Conselho de Pai, sintonia geral da cidade da facção PCC 1533

Este artigo explora o tema “Conselho de Pai” através da lente da história de Júlio César, também conhecido como irmão Preto do Jardim Vitória. Preto, um líder influente da facção PCC 1533, tenta guiar seu filho para longe do mundo do crime, oferecendo uma perspectiva única sobre o impacto da orientação paternal no submundo do crime.

“Conselho de pai” é o fio condutor desta narrativa envolvente, explorando a intersecção entre fé, família e destino. Destacamos a história de Júlio César, conhecido como Preto, um líder influente no Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533), que tenta orientar seu filho para um caminho longe do crime. Esta história, embora situada em uma realidade dura, oferece uma perspectiva única sobre o poder e a influência da orientação paterna.

Neste texto, encontramos um contraste fascinante entre a sabedoria bíblica do Rei Salomão e o “conselho de pai” oferecido por Preto a seu filho. Mesmo em circunstâncias adversas, o desejo de guiar e proteger prevalece, proporcionando uma janela para as complexidades humanas dentro do mundo do tráfico de drogas. Através desta perspectiva única, somos convidados a refletir sobre o valor da orientação paternal, independentemente do contexto.

Originalmente escrito em janeiro de 2012, este artigo agora ressurge, convidando leitores a mergulharem nesta história de paternidade, destino e escolha. Adoraríamos ouvir seus pensamentos. Por favor, sinta-se à vontade para comentar no site, no nosso grupo de leitores ou mandar uma mensagem privada para mim. Participe desta discussão rica e complexa sobre o “conselho de pai”.

Conselho de Pai: Salomão e Irmão Preto do PCC

O respeito aos pais, uma premissa central da fé cristã, é um pilar frequentemente questionado na sociedade moderna. Atualmente, muitos jovens tendem a dispensar o “conselho de pai”, optando por forjar seu próprio caminho. Em vez de se voltar para a sabedoria da família, eles procuram orientação em seus amigos e na mídia, como a televisão.

Em meio a este contexto, a Bíblia fornece várias advertências sobre as consequências da negligência do “conselho de pai”. Mesmo que a fé religiosa seja deixada de lado, a sabedoria paterna continua a ter valor pelo seu profundo entendimento das complexidades da vida.

Um exemplo marcante dessa sabedoria é encontrado nas palavras do Rei Salomão, personagem bíblico renomado por sua inteligência. Ele aconselhava fortemente seus filhos a honrar as palavras de sua mãe:

Elas serão uma coroa de graça para a tua cabeça e colares para o teu pescoço. Meu filho, se os pecadores quiserem te seduzir, não consintas.

O rei Salomão enfatizava a importância de seguir o “conselho de pai” para garantir “longos dias, anos de vida e paz”.

Primeiro Comando da Capital: O Impacto do Conselho Paternal no Submundo do Crime

Surpreendentemente, essa vontade de guiar e proteger também pode ser encontrada em Júlio César, conhecido como irmão Preto do Jardim Vitória, o sintonia geral de Itu, membro destacado do Primeiro Comando da Capital. Apesar de ser uma figura importante no tráfico de drogas, e comandar Preto tenta manter seu filho longe desse caminho perigoso.

Preto fornece um “conselho de pai” do interior de uma cela de prisão, suas palavras parecendo ecoar as de Salomão.

Aí, a fita é o seguinte mano, se liga só na fita, você não tem tempo não mano, para curtir não. Procura ganhar um dinheiro, daqui uns dias aí, vai estar guardando dinheiro no banco, comprando um carro, reformando sua casa, ou construindo uma casa aí no fundo para você, entendeu mano.

Reflexões sobre o Conselho de Pai: De 2012 até Hoje

A vida de Preto é marcada pelo arrependimento, apesar de sua posição de liderança na organização criminosa. Ele reconhece a brutalidade da vida no tráfico e deseja um destino diferente para seu filho. O filho de Preto parece acolher esse “conselho de pai”, respondendo com esperança:

Essa é minha intenção, aí ó!

No entanto, a história de Roboão, filho de Salomão, serve como um aviso. Ignorando o “conselho de pai”, Roboão sofreu grandes perdas após a morte de Salomão. Assim, o destino pode estar aguardando o filho de Preto, demonstrando que mesmo as melhores intenções podem ser superadas pelo inevitável.

Ficha Psicossocial de Preto

Júlio César, mais conhecido como irmão Preto, é uma figura multifacetada, que ao mesmo tempo em que exerce papel de líder no Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533), também é pai preocupado com o futuro de seu filho.

Psicologicamente, Preto apresenta uma combinação de pragmatismo brutal e profundo amor paternal. Apesar de suas ações criminosas, ele é claramente motivado por um forte senso de responsabilidade paternal. Ele é consciente das implicações de suas escolhas e busca fervorosamente desencorajar seu filho de seguir seu caminho. Sua comunicação revela uma tentativa de orientar seu filho a partir de sua própria experiência, provando que, apesar do ambiente brutal em que se encontra, o instinto paternal não é suprimido.

Sociologicamente, Preto é um produto do ambiente em que vive. Ele pertence a uma facção criminosa poderosa e exerce uma posição de liderança dentro dela. No entanto, sua vida no crime o levou a uma existência solitária na prisão, que ele descreve de maneira triste. Essa visão de sua situação indica que ele compreende as implicações de suas ações e o efeito destrutivo que elas tiveram em sua vida e na vida de outros.

Preto, portanto, é um personagem complexo. Enquanto líder criminoso, ele personifica a face dura e inescrupulosa do crime organizado. No entanto, como pai, ele encarna a essência de um homem que quer proteger seu filho dos perigos que ele próprio não conseguiu evitar. Seu perfil psicossocial, portanto, é um estudo sobre as contradições humanas e a complexidade do amor paternal, mesmo nas circunstâncias mais adversas.

Esse texto foi publicado originalmente em 9 de janeiro de 2012 no site aconteceuemitu.org

Deus e o Estado Vs. Primeiro Comando PCC

O Primeiro Comando da Capital ameaça o Estado Constituído, assim como outros grupos no passado já o fizeram – veja como a Bíblia nos orienta a agir.


Uma carta saiu do presídio, agora ele sabia, não estava mais sozinho, teria irmãos para ajudá-lo.


Nem direita e nem esquerda, só Deus na causa!

O Primeiro Comando da Capital (PCC) e o caos na Segurança Pública são consequências do governo:

  • de Direita: por meio do Regime Militar e da política da Rota na Rua, que criaram um ambiente favorável à intelectualização do crime, sem a qual o Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho (CV) não existiriam;
  • de Centro: por meio dos governos do PSDB de Mário Covas e Geraldo Alckmin, que possibilitaram a hegemonia do PCC em São Paulo e o fortalecimento dos negócios da facção dentro e fora dos presídios; e
  • de Esquerda: por meio dos governos do Partido dos Trabalhadores, de Lula e Dilma, que permitiram a proliferação da facção paulista por todos os estados da nação, levando-os a ampliar seus negócios para fora do país.

Para o sociólogo Gabriel Feltran, que estuda o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que comanda a maioria dos presídios do estado, o voto é abertamente antitucano. Segundo ele, “não é uma questão de ser de esquerda ou de direita”. O fato de São Paulo ter escolhido apenas governadores tucanos desde 1995 significa que o partido tem determinado a política penitenciária estadual desde então. O sociólogo Rafael Godoi observa que o sistema carcerário paulista “tem o DNA” do PSDB. “A gente tinha 40 mil presos no começo dessa política carcerária, décadas atrás, e agora são 250 mil”, explica Feltran. “Isso sem contar a população de mais de 1,3 milhão ex-presidiários no estado.”

Pedro Siemsen (Revista Piauí)

E essa história começa assim:

“Uma carta saiu de um presídio. Quem a recebeu odiava profundamente as forças opressoras do governo. Ele já havia sido preso e estava pronto para lutar contra o jugo do opressor agora teria irmãos para ajudá-lo, já não correria mais sozinho.”

