Tentativa de linchamento na véspera do Natal.

Por volta das 23h30m os dois vizinhos saíram de suas residências, no bairro Salto de São José em Salto. Pelo caminho até a estrada as casas estavam iluminadas pelas luzes e vozes festivas do Natal, era a noite de 24 de dezembro de 2008.

Seguem eles pela Rodovia SP79 no velho caminhão Mercedes Bens 1313 amarelo de Odair José Miranda. Apenas um trecho de trevas separa as duas cidades: a baixada da Usina da Concretex, onde pelo retrovisor a cidade de Salto está oculta pelo moro da Rádio Cidade, e a frente, a cidade de Itu esconde-se atrás do morro do Portal de Itu.

Odair e Ricardo não observaram nada de diferente aquela noite, mas deveriam. Véspera de Natal é quando as pessoas mais querem ficar com suas famílias, e naquele trecho daquela estrada muitas famílias foram desfeitas. A morte as ceifou naquele trecho, e muitas destas almas por lá permanecem, apenas esperando incautos viajantes.
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A quietude da estrada imersa na mais pétrea treva deveria ter sido um alerta, que algo de ruim estava a ocorrer, mas ambos só pensavam em se divertir longe de suas famílias. Talvez alguém que não possa mais estar com seus entes queridos numa data tão especial, não tenha se conformado com isso, e naquele trecho embarcou na boléia.

Odair contará depois que sua intenção era chegar até o Extra Hipermercado de Itu, um caminho praticamente impossível de se errar, são três linhas retas apenas. Odair se perdeu, rodou em círculos e retornou até próximo a Estrada Velha Itu Salto, caminho de casa e sua chance de voltar para o aconchego de seu lar naquela véspera de Natal.

Na Delegacia de Polícia, Ricardo Freitas descreverá assim aquele momento: “ao passar pela Favela do Isaac onde estava acontecendo uma festa, e acenaram para nós, chamando-nos para o churrasco”. Calipso acenou com a imortalidade para Ulisses, as sereias tentaram-no com um oceano de prazeres, mas aqueles dois amigos foram tentados por churrasquinhos.
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Ulisses resistiu , mas Odair e Ricardo não. Contaram mais tarde que beberam e conversaram por horas com os seus novos amigos, seleta companhia que em breve tentariam linchar a Ricardo.

Um baque, uma história mal contada, apenas os dois poderão dizer ao certo o que aconteceu. Ricardo Freitas dirá que ainda estava conversando quando o caminhão desceu a rua sozinho, atropelou Aline, uma moradora da comunidade, e danificou alguns barracos.

Odair fugiu dali e para fugir também de sua responsabilidade, correu a polícia para dar queixa do roubo do caminhão. Não contava que uma viatura policial tivesse localizado Ricardo e ele tenha sido acusado pelo roubo do veículo. Odair não estava entendendo como tudo isso podia estar acontecendo.

Aline, a vítima do atropelamento seria presa ainda àquela noite por tráfico de drogas, seu amigo que quase foi linchado pela população estava em frangalhos e ele condenado a uma multa de mil reais por falsa comunicação de crime à polícia e teve seu caminhão rebocado e batido. Tudo em uma Noite de Natal.

Odair e Ricardo não observaram nada de diferente aquela noite, mas deveriam. Véspera de Natal é quando as pessoas mais querem ficar com suas famílias, e que sempre pode existir algo que nos tente lembrar o verdadeiro Espírito do Natal. (adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});

Autor: Ricard Wagner Rizzi

O problema do mundo online, porém, é que aqui, assim como ninguém sabe que você é um cachorro, não dá para sacar se a pessoa do outro lado é do PCC. Na rede, quase nada do que parece, é. Uma senhorinha indefesa pode ser combatente de scammers; seu fã no Facebook pode ser um robô; e, como é o caso da página em questão, um aparente editor de site de facção pode se tratar de Rícard Wagner Rizzi... (site motherboard.vice.com)

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