Caça à Máfia Russa no Brasil

A Polícia Federal faz uma minuciosa revista para comprovar a suspeita de que a máfia russa está atuando na região Norte do Brasil. O que de fato está acontecendo?

Separando o joio do trigo, os turistas dos mafiosos

A existência de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro da Máfia Russa no Brasil, até o momento, não passa de uma suposição que transformou nossos policiais federais em agentes “russofóbicos”.

O repórter Allan de Abreu nos conta como doleiros como Dalton Baptista Neman lavam o dinheiro da facção através de uma operação casada : um comerciante paga um fornecedor na China em Dólar convertido de criptomoeda disponibilizada por um comprador de cocaína na Europa, daí, esse comerciante recebe pela venda da mercadoria vinda da China no Brasil em Reais e então paga o traficante brasileiro que vendeu a droga na Europa.

O chinês Jiamin Zhang se estabelecer no Brás no centro de São Paulo e é o líder de um esquema de lavagem de dinheiro com o uso de criptomoedas que pode ter movimentado bilhões de reais. Ele é acusado de trazer ao Brasil toneladas de cocaína vindas da Colômbia, Bolívia e Paraguai. Do território brasileiro, a droga era enviada para a Europa por portos da região sul do país.

Thaís Nunes detalha e dá nome aos bois

No entanto, a Polícia Federal brasileira ainda procura dinheiro nos bolsos, em uma verdadeira caça às bruxas, por vezes, transformando a vida dos turistas russos em um inferno — é o que afirma o empresário e aventureiro Artemiy Semenovskiy (Артемий Семеновский), que se autodenomina representante do CPLCRB (ОКОРГБ), autor de uma pérola sem preço: Рycckий Кokaиh b Бpaзилии – Рaзoблaчaem ЛoжЬ (Cocaína russa no Brasil – Explicando as mentiras).

Em um mundo onde as criptomoedas são utilizadas para lavar do dinheiro até dos crimes domésticos, como se comprovou com a Operação Mamma Mia da Polícia Federal e da Receita Federal ao investigar uma pizzaria comandada pelos integrantes do Primeiro Comando da Capital que além de massas e queijo para pizzas, comprava criptomoedas e ouro para lavar dinheiro e financiar atividades da facção. — Lucas Caram para o Cointelegraph

Sei que você sabe que o CPLCRB é o Comitê Público para a Libertação dos Cidadãos Russos no Brasil, então nem preciso te dizer.

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O russo, a Polícia Federal e o PCC

A maneira como Artemiy escreve me agrada, é como se ele estivesse contando um caso sobre algo que para os russos pode ser uma novidade, mas, para nós, é uma história conhecida: o que é e como nasceu o Primeiro Comando da Capital.

Artemiy Semenovskiy não economiza tintas de cores fortes para descrever a facção criminosa PCC 1533, o sistema carcerário brasileiro e a Polícia Federal:

“Paroxismo engraçado: o próprio poder gerou e criou seu inimigo mais terrível, porque o PCC surgiu como uma reação ao caos da polícia, à desumanidade do sistema prisional, à indiferença de juízes e funcionários.”

Por que os brasileiros querem insistir no mesmo caminho para ver se chegam a um destino diferente? Estranha o estrangeiro que se interessa pela política brasileira, apesar de parecer não ter uma ideia muito clara do que realmente acontece por aqui.

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Política como forma de diminuir a perseguição

Artemiy tenta criar um canal entre os governos brasileiro e russo para diminuir o preconceito das autoridades policiais tupiniquins, mas a instabilidade política dificulta o diálogo a longo prazo.

Com um governo sem rumo e uma polícia perdida e desmotivada não é possível controlar a criminalidade — retiram-se criminosos das ruas para colocá-los em universidades do crime.

Dentro do sistema prisional, o preso pode mandar matar o policial que o prendeu, e é assim em todos os estados, só muda a sigla da facção e a virulência da gangue, avalia Artemiy.

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As facções criminosas como desculpa

Nós brasileiros não aprendemos com o passado, mas Artemiy Semenovskiy, que é russo, vê aqui o que já aconteceu em sua terra com Lênin, ou na Alemanha com Hitler: a necessidade de nomear um bode-expiatório.

Para Artemiy, a bola da vez são as facções criminosas, de preferência o PCC, mas para que o plano seja perfeito é preciso que o inimigo seja externo.

A Máfia Russa cumpre duas funções: a de inimigo externo, que não pode ser tocado e nem mensurado, e a de símbolo de descrença na oposição política, uma vez que o atual governo brasileiro ainda pode acusar o anterior de conspirar com a Rússia.

O inimigo perfeito, pois até os PCCs, por fazerem parte da sociedade brasileira, são parte integrante da corrente de “cordialidade”, nos termos do sociólogo Sérgio Buarque de Holanda.

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Nas eleições vale tudo

O mérito das propostas dos candidatos não faz diferença em campanha eleitoral, o que vale é o poder de vender a ilusão que o inimigo, real ou imaginário, possa ser contido, mesmo que para isso o governo escolha atacar grupos minoritários.

Para Artemiy a escolha já foi feita: as pessoas encarceradas e os russos.

Quando me deparei com o texto desse russo, achei que era um garoto que estava criando uma teoria da conspiração com o seu Comitê Público para a Libertação dos Cidadãos Russos no Brasil (CPLCRB), mas depois de dois dias de intensa pesquisa, vi que realmente o cara ficou preso em Manaus e tem conhecimento de causa.

Agora, cabe a você analisar a situação com o seu conhecimento, somado aos dados compartilhados por Artemiy, e concluir se ele realmente tem razão, total ou parcial, nas conclusões às quais chegou.

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O preconceito pode mudar de lado

PCC se benefica contra preconceito contra venezuelanos

Você não pode dizer que um negro ou um bicha te assaltaram — ou qualquer outra forma politicamente correta ou não para descrever alguém que seja de outro grupo social.

Todo preconceito é desprezível…

… ou melhor, todo preconceito contra nossos iguais, contra os que não pertencem ao nosso grupo pode:

“Quando alguém relata um assalto em Boa Vista-RR, as outras pessoas logo perguntam: “O bandido era venezuelano?”. Os imigrantes estão na boca de quem reclama do crescimento da criminalidade e também do aumento da demanda por serviços essenciais, como saúde e educação.”

Enquanto isso, no mundo real, que não está nem aí para nossos preconceitos:

“Tem havido um crescimento da violência no Estado por causa do rompimento do acordo entre as facções Primeiro Comando da Capital (PCC) e Amigos do Norte, causando assassinatos nas ruas e rebeliões nos presídios, mas isso é na grande criminalidade. As infrações cometidas por venezuelanos não são a maioria, e geralmente são de menor potencial ofensivo: furtos de pequenas posses, como alimentos e celulares.”

Há pouco tempo, os caminhoneiros e aqueles que eram a favor da intervenção militar eram aplaudidos pelas ruas, bastaram alguns dias para que o preconceito contra esses dois grupos os jogassem pelo menos parcialmente na lama — cuidado você pode ser o próximo.

Turistas russos pedem indenização de 7,7 milhões

O PCC e a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD)

Renata Siuda-Ambroziak analisa a evolução social brasileira pós-regime militar e associa religião, política, economia, PCC e IURD.

Religião, política e futebol não se discutem, mas se misturam

Não foram poucos os trabalhos que apresentei a você mostrando a forte influência da religião no Primeiro Comando da Capital. Aquele que mais me marcou foi o MATA-MATA: reciprocidades constitutivas entre classe, gênero, sexualidade e território.

Roberto Cordoville Efrem de Lima Filho demonstra brilhantemente que não se pode analisar o fenômeno Família 1533 sem levar em conta o ambiente histórico, comportamental e religioso da sociedade carcerária brasileira.

Da mesma forma, a pesquisadora Renata Siuda-Ambroziak busca fazer uma análise global no seu artigo Política das igrejas neo pentecostais durante a transformação política no Brasil publicado pela Uniwersytet Marii-Curie Skłodowskiej (UMCS).

É fato que, ao contrário de Roberto, Renata cita a facção paulista apenas de passagem, para ilustrar o inferno no qual o bispo Macedo foi jogado ao ser preso:

“… a Polícia Militar, realizou o assassinato em massa de mais de uma centena de prisioneiros, matando presos deitados com tiro na parte de trás da cabeça. (…) aqueles que sobreviveram ao massacre criaram no final dos anos 90 a maior organização criminosa do Brasil, o Primeiro Comando da Capital (PCC), responsável, entre outras coisas, pelo tráfico de drogas, sequestro e extorsão — enquanto Macedo estava preso, pessoas estavam sendo mortas no Carandiru atrás dos muros da prisão.”

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A fonte que sacia a sede da IURD sacia também o PCC

Há uma forte relação entre a expansão do Primeiro Comando da Capital e da Igreja Universal do Reino de Deus. Ambas são consequência da busca pela satisfação da demanda por segurança da sociedade brasileira redemocratizada após duas décadas de Regime Militar.

As igrejas neopentecostais e a facção paulista cresceram atreladas às mudanças culturais, políticas e sociais dessa nova realidade, em que parte da população buscou abrigo em grupos desvinculados aos antigos detentores do poder, como a Igreja Católica ou a polícia.

Quem conheceu ou vivenciou as demonstrações de fé dos integrantes do PCC conhece a forte influência dos grupos pentecostais e neopentecostais na facção, apesar de vivermos em uma nação de maioria católica e com forte influência das religiões afro-brasileiras.

Renata foi a primeira a me explicar a razão da disparidade entre o quadro esperado e a realidade dos fatos. Ambas as estruturas sociais cresceram simultaneamente, captando pessoas que buscavam novos caminhos após a queda do Antigo Regime.

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Melhore de vida sendo nosso irmão

A Igreja Universal do Reino de Deus e o Primeiro Comando da Capital traziam em sua essência promessas de aceitação e ascensão social, melhora do poder de compra, esperança de enriquecimento e, de quebra, esclarecimento moral e espiritual para a vida de seus integrantes.

Renata denomina esses como “fatores de eliminação psíquica do risco e a redução do estresse”, que são utilizados pelas lideranças desses grupos para otimizar seus resultados, concentrando esforços em áreas em que há maior carência desse serviço.

A insegurança e as desigualdades sociais ostentam-se no Brasil redemocratizado — mais de 50 milhões de pessoas vivendo na faixa da pobreza e meio milhão presos, sofrendo atrás das muralhas todo tipo de violência e humilhações.

As pessoas que sentem alguma forma de privação grave ou ameaça imediata à vida ou à saúde se apegam a alguma crença a fim de mudar a situação — o engajamento em causas religiosas e em outras alternativas precárias é duas vezes maior entre a população mais pobre.

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Avançando sobre as classes média e alta

Após dominarem os cárceres e as periferias, as duas organizações continuaram a crescer, infiltrando-se em outras camadas sociais — Renata diz que esse comportamento já era esperado e é reflexo da busca pela diminuição da desigualdade social.

Na América do Norte, os cidadãos têm um bom poder aquisitivo; porém, a insegurança sobre a estabilidade econômica individual e a percepção das diferenças do poder de compra são marcantes, o que faz com que o fenômeno também ocorra lá.

Quanto mais rica é uma pessoa, menos ela sente os efeitos da desigualdade social e da insegurança, tendo, assim, menor necessidade da religião ou da participação em grupos para garantir sua sobrevivência — no entanto, ainda assim esse indivíduo não é uma ilha.

Dessa forma, as gangues e as igrejas neopentecostais ganham espaço em território americano e por aqui, recebendo jovens das classes média e alta, levados pela insegurança quanto a um possível fracasso econômico ou pelo interesse em proteção contra seus inimigos.

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Próximo passo: as eleições

A organização criminosa e a religiosa se articularam em todas as eleições, utilizando, assim como outros entes da sociedade, seus nichos para tentar colocar representantes nas casas legislativas — e até no executivo —, e esse ano não será diferente:

“Já fizemos as contas e temos a certeza de que vamos conseguir de 400 a 500 mil votos de familiares dos 150 mil presos de São Paulo e isso é suficiente para eleger não só um deputado federal, mas deputados estaduais e dar muita força a qualquer legenda que nos abrigar.”

”Líderes de igrejas evangélicas e partidos ligados a elas estão traçando uma estratégia para ampliarem suas bancadas na Câmara e no Senado a partir de 2019. O objetivo é aumentar de 93 para cerca de 150 o número de deputados federais e quintuplicar, de três para 15, o total de senadores.”

Ambos os grupos, no entanto, estão infiltrados dentro de diversos partidos políticos e linhas ideológicas, já que a política é o caminho natural para lutar contra as injustiças a crescente frustração econômica e a falta de perspectivas de solução para a questão carcerária.

