A nova geração do PCC 1533: uberização e economia de mercado

A nova geração do PCC teve origem e objetivos diferentes dos primeiros integrantes do Primeiro Comando da Capital, e onde isso nos levará?

A nova geração do PCC 1533: uberização e economia de mercado

A nova geração do PCC e a antiga geração

A nova geração do PCC vai me fazer mudar? Sei não. Acho que nem eu vou mudar os moleques e nem eles vão me fazer mudar.

Cê tá ligado que eu já tô sacando qual é a treta que separa a mente dos mano da nova e da antiga escola do Primeiro Comando da Capital, né?

Antigamente, a maioria dos caras que entrava na facção tava preso e precisava se juntar com os irmãos pra garantir o mínimo de sobrevivência no cárcere e na rua. Mas hoje em dia, a rapaziada nova que tá entrando no crime tá sonhando em ficar rico e subir na vida, e vê no PCC uma porta pra alcançar esse objetivo.

Lá em casa funciona assim…

Vou te falar a real da lei aqui de casa, e é mais importante do que muito maluco imagina.

Aqui é regra: nada de roupa de bandido. Nem esses short, camiseta ou blusa cheio de Charadas, Arlequinas, Yin-yang, carpas e essas paradas.

Não tô afim de chamar atenção dos vizinhos, da população e muito menos da polícia pra minha quebrada. Aqui é só paz e tranquilidade.

Todo mundo aqui segue na moral minhas regras e os mais velhos já puxaram essas ideias também para suas casas.

Só louvando o lucro do crime

Só que meu sobrinho novo ainda rateia, é verdade que não chega aqui com roupa de malandro, mas vem na ostentação, cheio de: Tio Patinhas, diamante, dinheiro.

Só tô te contando isso para você se ligar em uma parada muito maior.

Uma parada que você não vai ver nas quebradas e nem nos corres do crime mesmo que teja de frente e olhando pro bagulho.

A nova geração do PCC e o mundo do crime mudaram

É importante botar na cabeça que entre os das antigas e os novos chegados da facção PCC 1533 tem um mundo de diferença.

Mesmo eu convivendo de boa com gente das antigas e da nova geração do PCC, eu não tinha sacado essa parada.

Cada geração tem sua visão própria do corre do crime, mas o mais loko ainda, é que cada uma vê de forma diferente o seu lugar  no Primeiro Comando da Capital e quem merece ou não ser da Família 1533.

Mano, foi mó sinistro, mas dois leitores aqui do site, o “irmão do 31” e o “Jerick do 11” e meu sobrinho mais novo, é que me ligaram a atenção pra essa parada…

Só que ela não encaixa nas ideias que recebi de “sintonía do pé quebrado”, agora vai daí.

Eu vou jogar as ideias aqui, se alguém quiser depois me procura para esclarecer melhor as ideias.

O “irmão do 31”, eu e o “Jerick do 11”

Eu entendi o que o “irmão do 31” queria, ele deixou bem clara a ideia:

Ele quer “poder melhorar, poder expandir”.

O irmão tá ciente que tá cercado em um campo minado e que mesmo entre os que falam que fecham junto, nas atitudes do dia a dia, não condizem.

Mas tudo isso ele está disposto a enfrentar e esse não é o problema, o que trocar ideia para poder fortalecer os negócios.

… eu e o “Jerick do 11”

Minha resposta foi seca ao “irmão do 31” não teve nada a ver com o que ele queria.

Eu foquei no problema e não na solução que ele buscava. Eu vi o inimigo e a falta de fortalecimento das lideranças da família.

Faz uns anos, se alguém mandava um salve de Minas Gerais, já chegava de uma pá de lugar irmãos e companheiros querendo colar pra acalmar a quebrada junto com o irmão.

Mas hoje em dia não é assim, e eu meti a boa criticando essa falta de união da família.

A ganância tomou conta da Família 1533?
O bagulho é o seguinte:

Tá parecendo que a liderança do Primeiro Comando da Capital só tá ligada nos grandes negócios e tão se afastando dos irmãos nas trancas e nas quebradas.

Mas é perigoso demais seguir por esse caminho, sem cada um, em cada canto, todo mundo fica mais fraco, até mesmo os que hoje tão no topo.

Família forte e paz nas quebradas é ruim, mas sem isso é só morte

Mas agora eu vejo que eu estava errado. O que o “irmão do 31” não era isso que queria.

Ele, assim como a nova geração do PCC, tá ligado que o corre é fortalecer o negócio, não é querer treta.

Claro que ele vê a disputa como parada normal, mas não tá afim de abrir guerra não.

Quem me abriu os olhos para essa realidade foi o “Jerick do 11”

… o “Jerick do 11”

O comando está passando por uma metamorfose.

Hoje em dia as pessoas estão associando luxos com o Primeiro Comando da Capital.

Por exemplo:

Quando alguém via um “noia” na rua já pensavam, esse aí deve ser do pcc, mas agora eles pensam isso quando vêem alguém passando de Landrover preta blindada em um condomínio de luxo.

O comando está crescendo muito e se afastando das raízes. Não sei até que ponto isso é bom.

Crescer sempre é bom mas sem perder a humildade e sem esquecer o que te levou o que levou o comando até lá.

Então. Eu com minha cabeça das antigas me foquei no problema enquanto a nova geração está focada no progresso.

