Estranhos caminhos, trilhas e matas
A visão que a polícia e a sociedade tem do integrante da facção Primeiro Comando da Capital foi construída pela mídia e pelo preconceito social — isso não é uma crítica, apenas uma constatação.
Será extremamente difícil nossa sociedade sair —a construção de um círculo policial-midiático-criminoso, um pelourinho midiático ao qual expõe e criminaliza as comunidades periféricas para o deleite de uma população que se sente superior.
Não venha você reclamar comigo, procure Allan de Abreu e questione sobre o que ele publicou na obra “Cocaína. A Rota Caipira
“, onde desvenda de maneira sutil o esquema de tráfico da facção paulista.
O Paraguai é hoje o principal produtor de maconha da região e o maior corredor de cocaína da Bolívia para a Europa. A coca boliviana é misturada no Paraguai com precursores químicos ilegais que chegam de outros países.
Em seguida, é escondido em caminhões e contêineres para ser transportado para a África e a Europa. Cabo Verde e Roterdã são os principais portos de destino, segundo a Secretaria Antidrogas do Paraguai (Senad).
Catalina Oquendo – El País
Allan não se satisfez fazendo apenas um levantamento do que acontece, ele estudou a fundo a história do narcotráfico no estado de São Paulo — surgimento, desenvolvimento, e internacionalização.
Como ele conta, a malha se espalhou pelo interior mineiro, e hoje, sabemos pela imprensa, já movimenta milhões no Mato Grosso do Sul, Goiás e pelo interior de diversos estados dentro da rota de tráfico.
O que falei neste site sobre cocaína → ۞
Dos países produtores ao consumidor
O pesquisador não deixou de seguir a rota, da Colômbia, Bolívia e Peru de um lado até chegar em São Paulo e no Rio de Janeiro. Foram quatro anos de entrevistas e coleta de milhares de documentos.
Policiais, juízes, promotores, traficantes e produtores, ninguém ficou de fora, e todos estão em “Cocaína. A Rota Caipira“.
Para que o leitor sinta o clima e perceba oque está acontecendo e como pensam todos os integrantes desse imenso mercado, Allan narra as estratégias utilizadas pelas mulas para evitarem ser capturadas pela polícia…
… e as estratégias utilizadas pela polícia para capturar as mulas.
A guerra pelo poder dentro das organizações criminosas também não ficaram de fora, assim como o trajeto que foi feito de simples gangues de rua para a construção de uma organização multinacional de tráfico de drogas e armas.
O que falei neste site sobre o tráfico internacional → ۞
Trecho de “Cocaína. A Rota Caipira“:
“Cléber tentou facilitar o acesso dos comparsas de Joseph à cela da PF, onde o italiano estava detido. Mas não conseguiu. Dias depois, George foi transferido para o CDP de Guarulhos. Aí entrou em cena outro comparsa do Sheik, Wagner Meira Alves, que se valeu de lideranças da facção PCC dentro do presídio para pressionar George:
— Hoje a gente vai dar um xeque-mate — disse um dos sicários, identificado como Velho, para Wagner. — O Dudu vai entrar na linha com os meninos e você vai tá na linha com eles e que tiver na situação lá vai estar junto dele. Isso vai ser esclarecido hoje, vamos dá um prazo para o italiano, que o irmão lá e da geral, vamos dar vinte dias de prazo para ele. Se quiser, em último caso, é aquilo que o Cabeção falou [matar o George], não tem problema. É para tentar receber e em último caso é aquilo lá.
— O interesse é receber — disse Wagner. — Se receber, 30% é de vocês, pode falar lá e sacramentar. […] Ele sabe que deve e pode se esquivar, mas, se ele quiser devolver, em imóvel ou espécie, a gente vai até lá, pega o que tem e tira a parte do PCC na hora.
Minutos depois, os ‘irmãos’ do PCC colocaram George na linha para falar com Wagner…”
Um comentário em “A capital do Primeiro Comando é no interior”