Não entro numa viatura da guarda de jeito nenhum.

Não gosto de fofoca, de ouvi dizer, por isso só conto para os senhores que me lêem aquilo que obtive de fonte segura: documentos públicos ou jornais. Mas hoje com a permissão dos senhores farei uma exceção.

Caleb é um cachorro vira-latas de pelos caramelos curtos. Mora aqui perto de casa, no centro de Itu, e acabamos fazendo amizade. De quando em quando paro conversar com ele, e dia desses, me contou o que viu da porta do Armazém da Vó, onde estava deitado.

20:10 – Armazém da Vó – rua 21 de Abril, 18, Itu SP.

Estava eu dormindo, quando alguém fez o som de sirene com a boca, o que me acordou. Levantei a cabeça e vi três rapazes e duas moças sentados na calçada, conversando e rindo. Pararam então, ali pertinho, duas motos do GAP da Guarda Municipal. Os guardas desceram da moto e vieram até o grupo…
E? – perguntei depois de um tempo de silêncio de Caleb.
Prefiro não dizer, chutar cachorro de rua é fácil, e eu é que não vou dar mole. Direi apenas o que eles declaram depois na delegacia.

Uai? Como é que você sabe o que falaram lá na DELPOL? – indaguei.

É aqui pertinho, cheguei antes que eles. Ouvi os saltenses, GCM SuteroGCM Godoy, declararem à Drª. Lia Limongi Arruda Matuck Feres que eles passaram em patrulhamento e viram o grupo ocupando toda a calçada e fazendo desta forma que as pessoas tivessem que descer para a rua para seguirem seu caminho. Foram até a Matriz e voltaram. Quando passavam alguém fez o barulho de sirene com a boca, eles pararam e pediram para que os jovens liberassem a calçada, pois estariam atrapalhando as pessoas. Um tal de Sérgio respondeu que eles não eram PMs e que deviam ir cuidar do patrimônio, que ele era segurança e que conhecia a lei. Quando o guarda insistiu para tirarem as coisas, o Sergio teria dito que ele era um guarda de bosta e que ele não reconhecia o trabalho deles. O GCM Sutero considerou isso um desacato e disse que conduziria-o até a DP. Sergio desafiou: “não entro numa viatura da guarda de jeito nenhum, nem se vocês chamarem reforço”.

E o que os guardas chamaram a polícia militar para levar o Sergio?

Não, vieram várias viaturas da Guarda Civil Municipal mesmo. Sergio se rebolou todo, mas entrou algemado na viatura. Quando estava na Delegacia, um colega dele chegou de moto e parou perto das viaturas, um outro guarda municipal pediu para ele mudar o veículo de lugar, pois estaria em local proibido. O rapaz disse que não ia tirar não, que já passava das oito da noite e que nessa hora ele poderia deixar a moto lá. Se podia ou não eu não sei, mas que levou uma multa, isso lá ele levou. Aliás, é verdade esse negócio que depois das oito não pode mais multar?

Não sou agente de trânsito Caleb, mas eu nunca ouvi nada sobre isso, sei lá, continua.

Bom, quando encontrar o GCM Plínio vou perguntar. O rapaz disse chamar-se Sergio, mora no Parque das Indústrias e trabalha como segurança. Contou a delegada que é verdade que estavam sentados lá e que alguém fez o barulho de viatura com a boca, mas não foram eles, foram dois carinhas que desciam a rua a pé. Os guardas teriam descido das motos e um chegou já dizendo: “… vai você mesmo, isso é desacato seu vagabundo!”
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E o guarda falou isso mesmo? – confesso que agora já estava curioso.

Já falei que não vou dizer o que eu vi, mas o Sergio estava com um amigo chamado Rafael de Barros que trabalha como inspetor de qualidade, que confirmou a história, mas errou quando contou os detalhes. Ele disse que o guarda ao descer das motos falou: “Vai vagabundo, bota a mão na cabeça e cala a sua boca seu filho de uma puta, quer levar um tapa na boca?”

Ôxente, que doidice, ou este carinha está assistindo muita TV ou este guardinha é muito mal educado.

É, mas acho que a história dos dois amigos não colou não. Além da multa que tiveram que pagar, a delegada confirmou a voz de prisão, a Promotora de Justiça, Drª. Maria Isabel Gambôa Dias Duarte entendeu como correta e até a juíza achou que a história dos dois amigos estava muito mal contada. A Drª. Andrea Ribeiro Borges condenou Sergio a levar R$ 300,00 em brinquedos pedagógicos para o CEACA – Centro de Apoio à Criança e ao Adolescente de Itu, e avisou, que se não levar tem que pagar R$ 3.000,00.

Brinquedos pedagógicos? Será que foi uma ironia? Do tipo: melhor não brincar com o guarda? (adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});

Autor: Ricard Wagner Rizzi

O problema do mundo online, porém, é que aqui, assim como ninguém sabe que você é um cachorro, não dá para sacar se a pessoa do outro lado é do PCC. Na rede, quase nada do que parece, é. Uma senhorinha indefesa pode ser combatente de scammers; seu fã no Facebook pode ser um robô; e, como é o caso da página em questão, um aparente editor de site de facção pode se tratar de Rícard Wagner Rizzi... (site motherboard.vice.com)

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