Comando Vermelho: resistiu a tudo, mas assumirá o lugar do PCC

O Comando Vermelho enfrentou as GLOs e as milícias fortalecidas por Bolsonaro, mas nem assim a facção PCC conseguiu eliminar seu maior iminigo

Foto do mapa do Mato Grosso com sangue derramado pelo Comando Vermelho

Comando Vermelho sobreviveu. E agora?

Comando Vermelho: está assumindo o lugar do PCC?

O fim do Comando Vermelho está próximo! É o que tudo indicava na virada das décadas de 2010 para 2020, só que não!

No entanto, como a história não é uma linha reta contínua…

O Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533) muda seu foco e deixa de correr riscos em áreas com menor interesse econômico.

Enquanto o CV domina territórios por todo país, o PCC se concentra no lucrativo negócio do tráfico nos principais mercados do Brasil e do mundo.

A guerra pelo controle do Norte, Nordeste e pelo Rio de Janeiro é coisa do passado: a taxa de homicídios reflete a mudança de foco.

Os territórios não foram totalmente abandonados, mas quase, só restindo focos isolados.

É dificil o dia que não recebo aqui no site algum pedido de “sintonia” de algum cria perdido nesse brasilzão.

Esse depoimento de um “cria do 15” reflete esse abandono:

Estou dizendo a você, aqui tem o Comando Vermelho, a CLS, que é tudo inimigos nossos, entendeu?

Tem o Comando Litoral Sul e tem FDN também misturado aqui. Aqui é cheio de lixo mesmo.

Aqui na cadeia que estou, não está favorável não!

É pouca quantidade dos irmãos nossos, tem mais Comando Vermelho, entendeu?

É mais tumulto, não é qualidade nenhuma não, é mais tumulto.

de um recluso em Pernambuco

“É mais tumulto” mostra a impressão deixada por essa lacuna preenchida pelo Comando Vermelho e por diversos grupos locais menores.

Esta situação extremamente delicada torna a luta contra o crime organizado no Brasil uma tarefa cada vez mais difícil.

Comando Vermelho: a morte dos quatro e a taxa de homicídios em Mato Grosso

Quatro trabalhadores paranaenses foram mortos em Nova Monte Verde em 2022 devido a uma interpretação equivocada de um sinal feito por um dos trabalhadores.

Um olhar mais atento sobre a morte destes quatro homens e sobre a taxa de homicídio no Mato Grosso nos revela uma realidade complexa.

As previsões sobre o futuro do crime organizado no Brasil, mesmo produzidas há tão pouco tempo, já se provaram erradas: o CV não se enfraqueceu

Aproveitando-se da mudança estratégica do Primeiro Comando da Capital, o Comando Vermelho (CV) conseguiu a hegemonia de um amplo território.

Como resultado, o aumento de 22,5% em 2022 das mortes violentas em Mato Grosso — acompanhada pelo aumento da letalidade policial em Mato Grosso.

Este estado não é prioridade para a Rota Caipira, excencial para o PCC, e tão pouco para a Rota do Solimões, mas fica no entroncamento das duas.

Pode haver, por parte da facção paulista, interesse por manter a resistência, no entanto, ser apenas o suspiro dos últimos crias isolados resistindo ao CV.

A principal razão da elevada taxa de homicídio na América Latina é a guerra entre facções criminosas, mas Mato Grosso não é exceção.

É apontado como o principal fator para o aumento na violência matogrossense a guerra entre as facções Primeiro Comando da Capital e Comando Vermelho.

Comando Vermelho: a certeza da vitória do Primeiro Comando da Capital

Entre 2018 e 2022, três fatores sugeriam que o Comando Vermelho estaria destinado a perder grande parte de seu poder nos primeiros anos daquela década:

Primeiramente, em 2018, as forças armadas foram enviadas para o Rio de Janeiro para combater o crime organizado, base da facção criminosa carioca Comando Vermelho.

Um dos riscos da intervenção é desarmar o Comando Vermelho, sair em dezembro e deixar o PCC fechar o Sudeste em janeiro.

Não há como o interventor resolver esse problema, porque os generais do PCC estão em São Paulo, onde não há intervenção.

Celso Rocha de Barros

Em segundo lugar, em 2019 a posse do presidente Bolsonaro que tem um histórico apoio aos milicianos, principalmente no Rio de Janeiro.

Assim, O CV enfrentaria simultâneamente em seu território três poderosos inimigos: grupos milicianos apoiados por forças públicas militares; as forças regulares de Segurança Pública; e os grupos criminosos inimigos.

Além de todos esses percalços, o Comando Vermelho enfrenta uma longa, desgastante e incerta guerra contra a organização criminosa paulista Primeiro Comando da Capital.

