Locura e o assassinato na Favela do Issac em Itu.

Não se pode descrever a cena de outra forma: uma fúria demoníaca se apossou de Severino, ele já não sabia mais o que estava fazendo, não era mais ele quem estava no comando daquele corpo. Seguiu em direção a Djalma, seu colega de morada, um deficiente físico sem uma das pernas, que estava bêbado deitado na cama. Djalma Souza da Silva não teria chance aquela noite. Em poucos minutos estaria morto à pauladas.

Anos depois o Promotor de Justiça Dr. Luiz Carlos Ormeleze e o advogado de defesa do réu Dr. José Maria de Oliveira iriam de digladear perante os jurados do Tribunal do Júri da Comarca de Itu para saber o destino de Severino Francisco de Moreira.
Noite de 12 de dezembro de 1996, quinta-feira. Uma noite tão boa para beber quanto qualquer outra. Pelo menos para aqueles dois, que viviam embriagados. Mas o clima já não estava bom entre eles há muito tempo.
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({}); Meses antes, Isaac Shapiro havia convidado Severino Francisco de Moreira, um morador de rua para habitar um barracão de sua propriedade na Avenida Alfredo Savi próximo à Favela do Isaac, no Jardim Novo Itu. Em troca ele deveria ajudar no concerto e na limpeza de móveis e fogões usados de sua loja no centro da cidade. Um bom negócio para ambos.
Severino estava satisfeito também, teve mais uma chance na sua vida, e desta feita não pretendia perder. Mas nem tudo era perfeito. O barracão já tinha um morador: Djalma, um aproveitador e usurpador. Severino via aquele homem com quem foi fadado a dividir o espaço, como um chupim disposto a comer suas próprias entranhas, se ele assim o permitisse. Mas ele não o permitiria. Ele não o permitiu.
Não estamos aqui a levar em consideração nossas convicções pessoais, religiosas ou de foro intimo. Para isso confio no julgamento dos senhores, pois a justiça dos homens já cuidou de Severino à sua maneira.
Mais uma briga: além de ter que trazer comida para o barracão, agora Djalma queria obrigá-lo a cozinhar. Severino foi bêbado para o barracão para se deitar. Severino aguarda tempo suficiente para que ele se ajeite. Segue também para a morada e vai empunhando o objeto que em breve estaria sujo com o sangue de Djalma. Depois do primeiro golpe este ainda tenta se levantar da cama, mas apenas consegue se arrastar pelo chão enquanto outros golpes lhe são aplicados. Um sobre os outros, todos na cabeça, até não mais haver vida naquele corpo.

Severino foi preso, mas fugiu da Cadeia Pública de Itu no dia 2 de junho de 1997. Encarcerado novamente sentou-se perante seu acusador, o Ministério Público da cidade de Itu, que lhe descreveu-o como mal. Apoiado no depoimento perante o júri popular do GCM Machado, que na época participou das investigações do crime, alegou que ele não apenas era um alcoólatra compulsivo, mas como alguém que odeia a todos que o rodeiam. Um perigo para a sociedade, que ele Promotor de Justiça, tem por dever proteger e afastar dos perigos. Pedia, portanto, exemplar condenação.

No entanto o defensor, Dr. José Maria, atentou para que os jurados deliberassem com a razão. Julgar com a inteligência é a seu modo de ver, seria enviá-lo a um manicômio judiciário. Claro está que ele não age de maneira racional. É um louco, e um louco perigoso, que ouve vozes e imagina coisas – afirmou o próprio defensor. Para seu próprio bem e de toda a sociedade deve ser mandado para tratamento e lá ficar até que seja prontamente restabelecido de suas faculdades mentais. Demore o quanto demorar.

Os jurados condenaram o réu a dezesseis anos de prisão.

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Autor: Ricard Wagner Rizzi

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