Entendo de boa. Aceitar… fazer o que?

Mano, eu conheço essa história faz um tempo já.

Desde 2007, trombando com aqueles irmãos dos corres do tráfico e do crime, já rolava a uberização do trampo deles.

Aí agora vem os caras falando que oferecem serviços on-demand para consumidores como se isso fosse novidade.

Que isso, irmão, lá atrás já tinha moleque da facção PCC nos bairros parados esperando uma ligação pra fazer uma entrega ou ir buscar o bagulho lá no Paraguai.

Eles falam em conectar prestadores de serviços independentes com consumidores que precisam desses serviços.

Mas isso é a mesma coisa que rola no tráfico, usam trabalho precarizado e sem direitos trabalhistas e ainda pior, porque pode perder a liberdade.

As lideranças, os patrões e gerentes pegam o moleque que faz o serviço melhor pelo preço mais barato, fazendo uma disputa entre os moleques pra ver quem oferece mais vantagem pra pegar os corres.

Todo mundo se achando empresário autônomo, mas seja UBER,

Tanto na correria quanto no UBER, as crianças ficam olhando pra chefia dos grupos, sonhando em um dia ser líder e ficar rico.

Daí vem as roupas de ostentação do meu sobrinho, daí o sonho de muitos.

Entre o sonho e a realidade

“Jerick do 11” acaba por resumir o que é o pensamento da nova geração do PCC que vivem e sonham com a vida do crime.

O que eu to ligado do PCC hoje em dia é que os caras cresceram muito, mano. Expansão de área, dinheiro rolando solto pra certos membros. E aí já viu, né, isso tudo aparece na mídia direto. Sempre tem um suposto membro do comando indo em cana com uma coleção de carros de luxo, imóveis, helicóptero, iates e tudo mais.

E isso é parada que eu já vi de perto também, irmão. Há muitos anos atrás conheci um mano do comando (hoje ele saiu e tá na igreja) que morava numa casa gigante de 500 metros quadrados num condomínio fechado. Tinha coleção de carros, caminhão avaliado em 400 mil e jetskis. Só descobri o que o cara fazia de verdade depois de anos de convivência e confiança.

Isso me fez pensar sobre o perfil dos membros do PCC, mano. Será que é só favelado ou também tem os chiques de condomínio? E agora a referência que a gente tem dos membros do PCC (pelo menos a referência que eu tenho e que a mídia mostra) é que eles são milionários e se passam por empresários na baixada santista e tal.

Será que o comando virou um cartel, irmão? E os membros que são considerados de “baixo nível”, ficam pra trás? Ou o comando se dividiu entre alta e baixa cúpula?

Pois é. Faço minha a dúvida de “Jerick do 11”.

Faz uns tempos já que eu soltei um texto sobre como o Primeiro Comando da Capital entrou nesse mundo do neoliberalismo com sua uberização que ilude com sonhos de jardins, carros de luxo e muitas mulheres e entrega trabalho explorado e vida atás das muralhas.

E só agora vejo que era óbvio onde íamos parar se continuássemos caminhando nessa em direção a esse liberalismo concervador onde chegaríamos.

Sei que o “Vinny do 11” vai falar para mim que “isso aí é coisa de caduco”, mas fazê o que?

Até pago pau para os novos que não querem guerra, mas não acho certo não abandonar todos aliados pelo Brasil que deram o sangue pela Família 1533.

A análise do companheiro Francesco Guerra

Saca só: o Francesco Guerra do site latinoamericando.info fez uma análise que bate com o que a do “Jerick do 11”. Ele deu as seguintes ideias:

O PCC tá querendo expandir no atacado e deixar o varejo só em certas áreas, principalmente em São Paulo, deixando outras regiões nas mãos de uma molecada.

Mas essa escolha pode trazer problemas pro futuro da facção, porque essa rapaziada não tá pronta pra administrar as quebradas de São Paulo.

E essa parada de deixar a base de lado pode ser um problema no futuro, porque tá rolando uma administração muito amadora em vários lugares.

A galera tá empolgada com o atacado, onde já tá com uma participação majoritária nas rotas NarcoSur e na Rota Caipira.

E esse esforço tá valendo a pena, pelo menos por enquanto. O próprio Promotor de Justiça Lincoln Gakiya já disse que o PCC tá no patamar de um cartel internacional de droga.

A gente ainda não pode afirmar que a facção vai continuar nesse caminho, mas tudo indica que vão manter essa rota.

E apesar de tudo, São Paulo deve continuar sendo mantido como berço da facção, mas o Tribunal do Crime pode ficar mais fraco nessa mudança porque muitas vezes ele é formado por membros que não tão tão na linha da facção.

Autor: Ricard Wagner Rizzi

O problema do mundo online, porém, é que aqui, assim como ninguém sabe que você é um cachorro, não dá para sacar se a pessoa do outro lado é do PCC. Na rede, quase nada do que parece, é. Uma senhorinha indefesa pode ser combatente de scammers; seu fã no Facebook pode ser um robô; e, como é o caso da página em questão, um aparente editor de site de facção pode se tratar de Rícard Wagner Rizzi... (site motherboard.vice.com)

Deixe uma resposta

Descubra mais sobre Primeiro Comando da Capital ☯ Facção PCC 1533 ☯

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading