Os grupos social e economicamente vulneráveis costumam conviver com a instabilidade e a expectativa de que, a qualquer momento, um tiroteio ou uma abordagem policial violenta pode romper sua suposta tranquilidade, ceifando suas vidas. Por isso, termos como “terrorismo de Estado”, “violência de Estado”, “brutalidade de Estado”, “genocídio” e “violência política” foram mobilizados pelos nossos informantes para caracterizar as violações cometidas reiteradamente por atores públicos contra pessoas empobrecidas.
Nesta mesma lógica, ganhou destaque nas narrativas dos/as entrevistados/as a ação de grupos criminais em espaços de periferia. No caso paulista, por exemplo, se sobressaiu a ação da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) nas áreas de periferia. O grupo impõe um conjunto de valores e regras de ordem moral às populações marginais. E esse código de comportamentos se relaciona aos debates, conhecidos pela imprensa como “tribunais do crime”, cujo objetivo final é o julgamento extralegal de pessoas acusadas de transgredir as normas do grupo. Ou seja, esta forma de administração de conflitos, inaugurada inicialmente entre os presos para regular as condutas no cárcere, ganhou legitimidade em parcelas pobres da população que passaram a acionar o PCC para resolver rixas interpessoais, evitando uma solução por via letal. E, mais ainda, evitando recorrer ao Estado para a solução de seus problemas.