Bandido, o Cidadão do Mal: Estigma, Rolê e Luta nas Quebradas

Trocando uma ideia sobre a estigmatização dos “bandidos”, a real nas quebradas e o papel do Primeiro Comando da Capital na luta pela igualdade.

“Bandido” carrega estigma e preconceito do “cidadão do mal”. Cola nesse texto pra entender a real das quebradas e o papel do Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533) nessa quebrada da história.

A fita do “bandido” e de onde vem

Salve, irmãos! Vamo trocar uma ideia sobre a realidade dos “bandidos” nas quebradas, principalmente envolvendo o Primeiro Comando da Capital.

O sistema e a mídia criam um estigma, colam na gente, marcando pra vida toda. Chamam de “bandido” quem é pobre, preto ou mora na periferia. Pra fugir da marca, cê não pode ser você. Tem que ser eles, se vestir, falar e agir como eles. Se não, cê é bandido, essa é sua marca…

… e todo mundo sabe, para a polícia, bandido bom é bandido morto.

Mas não se engana, irmão. Cê pode fazer tudo certinho, como eles mandam. Ainda assim, cê vai ser visto como bandido. Só esperam um vacilo pra te apedrejar. Esse rótulo vem de tempos antigos e só fortalece a discriminação.

Antes de mais nada, queria dar aquele salve pro pesquisador Eduardo Armando Medina Dyna, que é o responsa por passar essas fitas todas pra mim. Se tiver chance, dá uma conferida nos corres dele, mano, porque é de lá que vem a ideia reta.

O sistema e sua responsabilidade

O mano Feltran enxerga a conexão entre o mundo da lei e o ilegal, tipo como a violência nas quebradas e o crime são moldados pelo Estado e pela polícia. Ele dá uma olhada nos termos “bandido” e “criminoso” nas periferias de São Paulo, sacando que o “mundo do crime” é uma nova parada, com as práticas ilícitas virando fita normal, é aí onde a violência urbana rola solta, com roubos, sequestros e assaltos. Tudo isso forma uma teia de relações sociais e ideias nas quebradas esquecidas.

A violência é uma instituição tão natural como a própria vida humana. Decorre do nosso instinto de sobrevivência, sendo o grande motivo para o homem ter dominado a natureza. Mas essa afirmação não pretende trazer glamour à violência.

Talvez no último estágio da existência humana, a evolução definitiva seja exatamente vencer o instinto natural que nos propala a nos destruirmos mutuamente.

Conexão Teresina: uma crônica sobre a atuação do PCC no Piauí

A polícia e o Estado entram em ação pra combater o “mundo do crime”, mas só fazem aumentar a agressão contra quem já tá sofrendo. Os próprios manos e minas acabam adotando esses discursos e se identificando com eles.

O corre no “mundo do crime” e os bagulhos doidos

O mano Misse mostra que não é tudo igual no mundo do crime, tem conduta ilegal de todo tipo, e cada uma é vista de forma diferente pela sociedade. A ligação entre pobreza e crime é uma visão deturpada, injusta e hipócrita, segundo o autor.

Os irmãos do Primeiro Comando da Capital tão ligados em “correr pelo certo no lado errado da vida”. Essa ética do crime pode parecer doidera pra quem tá de fora, mas é real e tá lá no estatuto da facção.

Na hora de analisar o Estatuto do PCC, a parada da ética chama atenção, saca? Baseado naquela ética utilitarista que fala “a ação firmeza é a que traz mais felicidade e bem-estar geral”.

O “bandido” na quebrada: personagem complexo

Mano, o “bandido” é uma parada que vem de antigamente, criação dos discursos da mídia, polícia e daqueles conservadores. Nos últimos anos, fita das organizações criminosas tipo a facção PCC e o Comando Vermelho (CV) dominaram o papo sobre segurança pública, já que eles controlam os territórios e influenciam a geral. E aí, o discurso que já era pesado ficou sinistro, muita maldade nessa história, irmão.


No final do dia, os que tão no comando e espalham essa ideia só querem controlar não só o corpo da galera, mas também o conjunto da sociedade. A rotulação tem lugar certo, classe social e cor específica: geralmente, são os manos negros, pobres e que moram nas quebradas das metrópoles que levam a marca de “bandido”.

“Bandido”: A Verdadeira História Por Trás dos Rótulos

Vamo continuar na resistência, batalhando contra essa opressão, pra mostrar pra essa sociedade que nós não somos o que eles acreditam. A palavra “bandido” não define nossa essência, mano!

