Ninguém há de me convencer que Bornai não sonhou noites a fio com aquele momento. Sentia-se pesado ao entrar no Tribunal do Júri da Comarca de Itu, no interior paulista.
Bornai foi retirado da cela do Fórum, onde aguardou sozinho ser chamado frente aos cidadãos que decidiriam se ele havia matado Ozenildo Bezerra Freire e tentado matar Juarez Brito Souza, o Alemão.
Cabeça baixa seguiu um Policial Militar pelo curto corredor estreito e escuro que separa a cela do salão do júri, este um lugar démodé, austero, e com seus cadeirões inquisitoriais.
Ele passou por ali inúmeras vezes nos últimos anos, pois o local é passagem entre a cela e as salas de audiências do Fórum. Sua mente fantasiou os diálogos milhares de vezes, ora ganhava a liberdade, ora não.
Fé em Deus! Não resistiu e deu uma breve olhada em direção aos seus amigos e familiares que foram para assistir o julgamento, mas não olhou para os jurados e para mais ninguém.
Dr. Hélio Villaça Furukawa, juiz presidente do Tribunal do Júri, faz breve narrativa sobre à razão pela qual Luciano Manoel da Silva, o rapaz conhecido como Bornai, está ali para ser julgado.
Madrugada de sábado, 12 de maio de 2007. 3h20
Próximo ao Quiosque do Japa, Praça Segundo Ferreti, Itu, SP.
Bornai conversa com Alemão, os ânimos se acirram. Alemão quer receber o dinheiro da droga que teria vendido e Bornai tenta mais um prazo. “Vou pagar, vou pagar, sê rá ligado que eu pago!” – não suplica pelo prazo, diz de maneira definitiva.
Alemão não baixa a bola, não pode, pois os fracos não sobrevivem no mundo do tráfico. Encara de frente Bornai e manda que pague. Talvez tenha dado uma última chance de acertar suas contas, talvez não.
O fato é que Bornai em algum momento passou a Leandro Henrique Rodrigues, o Neguinho, a arma que matou Ozenildo. Ele estava lá, e fez ver ao traficante que os fortes também morrem.
Juarez deve sua vida a falta de precisão nos tiros dado por Neguinho, e no decorrer do processo negou ter reconhecido Bornai como sendo participante no crime. Se por medo ou por preito a verdade só ele sabe.
“In dúbio pro societate” o rapaz ficou preso quase três anos até aquele momento em que entrou no salão do júri, ouviu o juiz presidente e foi ouvido por ele. Poucas perguntas. Queria falar tudo que tinha pensado, mas pouco falou.
O promotor de justiça da comarca de Itu, Dr. Luiz Carlos Ormeleze, pede aos jurados que absolvam o réu por falta de provas. A família e o rapaz exultam em silêncio. A sentença é dada e Bornai volta a liberdade.
Em doze de maio de 2007, dia das mães, Bornai escolheu ficar no convívio de seus amigos, três anos ficou preso por ter tomado esta decisão, agora livre terá chance de escolher novamente.
Já Neguinho, só veio a ser julgado em 26 de agosto de 2010, sendo também considerado inocente pelo Tribunal do Júri de Itu, pelo mesmo motivo que Bornai, falta de provas.