Diorgeres de Assis Victorio sabe o que ocorre dentro dos presídios: passou parte de sua vida atrás das grades e protagonizou a inesquecível cena na qual integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) mantiveram na ponta de uma faca um agente penitenciário (ASPEN) — ele era o agente.
Reproduzo a seguir alguns trechos de sua autoria publicados na ReVista: The Harvard Review of Latin America :
Esses mais de 24 anos imersos em pesquisas prisionais, vivendo dia após dia às vezes durante o dia, às vezes à noite me fizeram aprender muito com seus habitantes.
Casos de subnotificação estão ocorrendo, o que me lembra os diálogos que tive com os presos que sobreviveram ao Massacre do Carandiru em 1992, em que policiais militares invadiram uma penitenciária após um motim na prisão, e me informaram que ajudaram a colocar os corpos de mortos dentro dos caminhões de lixo para que o número oficial de mortos apresentados fosse menor.
Mesmo antes da decisão judicial, a Terceira Geração do Primeiro Comando da Capital (PCC), criada após o massacre do Carandiru, ordenou que as visitas de presos fossem suspensas para tentar evitar milhares de mortes de presos.
Na década de 1990, vi detentos tendo que sair dos pavilhões várias vezes por causa da AIDS. Eles foram acompanhados por membros do PCC que solicitaram tratamento digno para os presos doentes, alegando que esta é a lei, e que é direito do preso ter sua saúde cuidada pelo Estado.
As unidades prisionais não possuíam clínicas ou medicamentos para cuidar de detentos que contraíram tais doenças. Alguns se enforcaram em suas celas; outros foram transferidos para outros pavilhões e tentaram esconder sua doença de companheiros prisioneiros. Isso é muito difícil de fazer e muitas vezes eles acabaram sendo transferidos para a enfermaria.
Não fiquei surpreso com as reações do Estado, do PCC e de institutos como sindicatos. O que eu esperava encontrar no início da pesquisa tornou-se realidade no final da investigação, incluindo as decisões judiciais.
Concluo ainda que, mais uma vez, o PCC aboliu a obrigação do Estado em relação aos casos dessa nova pandemia que assola o sistema prisional paulista, e que, sem dúvida, se não fosse a grande interferência do mesmo (e de outras instituições), o número de mortes seria muito maior, devido à alta aglomeração de presos, ao número impressionante da população carcerária e às pessoas que não usam ou usam indevidamente as máscaras. Ficamos com a irresponsabilidade do governo.
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