Meu velho amigo Auguste Dupin esclarece que discernimento é uma palavra cujas correspondentes em gregas são “anakrino” e “diakrino”, cujos significados se completam. Anakrino reporta-nos examinar ou julgar bem de perto e diakrino que nos instiga a investigar e examinar. De fato usamos nosso discernimento ao acusá-la?
Trago portanto aos senhores alguns dados tirados de perto das cenas onde os fatos transcorreram, para que possam então investigar e chegar as suas conclusões.
Sábado, 05 de abril de 2009. 3:30
Rua Cerquilho 25, Cidade Nova, Itu, SP.
O corpo do garoto de seis anos, deficiente físico nas mãos e nos pés, foi encontrado envolto sobre um monte de areia de construção no fundo da casa onde mora, envolto em um edredon, e empapado de sangue sobre sua cabeça, um pano de prato branco estampado: “Livrai-nos de Todo o Mal Senhor.”
A madrasta Camila Cristine Estefano de 20 anos, e a companheira de seu sogro Ivone Regina de Oliveira de 29 anos, encontram-no ainda com vida.
Ivone aciona um vigilante de rua que segue rapidamente até o PAM de Vila Martins, uma ambulância chega em dez minutos na residência. Os médicos do Pronto Atendimento Médico encaminham-no para o Hospital São Camilo, e acionam a Guarda Civil Municipal. Enquanto o GCM Rota passou a acompanhar o garoto e seus familiares, o GCM Marcelo preservava o local do crime.
A Dra. Paola Rosa de Queiroz, médica que atendeu o garoto no hospital lembra que ele chegou inconsciente, com fratura craniana e cortes com hemorragia na cabeça, foi entubado e seu estado era crítico. Segundo familiares, um dos médicos da UNICAMP disse que o “só por Deus” o garoto sobreviveria.
As investigações levaram naquela mesma manhã o delegado de polícia do 4º DP de Itu, Dr. José Moreira Barbosa Netto, a prender a madrasta, que acabou por confessar o crime.
O advogado Dr. José Aldo Ribeiro da Silva revolta-se contra a prisão de Camila. Segundo ele, o garoto só não morreu porque ela teria chamado ajuda em seu socorro. Reconhece que a confissão na delegacia tem validade, mas foi conseguida de maneira imprópria. Camila, uma pessoa simples, estava fora de seu estado normal por haver passado a experiência mais traumática de sua vida, vendo seu enteado naquela situação e ela acusada injustamente. Segundo Dr. Aldo ela foi portanto coagida a confessar através de técnicas de pressão psicológica.
Camila contou antes de ir até a delegacia e depois na Justiça que seu marido Fernando Torres exigia que não seja fechado o trinco da porta da casa que fica voltada para o corredor interno, faz isso para que o garoto pudesse ir até a casa do avô a hora que quisesse. Segundo ela, por lá entrou um casal que praticou este crime e ameaçaram Camila, caso ela os delatassem, voltariam fazer o mesmo com a filha dela, de apenas dois anos de idade.
Fernando Torres, o pai do garoto, seria o verdadeiro alvo da vingança, e o menino apenas o meio escolhido para feri-lo. O crime seria na verdade um plano muito bem elaborado engendrado de dentro da prisão por Adriana Lopes Siqueira, condenada por tráfico de drogas e legítima mãe do menino. Conseguindo incriminar Camila, Adriana se vingaria de Fernando e ainda abriria caminho para seu retorno com o garoto.
Em um país onde políticos inescrupulosos não roubam tanto o dinheiro destinado a segurança, saber o autor de um crime como este seria simples. A talhadeira usada para tentar matar o garoto foi recuperado na mesma madrugada pela Guarda Municipal e entregue à Polícia Civil. Digitais e traços de DNA estariam na arma. Mas aqui, neste caso,tanto a acusação e a defesa se baseiam em Neguinha.
Neguinha é uma cachorra vira-latas que mora naquele corredor. Segundo a acusação Camila mente pois se alguma pessoa estranha lá tivesse chegado, Neguinha teria latido. Já Camila conta que a cachorra não late para ninguém. O próprio garoto, hoje recuperado diz perante a juíza: “… a cachorra Neguinha não late não …” e logo em seguida “… eu tinha um pitbull chamado Thor mas morreu depois que Camila foi presa, mas ele não latia não, quem latia era Neguinha …”