teria criado um sistema que sufocaria as facções Comando Vermelho (CV) e Família do Norte (FDN), sem a necessidade de enfrentamento direto entre as facções, deixando os garotos da base se matando, mas segurando as ações contra a polícia e o Estado.
Além de manter e solidificar a tradicional linha de fornecimento do Paraguai, a equipe de estrategistas da organização criminosa desenvolveu uma estratégia para contaminar a tradicional rota norte, via rio Solimões, forçando a Família do Norte e o Comando Vermelho a buscar meios alternativos.
A exportação das drogas também deixou de ser centralizada e passou a ser operada através de diversos portos — tudo sob o olhar de Gegê do Mangue. Elton Rumich da Silva, o Galã, é uma figura ainda nebulosa dentro desse estratagema, todavia era personagem chave nesse jogo estratégico.
- apesar de ter assumido o controle da distribuição da rota paraguaia com o apoio da facção paulista, Galã vendia com sobrepreço para a facção carioca Comando Vermelho, com o aval de Gegê, como forma de evitar uma guerra direta, ao mesmo tempo que fragilizava seu caixa, e conseguia informações estratégicas do inimigo;
- que ele só comercializava com o PCC e seus aliados; e
- ele comerciante autônomo, agindo sem se reportar ao Primeiro Comando, mas garantindo paz na fronteira e rota livre para seus insumos.
Enquanto a atual política de não enfrentamento do narcotráfico contra o Estado constituído e suas forças policiais persistirem, como tem sido a orientação do Primeiro Comando da Capital, há possibilidade de enfrentamento sem levar terror às ruas e à população através da polícia investigativa e ostensiva.
Para quem imagina que o ideal seria outro, é só ver como as coisas estão no Rio de Janeiro, onde o Comando Vermelho está no poder.
O mal maior!
A possibilidade de que Gegê do Mangue e Paca estivessem negociando com os inimigos do CV e FDN um acordo ou a mudança de camisa seria um tsunami para a segurança institucional latino-americano.
Se o maremoto foi evitado, as nuvens não foram dissipadas. A Família do Norte e o Comando Vermelho poderão tentar retomar a rota do Paraguai e restabelecer a hegemonia no Solimões, e, se isso acontecer, muito sangue poderá correr, tanto de membros das facções, quanto de policiais.
O momento não poderia ser mais propício para mudança dentro da estratégia paulista.
Com ajuda do Governo Federal, que com a intervenção militar no Rio de Janeiro criou dificuldades organizacionais para a organização carioca, o PCC poderá solidificar seus negócios com a Venezuela.
Hoje, devido às dificuldades econômicas da Venezuela, armas pesadas podem ser compradas por um preço bem abaixo do mercado.
Militares e guerrilheiros estão vendendo as armas de suas organizações e aceitando oportunidades de serviço dentro e fora do país, e apesar da Família do Norte ter um vínculo mais antigo com os venezuelanos, a organização paulista tem condições econômicas e estratégicas para dominar a fronteira norte.
A rota boliviana como alternativa
Os paulistas conhecem desde o tempo dos bandeirantes a rota boliviana, que por algum tempo quase foi esquecida, e transportar via Mato Grosso do Sul maconha, cocaína e armamento era coisa para quem queria fugir do grande fluxo.
Sob nova direção!
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});