José Luiz contou que estava fumando em frente sua casa quando dois desconhecidos chegaram – os detalhes são importantes – pediram cigarro e isqueiro, uma viatura da Guarda Municipal parou e abordou aos três sem nada de ilegal encontrar, e então entraram na casa sem autorização de ninguém. Chegaram muitas viaturas, muitos guardas, todos entrando – tentava não esquecer nenhum detalhe – nada acharam no telhado, mas depois os ouviu gritando que acharam drogas na casa. Droga! Ele foi usuário de maconha, mas nunca traficou. Morava na casa de sua mãe, na Rua Manoel Maria Bueno, no Jardim Santa Tereza, havia alguns meses, e nunca ouviu dizer que houvesse pontos de drogas naquela via, muito menos ali.
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O Promotor de Justiça, Dr. Luiz Carlos Ormeleze, realmente se apegava aos detalhes e perguntava muita coisa, tentava trazer à tona as contradições.
José Luiz prosseguiu acusando: os guardas plantaram as drogas e o dinheiro – ninguém parecia acreditar nele – eles disseram que o dinheiro estava com sua mulher, mas ele saberia se ela tivesse alguma grana, ela teria lhe dito. Tanto ele quanto sua companheira, a sorocabana Camila Régio, disseram na delegacia que tudo era deles, mas foi porque estavam nervosos. Ele achou que ela seria presa se ele não assumisse – ela estava grávida de três meses – e ela assumiu as drogas para protegê-lo, agora estava perdendo a sua família e a sua vida, pois ambos continuam presos. Os guardas jogaram-na na cama, agrediram-na, xingaram-na e além disso sumiram com cem reais que era o dinheiro que sua mãe tinha para pagar o aluguel. Ele era um trabalhador responsável e pontual, tudo bem, estava desempregado há meses e sua moto tinha sido apreendida semanas antes, mas ia arranjar outro emprego, claro que ia.
O Promotor fez mais uma pergunta que lhe pareceu boba, era sobre a carteira de sua mulher.
Cada pergunta… era dela sim a carteira, mas e daí?
A carteira, fruto da boba pergunta do Dr. Ormeleze foi a primeira contradição – sua esposa declarou: a carteira foi dela, há muito tempo, e agora nem sabia mais onde estava. Ela não queria assumir a carteira, pois dentro dela havia oito porções de drogas, mas o dinheiro era dela sim, sua mãe tinha lhe dado para comprar um berço para o bebê. Um a um os detalhes se chocavam aos fatos, cada coisa que um dizia estragava a história do outro.
Solto na cama em que sua mulher estava havia mais duas porções de entorpecentes, entre o forro e a parede da casa mais setenta porções de crack embaladas uma a uma em papel alumínio, e em um porta-moeda havia R$ 193,00 em dinheiro trocado, mais que os cem reais como ele alegou que tinha na casa.
Os advogados de defesa de José Luiz, Drª Karine Bellini Pires e Dr. Paulo Sérgio Vianna, basearam sua linha de defesa no fato de que no Boletim de Ocorrência apenas citavam dois guardas civis, GCCM M. Silva e GCM Eudes, como tendo participado da operação. Segundo os defensores, mesmo no caso de policiais militares, apenas dois homens atuando tornariam esta prisão no mínimo suspeita e citam uma decisão do Relator Dr. Andrade Vilhena do TJSP:
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“É sumamente suspeita a atitude de policiais que, devendo agir o mais estritamente que lhe seja possível dentro da lei, não procuram cercar o flagrante de cautelas outras que lhes assegurem credibilidade.”
Os defensores questionaram:
“Ademais como comprovar que a droga não foi plantada na casa do acusado José Luis? Quem é o verdadeiro proprietário da droga encontrada? Qual a finalidade da prisão? Sem a menor intenção de denegrir a moral das autoridades que diligenciaram a operação! …”
Ao enriquecer de detalhes sua história, José Luiz acabou com a principal linha de defesa que seus defensores haviam construído quando disse que foram várias viaturas e muitos guardas civis que revistaram a residência.
O magistrado ainda não tomou sua decisão neste caso, mas a cada depoimento José Luis e sua mulher Camila, parecem se complicar cada vez mais.
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