Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533)

O Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533) alguns desafios históricos superados e as previsões feitas em 2007 que falharam.

Primeiro Comando da Capital: entendendo a falta de entendimento

Creio que mais da metade dos meus leitores nesse site tem menos de trinta anos, portanto, nasceu após a fundação do Primeiro Comando da Capital.

Com certeza absoluta, mais da metade dos brasileiros (50,3%) nasceram após a criação da organização criminosa Comando Vermelho no Rio de Janeiro em 1979.

Será que você terá nascido após meu primeiro contato com a facção em maio de 2006: meus leitores tem menos de 30 anos de idade.

Por isso não ligo de repetir informações já há muito conhecidas, e não mais me espanto quando confundem 2003 com 1993, datas já tão distantes.

Por isso não me espanto também no completo desconhecimento de uma das mais importantes ferramentas utilizadas para o crescimento da organização: as centrais de telefones fixos!

Marcola não é um dos fundadores do Primeiro Comando da Capital

Por isso, citando trechos do livro de Roberto Porto, procuro esclarecer pontos que me parecem importantes, como: Marcola não é um dos fundadores do PCC.

Permita-me esclarecer este equívoco que tem sido erroneamente difundido pela mídia e pela sociedade.

Na verdade, Willians Herbas Camacho, o Marcola, não é um dos fundadores da facção paulista, embora ele seja ainda hoje um membro importante da organização.

Acredito que este equívoco tenha sido originado pela tendência humana de atribuir uma figura central a um movimento ou organização.

É compreensível que as pessoas procurem identificar uma liderança ou um fundador, mas essa busca por uma figura emblemática pode muitas vezes obscurecer a realidade.

LIVRO GRÁTIS NO KINDLE: Este instigante livro conta a história de Marcola, que chegou a morar nas ruas de São Paulo após fugir de casa. Ele é apontado por pesquisadores e investigadores como o responsável por transformar o PCC

Além disso, a mídia e a opinião pública muitas vezes buscam simplificar ou “dramatizar” a realidade, o que pode levar a erros e equívocos.

É importante que o jornalismo, assim como a literatura, buscar a verdade, mas nem sempre essa busca é fácil ou bem-sucedida.

A verdade é muitas vezes estranha demais para a ficção.

Sir Arthur Conan Doyle em sua obra “Um Estudo em Vermelho”

Por isso, é importante sempre verificar as fontes e não aceitar informações sem questionamento, especialmente quando se trata de assuntos tão sérios e complexos.

Marcola estava em 2013 na Casa de Custódia de Taubaté durante a revolta e a fundação do PCC, mas ficou na dele, inicialmente sem aderir.

No entanto, realmente o Primeiro Comando da Capital só se tornou o que é hoje graças ao direcionamento dado por Marcola que ainda hoje é sua liderança mais conhecida, apesar dele negar ser da facção.

Líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcola, 48 anos, nasceu na Vila Yolanda, em Osasco (SP).

Órfão de mãe, não conheceu o pai e já roubava aos 9 anos, no Centro de São Paulo.

Sua primeira condenação foi em 1987 por assalto à mão armada.

Só foi preso em 1999 por participar de dois roubos a banco e cumpre pena em presídio de segurança máxima em Presidente Venceslau

Revista ISTO ÉOs donos do crime

O Marcola era homicida, sequestrador, roubava banco, não tinha nada a ver com a facção, mas é um homem articulado.

E quando ele foi levado para o presídio de Tremembé começa a conversar com os últimos presos políticos no sistema prisional e aprende com eles sobre como estruturar o tráfico, a gerenciar como uma empresa, ao mesmo tempo em que vende internamente para os detentos a ideia de uma irmandade revolucionária.

desembargadora Ivana David
Marcola nega ser do Primeiro Comando da Capital

Primeiro Comando da Capital: como time de futebol

José Talles Guedes Pinheiro escolheu como tema de seu estudo acadêmico: “A influência das facções criminosas no sistema penitenciário brasileiro”.

No qual, ele reservou um momento para contar a história do Primeiro Comando da Capital, facção paulista que, segundo o livro de Roberto Porto, teve sua origem na Casa de Custódia e Tratamento “Dr. Arnaldo Ferreira”, em Taubaté, interior de São Paulo, no mês de agosto de 1993.

Originariamente, o Primeiro Comando da Capital era o nome de um time de futebol que disputava o campeonato interno do presídio de Taubaté, na época estabelecimento apelidado pelos detentos como “Piranhão” ou “masmorra”, por ser considerado o mais severo do sistema.

Os detentos da Casa de Custódia tomavam banho de sol apenas uma hora por dia, ao lado de um pequeno grupo de encarcerados, no máximo dez. Todos permaneciam em celas individuais, sem direito a visita íntima.

Roberto Porto — Crime Organizado e Sistema Prisional
Texto: "originalmente, o Primeiro Comando da Capital era o nome de um time de futebol que disputava o campeonato interno..."