Ao analisar o trabalho de Renata Siuda-Ambroziak, não temos como não ver similaridade nos percursos das duas organizações. Quem sabe essa eleição não possa ser o ponto em que ambas seguirão seus próprios caminhos?

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A IURD, o PCC e a advertência de Freud

Não é só no escrutínio eleitoral que a facção Primeiro Comando da Capital e a Igreja Universal convergem, ambas organizações são conservadoras nos costumes.

As rígidas regras de comportamento sexual impostas a seu adeptos, onde a masturbação, a homosexualidade, as relações fora e antes do casamento, e até a ereção sob a calça são severamente punidas — aqui nesse mundo pelo PCC e no outro mundo pela IURD.

Freud adverte: um ambiente que reprime o libido “produz uma necessidade de descarga, a fim de reduzir a tensão”.

Rícard Wagner Rizzi

A companheira PCC e o sistema prisional feminino

O nascimento de uma companheira do Primeiro Comando da Capital dentro do sistema prisional feminino brasileiro e sua morte por decisão do Tribunal do Crime da facção.

Nós fomos presos, mas só a arlequina do PCC morreu

Eu, Egeu e Berenice somos primos e crescemos juntos. Ela foi uma companheira do Primeiro Comando da Capital, e isso Egeu não postou, mas não foi ele quem a matou — afirmo com certeza pois a vi morrer.

Egeu se incriminou e foi preso pela morte de nossa Berenice, e eu não o desmenti. Agora, Raíssa tocou em um assunto que se entrelaça com a nossa história, por isso, e só por isso, venho contar para você o que realmente aconteceu.

Há muitos anos, Egeu me disse que “é da alegria que nasce a tristeza, e a felicidade passada é a angústia daquilo que podia ter sido e acabou não sendo” — parece que ele estava prevendo nosso futuro.

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Não devíamos ter sido tão felizes e com tantas esperanças no futuro

Nós três, quando crianças, estávamos sempre juntos. Nossos pais trabalhavam fora e as casas ficavam só para nós, sem ninguém para nos dizer do que podíamos brincar ou não, e assim tivemos todas as aventuras que queríamos.

Também não havia limites fora de casa. As ruas, as praças e até a estrada de ferro eram também parques de diversões, eram palco para nossas apresentações e aventuras — felicidade e aventuras sem limitações.

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Diferentes caminhos para a prisão e para a morte

Após nossa separação, apenas Berenice continuou vivendo, se aventurando e sorrindo; mas se eu e Egeu deixamos de viver, ela, sem perceber, rumou para uma morte cruel em uma véspera de Natal.

Toda vida e alegria que Berenice até então reservava para nós passou a ser entregue aos garotos do bairro, e ela aprendeu rapidamente a se aproveitar das vantagens de ser uma novinha da quebrada.

Eu ainda os via ocasionalmente: Egeu cada vez mais nerd e com o pensamento fixo nela; e ela cada vez mais feliz e pensando em qualquer um menos nele — ela deixou de ser nossa Berenice para ser a Nice Loira.

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Nice Loira presa por tráfico de drogas

Não acredite nas manchetes dos jornais, nossa Berenice nunca foi traficante. Um dos garotos com quem ela andava era um vaporzinho, e ela às vezes guardava para ele a droga no sutiã.

Pela letra fria da lei ela foi considerada tão culpada quanto seria o dono da biqueira ou o distribuidor do bairro. Se você considera que ela mereceu o que recebeu, eu respeito seu ponto de vista, mas garanto que nossa Berenice não mereceu.

Ficou quase dois anos presa até conquistar o direito à saidinha: a primeira foi no Dia das Crianças; a segunda no Natal, apenas para ser morta ao entrar na casa de seus pais, que estavam como sempre trabalhando.

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O sistema prisional feminino e a facção paulista

Raíssa Tavares de Araújo apresentou a tese Privatização do encarceramento da mulher: a inaplicabilidade do contrato de parceria público-privada aos presídios femininos no estado do Rio Grande do Norte à luz da criminologia ao Centro de Ciências Sociais aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Raíssa contou como as coisas funcionam dentro de um presídio feminino e esclareceu a morte de nossa Berenice.

“Antes do surgimento do PCC, os presídios […] eram conhecidos por suas barbáries entre os próprios apenados. Surge, então, para estabelecer regras de Conduta e solidariedade entre os que se encontram com a liberdade privada. Quem ousasse desestabilizar a ordem imposta, podia ser penalizado com a morte.”

E nossa Berenice foi morta por ordem da organização criminosa, não pelas mãos de Egeu, que nunca foi do mundo do crime — ele confessou um assassinato que não cometeu por amor, amizade e burrice.

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Por que nossa Berenice entrou para o PCC 1533?

“A inércia do executivo e a conivência do Judiciário […] provocam o surgimento de escolas do crime. […] Como consequência, aumenta a criminalidade fora dos muros da prisão. Torna-se um círculo vicioso, em que o Estado ainda não encontrou uma forma de rompê-lo.

A ausência da presença pública gera um vácuo tanto nos presídios como em áreas periféricas São nesses lugares que se legitima essa força paralela, ao passo que prestam serviços assistenciais à comunidade e impõe suas leis. Ainda utilizam-se da miséria desse povo para renovar o quadro de membros de sua facção e se perpetuar no poder.”

A pesquisadora do Rio Grande do Norte disse tudo. Nossa Berenice, alegre, comunicativa e cheia de vida, também era a Berenice aventureira, guerreira e audaz, que aproveitaria a situação para se juntar, dominar e quem sabe liderar as feras.

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A arlequina volta para casa para morrer

Eu não cheguei a ver a nossa Berenice quando ela veio na saidinha do Dia das Crianças, mas Egeu me mandou uma mensagem contando que ela estava irreconhecível.

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“Ela está sofrendo de alguma doença que está tomando conta de seu espírito e invadindo a sua mente. Ela mudou, não é mais aquela Berenice que nós conhecemos. É terrível e está mudando sua personalidade quase não se dá para a reconhecer.

Eu choro ao lembrar daquela sua vida alegre e doce, e agora ela vivendo na ruína total, enquanto nós, que nunca levamos alegria para ninguém estamos aqui vivos e com saúde.

Quando ela chegou, sua magreza era excessiva é nada lembrava aquela garota ardente que nos fazia rir o tempo todo. Nunca imaginei que poderia ficar tão pálida e seu cabelo que sempre foi de um castanho quase ruivo que vivia caindo na testa da onde ela tirava sempre com um sorriso, agora estava de um loiro aguado amarrado em um coque.

Por Deus, preferia ter morrido do que vê-la assim. Que agonia ela está passando!”

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A beleza da vida — a beleza como razão de vida

Raíssa me mostrou a razão do porque nossa Berenice se deixou definhar:

“A prisão neutraliza a pessoa, principalmente as que pertencem às minorias, como é o caso das mulheres, que sempre foram subjugadas e castrados de suas vontades e em uma prisão a realidade da massa carcerária feminina chega a ser próxima à exploração em razão das características que apresentam: mulheres jovens, condenadas por crimes sem violência ou grave ameaça e penas longas.

Essas mulheres são fáceis de serem domadas em razão da vulnerabilidade que apresentam em decorrência do abandono por parte da família.

As prisões não estão preparadas para resolverem os problemas próprios das mulheres como gravidez, cólicas, higiene, limpeza e o cuidado com a beleza para elevação da auto-estima no cárcere.”

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Nice Loira julgada pelo Tribunal do Crime do PCC

Raíssa matou a charada, nossa alegre Berenice não sobreviveria a falta de cuidado pessoal, mas a facção não esperou a morte levá-la aos poucos.

Ao contrário do que Egeu declarou, ele nada teve a ver com a morte de Berenice — por mais que eu gostasse dela, Nice Loira não seguiu as regras de conduta e entregou uma colega para uma agente penitenciária.

Mesmo no lado errado da vida é preciso correr pelo lado certo, pois o errado é cobrado.

Esse texto foi baseado no conto Berenice, de Edgar Allan Poe.

Rícard Wagner Rizzi

O PCC, a pacificação e a eleição de 2018

A estratégia do Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533) para as eleições de 2018 – o preço da pacificação.

A organização criminosa agirá nas eleições?

Há uma semana nada publico; não foi por desleixo, mas pela dúvida: será que eu poderia contar a você sobre a estratégia do Primeiro Comando da Capital para as eleições de 2018?

Você que já me conhece sabe que prefiro não me arriscar, ainda mais quando a vida de dezenas – senão de centenas – de pessoas estão em risco, mas Melina me convenceu a quebrar o silêncio.

Para você que não a conhece, eu a apresento: Melina Ingrid Risso é autora do trabalho Da prevenção à incriminação: os múltiplos sentidos da abordagem policial apresentado à EAESP-FGV.

Para relaxar depois de cumprir com minhas obrigações, dei uma lida no texto de Melina e garanto a você que valeu a pena. Ela apresenta e analisa a abordagem policial com dados inéditos, entrevistas e pesquisa de campo, e só então coloca em discussão a política de Segurança Pública e sua relação com a comunidade.

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Conhecer o perigo pode poupar vidas

Você sabia que são feitas mais de 14 milhões de abordagens policiais por ano? Pois é, mas o trecho que me convenceu a apresentar a você a possível estratégia de ataque da facção paulista foi outro:

“O ‘Salve Geral’ dado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) em Maio de 2006, isso é, a ordem para que policiais fossem assassinatos […] 23 policiais militares, 8 policiais civis, 8 agentes penitenciários, 3 guardas civis municipais e 1 bombeiro, além de 2 familiares de policiais – a noiva de um policial civil e o filho de outro […] a cúpula do governo sabia que o PCC havia dado o ‘Salve Geral’ mas optou por não alertar os policiais.”

As escaramuças de maio de 2006 deixaram um saldo de mais de 600 mortos, vidas que talvez tivessem sido poupadas se as forças policiais fossem alertadas a tempo.

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Aprendendo com o passado

Eu não sei onde você estava no dia 11 de Dezembro de 1989, mas sei que o empresário Abílio Diniz, do Grupo Pão de Açúcar, foi sequestrado em São Paulo nesse dia.

Eu não estava envolvido naquele sequestro, e pelo que me lembre, você também não, mas o que eu sei com certeza é que em 2018, assim como 1989, há uma eleição presidencial e que o sequestro de Abílio Diniz foi a pedra que fez Lula tropeçar e não ser eleito naquele ano.

Apenas alguns homens e o boato que estariam ligados ao partido de Lula fizeram com que ele tivesse que esperar a próxima eleição para poder ser eleito.

O estado de São Paulo, hoje, apresenta o menor número de homicídios de sua história recente graças à pacificação imposta pelo PCC.

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Os Catorze do PCC decidirão a eleição

Você, eu e os Catorze sabemos disso, mas são esses últimos que decidem dentro do Primeiro Comando da Capital até quando a pacificação do estado de São Paulo se manterá – e a que preço.

Márcio Sérgio Christino e a antropóloga Karina Biondi que me perdoem, mas não é possível entender a facção criminosa PCC estudando seus livros – a gangue evolui em nossa sociedade com a eficácia de um vírus, e enquanto se desenvolve uma vacina o imbróglio já evoluiu.

Ao contrário do ocorrido em 1989, hoje a facção entende que o termo comando da capital que traz em seu nome não é apenas um grito de guerra, mas uma realidade indubitável. O PCC 1533 decidirá se Geraldo Alckmin e João Dória Júnior serão ou não eleitos – e a que preço.

Não se iluda com os discursos da direita ou da esquerda que alegam que a negociação do PCC é com o PSDB: as melhores ofertas são daqueles que querem chegar ao poder derrubando o acordo tácito que atualmente mantém a pacificação – e ofertas não faltam.

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A demonstração de poder será pontual

Quanto custaria e quanto valeria para um partido político comprar a instabilidade de São Paulo, mesmo que o preço fosse a morte de policiais e civis? Bem pouco para quem almeja conquistar os governos Federal e estaduais.

Ao contrário de 2006, a cúpula da Polícia não terá a oportunidade de omitir a informação da tropa, pois a facção recrutou voluntários entre criminosos sem ligação com a organização criminosa, cada um tendo se comprometido a matar cinco policiais, e não haverá um Salve Geral antecedendo o ataque.

A evolução dos métodos operacionais dentro da organização criminosa sempre me surpreendem, e desta feita o mecanismo de detonação não poderá ser rastreado: o irmão responsável pela ação irá ao local onde o ataque será ordenado e coordenará os voluntários que já têm seus alvos escolhidos por eles mesmos – não há listas, cada célula escolhe sua missão para cumprir a meta.

Sem aviso e sem rastros

Não pense que será feita alguma ameaça. Uma ação como essa, para ser efetiva, deve excluir qualquer chance de risco para a facção e para os políticos envolvidos na negociação, e, portanto, virá mascarada como vingança contra um ato de abuso de força policial que venha a acontecer, o que não é difícil.

