Cria do 15 assume assassinato que não cometeu — facção PCC

Nada é tão simples como pode parecer no caso do “Cria do 15 assume assassinato”, mas também não é tão complexo como vou demonstrar.

Imagem de capa de jornal com o caso do cria do 15 assume assassinato

Ratinho, Cria do 15 assume assassinato de assessor de deputado e líder comunitário

Trago hoje um crime onde um Cria do 15 assume assassinato de um assessor de deputado federal da bancada evangélica.

Francesco Guerra pediu que eu resgatasse essa antiga história que aqui contei em 16 de março de 2017.

Primeiro eu conto o caso como hoje contaria, e na segunda parte coloco o texto original de 2017 com detalhes que hoje eu omito.

O Caso “Cria do 15 assume assassinato”: Estupro, Morte, Política e a Culpa Forjada

Meu caro “Frans do +39”,

Estou relendo um caso bastante complexo e intrincado que pode te interessar que envolve uma série de personagens desonestos e desesperados em busca de vantagens.

Tudo começa com um indivíduo conhecido como Rodrigo, que era líder comunitário, presidente da Associação dos Moradores da Cidade Nova, e ex-assessor do Deputado Missionário José Olímpio.

Mas além de ser essa figura pública admirada também era armeiro da poderosa organização criminal Primeiro Comando da Capital (facção PCC 1533).

Rodrigo teria cometido um crime terrível ao estuprar “Gabi”, uma garota de 13 anos, durante uma festa regada à álcool e drogas em sua mansão.

Por esse crime ele seria condenado à morte pelo próprio PCC que não tolera esse tipo de atitude.

6 Item:

O comando não admite entre seus integrantes, estupradores, pedófilos, caguetas, aqueles que extorquem, invejam, e caluniam, e os que não respeitam a ética do crime.

Estatuto do Primeiro Comando da Capital — PCC 1533

No entanto, ninguém é condenado no Tribunal do Crime sem ter tido o direito a se defender.

13. Decreto:

Para confirmar um decreto a Sintonia tem que analisar com cautela, por se tratar de uma situação de vida.

Tem situações que é claro o decreto, como traição, abandono as demais situações como mão na cumbuca, caguetagem e estupros, a Sintonia analisa num contexto geral.

Quando um decretado chegar em uma quebrada nossa tem que ser cobrado de bate pronto.

Dicionário do PCC 1533 — Regimento Disciplinar 45 ítens

Pressionada a polícia alguém assume o assassinato

A situação se complica ainda mais quando o Inspetor Moacir Cova é pressionado pela imprensa e por políticos a encontrar um culpado pelo crime.

O Inspetor avisa ao Mundo do Crime que a organização criminosa irá sofrer as consequências se o caso não for esclarecido.

Nesse contexto, a polícia consegue prender um indivíduo chamado “Ratinho RT”, que assume o crime perante o Investigador e o Delegado de Polícia.

Mas qual teria sido a culpa de Ratinho RT?

No entanto, durante o julgamento, o advogado de defesa de Ratinho RT argumentou que ele não foi o responsável pelo crime.

Ele teria sido forçado a assumir a culpa pelo PCC a troco de moral na facção, vantagens para a família e perdão de dívidas.

Ninguém é obrigado a nada pela lei da organização criminosa Primeiro Comando da Capital, por isso ele teria que aceitar a tarefa.

Agora, o caso se torna ainda mais complicado, já que é necessário determinar a verdadeira identidade do criminoso e o grau de culpa de Ratinho.

Detalhes que podem não ser só detalhes

Eles passaram pelas câmeras de monitoramento às 20:16 e voltaram depois de chegar ao local do julgamento, ouvir o acusado, e executá-lo em menos de dez minutos.

Ata do Tribunal do Júri de Itu

“Eles passaram” — Ratinho não sabe dirigir e a câmera de monitoramento do “portal da cidade” prova que ele estava no banco do passageiro.

Quem pode garantir que o homen que dirigia o carro não foi quem puxou o gatilho?

Ratinho afirma que: foi ele que decidiu executar, que atirou, e que não sabe quem dirigia o carro.

Segundo as regras do Primeiro Comando da Capital, para um sujeito ser executado deve passar pelo Tribunal do Crime com direito a defesa e contraditório.

O assessor acreditou que seria inocentado

Rodrigo seguiu com Ratinho e com o outro indivíduo por vontade própria. Ele tinha certeza que era inocente e acreditava que podia provar.

O assessor de deputado e armeiro do PCC nunca negou que conhecia e tinha relacionamento com a menina e todos ali tinham relações sexuais com ela.

Gabi teria acusado Rodrigo porque ele se recusou a se relacionar com ela, uma amiga da garota que estava naquela noite com ela confirma isso.

O Promotor de Justiça não negou que Ratinho RT foi obrigado pela organização criminosa a assumir o crime, mas afirma que ele cometeu realmente o crime, e teve que se entregar porque não deu o direito de defesa à Rodrigo durante o Tribunal do Crime.

Em um mundo de certezas só restam dúvidas

Meu caro “Franz do +39”

Como um articulista que preza pela lógica e pelo raciocínio dedutivo, estou ansioso para ver você mergulhar mais fundo nesse caso e descobrir a verdade por trás desses eventos.

No entanto, eu temo que haja muitas camadas de engano e subterfúgio que devem ser desvendadas antes que possamos descobrir a verdadeira identidade do culpado.