Continuando, Porto relata que

Consta que ao chegar à final do campeonato, o time Primeiro Comando da Capital, integrado pelos presos denominados fundadores José Marcio Felício, o Geleião, Cezar Augusto Roriz, o Cezinha, José Eduardo Moura da Silva, o Bandeijão, Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra, dentre outros, resolveu, em vez de jogar futebol, acertar as contas com dois integrantes do time adversário, resultando na morte destes presos.

Deste ato, que 24 tomou contorno de reivindicação contra as precárias condições do sistema prisional, se originou a facção criminosa.

Roberto Porto — Crime Organizado e Sistema Prisional
O abandono do sistema prisional por parte do Estado propiciou a formação e crescimento de facções criminosas que dominam a grande maioria dos presídios brasileiros…

Como foi percebida pelas autoridades o nascimento do PCC

Porto cita um relatório dos promotores de Justiça do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (GAECO), sobre o nascimento do PCC.

Assim nasceu o PCC, cuja meta inicial era a prática de extorsões contra detentos e seus familiares, bem como determinar a realizar execuções de outros presos visando dominar o sistema carcerário, realizando o tráfico de entorpecentes no interior dos presídios e cadeias públicas.

Com o passar dos anos a organização criminosa estendeu suas operações, passando também a realizar inúmeros crimes fora do sistema prisional.

Roberto Porto — Crime Organizado e Sistema Prisional

Ao longo dos tempos a facção criminosa, PCC, manteve-se a mesma estrutura, basicamente piramidal, contando em seu topo com os chamados Fundadores.

Além deles, aqueles que, em virtude de seu destaque no mundo do crime, alcançaram posição de prestígio: como foi o caso de Marcola.

Também haviam aqueles que podiam participar da organização criminosa, por matarem outros presos ou executarem ações em nome da organização.

Esta estrutura piramidal foi alterada ao longo dos anos.

Hoje, o Primeiro Comando da Capital é dividido em células, de modo a permitir a continuidade das atividades criminosas mesmo com o isolamento dos líderes”.

Roberto Porto — Crime Organizado e Sistema Prisional

Nesta base piramidal, ainda se compõe de integrantes em escala hierárquica inferior, os chamados “batizados”, denominados assim por aderirem ao estatuto da facção, estes membros são considerados ativos da sociedade criminosa.

No entanto, ao contrário do que Porto afirma, dentro da facção PCC, existe a igualdade entre todos os integrantes e não uma hierarquia vertical.

Mais uma previsão que falhou sobre o PCC

O ano do apogeu desta facção foi em 2001, como afirma Roberto Porto:

O apogeu desta facção criminosa adveio quando ocorreu a maior rebelião prisional da qual se tem notícia no mundo, a chamada Megarrebelião, em 18 de fevereiro de 2001.

Tal rebelião envolveu 29 presídios com ações simultâneas.

O governo estima em 28 mil o número de rebelados reunidos pelo Primeiro Comando da Capital, em 19 municípios.

Roberto Porto — Crime Organizado e Sistema Prisional

Porto publicou sua obra em 2007, portanto, o país já havia assistido estarrecido o poder da organização nos ataques em São Paulo em 2006.

Só posso imaginar que a obra já tivesse em mãos dos editores antes dos ataques e que o autor optou por não mudar.

O Primeiro Comando da Capital mostrou que a facção estava vivendo o seu apogeu naquele momento, ou ainda teria mais outros momentos de superação.

O PCC é uma organização criminosa altamente adaptável e resiliente, que evoluiu ao longo dos anos, surpreendendo sempre seus caçadores.

O responsável pelo pânico generalizado: ataques contra as forças policiais, incêndios a carros e ônibus realizados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). Esta obra apresenta o caminho que levou o PCC a atingir tamanho grau de influência no sistema carcerário e nos bairros periféricos, culminando na paralisação de São Paulo…

Razões da resiliência da facção PCC 1533

Embora as autoridades e estudiosos possam ter afirmado que o PCC estava enfraquecido em determinados momentos, isso não significa necessariamente que o grupo estava em declínio.

A facção paulista é conhecida por sua capacidade de se reorganizar e se fortalecer após operações policiais e outras pressões do governo.

A organização é altamente hierarquizada, o que permite que ela responda rapidamente a mudanças nas circunstâncias e mantenha sua estrutura operacional mesmo quando seus líderes são presos.

Além disso, o PCC é uma organização criminosa altamente diversificada, envolvida em diversas atividades ilegais, incluindo tráfico de drogas, roubo, extorsão, sequestro e assassinato.

Essa diversificação permite que a organização se adapte e encontre novas fontes de receita, mesmo quando as atividades tradicionais estão sob pressão.

Outro fator que contribui para a aparente força do PCC é sua capacidade de se infiltrar nas instituições governamentais, incluindo o sistema prisional, a polícia, e a política.

A organização é conhecida por ter uma rede de agentes infiltrados que ajudam a garantir sua sobrevivência e expansão.

Centrais telefônicas uma jogada de mestre

No mundo do crime organizado, a comunicação sempre foi uma ferramenta fundamental para garantir a segurança e a eficiência das operações.

Desde os primórdios do Primeiro Comando da Capital, seus membros entenderam a importância da comunicação telefônica como uma forma rápida e segura de trocar informações e coordenar atividades.

