O PCC e Moisés e a solução do problema carcerário

A cultura judaico-cristã e o fenômeno da prisionização: stress, tortura e assassinato em um sistema carcerário insalubre.

Mil à esquerda e dez mil à direita ― ou quase

Muitas coisas os integrantes do Primeiro Comando da Capital e os homens da polícia e os agentes penitenciários (ASPens ou ASPs) têm em comum, e uma delas é a citação constante em suas redes sociais do Salmo 91:7:

“Caiam mil homens à tua esquerda e dez mil à tua direita, tu não serás atingido.”

Não podia ser diferente, ambos os grupos são ou se consideram guerreiros e foram doutrinados em uma sociedade judaico-cristã ― assim como você e eu.

Há poucos dias duas dezenas de integrantes ligados ao PCC caíram logo aqui ao sul (Sorocaba), e três dezenas de policiais envolvidos com o PCC caíram logo ali ao norte (Campinas) ― por isso resolvi dar um tempo nas postagens.

No entanto, caíram no meu colo dois artigos, um do Ponte Jornalismo, ”Pastoral Carcerária Nacional denuncia tortura em presídio de Anápolis (GO)”, e outro do Canal Ciências Criminais, “Os efeitos da prisionização nos agentes penitenciários” ― não resisti, voltei.

Fenômeno da Prisionização Pedro Magalhães Ganem

Prisioneiros Vs Carcereiros

Moisés matou um carcereiro que torturava um preso, e assim começou o Êxodo do povo de Israel, que culminou na construção de nossa base cultural e religiosa ― faz tempo, mas o caso ficou muito conhecido:

Ele foi ter com os seus irmãos e começou a dar­-se conta das terríveis condições em que viviam, certa vez viu mesmo um dos guardas a bater num dos seus irmãos! Não se conteve. Olhou dum lado e doutro para se certificar de que ninguém mais o via, matou-o…

O Ponte Jornalismo levantou a questão da tortura nos presídios, mas foi o pesquisador Pedro Magalhães Ganem quem me chamou a atenção para o fato de que os carcereiros também são tão vítimas desse processo tanto quanto os encarcerados.

Creio que você, ao ouvir a história de Moisés, possivelmente o apoiou, mas posso estar errado ― tente se lembrar o que você pensou na época que ficou sabendo do caso.

De fato ninguém, nem eu, nem você, derramamos lágrimas para o agente morto por Moisés. Repare: você que já ouviu falar da história com certeza não se lembra e nunca se indagou qual era o nome do carcereiro assassinado no Egito.

Diorgeres de Assis Victorio prisioneiro do PCC 1533

Ninguém está nem aí para com os carcereiros

“Então um dos detentos que parecia um líder disse que precisava de dois reféns para ir com ele até a muralha do pátio. Era ali, na frente de todo mundo, que eles costumavam matar os reféns. Como na época do Exército eu havia tido aulas de prisioneiro de guerra, com porrada, tapa na cara etc., concluí que poderia estar mais preparado do que os outros para ir, então eu acenei com a cabeça para um colega que achei que tinha mais frieza e nós dois dissemos que iríamos.”

Não, provavelmente você não se lembra de Diorgeres de Assis Victorio, assim como não se lembra do nome do carcereiro egípcio que foi morto, mas se lembra de ter ouvido falar de Moisés, assim como ouviu falar de Marcola, Gegê do Mangue, entre tantos outros.

O Marcola era homicida, sequestrador, roubava banco, não tinha nada a ver com a facção, mas é um homem articulado. E quando ele foi levado para o presídio de Tremembé [no interior de SP] começa a conversar com os últimos presos políticos no sistema prisional e aprende com eles sobre como estruturar o tráfico, a gerenciar como uma empresa, ao mesmo tempo em que vende internamente para os detentos a ideia de uma irmandade revolucionária.

desembargadora Ivana David

Não se culpe se você nunca ouviu falar sobre Marcola e seus comparaças, afinal não faz nenhuma diferença o nome daqueles que vão morrer, “Ave, Imperator, morituri te salutant”. A democracia e a tecnologia, no entanto, tiraram os cristãos de dentro das sangrentas arenas dos circos romanos para os sofás em frente das TVs.

Você talvez tenha visto Diorgeres de Assis Victorio pela televisão, tenha ficado torcendo por seu fim ou por sua salvação, mas, independente do resultado, seu nome seria esquecido, assim como foi o do agente penitenciário morto por Moisés.

penitenciárias deterioradas inseguras e insalubres.jpg

Em briga de lobos, ovelha não palpita, ou palpita?