A soma desses fatores indicava que o Comando Vermelho se tornaria um pequeno grupo atuando em algumas periferias brasileiras.

Aproveitando esse momento de fragilidade do CV, o PCC assumiria a hegemonia criminosa no Brasil, visto que não estava sendo atacado em seu berço, o estado de São Paulo.

Mas, já devo ter mencionado isso aqui em alguma ocasião, sou um otimista.

Talvez o último otimista da face da Terra – o que, por sua vez, também é uma afirmação otimista.

Tenho a incapacidade de confrontar o mundo da minha mente com o mundo real.

Yuri Al’Hanati

Comando Vermelho: as razões de sua resiliência

Só faltou combinar com os russos! Apesar de tudo, passados anos, o Comando Vermelho continua tão firme e tão forte quanto estava antes.

Vários fatores contribuíram para a resiliência da facção carioca CV:

  • adaptabilidade aos diversos fatores que lhe foram adversos alterando quando necessário e pelo tempo que acharam melhor seu leque de aliados;
  • a diversificação de atividades ajudou a organização a se manter financeiramente viável, mesmo sob forte pressão.;
  • estratégia de expansão territorial que garantiu no passado o poder nacional do PCC que atuava com o mesmo vigor e interesse em uma grande metrópole ou em uma vila em um município fronteiriço;
  • relação com comunidades locais: de maneira distinta do que o PCC que visava manter um bom relacionamento com a sociedade civil e política, o CV foca na comunidade criminosa local; e
  • a mudança de estratégia da facção PCC 1533.

Não haverá um Brasil sem o Comando Vermelho

Apesar de tantos golpes mortais, o CV não foi aniquilado. Quem corre pelo lado errado do lado errado da vida continua e continuará entre nós.

O Comando Vermelho é uma manifestação das contradições existentes em nosso espírito coletivo, assim não será eliminado, se muito, se compreendido poderá ser contido.

Alfredo Moreira Ávila Neto e seus colegas, em artigo, lembra algo que não pode ser esquecido:

O Comando Vermelho, fundado em 1979, viu nascer metade dos brasileiros: 49,7% dos brasileiros tem menos de 40 anos de idade.

Assim como o Primeiro Comando da Capital e o Quilombo dos Palmares, o CV sobreviverá independentemente do que qualquer um de nós possa fazer.

texto base: Gerenciamento de Crise em Rebeliões no Sistema Penitenciário Brasileiro, publicado na Revista Eletrônica Direito e Conhecimento, do Cesmac, Faculdade do Agreste de Arapiraca

Comando Vermelho
Red Command
Comando Rojo

O site Insght Crime apresenta um resumo da história da facção carioca.

O Comando Vermelho (CV) é o grupo criminoso mais antigo do Brasil, formado em uma prisão do Rio de Janeiro durante o Regime Militar na década de 1970 como um grupo de autoproteção para presos.

Começou com furtos roubos e assaltos a banco, mas na década de 1980 o grupo se aventurou no comércio de cocaína, trabalhando com cartéis de drogas colombianos e assumindo um papel de liderança social em muitas favelas cariocas.

História do Comando Vermelho

A facção CV nasceu de uma aliança entre criminosos comuns e presos políticos, quando membros de ambos os grupos foram mantidos nas mesmas prisões durante a ditadura militar brasileira entre 1964 e 1985.

As péssimas condições do presídio Cândido Mendes, na Ilha Grande, no Rio de Janeiro, levou os presos a se unirem para sobreviver dentro do sistema.

Inicialmente formaram um grupo miliciano chamado “Falange Vermelha”, mas logo abandonaram sua ideologia do mundo do crime, pois o grupo se envolveu cada vez mais com o crime organizado e a imprensa passou a chamá-lo de “Comando Vermelho”.

Em 1979, o grupo havia se espalhado para fora da prisão e para as ruas do Rio e seus membros livres tinham a tarefa de fornecer dinheiro aos presos.

Esse dinheiro era conseguido por meio de atividades criminosas como assaltos a bancos, o que lhes permitia manter uma boa qualidade de vida na prisão e financiar suas tentativas de fuga.

As alianças do Comando Vermelho

As ideias do Comando Vermelho se espalharam para outras prisões e o poder da organização cresceu.

Duas décadas depois, em São Paulo, surgiria um movimento prisional semelhante, o Primeiro Comando da Capital (PCC 1533).

O Comando Vermelho era considerado um parceiro ideal pelos cartéis colombianos quando o boom do tráfico de cocaína começou na década de 1980.

O CV já possuía estrutura e organização adequadas para receber e distribuir grandes quantidades da droga.

Os integrantes que não estavam presos agora tinham uma tarefa clara: formar quadrilhas armadas para tomar os territórios do narcotráfico.