Um incidente que em outra situação não teria relevância servirá para justificar perante a sociedade a realização do ataque, mantendo as verdadeiras razões ocultas e restringindo a zona de vingança por parte dos agentes policiais.

“Desculpa, mas as facções só vão crescer e se tornar mais fortes. Não se iluda. Tem político eleito com dinheiro das organizações [criminosas]. Elas estão dentro dos partidos políticos.” Marcos Valério Fernandes

Esse texto foi baseado no conto O barril de Amontillado, de Edgar Allan Poe.

Rícard Wagner Rizzi

A lista tríplice do MP-SP, o carcereiro e o PCC

A força do nome do Primeiro Comando da Capital (PCC 1533) é incontestável — vincular-se a esse nome pode ser para muitos um problema, mas para outros pode ser a tábua de salvação.

Aquele que não se pode nomear

Poder, medo, respeito e admiração acompanham o nome Primeiro Comando da Capital; quando de meu depoimento na delegacia de polícia sobre este site, meu inquiridor insistiu que “não pode usar esse nome, assusta as pessoas!”.

O que eu deveria fazer então? Mudar para “site sobre aquele que não se pode nomear”?

O medo de enfrentar o problema de frente nos trouxe até esse ponto. O presidente da Comissão de Segurança Pública do Ceará, Leandro Vasques, afirmou ao repórter Carlos Madeira da UOL Notícias:

“… eles partiram do diagnóstico de que não havia facções, que elas não atuavam. Com essa premissa falsa, todo o projeto está comprometido, faliu em finalidade. A partir do instante em que o estado escondeu da própria população de que o crime estava por aqui, o governo decretou a sua perda de controle”.

O Ceará passava por uma fase menos violenta, as facções haviam decretado a pacificação, mas o governo aproveitou para vender a imagem de que a polícia havia colocado ordem na casa, negando que a diminuição das mortes era fruto de acordo entre as gangues rivais.

O que falei neste site sobre a pacificação em Fortaleza → ۞

A coragem de falar o nome da Besta — e enfrentá-la

Os primeiros escritos da humanidade registraram as antigas tradições orais, e a coragem, tal como hoje, era a rainha das virtudes — enfrentar leões em uma cova, dragões alados que cuspiam fogo, reis déspotas ou tribos de ladrões garantia a glória aos heróis.

Apesar da evolução tecnológica, continuamos sendo motivados pelas mesmas sinapses neurais de quando vagávamos pelos desertos asiáticos ou savanas africanas, contando histórias, criando mitos e forjando heróis.

Hoje, poucos se apresentam dizendo que enfrentaram dragões ou animais selvagens, mas a criação do mito do herói se mantém, e o dragão que cospe fogo se chama Primeiro Comando da Capital (PCC).

Fábio Abreu, Vitor Valim, Marcio Sergio Christino e Diorgeres de Assis Victorio se colocaram em uma posição única, e, sendo época de eleições, deixo que você analise cada um dos candidatos a paladino. Mito ou realidade? Faça sua escolha.

O que falei neste site sobre mitos e realidades → ۞

Falarei sobre três e nada direi sobre o quarto

  1. O secretário de Segurança Pública do Piauí, Fábio Abreu, chamou a imprensa e informou que, devido ao seu combate ferrenho ao PCC, havia sido jurado de morte pela facção — o anúncio foi feito no dia seguinte à publicação pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública dos péssimos resultados do seu estado no ranking nacional;
  2. O apresentador de televisão Vitor Valim, digo, o deputado federal, não está participando de nenhuma comissão que apresente resultados no combate ao crime, tampouco elaborou alguma lei mais rígida, mas alega que está incomodando pelo que fala em seu programa de TV, e por isso estaria sendo ameaçado pela facção — ele de fato chegou ser atacado, no entanto, foi por militantes do Partido dos Trabalhadores PT;
  3. O procurador de Justiça Marcio Sergio Christino, candidato à lista tríplice do cargo de Procurador-Geral de Justiça do Estado de São Paulo e que aposta todas as suas fichas em seu trabalho de combate à facção paulista.

As eleições gerais de 2018 terão uma prévia com a eleição dos membros que comporão a lista tríplice do Ministério Público de São Paulo. A força do candidato ligado ao combate à organização criminosa PCC dará uma ideia do poder que esse nome agrega.

Essas três personalidades públicas vincularam sua a da facção, alegando que se arriscaram ao enfrentar o perigo, mas, para ter valor, esse autossacrifício deve ser feito por alguém que se coloque a serviço do outro ou de uma causa, sem uma motivação egoísta, e, principalmente, esse risco deve ser real, e não apenas uma suposição.

Onde citei neste site o Ministério Público → ۞

Quanto ao quarto elemento nada falarei

Diorgeres de Assis Victorio, do Canal Ciências Criminais, é um crítico do meu site e do meu trabalho e, de quando em quando, deixa uma mensagem privada me informando que cometi algum erro ou omiti algum dado — por isso me recuso a falar sobre ele.

Farei como o repórter Guilherme Santana e deixarei que Diorgeres fale por si. Caso alguém queira ler a reportagem completa, na qual o estudioso conta sobre a origem da Seita Satânica SS, que vivenciou no berço do PCC, é só ir para o The Intercept Brasil.

“Em 1994, quando eu era um novato, os presos falavam comigo sobre um tal “Partido do Crime”. Eu falava ‘tá bom’, fingindo que estava entendendo, pois não é bom demonstrar dúvida perto dos detentos…

Só depois, eu e o restante dos agentes fomos descobrir que o tal partido era o Primeiro Comando da Capital, que alguns também chamavam de “Sindicato do Crime”. Para nós, os agentes penitenciários, era evidente a força que o grupo estava ganhando, mas, durante muito tempo, o governo negou a sua existência…

Foi nesse caldeirão que, no início dos anos 2000, o conflito explodiu: … o PCC agora mandava no lugar…

O conflito de poder deixou muitos mortos no Carandiru, …

Mesmo que a megarrebelião tenha deixado uns 16 mortos, o objetivo maior do PCC era mostrar o seu poder, aparecer pela primeira vez em todos os meios de comunicação do Brasil e mostrar que ele existia. Foi algo grande. Por pouco não entrei na contagem do número de mortos…

Realmente, eu sabia como era… aquilo era sinal de que a coisa estava esquentando. Nos dias que se seguiram, a cadeia ficou silenciosa e, é como o Drauzio Varella escreveu no livro Carandiru: quando a cadeia está silenciosa, é porque alguma coisa vai acontecer…

De repente, aparece um preso na minha frente, me rende … No caminho, vi que eles já estavam por todo lugar e haviam tomado o presídio…

… fui derrubado de barriga pra baixo ao lado dos outros agentes e funcionários que também haviam sido rendidos. Eu achei, na verdade tive certeza, que iriam nos matar ali mesmo. Pensei quem seria o primeiro a ser cortado, decapitado e ter as orelhas jogadas para os jacks [gíria para estupradores] comerem à força. Também passou pela minha cabeça os Satanistas negociando com o PCC alguma morte ou sangue para os rituais deles. Pensei em várias maneiras de morrer. Desejei que eu fosse o primeiro. Não queria ver o resto dos meus colegas morrerem na minha frente…

Presidiário seita satânica SS Bauru

Então um dos detentos que parecia um líder disse que precisava de dois reféns para ir com ele até a muralha do pátio. Era ali, na frente de todo mundo, que eles costumavam matar os reféns. Como na época do Exército eu havia tido aulas de prisioneiro de guerra, com porrada, tapa na cara etc., concluí que poderia estar mais preparado do que os outros para ir, então eu acenei com a cabeça para um colega que achei que tinha mais frieza e nós dois dissemos que iríamos…

Chegando lá, os caras estavam todos drogados, tomando tudo quanto era tipo de remédio com álcool, maria-louca, cocaína, fumando maconha…

Em seguida, tivemos nossas mãos amarradas umas às outras, um de costas para o outro, e fomos envolvidos por dois colchões, com as nossas cabeças de fora. Jogaram álcool em nós, pegaram um cilindro de gás industrial e abriram a válvula na nossa cara. Um deles estava com um isqueiro na mão, fazendo ameaças…”

… a história continua no The Intercept Brasil.

Fábio Abreu, Vitor Valim, Marcio Christino e Diorgeres de Assis Victorio se colocaram em uma posição única, e, sendo época de eleições, deixo que você analise cada um dos candidatos a paladino. Mito ou realidade? Faça sua escolha.

Escolha você em quem prefere acreditar, e escolha apenas um.

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Rícard Wagner Rizzi

O real e o imaginário e os ataques da facção PCC

Um grupo de pessoas se rebelam contra o Estado e a sociedade levando medo e agitação às ruas — o que de fato aconteceu e qual a posição tomada por você e por mim?

Informação certa — conclusão errada (errare humanum est)

Peço que não deixe José ver esse texto — sei lá, use a sua imaginação, se ele chegar enquanto você estiver lendo, coloque as folhas na gaveta ou por baixo do paletó — o importante é não deixar ele ver esse artigo.

Aline Ribeiro, jornalista da Revista Época, escreveu que eu produzo “textos carregados de referências pretensamente filosóficas”, então, optei por chupinhar o trabalho dos outros, e dessa vez a vítima foi o José, por isso lhe peço cuidado.

O que aqui escrevi está na monografia de José Isaías Venera“Da cólera ao acontecimento junho de 2013: do que escapa à representação em Deleuze e Lacan”, apresentada à Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL).

Há tempos, Nicodemos Rocha, da Academia Saltense de Letras, meu mais severo crítico, garantiu que eu tinha a extraordinária capacidade de obter os melhores dados das melhores fontes e chegar às mais errôneas conclusões — e talvez seja o caso de hoje.

Acho que não foi nada disso o que ele disse, ou talvez tenha sido, sei lá; deixo para que você leia o texto e tire suas conclusões.

Pensamos como bicho gente (parentum et magistrorum disciplinam)*

Raíssa e Francisco, da UFPR,  me atentaram para a forma sutil como todos nós recebemos e repassamos informações e conceitos do governo por meio de seus representantes dentro do mais puro e inconsciente conceito de Servidão Voluntária (Etienne de La Boétie).

Sim, nós — não estou falando deles, estou falando de você e de mim, pois nós não somos menos responsáveis que Arnaldo Jabor da CBN ou do blogueiro Reinaldo Azevedo da Revista Vejasomos todos farinha do mesmo saco.

Todos pertencemos à espécie animal Homo sapiens, e nossas sinapses neurais funcionam da mesma forma, em mim, em você, no Lula e no Bolsonaro — processamos de forma similar as informações que o ambiente, as experiências vividas e nossos mentores nos passam…

… e aí é que Raíssa e Francisco entram na história.

Eles demonstraram que a imprensa nos passa as informações que interessam ao governo — até aí sem novidade; mas isso acontece sem premeditação do Estado — os próprios jornalistas buscam por comodidade os agentes públicos para basear suas reportagens…

… e nós buscamos comodamente informações com os jornalistas que nos agradam, consequentemente todos nós nos acomodamos nessa cadeia de servidão voluntária.

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Pensamos que pensamos fora da caixinha (Quam odi)*

Aí está a dificuldade de todos nós, mesmo daqueles que vivem de transmitir fatos — não podemos deixar de lado toda nossa história de vida, tudo que aprendemos desde criança, e precisamos de um norte, de uma base para chegarmos a uma conclusão.

Movimentos sociais como os estudados por José ou a existência onipresente do Primeiro Comando da Capital impedem que os analistas interpretem o que está acontecendo por meio dos métodos tradicionais de análise — o real não se enquadra no imaginário.

Como em Matrix, a realidade passa a ser incognoscível, e o que foge ao padrão é ignorado e sua existência é negada, pois nossa mente tende a ignorar aquilo que não pode assimilar — confesse que quando você assistiu ao filme não se tocou da relação do Matrix com a organização criminosa.

Fatos atípicos, como a força de movimentos sociais, só são notados com ações grandiosas, como os ataques do PCC de maio de 2006 ou as manifestações dos vinte centavos em junho de 2013, e aí vamos buscar o auxílio de nossos mentores…

… do papai e da mamãe, ou, para não ficar feio, dos órgãos oficiais, ou da imprensa.

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Não pensamos fora da caixinha (Non Cogito, ergo sum)*

Somos nós quem buscamos socorro nessas fontes, até como forma de nos proteger, e repetimos o que nos foi passado por nossos mentores como se fossem nossas essa verdades — inconscientemente nos juntamos a uma das manadas…

… e foi assim que Arnaldo Jabor, assim como muitos de nós, viu a imagem da facção Primeiro Comando da Capital nas manifestações dos jovens pelos vinte centavos.

