Gnóstico em Itu, um caso que aconteceu comigo.

Não sei o que pensar. Talvez alguém que me leia possa me ajudar.

Estávamos eu e uma colega trabalhando na Praça da Matriz em Itu na tarde do último final de semana. Por lá um cara muito conhecido por aqui, o Espirro, com sua barba branca e vestindo uma bata branca e azul clara cumprimentava a todos.

Ele chamava a atenção com seu jeito calmo e festivo, e ficamos olhando para ele, nem ouvindo as marchinhas carnavalescas que a “Perola Negra de Itu” tocava próximo ao coreto.

Mas algo estava errado. Inicialmente não sabia o que era, mas algo não estava certo ali.
Ao procurar o que me incomodava vi um velho, vestido como um padre católico só que ao invés de usar uma estola estava com uma manta vermelha com pedras brilhantes adornando a veste, e algo que parecia um pouco um turbante.
Era Carnaval e ninguém parecia notá-lo, e ele olhava na minha direção.
Me distraí por segundos e quando voltei a olhar para a direção onde ele estava não mais o vi. Me arrepiei e senti um frio intenso na espinha quando ouvi uma voz atrás e bem próxima de mim. Se tivessem encostado uma arma não teria tido uma reação diferente.
Não me virei mas sabia que era o velho. Petrificado ouvi, apenas ouvi o que dizia. Sua voz era rude ao mesmo tempo que educada.
Disse-me que seu nome era Bardesanes e que eu não ficaria feliz enquanto não encontrasse a pérola.
Existe louco para tudo, mas louco ou não eu não me mexia. Colocou algo no bolso de minha farda e disse que era uma pequena lembrança de Cuchano. Deus! Achei que tivesse ouvido mal e fosse algo como encochando, sei lá.
O calor que havia na praça naquele dia não me atingia, estava com frio, muito frio.
Disse que me contaria algo que ele aprendeu com Valentim. Para mim, Valentim era o patrono do dia dos Namorados americano, e não estava gostando do rumo dessa história.
Não entendi nada do que ele disse, algo a ver com que Deus não era de fato o Senhor, como pensamos, Ele seria um Demiurgo, que seria uma manifestação inferior do próprio Supremo.
Deus (Demiurgo) seria então apenas um operário que tinha o poder de separar a Luz das Trevas e criou o corpo humano, mas não sua alma, esta foi criada por Sophia.
Segundo o velho Bardesanes, se é que assim realmente se chamava o cara, Cristo era um aeon, e por isso foi mandado por Sophia para salvar os homens da tirania de Deus que tentava aprisionar as almas humanas em seus corpos, fazendo com que reencarnassem eternamente.
A trindade existiria, e seria formada tal qual a conhecemos: Deus (Demiurgo – Pai), Jesus Cristo (Aeon – meio homem, meio espírito), e Sophia (Espírito Santo).
Os gnósticos dos primeiros séculos da era Cristã sabiam a verdade, mas aquele que conhecemos como Deus (Demiurgo) quer nos manter escravizados na carne e na ignorância.
Bardesanes afirmou então que o conhecimento não era um meio de salvação, mas uma busca que eu deveria começar naquele momento, e que a busca pela pérola, pelo conhecimento deveria ser constante, e mesmo que nunca encontrasse, a busca me levaria ao Pleroma, onde encontraria enfim Sophia.

Bom, acabou aí. Depois de alguns minutos sem ouvir sua voz, o sangue voltou a fluir, e não mais o vi. No meu bolso restou uma pequena peça de prata, bem pequena parecendo uma pérola, mas sei que não é a que o velho se referia.

Autor: Ricard Wagner Rizzi

O problema do mundo online, porém, é que aqui, assim como ninguém sabe que você é um cachorro, não dá para sacar se a pessoa do outro lado é do PCC. Na rede, quase nada do que parece, é. Uma senhorinha indefesa pode ser combatente de scammers; seu fã no Facebook pode ser um robô; e, como é o caso da página em questão, um aparente editor de site de facção pode se tratar de Rícard Wagner Rizzi... (site motherboard.vice.com)

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