
O escorpião age por instinto, sem raciocínio, sem sentimentos, apenas ação e reação. Este era o bichinho de estimação de um colega meu, que o acomodou num aquário e tratava-o com baratões que cantávamos nos jardins, e o aracnídeo matava e comia um a cada três ou quatro dias.
Um baratão em especial, chamou-nos a atenção por sua ousadia. Enquanto os outros fugiam o quanto podiam dos venenosos escorpiões ser, este passava por cima e vez por outra levantava as garras e as patas do invertebrado para procurar alimentos. Um a um os outros baratões eram mortos e comidos, mas o destemido não era atacado – para nosso espanto.
A história desse baratão me lembrou a do Alexandre, o Xandão.
Ele, certa vez, parou no Trailer do Jair. Seis rapazes lá conversavam quando ele chegou – um deles era o Rafael, o Guiné, que trabalha como chapa na rodovia e algum tempo atrás foi caguetado por Xandão.
Guiné chama de lado Reginaldo, o Lambão, e pede para que leve o desafeto até um lugar mais afastado. Xandão estava bêbado, todos ali estavam, e aceita o convite de Lambão, que o leva até perto do Trailer Altas Horas, defronte à 4ª Delegacia de Polícia de Itu, que fica fechada à noite.
Esperam um pouco e em breve chegam cinco rapazes e uma moça. Rafael, o Da Lua, mecânico pede desculpas a sua irmã Edvania, atendente do Bar Gaivotas, e derruba e chuta Xandão. Os outros rapazes seguem seu exemplo.
Adilson, Álvaro e Lambão param quando acham que Xandão está morto. Guiné e Da Lua chegaram aos píncaros da crueldade, batendo com a cabeça de Xandão no chão e pulando sobre ele com os dois pés, assim como aquele escorpião.
O escorpião age por instinto, sem raciocínio, sem sentimentos, apenas ação e reação. Balela! O intrépido baratão teve um terrível fim, que nenhum de seus companheiros de destino tiveram: após ser picado, o aracnídeo arrancou e comeu cada uma de suas articulações, só matando sua vítima depois de devorar todos os seus membros.
Xandão brincou com o perigo, e sobreviveu graças ao rápido atendimento da Ambulância do PAM da Vila Martins que o socorreram a tempo. A Guarda Civil Municipal abordou próximo ao local: Guiné, Da Lua e Edvânia. Nenhuma prova os ligava naquele momento ao crime, e foram liberados.
Mas as investigações feitas pela Polícia Civil, e conseguiram desvendar todos os detalhes deste crime.
O Lambão era inimputável naquela época; Dr. José Maria de Oliveira lembra que Álvaro dos Santos Silva tentou impedir que Guiné e Da Lua continuassem batendo; Drª. Neide Maria Vieira Borgo alega que Da Lua só tentou machucar e nunca teve a intenção de matar; Adilson só poderá agora ser julgado por Deus, visto que deixou este planeta; e Guiné tem agora ao seu lado o Dr. Daniel Benedito do Carmo, que não se conforma com as acusações que caem sobre seu cliente, e declara:
Ele está sofrendo constrangimento ilegal, pois a denúncia tenta e intenta de todas as formas e de qualquer jeito imputar ao acusado, de todas as formas possíveis e descritas na tipificação da denúncia. O acusado nunca nutriu ódio pela pessoa da vítima…
Aqueles que não morreram, muito provavelmente, virão a ser julgados pelo Tribunal do Júri de Itu, que com absoluta certeza não agirá como o escorpião ou os algozes de Xandão.