Quando mais aquele jovem se afundava na lama, mais fundo percebia que podia chegar, e naquele dia viu quem buscava salvá-lo podia mandá-lo ainda mais para fundo.
Aquele jovem freqüentava aquele antro e pouco a pouco foi se aprofundando na cova. A cada dia novos amigos lhe davam força para ir mais fundo e mais longe de um ponto onde poderia voltar, mas não sentia ele o sinistro daquela força.
Nenhum pai quer ver seu filho perder-se, e o ituano Ademir Rodrigues de Castro Júnior já havia percorrido este caminho que agora estava sendo trilhado pelo filho, ajudado por aquelas mesmas mãos amigas que já o haviam no passado lhe guiado para cada vez mais longe.
Aquele jovem freqüentava aquele antro e pouco a pouco foi explorando aquela caverna profunda. A escuridão sem fim do lugar refletia seus pensamentos, a umidade deixava o ar gelado e aconchegante. Lá os problemas de fora não podiam tocá-lo.
Nenhum bando de miseráveis iria levar o filho de Ademir para longe de sua família. Há quatro dias que o garoto de dezesseis anos não mais aparecia em casa, e ele sabia por onde devia começar a procura, precisava coragem para enfrentar seu passado.
Aquele jovem freqüentava aquele antro e pouco a pouco percebia que não poderia sair daquele abismo. O mundo lá fora não o aceitava como ele queria ser e ele também não aceitava como o mundo era. Melhor para todos, as profundezas eram seu lar.
Nenhum medo impediria Ademir de seguir em busca do filho. Ele sabia que o filho era viciado em crack e freqüentava aquela casa na Rua Luiz Alberto Rodrigues de Oliveira 496, no Bairro São José na cidade de Itu, poucas quadras dali onde estava.
Aquele jovem freqüentava aquele antro, palavra que também tem o significado de local de vício. A casa de Aparecida de Fátima e Júlio Correa se transformou tempo em um templo do mundo inferior, um lar para os viciados que não mais tinham aonde ir.
Nenhum de nós que estamos agora acompanhando este texto imaginaríamos que Ademir ao chegar naquela casa na qual ele apenas “já tinha ouvido falar que vendiam drogas” (mesmo ele conhecendo Aparecida de Fátima há 20 anos) seria preso.
Aquele jovem freqüentava aquele antro, agora decerto freqüenta outro. Naquele dia seu pai foi preso pela Polícia Militar que estourava aquela boca de fumo quando o motorista Ademir chegou, portando seus documentos, um espelho de CNH e um RG em branco, mas contendo a assinatura da autoridade policial.
Quando mais aquele jovem se afundava na lama, mais fundo percebia que podia chegar, e naquele dia viu quem buscava salvá-lo podia mandá-lo mais ao fundo.