Resta agora a nós, meu amigo, reunir todas as informações que temos sobre esse caso e analisá-las com cuidado, para que possamos finalmente trazer a justiça que a vítima merece.

E como pode ver, meu caro Franz, um líder comunitário e assessor de um deputado federal da Bancada Evangélica, defensor da tradicional família brasileira e dos cidadãos de bem, dava uma festa em uma mansão regada a bebidas e drogas e nenhum político foi mencionado durante o julgamento.

Atenciosamente,

Wagner do Site

História como publiquei em 16 de março de 2017

Júri condena preso por não cumprir regra do PCC

Se Ratinho RT (Bruno Augusto Ramos) cumpriu a regra do Primeiro Comando da Capital de “sumariar” o acusado Rodrigo antes de executá-lo, eu não sei.

Mas esse foi o foco do debate entre o advogado de defesa e a Promotoria de Justiça, no caso do assassinato de Rodrigo Teixeira Lima.

Rodrigo é líder comunitário, presidente da Associação dos Moradores da Cidade Nova, e ex-assessor do Deputado Missionário José Olímpio.

Cria do 15 assume assassintato: abandonando as ilusões

Graham Denyer Willis em seu livro “The Killing Consensus: Police, Organized Crime, and the Regulation of Life and Death in Urban Brazil” nos convida a abandonar nossas ilusões.

Segundo ele, devemos enfrentar o fato que policiais e facções criminosas mantêm uma normalidade dentro de nossa sociedade.

Existem mecanismos de justiças que não apenas são conhecidos, mas reconhecidos e parcialmente aceitos pela sociedade.

O Cria do 15 assume assinato e foi condenado a 18 anos de prisão, mas restou a dúvida: ele realmente executou a vítima?

Mas o que mais se discutiu no Tribunal do Júri foi se cumpriu as regras da facção Primeiro Comando da Capital ao cumprir a execução.

Os fatos como foram apresentados no Tribunal do Júri:

Gabi, uma garota de 13 ou 14 anos, “ficou” com o Rodrigo em uma das muitas festas que ele promovia e onde álcool e drogas circulavam em abundância, mas ele não estava afim dela e a “chutou para fora”.

Ela também se relacionava com um irmão da facção chamado Zóio da Cidade Nova em Itu, e como não aceitou ter sido desprezada por Rodrigo contaminou Zóio dizendo que tinha sido estuprada.

Zóio teria cuidado ele mesmo, mas foi morto em troca de tiros com a polícia…

… mas o veneno já estava no ar, na boca do povo, e nas redes sociais, daí alguém pediu providência ao Comando para aplicar a Lei do Crime que pune com a morte estupradores.

No entanto, o acusado deve ser “sumariado”, isto é ouvido e julgado pelo Tribunal do Crime, não pode ser uma decisão individual de um integrante.

Foi decidido que Ratinho RT ia “sumariar” Rodrigo e se o Tribunal do Crime decidisse ele seria executado.

Gabi comemora o assassinato de Rodrigo

Quando Rodrigo morreu Gabi comemorou nas redes sociais, mas depois caiu a ficha e viu a besteira que tinha feito.

Ela sabia a caca que fez , é mil vezes certeza que ela não foi estuprada.

palavras do Investigador de Polícia Moacir Cova

Não tinha cabimento o que ela dizia: com ela tinha uma amiga que não quis ficar com o Rodrigo e foi embora e ele não impediu.

Gabi ficou porque quis na casa dele, e lá ele teve todas as chances possíveis de fazer com ela o que quisesse e nada fez.

Ela disse que ele tentou a estuprar no carro quando estava a levando embora, o que não tem lógica.

Outra coisa que chamou a atenção é que o Rodrigo em nenhum momento negou que tivesse ficado com ela e sequer negou o relacionamento.

Rodrigo estranhou que falassem em estupro e confiou que indo dar a sua versão para o Tribunal do Primeiro Comando da Capital tudo ficaria esclarecido.

Não houve julgamento, houve execução

Pelo que os policiais apuraram no caso, Rodrigo não teve tempo de se defender.

Eles passaram pelas câmeras de monitoramento às 20:16 e voltaram depois de chegar ao local do julgamento, ouvir o acusado, e executá-lo em menos de dez minutos.

O companheiro que estava dirigindo declarou que depois que Ratinho e Rodrigo desceram do carro foi o tempo dele manobrar o carro e o cara já estava morto.

Ratinho é um molecão novo querendo subir rápido no Partido. Essa morte tinha que acontecer para ele ser respeitado e parecer poderoso no bairro e no crime.

contou o Investigador Moacir Cova

Quando o Cria do 15 assume assassinato ele ganha respeiro na facção, mas leva de lambuja uma pena de 18 anos pelo assassinato e mais 8 por tráfico de drogas.

Autor: Ricard Wagner Rizzi

O problema do mundo online, porém, é que aqui, assim como ninguém sabe que você é um cachorro, não dá para sacar se a pessoa do outro lado é do PCC. Na rede, quase nada do que parece, é. Uma senhorinha indefesa pode ser combatente de scammers; seu fã no Facebook pode ser um robô; e, como é o caso da página em questão, um aparente editor de site de facção pode se tratar de Rícard Wagner Rizzi... (site motherboard.vice.com)

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