No Clube Comerciários meninos viram homens.

Só me desagrada que, por malícia do demônio, tudo tenha ruído. Ser um homem livre, um cidadão pleno, foi uma conquista que o jovem Diego Marcelo teve pouco tempo para desfrutar. Mal completou seus dezoito anos e tua liberdade foi tirada.

O Demônio inspirou, e Diego gostou do desafio.

Noite, Clube Comerciários, cidade de Itu: testosterona fluindo no ar, álcool e drogas circulando de mão em mão, e garotas passando de boca em boca. Ali garotos viram homens, e meninas viram mulheres. Se dois minutos de papo fazem de um mero conhecido e amigo de longa data, uma palavra, um olhar, um esbarrão podem terminar em morte.
O Demônio inspira, e garotos gostam do desafio.

Diego esbarra na garota que derruba seu copo de cerveja. Algumas garotas gostam disso, testam seus machos, jogam-nos uns contra os outros. Garotos, meras crianças nas mãos das minas. A garota é namorada de Alessandro, que instado, desfere um soco no rosto de Diego. Chega a turma do deixa pra lá que não vale a pena. Isso não vai ficar assim, Diego pagará caro por isso – Alessandro teria dito a alguém. Os dois rapazes viviam no São Judas, e lá morrerá Alessandro, e lá acabará a liberdade de Diego.

O Demônio inspirou, e garotas gostam do desafio.

O temido traficante de drogas Alessandro Aparecido era conhecido como Feio. Moacir Cova, um mestre da investigação criminal em Itu, disse que Diego e Thales eram suspeitos de serem os ladrões de motos da cidade. Com a prisão de Diego e fuga de Thales os roubos de motos praticamente acabaram. Japão e Vampeta eram amigos de Diego, poucos minutos antes do assassinato de Alessandro estavam com Diego e Thales, conhecendo a dupla e vendo que estavam camuflando uma moto, acharam que eles iriam cometer algum assalto, e saltaram de banda. Enfim, todas eram pessoas do mais fino trato.
O Demônio inspira, e seus súditos aceitam o desafio.

Alessandro faz de tudo para ameaçar Diego, vai até sua família, mostra a arma para ele e diz que está marcado, simula estar armado outras vezes, e desfere tapas em seu rosto. Mas naquele dia a coisa não foi assim, segundo Diego, afinal Alessandro está morto e não pode nos dizer o que ocorreu, quando ele chegou no Marujo’s Bar para comprar cerveja, lá estava Alessandro sentado em uma mesa. Ao vê-lo chegar, se levanta e vem em sua direção, coloca a mão na cintura e é o último movimento que faz entre os vivos.

O Demônio inspirou, e Alessandro pela última vez desafiou.

Diego não costuma andar armado – pelo menos o que ele diz. Na noite anterior, um sujeito chamado Arrastão o convidou para uma festa, inicialmente não aceitou, mas como sua namorada Talita deu cano, ele resolveu dar um pulo lá. Porquê Arrastão vendeu ama arma para Diego, só o Demônio pode responder, e não sou eu quem vou lá para perguntar. Diego foi armado para comprar a tal cerveja, e assim acabou seus dias de liberdade depois de ter dado seis pipocos no Feio. Alguns dizem que Alessandro estava ameaçando Diego por dívidas com drogas, outros que ele estava indo fazer um assalto e encontrou ao acaso Alessandro, outros que era o dia que estava marcado para o acerto final, mas o que temos certeza é que ficou lá o corpo estendido no chão.

O Demônio inspirou, e Diego não foge de um desafio.

Autor: Ricard Wagner Rizzi

O problema do mundo online, porém, é que aqui, assim como ninguém sabe que você é um cachorro, não dá para sacar se a pessoa do outro lado é do PCC. Na rede, quase nada do que parece, é. Uma senhorinha indefesa pode ser combatente de scammers; seu fã no Facebook pode ser um robô; e, como é o caso da página em questão, um aparente editor de site de facção pode se tratar de Rícard Wagner Rizzi... (site motherboard.vice.com)

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