Homi K. Bhabha talvez dissesse que sem perceber havíamos chegado a um entre-lugar, a um ponto de colapso, em que um grupo de pessoas que não consegue se fazer ouvir abre mão de sua individualidade para ganhar voz.

“As autoridades não tinham ideia de onde aquilo ia parar. Pior do que isso — o que as afligia mais — eram a incredulidade e a incompreensão que as assaltavam diante das cenas dos protestos. Eles não conseguiam compreender como é que a fúria tinha começado. Sem que elas entendessem coisa alguma, o quadro complicava dia após dia, deixando um rastro pesado de desmoralização do Estado, depredações generalizadas — e mortes.”

Eu, você e Arnaldo Jabor teríamos dificuldade em saber a qual evento Eugênio Bucci estaria se referindo nesse trecho: do movimento Diretas Já! de 1984, dos ataques do PCC de 2006 ou das manifestações dos vinte centavos de junho de 2013?

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Todos iguais, braços dados ou não (Omnes Romani, annon eundem)*

As cóleras de cada tempo, expressas na mobilização de grupos distintos têm a mesma raiz e foram por nós interpretadas de forma diferente por cada uma das manadas; e as vozes do governo e seus representantes demonizaram em cada época aqueles que os impunham oposição.

Todos nós aqui somos pessoas direitas, justas e honestas, então, assim como Arnaldo Jabor, no calor dos acontecimentos, nos opusemos às Diretas Já!, aos ataques do PCC e ao movimento dos vinte centavos — coisas de desajustados e baderneiros criminosos!

Mas acredite em mim quando digo que nem todos são tão certinhos como eu, você e Arnaldo Jabor, havendo quem participasse de algum desses eventos — tal pessoa consideraria que aquele foi um evento por uma causa justa, e apenas as pessoas que participaram dos outros é que são desajustadas, baderneiras e criminosas.

No entanto, parece que lá de Palhoça o barriga-verde José Isaías Venera olha tudo e vê algo mais, que nada tem a ver com o que é certo ou errado, mas, sim, com manifestação de grupos que tentam quebrar o código da Matrix para poderem ser vistas e ouvidas…

… assim conquistamos as Diretas (mas não já), a facção Primeiro Comando da Capital deixou de ser negada pelas autoridades, e se não conseguimos os “vinte centavos” naquele momento, passamos a ver de outra forma a realidade política nacional.

Isso não é um cachimbo (Ceci n´est pas une pipe)

José, o pesquisador da UNISUL, navega entre Jacques Lacan e Gilles Deleuze, colocando em dúvida nossa percepção do que é Real ou Imaginário, usando repetidamente a figura do cachimbo de Magritte.

Após a leitura do trabalho de José, jamais verei uma foto de uma manifestação pública, de ônibus queimados e de presos amotinados sem lembrar que aquela imagem não é a manifestação pública, o ônibus queimado e os presos amotinados.

Post Scriptum (poste pichado pelos manifestantes)

Agora jogue fora essas folhas antes que o José as veja e se some a Nicodemos Rocha confirmando que não adianta eu ter as melhores fontes que eu sempre chegarei as mais erradas conclusões.

  • as frases latinas aqui foram postas apenas para avalizar, eu mesmo, Aline Ribeiro da Revista Época.

Nos últimos anos, como consequência do acirramento da disputa por poder entre grupos criminosos, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), tem sido recorrente a execução de grupos rivais dentro de unidades prisionais. Nestes casos, a morte, mesmo qualificada por uma brutalidade terrível, choca ainda menos. Tornamo-nos uma sociedade sádica, despudorada que não apenas aceita estas mortes, mas vibra com elas. A morte deve entrar em casa, tomar café e almoçar todos os dias com cada um de nós e não mais assustar. Tal sadismo toma forma a partir do crescente número de programas jornalísticos sensacionalistas, sucessos de audiência, centrados no espetáculo da violência. O medo da violência não desperta indignação, mas alimenta o ódio ao “outro”, reforçando a cisão social. Neste sentido, a percepção reproduzida nos últimos anos de uma sociedade dividida entre “cidadãos de bem” e “marginais” aparece como a versão mais moderna da polarização entre a Casa Grande e a Senzala. (leia o artigo dessa citação na íntegra)

Rafael Moraes é professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
Rícard Wagner Rizzi

Como o PCC chegou a outros países sul-americanos

O Primeiro Comando da Capital (PCC 1533) e sua estratégia de expansão e domínio do mercado transnacional de ilícitos (MTI) na América Latina baseiam-se no uso de mão de obra do sistema prisional.


Sem estresse, os negócios vão bem, obrigado.

O Primeiro Comando da Capital (PCC 1533) continua crescendo, com seus executivos desenvolvendo estratégias e conquistando novos mercados e seus funcionários seguindo motivados em todas as filiais em todos os estados e países.

Quem nos garante isso são os pesquisadores Graham Denyer Willis e Benjamin Lessing no trabalho “Legitimacy in Criminal Governance: Managing a Drug Empire from Behind Bars”, o qual deverei apresentar aqui em breve.

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Crimes transnacionais nos dias de hoje

Hoje, estou aqui para apresentar o livro Subsistemas fronteiriços do Brasil: mercados ilegais e violência (FLACSO), da pesquisadora Letícia Nuñez Almeida e colegas.

Não há como se estudar os crimes transnacionais do Cone Sul sem entender a facção paulista Primeiro Comando da Capital, e Letícia não se faz de rogada, analisando profundamente a origem e a história da gangue nascida em São Paulo.

As origens do PCC definiram seu presente

Fomos você e eu quem definimos a forma como as drogas e armas seriam hoje transportadas do exterior para dentro de nosso território, você se lembra?

Letícia deixa que Camila Caldeira Nunes Dias conte como a semente foi plantada no final de 1993, quando na Casa de Custódia de Taubaté (o Piranhão) os presos se reuniram para protestar contra a crueldade exercida pelos agentes penitenciários.

Talvez você, assim como eu, se lembre que nós entendíamos que preso tinha mesmo é que sofrer, e prisão deveria ter as piores condições de vida; mas, pensando assim, colocávamos no governo pessoas que também professavam as mesmas convicções.

A queda de braço entre governo e presos foi sangrenta, e forjou o espírito dos homens que tomariam em suas mãos, no futuro, o controle do tráfico internacional de drogas e armas — o embrião do PCC foram aqueles prisioneiros.

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O crescimento acalentado pelo povo brasileiro

Camila conta que nos anos de 1994 e 1995 a base se solidificou graças a intensificação da repressão dentro do sistema carcerário — quanto mais dura se tornava a vida no cárcere, mais presos se aliavam à bandeira de solidariedade empunhada pelo PCC.

Camila Caldeira Nunes Dias PCC

“… as demonstrações de crueldade e de espetacularização da violência […] desempenharam uma série de funções na conquista e na manutenção do poder e do domínio do PCC sobre a população carcerária.”

Enquanto eu e você aplaudíamos as atrocidades que aconteciam dentro dos presídios, o Primeiro Comando da Capital ganhava adeptos fiéis entre a população carcerária, e esses passaram a atuar como soldados da facção dentro e fora dos presídios.

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O Primeiro Comando da Capital ganha moral e ruas

Entre 2002 e 2004, conquistaram a pacificação dentro dos presídios e começaram a disseminar a cultura de que os presos deveriam eleger um grupo mediador, capaz de estabelecer acordos e manter a paz dentro das muralhas.

Quando os presos deixaram de se enfrentar, ganharam força e organização para exigir do Estado melhores condições de vida dentro dos presídios.

A pena é longa, mas não é eterna, e, paulatinamente, os prisioneiros vão ganhando as ruas e levando consigo as técnicas de negociação, união e pacificação desenvolvidas pela facção dentro das muralhas — graças às escolhas que eu e você fizemos.

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O confronto fortalece o Primeiro Comando nas ruas

As novas lideranças são treinadas dentro das trancas e saem prontas para o gerenciamento do pessoal fora dos presídios. Os escritórios são as celas onde se discutem estratégias, mas a organização ainda tem dificuldade em conseguir adeptos nas ruas.

Nós, eu e você, não satisfeitos por termos criado uma organização estruturada dentro dos presídios, buscamos fortalecer a facção fora. A violência policial e os grupos de extermínio tinham amplo apoio, e jovens eram mortos às pencas.

Se faltava apenas uma razão para a facção justificar para seus membros uma ação contra o “Estado opressor e sua polícia”, nós a entregamos de bandeja, e a liderança do Primeiro Comando da Capital não perdeu a oportunidade e mandou seus soldados atacarem.

Os ataques do PCC de 2006 no estado de São Paulo ficaram registrados na história, mas não era esse não era o principal objetido da liderança, como conta Guaracy Mingardi:

Guaracy Mingardi

“Para todos no sistema, o recado é que o Estado não tinha forças para enfrentar o PCC. Isso aumentou o prestígio do grupo, principalmente, nos presídios e entre os jovens rebeldes da periferia.”

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Ordem e Progresso — o céu é o limite

Como filhos, nós os trouxemos ao mundo e lhes mostramos o caminho a seguir, e se eles fizeram as escolhas que fizeram, não podemos nos eximir de nossas parcelas de culpa. O fato é que, crescidos, eles ganharam as ruas do Brasil.

Letícia explicou que o PCC cuidou de conseguir apoio dentro do sistema presidiário dos estados fronteiriços antes de cruzar as fronteiras, mas para isso precisaram de ajuda — e claro que eu e você não íamos deixar o pessoal do PCC na mão.

Lembra quando falaram em mandar para bem longe os prisioneiros que lideravam as revoltas? Nós aplaudimos e dissemos “amém”, e quanto mais longe fossem, melhor seria, não é mesmo?

Marcelo Batista Nery conta para Letícia que a consequência de nossa grande ideia foi o fortalecimento da posição do PCC dentro das trancas do Mato Grosso do Sul, Roraima e Rondônia, nas fronteiras do Paraguai, da Bolívia, da Venezuela e da Guiana.

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Do Brasil para o mundo

O processo foi o mesmo: das trancas para as ruas, e de lá para o domínio das rotas de importação de drogas e armas.

Essa semana, o ministro do governo da Bolívia Carlos Romero está levando seu país a trilhar o mesmo caminho que nós já percorremos — apoiando a invasão do Centro de Rehabilitacion Santa Cruz “Palmasola”, que deixou mortos e dezenas de feridos.

Na Bolívia e no Paraguai, o mesmo padrão que nós levamos o PCC a desenvolver está servindo para a implantação da facção: aproveitar a opressão dentro do sistema carcerário para conquistar seguidores que, posteriormente, representarão o PCC fora dos presídios.

Marcelo ressalta que hoje a facção paulista tem se mostrado forte o bastante para controlar o comércio de drogas e armas e até gerir atividades econômicas legais, abrindo empresas e usando-as para lavagem de dinheiro.

o repórter Allan de Abreu nos conta que doleiros como Dalton Baptista Neman lavam o dinheiro da facção em uma operação casada: um comerciante paga um fornecedor na China em Dólar convertido de criptomoeda disponibilizada por um comprador de cocaína na Europa, daí, esse comerciante recebe pela venda da mercadoria vinda da China no Brasil em Reais e então paga o traficante brasileiro que vendeu a droga na Europa.

O chinês Jiamin Zhang se estabelecer no Brás no centro de São Paulo e é o líder de um esquema de lavagem de dinheiro com o uso de criptomoedas que pode ter movimentado bilhões de reais. Ele é acusado de trazer ao Brasil toneladas de cocaína vindas da Colômbia, Bolívia e Paraguai. Do território brasileiro, a droga era enviada para a Europa por portos da região sul do país.

Thaís Nunes detalha e dá nome aos bois

No entanto, as criptomoedas também são utilizadas para lavagem do dinheiro doméstico, como se comprovou com a Operação Mamma Mia da Polícia Federal e da Receita Federal ao investigar uma pizzaria comandada pelos integrantes do Primeiro Comando da Capital que além de massas e queijo para pizzas, comprava criptomoedas e ouro para lavar dinheiro e financiar atividades da facção. — Lucas Caram para o Cointelegraph

O Comando Vermelho (CV), de aliado fiel para inimigo mortal

Em um primeiro momento, o Comando Vermelho foi peça fundamental na estratégia de crescimento internacional do Primeiro Comando da Capital, mas a facção carioca via o Paraguai como fornecedor, enquanto a facção paulista criava raízes.

O PCC implantou a cultura da facção dentro dos presídios paraguaios e começou a doutrinar seguidores — por lá, ninguém imaginava que um grupo de presos poderia financiar os estudos de seus filhos, providenciar tratamento médico e alimentos para suas famílias.

