O que os traficantes pensam sobre a legalização das drogas?
Policiais e bandidos são contra a legalização da venda de drogas, mas há presidentes americanos que discordam, mas qual seria a posição do Primeiro Comando da Capital sobre o tema?
Para infelicidade daqueles que trabalham com jornalismo, todas as fontes tem que ser conferidas para não cair em descrédito, mas, para minha felicidade, no mundo das crônicas é diferente.
Na semana que passou, trombei com uma publicação sobre segurança internacional da Conferência do Forte de Copacabana, organizada em conjunto pela Fundação Konrad Adenauer (KAS) e pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), com apoio da Delegação da União Europeia no Brasil:
Thiago Rodrigues e Carol Viviana Porto foram os autores do artigo que, pelo menos para mim, suscitou uma dúvida: Como os traficantes e os líderes do crime organizado analisam a questão da liberação do uso das drogas?
Drogas — uma questão de ideologia
desembargadora Ivana David
Posso não ter certeza do que Marcola pensa sobre esse tema, mas três presidentes americanos se manifestaram sobre a política de repressão às drogas:
- Nixon, que considerou que a guerra contra as drogas era um grande fracasso;
- Obama, que a considerou inútil; e
- Carter que disse que a punição excessiva destruiu a vida de milhões de famílias.
No Brasil, jogamos no campo da ideologia questões técnicas, e abandonar a atual política de repressão e encarceramento na questão das drogas é um desses exemplos: coisa de comunista e de moleques nóias.
E no Brasil — Lula, Dilma e Bolsonaro?
Ambos são assumidamente pessoas ligadas a “esquerda”, e no período de governo dos dois houve uma aceleração dos encarceramentos e do combate as drogas.
Se levarmos em conta apenas os fatos aqui citados, veremos então que à “direita” representada pelo ponto de vista dos presidentes americanos é a favor do abrandamento, e a “esquerda” prefere prender os envolvidos.
Foi assim até Trump e Bolsonaro chegarem ao poder e provarem que Nixon, Carter e Obama eram comunistas enrustidos e que o encarceramento não seria a solução, e sim a execução sumária nos morros e nas fronteiras — mesmo a primeira dama brasileira Michelle Bolsonaro e sua avó já foram condenadas por tráfico de drogas e vários de seus parentes ter ligação com milícias criminosas.
Quem rir não vai pro céu, tá! pic.twitter.com/8TSM3SrZfO
— Marlon #LulaPresidente2022 🇻🇳 (@MarlonLULA) January 10, 2022
https://platform.twitter.com/widgets.js
Mas isso é puro sofisma!
Sabemos então o que pensam cinco presidentes, mas e Marcola, os traficantes e os líderes do crime organizado? Os garotos dos corres, a ponta mais conhecida do tráfico, dão de ombros, não pensam sobre isso, os gerentes de biqueira não esquentam, sempre se viraram e sempre se virarão, e a cúpula?
É fácil supor ao ler o artigo de Thiago e Carol:
O atual sistema de repressão ao tráfico de entorpecentes nos Estados Unidos não diminuiu o consumo naquela nação, mas impediu que se produzissem as drogas, permitindo rápida expansão das áreas cultivadas e da industrialização dos produtos para suprir o mercado americano — PCC, CV, FDN, GDE, SCRN e ADA agradecem.
Sistema integrado transnacional
O tempo para o amadorismo passou e o sistema de repressão ao tráfico de entorpecentes obrigou a criação de organizações criminosas com uma intrincada estrutura dentro do território brasileiro e com ramificações internacionais:
- produção das folhas — Peru e na Bolívia;
- produção da pasta e distribuição internacional — Colômbia;
- entrepostos — Caribe, Canárias, Madeira, Guiné-Bissau, Guiné e Costa do Marfim;
- portos — Galícia, Marselha e Nápoles; e
- sistema financeiro — China, Uruguai e Caribe.
Enquanto a polícia posta foto de trinta tubetes formando a sigla PCC acompanhada da frase “dando prejuízo ao tráfico”.
O mundo gira, a imprensa tem matéria para postar, um outro garoto vai substituir na biqueira aquele que foi levado pela polícia para fazer a doutrinação nas regras da facção dentro do sistema prisional, e o cidadão se sente mais seguro.
Só que a estrutura se fortalece e se profissionaliza ainda mais
Para infelicidade daqueles que trabalham com jornalismo, todas as fontes tem que ser conferidas para não cair em descrédito, mas, para minha felicidade, no mundo das crônicas é diferente.
Eu posso afirmar que Marcola, os traficantes e os líderes do crime organizado analisam a questão da liberação do uso das drogas como sendo prejudicial aos seus negócios — sem ter que perguntar a eles e quem pode nos explica a razão é um ex-ministro da defesa e da segurança pública:
A atual política de combate às drogas que nós temos não só é ineficiente como amplia essa situação que estamos vivendo. Quando se pega um moleque com uma trouxa de maconha, uma pedra de crack, sem armas, sem ter cometido crimes violentos, que não é reincidente, e o joga dentro de unidade prisional controlada pelo PCC, Comando Vermelho, simplesmente se cancelando a possibilidade de se resgatar esses jovens. Ao mesmo tempo, dentro do sistema prisional, cerca de 80% não tem atividades educacionais ou laborais. Então não se prepara esse jovem para a ressocialização, para que ele volte à vida social e para o mercado. Essa é uma política que não resolve.
Raul Jungmann em entrevista para o ConJur
Thiago e Carol, em seu trabalho, fazem uma análise do fluxo internacional da cocaína e das metanfetaminas e da política de drogas na América do Sul.
A consequência desse movimento pode ser notado pela análise do número de homicídios em um quadro comparativo por país, além de uma análise da tendência de combate às drogas em países da União Européia e no Uruguai.
Os dois pesquisadores, o Uruguai e a Europa, estão buscando outras formas de resolver a questão das drogas, sem se preocuparem com o que o policial, você, eu ou Marcola pensamos a esse respeito — é um absurdo!
O combate, se houver terá que ser integrado
María del Rosario Rodríguez Cuitiño no artigo La lucha contra el crimen
organizado y el terrorismo en Uruguay: Un desafío a enfrentar, publicado pela Revista de Estudios en Seguridad Internacional, explica:
Ñ enredo muitooooooo é bora legalização aqui no Brasil ou ñ? Por mim a essa altura legaliza, se for para acabar com os traficantes que fazem do povo e das comunidades refém. Ao mesmo tempo, tenho medo que os adolescentes e até crianças achem que isso faz parte da cesta básica!!!