Está circulando em grupos sociais a notícia que o Primeiro Comando da Capital emitiu um “salve” para matar policiais da ROTA, contendo um vídeo de um suposto membro da facção que confessa e conta o procedimento.
O PCC afirma em vídeo que circula em suas redes sociais que não ordenou e não tinha nada contra o policial morto na porta de sua casa. Afirma que o proceder desse policial era correto e cumpridor de seus deveres, afirma também que ele deve ter sido morto por outros policiais que não correm pelo certo como queima de arquivo.
No vídeo também vincula um deputado estadual de estar tentando levar a tropa a um clima de guerra contra o PCC, levando o terror e mortes à periferia.
Ainda há um trecho em que a facção Primeiro Comando da Capital reafirma que não compactua com a morte de policiais que não estejam agindo na covardia.
Apela ainda para que as autoridades ao invés de buscar audiência com a chamada “Operação Abate” trate de colocar em prática a: Operação Saúde, Operação Educação e Operação Justiça Social.
O Primeiro Comando da Capital também afirma no vídeo que não deixará que grupos políticos transformem São Paulo em uma praça de abate como se transformou o Rio de Janeiro.
Afirma ainda que aqueles que devem dar a resposta dentro da facção ainda não decidiram qual a resposta que será dada e se será.
A mensagem termina desejando a todos “Paz, Justiça, Liberdade, Igualdade e União” a todos sem exceção.
A facção Primeiro Comando da Capital encontrou um solo fértil para estruturar suas bases dentro do sistema carcerário graças à globalização e ao neoliberalismo.
Facção PCC 1533 – Uma semente lançada em solo fértil
Se hoje o Primeiro Comando da Capital germina como um cartel internacional de drogas, foi graças ao esforço de várias pessoas, e, entre elas, eu e você.
Não sei onde você estava e o que fazia no final de 1991, mas você, assim como eu, acompanhou a Queda do Muro de Berlim – o coroamento da vitória do neoliberalismo sobre o socialismo internacional.
Foi graças aos nossos esforços que houve essa vitória e a consequente derrubada das rígidas fronteiras nacionais, deixando o solo menos árido para as sementes que então eram jogadas por Zé Márcio.
Não sei onde você estava e o que fazia, mas posso afirmar que Zé Márcio Felício caminhava pelos corredores e pátios ocultos por trás das muralhas das unidades prisionais, semeando a “boa nova” nos corações e nas mentes dos encarcerados.
Geleião e o PCC 1533 semeando a união dentro do sistema
Facção PCC 1533 e o admirável mundo novo
Cabe ao semeador retirar as sementes do celeiro e levá-las ao campo, ou a safra não virá; mas a semente tendo sida jogada ao tempo certo e em solo fértil, trará a safra, independentemente de quem tenha sido a mão a jogar a semente ou a fertilizar o solo.
Na “parábola do semeador” o nome do personagem não é citado por nenhum dos evangelistas, pois sua identidade simplesmente não é importante, mas, sim, seu trabalho.
Por essa razão a nossa participação, a minha e a sua, fertilizando o solo para as sementes do Primeiro Comando da Capital não tem também nenhuma importância, e, por humildade cristã negaremos que os frutos agora gerados são resultado de nosso esforço.
Naquela tarde de chuva de 1991, Rato era morto por Cesinha em Taubaté. Era a primeira semente jogada ao solo utilizando o método que seria imortalizado na fundação oficial do Partido do Crime da Capital (PCC)– a Rebelião de Taubaté de 1993.
Cezinha começou a alicerçar o PCC utilizando o sangue de Rato na massa, enquanto Zé Márcio (Geleião) jogava sementes de presídio em presídio, pregando a “boa nova”, e nós, eu e você, derrubávamos o Muro de Berlin – era o fim da história segundo Fukuyama, só que não, era só o começo.
Finalmente conseguimos, eu e você, e o fruto de nosso esforço foi tornar as fronteiras mais permeáveis à circulação de pessoas e produtos: a grande vitória para nossa geração! – e sem a qual o Primeiro Comando da Capital não existiria…
… mas deixemos que os louros pela criação da Facção PCC 1533 sejam entregues a Zé Márcio, o semeador, apesar de que fomos nós que tenhamos preparado o solo.
Bem-vindo ao nosso admirável mundo novo. Está chegando o momento certo para se semear: o solo está quase preparado.
A abertura dos Portos e o Primeiro Comando da Capital
Facção PCC 1533 surfando na onda neoliberal
No Brasil, o presidente Fernando Collor de Mello abriu os portos para as nações amigas, permitindo a importação de produtos e derrubando taxas de importação. Com uma maior concorrência externa, os preços despencaram com o aumento da oferta e não houve mais desabastecimento nas biqueiras.
Em um mercado mais competitivo, os produtos ilícitos, como as drogas e as armas, que antes eram trazidos por muambeiros, passaram a chegar através de uma cadeia de distribuição gerida por grupos com expertise em comércio internacional:
Vários grupos latino-americanos já haviam muito antes formado cartéis criminosos nacionais, mas agora as fronteiras foram derrubadas por mim e por você, e Zé Márcio, que antes via suas sementes caírem sobre espinhos e pedras, agora já podia sorrir.