Nas ruas, montaram suas próprias bases de distribuição, inicialmente por meio de parcerias locais, adquirindo aos poucos conhecimento e abrindo os próprios caminhos.

A estratégia do PCC de negociação e ingresso em novos mercados e comunidades se mostrou perfeita para o ambiente de fronteira, onde os marcos divisórios fincados entre os países e entre os diversos setores econômicos e sociais são mais fluídos e pouco claros.

Quando a estrutura estava sólida, a parceria com a facção carioca CV passou a ser um peso que precisou ser eliminado, e a guerra pelo monopólio foi iniciada com uma ação cinematográfica típica da facção 1533: o assassinato de Jorge Rafaat Toumani Letícia resume a história:

Letícia Nuñez Almeida.jpg

“É dessa maneira que o PCC adquiriu a liberdade necessária para fortificar as relações com os nós fronteiriços e as suas conjecturas, transformando, portanto, os sistemas carcerários em pontos intrínsecos às suas redes do mercado ilegal nacional e internacional.”

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Sem estresse: com ordem e progresso

Os escritórios do Primeiro Comando da Capital (PCC 1533) continuam atuando, os executivos dos mais diversos níveis continuam com o desenvolvimento de novas estratégias e os funcionários continuam motivados em todas as filiais.

Graham Denyer Willis e Benjamin Lessing explicam que dentro dos presídios e no meio de milhares de soldados prontos para serem doutrinados na filosofia e nas estratégias da organização fica fácil para as chefias da facção ficarem protegidas de seus inimigos e se dedicarem ao gerenciamento dos negócios da facção.

Se bem que eles não teriam chegado aonde chegaram se não fosse por mim, você e nossas grandes ideias e escolhas de política social, carcerária e de segurança pública.

Pedro Rodrigues da Silva, o Pedrinho Matador, conhece o sistema prisional de São Paulo como poucos. Ele ficou sem ver a rua de 1973 até 2007 e de 2011 até 2018 — viveu mais de 40 atrás das grades e por lá, ele conta que viu mais de 200 presos serem mortos enquanto esteve por lá, sendo que mais de 100 foram ele mesmo que matou.

Viveu no cárcere no tempo do Regime Militar, da redemocratização e dos governos com leve viés progressista, mas mudança mesmo, houve quando a facção paulista despontou como hegemônica, acabando com as diversas gangs e grupos dentro das cadeias e presídios.

Sobre o Primeiro Comando da Capital ele afirmou durante uma entrevista:

“Fui [convidado a entrar no PCC], mas não entrei. Ali é o seguinte: depois que surgiu o partido, você vê que a cadeia mudou. Não morre ninguém porque o partido não deixa. É paz. Paz para a Justiça ver. Se começa uma briga, eles seguram. Eles também ajudam quem sai, arrumam trabalho.”

transcrito por Willian Helal Filho para O Globo
Arte sobre foto de Evo Moraes tendo ao fundo a bandeira da Bolívia e uma parede pichada pela facção PCC.

Carlos Romero, ex-Ministro de Evo Morales, questiona qual seria o verdadeiro papel em território boliviano de organizações criminosas estrangeiras como o Primeiro Comando da Capital (Facção PCC 1533). Segundo ele, estes grupos não disputam espaço dentro do país, mas integram-se às estruturas já existentes: familiares, de agricultores ou gangues.

Ele atribui o incremento dessa participação ao desmonte das políticas de combate, de treinamento e intercâmbio com organismos internacionais, facilitando a . A falta sofisticação e diversificação da influência dos grupos criminosos:

É por isso que existem subjugações de terras com homens encapuzados e armados como Las Londra, no narcotráfico e na agricultura, mas ao mesmo tempo que estão ligados a exploração ilegal de minérios, madeira e terras.

Reportagem completa em Pagna Siete:

Exministro Romero: El narcotráfico se fortalece y lava dinero hasta en conciertos

Até depois da última gota de sangue — invencível

O Primeiro Comando da Capital está na alma da população, é uma manifestação no corpo das contradições existentes em nosso espírito coletivo, assim não poderá eliminado, mas quando compreendermos sua natureza poderá controlado e dominado.

O Primeiro Comando da Capital está na alma da população, é uma manifestação no corpo das contradições existentes em nosso espírito coletivo, assim não poderá eliminado, mas quando compreendermos sua natureza poderá controlado e dominado.

“Até depois da última gota de sangue! Tudo 3!”

Há alguns meses fui convidado a comparecer na delegacia para dar explicações a respeito deste site, e a pessoa que me inquiria não se conformava quando eu reafirmava que o Primeiro Comando da Capital jamais seria eliminado.

Ana Luiza Almeida Ferro também afirmou que crime organizado no Brasil não será eliminado, mas ao contrário de mim, ela generalizou, e eu dei nome aos bois.

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Ana Luiza afirma: o PCC somos eu e você

Se você duvida, então é só dar uma olhada na obra El cincuentenario de los Pactos Internacionales de Derechos Humanos de la ONU — além do valor das ideias, a composição do texto é primorosa:

“A via jurídica não tem o condão de oferecer soluções mágicas para o controle do crime organizado. […] Nem tampouco ostentam tal condição quaisquer medidas e estratégias administrativas ou políticas que ambicionem, pelo caminho repressivo, a simples e total erradicação do problema. O crime organizado, como o crime em geral, pode ser controlado, mas não inteiramente erradicado, sob as condições sociais, econômicas, políticas e culturais hoje conhecidas, até porque, mesmo que sistemática e eficazmente combatido, pode até assumir novas feições, sem que tal signifique o seu completo desaparecimento, o que não indica que possamos baixar a guarda, caso algum dia cheguemos a imaginá-lo sob controle, como uma serpente aprisionada, cuja maior parte do veneno haja sido extraída. Porque essa serpente habita em nós. Ela cresce à sombra das próprias estruturas socioeconômicas e políticas de uma cidade, de uma região, de um país, uma imagem refletida no espelho da sociedade.”

Sendo assim, o PCC está em cada paulista, assim como as facções menores, como o CV, estão na alma de suas comunidades. A visão de Ana Luiza me pareceu muito dura, um soco em nossa autoimagem e autoestima, mas concordo com ela.

Como o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital poderiam ser abalados por ações policiais ou militares nas ruas se, como nos lembra o artigo publicado na revista do Cesmac, as facções estão dentro do Sistema Prisional e, como nos conta Ana Luiza, dentro de cada um de nós?

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Entender o problema é o primeiro passo.

“Mas, já devo ter mencionado isso aqui em alguma ocasião, sou um otimista. Talvez o último otimista da face da Terra – o que, por sua vez, também é uma afirmação otimista, […] um caso de weltzschmerz – a incapacidade de confrontar o mundo da mente com o mundo real” Yuri Al’Hanati

O que eu tentei aquele dia dizer na delegacia, e o que Ana Luiza disse com primazia, foi que não adiantam apenas mudanças na política de segurança pública em nosso país, com intervenção militar e a morte e a prisão de lideranças das organizações criminosas — é preciso que tomemos consciência desse tal weltzschmerz citado por Yuri.

Assim, abandonaremos nossas ilusões — e deixaremos de tentar matar o que é imortal e poderemos nos concentrar em dominá-lo e mantê-lo sob controle, começando por nossas atitudes e pensamentos.

A intervenção federal ou as GLOs são a solução?

O Rio de Janeiro não foi o único lugar onde o governo federal tentou atuar diretamente no combate ao crime organizado e a maior prova que o uso da lei de Garantia da Lei e da Ordem não é solução para esse problema.

O crime, cada dia mais organizado, age e se movimenta de maneira inusitada e imprevisível. Ao mesmo tempo em que uma parcela de membros das organizações criminosas vivem como ―ratos‖ escondidos em barracos nas favelas, outra parcela frequenta os ambientes mais sofisticados, ostentam sua riqueza e desfilam
impunemente, muitas vezes sem despertar qualquer suspeita.
Diante da realidade dos fatos e dos números apresentados,
especialmente nas comparações entre Forças Armadas e órgãos de Segurança Pública, o ―custo x benefício‖ do emprego das Operações de GLO mostra-se extremamente desvantajoso (…) enquanto não houver (…) uma ampla integração da atividade de inteligência entre todos os atores estatais, a fim de otimizar os recursos disponíveis e melhorar os indicadores de desempenho, simplesmente, segundo os
adágios populares, estará sendo feito ―mais do mesmo‖ ou ―enxugando gelo‖, não se observando qualquer legado estratégico.

Capitão de Fragata Sérgio Souza Sá

“Já devo ter mencionado isso aqui, sou um otimista.”

Pedro Rodrigues da Silva, o Pedrinho Matador, conhece o sistema prisional de São Paulo como poucos. Ele ficou sem ver a rua de 1973 até 2007 e de 2011 até 2018 — viveu mais de 40 atrás das grades e por lá, ele conta que viu mais de 200 presos serem mortos enquanto esteve por lá, sendo que mais de 100 foram ele mesmo que matou.

Viveu no cárcere no tempo do Regime Militar, da redemocratização e dos governos com leve viés progressista, mas mudança mesmo, houve quando a facção paulista despontou como hegemônica, acabando com as diversas gangs e grupos dentro das cadeias e presídios.

Sobre o Primeiro Comando da Capital ele afirmou durante uma entrevista:

“Fui [convidado a entrar no PCC], mas não entrei. Ali é o seguinte: depois que surgiu o partido, você vê que a cadeia mudou. Não morre ninguém porque o partido não deixa. É paz. Paz para a Justiça ver. Se começa uma briga, eles seguram. Eles também ajudam quem sai, arrumam trabalho.”

transcrito por Willian Helal Filho para O Globo

O Projeto CEU no combate ao Crime Organizado

O Primeiro Comando da Capital (PCC 1533) é uma liderança em diversas comunidades carentes. Como fica então o Projeto CEU quanto ao auxílio à comunidade?

Não é só com polícia que se vence o crime

Quando Roger Marchesini de Quadros Souza e José Cláudio Diniz Couto começaram a falar sobre o Projeto CEU — Centro de Artes e Esportes Unificados — como ferramenta de combate às organizações criminosas e auxílio na redução das taxas de homicídios, eu parei para ouvir, mesmo porque eles buscaram um enfoque diferente.

Em um artigo de oito páginas, os dois pesquisadores fazem um paralelo entre as cidades de São Paulo e de Medelim, esta última na Colômbia, pois ambas, na década de 1990, viram suas ruas virarem rios de sangue — a cidade colombiana atingiu o inimaginável índice de homicídios: 360 para cada 100.000 habitantes.

Para se ter uma ideia do que esse número de homicídios, significa, São Paulo em seu pior momento no final dos anos 1990 chegou a 70 homicídios, e hoje, mesmo com a guerra entre as gangues em andamento, o Brasil não chega a 30 mortos, mas ambas as cidades derrubaram as taxas de forma assombrosa, e em relativamente pouco tempo.

O que falei neste site sobre a Colômbia

Roger e José Cláudio foram atrás das políticas municipais que poderiam ter contribuído para o resultado dessa equação. E eles chegaram no céu, digo, no tupiniquim Projeto CEU, e nos projetos de integração social colombianos. A lógica para o sucesso dos projetos é bastante simples e pode se resumir em uma frase de Patrícia de Palma Soares:

‘… proporcionar respeito e dignidade a todos’, o objetivo geral do programa era ‘romper com o ciclo de violência – nenhuma criança deveria considerar o mundo do crime uma alternativa de vida, pois a violência é um elemento bastante perturbador do desenvolvimento humano’

O que falei nesse site sobre índice de homicídios → ۞

Veja todos os argumentos deles no artigo Implantação dos Parques-Bibliotecas em Medellín e dos Centros Educacionais Unificados em São Paulo – algumas considerações de um estudo exploratório, que reflete um pouco do que foi discutido no Grupo de Estudo e Pesquisa Sociais e Políticas em Fracasso Escolar – GEPESP.

Legal a leitura, verdade! Foi bom, pude conhecer a teoria que existe sobre aquilo que eu já havia conhecido na prática, e vou te contar o que eu vi lá no CEU. Não sei se minha experiência colaborará para a comprovação da teoria dos professores, isso eu deixo para você decidir.

O que falei neste site sobre a periferia→ ۞

O Projeto CEU, da cidade de Itu, está localizado em uma área conturbada: entre o Jardim Vitória e o Jardim das Rosas. O prédio é um elefante branco que reluz de longe. Seu projeto foi muito criticado por não ter grades para protegê-lo de pichações, depredações e do mau uso do espaço.

