A cocaína 100% do Comando e o crack nas prisões

Você já experimentou a cocaína 100% do Comando? Fala sério! Aquela branquinha cujos cristais brilham… Não quero te falar nada não, mas essa não é a 100% do Comando — se te disseram que é, só lamento.

Faltava oportunidade para vir falar para você sobre essa super droga, de edição limitada e de fabricação e distribuição controlada pelo alto escalão do PCC, mas agora, graças à pesquisadora Iara Flor Richwin Ferreira, vou tratar desse assunto.

Antes de começar, eu vou propor a você um acordo: você posta a fórmula da Coca-Cola e eu posto a fórmula da 100% do Comando. Iara, em sua tese para a UnB Crack: substância, corpos, dispositivo e vulnerabilidades. A psicanálise e a prática clínico-institucional com usuários de crack, traça um perfil do usuário dessa droga e das suas relações com a sociedade e com os traficantes:

“… os usuários de crack, apesar de alimentarem o comércio de drogas, são humilhados, escarnecidos e violentados inclusive pelos próprios traficantes, que consideram que os ‘nóias’ atrapalham as dinâmicas dos pontos de venda com seu constante ir e vir, e, principalmente, os classificam moralmente como degradados que perderam o controle sobre o próprio corpo, sobre o próprio consumo, sobre a própria dívida, sobre o próprio caráter”

Iara descreveu com perfeição o que é visto nas ruas.

Nas ruas — especialistas para venda do crack

Não é qualquer biqueira que distribui o crack, e, por algum tempo, o Primeiro Comando da Capital tentou retirar das ruas essas drogas, mas a demanda não pode ser reprimida, então, antes de perder o monopólio, voltou ao mercado.

No entanto, nem todos os comerciantes trabalham no varejo com esse tipo de cliente. Para atender aos usuários de crack, o vendedor tem que ser diferenciado. São: os mais violentos; aqueles que ainda não conquistaram espaço para atender a um público mais selecionado; alguém que está pagando uma dívida — alguns vendem por opção comercial, mas são minoria.

Nas trancas — nada de crack

Iara continua…

“Também nas cadeias controladas pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), é possível observar a estigmatização e depreciação moral em relação ao crack, onde o fim da circulação e consumo dessa droga teve alcance. O que está na base da justificação da ‘extinção’ do crack nessas cadeias, […] relaciona-se ao seu grande potencial de promover a contração de dívidas e desencadear conflitos, mas […] também está estreitamente associada ao limite moral que o crack representa. ‘Degradação’, ‘falta de controle’ e ‘droga que faz o cara roubar a mãe, matar a mãe e tudo mais’ são os argumentos levantados por Marcola…”

A pesquisadora faz um diagnóstico preciso, irretocável, expondo casos de dentro do sistema, mas faço uma correção — se a cadeia é “controlada pelo Primeiro Comando” não há crack em hipótese alguma. Em determinadas unidades penais, o Primeiro Comando está presente e pode até ser maioria, mas, se existe comércio e consumo de crack, a facção ainda não está no controle da tranca.

Quando eu era criança achava que os usuários de drogas e alcoólatras saiam do Sistema Carcerário limpos, já que com tanta polícia e com tanta muralha não teria jeito de se comprar drogas.

Quando crescemos, aprendemos que as regras impostas pelo Estado de Direito nem sempre são levadas a sério, principalmente nas periferias das grandes cidades e dentro do Sistema Prisional. Mas nos presídios sob o controle efetivo da facção o crack não entra, pois está proibido no Regimento Interno do Primeiro Comando da Capital, conhecido como Dicionário do PCC, e esse funciona de verdade:

A cocaína 100% do Comando e o Crack

Se você não está dentro do Sistema, e em uma das unidades em que estão autorizadas a entrada da 100% do Comando, só lamento, mas vai morrer sem experimentar.

Vou te contar: nessas unidades, até os ASPENs sabem quando ela chegou, pois a tranca fica agitada e parece que vai virar, mas é só saírem da frente e esperarem a normalidade voltar. A 100% do Comando — amarela e opaca — é uma super cocaína sem os efeitos colaterais trazidos pelo crack, uma droga especial, de edição limitada e de fabricação e distribuição controlada pelo alto escalão do PCC.

Antes de terminar, retiro o acordo que lhe propus.

Se você postar a fórmula da Coca-Cola, vai ser processado e fica por isso mesmo, mas eu, se postar a fórmula da 100% do Comando, vou ter que responder a um Salve — fala sério! Não é uma troca justa. (adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});

Autor: Ricard Wagner Rizzi

O problema do mundo online, porém, é que aqui, assim como ninguém sabe que você é um cachorro, não dá para sacar se a pessoa do outro lado é do PCC. Na rede, quase nada do que parece, é. Uma senhorinha indefesa pode ser combatente de scammers; seu fã no Facebook pode ser um robô; e, como é o caso da página em questão, um aparente editor de site de facção pode se tratar de Rícard Wagner Rizzi... (site motherboard.vice.com)

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