Quem permitiu que esse preso se comunicasse?

O seu malvado favorito, assim como o meu, talvez tenha permitido que essa mensagem saísse do presídio:

  • Regime Militar
    • Como forma de punir com maior rigidez os presos políticos, eles foram colocados juntos aos presos comuns de alta periculosidade na Ilha Grande e no Carandiru. Em cima dessa união de métodos é que se solidificou as bases ideológicas do PCC e do CV. Essa carta pode ser uma daquelas tantas que divulgaram essa boa-nova;
  • Governo Geraldo Alckmin
    • Período de pacificação, em que supostamente houve uma trégua entre o Estado e as facções criminosas. Essa carta pode ter sido uma daquelas tantas que se aproveitaram desse ambiente propício, que permitia até a entrada de celulares nos presídios; ou
  • Governos do Partido dos Trabalhadores
    • Período áureo de expansão do PCC 1533 nacional, que se aproveitava das transferências de presos para outros estados e de uma política preocupada com o respeito aos Direitos Humanos. Essa carta pode ser uma das tantas outras que circulavam por todo o Brasil.

Só Deus na causa.

O importante é que você, assim como eu, não caia no conto de Benjamin, que critica o sistema, duvidando da capacidade do Estado em nos proteger do mau – ele veio para trazer dúvidas às nossas certezas, mas isso já era previsto.

A única certeza que posso ter é que “os homens jogam os dados sagrados para tirar a sorte, mas quem resolve mesmo é Deus, o Senhor.” – e Benjamin não é o Senhor.

O roubo de armas do exército e da marinha

Uma carta saiu de um presídio. Quem a recebeu odiava profundamente as forças opressoras do governo. Ele já havia sido preso e estava pronto para lutar contra o jugo do opressor – agora teria irmãos para ajudá-lo, já não correria mais sozinho.

De posse daquela carta de corso, foi juntar-se aos seus novos irmãos que estavam concentrados em um outro estado mais ao sul.

Inicialmente fez alguns saques e pequenos ataques, mas era apenas uma preparação para uma mega-operação que envolveria muito dinheiro, armas e homens.

Não, não estou falando do mega-assalto do PCC ao Prosegur no Paraguai ou de tantos outros que você possa estar cogitando – foi algo maior.

As armas pesadas que precisavam foram tomadas dos paióis do exército e da marinha de Laguna, e por mais incrível que possa parecer para você, que, assim como eu, acredita na lei e na ordem, a população comemorou quando eles derrotaram os soldados:

A noite se iluminou, os festejos não acabavam mais, aqueles que oprimiam levaram uma surra daqueles homens que atacaram as forças do governo. Foram saudados como irmãos e libertadores, pois a comunidade “era simpática” aos seus ideais.

Giuseppe Garibaldi conseguiu apreender escunas imperiais, pequenos veleiros, canhões, 463 carabinas e 30.620 cartuchos…

… e tudo começou com a carta passada por Bento Gonçalves à Giuseppe Garibaldi de dentro de uma prisão imperial (ou como diríamos hoje: de um presídio de segurança máxima federal).

Livrando-se desta peste – bandido bom é bandido morto

O cientista político Benjamin Lessing pergunta, ao mesmo tempo que responde, à repórter Fernanda Mena da Ilustríssima da folha de S. Paulo:

“O PCC se enfraqueceu ou se fortaleceu ao longo dos anos 1990 e 2000, quando a população prisional do Estado quadruplicou e o número de prisões explodiu? O PCC cresceu junto com o sistema.”

O cárcere e as comunidades carentes são os ambiente nos quais as organizações criminosas recrutam seus homens e articulam seus planos de ataques, isso é tão verdade agora como foi há duzentos anos, quando Garibaldi se irmanou à facção dos Farrapos.

Você e eu sabemos que a questão carcerária é muito mais complexa do que aqueles que apontam a direita, a esquerda ou o centro fazem parecer. É claro que nem eu e nem você acreditamos que foi o Regime Militar, Alckmin ou o PT que causaram tudo isso.

Dúvida? Pergunte ao Bento Gonçalves quem foi que facilitou para ele passar de dentro da prisão aquela carta de corso para Garibaldi. Duvido que ele lhe diga que foram um desses que tanto acusam hoje em dia.

O que parece acontecer é que, entra século, sai século, insistimos em manter as masmorras intocáveis, entulhando-as com todos aqueles que não aceitam seguir as normas impostas por nós, cidadãos de bem, por meio de nossos governantes.

Encarceramento em massa ou morte!

Só que a política de encarceramento em massa daqueles que não se ajustam ao sistema não funciona – pelo menos é o que afirma Benjamin:

“Não conheço nenhum lugar do mundo que tenha diminuído o poder de facções do crime organizado aumentando a população prisional.”

Há dois séculos nós, “cidadãos de bem”, gritamos que o governo deveria “se livrar de uma vez destas pestes”, que eram os farroupilhas. Hoje, continuamos bradando para que os bandidos das facções criminosas sejam caçados e mortos.

As forças militares imperiais não conseguiram tirar dos gaúchos os farroupilhas, assim como as polícias militares republicanas não conseguiram tirar os jovens sem oportunidade das comunidades periféricas da “Família 1533 TD3 passa nada”.

Um sistema que oprime e não protege

Os membros do Primeiro Comando da Capital de Marcola, assim como aconteceu com os farroupilhas de Bento Gonçalves, acreditam que lutam por um ideal: o fim de um sistema opressor que envia seus soldados para as regiões mais pobres apenas para oprimir e não para proteger.

O Marcola era homicida, sequestrador, roubava banco, não tinha nada a ver com a facção, mas é um homem articulado. E quando ele foi levado para o presídio de Tremembé [no interior de SP] começa a conversar com os últimos presos políticos no sistema prisional e aprende com eles sobre como estruturar o tráfico, a gerenciar como uma empresa, ao mesmo tempo em que vende internamente para os detentos a ideia de uma irmandade revolucionária.

desembargadora Ivana David

E um ideal não pode ser encarcerado ou morto, como provou o estado de São Paulo:

“São Paulo é o estado com mais dinheiro, mais policiais bem treinados, com mais universidades” […] “dizia que era uma organização falida. Há falas de 2002 e 2003 de que o PCC havia sido desmantelado.” […] “E, em 2006, com os ataques, a organização mostrou seu poder. e não só não conseguiu eliminar o PCC como tem hoje a facção mais poderosa do Brasil.”

“O PCC é uma tecnologia de organização que envolve normas de ajuda mútua, sistemas de cadastramento, rituais de ingresso e comunicação entre prisões e entre as prisões e a rua. É uma ideia, como define o PCC. E as ideias são difíceis de conter.”

O governo mandou de soldados do exército imperial à ROTA para combater “ideias”; no entanto, o Estado não buscou eliminar o abandono e a opressão dentro no sistema prisional, nas favelas e nos cortiços:

Há um princípio em medicina que diz: sublata causa, tollitur effectus (“suprima a causa que o efeito cessa”, em latim)

Deus, os governos e seus agentes

Eu, você e até mesmo o ateu mais positivista fomos criados dentro de uma cultura judaico-cristã, e foi nesse ambiente que formamos nosso conceito do que é certo ou errado e de como devemos agir em relação ao Estado e seus representantes:

“Por causa do Senhor, sejam obedientes a toda autoridade humana: ao Imperador , que é a mais alta autoridade; e aos governadores, que são escolhidos por ele para castigar os criminosos e elogiar os que fazem o bem. Vivam como pessoas livres. Respeitem todas as pessoas, temam a Deus e respeitem o Imperador.”

Segundo Bíblia Sagrada os governantes e os policiais agem em nome de Deus, e eu e você, assim como todos os homens corretos e justos, devemos-lhes obediência e respeito.

“Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade.”

No entanto, Garibaldi e seus farroupilhas, assim como acontece hoje com Marcola e seus faccionários, não acreditaram nessa ladainha e optaram por se opor ao Estado Constituído e seus representantes.

Esses dissidentes recebem hoje, assim como receberam no passado, apoio nas comunidades mais pobres, que não se sentem protegidas pelas “forças de ocupação” do governo – os soldados há século raramente sobem o morro para proteger morador.

“Quem não está no crime, mas é jovem, pobre e negro, portanto, com maior chance de ser preso, sabe que vai precisar da proteção da facção. O Estado, inadvertidamente, é a corrente transmissora do poder do PCC nas quebradas.”

Homens de pouca fé questionam as autoridades

Eu e você, assim como todos os homens cheios de fé, sabemos que não podemos arredar o pé da Verdade:

“As pessoas honestas se desviam do caminho do mal; quem tem cuidado com a sua maneira de agir salva a sua vida. O homem violento engana os seus amigos e os leva para o mau caminho.

No entanto, alguns homens, como Garibaldi e seus farroupilhas, assim como Marcola e seus faccionários, não são como nós. Sendo homens de pouca fé, uniram-se, em suas respectivas épocas, para lutar contra aquilo considerado por eles como um sistema injusto.

Eu e você, assim como todos as pessoas de bem, sabemos como agir. Devemos ficar ao lado de nossos governantes quando estes atacam o mal em nome do bem. Devemos, mais uma vez ouvir a Verdade:

“Os maus provocam discussões, e quem fala mal dos outros separa os maiores amigos.”

Por isso, eu e você, assim como todos os justos devemos ignorar a advertência que Benjamin Lessing fez à Fernanda Mena:

“Sobre a disponibilidade de armas e a abertura de uma espécie de temporada de caça aos bandidos, não posso predizer o que vai ocorrer, mas o mais provável é que cause mais homicídios e mais confusão. O PCC é muitas coisas ao mesmo tempo: [e continuará] se expandindo e mudando ao longo do tempo, e de um lugar para outro.”

Sei que você ficará ao meu lado.

Não caia no discurso fácil de Benjamin “que sorri e pisca maliciosamente; pois sabemos que ele está com más intenções”. Não deixe que ele lhe convença que o uso da força não é o melhor caminho para vencer as facções criminosas.

Há duzentos anos nossos governantes apostam no aprisionamento em massa e na repressão, sem conseguirem vencer o crime organizado, sempre com o meu e o seu apoio, mas devemos manter a perseverança.

Tenho certeza que você não vai parar de insistir nesse caminho e não dará ouvido aà Benjamin e demaisoutros que apontam em outrao direçãocaminho, pois seitenho certeza que você sabe que a melhor solução para a segurança pública é a prisão ou a morte dos criminosos.

Eu, por via das dúvidas acho que prefiro me abster de dar meu palpite nessa nova rodada.

“Os homens jogam os dados sagrados para tirar a sorte, mas quem resolve mesmo é Deus, o Senhor.”

Pedro Rodrigues da Silva, o Pedrinho Matador, conhece o sistema prisional de São Paulo como poucos. Ele ficou sem ver a rua de 1973 até 2007 e de 2011 até 2018 — viveu mais de 40 atrás das grades e por lá, ele conta que viu mais de 200 presos serem mortos enquanto esteve por lá, sendo que mais de 100 foram ele mesmo que matou.

Viveu no cárcere no tempo do Regime Militar, da redemocratização e dos governos com leve viés progressista, mas mudança mesmo, houve quando a facção paulista despontou como hegemônica, acabando com as diversas gangs e grupos dentro das cadeias e presídios.

Sobre o Primeiro Comando da Capital ele afirmou durante uma entrevista:

“Fui [convidado a entrar no PCC], mas não entrei. Ali é o seguinte: depois que surgiu o partido, você vê que a cadeia mudou. Não morre ninguém porque o partido não deixa. É paz. Paz para a Justiça ver. Se começa uma briga, eles seguram. Eles também ajudam quem sai, arrumam trabalho.”

transcrito por Willian Helal Filho para O Globo

O PCC coloca em risco a civilização judaico-cristã

A introdução do Positivismo em nossa cultura luso-católica destruiu nossa base de controle social e pode colocar em risco todo o futuro da civilização judaico-cristã.

O PCC como uma falácia de falsa analogia, ou não

Concordarei inteiramente contigo quando você pensar que eu cheirei uma carreira da 100% do Comando ao afirmar que o Primeiro Comando da Capital é fruto do positivismo de Auguste Comte e John Stuart Mill.

Em minha defesa peço que você credite a culpa à Carlos Eduardo Peixoto Massoco, autor do livro “Os Primeiros Anos do Cemitério Municipal de Itu: retratos de um passado glorioso” [1884-1900], que completou as informações que…

O padre Vieira Franco Hiansen me apresentou em sua obra “A organização eclesiástica no sul de Minas (1890-1925): o papel essencial dos representantes pontifícos”, e tendo em mente esses dois pontos de vista antagônicos que…

Ao ler a tese “Vinganças, guerras e retaliações: Um estudo sobre o conteúdo moral dos homicídios de caráter retaliatório nas periferias de Belo Horizonte”, de Rafael Lacerda Silveira Rocha, cheguei a fantasiosa conclusão que a culpa é dos positivistas.

Paix, Justice, Liberté, Egalité et Union! (PJLIU) — bradam da bastilha os revoltosos de hoje.

Onde citei neste site trabalhos de sociólogos → ۞

O PCC como uma falácia de generalização excessiva, ou não

A sociedade, como descreveu Padre Hiansen, estava sendo construída conforme a tradição lusitana, tendo a Igreja Romana como base de sua sustentação ― os padres exerciam o controle social em nome do Estado e dos senhores de terras.

No final do século XIX, a elite brasileira importou do ideal da revolução francesa a ojeriza pelo catolicismo ― Fora com os padrecos! Foi o desmanche do sistema de controle social português, como me explicou Carlos Eduardo.

Ao chutar a Igreja Católica da equação social, a elite cultural e econômica desmontou a estrutura que intermediava as relações entre os diversos grupos sociais e os interesses econômicos, amortizando os conflitos.

Rafael menciona em sua pesquisa uma dúzia de vezes a participação de pastores evangélicos na intermediação de conflitos entre facciosos, mas nenhuma participação de padres ou leigos.

“[…] agora retomando a discussão sobre o Estado e sua capacidade (ou interesse) de atuar junto aos atores do “mundo do crime” e uma comparação com a capilaridade e dinâmica de atuação das igrejas evangélicas.”

A liderança exercida historicamente pelo Clero romano foi substituída por grupos de interesses pontuais. Os positivistas acreditavam que o populacho se agregaria em partidos políticos organizados, mas não foi o que ocorreu.

“Sobral se tornou a cidade dos pés juntos”, resume o pastor evangélico Ronaldo Pereira, enquanto caminhava entre túmulos de jovens vítimas da violência. Com uma igreja em um dos bairros mais violentos da cidade, ele atua para convencer jovens a sair do crime.

Fora com os padrecos! Vida longa aos líderes do PCC! — gritam os faccionários hoje.

Onde citei neste site a igreja → ۞

O PCC como uma falácia de círculo vicioso, ou não

Seja no século XIX ou no XXI, intelectuais acreditavam e acreditam que as consequências práticas seriam as previstas nas teorias desenvolvidas nos gabinetes das Casas Grandes e dos palacetes, ou dos condomínios e praças de alimentação dos shoppings.

Os intelectuais positivistas novecentistas não poderiam prever que o populacho iria migrar do catolicismo para as igrejas evangélicas ― apostaram que ele buscaria a luz da ciência iluminista.