Devido a essa característica, desde sua construção ele já foi refeito e repintado dezenas de vezes, pois a administração municipal anterior construiu o prédio e nomeou seus conselheiros no Diário Oficial em 2003, mas apenas a atual administração, fez um trabalho junto às lideranças locais, para que elas zelassem pelas instalações…

… e as pixações e depredações acabaram, mas antes:

Os vidros insufilmados dão visão para quem está dentro do local, mas impedem a visão de quem está fora, e, como o prédio ficou desocupado, a primeira sala servia como centro de distribuição de drogas: os garotos da venda ficavam sentados nos bancos do lado de fora ou sob a árvore sem nenhum flagrante, pegando as drogas a cada venda pela janela de quem estava na distribuição.

Quando a polícia chegava, não haviam nada com os vendedores; enquanto isso, quem estava na distribuição saía pelo lado oposto. O abastecimento da biqueira era feito por bicicleta, e o corredor que separa o projeto do posto de saúde era a área utilizada como ponto para uso de drogas, chegando a ficar tomada por dezenas de jovens aos fins de semana.

O que falei neste site sobre o tráfico de drogas→ ۞

Os Governos Federal, Estadual, e Municipal haviam se unido para construir a mais sofisticada biqueira da cidade, um orgulho para todos, mas isso acabou quando a atual administração municipal conseguiu apoio das lideranças do bairro, e houve um salve para que não mais se traficasse ou que drogas fossem utilizadas no local.

A comunidade de fato levou a sério a orientação, mas ocasionalmente alguém de fora acabava por utilizar mal o local, e era “orientado de acordo” por alguém do bairro. A Guarda Civil passou a estar presente com tranquilidade durante o dia, e a Polícia Militar, símbolo da “opressão do sistema” que vira e mexe entrava de sola, sumiu.

A ausência da Polícia Militar trouxe tranquilidade, não por sua presença ser negativa, mas por refletir uma nova realidade. Aquele local passou a ser livre de drogas e armas, agora as crianças do bairro podiam brincar, sem ver seus parentes serem escrachados pela polícia ou ver bandidos e traficantes ganhando dinheiro e virando heróis.

O que falei neste site sobre a Guarda Civil→ ۞

Quer saber como está hoje o Projeto CEU? Não sou eu quem vou te contar, passe por lá e conheça, é só clicar na imagem e fazer a rota, até a última vez que passei por lá o governo mantinha apenas promessas, mas a liderança local mantinha firme a ordem.

Eu prestei bem atenção em tudo o que os dois pesquisadores falaram sobre o Centro de Artes e Esportes Unificados, e de fato ele é uma ferramenta de combate às organizações criminosas e auxilia na diminuição dos homicídios, mas por mais estranho que possa parecer, só é possível implantá-lo com sucesso com a conivência das lideranças locais.

Exercício:

1- assinale qual a frase que mais adequada ao texto acima:

( ) No entanto, na prática a teoria é outra

( ) A exceção confirma a regra

( ) É possível a implantação com o uso da polícia sem aprovação das liderança locais

Rícard Wagner Rizzi

Pena de morte no Brasil, sim ou não?

A decisão de tirar a vida de outra pessoa por parte dos representantes do Estado deve ser aceita ou não? Como essa questão é vista em nossa sociedade e dentro da facção paulista Primeiro Comando da Capital?

Eu posso te matar, você sabia?

Não sou Deus, mas posso ser o seu juiz. Basta que eu queira e que nos encontremos em determinadas situações para que, de acordo com uma razão obscura, eu possa te matar e não seja punido por isso.

Quem me deu a ideia de vir te contar que sua vida — e a de seus filhos, pais e amigos — pode estar em minhas mãos foi o canadense Graham Denyer Willis, através de seu artigo The right to kill?, publicado na página do MIT Center for International Studies.

O que falei neste site sobre Pena de Morte→ ۞

Quem vale mais, um brasileiro ou um americano?

Ele já começa citando um documento denominado White Paper, do Departamento de Justiça dos Estados Unidos da América (DOJ), que garante ao governo dos Estados Unidos da América o direito de tirar a vida de qualquer americano.

Então, você — e seus filhos, pais e amigos —, vivendo aqui no Brasil sob a proteção da sociedade organizada brasileira, acha que tem mais garantia de vida que um cidadão americano protegido pelo Estado de Direito estadunidense? Fala sério!

A onda de matança que atinge os corpos consideráveis “matáveis, pessoas que não vão falar muito por eles, normalmente em bairros mais pobres”, como afirma a tenente-coronel da reserva da PM paraense, Cristiane do Socorro Loureiro

Quem garante seu direito à vida?

Esqueça aquela utopia iluminista e racionalista de que você está protegido pela sociedade, pois ela te deixará na mão, salvo exceções pontuais; e não reclame de eu poder te matar, pois isso é natural, seus antepassados já o haviam permitido e seus descendentes também o farão:

Graham Denyer Willis frazes da facção pcc 1533

“A ideia de que o Estado tem o direito de matar seus próprios cidadãos raramente é contestada. De Hobbes a Weber, é explícito ou implícito que os estados decidem as condições sob as quais os cidadão podem, e os que de fato devem morrer…” — Graham Denyer Willis

Quem é o Estado? O Estado sou eu!

Não acho que sou Napoleão, muito menos Luiz XVI, mas quem você acha que é o Estado que teria, e de fato o tem, o direito de tirar a sua vida?


Se você acredita que é o Estado de Direito, pode ficar tranquilo: você vai morrer de velhice, afinal, no Brasil não existe a pena de morte.

Só que a realidade não está nem aí para aquilo em que você acredita, e por isso eu, que não sou o Estado de Direito, posso tirar a sua vida impunemente.

Na calada da noite a lei é outra — o que é ilegal

Nas periferias das grandes cidades, onde grande parte da população vive ou trabalha, o Estado de Direito só chega através de viaturas policiais que casualmente entram, fazem algumas abordagens e saem.

Só na periferia paulistana são mais de 10 milhões de pessoas, e elas não atribuem mais legitimidade às ações policiais das forças públicas do que àquelas praticadas pelas facções criminosas por meio de seus Tribunais do Crime.

Parte da sociedade apoia o Tribunal do Crime — o que é ilegal

Mesmo que a lei no papel os proíbam, são mais de 160 assassinatos que acontecem por dia em nosso país; desses, menos de 20 chegam a ter seus culpados condenados — os outros 140 são mortes de pessoas que não valem o custo da apuração.

Segundo Willis, O Estado deixa que pessoas que não lhe fazem falta morram através de sua omissão, seja dentro ou fora dos presídios — para tal basta investir na Rota na rua sem garantir a eficácia da polícia investigativa.

Parte da sociedade não apoia o policial que mata — o que é ilegal

Essa semana, a sociedade organizada deixou claro os limites em que os agentes públicos podem matar em seu nome. Não faz parte das leis escritas de nosso país, mas desse grande pacto social do qual fazemos parte, ora com kkks, ora com carinhas vermelhas.

O cabo PM Victor Cristilder Silva, como dezenas de outros agentes da segurança pública de todos os níveis, acreditou que matar bandido era algo permitido em nossa sociedade e foi a Júri com esse argumento:

“Meu sangue na veia é de policial de rua. Chegava em casa, meu filho já estava dormindo e eu não dava atenção para minha esposa. Mas o que eu estava fazendo era para melhorar a vida deles. Nunca tive nada na minha vida. Meus pais me criaram com muita dificuldade, mas nunca me desviei para o caminho do mal. Entregaria a minha vida para proteger um cidadão de bem.”

Não colou, tomou 119 anos de reclusão, mas isso não significa que a sociedade, através do seu Tribunal do Júri, declarou que policial não pode matar quem ele acha que é bandido, mas, sim, a forma como isso não deve ocorrer, marcando o limite para tal ato — e Victor passou o limite socialmente aceito.

Parte da sociedade apoia o policial que mata — o que é ilegal

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tido por muitos como aliado do PCC, foi o governador com o maior índice de letalidade policial e efetividade em prisões de membros de gangues, incluindo o tempo do governador Paulo Salim Maluf, o Rota na Rua.

Antes que alguém me corrija…

Sim, no tempo de Maluf o Primeiro Comando da Capital não existia, mas havia, sim, grupos organizados em gangues locais ou quadrilhas especializadas em assaltos a bancos e cargas e sequestros, que por vezes fechavam alguma pequena cidade para fazerem arrastões.

Alckmin prega que lugar de criminoso é na prisão ou no cemitério cada vez que a polícia paulista é acusada de chacinar bandidos, como foi o caso nesta semana, em que uma dezena de assaltantes foram cercados e mortos em uma estrada rural em Campinas.

A palavra chacina não tem uma conotação jurídica como homicídio ou latrocínio, sendo representada no âmbito jurídico como “homicídios múltiplos”. Chacina, portanto, é uma expressão popular que desencadeou um acúmulo de violência contra um grupo de pessoas estereotipadas, seja pela classe social, cor da pele ou ação política.

Camila de Lima Vedovello e Arlete Moysés Rodrigues+

Ninguém em sã consciência acreditaria que uma dezena de assaltantes de bancos armados com rifles, metralhadoras, granadas, pistolas e revólveres, se tivessem de fato trocado tiros com a polícia, não teriam acertado um policial, nem que fosse raspão.

No ano passado houve dezenas de casos semelhantes, o mais emblemático aconteceu nos Jardins, área nobre da capital paulista, onde uma dezena de assaltantes fortemente armados também foram mortos — só que dessa vez um policial foi atingido.

Ou em 2014 o caso dos doze PCCs mortos em um ônibus na Castelinho em situação similar, e ainda mais emblemático, os 111 prisioneiros chacinados durante a rebelião de 1992 no Presídio do Carandiru — ao contrário de Victor, os PMs ultrapassaram o limite socialmente aceito.

Quando “todos acabaram absolvidos pela Justiça em novembro de 2014. Porém, para o Ministério Público Estadual, a Operação Castelinho foi uma “’arsa macabra’ e ‘a maior farsa da história policial no Brasil’ ”.

O que falei neste site sobre o caso Castelinho→ ۞

Esse é o limite informal aceito por consenso — o que é ilegal

A legislação brasileira não prevê a pena de morte, mas aceita e faz com que os mecanismos de apuração e punição de certos crimes entrem no limbo seboso da burocracia, mas não são apenas as ações policiais do Estado constituído que têm esse direito.

Parte da sociedade apoia Tribunal do Crime que mata — o que é ilegal

O Tribunal do Crime mata em todo o país, e sua ação por vezes é acobertada pela população local, que considera positiva sua ação, assim como outra parte da sociedade vivendo em outras áreas considera legítimo, mesmo que ilegal, o extermínio feito pelas forças públicas.

Segundo Raymundo Juliano Feitosa cobrança mais cruel pelo Código Penal do PCC é o chamado xeque-mate: esquartejamento do infrator enquanto ele ainda está vivo, e só depois ele é morto e todo esculacho é filmado e jogado nas redes – essa condenação é aplicada aos estupradores e pedófilos, também, tem por finalidade servir de exemplo para outros que teriam interesse em fazer o mesmo.

Eu não ia te contar nada, preferiria te deixar dormir tranquilo, mas já que Graham Denyer Willis puxou o assunto, taí. Posso não ser Deus, mas posso ser seu juiz, basta que eu queira e que nos encontremos em determinadas situações para que, mesmo sem uma razão, eu possa te matar.

O número aproximado de executados por pena de morte nos EUA é de 50 por ano; no Brasil, 50 por mês…
… e ainda tem gente que briga para que tenha pena de morte no Brasil kkk.

O Primeiro Comando da Capital está divido?

A morte de Gegê do Mangue e Paca não foi o fim, mas o começo de um movimento dentro do Primeiro Comando da Capital. O assassinato de Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, confirma essa teoria.

A história não é dividida, ela uma constante.

A Queda da Bastilha, a Proclamação da Independência, o fim do Regime Militar, o massacre do Carandiru e o assassinato de Jorge Rafaat Toumani, foram apenas momentos onde a tensão atingiu seu ponto de ruptura, marcando o ponto onde uma força, que aos poucos crescia passou assumiu uma posição.

Com a facção Primeiro Comando da Capital não poderia ser diferente, e para quem estuda a história da facção o momento é de muita atenção, se não tensão.

Enquanto pessoas que não tem a mínima condições de entender o que está acontecendo postam “kkk um a menos”, a história está tomando um outro rumo, e ninguém pode com certeza para qual direção seguirá.

Pessoas morrerão nos próximos anos por que Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue e Fabiano Alves de Souza, o Paca, morram, por outro lado, outras que morreriam vão ser poupadas.

Não fique certo que você ou alguém que você conheça talvez não viva ou morra por isso, pois todos nós estamos no mundo sob a influência do que aconteceu durante a Queda da Bastilha, da Proclamação da Independência, do fim do Regime Militar, do Massacre do Carandiru e do assassinato de Jorge Raffat Roumani.