Na quebrada, o criminoso, o “bandido”, o traficante, não é só um vilão, mas um personagem complexo que vive várias fitas, tem sua família, negócios e um lado psicológico pesado. Muitas vezes, o crime é a única saída pra quem tá na luta.

Ao invés do “cidadão de bem” e a mídia ficarem só questionando “quem é o bandido”, eles precisam entender o “por quê” do rolê. Quais as motivações de entrar no crime, o que leva o mano ou a mina a tomar essa atitude, tá ligado?

Cê sabe que o sistema é cruel, e muitas vezes é ele que empurra o mano pra vida do crime, deixando sem opção, sem saída. E aí, irmão, fica difícil resistir quando a oportunidade aparece.

Buscando mudanças e igualdade na periferia

Então, antes de julgar o tal “cidadão do mal”, o “bandido”, temos que entender o contexto em que ele tá inserido, as dificuldades que ele enfrenta, a violência que ele vive e tudo que o levou até ali.

A sociedade precisa enxergar além daquele rótulo colado na testa e ver as pessoas por trás das fitas. Eles são mais que “bandidos” ou “assassinos”, são seres humanos com histórias, sonhos e desejos, e muitos tão guerreando pra sobreviver nesse mundão véio sem porteira.

Não é pra passar pano na criminalidade, mas é preciso entender sem preconceito pra poder resolver essa parada que é muito mais embaçada que um filmezinho de mocinho e bandido americano.

É nóis! Vamo continuar trocando ideia e lutando pra mudar essa realidade, buscando sacar o “por quê” e não só o “quem”, pra que um dia a vida na quebrada seja mais firmeza e igualitária pra todos.

MS-13 e PCC: Estudo Comparativo das Organizações Criminosas

Comparação entre as organizações criminosas MS-13 e PCC, analisando a expansão territorial, estrutura, atividades criminosas, impacto social e político, além do envelhecimento das lideranças. Rizzi enfatiza a crescente influência desses grupos e a preocupação que isso representa para a sociedade.

Meu caro Francesco Guerra,

Espero que não se importe que lhe responda publicamente.

Recentemente, dediquei algum tempo à análise e comparação de dois grupos criminosos de grande notoriedade: o MS-13 e o PCC, já que minha análise e comparação de dois outros grupos, o Tren de Aragua e o Primeiro Comando da Capital, não lhe agradou.

Mas, acredito que os pontos em comum entre essas organizações possam ser de seu interesse e, por isso, compartilho minhas descobertas.

Origens e Expansão das Gangues MS-13 e PCC

O MS-13, também conhecido como Mara Salvatrucha, teve suas raízes em Los Angeles na década de 1980, formado principalmente por imigrantes salvadorenhos.

Com o tempo, a gangue se espalhou por diversos países da América Central, como El Salvador, Honduras e Guatemala.

Por outro lado, o Primeiro Comando da Capital foi fundado em São Paulo, Brasil, em 1993.

Esta organização criminosa cresceu e consolidou-se no sistema prisional brasileiro, expandindo-se para outros estados e até mesmo se espalhou por diversos países da América do Sul, como Bolívia, Paraguai e Argentina.

Ambos os grupos têm mostrado uma expansão territorial notável, buscando novos territórios e estabelecendo alianças com outras organizações criminosas, acumulando poder militar, econômico e político, na medida em que agora representam ameaças existenciais aos estados em que atuam.

Os dois grupos emergiram de bairros pobres e nas prisões onde o estado historicamente manteve uma presença brutal, repressiva e corrupta.

Estrutura e Organização das Organizações Criminosas

Francesco, é interessante notar que tanto o MS-13 quanto o PCC têm uma estrutura hierárquica bem definida. No MS-13, a liderança é composta por “palabreros”, que coordenam as atividades da gangue e supervisionam os membros mais jovens. O PCC, por sua vez, possui uma estrutura complexa com líderes, gerentes e soldados, organizados de forma a garantir a continuidade das operações mesmo com a prisão de membros-chave, comparei certa vez esse sistema a grama, não sei se se lembra:

Assim é a facção criminosa paulista. Cada unidade dessa estrutura gramínea é autônoma, mas suas raízes se emaranham por todo o jardim — por menor que seja a unidade, ela ainda é parte importante no fortalecimento do todo.

A facção PCC 1533 e o Exército do Povo Paraguaio EPP

Os líderes coordenam por meio de órgãos conhecidos como sintonias (PCC) e ranflas (MS-13), mas os grupos locais têm liberdade significativa para implementar as decisões tomadas pela liderança.

