Há exatos quatorze anos, o repórter Fábio Serapião do jornal O Estado de São Paulo, trouxe a público escutas telefônicas envolvendo presos do Primeiro Comando da Capital.
Não é apenas uma reportagem, é um registro de histórico incluído e disponibilizado na Biblioteca Digital do Senado Federal — os diálogos ocorreram em março de 2014.
Inimigos tiveram tempo para fugir, trocar a camisa ou se converter
Um dos diálogos ocorre entre Sumô e Taylor e mostra que antes de atacar os inimigos dentro do Presídio de Monte Cristo em Roraima, foi dado um prazo de 40 dias para que os inimigos decidissem deixar o presídio — e 145 aproveitaram para fugir.
PCC Sumô (Ozélio de Oliveira) o “geral do estado de Roraima” que estava preso na Casa de Custódia de Piraquara no Paraná, e o PCC Taylor (Diego Mendes de Andrade) que tinha a missão de “pregar a filosofia da família 1533” e arregimentar novos integrantes dentro da Penitenciária Federal de Mato Grosso do Sul, e uma outra com o PCC
Sumô: Quando nós banimos ali o Estado (das prisões de Roraima) a gente pregou a nossa ideologia, que é a paz, justiça, liberdade, igualdade e união, muitos ali tiveram o direito de pular o muro, o outro saiu até aqui no Fantástico irmão, pularam. Quantos que pularam no total ali em 40 dias ali, oh Taylor?
Taylor: 145 irmãos, 145 meu padrinho.
Sumô: 145 só pros irmão ter uma ideia como o barato foi louco. Hoje é … uns quartel do lado porque o barato ficou louco mermo.
Em outra conversa no fim do mês de março daquele ano, Sumô fala com Wax Nunes de Lima, um “salveiro” do PCC, responsável pela transcrição, transmissão e salvaguarda dos “salves” emitidos pelo comando da facção. Os dois falam sobre como conseguir celulares nas prisões. Sumô comenta a facilidade para se conseguir telefone nos presídios de Roraima e diz que onde está preso, no Paraná, são “somente” dois celulares por galeria.
“Eu morro de inveja de vocês aí que todo mundo tem um, isso aqui custa 5 mil real (sic) um aqui dentro moleque”, explica Sumô. “Caro que só né! Padrinho, aqui 5 mil é que nós paga pro cara comprar pra nós aparelho”, responde Wax.
Outra conversa de maio, de um integrante da facção criminosa apontado como “Vandrinho”, revelou a negociação de armas de dentro da cadeia. Segundo a PF, o traficante usa os termos “abacaxi” e “canetas” para se referir a granada e pistolas, respectivamente.
Na mesma interceptação, Vandrinho afirma que a facção criminosa precisa medir forças com a polícia. “Porque parceiro nós tem de somar contra a opressão, contra esses bota preta aí parceiro (sic)”, afirma o traficante.