As drogas que sustentariam o crescimento da facção PCC nos presídios passou a chegar em um fluxo constante da Bolívia, da Colômbia e do Paraguai, afinal as fronteiras se tornaram mais permeáveis após 1991, e a distribuição dentro do sistema penal se profissionalizou.
Bem-vindo ao nosso admirável mundo novo neoliberal. Chega o momento certo para se semear: o solo está preparado.
Derrubando fronteiras e preparando o terreno para o PCC
Facção PCC 1533 levando ao mundo seu objeto de desejo
Em nosso mundo liberal podemos hoje nos fortalecer ou nos destruir como indivíduos, cabendo a cada um a escolha daquilo que acredita ser o melhor para si.
Mesmos sabendo que o álcool, o cigarro, as drogas legais e ilegais nos fazem mal, temos acesso a esses produtos:
… e nós, eu e você, desejávamos comprar o que bem quiséssemos e nem imaginamos as consequências (aliás, como ocorre normalmente durante as eleições).
Eu e você, que somos cidadãos de bem, nunca vamos assumir publicamente que nossas decisões ou o apoio que demos, mesmo que dentro de nossas redes sociais (família, amigos e colegas de trabalho), foram fundamentais para o crescimento da facção PCC.
O solo já estava preparado, mas faltava ainda dar melhores condições de trabalho para aquele que estava a semear a “boa nova”.
Mas talvez você se lembre que vibrávamos quando havia mortes dentro dos presídios, preso matando preso. E os governantes e agentes públicos, para alimentar a nós e outros que estavam ávidos por ver sangue na televisão providenciavam os espetáculos.
Bem-vindo ao nosso admirável mundo dos espetáculos. Quem semeia deve ser jogado aos leões: o circo está preparado.
Bolsonaro e o show da isegurança pública
Zé Márcio foi escolhido para ir ao picadeiro.
Aquele que pregava em solo fértil foi enviado pelos administradores do sistema prisional para morrer na Penitenciária de Avaré, comandada então por Zorro, líder da facção Comando Democrático da Liberdade (CDL), e que era amigo de Rato, morto em 1991.
Zé Márcio seria morto em uma vingança, seu corpo seria apresentado para a imprensa, algum dos presos seriam culpados por sua morte e o Primeiro Comando da Capital (PCC) perderia uma de suas principais lideranças… só que não.
Ao chegar a triagem em Avaré, Zé Márcio se recusa a ir para o “seguro”. Alguém lhe oferece uma faca na entrada e ele também recusa. Entra no complexo e segue direto para o pátio onde Zorro está jogando futebol, vai até ele e chuta a bola para fora do presídio:
A coragem de Zé Márcio é reconhecida, e Zorro e a facção CDL se convertem. Dessa vez não houve espetáculo no circo para o meu e o seu prazer, mas, sim, o plantio de um vasto campo com as sementes da facção Primeiro Comando da Capital.
Aquelas mãos que jogaram Zé Márcio em Avaré, e ajudaram a consolidar o poder da facção PCC 1533 dentro dos presídios, jamais baterão no peito exigindo o mérito dessa semeadura, assim como…
… eu e você jamais assumiremos que assistíamos pela TV as chacinas que ocorriam dentro dos presídios, enquanto no silêncio de nossas salas aplaudíamos as mortes e pedíamos secretamente outras aos políticos e aos administradores do sistema carcerário.
Bem-vindo ao mundo real, onde nem sempre o que idealizamos acontece, mas sempre podemos negar nossa participação na culpa.
O PCC e a ‘Ndrangheta e a parceria internacional
Facção PCC 1533 fechando com a ‘Ndrangheta
“Se houver amanhã”, de Sidney Sheldon, era um dos preferidos de Zé Márcio, e esse amanhã chegou. Os campos já estavam prontos para serem colhidos por organizações feitas sob medida para o competitivo mundo do comércio globalizado.
A organização criminosa ‘Ndrangheta buscava um parceiro no Cone Sul capaz de suprir suas necessidades e o volume de negócios da organização italiana em 2008 equivalia ao PIB reunido de todos os estados do Norte do Brasil: 163 bilhões de Reais.
Apenas um grupo poderia encarar o desafio de trazer drogas das lavouras da Bolívia, da Colômbia, do Peru e do Paraguai passando por trilhas, estradas e rios, atravessando pelo Brasil e enviá-las para a África e a Europa: o Primeiro Comando da Capital.
“Os corretores da máfia são tão poderosos que lidam diretamente com o PCC. Traficando da Colômbia, da Bolívia e do Peru, passando pelo Paraguai como rota de trânsito.” — Zully Rolón, ministro da Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai
A parceria entre as duas organizações criminosas possibilitou que a ‘Ndrangheta passasse a hegemonia do tráfico de drogas da América para a Europa com o dominando 80% do fluxo. — Última Hora
Um dos esquemas, tinha como base as esteiras do Terminal do Aeroporto de Guarulhos: as bolsas seguiam pelas esteiras rolantes até a área restrita, onde funcionários aliciados pelo Primeiro Comando da Capital recebiam dos comparsas as fotos com as imagens das malas recheadas com drogas, e as embarcavam para Portugal, França e Holanda, na Europa, e também para Johannesburgo, na África do Sul.
A estrutura do Primeiro Comando da Capital no exterior está muito bem estruturada: conexões políticas e logística em Moçambique permite a reexportação para os Estados Unidos, Europa e Austrália, através de conexão em Malawi.