Alguns apenas não tem consciência disso, mas esses fatos históricos ditam querendo ou não o dia a dia de todos os brasileiros e influência parte das decisões política e de segurança pública de vários países latino-americanos.

Apenas mudanças de logística e comando.

A morte de Gegê do Mangue, a princípio trouxe a todos a certeza que havia sido uma decisão dentro da organização criminosa, apenas mais um acerto de lideranças entre os lobos, mas que a alcateia seguiria o mesmo caminho.

Mas “um coisa” talvez tenha mostrado que há algo mais.

Coisa” é o nome dado a quem não tem moral dentro da organização. São os excluídos, os pederastas, talaricos, policiais presos, enfim, tudo que não presta. Nos presídios, os “coisas” não ficam junto com os presos, é assim em todo o sistema paulista, inclusive em Venceslau, e em geral são eles quem fazem a faxina.

“O bilhete, apreendido no domingo (18), está sob análise do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), órgão do MP (Ministério Público). Ele foi encontrado na subportaria da Penitenciária 2 de Presidente Vencenceslau, a 600 km da capital paulista, na hora da limpeza.”

Quanto podemos confiar que no que diz o bilhete?

Não se perdem bilhetes como esse, ele foi entregue por alguém por alguma razão, ou pelo menos deixou para que fosse encontrado pelo “coisa“.

Claro que isso é apenas especulação que entre quem não tem o que fazer enquanto espera os dias passarem, e que em Venceslau, hoje sejam funcionários públicos concursados que peguem no cabo da vassoura e varram o chão sob uma câmara de vigilância, mas… eu acho que não.

O bilhete segue as normas da facção, o que dá credibilidade:

“Amigos aqui é o Resumo do Pé Quebrado e mais uns irmãos. Ontem fomos chamados em umas ideias, aonde nosso irmão Cabelo Duro deixou a nós ciente que o Fuminho mandou matar os GG e e o Paca. Inclusive o irmão Cabelo Duro e mais alguns irmãos são prova que os irmão estavam roubando.”

O irmão Cabelo Duro é Wagner Ferreira da Silva, liderança do PCC no litoral paulista, e foi morto poucos dias depois da divulgação do bilhete em frente ao Hotel Blue Tree Towers em São Paulo.

A polícia trabalha com a hipótese de que Cabelo Duro tenha sido morto por aliados de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e de Fabiano Alves de Souza, o Paca.

Se confirmada essa hipótese, talvez estejamos assistindo um daqueles momentos da história onde a tensão atingi seu ponto de ruptura, marcando o ponto onde uma força, que aos poucos crescia passou assumiu uma posição.

Se de fato a morte de Cabelo Duro foi armada contra a vontade da liderança que se consolidou no comando do Primeiro Comando da Capital, mesmo após a morte de Gegê e Paca, existe a possibilidade de que parte da facção esteja disposta ao confronto ou a troca de camisa.

Algo assim pode chegar as ruas trazendo violência e mortes nas biqueiras, entre a população das comunidades, e policiais. Até o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Mágino Barbosa, veio a público para falar sobre essa possibilidade.

O que falei neste site sobre Geraldo Alckimin → ۞

O bilhete, o esgoto e a Operação Echelon

Ninguém engoliu a história que o tal bilhete foi encontrado por uma pessoa fazendo a faxina na portaria do presídio, apesar de toda a imprensa reproduzir sem questionar a versão das autoridades.

O caso só veio a ser esclarecido com  o termino Operação Echelon. A polícia admitiu que  realizava uma “pescaria” nos dutos de esgoto das raias da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau — bidu, agora a história fez sentido.

Em março do ano passado, o setor de inteligência da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) simulou um problema em um dos dutos de esgoto da cadeia, que mantém presos os líderes da organização criminosa.

Era um problema falso. “No lugar de reparar o esgoto, instalamos telas nos dutos”, explicou o secretário da SAP, Lourival Gomes.

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Os especialistas e a luta pelo poder no PCC

Mágino Barbosa tem acertado todas quando fala sobre a facção, e afirma que…

“… é evidente que há um desentendimento. Mas não acreditamos que haverá a guerra, uma guerrilha, no estado. Os reflexos são mais ligados aos próprios integrantes da facção”.

Essa declaração reforça a hipótese de que Cabelo Duro tenha sido morto a mando da liderança por ter vazado a informação de que ele próprio a mando do seu padrinho Marcola teriam executado o Gegê e Paca.

O Marcola era homicida, sequestrador, roubava banco, não tinha nada a ver com a facção, mas é um homem articulado. E quando ele foi levado para o presídio de Tremembé [no interior de SP] começa a conversar com os últimos presos políticos no sistema prisional e aprende com eles sobre como estruturar o tráfico, a gerenciar como uma empresa, ao mesmo tempo em que vende internamente para os detentos a ideia de uma irmandade revolucionária.

desembargadora Ivana David

O repórter Luiz Adorno jura que não vai contar qual foi o promotor de justiça que lhe garantiu que:

“Cabelo Duro estava dentro do helicóptero. Isso já foi identificado, assim como as outras pessoas que estavam na aeronave. O que é investigado agora é se a morte de Cabelo Duro foi uma queima de arquivo determinada pela cúpula do PCC ou se foi uma retaliação de criminosos ligados a Gegê.”

Karina Biondi, talvez um dia escreva algumas linhas em uma nova edição de seu livro, ou talvez abra um novo capítulo, descrevendo que a morte de Gegê transformou a facção em algo totalmente diferente da que conhecemos hoje…

… assim como aconteceu no passado, com a morte de Jorge Raffat Roumani e a transformação, do dia para a noite do Comando Vermelho (CV) de fiel aliado para inimigo mortal.

Enquanto esperamos para saber o que será, acompanhamos a investigação sobre o caso Gegê, que parece ser prioridade para as secretarias de segurança pública, já tendo sido decretada a prisão preventiva de cinco suspeitos do assassinato: Francisco Cavalcante Cidro Filho, José Cavalcante Cidro, Samara Pinheiro de Carvalho, Magna Ene de Freitas e Felipe Ramos Morais.

O piloto do helicóptero recebia 400 Reais por quilograma de pasta base de cocaína transportada e 3% do dinheiro, chegava a ganhar 200 mil Reais em um único voo.

Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, chefiava o esquema todo. Chegava a lucrar 450 milhões de Reais todo o ano, mas mesmo com toda essa grana e poder, depois das mortes de Gegê e de Paca, ele percebeu que o próximo a ser morto pela facção.

Não deu outra. Integrantes sequestraram Nado que era de toda confiança de Cabelo Duro, desbloquearam o celular dele e usaram para chama-lo para o flat do Tatuapé, onde armaram uma casinha: Cabelo Duro foi metralhado e fala-se que nesse mesmo dia Nado foi decapitado e enterrado em região de favela.

O mundo dá voltas, Gegê e Paca foram mortos por Cabelo Duro, Cabelo Duro foi morto por Galo, Galo foi fuzilado na Zona Leste de São Paulo… — Luís Adorno para o R7

Fuga de Fuminho da polícia federal brasileira

ROTA teria deixado escapar Fuminho em 2013
Arthur Stabile e Josmar Jozino → Ponte Jornalismo
São Paulo — Combate à facção

Há vinte anos a Polícia Federal quase conseguiu capturar aquele que viria a ser o mais importante líder do Primeiro Comando da Capital na sua divisão internacional. Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, só escapou por conta de uma ação da ROTA — é o que afirmam os repórteres da Ponte Jornalismo.

Estou entre trocar umas ideias e matar um preto

A sociedade, em diversos momentos de sua história, fez escolhas, e o Brasil, neste momento, está fazendo uma ao optar pela intervenção militar como forma de combate ao crime organizado. Na prática, o que está ocorrendo?

A antropologia do preto morto “kkk”

Não precisa ser um antropólogo ou um sociólogo para saber que a sociedade é dividida em grupos que têm apenas em comum o ódio por quem pertence a outro grupo, e as redes sociais são, atualmente, o principal meio de difusão dessas ideias.

Claro que, exceto eu, ninguém postaria “kkk mais um preto morto kkk” — todos são pessoas civilizadas. Mas tenho recebido notícias de dezenas de bandidos mortos pelas forças policiais nos últimos dias com “kkk” acompanhando.

Você também deve ter recebido, não? Legal, então busque no Google imagens de “bandido morto no Rio de Janeiro” e conte entre os cadáveres quantos são negros e pardos e quantos são brancos — cada um que clicar terá um resultado diferente, experimente o seu resultado → clicando aqui ←!

No meu caso apareceram 52 defuntos, 8 brancos e 44 negros e pardos. O que isso quer dizer? Que o negro é mais bandido que o branco, e, como “bandido bom é bandido morto”, é natural que surjam entre os resultados mais negros e pardos do que brancos (kkk) — ou será que existe outra explicação para esses números?

“O disputado varejo da venda de drogas nos morros e favelas cariocas não é onde se concentra o grande poder e o grande dinheiro do tráfico. Para fazer alguma coisa mais efetiva, ainda que reduzida ao âmbito estadual, as Forças Armadas precisariam pelo menos coordenar uma ação de inteligência que levasse à prisão de figuras da política, do Judiciário, das polícias e do meio empresarial associadas ao crime organizado.” — Marcos Augusto Gonçalves

Uma antropóloga e um cronista me ajudaram.

Duas pessoas levantaram essa questão: Karina Biondi, no artigo “Uma ética que é disciplina: formulações conceituais a partir do ‘crime’ paulista”, e João Pereira Coutinho, com a crônica “Foi o elitismo de Winston Churchill que derrotou Hitler, não o seu populismo”.

A História se repete bem em frente aos nossos olhos.

A soma dos dois textos e as fotos que têm circulado nas redes sociais me levam a crer que estamos hoje repetindo o momento histórico narrado por Coutinho, no qual Churchill se contrapôs ao Lord Halifax e a Neville Chamberlain.

Naquele tempo havia dois grupos, um que pretendia seguir negociando e buscando soluções que evitassem o confronto com um povo que foi oprimido pelo Tratado de Versalles, empobreceu e lutava por sua sobrevivência.

Uma guerra contra a Alemanha significaria matar milhares de pessoas inocentes no país e que não mereciam ser sacrificadas por viverem em uma região dominada por alguns criminosos.

É um crime contra o estudo da história comparar duas realidades em dois momentos históricos diferentes e em duas sociedades distintas e tentar fazer uma análise — mas será mesmo?

Nós somos como os ingleses, só não sabemos disso.

Boa parte da população brasileira, hoje, está reagindo da mesma forma que a maioria dos britânicos reagiu naquele tempo — preferindo medidas policiais investigativas e ações sociais sem intervenção militar.

Uma intervenção militar nas favelas cariocas significaria matar centenas de pessoas inocentes que não merecem ser sacrificadas por viverem em uma região dominada por alguns criminosos.

O pesquisador canadense Graham Denyer Willis, afirma que esse tipo de ação reforça ainda mais a subvalorização, dentro da polícia, dos agentes que trabalham na investigação dos homicídios…

“…porque as vidas que investigam em geral não têm valor, são pessoas de partes pobres da cidade [já] os batalhões especializados em repressão, como a Rota e a Força Tática da Polícia Militar têm carros incríveis, caveirões, armas de ponta. Isso mostra muito bem a prioridade dos políticos, que é a repressão física a moradores pobres e negros da periferia. Não é investigar a vida dessas pessoas quando morrem.”

Churchill, ao contrário da maioria pacífica da população britânica, apostou na guerra, no enfrentamento armado, com batalhões especializados, táticas militares, tanques de guerra, armas de ponta, e com milhares de inocentes morrendo — mas derrotou a Alemanha e se tornou herói.

Temer e aqueles que optaram por apoiar as ações militares seguem essa mesma linha de raciocínio e, se forem vitoriosos, serão lembrados pela história como tendo sido aqueles que ousaram enfrentar o Crime Organizado de frente.

As redes sociais e a rede social da facção PCC 1533

Imagino que se na Segunda Grande Guerra houvesse redes sociais, os americanos estariam postando foto dos garotos alemães e japoneses mortos durante as batalhas acompanhados dos três potássios: kkk, assim como os alemães dos judeus no campo de concentração com a frase “um lixo a menos kkk“, mais ou menos como acontece hoje.

Mas que alternativa tiveram aqueles que morriam — não importa kkk!

A onda de matança que atinge os corpos consideráveis “matáveis, pessoas que não vão falar muito por eles, normalmente em bairros mais pobres”, como afirma a tenente-coronel da reserva da PM paraense, Cristiane do Socorro Loureiro

Karina Biondi, por outro lado, mostra como a situação é muito diferente nos domínios do Primeiro Comando da Capital.

Até o final do ano passado era proibido o uso de armas nas biqueiras paulistas, e ostentar arma na comunidade era o mesmo que assinar uma sentença de morte.

