A facção PCC 1533 na era Bolsonaro
Se até 2018 não se podia falar em “crime organizado” sem mencionar a facção PCC 1533, neste ano ela ficou somente em 14º lugar entre os “principais assuntos relacionados” e sequer apareceu no quadro das “principais pesquisas relacionadas”.
Além disso, os usuários do Google, pela primeira vez, não vincularam o nome da facção paulista ao termo “organização criminosa” ― em 2018 o PCC estava em 16º lugar nos “principais assuntos relacionados”.
Nada acontece por acaso, e essa invisibilidade e desinteresse do usuário do Google é consequência do amadurecimento da organização e da ascensão ao poder do presidente Jair Bolsonaro e do fortalecimento das milícias pelo Brasil.
Os links no decorrer deste texto encaminham para o gráfico Treds específicos; e os índices estão na escala de 0 a 100, mesmo que sejam fruto da análise de termos independentes que se completam, como: “guerra entre facções” e “PCC vs CV” ou “Primeiro Comando da Capital”, “PCC 1533” e “facção PCC”.

O fim da era das guerras entre facções
Bolsonaro e Wilson Witzel enfraqueceram a facção carioca Comando Vermelho (CV), e com isso a facção paulista Primeiro Comando da Capital pôde se dedicar aos negócios longe dos holofotes midiáticos.
As cruéis execuções que ocorreram corriqueiramente até 2018, tanto nas ruas quanto dentro dos presídios, quase que desapareceram dos noticiários e das redes sociais, tendo sido substituídas pela “violência policial”.
O PCC e seu aliado carioca, o Terceiro Comando Puro (TCP), teriam fechado acordos com grupos milicianos evitando o confronto direto com seus inimigos, que passaram a morrer em “confronto com a polícia”, diminuindo a atenção pública sobre a organização criminosa.
O crime organizado estaria ainda mais organizado: agora passa a utilizar as forças de segurança do Estado.
Em 2018, enquanto a “guerra entre facções” alcançou 90 pontos, a busca por “violência policial” chegou a zero. Já em 2019 a posição se inverteu, e para cada pesquisa pelo termo “guerra entre facções” foram feitas quatro por “violência policial”.
Quem te via e quem te vê:

A “facção PCC 1533” já é de casa
Cada vez mais o usuário do Google trata com intimidade a facção paulista.
A forma como se faz a consulta reflete o tipo de usuário: se o termo completo é, por um lado, mais utilizado por profissionais como jornalistas, pesquisadores ou agentes públicos, por outro, os termos curtos são buscados pela garotada.
A garotada quer saber sobre “frases do PCC” ou “o que significa 1533” e navegar pelas imagens dos símbolos; já os que pesquisam pelo nome completo buscam informações sobre o Estatuto, Marcola e o Comando Vermelho.
As principais perguntas feitas na rede mundial sobre o PCC 1533 foram: “quando surgiu?”, “qual é o lema?” e “qual é a maior facção criminosa do Brasil?”.
Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, voltou a ser lançado ao estrelato em 2019, mantendo o mesmo índice de audiência de sua transferência de 2014 (49 pontos). O interesse público por ele só foi superior em 2006 durante os ataques do PCC (100 pontos).
As pesquisas por imagens da facção utilizando-se o Coringa superaram Yin Yang (Town & Country), Marcola, carpa e Bob Marley somados, só ficando atrás do “palhaço” (não obrigatoriamente o Coringa) ― consequência do filme lançado em 2019.
Segundo o Google, outras pesquisas relacionadas à facção são: favelas, penitenciária, grupo musical Facção Central, arma, mal e, por incrível que pareça, curriculum vitae.
Para minha maior surpresa:
Os usuários do Google não vincularam o Primeiro Comando da Capital aos termos “sistema prisional”, “opressão carcerária”, e “tráfico de drogas”. Nas buscas relacionadas a “presídio” o PCC ficou apenas em 16ª posição.

A facção PCC 1533 no mundo
A falta de ações espetaculares derrubou o interesse pela organização criminosa no exterior, que passou quase despercebida. As principais pesquisa foram feitas em Portugal, Taiwan, Países Baixos, Argentina e Itália.
Em língua espanhola se consolidou “Primer Comando Capital”, sendo o termo “Primer Comando de la Capital” utilizado apenas raramente na Argentina. Os países onde houve mais buscas foram: Uruguai, Paraguai, Argentina, Peru e Chile.
Assim como no Brasil, a facção também foi utilizada como ferramenta em campanha política, como demonstra os dados do Trends: o Uruguai alcançou 100 pontos em 2019, enquanto que no restante da década a média foi inferior a 1 ponto.
A soma de todas as pesquisas em língua espanhola feita pelo mundo (excetuado o Uruguai) seguiu a proporção usual: para cada quatro pesquisas feitas no Paraguai, uma é feita em outro local da América do Sul.
Em inglês, as pesquisas têm duas origens: Inglaterra e Estados Unidos. Sendo que na terra da Rainha todas as pesquisas utilizam o termo “First Capital Command”, enquanto que nos EUA 57% delas seguem a grafia “First Command of the Capital”.

A facção PCC 1533 nos estados
Historicamente Alagoas é o estado em que mais se pesquisa a respeito do termo “Primeiro Comando da Capital”, e neste ano não foi diferente, mas o que salta aos olhos é o aumento que se deu nas pesquisas vindas do Distrito Federal, do Espírito Santo e do Maranhão.
Se na maioria dos estados da federação não houve alteração significativa de interesse a respeito da facção, nos estados da Bahia, do Mato Grosso do Sul e do Rio Grande do Norte as buscas caíram pela metade.

Agradecimento aos mais de 130.000 visitantes que nos prestigiaram em 2019 com 265.000 visualizações.