Júlio César, o Preto, meu companheiro de viagem é hoje um vencedor, governando do Inferno o mundo dos vivos. A Penitenciária de Avaré é o seu lar, e ele é um rei num vale de lágrimas.
Júlio César é um exemplo de sucesso, e se poucos sabem sobre a abrangência e a força do PCC que ele lidera, não é por ser segredo, mas por que ninguém quer ver. Às vezes sinto como se a facção criminosa fosse um espírito invisível, mas até entendo o por quê: se Deus e o Diabo com todo o poder que têm são ignorados como se não existissem, quem dirá o PCC de Itu.
Ouvi outro dia um senhor, que trabalha naquele bonito prédio da Gaplan no Jardim Novo Itu dizer que a Guarda Civil Municipal deveria prender aqueles moleques que se drogavam e comercializavam drogas no grande terreno por lá, e sugeria inclusive à ação tática que deveria ser usada.
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Acho que ele não percebeu que o problema é um pouco mais complexo, e que aqueles garotos nada mais são que usuários e aviõezinhos do tráfico. Se fossem presos, na mesma tarde outros estariam em seus lugares.
Aquela região abrangendo o Jardim Novo Itu, Favela do Isaac, e Bairro Liberdade, foi comprada por R$ 10.000,00, pago à prestação por João Carlos, o Bola de Fogo ou Gordinho, de Júlio César.
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O bonito apelido de Bola de Fogo foi escolhido por sua mulher Aline, quando em 18/11/08 foi ele foi batizado no PCC, após passar pela prova de fidelidade ao assassinar um cara conhecido como Thiago.
Da janela daquele bonito prédio, aquele senhor não vê Bola de Fogo, no máximo pode ver algumas fagulhas. Muito menos veria Júlio César, quem abastece as drogas e vendeu o direito exclusivo de venda na região.
O poder que Bola de Fogo recebeu de Júlio César não se restringe apenas ao comércio. Ele conquistou o direito de controlar a disciplina na cidade. Eu tinha minhas dúvidas quanto a isso, mas um dia ouvi Júlio César perguntar ao Bola de Fogo quem era que estava na sintonia da cidade e o outro respondeu: “É eu que sou o geral aqui mano”.
O guarda não quis falar nada não, mas aquele senhor, em seu prédio de vidro vive em um mundo de fantasia. Quem controla não só a região de seu prédio, mas toda a cidade é o Bola de Fogo. É só pedir para ele que os nóias sairão de lá.
Todos estavam contentes com a nova administração feita por Bola de Fogo na distribuição de drogas na região, afinal ele batalhava para não deixar seus fregueses na mão. Um dia desses ele mandou uns moleques buscarem drogas que estavam em falta no estoque da Favela do Isaac.
Quando chegaram no Jardim Vitória para pegar encontraram as portas fechadas, sem ninguém para atender. Bola de Fogo não teve dúvidas, ligou direto para o patrão, lá na Penitenciária de Avaré.
Júlio César também aconselha ao seu afiliado: “Se estrutura no barato aí mano é a maior satisfação pra mim mano, amanhã ou depois é ver você estruturado aí mano, se eu chegar em você e falar pô, empresta uma arma pra mim, pra eu sair fora desse inferno aqui cara e você me emprestar é a maior satisfação ver você lindo e elegante, mantendo as caminhadas e indo pra cima da situação, ter a organização mano, os moleques que tão do seu lado tem que tê bala na agulha de verdade mesmo.”
Acompanhei Júlio César ao Inferno, a descida às profundezas foi fácil, difícil está sendo nosso retorno ao mundo dos vivos. Bola de Fogo, que confiamos para isso está preso desde 21/08/09 na Penitenciária de Casa Branca.
Não sei se aquele senhor do prédio bonito acredita em Deus e no Diabo, afinal são invisíveis, mas não arrisque pensar ele que Júlio César e Bola de Fogo só existem na minha imaginação, ou que só por não estarem de corpo presente, seus espíritos não possam assombrá-lo por aqui.
E prova disso é que apesar dos diversos processos e diversas condenações, Júlio César já anda entre os homens livres, enquanto eu continuo por aqui, em busca de entender esta sociedade, e dos senhores que estão aí achando que estão livres, mas ficam pressos em seus medos e reféns destes verdadeiros senhores dos seus destinos. (adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
Depois de vários anos preso, Julio César dos Santos que foi apontado como sendo chefe do esquema de trafico de drogas e do PCC do Jardim Vitória já está livre. Ainda não pagou tudo o que a Justiça lhe impôs, mas já teve o direito a liberdade relativa, enfim pode sair do Inferno e voltar para o aconchego da sociedade. Atualmente ainda está meio reticente de voltar a circular pelas ruas, talvez temendo represália policial, talvez para poder refletir melhor sobre seu futuro, ou quem sabe o que.Ao que consta não houve mudanças na hierarquia de distribuição de entorpecentes na região do Jardim Vitória, então talvez ele continue na liderança como já foi acusado, ou talvez não.O caso do assassinato dos dois carinhas que estavam… digamos… mosqueando próximo aquela conhecida biqueira no Jardim Vitória, seria uma ação de uma suposta equipe de justiceiros que já teria atuado utilizando o mesmo modus operandis na Cidade Nova no final do ano passado, agora vai de saber como o chefe vai reagir, se é que vai.