Os intelectuais positivistas contemporâneos podem prever que os criminosos irão migrar do Primeiro Comando da Capital para as violentas gangues ― no entanto, Lincoln Gakiya e seus colegas do MP-SP desmontando a estrutura do PCC apostam que os criminosos buscarão abrigo sob a luz da Lei e da Ordem.

“O PCC nasceu porque o sistema político deixou muitas pessoas em estado de abandono, então elas tiveram que criar alguma solução, e hoje é uma organização tão grande que, se você tentar eliminá-lo, você criará uma enorme quantidade de violência.” — Graham Denyer Willis

O sociólogo Cesar Barreira mostra que sem o PCC organizado, hoje, teríamos grupos cada vez mais violentos e desorganizados: GDE é facção criminosa nova, atrai adolescentes e tem crueldade como marca.

Fora com os padrecos da liderança do PCC! — gritam os positivistas hoje.

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O PCC como ator de uma falácia de argumento autoritário, ou não

“A cultura brasileira, ‘formada’ de ideias transplantadas da Europa, não só ajudou os positivistas a redefinir uma identidade coletiva, como diz Murilo de Carvalho, mas ajudou a forjar a identidade nacional que até então não havia.”

Com esse trecho da obra de Carlos Eduardo posso afirmar que o PCC é fruto do positivismo de Auguste Comte e John Stuart Mill, mas como poderemos prever o futuro como fizeram no passado os positivistas novecentistas?

Não precisamos fazê-lo. O diplomata João Paulo Soares Alsina Júnior já o fez por nós.

João Paulo é doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília, com ampla experiência na área de Ciência Política Internacional, e um dos principais estudiosos sobre a interface entre política externa e política de defesa no Brasil.

Entre tantas publicações do mais alto nível destaco o primoroso livro Ensaios de grande estratégia brasileira. Nele, João Paulo mostra como nosso cotidiano se insere dentro de um sistema internacional de segurança e equilíbrio estratégico entre as grandes potências.

Vinte anos de trabalho e estudo no Itamaraty e no Ministério da Defesa permitiram a ele nos mostrar onde terminará essa trilha que estamos seguindo há dois séculos, e que nos deixará três escolhas daqui outros vinte anos.

João Paulo cita que a desarticulação política e social causada pelo Primeiro Comando da Capital impedirá que daqui duas décadas o Brasil possa se aliar aos Estados Unidos da América devido à utilização de suas forças armadas para o combate à facção.

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A civilização judaico-cristã estará por conta do PCC em risco, ou não

A ascensão da China como potência mundial deverá assumir a liderança do Eixo Asiático, ao qual deverá se aliar a Rússia e demais países daquela região. João Paulo faz uma análise metódica do desenvolvimento desse leque de influência econômico-militar.

Os americanos, hoje, se preocupam muito mais com seus problemas internos, como as mortes por acidentes de trânsito e a gripe, do que com atentados e com os problemas de política internacional, abrindo espaço para as articulações chinesas.

A Europa, eterna guardiã de nossas raízes culturais, chegará no final de duas décadas sob forte influência das comunidades africanas e asiáticas, formadas principalmente por muçulmanos, que conquistarão a chefia dos governos e das assembleias.

Isolado, os Estados Unidos da América só poderiam se contrapor à investida cultural, econômica e militar com o apoio das nações amigas do continente, capitaneadas pelo Brasil. João Paulo explica direitinho, passo a passo, como se daria isso.

No entanto, a incapacidade do governo brasileiro não permitirá o controle do tráfico de drogas e da criminalidade, que extrapolará as fronteiras e se espalhará pelos outros países latino-americanos, deixando os Estados Unidos isolados na defesa de nossa matriz cultural.

Os positivistas brasileiros, ao destruírem a estrutura centralizada católica, permitiram o crescimento das igrejas evangélicas e colocaram em risco a própria cultura baseada na lógica e no conhecimento.

Martinho Luthero na véspera de sua morte, tomou em sua mão um giz e escreveu na parede, “em vida fui tua peste, morto, serei tua morte” referindo-se ao Primeiro Comando da Capital, ou não.

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Os líderes comunitários, o PCC e a polícia

A formação de uma liderança comunitária apoiada pelo Primeiro Comando da Capital e sua relação com a facção e as forças policiais.

PCC elegendo uma liderança para o bairro

Dona Celina só foi escolhida como líder da comunidade por ser evangélica e por ter sido indicada pela liderança do PCC. Ela nem imagina que foi assim, mas eu estava lá quando houve o debate da formação e de quem deveria liderar a comunidade.

Tinha acabado o jogo entre Vila Nova e Vila Progresso, e nós estávamos em frente ao bar Gordo, que fica ao lado do campinho, quando do nada surgiu a conversa, que virou um debate, e a aprovação e o fechamento foi na hora:

A estratégia seria montar uma associação de moradores na comunidade para lutar por melhorias na educação e na estrutura de escolas e creches, na pavimentação das ruas, no abastecimento de água , e também para servir como mediadora na pacificação das ruas.

Mas quem assumiria a liderança da associação?

Alguém falou no nome da Dona Celina e pronto. Ninguém ali duvidava que ela era a pessoa perfeita para o cargo. Ela devia estar em sua casa naquele momento preparando o almoço e nunca iria imaginar que seria formada uma associação e que ela viria a liderar.

Eu até posso contar a você como e por que ela foi escolhida, mas Rafael Lacerda Silveira Rocha é quem pode explicar como a igreja evangélica entra nessa história e como esse tipo de arranjo social funciona na prática, pois foi ele quem estudou a fundo essa questão.

Onde citei neste site a comunidade → ۞

Dona Celina chegou ao bairro quando as ruas eram de terra.

Todos conhecem a bondade e as lutas daquela mulher, que vive dando conselho para os garotos do corre e até para o patrão da biqueira, sempre se prontificando a ajudar quem quer sair daquela vida.

Ela é querida por todos e conquistou o respeito da da liderança local do  dono das biqueiras do bairro e representante do Primeiro Comando da Capital na comunidade.

Dona Celina é ministra de uma congregação evangélica que lhe empresta autoridade moral e cria empatia em muitos no bairro que percebem nela um pouco daquilo que veem em suas famílias, ou, pelo menos, gostariam de ver.

Ela é uma “pessoa de bem”, e é essa a face que a comunidade quer apresentar para a imprensa e para os representantes do governo. Ela é a luz que deverá iluminar o caminho da comunidade.

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É preciso força para se impor

Até mesmo Deus tem uma legião de anjos para garantir seu governo celestial (Isaías 40), e se fomos feitos à sua imagem, nós também temos que nos garantir.

Rafael conta em seu trabalho o caso de um pastor, líder em sua comunidade, que tentou manter a pacificação baseando-se apenas em sua força moral e em seu poder de negociação.

Apesar dos esforços do pastor, um jovem morreu, e o religioso, ao questionar os assassinos sobre o acontecido, escreve:

“A resposta destes – ‘não pega nada não’ –, é por si só uma declaração de que, não apenas a trégua era considerada sem importância, mas que os próprios mediadores que atuavam como terceiros entre os dois grupos não tinham tanta consideração e legitimidade assim dentre eles.”

Não é soltando pombos brancos ou fazendo um abraço simbólico em torno do Cristo Redentor que se conseguirá a paz, mas também é verdade que não se chegará a ela ligando para o 190, nem tampouco confiando no Tribunal do Crime do PCC.

Segundo Raymundo Juliano Feitosa cobrança mais cruel pelo Código Penal do PCC é o chamado xeque-mate: esquartejamento do infrator enquanto ele ainda está vivo, e só depois ele é morto e todo esculacho é filmado e jogado nas redes – essa condenação é aplicada aos estupradores e pedófilos, também, tem por finalidade servir de exemplo para outros que teriam interesse em fazer o mesmo.

A polícia e a liderança do PCC como garantia

As relações de poder dentro de uma comunidade carente são complexas e necessárias para a equação de diversas forças, pacifistas, religiosas, de trabalhadores, policiais, criminosos e desocupados.