Todos os problemas são resolvidos dentro de uma estratégia de negociação, a chamada “troca de ideia”, e mesmo o que corre pelo errado tem chance de se explicar e se adequar para ficar dentro da ética da comunidade.

Ética do Crime — por favor, se não concorda com o termo leiam os trabalhos de Biondi e mandem as críticas para ela, aqui eu apenas apresento a todos, que podem concordar ou não com o seu uso.

A forma de agir da facção paulista é algo que qualquer cidadão branco, intelectual e iluminista diria que é como o Estado de Direito deve agir para manter a paz social, se contrapondo à política de invasão militar.

No artigo “A ocorrência de homicídios no município de São Paulo: mutações e tensões a partir das narrativas de moradores e profissionais” afirma que a partir dos anos 2000 com o estabelecimento do Primeiro Comando da Capital nos bairros periféricos paulistas:

“… a redução[da taxa de homicídios] ocorreu de forma generalizada, ou seja, em todos os grupos etários, de cor e sexo, bem como em todas as áreas do município de São Paulo, classificadas conforme diferentes graus de exclusão social. Contudo, foi ainda mais acentuada entre a população masculina, entre jovens (de 15 a 24 anos) e moradores de áreas de exclusão social extrema.”

A história mostra que não existe certo ou errado, apenas pontos de vista opostos, que serão louvados ou condenados pela história, enquanto a nós cabe apenas aplaudir a morte dos pretos e pardos ou nos contrapor ao genocídio seletivo, deixando para o futuro o julgamento de nossos atos baseados na lógica do vencedor.

Número de negros mortos pela polícia em São Paulo
Rícard Wagner Rizzi

A Terceira Geração do Primeiro Comando da Capital

A evolução para o campo político da facção PCC 1533 está sendo chamada pelos especialistas de A Terceira Geração do Primeiro Comando da Capital. O que existe de real e de imaginário nessa teoria?

O que representa essa morte para futuro político da facção?

Não há quem acredite em outra hipótese para a morte de Gegê do Mangue que não a de uma disputa dentro da estrutura do Primeiro Comando da Capital, a facção PCC 1533. Há divergência quanto as razões, mas não quanto aos possíveis mandantes.

O texto a seguir já estava pronto antes do assassinato, trata em resumo da tendência do Primeiro Comando de se infiltrar discretamente e utilizando contatos pessoais na estrutura política, administrativa e social — com a retirada de Gegê do tabuleiro, essa tendência da facção paulista ficaria fortalecida, se contrapondo as ações de guerrilha.

Artemiy Semenovskiy, Luis Carlos Valois, Geraldo Alckmin e eu temos ligações com o PCC — pelo menos é o que aqueles policiais comentavam nos grupos de WhatsApp e Facebook; no entanto a diferença entre nós e eles é que nós continuamos em liberdade, e eles, agora, estão presos.

O que falei neste site sobre o Alckmin → ۞

Essa é a chamada Terceira Geração do PCC

Diorgeres de Assis Victorio foi a primeira pessoa que tenho conhecimento de ter dado destaque ao termo Terceira Geração do PCC, em 24 de janeiro de 2018, no artigo PCC: Terceira Geração, no site Ciências Criminais. No dia seguinte, no site Small Wars Journal, os pesquisadores John P. Sullivan, José de Arimatéia da Cruz e Robert Bunker publicaram a matéria Third Generation Gangs Strategic Note No. 9.

Este site apresenta o Terceiro Estatuto do PCC com o nome Estatuto de 2017 → ۞

O texto do Ciências Criminais apresenta a mudança que se deu com a elaboração do chamado Terceiro Estatuto do PCC para uma nova realidade, menos confrontante e mais voltada ao lucro, à estruturação organizacional e às relações com a comunidade.

Já o texto do Small Wars Journal atenta para a estratégia de infiltração na política e na estrutura social adotada pela facção paulista.

A ligação entre os dois trabalhos é a Cartilha do PCC — documento chave da organização, que instiga seus membros e suas famílias a estudar e buscar apoio da sociedade para as justas reivindicações da facção:

Aposte e acredite no aperfeiçoamento e na conscientização para diminuir as perdas nas lutas, para vencer procurem estudar, procurem conhecimento e principalmente procurem aprender essa nova mudança, essa nova era.

Os políticos que promovem candidaturas baseando seu discurso no combate ao crime e só constroem presídios como depósitos de homens, mentindo para a sociedade, dizendo que estão acabando com a criminalidade e resolvendo o problema de superlotação. Mentem descaradamente: os governos dos estados, as secretarias de segurança pública, as administrações penitenciárias, os serviços de inteligência da polícia e da promotoria pública, o Denarc e o GAECO.

Acompanhem as trocas dos cargos políticos: quem são são essas autoridades, governos, secretários de segurança, administração penitenciário. Fiquem sempre atentos a política deles pois são essas pessoas as diretamente responsáveis pelo sistema penitenciário. Exponham nossas dificuldades e com isso conquistaremos nossos direitos como presos usando as mesmas armas que eles usam contra nós.

A propaganda, a divulgação, a mídia vamos maciçamente nos expressar à sociedade, mostrar esse lado esquecido, em cenário de tantas injustiças e violência.

Texto integral da Cartilha do PCC → ۞

Eram falsas as acusações?

Artemiy Semenovskiy, um russo que certa vez esteve preso em COMPAJ, ninho do Comando Vermelho (CV), lembrou-me que o juiz Dr. Luis Carlos Valois, que negociou com o FDN e CV o fim das matanças nos presídios de Manaus e hoje é ameaçado de morte pelo PCC, o governador Geraldo Alckmin, que bateu todos os recordes de prisão de PCCs, mas que a oposição lhe atribui um acordo com a facção, e eu estamos no mesmo barco…

… nós temos ligações com o Primeiro Comando da Capital.

Já alguns daqueles policiais que comentavam nos grupos de WhatsApp e Facebook sobre nós estão presos por corrupção e envolvimento com a facção criminosa. Como isso se deu?

Índice de Capacidade de Combate à Corrupção 2021 nos países com maior influência da facção Primeiro Comando da Capital:

Índice de Capacidade de Combate à Corrupção na Tríplice Fronteira

Nós e nossas verdades vivemos em um mundo imaginário.

Para entender o mundo todos nós analisamos os fatos que nos chegam utilizando nosso raciocínio, mas ele não consegue dar significado às conclusões; para isso utilizamos uma outra ferramenta que temos: a imaginação — não vou me alongar nesse ponto, em caso de dúvidas procure Gilbert Durand.

A vida é diferente do que nos mostra o cinema.

A leitura do artigo do Small Wars Journal reflete a realidade do envolvimento do crime organizado na política como é apresentado em todas as culturas: filmes como o brasileiro Tropa de Elite II, os indianos Raees e Kabali, o francês Marseille, o russo Ladrões na Lei [Воры в законе (фильм)], e séries de TV como a Brigada (Бригада).

No entanto, aqueles policiais que foram presos enquanto nós outros ficamos em liberdade não se conformam, afinal, eles não tinham envolvimento com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital, e, sim, nós — pelo menos dentro do imaginário que nossa sociedade criou através de suas produções cinematográficas.

Em verdade, a facção Primeiro Comando da Capital não organiza ações políticas como são mostradas no cinema e no artigo citado. Não existe um poder controlador supremo que articula as candidaturas: pela própria natureza e estrutura da organização o envolvimento com a política se dá de outra forma, muito mais celular, muito mais pessoal…

… o jornalista Renato Oliveira do site Verbo Online que o diga!

Os policiais foram presos por aceitarem uns trocos de conhecidos para passarem informações ou pegarem dinheiro de garotos ou de gerentes de biqueira. Eles jamais imaginariam (pois não faz parte do imaginário popular sobre o envolvimento com uma organização criminosa) que seus nomes seriam lançados na contabilidade da facção — o mesmo se dá com alguns políticos, mas isso rende outro artigo.

Conheça também outro artigo de Diógenes: PCC: Terceira Geração (parte 2)

Rícard Wagner Rizzi

No PCC homem não chora e corre pelo certo

Em um mundo onde o homem está sendo desconstruído, o Primeiro Comando da Capital (PCC 1533) sustenta a imagem do homem cisgênero.

Conheci durante minha vida alguns caras muito legais, outros nem tanto. Um deles, aprendi a admirar por estar sempre para cima, trazendo bons conselhos e sendo muito ponderado. Mas outro dia ele disse algo que me surpreendeu — e olha que não é qualquer coisa que me surpreende hoje em dia:

“… que nada, ri muito, enquanto arrancava o coração dele.”

Ele se referia a um vídeo no qual um integrante do Comando Vermelho (CV) teve sua cabeça cortada e seu coração arrancado, bem que achei que tinha reconhecido a voz dele na gravação, mas não imaginava que tinha sido alguém que eu conhecia, esse tipo de coisa nunca é feito por gente que a gente conhece, sempre por desconhecidos..

O que falei neste site sobre a guerra entre facções → ۞

Bem, foi um período em que muitas cabeças rolaram e muitos corações pulsaram ainda vivos nas mãos dos inimigos, mas acho que me lembro daquele em especial.

Poucos dias depois, em um grupo do Facebook, depois de disponibilizar um texto, alguém comentou: “Imagina o mafioso mimimi reclamando dos rivais querendo invadir o território deles, vão fazer textão e colocar as feminazis pra defender eles da opressão dos mafiosos inimigos, e vão reclamar no programa da Fátima Bernardes…kkkkk”

Pois é, enquanto converso com um, converso com outro, fico meio perdido. Não imagino o cara do PCC utilizando palavras como mimimis ou feminazis, ou qualquer outra frescura do gênero. Por outro lado não duvido da masculinidade do facebookiano, cada um apenas age de acordo com o ambiente no qual foi formado.

Como os homens são construídos e desconstruídos é o assunto discutido no livro Gênero, sexualidade e sistemas de justiça e de segurança Pública, da EdiPUCRS, organizado por Patrícia Krieger Grossi, Beatriz Gershenson e Guilherme Gomes Ferreira.

Após receber o link para conhecer a obra, a deixei de molho por uma semana, pois pensei que seria mais uma pregação LGBTTQI, mas não, bem… pelo menos não muito.

Apesar da obra utilizar termos do tipo sociopolítico-espacialmente segregadas e retroalimentação dialética, ela consegue se fazer entender por qualquer um — até por mim — que não aprendeu o que sabe nos livros de referências. Por falar nisso, eles citam em determinado momento:

“Uma maior presença da mulher no tráfico de drogas (…) que tem sido pautada pela discricionariedade policial na tipificação penal, pela ausência de critérios objetivos na diferenciação entre usuárias e traficantes pela seletividade policial e judicial.”

Só pode estar de brincadeira.

A fonte deles foi um profissional de segurança pública altamente gabaritado, mas será que ele conviveu com alguma Arlequina, trocou ideias com as novinhas em uma avenida? Ou apenas tirou sua noção do dia-a-dia policial, do depoimento que elas deram na delegacia e do relatório de seus subordinados?

Convido você que critique esse livro — eu mesmo já dei uma ou duas cutucadas aqui —, mas vivemos em um tempo em que os inimigos e os aliados são conquistados sem o uso da razão, então eu peço que você faça sua crítica somente após ler a obra, e conhecer o ponto de vista dos organizadores — e só depois a critique muito, ou a apoie.

Conheci durante minha vida alguns caras a quem aprendi a admirar, outros nem tanto. Em um trecho do livro, apoiando-se em uma opinião da professora Alda Zaluar, os organizadores destacam que estar sempre para cima, dar bons conselhos e ser muito ponderado nem sempre é sinal de masculinidade:

“… o homem no imaginário cultural coletivo [está relacionado com] … atributos como a ‘coragem’ e sua demanda, a intolerância ou o estímulo a brigas e a confrontos, a defesa da ‘honra’ masculina e a valorização de comportamento de ‘risco’ (relacionados ao uso de ilícitos e ao porte de armas, à velocidade no trânsito, à sensação de adrenalina) com a prevalência de homens cisgêneros como autores e vítimas nos índices de homicídios vinculados ao ‘mundo do crime’.”

Pensando assim, o soldado do PCC, mesmo que arranque rindo corações, por ser cordato, não se encaixa na descrição de Alda Zaluar do modelo de homem. Já o facebookiano que encara o “perigo” e o “risco” de discutir num grupo do Facebook, atacando com veemência os mimimis e as feminazis, esse sim é o cara…

Se bem que acho que o PCC e as novinhas não estão nem aí pra isso.

Freud talvez explique: um ambiente que reprime o libido sexual “produz uma necessidade de descarga, a fim de reduzir a tensão” — o Primeiro Comando da Capital tem regras de comportamento sexuais bastante rígidas.

Rícard Wagner Rizzi
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