Assim como no passado, hoje, o tratamento dado aos presos é violento, qualquer um que passou pelo Sistema Prisional pode te dizer isso, no entanto é impossível se provar as barbaridades que acontecem do lado de dentro das muralhas.

“Os presos e os membros da Carcerária têm medo de represália [mas] temos relatos em Goiás [de] tortura, ausência de direitos e outras violências, […] os apenados estão sendo submetidos a tratamentos humilhantes de forma consciente, os presos são machucados e possuem dedos quebrados.”

As poucas vezes que inquéritos foram abertos e chegaram à conclusão com a punição dos agentes foram aquelas que os próprios envolvidos filmaram o ocorrido, assim como acontece com os integrantes do Primeiro Comando da Capital que caem após filmarem suas execuções.

Os defensores dos manos, como são chamados pelos “cidadãos de bem”, cristãos, que defendem o cumprimento da lei e da ordem, acreditam que a violência cometida pelos agentes policiais e carcerários é justificada, mas será mesmo?

O sistema prisional brasileiro, assim como a segurança pública, não pode prescindir da tortura e do uso ilegal da força, que a máquina de Justiça tolera, pois foi criada para fazer com que esses abusos não suportem um processo formal.

As ovelhas podem balar, mas os ASPens que caminham desarmados entre os lobos querem sobreviver, e não o conseguirão seguindo regras desenvolvidas em gabinetes para serem aplicadas em penitenciárias deterioradas, inseguras e insalubres.

Quem defende vagabundo é vagabundo também

Melhoria das condições do cárcere já!

Não, não sou eu, um PCC ou um defensor dos Direitos Humanos que faz ecoar esse brado, é ninguém mais e ninguém menos que Pedro, o pesquisador do site Canal Ciências Criminais:

“Diante desse prisma fica ainda mais evidente que é essencial buscar melhorias em todos os aspectos, garantindo direitos e assegurando o cumprimento do que estabelecido na lei.

Infelizmente, quando surge esse assunto, as pessoas logo tratam de associá-lo à busca pela garantia dos direitos apenas de quem está detido, naquilo que elas erroneamente denominam “defesa de bandido”.

Pare pra pensar: se o lugar é insalubre, mal iluminado, pouco ventilado, inóspito, […] não é somente para quem está preso, mas também para quem trabalha o dia inteiro lá.

Já parou para pensar como deve ser difícil trabalhar lá dentro? Como deve ser complicado compartilhar dessas precárias estruturas com as pessoas que estão presas?

Vivenciar todas as violações de direitos (deles próprios e dos detentos) é uma das causas desses trabalhadores serem acometidos das mais variadas doenças psíquicas.”

prisões o que não mata nos fortalece

O fenômeno da prisionização ― a vida como ela é

Pedro nos lembra que dentro do sistema carcerário existem vários tipos de presos, os apenados, os funcionários e todos aqueles que por um motivo ou por outro têm que ingressar nesse sistema que mata e tortura ― a todos, indistintamente, e aos poucos.

Você de certo se lembra que o povo hebreu enviado para o cativeiro voltava fortalecido e dominando novas tecnologias e ideologias. Foi assim que se desenvolveu o monoteísmo, o idioma, os sistemas de governo, justiça e administração militar.

Você de certo também se lembra que aqui no Brasil os criminosos comuns foram colocados juntos com os prisioneiros políticos e distribuídos por todo o país. Foi assim que desenvolveram sua cultura, o Estatuto do PCC, os Tribunais do Crime e a sua base nacional.

“Caiam mil homens à tua esquerda e dez mil à tua direita, tu não serás atingido.”

Há poucos dias duas dezenas de integrantes ligados ao PCCs caíram logo aqui ao sul, e três dezenas de policiais envolvidos com o PCC caíram logo ali ao norte ― muitos deles ficarão nos cárceres, e que novas tecnologias e estratégias desenvolverão?

problema complexo requer solução simples

Qual é a solução para nosso problema carcerário?

Os carneiros balem às vezes pedindo a privatização do sistema prisional e a maior liberdade para os presos, também pela estatização e pelo enrijecimento no tratamentos dos detentos ― soluções fáceis para um problema complexo.

Moisés não colocou os pés na Terra Prometida, e não seremos eu ou você que chegaremos lá, mas podemos, sim, balir e opinar como os agentes públicos e os presos devem se comportar.

