O garoto do Bonde dos 13 (B13) e o SISFRON/ENAFRON

Alguém se lembra do esperanto? Sei que quando eu era moleque, cheguei a me inscrever em um curso dessa desconhecida língua, em uma suja e secundária rua do bairro da Lapa e, para minha surpresa, dando uma olhada no Google Street View, vi que a escola ainda está lá, e a rua está ainda mais suja e secundária.

A ideia por trás do esperanto é fazer com que as pessoas de todo o mundo fiquem mais próximas umas das outras, acabando com conflitos e criando um sentimento compartilhado de humanidade que garantiria a paz”. Legal, né? Mas não funcionou, assim como não funcionaram o Plano Estratégico Nacional de Segurança Pública nas Fronteiras (ENAFRON) e o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON) para combater os crimes transnacionais.

Bem, o ENAFRON e o SISFRON são programas que integram nossas forças de segurança às dos países vizinhos, e já funcionam há mais de uma década, “só que não” – essa semana, o PCC arrebentou nos noticiários de nossos vizinhos sul-americanos com ações de sucesso e alguns fracassos.

Pela enésima vez, o Ministro do Governo boliviano Carlos Romero Bonifaz tentou se entender com as autoridades brasileiras:

“Hemos insistido mucho en tener oficiales de alta graduación de la Policía Federal de Brasil y se aceptó la designación para una lucha conjunta contra el crimen”. 

Não quero falar nada, não, mas a coisa, provavelmente, não sairá do papel. Quem, de fato, combate o crime organizado das facções criminosas no Brasil não é a Polícia Federal ou as Forças Armadas, mas, sim, a Polícia Militar e a Promotoria de Justiça por meio de seu braço investigativo: a Polícia Civil. São os estados, não a União, que combatem, de verdade, as facções. (adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});

Enquanto a alta cúpula civil, militar e policial reuniam-se com Romero, assim como foi feito no passado com o Rei Luiz XVI, o Primeiro Comando da Capital infiltrou-se , utilizando-se de pessoas simples, nas ruas sujas e escuras, assim como os revolucionários franceses fizeram no passado.
Na pequena cidade de Cobija, um dos líderes pego pelas autoridades sequer era do Primeiro Comando da Capital, mas do Bonde dos 13 (B13), facção aliada do estado do Acre. Os garotos estão dominando as ruas, enquanto a cúpula, há décadas, se reúne.

A ideia por trás do esperanto, assim como a sede na rua da Lapa e o sonho da União por uma polícia de fronteira efetiva continuam aí, mas os governos caem antes de alcançar seus objetivos, afinal, são divididos, loucos para provarem que suas perucas são mais importantes que as dos outros.

Polícia Federal, Forças Armadas, Polícia Civil, Policiais Militares, Guardas Civis, Polícias Rodoviárias, Ministério Público (isso só dentro do Brasil)… enquanto isso, Jorge Pisco da Silva, o rapaz do Bonde dos 13, invade a Bolívia com ou sem o SISFRON/ENAFRON.

“Cada governo deve adotar uma política de cooperação bilateral e multilateral sincera e profunda, isso é crucial para alcançar os resultados desejados.” – Mariano Bartolomé, Profesor Titular, Licenciatura en Relaciones Internacionales en Universidad Austral, Argentina.

O lado bom é que a Bolívia ainda é um dos países com as menores taxas de insegurança cidadã na América Latina, de acordo com dados estatísticas das Nações Unidas, como lembrou o Secretário Romero. Agora, se ele não conseguir resultados rápidos o lado bom mudará de lado.

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Autor: Ricard Wagner Rizzi

O problema do mundo online, porém, é que aqui, assim como ninguém sabe que você é um cachorro, não dá para sacar se a pessoa do outro lado é do PCC. Na rede, quase nada do que parece, é. Uma senhorinha indefesa pode ser combatente de scammers; seu fã no Facebook pode ser um robô; e, como é o caso da página em questão, um aparente editor de site de facção pode se tratar de Rícard Wagner Rizzi... (site motherboard.vice.com)

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