Atividades criminosas

A violência é uma instituição tão natural como a própria vida humana. Decorre do nosso instinto de sobrevivência, sendo o grande motivo para o homem ter dominado a natureza. Mas essa afirmação não pretende trazer glamour à violência.

Talvez no último estágio da existência humana, a evolução definitiva seja exatamente vencer o instinto natural que nos propala a nos destruirmos mutuamente.

Conexão Teresina: uma crônica sobre a atuação do PCC no Piauí

As principais atividades criminosas em que o MS-13 e o PCC estão envolvidos incluem tráfico de drogas, extorsão, sequestro e assassinatos.

Além disso, ambos os grupos utilizam violência brutal e demonstrações de força para intimidar rivais, autoridades e comunidades onde atuam, e tem conexões e atividade em três continentes: África, América e Europa.

Ambos compram cocaína diretamente de fornecedores atacadistas na Colômbia, Venezuela, Bolívia ou Equador para revenda na cadeia de valor. Ambos os grupos também fizeram incursões no controle de partes da cadeia de fornecimento de precursores químicos usados ​​na fabricação de drogas sintéticas.

Impacto social e político

Os dois grupos exercem um impacto social e político significativo nos países onde atuam. Eles afetam a vida das comunidades locais, alimentando o medo e a violência, e muitas vezes corrompendo as instituições governamentais. Isso resulta em uma deterioração da ordem pública e da estabilidade social.

O PCC tem um amplo alcance multicontinental, vínculos diretos com o tráfico e distribuição de cocaína na América do Sul, amplo controle territorial e capacidade militar no país economicamente mais significativo da América Latina, uma capacidade demonstrada de realizar ações espetaculares multimilionárias roubos de dólares e a capacidade de obter legitimidade social por meio da música e da mídia social.

Por outro lado, o estudo apresentado pelo Centro de Estudios Estratégicos del Ejército del Perú CEEEP:

Em muitos lugares, eles são vistos como autoridades mais legítimas do que o Estado. (…)  O resultado final deixa os grupos armados não estatais substituindo funções estatais, controle territorial e legitimidade percebida.

Os “crias” brasileiros, assim os integrantes do grupo criminoso salvadorenho, são fruto de fragmentação familiar e crescente desemprego juvenil e em ambos os casos, em ambos os casos, homens são mais de 90% de sua composição.

As organizações criminosas fornecem uma alternativa à economia formal e aos tradicionais mercados econômicos informais — mal remunerados e sem perspectiva de crescimento.

Em resumo, meu caro Francesco, as semelhanças entre o MS-13 e o PCC são notáveis. Ambos são organizações criminosas altamente estruturadas e violentas, com atividades que abrangem diversos países.

Legitimidade política

Francesco, como você sabe, o Primeiro Comando da Capital tem conquistado espaço nos governos da Bolívia, Argentina e Brasil.

Da mesma forma, o estudo do CEEEP mostra que o MS-13 também tem ganhado espaço dentro dos sistemas de governança locais, municipais e nacionais:

Ambas tornaram-se importantes impulsionadores da corrupção, do colapso do Estado e do controle criminoso de instituições e funções estatais no hemisfério.

Enfim, o envelhecimento

Meu caro Francesco,

Talvez o fenômeno que temos observado recentemente – o abandono de áreas menos rentáveis e a concentração na Rota Caipira e na Rota MarcoSur – não seja apenas uma escolha pelo lucro, mas também uma consequência do envelhecimento das lideranças:

Nosso trabalho de campo com o MS-13 nos últimos três anos descobriu que, à medida que os líderes e membros de gangues envelhecem e criam famílias, eles desejam cada vez mais um estilo de vida diferente e menos violento para seus filhos e netos, enquanto permanecem ativos no mundo do crime.

Os especialistas do Primeiro Comando da Capital disseram que a mesma tendência geral também está ocorrendo dentro desse grupo.

A crescente influência desses grupos deve ser motivo de preocupação para as autoridades e a sociedade em geral. Espero que minhas descobertas possam ser úteis para futuras investigações.

Atenciosamente,

Rícard Wagner Rizzi

Ah! Sugiro a leitura do artigo base deste texto, onde, além do que foi mencionado aqui, os autores também abordam as diferenças entre os dois grupos criminosos:

Evolution and Impact of Gangs in Central America and Brazil by Douglas Farah and Marianne Richardson.