O grupo assumiu o controle de muitas favelas do Rio de Janeiro que haviam sido abandonadas pelo estado, estabelecendo um sistema paralelo de governança nas favelas e dando emprego a moradores há muito excluídos da sociedade brasileira.

O Comando Vermelho diversifica suas atividades

Na década de 1990, a influência dos todo-poderosos chefes do jogo ilegal da cidade, conhecidos como “bicheiros”, começou a diminuir, permitindo que o Comando Vermelho se tornasse o principal grupo do crime organizado do Rio e aumentasse sua presença em outros estados.

Em 2005, acreditava-se que o Comando Vermelho controlava mais da metade das áreas mais violentas do Rio de Janeiro, embora em 2008 essa proporção tenha caído para 40%.

Um programa de pacificação da polícia que buscou trazer uma maior presença do estado para áreas dominadas pelo crime reduziu ainda mais a influência do grupo no início de 2010, mas essa estratégia de segurança teve pouco efeito a longo prazo.

Acredita-se que o Comando Vermelho tinha ligações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).

O líder do Comando Vermelho, Luiz Fernando da Costa, conhecido como “Fernandinho Beira-Mar”, foi preso na Colômbia em 2001 por supostamente trocar armas por cocaína com a guerrilha.

No final de 2016, o rompimento de uma antiga aliança entre o Comando Vermelho e o PCC gerou uma onda de violência nas prisões brasileiras.

No ano seguinte, o conflito entre os dois grupos continuou, pois o PCC buscava reduzir o poder do Comando Vermelho, formando alianças com gangues inimigas e cooptando membros do grupo carioca para assumir o controle do narcotráfico em áreas de influência do grupo.

Expansão e lideranças do Comando Vermelho

O Comando Vermelho tem uma estrutura de liderança relativamente fraca e foi descrito como uma rede de atores independentes, em vez de uma organização hierárquica estrita liderada por um único líder.

No entanto, há chefes que se destacam dentro da estrutura, como Luiz Fernando da Costa, o “Fernandinho Beira-Mar”, atualmente preso, e Isaías da Costa Rodrigues, o “Isaías do Borel”, que esteve preso por mais de 20 anos, até obter sua liberdade em 2012, preso novamente em 2015 e liberado de novo em agosto de 2022, sendo que quatro meses depois é decretada novamente sua prisão.

O Comando Vermelho tem sede no Rio de Janeiro, mas está presente em outras partes do Brasil, inclusive em São Paulo. Atua também no Paraguai e na Bolívia.

Em dezembro de 2014, às autoridades paraguaias prenderam um líder do Comando Vermelho, Luís Cláudio Machado, conhecido como “Marreta”.

Leque de aliados e inimigos do Comando Vermelho

O Comando Vermelho trabalhou em estreita colaboração com o PCC, até que a aliança de longa data entre os dois grupos se dissolveu em 2016.

Além do PCC, os principais inimigos do Comando Vermelho são milícias formadas por grupos milicianos formados por ex-agentes e agentes das forças de segurança em serviço e duas facções criminosas cariocas: Amigos dos Amigos (ADA) e o Terceiro Comando Puro (TCP), facção dissidente do Terceiro Comando (Terceiro Comando), criado por ex-integrantes do Comando Vermelho.

Acredita-se que o Comando Vermelho tenha vínculos com guerrilheiros colombianos recentemente desmobilizados das FARC, além de outras redes que traficavam cocaína da região andina e maconha do Paraguai.

Análise e perspectivas do Insight Crime em 2018

O Comando Vermelho perdeu poder nos últimos anos, após a ascensão de rivais como o Amigos dos Amigos, que teriam formado uma aliança com o PCC para enfrentar o Comando Vermelho pelo controle territorial do Rio.

Mas parece que está ampliando sua presença internacional, principalmente na Bolívia e no Paraguai.

De acordo com estimativas de 2013, o Comando Vermelho envia uma tonelada de cocaína colombiana para o Brasil todos os meses do Paraguai, que se tornou um centro de tráfico de cocaína para gangues brasileiras.

O conflito contínuo do Comando Vermelho com o PCC se espalhou para fora do sistema prisional, provocando confrontos violentos no Rio e no norte do Brasil pelo controle de lucrativas rotas de tráfico de drogas e mercados locais de drogas.

clique aqui para acessar o texto original no site do Insight Crime

Autor: Ricard Wagner Rizzi

O problema do mundo online, porém, é que aqui, assim como ninguém sabe que você é um cachorro, não dá para sacar se a pessoa do outro lado é do PCC. Na rede, quase nada do que parece, é. Uma senhorinha indefesa pode ser combatente de scammers; seu fã no Facebook pode ser um robô; e, como é o caso da página em questão, um aparente editor de site de facção pode se tratar de Rícard Wagner Rizzi... (site motherboard.vice.com)

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