Sem a força do Primeiro Comando da Capital, Dona Celina não conseguiria o respeito e a tranquilidade para organizar a população. Nos primeiros meses foi o disciplina do PCC que passou a trocar umas ideias com os inadimplentes com o caixa da associação.

Sem a força policial, Dona Celina ficaria refém apenas da vontade do dono da biqueira e não conseguiria a tranquilidade para organizar as demandas da comunidade.

Rafael conta um caso em que o líder da comunidade organizou um jogo entre dois grupos opostos com o apoio da polícia. Ele colocou o Estado como força mediadora do conflito e ainda fortaleceu sua liderança:

Uns queriam a paz, outros queriam manter a guerra, se juntasse tudo em um único lugar poderia ter um banho de sangue, então o jogo foi marcado em um campo neutro:

“Aí o dia chegou, o galerão, aquele muvucão, aí o cara da protaria achou que era só aquela galera ali, aí depois chegou outra muvucona zoanado ea as mulheres dos caras também. Aí foi umas 15 mulheres, as mulheres dos caras, amigas, e o cara da portaria não queria deixar entrar, aí o tenente foi e ligou lá: ‘pode deixar entrar’. Aí foi aquela festa [risos].”

Esse relacionamento pode parecer estranho para você que mora em um condomínio ou um bairro bem estruturado, mas é comum nas periferias.

Onde citei neste site o disciplina do PCC → ۞

Ladrão e trabalhador falando a mesma língua

Rafael me contou que a relação entre líderes da comunidade e das facções não acontece só aqui no Brasil, e me apresentou a história de vida e as conclusões acadêmicas de uma simpática socióloga americana.

Mary Pattillo descreveu como as redes de relações desse bairro incluem tanto operadores e lideranças tradicionais, quanto atores fortemente identificados com práticas ilegais na comunidade.

Mary explica que as lideranças comunitárias e o crime organizado local compartilham uma série de valores, como o cuidado pela manutenção dos aparelhos públicos do bairro e o controle de brigas e demonstrações violentas em espaço público.

Essa ligação entre comunidade e mundo do crime acaba por dificultar a ação dos órgãos públicos na repressão ao tráfico de drogas local. É a teoria da eficácia coletiva pulando dos livros acadêmicos para as ruas das comunidades periféricas:

“[É importante] olhar para a participação de atores e grupos relacionados a práticas criminosas nas relações entre vizinhos e para como aqueles afetam as expectativas coletivas, valores e normas dessas comunidades.

Cansei de ver nas comunidades trabalhadores e estudantes defendendo a filosofia do 15, como a utilização do Tribunal do Crime para a pacificar os bairros ou evitar estupros e roubos nas quebradas.

“[…] a atuação de criminosos em determinadas comunidades pode ser mais do que puramente negativa – como instituições que promovem a ‘erosão da eficácia coletiva’ –, mas que não só podem compartilhar regras, valores e expectativas coletivas com o restante dos moradores, como também difundir normas e práticas originárias da gramática moral do ‘mundo do crime’ ao restante da comunidade.

Onde citei neste site sobre a ética → ۞

A liderança se conquista pelo respeito e pela ética

Se você é da Vila Nova, talvez conheça Dona Celina, e se você se acha que é mais importante, forte ou influente que ela, desculpa aí, mas ninguém dá a mínima para o que você pensa a seu próprio respeito.

Liderar é conciliar, saber ouvir e estar presente nas necessidades do grupo, se fazer entendido e tentar entender as opiniões dos outros, e Dona Celina faz isso como ninguém.

Líderes de bairros são acusados pela polícia ou por “cidadãos de bem” de terem conchavo com traficantes, mas aqueles que acusam não se candidatam e, se o fazem, não se elegem ― dona Celina se elegeu e circula livremente entre aqueles lobos.

Líderes de bairros são acusados por aqueles que vivem no mundo do crime de terem conchavo com a polícia, mas aqueles que acusam não se candidatam e, se o fazem, não se elegem ― dona Celina se elegeu e circula livremente entre aqueles lobos.

Agora ela estará sempre entre as matilhas mediando a paz, armada apenas de sua honestidade e confiabilidade, será testada e criticada todos os dias pela população, pela polícia, pelos líderes religiosos e por aqueles que vivem no mundo do crime.

Dona Celina está disposta e tem capacidade de enfrentar esse desafio, fluindo entre o mundo do crime e o mundo do Estado de Direito, assim como Marielle Franco o fazia até ser silenciada pela milícia.

“Acho que elas são piores do que as facções. No caso da facção fica muito claro quem é o bandido e quem o mocinho, a milícia transita entre o Estado e o crime, o que é bem pior.”

desembargadora Ivana David

A Umbanda, o Candomblé, e a facção paulista PCC

A agressão sofrida por um pai de santo e uma mãe de santo no Rio de Janeiro levanta dúvidas sobre conduta das facções criminosas quanto ao respeito às religiões afro-brasileiras.

O avanço dos grupos neopentecostais na facção PCC

O mundo do crime não está tão distante de nós como imaginamos. O avanço dos grupos neopentecostais teve força para influir na eleição presidencial, portanto, não deixaria influenciar a vida dentro dos presídios e nas quebradas.

No Rio de Janeiro, essa mudança se torna evidente aliados quando parceiros do Primeiro Comando da Capital como o Terceiro Comando Puro (TCP) e o Complexo de Israel:

Pouco tempo depois, o primeiro grupo narcopentecostal conhecido foi fundado como uma subfacção do Terceiro Comando Puro: o Bonde de Jesus. Além de controlar o tráfico no bairro do Parque Paulista no Estado de Rio de Janeiro, os Soldados de Jesus atacaram e vandalizaram vários templos de Candomblé e de Umbanda, expulsando os sacerdotes dos seus territórios. Desde então, a perseguição não só das religiões afro-brasileiras, mas também de padres católicos, tem sido relatada em várias favelas dominadas pelo Terceiro Comando Puro.

A reportagem é de Kristina Hinz, Doriam Borges, Aline Coutinho e Thiago Cury Andries, publicada por Open Democracy

Muito diferente do que acontecia há 30 ou 40 anos quando traficantes não apenas convivia pacificamente com pais e mães de santo, como participavam das sessões — o Brasil mudou muito em pouco tempo

Tanto dentro dos presídios quanto nas quebradas, a influência dos pastores é notada há muito, mas assim como o fez no governo federal, também passou a ditar regras morais e de costumes.

Abaixo, eu mantenho um texto que escrevi em tempos idos, mas que ainda vale para São Paulo, mas não sei por quanto tempo.

Família 1533 — uma organização conservadora

Talvez, você possa me entender, mesmo que não faça parte de nenhuma organização criminosa. É difícil explicar uma sensação, mas se você já esteve em um estádio lotado em uma final de campeonato, você já sentiu algo parecido com o que se sente quando se está num pátio de uma penitenciária com dezenas ou centenas de homens a gritar:

“Se Deus é por nós, quem será contra nós? Por que Ele é justo!” – a lembrança me arrepia até hoje.

A socióloga Camila Nunes Dias afirmou que a facção paulista é conservadora e homofóbica, e esse é um dos casos no qual uma verdade esconde uma acusação falsa.

A também socióloga Carla Cristina Garcia demonstrou que não é a facção que é conservadora e homofóbica, mas sim a sociedade brasileira. Isso mesmo: eu, você e as duas também estamos incluídos.

Claro que eu não sou, e nem você é; só os outros que não estão me lendo são.

Onde citei neste site Camila Nunes Dias → ۞

Destruindo o centro de Umbanda e Candomblé

Há alguns dias um vídeo circulou com a chamada “PCC destrói templo de Candomblé”, só que ele mostra membros do Terceiro Comando Puro (TCP) do Morro do Dendê, no Rio de Janeiro, e não do Primeiro Comando da Capital (PCC). As facções são aliadas, mas o grupo paulista não tem influência na conduta do grupo carioca — são independentes.