Crucifiquemos ora os ASPens, ora os presos, mas deixemos para lá a estrutura social e econômica criada em torno do cárcere, pois ela não deve ser tocada, afinal daria um trabalho danado ― deixemos como está para ver como é que fica.

Pedro Rodrigues da Silva, o Pedrinho Matador, conhece o sistema prisional de São Paulo como poucos. Ele ficou sem ver a rua de 1973 até 2007 e de 2011 até 2018 — viveu mais de 40 atrás das grades e por lá, ele conta que viu mais de 200 presos serem mortos enquanto esteve por lá, sendo que mais de 100 foram ele mesmo que matou.

Viveu no cárcere no tempo do Regime Militar, da redemocratização e dos governos com leve viés progressista, mas mudança mesmo, houve quando a facção paulista despontou como hegemônica, acabando com as diversas gangs e grupos dentro das cadeias e presídios.

Sobre o Primeiro Comando da Capital ele afirmou durante uma entrevista:

“Fui [convidado a entrar no PCC], mas não entrei. Ali é o seguinte: depois que surgiu o partido, você vê que a cadeia mudou. Não morre ninguém porque o partido não deixa. É paz. Paz para a Justiça ver. Se começa uma briga, eles seguram. Eles também ajudam quem sai, arrumam trabalho.”

transcrito por Willian Helal Filho para O Globo
Praça Clóvis Beviláqua, 351 - 703 - Sé, São Paulo - SP, 01018-001, Brasil

Autor: Ricard Wagner Rizzi

O problema do mundo online, porém, é que aqui, assim como ninguém sabe que você é um cachorro, não dá para sacar se a pessoa do outro lado é do PCC. Na rede, quase nada do que parece, é. Uma senhorinha indefesa pode ser combatente de scammers; seu fã no Facebook pode ser um robô; e, como é o caso da página em questão, um aparente editor de site de facção pode se tratar de Rícard Wagner Rizzi... (site motherboard.vice.com)

5 comentários em “O PCC e Moisés e a solução do problema carcerário”

  1. Antigamente criticava o (PCC) PRIMEIRO COMANDO DA CAPITAL, por nao conhecer sua politica e leis.
    Mesmo sabendo que se trata de uma organização criminosa” a cada dia pesquisando em sites vídeos etc.. Pude notar suas diferentes leis que em algumas situações e mais cabivel que nossas leis do Brasil e do mundo… Muitas pessoas pessoas de bem família temem quando se trata em relação ao primeiro comando …bom é de se temer mesmo por ser uma organização criminosa porem que não é como as pessoas pensam.
    Sobre nossas autoridades brasileiras muitas vezes nos constrangem, são muitos abusivas sem respeito ao cidadãos de bem ….me refiro na parte de abuso autoritário, sinceramente me sinto mais seguro no meu setor pelas regras do pcc do que nossas próprias polícias …são muito abusivas nao respeito pai de de famílias ou seja nao respeitam ninguém por estarem vestidos de fardas ….uma situação ocorreu com meu sobrinho é sua família foi constrangedora e revoltante da parte dos militares ……nao respeitaram a esposa dele mandando tirar as roupa em frente alguns PMs sendo que nao avia nenhuma policial feminina para a revista, alem de eles torturarem um menor de idade que apenas jogava futebol na rua com os coleguinhas…alem de mandarem a mulher jogar um bebê no chão….até hoje criando um odio por certo policiais abusivos …..pensei em denunciar porem poderia sofre represália da parte dos policiais até mesmo ser morto por eles se eu os denuciace…então ficou por isso, sei que meu sobrinho nao tava certo praticando coisas errada mas já que ele achava um meio mais facil de viver já que oferecem oportunidades de trabalhos no Brasil …….então aqui é um desabafo de um cidadão de bem admirador dessa organização….respeitando a decisão de cada membro ……e aos lideres ….que Deus salve e guarde o PCC …PRIMEIRO COMANDO DA CAPITAL….DEUS GUARDE TODOS NOS DOS OPRESSORES OU SEJA OS ABUSIVOS POR TRÁS DE FARDA OU DE COLARINHOS ……..AMEN.

    1. Sem duvida nehuma sou charada daqui da zona norte regiao proximo ao fontales nao tenho medo de postar meus intuitos e interesses, porem o primeiro comando da capital é uma facçao justa em busca do melhor cada vez mais mostrando que se o governo nao tem total comando de corregedoria facçao os mostra de maneira eficaz a como nao oprimir, humilhar e maltratar a qurm nao tem defesa pois tenho o PCC como um Braço forte e uma mao amiga onde defende o fraco e cobra o injusto

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