Graham Denyer Willis e a facção PCC

A comunidade, por vezes, se sente mais segura em um ambiente onde o uso da violência para o controle social seja fragmentado, com a participação de um agente aceito e formado no caldo cultural local.

Já citei outras vezes aqui esse trabalho de Graham Denyer Willis, mas com o lançamento de uma nova edição, vale trazer novamente aqui uma sinopse do The Killing Consensus: Police, Organized Crime, and the Regulation of Life and Death in Urban Brazil.

A lógica paralela de assassinatos da a polícia e do crime organizado

A maioria de nós traz de nossa formação cultural que é direito do Estado matar, quando necessário, através da ação das forças policiais no cumprimento da manutenção da segurança pública, mas Graham Denyer Willis explica que no Brasil, os assassinatos e a arbitragem da ordem social muitas vezes é conduzida por dois grupos: pela polícia e pelo crime organizado.

Com base em três anos de trabalho de campo etnográfico, o livro de Willis traça como os investigadores policiais categorizam dois tipos de homicídio: o primeiro resultante da resistência à prisão policial e a segunda nas mãos da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC):

Segundo Raymundo Juliano Feitosa cobrança mais cruel pelo Código Penal do PCC é o chamado xeque-mate: esquartejamento do infrator enquanto ele ainda está vivo, e só depois ele é morto e todo esculacho é filmado e jogado nas redes – essa condenação é aplicada aos estupradores e pedófilos, também, tem por finalidade servir de exemplo para outros que teriam interesse em fazer o mesmo.

A comunidade, por vezes, se sente mais segura em um ambiente onde o uso da violência para o controle social seja fragmentado, com a participação de um agente aceito e formado no caldo cultural local.

A violência é uma instituição tão natural como a própria vida humana. Decorre do nosso instinto de sobrevivência, sendo o grande motivo para o homem ter dominado a natureza. Mas essa afirmação não pretende trazer glamour à violência.

Talvez no último estágio da existência humana, a evolução definitiva seja exatamente vencer o instinto natural que nos propala a nos destruirmos mutuamente.

Conexão Teresina: uma crônica sobre a atuação do PCC no Piauí

Denyer Willis descobriu que os períodos cíclicos de paz e violência da cidade podem ser melhor compreendidos por meio de um consenso tácito, mas mutuamente observado do direito de matar.

Esse consenso depende de noções comuns e práticas de rua de quem pode morrer, onde, como e por quem, revelando uma configuração distinta de autoridade que Denyer Willis chama de soberania por consenso, ironicamente, tornando a cidade mais segura para a maioria dos residentes.

Autor: Ricard Wagner Rizzi

O problema do mundo online, porém, é que aqui, assim como ninguém sabe que você é um cachorro, não dá para sacar se a pessoa do outro lado é do PCC. Na rede, quase nada do que parece, é. Uma senhorinha indefesa pode ser combatente de scammers; seu fã no Facebook pode ser um robô; e, como é o caso da página em questão, um aparente editor de site de facção pode se tratar de Rícard Wagner Rizzi... (site motherboard.vice.com)

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