Vou explicar um pouco a ojeriza que existe hoje na Família 1533 com esse negócio de Candomblé e Umbanda, pois nem sempre a situação foi tensa:

No passado, houve uma facção criminosa chamada Seita Satânica SS. Os caras eram cabulosos e sanguinários. Para se ter uma ideia, para ser batizado, o próprio cara tinha que cortar um pedaço da ponta do dedo e tomar o sangue.

Tortura e morte de PCCs e SSs ocorreram dentro dos presídios até que, por volta de 2002, esse grupo foi eliminado.

Os restos desta disputa se somaram ao preconceito enraizado de todo brasileiro. Claro que nem eu, e nem você temos preconceito enraizado; só os outros que não estão me lendo tem.

Onde citei neste site o Terceiro Comando Puro → ۞

Uma lei dentro e outra fora das trancas

Se alguém chega dentro de uma tranca paulista com ideias das religiões afro, essa pessoa é convidada de boa a guardar sua fé para si. O Primeiro Comando tem como regra básica não se meter com a vida de ninguém, mas impõe regras para o espaço comum.

Agora, para ver o bagulho ficar louco na tranca é só encontrar um cigarro de pé, atrás da porta da cela, mas nas comunidades fora das muralhas, a ordem é a da tolerância religiosa.

A paz, próximo às biqueiras, deve imperar para que a polícia não seja chamada e o fluxo continue constante e seguro. Se um templo, seja ele qual for, começar atrair viaturas para a comunidade, ele também será convidado a se retirar, mas só depois disso ser discutido dentro da sintonia e de chegarem a um acordo, se não…

Há alguns anos, um membro do PCC que dominava um bairro fechou uma igreja evangélica que ficava perto da sua biqueira. Agora, ele descansa em paz, sem se preocupar mais com os irmãos orando, sem se preocupar com mais nada, pois agiu por conta própria, sem consentimento da hierarquia do partido, e foi cobrado: ele morreu, e a igreja voltou.

Onde citei neste site o Sistema Carcerário → ۞

Não se pode confundir os SSs com as religiões afro

A Seita Satânica e aqueles que pregam o satanismo de qualquer maneira não são aceitos pelos membros do Primeiro Comando da Capital — as seções de autoflagelação e as formas de tortura a que são levados os que vivem nas trancas dos SSs são inarráveis.

Presidiário seita satânica SS Bauru

Mas o que é certo, é que nas ruas, os os pais e mães de santos as vezes são protegidos pelos membros da facção, como me conta um babalorixá aqui da zona norte da cidade:

“… alguns até participam dos cultos, mas são poucos. Aqui, quase na esquina tem uma biqueira, eles cuidam das vidas deles e nós da nossa. É só agente não atrapalhar eles que está tudo bem — nos dias de movimento no terreiro eles não deixam ninguém mexer nos carros e com as pessoas que frequentam o Centro.”

Todos somos membros da mesma sociedade

O mesmo se daria se o disciplina ou o sintonia da cidade tivesse recebido uma reclamação por parte de um pai de santo, pastor, padre…

Talvez, você possa me entender, mesmo que não faça parte de nenhuma organização criminosa, pois fazemos parte da mesma sociedade e temos a mesma base cultural. É difícil explicar uma sensação, mas sentimos de maneira parecida.

Quando apontamos o dedo acusador para os lados, estamos apontando-o para nós mesmos — claro que nem eu, e nem você apontamos; só os outros que não estão me lendo apontam.

Quando garoto, participei certo tempo da Umbanda em Pirituba. Larguei, mas trago comigo as porradas e os esculachos dados pelos policiais, assim como o preconceito da sociedade. Agora vêm os dois grupos apontar o dedo, se arvorando como defensores das religiões afro: menos, menos, muito menos.

O Primeiro Comando da Capital representa a sociedade brasileira, só não se esconde atrás das suas máscaras, e tenho certeza de que você já sentiu algo parecido com o que eles sentem quando estão num pátio de uma penitenciária, arrepiados, a orar e gritar:

“Se Deus é por nós, quem será contra nós? Por que Ele é justo!”

Claro que eu, e você somos tudo de bom; até mesmo os outros que não estão me lendo, mas os PCCs, esses não estão nem aí com o que eu, você, e os outros pensam a respeito deles, mas tem clareza na sua conduta, pois alegam com orgulho de ser: “O lado cerdo, do lado errado da vida”.

Ah! Ia me esquecendo de dizer que Luiz Roberto me avisou que agora a mãe-de-santo que foi agredida está pedindo asilo na Suíça e quer deixar o Brasil.

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O gato preto, a facção PCC e a Seita Satânica

É difícil saber o que é ficção ou realidade no mundo, e os faccionados do PCC levam muito a sério o espiritual.

Pedindo transferência para tranca do PCC

Não nos conhecemos, e eu não preciso dar satisfação a você, e nem você para mim. Só vou contar para você o que está acontecendo para que você tente entender porque preciso ser transferido para uma tranca da facção Primeiro Comando da Capital.

Talvez você fique em dúvida se é verdade o que vou lhe contar, mas lembre que não tenho nenhum motivo para mentir, e não há, de fato, nada de incomum nessa história, apenas algumas coincidências — que para mim pareceram engendradas pelo próprio demônio.

Essa é a razão pela qual quero voltar para um uma tranca do 15, para fugir do tinhoso, pois algo que as crias do PCC não toleram é essas coisas de satanismo — mesmo que isso me custe a própria vida.

Não omitirei ou acrescentarei nada à história. Talvez você possa entender melhor que eu o que aconteceu, por estar de fora e ter mais esclarecimento, talvez me diga que não há nada de extraordinário na morte de minha mulher e nos acontecimentos vinculados ao gato.

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Hoje sou PCC, mas fui um menino comum

Eu era um garoto quieto, ficava na minha, tanto na escola quanto na rua, nunca gostei de confusão, mas se precisasse entrar em briga para ajudar os amigos, eu sempre chegava junto.

Na escola eu ficava ouvindo histórias contadas pelos meus colegas, e na rua só saía para empinar pipa ou jogar futebol, pois o que eu gostava de verdade era ficar em casa ouvindo música e brincando com meu cão. Esse sim, verdadeiro e sincero amigo, e depois que cresci, me aproximei ainda mais do Bob.

Tive a sorte de arranjar uma garota que, assim como eu, gostava de animais. Ela mesma tinha um gato grande e preto. Quando fomos morar juntos, meu já envelhecido cão, me acompanhou, e o gato de imediato se apegou à ele.

Onde o cão estava o gato estava junto. Quando eu chegava do serviço, o Bob e o gato vinham me receber. À noite, o bichano não vinha para a cama conosco, se espremia com o cachorro em sua coberta junto à porta — nunca vi uma amizade como aquela.

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Gatos pretos são seres das trevas

Eu nunca dei trela a essas lorotas, mas seguia o conselho de minha tia Ana: “é melhor prevenir (fechar os olhos, virar o rosto) do que remediar (fazer curativo nos joelhos e/ou escovar com força o solado do sapato).”

Saí do emprego para fazer transporte de cigarro e outras coisas do Paraguai para o interior de São Paulo. O pagamento era bom, a distribuição era suave, e com o dinheiro me mudei para uma casa melhor.

Tudo corria muito bem, apesar do gato se comportar de maneira estranha. Se eu acordava de madrugada, o gato sempre estava sentado ao.lado de bob e me olhava profundamente.

Quando isso acontecia eu tentava dormir novamente, mas sabia que aqueles olhos continuavam fixos em mim. Com o tempo, não conseguia mais dormir, era só eu deitar e lembrava que o gato me olhava. Depois passei até a evitar de ir para casa.

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As drogas proibidas pela facção

O Primeiro Comando da Capital e seu aliados proíbem que seus membros utilizem crack e loló, e mesmo outras drogas liberadas têm que ser usadas com moderação. Você é quem tem que controlar a droga, não ela você.