Uma das grandes apostas do Primeiro Comando da Capital foi a implantação de “centrais telefônicas” descentralizadas, em um tempo em que quase não havia celulares — além de só falarem “alô”!

Nos primórdios da organização, as centrais telefônicas de telefone fixo eram o principal meio de comunicação disponível.

As ligações eram feitas através de linhas dedicadas, o que garantia a privacidade das conversas.

Os membros do PCC utilizavam essas linhas para se comunicar entre si e com os chefes da organização, trocando informações sobre os planos de ação e as movimentações da polícia.

…segundo o Ministério Publico Paulista (MP-SP), a proliferação do Primeiro Comando da Capital só foi possível graças à existência das chamadas “centrais telefônicas”, expressão hoje já popularizada.

Consistiam sempre em linhas telefônicas instaladas em locais quaisquer, programadas com o escopo de efetuarem a transferência de chamadas ou o que se denomina “teleconferência” (três pessoas falando ao mesmo tempo).

Roberto Porto — Crime Organizado e Sistema Prisional
Por meio de episódios impressionantes, PCC, A FACÇÃO envolve o leitor em uma trama que, muitas vezes, parece saída de um filme de ação. Mas, infelizmente, faz parte da realidade brasileira e do sistema carcerário.

O que mudou no PCC de 2007 até os dias de hoje?

Quanto a vós, sede fecundos, multiplicai-vos, povoai a terra e dominai-a!

Gênesis 9:7

Em 2007 quando Porto publicou seu livro, a facção criminosa, não se encontra delimitada somente no território paulista, mas já se encontra em outros estados.

Todavia, esta facção criminosa não se encontra delimitada em território paulista.

A transferência de lideranças do Primeiro Comando da Capital para outros Estados permitiu uma expansão e sobretudo uma consolidação de alianças que resultaram em uma estrutura hoje nacional.

Mas não somente a parte material e operacional foi desenvolvida; também a parte ideológica sofreu grandes alterações.

Roberto Porto — Crime Organizado e Sistema Prisional

No ano de 2007, o PCC já havia consolidado sua posição como uma das maiores facções criminosas do Brasil, com forte presença no estado de São Paulo e em outras partes do país.

Os negócios da facção se estendiam desde a venda de drogas ilícitas até o controle de presídios e a realização de crimes violentos, como assassinatos e sequestros.

No entanto, durante os anos que se seguiram, contra todas as expectativas, o PCC continuou a expandir seu território e seus negócios de drogas.

Muito graças a própria ação do estado, que jogava no regime carcerário integrantes da facção em todos os cantos expandindo sua ideologia.

Expandindo para o Brasil e para o mundo

A organização criminosa ampliou sua presença em outras regiões do Brasil, como o estado do Rio de Janeiro, onde estabeleceu alianças com outras facções locais.

Além disso, o PCC se expandiu internacionalmente, estabelecendo relações com outras organizações criminosas em países como Paraguai e Bolívia, que são importantes rotas para o tráfico de drogas.

Nesse período, o PCC também aprimorou sua estrutura organizacional, tornando-se ainda mais hierarquizado e profissionalizado.

A facção passou a contar com uma série de departamentos especializados, como o setor financeiro, responsável por gerenciar as finanças da organização, e o setor de comunicações, que utilizava tecnologia avançada para manter a comunicação entre os membros do PCC.

Em relação aos negócios de drogas, o PCC expandiu sua atuação para outras drogas além do tradicional tráfico de cocaína.

A organização criminosa passou a se envolver também com a produção e distribuição de maconha, ecstasy e outras drogas sintéticas.

Mais do que a reflexão a respeito das diversas questões que certamente decorrerão dos tópicos apresentados, a pretensão de apresentar a realidade extramuros dessa que, em termos territoriais e humanos, é a maior organização criminosa do Brasil, objetivando fomentar a discussão…

Apesar dos esforços do governo brasileiro para combater o PCC, a facção continuou a se fortalecer e a expandir sua presença no país e na região.

O grupo passou a realizar operações complexas e sofisticadas, como o resgate de líderes presos e o ataque a delegacias e unidades policiais.

Assim, podemos concluir que, entre os anos de 2007 e 2023, o Primeiro Comando da Capital consolidou sua posição como uma das mais poderosas organizações criminosas do Brasil, ampliando sua presença territorial e aprimorando seus negócios de drogas.

Ainda que tenha enfrentado diversos obstáculos, a facção se mostrou capaz de se adaptar e se fortalecer diante dos desafios impostos pelo ambiente criminal e pelo estado.

Autor: Ricard Wagner Rizzi

O problema do mundo online, porém, é que aqui, assim como ninguém sabe que você é um cachorro, não dá para sacar se a pessoa do outro lado é do PCC. Na rede, quase nada do que parece, é. Uma senhorinha indefesa pode ser combatente de scammers; seu fã no Facebook pode ser um robô; e, como é o caso da página em questão, um aparente editor de site de facção pode se tratar de Rícard Wagner Rizzi... (site motherboard.vice.com)

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