Depoimento do delegado Dr. Nicolau aos jurados durante o Tribunal do Júri no qual o Élio Aparecido de Oliveira, o político e empresário do futebol conhecido como Oliveira Júnior, foi condenado a 20 anos de prisão em regime fechado.
No dia 26 de Janeiro de 2006 uma hora depois do crime ele chegou ao Hospital onde se encontravam as vítimas: o advogado Dr. Humberto da Silva Monteiro que havia falecido, e o jornalista Josué Soares Dantas Filho que não foi atingido.
Os tiros foram disparados pelo garupa de uma moto que estava a uns três metros e nem parou, portanto não foi um latrocínio. Foram quatro tiros: um na traseira do veículo, e os outros do lado direito, sendo que um na porta traseira em baixo, outro na porta dianteira na altura da maçaneta, e um quarto que teria passado direto.
Pela posição dos tiros, o delegado concluiu que foram disparados assustar as vítimas, e apenas por um azar um projétil acertou a cabeça do advogado depois de se desviar na lataria do veículo.
Nos dias seguintes apareceram muitas pistas, o que era esperado em um caso de repercussão como esse, mas parecia que estavam sendo passadas para confundir a polícia.
Separado o joio do trigo, chegou-se ao nome do Zeca, como era conhecido José Roberto Trabachini, que naquela época era o presidente da Torcida Jovem do Ituano. Bom, não foi fácil encontra-lo, pois já tinha sido preso por tráfico e por estelionato, e era um informante da polícia. Quando o delegado e os policiais chegaram a ele perguntando se ele estava envolvido nesse caso ele nem titubeou:
“Não. O Brito me pediu para arranjar uns garotos para fazer dar um susto no Dantas, eu arranjei, mas eles desistiram, pode perguntar para eles: o Careca (menor) e o Luizinho (menor).”
Depois o Zeca mudou sua versão acusando a própria vítima, o Dantas, de ter encomendado o atentado: o jornalista levaria como passageiro de seu carro o Dr. Humberto que era seu amigo até o local da emboscada, e ele contrataria alguns moleques para o serviço.
Zeca voltou para sua versão inicial depois de ficar preso um tempo e ver que seus advogados defendiam o mandante e não a ele. Quando já estava quase acabando o prazo para vencer sua prisão temporária ele não estava mais aguentando aquilo, e foi nesse momento que o Dr. Nicolau o procurou em Pilar do Sul onde estava preso, e ele acusou Oliveira Júnior como mandante.
Ele contou que a história envolvendo Dantas como mandante passada por orientação: do segurança do Ituano Clube que era seu cunhado Nicéias de Oliveira Brito; do testa de ferro do empresário, o Cleber Antonio Maldaner; e dos advogados arranjados pelo Oliveira Júnior.
Brito era fiel a seu chefe o Oliveira Júnior. Podia até preso, mas não ia falar.
Mas para a polícia o quadro já estava claro, além dos depoimentos, os advogados ligados a Oliveira Júnior sempre apareciam para acompanhar os envolvidos no caso, e isso era muito estranho. Agora faltava conseguir provar o envolvimento do empresário, e isso só poderia ser conseguido com um depoimento de Brito acusando o próprio chefe.
A prisão de Brito foi decretada pela Justiça. O tempo na prisão foi fazendo efeito. Devagar, devagarinho, o ele foi vendo seus comparsas abrirem o bico para conquistarem a delação premiada, e ao mesmo tempo seu chefe estava evitando contato com ele.
Brito era fiel ao Oliveira Júnior. Cansou de ficar preso e resolveu falar.
Brito contou que foi por Oliveira “dar um susto” no Dr. Humberto e Dantas, mas depois que os dois publicavam em um jornal a foto dele e da esposa acusando-os de ações ilegais, Oliveira mudou de ideia: agora queriam a ambos mortos.
Brito não tinha nada contra os dois, e argumentou com o chefe, afinal todo mundo desconfiaria do Oliveira, mas o empresário insistiu e mandou chamar para o serviço alguém que não tivesse ligação nem com ele.
Brito então foi atrás do Zeca, que arranjou os dois garotos que desistiram quando a ordem de “dar um susto” virou “para matar”.
Tonhão do Ituano Clube (Luiz Antônio Roque) ficou sabendo que os moleques pularam para trás e disse para o Zeca que: “Se quiser eu mando fazer o serviço, é dois palitos.” Tonhão e sua família são barra pesada, ninguém desconhecia disso. E de fato ele resolveu o serviço em “dois palitos”.
Bom, depois disso o delegado Dr. Nicolau Santarém disse que não acompanhou mais as investigações que ficaram por conta da delegacia de Sorocaba. Foi assim, segundo o delegado que as coisas aconteceram.