Dicionário Disciplinar Atualizado 2018 — PCC 1533

32º – USO DE DROGAS NÃO PERMITIDAS
Quando é feito o uso do crack ou até mesmo do mesclado.
→ exclusão sem retorno

Como pimenta nos olhos dos outros é bobagem, o delegado carioca Marcos Vinícius Braga nos conta que: “a entrada do crack nas favelas cariocas foi a condição imposta pela facção criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC) para continuar a vender cocaína para o Comando Vermelho”.

Por conta daquele gato eu estava perdendo o controle, e o dinheiro fácil era utilizado a rodo com bebidas e drogas — minha mulher, estava sofrendo com isso.

Meu velho cão e seu fiel gato agora eram os únicos que ainda vinham até mim quando chegava em casa. Minha garota já me evitava, e quando vinha falar era para criticar meu comportamento, pedir mais dinheiro e reclamar de meus amigos.

Ela, que sempre foi evangélica, passou a ser fanática, e isso me irritava profundamente. Era eu chegar em casa e começavam os sermões e louvores. Se em casa o clima era tenso, na rua não era melhor, e até o geral do estado me chamou para trocar umas ideias sobre meus excessos.

Tudo por culpa daquele gato preto. Para você pode parecer que não tem nada de mais em um gato olhar para você, mas é cabuloso e fica encucado na cabeça.

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Perdi completamente o controle sobre mim

Numa madrugada ao chegar em casa, eu estava turbinado, misturei tudo, a mente estava nublada e só me lembro que o Bob e o gato foram até a porta me receber e que minha mulher veio me dar um sermão — bati nela e chutei o cão, só o gato foi poupado.

Ao acordar de manhã ela não disse nada, o cão também se aquietou com o gato ao seu lado, e alguns dias depois o cachorro morreu — ele era muito velho, era de se esperar que partisse mais cedo ou mais tarde, sua morte não podia ter sido por causa de meu chute.

Enquanto ainda estava vivo, o cão olhava para mim triste, sem se levantar de seu cobertor — o gato também me olhava, mas agora com puro ódio, e quando eu acordava à noite, ele estava sentado na cama, bem ao meu lado olhando para mim.

Jurei que nunca mais me excederia, e evitei ir para casa, onde eu sabia que teria que enfrentar o olhar daquele animal demoníaco — eu precisava dar um tempo fora de casa, e a solução veio em forma de um serviço.

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Fui para a Guerra do Acre — B13 PCC vs CV FDN

Em agosto de 2017 me chamaram para levar alguns equipamentos para o Acre, onde estava tendo uma guerra entre a facção Bonde dos 13 (B13) e o Comando Vermelho (CV).

Não ia ter pagamento para esse serviço, era para ajudar os aliados, e eu fui convidado. Era só ir para as proximidades de Aquidauana no Mato Grosso do Sul, esperar na casa de um aliado o carregamento que vinha da fronteira e seguir para Rio Branco.

A viagem correu tranquila, até que minha mulher me ligou perguntando pelo gato, ela achou que eu o havia matado, pois ele desaparecera desde o dia que saí para a viagem — a partir daquele momento, não mais consegui dormir.

Entreguei o material, e os irmãos que me receberam não me deixaram voltar. Fui recebido como rei, e acabei ficando uns dias, e mesmo não participando dos corres por lá, eu, que nunca deixei de ajudar os amigos em suas brigas, não fiquei fora da guerra.

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O sangue infecta a alma

Não preciso aqui mentir, pois não estou sendo julgado por nenhum dos crimes que aconteceram em Rio Branco, Cruzeiro do Sul e Brasiléia, mas garanto que nunca vi em São Paulo o que presenciei por lá. Era outro nível de violência e crueldade, algo satânico.

Aquilo impregna o espírito do homem, mesmo o de um criminoso experiente como eu.

Não é fazer um assalto e esperar que as vítimas não reajam para que tudo termine bem: é ir pegar alguém sabendo que ela será torturada e esquartejada — já havia feito contenções em São Paulo e no Paraná, mas as mortes eram menos cruéis.

Fiquei feliz quando disseram que houve um acordo com o governo e que as ações nas ruas e nos presídios iriam parar, só sendo aceitos os acertos de contas autorizados, sem envolver a população — parti de volta para São Paulo.

Ao chegar em casa, o gato estava no cobertor do cachorro, e de lá não saiu, só ficou me observando. Quando minha mulher chegou em casa disse que o animal ficou fora todos os dias enquanto eu viajava. Ela disse isso e começou a orar, o que me irritou.

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Enforquei o gato no quintal da casa

Repito, não estou aqui para tentar dizer que tinha ou não alguma coisa demoníaca com aquele animal, apenas narrando os fatos na ordem dos acontecimentos e do jeito que aconteceram.

A viagem ao Acre me livrou das drogas, voltei limpo, mas as coisas que vi por lá mexeram com a minha cabeça. Eu não mais toleraria aquele gato, e no começo da noite o enforquei na goiabeira no quintal de casa — e naquela noite minha casa pegou fogo.

Vim direto do Acre para casa, sem parar no caminho para deixar as coisas que trouxe da Família 1533, e se elas queimassem eu teria que enfrentar o Tribunal do Crime — estava colocando no carro as armas e a droga quando a polícia chegou, atraída pelo incêndio.

Segundo Raymundo Juliano Feitosa cobrança mais cruel pelo Código Penal do PCC é o chamado xeque-mate: esquartejamento do infrator enquanto ele ainda está vivo, e só depois ele é morto e todo esculacho é filmado e jogado nas redes – essa condenação é aplicada aos estupradores e pedófilos, também, tem por finalidade servir de exemplo para outros que teriam interesse em fazer o mesmo.

Fui abordado e já estava algemado quando o policial perguntou se tinha alguém na casa. Minha mente ainda não estava funcionando direito, respondi que não, mas naquele momento, da casa ainda em chamas vieram gritos horríveis.

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Minha mulher morreu e eu fui preso

Um dos que narraram o que lá se ouviu foi Carlos Eduardo Valente, um pelotense que havia se mudado para o estado de São Paulo:

“Santo Deus, apenas ecoou no silêncio um gemido, um soluço, um grito prolongado e alto, anormal e inumano, um urro, um guincho lamentoso, cheio de horror e triunfo, como só no inferno pode se erguer das gargantas dos danados a sua agonia, e dos demônios da danação.”

O sangue gelou e ninguém se mexeu enquanto aquele lamento diabólico não cessou, e aí os vizinhos se lembraram que na casa deviam estar minha mulher e o gato, não eu. Quando os bombeiros chegaram, já não restava mais nada a fazer do que o rescaldo.

O corpo dela foi encontrado ainda na cama e na parede queimada, uma mancha branca na parede agora negra. Todos se admiram daquela marca, não tinha como não ver claramente um gato enforcado.

Os bombeiros encontraram e mostraram para o policial o corpo do animal ainda pendurado na árvore, e todos acharam que eu havia aproveitado que minha mulher dormia para matar o bicho, fazer a marca satânica na parede, por fogo na casa e fugir enquanto ela queimava — mas que o plano falhara.

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Mesmo preso o gato me persegue

Não pense que fiquei triste com minha prisão, pensei que ia me livrar do pesadelo, pois na prisão ficaria livre daquele gato do diabo, mas não, fui mandado inicialmente para o CDP de Sorocaba, e lá levei muito “salve”, perdi uns dentes e tive um pulmão perfurado.

Acharam que eu tinha matado minha mulher — fui mandado para o seguro, e depois começaram minhas transferências sem fim.

Independente para onde eu ia, era só eu chegar que, durante a noite, aqueles gritos lamentosos e horripilantes começavam a ser ouvidos pelos corredores, e todos os atribuíam a minha presença.

A imprensa inventou muita coisa a meu respeito, dizendo que eu havia emparedado minha mulher com um gato, o que não foi verdade, mas a mídia comprou a ideia e o mito se colou em mim como o grito daquele gato preto.

Eu aguentei de tudo, mas, agora, que estou em uma tranca onde sou aceito, venho pedir pelo amor de Deus que você consiga minha transferência de volta para qualquer unidade prisional comandada pelo Primeiro.

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O cheiro de carne humana queimada é um elixir para Lúcifer

Eu contei a você tudo o que aconteceu, você pode ver que não tenho nada com esse negócio de satanismo, foram apenas coisas que aconteceram, e aquele gato negro que entrou em minha vida.

Agora estou em uma das poucas unidades, se não a única do estado, onde ainda tem alguns membros da Seita Satânica (SS), e me colocaram com eles — ninguém mais me aceita por perto.

Mas eu prefiro morrer nas mãos dos PCCs a continuar vivendo entre os SSs. Aqui é o inferno no inferno, eu mesmo não teria palavras para descrever o que acontece por aqui. É como Diorgeres de Assis Victorio contou para Guilherme Santana:

“Tenha um mau dia, que o demônio te acompanhe, e tudo de ruim para você.” — é assim que começamos o dia, mau. Nos dias bons, tem cheiro de churrasco, mas é carne de gente viva que é queimada dentro das celas — daqueles que são aceitos como irmãos.

As queimaduras são graves e acabam na enfermaria, eu sou um dos poucos que não aceitam participar dessa loucura, mas não posso negar que eles não tenham força, pois desde que estou aqui, nunca mais o gato maldito apareceu.

O que falei neste site sobre o diabo→ ۞

O estatuto só tem 3 linhas , mas já é o que basta

Presidiário seita satânica SS Bauru

Achei que nada seria pior que o gato demoníaco, mas o cheiro de podridão da tranca da Seita Satânica, as paredes com símbolos de estrelas de cinco pontas e cruzes invertidas, tridentes e escrituras em uma língua estranha, as repetições do número 666 e desenhos de Baphomet e do olho de Lúcifer são muito mais difíceis de suportar que aqueles olhos acusadores ou gritos enlouquecedores do gato do inferno.

Ninguém conta de onde vem o sangue que é guardado até muito depois de apodrecer dentro das celas dos SS, e não serei eu quem o farei, mas o segredo talvez esteja no livro “Alquimia, Satanismo e Cagliostro”.

Até agora, pelo menos, eu não consegui que me deixassem ver o livro. Ele fica enrolado em um pano preto junto com alguns charutos, mas as regras básicas são repetidas e por todos têm que ser decoradas:

1) Que a verdadeira justiça infernal reine em nossos corações.
2) Porque, na verdade, a justiça infernal é inviolável em toda a superfície do universo.
3) Nas profundezas do fogo, nas profundezas do inferno, em toda a superfície da terra, nas profundezas do mar e no espaço infinito, sempre para a glória infernal.

Diorgeres de Assis Victorio pode contar para você toda a história dessa facção, desde o seu início, passando pela difícil convivência com o Primeiro Comando da Capital no Carandiru, até o momento que praticamente foi riscada do mapa pelo PCC.

Onde citei Diorgeres neste site→ ۞

O gato não se atreveu a enfrentar os SSs

O que aconteceu para aquele maldito gato ter deixado de me atormentar todas as noites, aqui, e enquanto eu estava nos outras trancas ele continuar a me perseguir?

Fui condenado pelos homens pela morte de minha mulher, do gato, e pelo incêndio na casa, mas não mereço ir para o inferno, e por isso me recuso a ficar com essas crias de Lúcifer.

Matei sim, mas não minha mulher, trafiquei sim, mas nunca fui uma pessoa má. Sempre gostei de animais, de ajudar meus amigos e ficar com minha mulher.

Por isso, e pela última vez, peço-lhe que consiga minha transferência, pois prefiro que esse meu corpo morra pelas mãos de meus irmãos, mas minha alma seja salva e siga seu caminho para longe daqueles olhos acusadores daquele gato maldito.

Esse texto foi baseado no conto “O Gato Preto”, de Edgar Allan Poe.

O PCC e a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD)

Renata Siuda-Ambroziak analisa a evolução social brasileira pós-regime militar e associa religião, política, economia, Igreja Universal do Reino de Deus IURD e o Primeiro Comando da Capital PCC.

Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), uma potência religiosa em meio à selva urbana do Brasil, entrelaça-se com a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533). Neste intrigante drama social, a fé e o crime dançam numa valsa complexa. Promessas de aceitação social e ascensão econômicas são vendidas como elixires salvadores.

No intricado labirinto de política, religião e crime, uma surpreendente intersecção se revela. Deseja-se compreender como estes dois polos diametralmente opostos se cruzam? Não procure mais, este estudo promete uma viagem única através das sinuosidades da sociedade brasileira.

Encorajamos calorosamente seus comentários, pensamentos e questionamentos. Contribua para a nossa comunidade de leitores, ou, se preferir, envie-me uma mensagem privada. Vamos mergulhar juntos nesta maré de mudanças e revelações.

A conexão entre PCC e Igreja Universal: uma análise da evolução social brasileira

Nas sombras do tecido social brasileiro, duas entidades improváveis surgem, entrelaçadas numa dança estranha e intrigante – uma organização criminosa, o Primeiro Comando da Capital, e um baluarte religiosa, a Igreja Universal do Reino de Deus, grupos tão distintos, mas que dividem os mesmos ideais e estratos sociais.

Com o Brasil emergindo do casulo de um regime militar, uma história de mudança, busca por segurança e, ironicamente, a fé, é tecida. A religião, um mero pano de fundo para alguns, é um protagonista para o PCC, seu ritmo e ritual ditando o pulso da facção.

O cenário da sociedade carcerária brasileira é o palco onde o drama se desenrola. As figuras de poder tradicionais como a Igreja Católica e a polícia são ofuscadas pelo brilho da Igreja Universal e do PCC, duas instituições que cresciam lado a lado, como árvores entrelaçadas em uma floresta densa.

Apesar das diferenças aparentes, ambas trazem promessas sedutoras para seus seguidores: a possibilidade de aceitação, a oportunidade de ascensão social, o aumento do poder de compra e, o mais importante, a chance de iluminação moral e espiritual. Renata Siuda-Ambroziak, uma pesquisadora do fenômeno, descreve isso como “fatores de eliminação psíquica do risco e a redução do estresse”, uma ferramenta poderosa nas mãos de líderes carismáticos.

Polityka kościołów neopentekostalnych w okresie transformacji ustrojowej w Brazylii – by Renata Siuda-Ambroziak

Freud avisa: uma atmosfera de repressão sexual…

As fortalezas do PCC e da Igreja Universal, no entanto, não se limitam aos confins dos cárceres e das periferias. Ambos se infiltram em outras camadas sociais, numa busca incansável por diminuir ou explorar a desigualdade social. Este avanço é sentido até mesmo no jogo político, onde tanto a facção criminosa quanto a igreja buscam colocar representantes em posições de poder.

Nesse contexto complexo, também encontramos regras rígidas de comportamento sexual, praticadas tanto pela IURD quanto pelo PCC, onde atos considerados deviantes são severamente punidos. Freud avisa: uma atmosfera de repressão sexual “cria uma necessidade de alívio, a fim de reduzir a tensão”.

Roberto Cordoville Efrem de Lima Filho demonstra brilhantemente que não se pode analisar o fenômeno Família 1533 sem levar em conta o ambiente histórico, comportamental e religioso da sociedade carcerária brasileira.

Por fim, a trama intrincada da IURD e do PCC desvela uma imagem do Brasil em busca de segurança e contentamento, as expansões dessas duas organizações como indicadores de mudanças culturais, sociais e políticas profundas. Afinal, na escuridão da noite, tanto o santo quanto o pecador buscam a luz.

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